Uma Festa para Anabelle
Capítulo Qutro – Uma festa pra Anabelle
Gina estava sentada na poltrona do quarto de Anabelle, olhando-a dormir. Já havia passado três semanas desde que ela tinha recebido alta do hospital, mas Gina mantinha-se em alerta. Ela havia se abalado bastante com o acidente da filha e por isso, não perdia nenhuma oportunidade de ficar perto dela. Várias vezes, durante a última semana, ela havia dormido naquela mesma poltrona porque passara a noite velando o sono da filha.
Ela era o que tinha de mais importante. Já não se lembrava mais como era a vida sem Anabelle. Ela era sua motivação, seu alicerce, sua companhia... Sua vida. Desesperou-se como nunca imaginara que poderia acontecer quando viu a sua filha caída ao pé daquela árvore e a única coisa que lembrava com clareza era que pedia veementemente a Merlin pra que, se tivesse que acontecer algo com a sua filha, que tudo se transferisse pra ela mesma. Queria, com todas as suas forças, que fosse ela que estivesse caída ali. Que ela estivesse sentindo aquela dor. Que ela ficasse internada. E que sua filha pudesse ficar sã e salva em casa. Porém, de nada adiantou... O acidente já havia ocorrido e não poderia mais mudá-lo. A única coisa que ela pôde fazer foi voltar todos os pensamentos positivos para a recuperação da filha e esperar...
Naquele dia, ela viu como uma espera pode ser angustiante. Ela queria a todo custo que o tempo passasse logo pra que ela pudesse ter notícias de sua filha, mas parecia que todos os relógios do mundo conspiravam contra ela. Os segundos passavam lentamente e ela conseguia escutar o barulho de cada movimento feito pelo pêndulo do relógio do hospital. O seu maior conforto era estar cercada por todos aqueles que ela mais amava. Todos eles estavam junto dela no momento, torcendo pela recuperação da Anabelle e a apoiando. Sua mãe, seu pai, seus irmãos... E Draco.
Quantas vezes ela havia amaldiçoado-o por ele não estar ao lado dela? Quantas vezes ela havia chorado, pensando em como alguém poderia ser tão frio? Quantas vezes ela havia perguntado a si mesma porquê ele nem havia dado chances dela se explicar e havia renegado a própria filha? Mas agora... Tudo isso parecia infundado. Ele estava lá! Ficou ao lado dela até o último instante, quando saíram do hospital. Parecia tão mais sério, tão mais responsável, não parecia o Draco Malfoy que ela havia conhecido. Porém, se lembrou que ele não era uma pessoa constante. Pelo contrário, ele era uma pessoa cheia de surpresas e que sempre estava se descobrindo. Por esse motivo, Gina podia dizer que havia conhecido vários Dracos. O primeiro, fora o garoto mimado da Sonserina; Aquele que maltratava seus irmãos, xingava sua família e quando não tinha mais o que fazer, a humilhava pelos corredores. O segundo, fora o garoto indeciso; Que queria se entregar ao amor que sentia, mas não queria perder o seu prestígio na frente de todos. O terceiro (e o último que ela se lembrava), fora o garoto forte e até um pouco inconseqüente, que a assumiu perante toda a escola, enfrentando seus pais, a família dela, seus amigos e passando por cima do orgulho que o 'outro Draco' tanto se importava. E foi esse mesmo Draco que decidiu não ser Comensal da Morte, embora tenha ficado neutro durante toda a guerra. E foi desse Draco que ela engravidou. E foi esse Draco que a decepcionou.
E agora ela se encontrava diante de um novo Draco. Mais seguro de si, parecendo que tinha o controle sobre todas as suas ações. Sabia exatamente o que deveria fazer, todos as suas decisões e até mesmo as suas palavras pareciam ser previamente estudadas. Parecia ter muita confiança em si, mas nenhuma confiança nos outros. Certamente, esse era o Draco mais diferente que havia conhecido. Gina sabia que algo nele havia se perdido, embora ela ainda não tivesse conseguido assimilar o quê.
Não poderia negar que a presença dele mexia com ela. Isso era óbvio. Qualquer pessoa que prestasse um pouco de atenção nela, enquanto os dois estavam juntos, conseguiria perceber que ela ainda sentia algo por ele. Nunca havia conseguido ser forte quando o assunto era Draco Malfoy. Poderia fazer mil planos, poderia prometer para si mesma que nunca mais acreditaria nele. Porém, só precisava olhar nos olhos cinzas dele para que todas as suas forças se esvaíssem, restando apenas a enorme vontade de correr para os braços dele, abraçá-lo e dizer que o amava. Certamente, ela sempre tentava manter a pose, passar a impressão que não ligava para a presença dele. Ela apenas tentava. Quando o via, se sentia esquentar e sabia que estava ruborizando contra a sua vontade. Mantinha o olhar fixo no chão, para não olhá-lo nos olhos e impedi-la de tomar alguma atitude impensada. E acima de tudo isso, a simples menção do nome Malfoy fazia seu coração pular. Logo, toda a vez que o via, seu coração dava enormes saltos dentro do peito e ela tinha a impressão que qualquer pessoa que estivesse por perto poderia ver a tentativa desenfreada do seu coração, querendo sair pela sua própria boca. Para disfarçar, engolia em seco, o que acabava chamando mais atenção ainda.
E ela não se sentia bem com isso.
Desde que Draco havia aparecido novamente, ele nunca demonstrara qualquer indicação de que ainda gostava dela, com exceção do dia no hospital, embora Gina acreditasse veementemente que fora porque ela tinha tomado a atitude. De resto, Draco permanecera bastante interessado apenas em conviver com Anabelle, tratando Gina meramente como a mãe da sua filha, no máximo uma amiga. Por isso que a ruiva não alimentava esperanças. Na realidade, tudo o que ela mais queria era uma oportunidade para tirá-lo de vez da sua cabeça. Estava certa que entre eles não haveria futuro algum. Draco casaria em dois meses. Estava tudo praticamente pronto e ele não parecia reticente quanto ao fato. Além do quê, todas as atenções dele estavam voltadas no momento ao aniversário de 3 anos da Anabelle. Ela faria aniversário em um pouco menos de um mês, e ele colocara na cabeça que ela precisava de uma festa.
Inicialmente, Gina havia sido completamente contra a essa idéia. Não sabia ao certo, mas não queria que ele fizesse. Talvez porque ele quisesse esbanjar o seu dinheiro... Ou porque tinha medo da Anabelle passar a gostar mais do pai do que dela, ao ver tudo o que ele poderia proporcionar a ela. No entanto, Draco havia conseguido convencê-la. Antes, ele havia dito que esse era o primeiro aniversário que ele passava ao lado da filha e que gostaria de comemorar. Gina permanecera irredutível. Quando a menina saiu do hospital, ele resolvera ter uma nova conversa com ela onde ele disse que depois do acidente que ela havia sofrido, era muito justo comemorar mais um ano de vida da menina. Esse último argumento fora o suficiente para que ela aceitasse.
Agora, ela também estava envolvida nos planejamentos da festa. Como ela havia previsto, Draco não estava fazendo economias. Já perdera as contas do quanto que ele havia gastado nessas três semanas. A única coisa que ela sabia era que a festa seria perfeita... Digna de uma princesa.
Ao pensar isso, Gina deu um suspiro de leve. Sua filha era realmente uma princesa. Tão linda, com uma personalidade tão inquieta, mas que ela amava... Sim, Anabelle merecia essa festa.
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- Por quê não na Mansão Malfoy?
- Essa já é a décima vez que você pergunta isso, Draco! Eu não quero que seja na sua casa e acabou - ela retrucou, irritada, sentando-se no sofá.
- Por quê não quer que seja lá?
- Décima primeira vez... – suspirou - Porque eu não vou me sentir bem lá, está bem assim?
- E daí? A festa é da Anabelle... Não sua! Ela que tem que se sentir bem. – ele disse, contrariado.
- Mas ela é minha filha!
- Nossa! - ele corrigiu. - Virgínia... Entenda... A Mansão é grande, possui um jardim enorme. Vai ser ótimo lá. Além do que, se a Belle ficar cansada, ela vai poder ficar no quarto dela. Festa em casa é muito mais fácil...
- Seus familiares vão estar lá! Eu não vou me sentir bem! - ela cruzou os braços, emburrada.
- Ah, você nem imagina como eu estou me sentindo bem aqui, discutindo sobre a festa da nossa filha, nisso que você chama de casa e rodeada pelas coisas que você chama de irmãos! - ele respondeu, sarcástico. Ela deu um suspiro irritado
- Se você não está satisfeito de estar aqui, pode ir embora. A porta é bem ali, ó... - ela apontou pra porta.
Draco bufou.
- Por quê você gosta de complicar as coisas?
- Por quê você não facilita as coisas? Se o problema for dinheiro, eu me viro e alugo algum lugar.
- Você sabe muito bem que não tem problema algum com dinheiro. Aliás, se não fosse pelo meu dinheiro, essa festa nunca ia sair.
Gina olhou pra ele, sentida.
- Pois se você resolveu fazer essa festa pra me jogar na cara o quanto você tem dinheiro, era melhor nem ter começado...
- Eu não preciso jogar na sua cara, Virgínia. Você já sabe muito bem o quanto que eu tenho. - respondeu, irritado. - Olha, se a gente continuar com essa palhaçada, nós não vamos decidir nada e ainda vamos brigar.
- Eu já disse: Mansão Malfoy, não!
- E por quê não na Mansão Malfoy???
- QUE SACO, DRACO! SE FOR PRA VOCÊ CALAR ESSA BOCA, QUE SEJA ONDE VOCÊ QUISER, MAS PÁRA DE ME IRRITAR!!! – ela gritou, com o rosto muito vermelho.
Draco gargalhou.
- Eu sabia que ia te vencer pela insistência... Você continua a mesma, Virgínia Weasley...
- Eu te odeio com todas as minhas forças... – ela murmurou.
- Bom saber disso. - ele deu um sorriso enviesado. - Vamos pra outro assunto: O que você já tem definido?
- Tudo. Já vi a empresa que pode fazer a festa. Tem coisas lindas lá e acho que a Elle vai ficar bastante satisfeita. - ela começou a se empolgar. Realmente, quando o assunto era os preparativos para a festa, Gina sempre ficava um pouco mais feliz.
- Pois bem... Me fala que empresa é essa, que a minha mãe quer ir lá dar uma olhada.
- Como assim? Eu já escolhi a empresa, não quero ninguém se metendo! - ela já estava se alterando novamente.
- Eu não estou duvidando da sua capacidade, Virgínia. Mas o problema é que você quer economizar quando não precisa. E eu só quero me certificar que você escolheu a melhor empresa. Ela é a melhor?
- Essa é muito boa... - ela respondeu, timidamente.
- É a melhor..? - ele perguntou novamente.
Gina ruborizou.
- Pode não ser a melhor, mas é muito boa! - ela disse, muito rápido.
- Está vendo? Não é a melhor. Parece que você tem medo de gastar...
- Eu só acho que não tem necessidade gastar tanto assim. Dá pra fazer uma ótima festa gastando menos.
Draco se aproximou e segurou na mão dela. Sentiu que no mesmo instante, as mãos dela gelaram e ela engoliu em seco. Não conseguiu refrear um sorrisinho de satisfação, que havia dado mais pra si do que pra ela. No mesmo instante, Gina se puniu intimamente por ser tão fraca quando estava perto dele.
- Entenda uma coisa... Anabelle é minha única filha e eu passei dois longos anos longe dela. Me permita fazer uma festa onde tudo saia perfeito, onde ela possa ter do melhor. Se eu posso oferecer isso pra ela, porque me negar essa chance, Virgínia? - ele perguntou, olhando-a nos olhos.
- Mas você já está gastando tanto com esse aniversário... Sem falar nos gastos com o seu casamento...
Ele soltou a mão dela e se afastou.
- Por quê você nunca consegue ficar sem falar no meu casamento? - ele se virou de costas pra ela.
- Por quê você sempre se irrita quando eu falo dele? – ela se levantou e foi até a direção dele, que se virou pra ela novamente.
- Por quê você insiste em responder as minhas perguntas com mais perguntas?
- O quê você quer que eu responda? - ela olhou dentro dos olhos dele.
- A verdade... - ele manteve o olhar.
- Eu sempre falo do seu casamento porque é impossível esquecer dele, já que está tão perto e você faz tanta questão de lembrar a todos disso.
- Eu não faço questão de te lembrar disso, mas você sempre faz questão de me lembrar.
- Por quê você sempre fica tão irritado quando eu falo do seu casamento? - ela deu um passo mais para perto dele, sem desviar o olhar.
- O que você quer que eu responda? - ele deu um passo, aproximando-se mais dela, ficando a apenas um palmo de distância.
- A verdade... – ela sussurrou.
Draco percorreu todo o rosto dela com o olhar e parou na boca. Viu quando ela molhou os lábios de leve e os entreabriu. Ela estava tentando-o. E ele não estava disposto a lutar contra essa tentação. Levou o olhar novamente até aqueles olhos castanhos e sentiu-se hipnotizado. Há quanto tempo ansiava por aquele beijo? Essa era sua chance...
Foi abaixando a sua cabeça lentamente, aproximando seus lábios cada vez mais dos dela...
- MÃEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!- Anabelle entrou correndo no mesmo instante na sala. Eles se separaram em um salto.
Draco levou a mão até os cabelos, jogando-os pra trás, num gesto impaciente. Gina sorriu sem-graça para filha e abaixou pra ficar da mesma altura dela.
- O que foi, filhinha? - perguntou, ajeitando os cabelos da menina.
- O Joey me bateu... – ela respondeu, fazendo beicinho.
Draco virou na mesma hora pra filha.
- O quê que você disse, Belle?
- O Joey me bateu, papai...
Gina viu quando Draco encrespou os lábios. Isso não era bom sinal, por isso levantou e foi na direção dele.
- Quem é Joey? - ele perguntou, pausadamente.
- Joey é o filho do Rony. Acalme-se, Draco...
- Tinha que ser filho daquele abestalhado e da sangue-ruim! Eu pego esse moleque! - Draco tentou sair atrás do menino, mas Gina tentava a todo custo segurá-lo.
- Pare de ser idiota! O menino só tem cinco anos!!!
- Pior ainda! Cinco anos batendo numa menininha inocente de dois! Ele merece uns bons tapas!
Quando a situação está ruim, sempre acontece algo pra piorar. E Gina percebeu o real significado dessa frase ao ver Rony entrar na sala d´A Toca.
- Dar uns bons tapas em quem, doninha? - Rony perguntou, com uma cara não muito boa.
- No seu filho, que bateu na minha Belle! Você não deu educação a esse moleque, não?! - Draco gritou.
- Não venha falar da educação que eu dei pro meu filho, Malfoy! Você nem esteve presente na educação da sua filha! - Rony gritou de volta.
- PAREM JÁ COM ISSO! - Gina vociferou, olhando raivosamente para os dois. - NÃO ESTÃO VENDO QUE A ANABELLE AINDA ESTÁ AQUI?!
Depois, ainda bufando, foi em direção da filha, que estava com os olhos arregalados, espantada com toda a cena que havia presenciado.
- Mamãe... O quê que houve? - perguntou, timidamente.
- Nada, minha filha... Nada. Vamos sair daqui. - Já estava saindo com a filha, mas antes se virou pro Draco e disse: - Vá embora, depois nós conversamos. - Depois, deu um olhar mortal pro Rony, e saiu da sala.
Rony e Draco se entreolharam, furiosamente.
- Acho melhor você ir embora, Malfoy. - ele murmurou, com um tom raivoso.
- Eu vou, mas não é nem porque você ou a Virgínia querem. E sim porque eu não quero arranjar mais confusão e assustar mais ainda a minha filha.
Draco pegou as suas coisas, mas antes de aparatar, aproximou-se do ruivo.
- Você ainda vai engolir tudo o que você disse aqui hoje... E acho melhor você passar a pouca educação que sua mãe deve ter lhe dado, pro seu filho, antes que ele faça qualquer outra coisa com a Anabelle e não tenha ninguém pra me segurar...
E sem dar a chance do Rony retrucar, Draco desaparatou.
TRÊS SEMANAS DEPOIS
A Mansão Malfoy estava em festa. Gina nunca imaginara que um dia estaria numa festa daquelas. Muito menos imaginara que um dia a filha dela teria uma festa daquelas.
O tema escolhido? Casa de bonecas.
O jardim estava todo decorado com incontáveis bolas de várias cores, mas predominava o vermelho e o rosa. Em algumas partes, as bolas estavam em arranjos ao redor dos postinhos iluminados que estavam espalhados pelo jardim, além dos arcos enormes, indo de ponta a ponta. Muitos brinquedos estavam espalhados pelo jardim. No centro, estava uma enorme praça onde várias bonecas se movimentavam, empurrando carrinhos ou montadas em triciclos. Um pouco mais ao lado, tinha uma réplica de um parquinho, com bonecas brincando em balanços e gangorras. Havia também muitas casinhas de bonecas espalhadas, que dava pra duas ou três crianças brincarem, sem maiores problemas, contendo inclusive mesinhas com jogos de chá. Mas a parte mais imponente da festa estava no fundo do jardim: uma enorme casa de boneca, de dois andares em tamanho real. Ela possuía quatro cômodos finamente mobiliados e decorados com frente em acrílico. Era realmente belíssimo.
As mesas dos convidados ficaram espalhadas no jardim. Cabiam cerca de cinco pessoas cada. E estavam forradas com toalhas de cetim branco. Em cima de cada uma das mesas havia uma boneca sentada em uma cadeira branca.
Por fim, possuía o Salão, onde estavam as principais mesas. Ao centro, se encontrava a enorme mesa do bolo, que estava ornamentada com várias bonecas de todos os tipos e tamanhos. Do lado esquerdo, se encontrava a mesa dos doces e ao lado desta, havia a mesa dos frios. Do lado direito, tinha a mesa das lembrancinhas (que eram bonecas de porcelana para as meninas e bonecos para os meninos) e ao lado desta, a mesa dos presentes. Seguindo o mesmo padrão do jardim, havia arranjos de bolas, variando entre as cores verde, salmão, vermelho e rosa. As toalhas da mesa também variavam nessas cores e todas elas possuíam iluminação própria.
- E então...? O que está achando da festa? - ele perguntou subitamente atrás dela, fazendo-a saltar. Passado o susto, ela sorriu:
- Está tudo tão lindo..! Elle está tão feliz..! - respondeu, suspirando.
Draco se aproximou e parou do lado dela.
- Sim, a pequena Belle está radiante... – comentou vagamente.
- Isso porque você não viu como os olhinhos dela brilharam ao chegar aqui. Eu fiquei tão feliz!
- Eu vi quando vocês chegaram. A Belle correu logo para o castelo. - os dois sorriram.
Ficaram um tempo em silêncio, mas este não era constrangedor. Draco estava na realidade fitando os acontecimentos da festa, enquanto Gina estava perdida em seus devaneios.
Depois de um momento, já cansado de olhar rodas àquelas pessoas se divertindo às suas custas, Draco voltou seu olhar para a mulher ao seu lado. Esta, percebendo, ruborizou levemente e abaixou o olhar (que antes estava posto na filha), passando a fitar a grama.
- Eu disse que ficaria perfeito na Mansão Malfoy, não disse? - ele falou mais para quebrar o silêncio.
- Obrigada. - ela murmurou baixinho.
Ele deu um sorriso de satisfação imperceptível à ruiva e disse:
- Não precisa agradecer. Fiz tudo isso pela minha filha.
- Eu sei disso. - ela respondeu, ainda baixo. - É que ao vê-la tão feliz, eu fico feliz também. Muito obrigada, Draco.
Ele deu um sorriso debochado.
- O quê foi?? – ela perguntou, com uma expressão chateada.
- Nada demais... É que por algum tempo eu achei q nunca mais iria escutar as palavras "Draco" e "felicidade" numa mesma frase vinda de você...
Gina teve vontade de abraçá-lo ali mesmo, na frente de todos, mas conteve o impulso. Mesmo que as palavras dele tenham parecido vagas, para ela significou muito. Principalmente porque a fazia lembrar dos tempos em que ainda estavam juntos e que ele dizia as coisas mais belas do mundo, na concepção dela. Porém, ele sempre utilizava palavras simples, vazias, como se forçasse a pessoa a entender pelas entrelinhas. Ele nunca fora de tomar atitudes tipicamente românticas, mas ela nunca se importou. Ele conseguia dizer tudo o que ela necessitava ouvir com apenas um olhar. Porém, quando ela pensou em dizer algo mais "atrevido" em sua concepção, Narcisa Malfoy chamou Draco para se integrar a uma conversa com Joseph Coyller (o maior empresário de joalheria bruxa) e sua esposa.
O dia transcorreu sem maiores incidentes. Lógico que Gina mantinha uma distância razoável de Sophie, que andava pela festa com sua feição imponente e tratava de deixar bem claro pra todos que se casaria em menos de um mês com Draco Malfoy. Em um certo momento, ela passou ao lado de Gina e esticou um pouco a mão, numa atitude nada discreta de amostrar o enorme anel de noivado que ela carregava no dedo anelar. Gina apenas ignorou, mas sentiu uma enorme pontada dentro do peito. Afinal, pela primeira vez, pensara que o perderia pra sempre. Que em menos de 1 mês, ele estaria casado com outra... Que aquela mulher a sua frente passaria a ser uma Malfoy...
Antes de anoitecer, a babá e a consultora de moda contratadas pela Narcisa, foram arrumar Anabelle para partir o bolo. Pontualmente às 6, ela voltou, parecendo com uma boneca. Os cabelos loiros estavam presos em um rabo de cavalo alto, com um prendedor rosa. O vestido tinha muitos babados, parecendo com o de bonecas. Era rosa e tinha alguns detalhes brancos. O sapato branco era do estilo boneca e combinava com a meia, também branca. Ela estava incrivelmente linda.
Draco a pegou no colo e se dirigiu para trás da mesa do bolo, junto com Gina, Narcisa, Molly e Arthur. Narcisa Malfoy tinha uma feição de que não estava gostando nada da situação e não fazia o mínimo esforço para esconder. Não que ela não gostasse da neta. Ela não gostava dos familiares da neta. E isso nunca iria mudar. Sophie, por sua vez, também estava emburrada, pelo simples fato de que ela estava no meio dos convidados, e não ao lado de Draco, que era como ela queria anteriormente.
Cantaram os parabéns para a menina, que sorria muito, demonstrando estar muito feliz com toda a festa. Ao ver isso, o coração de Gina saltou e ela entendeu que ter consentido com a festa foi a atitude mais sensata dela nos últimos tempos.
No fim, Anabelle adormeceu nos braços da mãe e Draco, então, levou-as embora.
- Pronto... Estão em casa... - ele disse, enquanto parava o carro em frente A Toca.
- Oh, céus... Como eu estou cansada... - ela murmurou.
- Quer que eu leve a Belle? Ela é pesada pra você, Virgínia...
- Por favor, Draco. Eu não vou agüentar levá-la.
Ele abriu a porta do carro, pegou a filha no colo e levou-a para dentro.
- Pra onde eu a levo? - ele perguntou, ajeitando a filha no colo.
- Pro meu quarto.
- Por quê não pro quarto dela, Virgínia?
Ela deu um olhar atravessado pra ele e ela entendeu: Anabelle não tinha um quarto próprio na Toca. Ele deu um muxoxo contrariado, como se achasse que isso era um absurdo e começou a subir as escadas. Fez todo o percurso resmungando que as escadas eram apertadas, mas Gina o ignorou. Não estava com disposição para discutir com ele.
Ele entrou no quarto e colocou a filha sobre a cama. Depois, levantou-se e olhou em volta. Como um flash, várias cenas passaram novamente na sua cabeça. Lembrou-se das várias vezes que esteve ali, naquele quarto, correndo um perigo enorme de ser pego, mas fazendo isso apenas pra estar mais alguns minutos juntos da sua ruiva.
Olhou para ela e viu que ela o fitava. Ela suspirou.
- Eu tenho boas recordações desse quarto... - ele começou, olhando pra baixo.
- Há! Às vezes, eu lembro de algumas situações que passamos aqui... Algumas bem embaraçosas... - ela sorriu e ele levantou o olhar.
- Nem me lembre, Virgínia! O dia que seu irmão mais velho quase me pegou aqui foi o pior de todos..!
Ela gargalhou.
- Você morria de medo do Gui..!
- Claro! Você já viu o tamanho do seu irmão??? Pior é aquele outro... O que cuida dos dragões...
- Ah, o Carlinhos... Foi por causa dele que você teve que se esconder no meu armário... - ela respondeu com a voz marota.
Eles riram juntos, mas ela não deixou de reparar que ele ficava muito mais bonito quando sorria genuinamente. "Pena que ele não faz isso muitas vezes", pensou tristemente.
- Nossa! Eu me lembro disso! Eu fiquei durante quase dez minutos nesse armário pequeno. Todo encolhido! Minha coluna dói só de lembrar.
Ela gargalhou. Ele olhou pra ela. Ficaram se fitando durante alguns instantes.
- Nós éramos loucos, Virgínia...
- Nós éramos felizes... - ela respondeu, fracamente.
- Éramos mesmo. Mas você jogou tudo isso fora.
Ela olhou pra ele, com raiva.
- Eu joguei fora, Draco? Por Merlin! Eu não fiz nada!
- Oh, eu não sabia que o nosso relacionamento era aberto e que a gente podia sair se esfregando com o primeiro que aparecesse! - ele ironizou.
- É por isso que nós ficamos separados por tanto tempo. Porque todas as vezes que eu tentei me explicar, você vinha cheio das suas ironias, tentando me ferir a todo custo!!! E pra sua felicidade, saiba que você sempre consegue!
- Eu não quero te ferir, Virgínia. Apenas digo a verdade. A realidade é cruel, não acha? - ele se aproximou dela, enquanto sibilava.
- Não é a realidade que você diz pra mim. Porque eu não me esfreguei no Harry. Ele me agarrou e me deu um beijo! De despedida! - ela quase gritou, e se puniu quando viu que Anabelle tinha se mexido na cama.
- Despedida?! - ele perguntou, tentando não demonstrar que estava confuso.
- Sim... Despedida! Mas eu nem sei porque eu estou te dizendo tudo isso, não é? Você vai se casar com a Sophie 'toda-linda-e-escovada' Montserrat e eu não tenho mais nada a ver com a sua vida sentimental.
Ele voltou a sua tradicional pose fria e a olhou de cima.
- Tem razão... Você não tem. E sim, eu vou me casar com a Sophie. - ele ia saindo, quando pareceu se lembrar de algo. - Ah, entregue isso pra Belle.
E se retirou.
Gina se sentou na beirada da cama. Ela abriu a caixinha e viu um cordão de ouro, com um pingente onde estava escrito 'Anabelle' em ouro branco. Era belíssimo.
Ela suspirou.
Estava tudo indo tão bem... Porque eles tinham que acabar a noite daquele jeito? Por quê ela havia sido tão grossa com ele? Por quê ela sempre se deixa seduzir pelo 'fogo Weasley' e nunca faz o que deve ser feito?? Ela poderia simplesmente ter dito tudo o que havia realmente acontecido naquela noite, mas ao contrário disso tudo, ela simplesmente mandou-o para os braços de Sophie.
E ela sentia que ia se arrepender amargamente por isso...
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