O Casamento
Capítulo Cinco – O casamento
Gina estava em sua cama, mas quem olhasse na direção dela não conseguiria enxergá-la. Nem mesmo os flamejantes cabelos apareciam no emaranhado de cobertas que ela estava enrolada. O quarto estava todo fechado, assim como as janelas e as cortinas. Estava em um breu total.
Ela estava acordada há horas, mas não tinha coragem de abrir os olhos. Era como se, com essa atitude, ela conseguisse fazer com que o dia não começasse e retardasse todos os acontecimentos posteriores. Sabia que era uma atitude estúpida, mas não conseguia achar motivos que a fizesse levantar daquela cama. Nem o fato de que tinha que cuidar da Anabelle. Em sua cabeça, ela sabia que a filha estava cercada de tios e primos para lhe fazer companhia.
Espreguiçou-se e virou para o lado. A cama começava a incomodá-la. Não fazia idéia de que horas deveria ser ou há quanto tempo estava revirando naquela cama. Finalmente, tomou a atitude que tanto estava protelando: tirou a coberta da cabeça e abriu os olhos. Parecendo descobrir que a mãe havia acordado, Anabelle entrou no quarto, sorrateiramente, andando bem devagar:
- Anabelle...? – Gina perguntou tentando enxergar, porque a recente luz que inundava seu quarto, vinda da porta, ofuscava sua visão.
- Shhhh... – uma voz fina pediu silêncio e começou a sussurrar. - Vovó Molly não quelia que eu viesse...
Ela se sentou na cama, entrando no raio de visão da Gina.
- Oi minha filhinha... - Gina a abraçou e a tristeza pareceu crescer dentro dela.
- Ta na hola de comer, mamãe... A senhola não vai comer?
- Eu não estou com fome, Elle. - Gina respondeu com a voz fraca.
- Mas, mamãe... A senhola tem que comer... Senão o seu bichinho mole.
Gina esboçou um sorriso. Lembrou-se da vez que contou a Anabelle que havia um bichinho muito bonzinho na barriga dela e que se ela não comesse, o bichinho morreria de fome. Isso ajudou bastante a fazer a menina comer.
- Então a mamãe come depois pra alimentar o bichinho dela, ok?
Anabelle apenas balançou a cabeça. Ficaram um tempo em silêncio no qual Gina passava as mãos lentamente nos cabelos platinados da filha. Enquanto fazia isso, ela sentiu um caroço se formar na sua garganta e sentiu seus olhos arderem. Estava sendo mais difícil do que imaginava.
- Mamãe... – Anabelle interrompeu o silêncio. - A senhola não vai se vestir? A vovó disse que hoje é a festa do papai. Esqueceu?
-Não, não esqueci, Elle. É que a mamãe não vai.
- Poque?
- Porque... Hum... Porque a mamãe está dodói.
Anabelle arregalou os olhos. - Então deve ser poque o bichinho tá molendo, mamãe!
- Não se preocupe, ele não está morrendo... Eu já vou comer. - Gina respirou fundo - Olha, filha... Eu vou pedir pra sua madrinha levar você pra festa, ok?
- Eu não quelo ir com a dinda Minhone! Eu quelo ir com a senhola!
Gina sorriu. Achava que sua filha nunca ia conseguir falar “Mione” direito. Desde quando ela começara a falar, que ela chamava Hermione de “Minhone”. É claro que os gêmeos não deixaram isso passar e aderiram ao apelido também, repetindo a todo momento e irritando Hermione.
- ANABELLEEEEEEEE!!!
A menina deu um pulo da cama.
- É a vovó Molly! Tenho que ir, mamãe! – A menina deu um beijo desajeitado no rosto da mãe e saiu correndo, enquanto Gina se afundava novamente na cama.
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Puxaram o cobertor e Gina se movimentou na cama, grunhindo e colocando o travesseiro em cima do rosto.
- Ande logo, Gina. Levante-se.
- Me deixa em paz, Hermione! Não quero levantar e acabou!
- São 2 horas da tarde! Você precisa se arrumar e arrumar a sua filha.
A ruiva virou para a morena e tirou o travesseiro do rosto. Viu que Hermione não estava com uma cara muito amigável. Suspeitava que isso iria piorar depois que ela fizesse o pedido.
- Eu não vou ao casamento, Mione...
- Como você não vai? Alguém tem que levar a Anabelle! - ela disse, sentando-se na cama.
- Isso que eu queria te falar. Preciso de um enorme favor seu...
Hermione a encarou por um momento.
- Você está querendo que eu vá a essa festa pra levar a Anabelle?
Gina concordou com a cabeça.
- Ah, você vai me desculpar, Gina... Mas não dá! Eu não piso naquela casa! Eu só fui no aniversário da Elle, porque ela é minha afilhada e eu fui convidada. Hoje é o casamento do Malfoy e eu nem sequer fui convidada! Não vou mesmo... - ela disse, parecendo bastante confiante.
- Mas você é a madrinha da Elle! Você tem que desempenhar a função da mãe quando essa tem que se ausentar! - Gina alterou o tom de voz. Hermione precisava concordar em levar a sua filha.
- Olha, Gina... Eu amo você e amo muito a pequena Elle. Mas eu não posso admitir isso! Você tem condições de ir nesse casamento. Você tem que ir pra mostrar que não está por baixo! Vai deixar se abater assim?
Gina olhou pra ela, com os olhos cheios de mágoa.
- Você acha que isso é fácil, Mione? Você não faz idéia do quanto que isso tudo está doendo aqui dentro. - ela apontou pro coração.
- Eu não posso imaginar mesmo, mas sei que é bastante coisa... - ela abraçou a ruiva. - Mas você não pode deixar isso tão fácil, Gina! Pode apostar que a “Sophíbora” quer é isso mesmo!!!! – ‘Sophíbora’ havia sido um apelido que as duas haviam dado à noiva do Draco. Era a mistura de Sophie com víbora.
- Eu não me importo com a Sophíbora. Eu só sei que eu não vou agüentar ver o Draco indo pro altar com uma outra mulher! Eu ainda o amo tanto...
- Então por quê você não diz isso pra ele? Pode mudar muito as coisas...
Gina deu um sorriso fraco.
- Você está louca... Ele vai rir da minha cara! Ele não sente mais nada por mim. Ele quer mesmo se casar com a loira-escovada. Não posso fazer nada...
- Eu já te disse que eu não penso assim. O que aconteceu entre vocês dois não dá pra apagar desse jeito. Está bem claro que vocês se amam, mas não conseguem dar o primeiro passo. Vocês dois são irritantemente orgulhosos...!
Gina suspirou.
– Você que é irritantemente otimista, Hermione.
- Não, não sou. Agora, eu tenho certeza que você tem que ir nesse casamento. Ficar nessa cama não vai mudar o fato de que em poucas horas ele vai ser um homem casado. – quando ela disse isso, Gina deixou rolar uma lágrima. - Mas o que você tem que fazer é tomar um bom banho, fazer um belo penteado, uma maquiagem linda, colocar o seu melhor vestido e ir nesse casamento como a mulher mais bela daquela festa, junto com a filha dele. No mínimo, ele vai se repreender intimamente pela maior burrice que ele está fazendo na vida dele...
- Eu... Eu não sei se consig---
Hermione a interrompeu.
- Você consegue e você vai. Agora vamos, levante-se!
Hermione puxou Gina pelo braço e a levantou da cama. A ruiva respirou fundo. Ela iria ao casamento.
Poucas horas depois...
Ele estava olhando sua imagem refletida no espelho. Já estava pronto há algum tempo. Vestia um fraque: um paletó mais longo cinza chumbo e o colete era cinza claro; A calça era risca de giz e a gravata plastrom de seda estava presa por uma pérola. O cabelo, que ia na altura do queixo, estava elegantemente penteado pra trás, com o auxílio de uma poção fixadora, que fazia anos que não usava mais. Segurava o antigo bastão da família, que herdou depois que seu pai fora morto. Tinha a cabeça de uma cobra e ali guardava a sua varinha. Os olhos estavam num cinza diferente, talvez porque não continha nenhuma emoção neles.
Ele achava que tinha algo de errado. Ele se via no espelho, mas não se reconhecia. Faltava algo para ele ser o Draco Malfoy que todos conheciam. Talvez fosse o fato de que estava pronto para se casar com Sophie e não com ela. Mas ele tratava de esquecer esse fato, já que, se eles não tinham se casado antes, a culpa havia sido totalmente dela, não dele.
Deu um suspiro no mesmo instante em que a porta do quarto foi aberta. Ele olhou pra porta. Um homem, da mesma idade dele, entrou no quarto. Era alto e branco; tinha cabelo pretos, também longos, mas não tão alinhados quanto os do Draco; e seus olhos eram bem azuis. Trajava um meio-fraque, mas estava completamente desarrumado: camisa pra fora, gravata bagunçada e paletó na mão.
- Desaprendeu a bater na porta, Blaise? - Draco perguntou entediado.
- Claro que não. É que eu não ia perder o meu tempo batendo na porta, sabendo que a pior coisa que poderia acontecer era te ver pelado. Como eu já sabia que você estava devidamente vestido... - ele deu de ombros e sentou-se no sofá.
- Quem te contou que eu já estava arrumado? - Draco olhou desconfiado pro amigo.
- Oras... E precisa alguém me contar? Draco Malfoy nunca se atrasa... - ele deu um sorriso irônico.
- Ah, sim... Infelizmente não se pode dizer o mesmo de você, não é? - ele o olhou com escárnio.
- Pra sua informação, meu grande amigo, eu já estava devidamente arrumado quando encontrei uma das damas de honra no corredor... O resto, eu acho que você já pode prever.
- Você é doente, Blaise.
- Sou irresistível, meu caro.
Draco apenas revirou os olhos. Blaise pegou um maço de cigarros no bolso do paletó, tirou um e acendeu, recostando-se no sofá.
- Sabe... Ainda não acredito que você vai se casar...
Draco permaneceu olhando pro espelho.
- E o que tem de tão interessante nisso? Casar é natural. Não pra pessoas da sua espécie, é claro. Mas as pessoas normais, como eu, costumam casar.
Blaise fez uma careta.
- Eu não pretendo me casar mesmo. Pra quê ficar com uma só mulher quando posso ter todas? - ele deu um sorriso safado e Draco sorriu junto. - Mas o que eu quero dizer é que é estranho ver você se casando com Sophie. Sempre imaginei que você fosse se casar com Virgínia...
- Virgínia é passado.
- É? - ele olhou pra Draco com desconfiança. - Que bom...
O loiro então, tirou o olho do espelho e pousou os olhos no moreno.
- O que você quer dizer com isso, Blaise? - perguntou, levantando uma sobrancelha.
- Quero dizer, caro amigo, que a Virgínia é uma linda mulher. E agora, que você diz que ela é passado... Vejo meus caminhos abertos até ela.
As feições do loiro se fecharam e ele deu a impressão que iria voar em cima do outro a qualquer instante. Blaise pareceu não se importar e continuou a falar:
- Achava que você era mais esperto, Draco. Virgínia é mais bonita que a Sophie. E mais gostosinha também... – Ele pareceu devanear por um instante. Depois suspirou. - Isso vai ser bem divertido.
Draco deu dois passos longos e rápidos, parando de frente pro moreno. Depois, se abaixou pra ficar na mesma altura que ele e murmurou:
- Não ouse chegar perto dela se você não quiser ter uma morte bem dolorosa, Blaise.
O moreno gargalhou.
- Está rindo de quê? Enlouqueceu? Ou você agora acha a hipótese de morrer divertida? - perguntou, empertigando-se.
- Claro que não, Draco! É só que você ainda é apaixonado pela Virgínia. Sabe, você é mais idiota do que eu pensava.
- Quem é você pra me chamar de idiota, Blaise? - ele perguntou, se irritando.
- Eu sou aquele que é o seu melhor amigo há 14 anos e você ainda insiste em mentir pra mim. Eu te conheço muito bem, Draco Malfoy. Você ainda ama aquela ruiva.
Ele tornou a olhar pro espelho.
- Não, eu não a amo. Eu amo a Sophie. - ele falou de um jeito que não convenceu nem a si mesmo. Estava perdido.
Blaise deu um sorriso de leve.
- Tenho certeza que, se a Virgínia entrar por essa porta e dizer que te ama e que quer ficar com você pra sempre, você joga tudo pro alto, incluindo a Sophie, e vai embora com ela.
Draco pensou na hipótese dela entrar no quarto por um momento. Depois, afastou o pensamento da sua cabeça. Era loucura.
- Ela nunca faria isso, Blaise.
- E se fizesse? - o moreno insistiu.
- Ela não faria. - Draco respondeu, como se colocasse um ponto final na história. – Agora, apague esse cigarro e vá se arrumar. O casamento é em menos de duas horas, não faça com que eu me arrependa de ter te colocado como meu padrinho.
- Há! Você me colocaria como padrinho de qualquer jeito... Ou você ia querer Goyle no altar?!
Draco fez uma careta e Blaise gargalhou.
- Você imaginou a cena, não foi? – Draco concordou com a cabeça. – Viu, meu amigo? O Blaise aqui vai deixar o altar esteticamente mais bonito. Você não vai se arrepender.
Ele jogou o cigarro no chão e apagou com o pé. Draco ameaçou avançar nele, mas ele saiu antes. Restou para o loiro olhar pra marca de queimado no tapete persa e depois murmurar: “Blaise maldito...!”
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Draco já estava de pé no altar improvisado no jardim da Mansão Malfoy. Era uma bela noite. O céu estrelado, a brisa leve e o ar fresco pareciam abençoar aquela união. Mas ele não via nada que pudesse ser abençoado. Ele continuava com a sensação de que havia algo de errado com tudo aquilo. Queria parar, queria abandonar aquilo tudo, queria fugir dali. Mas não tinha coragem para tanto. Mesmo que essa idéia não saísse da sua cabeça, o seu lado sensato fazia com que ele permanecesse em pé naquele altar, esperando pela sua noiva. Em toda a sua vida, quando tivera que escolher entre o correto e o fácil, sempre escolhera o fácil. Na única vez que escolheu aquilo que considerava o correto, mesmo sendo o mais difícil, foi quando abandonou tudo para ficar com ela. Não iria repetir o mesmo erro.
Balançava lentamente os pés, jogando o seu peso de um lado para o outro. Percorreu o olhar por todos os convidados sentados nas belas cadeiras brancas postas sua frente. Uns pareciam maravilhados, outros, entediados. Alguns, apenas conversavam entre si. Não sabia bem o porquê, mas sentiu que invejava aquelas pessoas. Gostaria de estar sentado ali, provavelmente sendo mais um com expressão entediada, mas bem longe de todo esse circo que ele mesmo havia armado. Gostaria de estar na platéia, vendo um outro bobo da corte no centro do picadeiro.
Não entendia porque tudo parecia tão errado pra ele! Ninguém parecia pensar desse modo. Sua mãe estava sorrindo, sentada em uma das cadeiras na primeira fila. Olhou pro lado e viu Blaise, compenetrado em lançar olhares calorosos a uma das convidadas, que ele não conhecia. Provavelmente, amiga de Sophie. Não tendo mais pra onde olhar sem se sentir incomodado, levantou o olhar. E a viu.
Ela estava parada no centro, no vão entre os convidados. Por onde a noiva teria que entrar. Ele engoliu em seco e finalmente entendeu o que tinha de tão errado e isso não o animou. Havia fugido dessa possibilidade durante todo o dia, mas agora ela aparecia claramente, parecendo um letreiro feito de néon na sua frente. Tudo aquilo soava errado pra ele, porque não estava se casando com ela. Com Virgínia Weasley. A sua Gina.
A ruiva permaneceu parada no centro, fitando-o. Nenhum dos presentes pareceu notá-la, senão ele. Ninguém teve o ímpeto de ver pra onde ele tanto olhava. Sabia que estava dando bandeira e que se alguém visse como ele estava olhando pra ela, poderia dar um grande problema. Porém, ele não conseguia desviar o olhar. Era mais forte que ele. Ela estava tão linda... Estava com um vestido longo azul-petróleo, o corselete marcando bem o seu corpo, aquelas formas que ele tanto conhecia e que ele tanto desejava. Os olhos castanhos estavam tristes e sem vida e ele sentiu algo apertar dentro de si ao constatar isso. Os longos cabelos vermelhos estavam soltos com vários cachos pequenos. Teve vontade de ir até ela e desmanchar aquele penteado com as mãos, enquanto puxava-a pela nuca, pra perto de si e nunca mais soltá-la. Porém, manteve a atitude que estava tendo durante todos esses dias: permaneceu parado no altar.
Viu quando ela desviou o olhar e olhou para baixo. Ele acompanhou o olhar dela e viu Anabelle. E ele prendeu a respiração. Céus, como sua filha estava linda! Parecia um anjo!
A menina estava com um vestido branco, cheio de babados e sapato boneca. Os cabelos estavam todos cacheados e usava um arco também branco. Ela sorria pra ele e ele, inevitavelmente, lançou um sorriso pra filha. Gina, então, puxou a menina pela mão e sentou-se com ela em um dos bancos.
Pouco tempo depois, anunciaram a entrada de Sophie. Todos ficaram de pé. Na frente, vinham as damas de honra. Eram quatro e usavam vestidos idênticos. A noiva veio logo atrás, junto com seu pai, Bernard Montserrat.
Estava com um vestido branco, que era elegante em toda a sua simplicidade. Não havia brilhos, nem babados. Mas estava claro que o vestido havia sido caríssimo. Os cabelos loiros estavam presos no alto, com alguns cachos caindo pelo rosto e sendo circundados por uma coroa de ouro branco e diamantes, que ficava na altura da testa. Não usava véu e por isso fez uma maquiagem mais expressiva que valorizava principalmente os olhos. O vestido tomara que caia ia até os pés e atrás saía uma longa cauda. Ele possuía detalhes bordados à mão, principalmente na parte de cima. Por fim, tinha longas luvas, que passavam do cotovelo, complementando a sua roupa.
Sim, ela estava belíssima. E pela primeira vez no dia, Draco se sentiu empolgado com o casamento. Não que fosse algo exacerbado, mas era algo considerável partindo do princípio que, durante todo aquele dia, ele só tinha sentido desânimo. Mas olhando-a tão feliz e tão bela, até que o casamento não seria tão ruim, seria? Na verdade, poderia ser muito bom... Quando pensou isso, não conseguiu evitar um sorrisinho.
Ela chegou ao altar e Draco pôde repará-la de perto. Ela estava com um sorriso deslumbrante, na opinião do Draco, tanto que ele ficou embasbacado por um instante, olhando para o modo gracioso que ela sorria.
Nesse momento, ele se corrigiu mentalmente. O casamento poderia ser ótimo.
Cumprimentou Bernard com um singelo aperto de mãos, e em seguida, segurou na mão de Sophie, que estava coberta pela luva. Subiram juntos pro altar, e nos instantes seguintes da cerimônia, Draco esqueceu por completo a presença da ruiva, que o fitava com os olhos completamente marejados.
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Draco não agüentava mais tanto blá, blá, blá. Ele estava cansado de estar em pé ali, há mais de uma hora. Como sempre fazia quando estava incomodado, começou a se contorcer, dando sinais claros de desconforto para que o juiz de paz do Ministério notasse que ele não estava nada satisfeito com a situação e que ele acabasse logo com aquela lenga-lenga.
Olhou para o lado e viu Sophie com os olhos atentos ao juiz. ‘Será que ela está prestando atenção ou está apenas disfarçando?’. Sentiu-se tentado a perguntar, afinal, ele não estava conseguindo nem ao menos fingir interesse, muito menos prestar atenção em uma mísera palavra que o juiz dizia.
Cutucou-a uma vez.
Ela permaneceu imóvel, com o mesmo sorriso e os olhos vidrados.
Cutucou outra vez.
Ela olhou pra ele de rabo de olho.
- O que foi, Draco? - ela murmurou entre dentes.
- Você está prestando atenção nesse cara? – ele sussurrou.
- Lógico que estou. E você também deveria. - ela virou pra frente, mantendo o sorriso e ele soltou um muxoxo e disse algo parecido com “Que chatice”.
Procurou algo no altar para prender a sua atenção. Não achava nada de interessante. Olhou para Blaise. Certamente ele estaria fazendo algo para se entreter também. E estava certo. O moreno estava olhando pra algum ponto no chão do altar, que Draco acabou descobrindo ser uma borboleta. Achou patético, mas era alguma coisa. Fixou seu olhar nela. Percebeu que realmente não era algo muito divertido, mas era mil vezes melhor do que escutar todo o sermão que ele estava fazendo.
Não se sabe ao certo quanto tempo se passou até que ele escutou algo de longe... Algo que se parecia muito com “Quem tem alguma coisa contra, fale agora ou cale-se pra sempre...”.
Levantou o olhar correndo e viu que a face do juiz se contorceu por um instante. Certamente, ele se sentiu surpreendido pelo súbito interesse do noivo. Olhou para Blaise e viu que o moreno não compartilhava do mesmo medo que ele e sim o fitava com um sorriso de escárnio no rosto. ‘Maldito! Está se divertindo com toda a minha situação’, pensou, com raiva.
Durante todos os instantes que se seguiu a pergunta do juiz, Draco temeu que Gina fizesse algo naquele momento. Que ela se levantasse da cadeira e dissesse que ele não poderia se casar com a Sophie porque ele era o pai da Anabelle e porque ela ainda o amava. Percebeu que o que mais temia não era a reação dos convidados se Gina fizesse isso; Nem era a reação da Sophie; Era a sua própria reação que ele temia. Não sabia o que faria. Na realidade, sabia exatamente o que aconteceria... E se viu pedindo internamente para que ela falasse naquele momento.
Os segundos se passaram... E ela não se pronunciou. Draco respirou fundo. Olhou para Blaise e quase sorriu da cara de descontentamento dele. Certamente, ele estava esperando algum barraco acontecer para se divertir com a cena. Enquanto isso, Blaise voltou a atenção para a borboleta e Draco já ia fazendo o mesmo, mas havia chegado o momento do juramento.
- Eu, Draco Malfoy, te recebo Sophie Montserrat, como minha esposa, e te prometo ser fiel, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-te e respeitando-te por todos os dias da minha vida...
Ele disse tudo meio rápido e sem convicção, mas Sophie não pareceu se importar. Na realidade, ninguém pareceu perceber isso. Blaise deu um passo a frente e entregou a aliança de platina e diamantes, que Draco colocou no dedo de Sophie. Ela fez o mesmo juramento, para depois colocar a aliança no dedo anelar da mão esquerda do rapaz.
- Pelos poderes a mim concedidos, pelo Ministério da Magia e pela Ordem de Merlin, eu vos declaro marido e mulher. - ele se virou para Draco - Pode beijar a noiva.
Ele a puxou delicadamente pela mão e deu um beijo suave nos lábios. Depois, esticou o braço para ela e começaram a se retirar do altar. Quando passou por Gina, não teve coragem de olhar para ela. Sentiu seu estômago revirar quando percebeu que os olhos dela estavam pousados nele. Não sabia o porque, mas voltara a não se sentir confiante no casamento.
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Estavam no Salão da Mansão Malfoy, onde grande parte dos 600 convidados já estava acomodada. Draco e Sophie estavam parados na porta do salão, sendo cumprimentados pelos convidados que restavam. Ele estava nervoso. Sabia que em instantes teria que encontrá-la. E ele realmente não queria que isso acontecesse.
Porém, muitas vezes acontece coisas que não queremos. E foi isso que ele pensou quando viu Gina aparecer na porta do Salão, segurando a mão da Anabelle. Sophie, ao vê-la, se aproximou mais do marido (ele só não sabia se fora instintivamente ou por pura maldade) e olhou a ruiva de cima. Gina não deixou por menos e a encarou com o mesmo olhar. Draco resolveu manter sua pose de homem frio. Já estava casado e agora não tinha mais nenhuma pretensão com a ruiva, afinal, ela já havia tido a chance dela.
Anabelle, com sua inocência de criança, logicamente não percebeu a situação. Correu em direção ao pai e o abraçou nas pernas. Ele sorriu e a pegou no colo.
- Estava com saudades, papai... - ela o abraçou.
- Eu também, Belle... Eu também.
- Papai... Poque você não se casou com a mamãe?
Um silêncio pesado pairou entre os três. Draco ficou olhando perplexo durante alguns instantes pra filha e depois lançou um olhar perturbado para Gina. Ela manteve o olhar, mas depois virou para a menina.
- Não pergunte besteiras, Anabelle. Eu já te respondi isso. - ela ralhou, seca.
- Não fale assim com ela, Virgínia.
Ela preferiu não fazer nenhum comentário, apenas o olhou com fúria. Depois, tirou os olhos dele e virou-se para Sophie. As duas se encararam por um momento e ela disse, com a voz um pouco falhada:
- Meus parabéns, sra. Malfoy...
Sophie deu um sorriso enviesado transbordando satisfação. Gina pegou a filha no colo e foi em direção de uma das mesas.
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Gina já estava acomodada em uma mesa, porém estava sozinha. Estava de olho na sua filha, que brincava com outras crianças em um canto do salão. Porém, estava tranqüila. Draco havia contratado várias babás pra tomar conta das crianças, para que os pais pudessem se divertir sem preocupações. Mas como não tinha mais nada para fazer, ela olhava a filha. Enquanto fazia isso, ela passava o dedo de leve na borda da quinta taça de champanhe que ela bebia naquela noite.
- Assim eu vou ser obrigado a te carregar pra casa, Virgínia.
Ela deu um pulo ao sentir aquela voz em seu ouvido. Olhou pra trás e deu de cara com um par de olhos azuis, bem pertos dela.
- Assim você nem vai precisar me levar pra casa, já que você quase me matou do coração agora, Blaise.
Ele se empertigou. Ela olhou para cima.
- Posso me sentar?
- Se eu disser que não você vai se sentar do mesmo jeito...
- É impressionante como você me conhece... – ele respondeu, se sentando na cadeira ao lado dela.
Ela sorriu pra ele e ele retribuiu o sorriso. Ficaram em silêncio, enquanto ele dava goles leves no seu whisky e ela olhava a filha, sem parar de brincar com a taça na sua mão.
Ela deu um suspiro. Ele resolveu falar.
- Não achei que você viesse ao casamento...
- Eu não viria. - ela respondeu calmamente. - Só vim por causa da Elle. Não tinha ninguém para trazê-la...
Nesse instante, passou um garçom do lado deles. Blaise o parou, pegou uma outra taça de champanhe e entregou pra ruiva.
- Entendo... - disse enquanto fazia um gesto pra que ela bebesse. - Mas você está demonstrando bastante maturidade estando aqui.
Ela o olhou de rabo de olho.
- O quê foi, Virgínia?
- Você está sério demais pro meu gosto. Nós já trocamos mais de três frases e você ainda não falou algo engraçadinho. – ela bebeu mais um pouco de champanhe.
- Lógico... Eu não sou insensível. Estou respeitando o seu estado de dor de cotovelo. - ele falou bem devagar enquanto ela quase se engasgou.
- Estava demorando muito. - ela disse sorrindo, e ele compartilhou.
- Ah, Virgínia! Poupe-me! Vai me dizer que você não está na merda? – ele deu o último gole no whisky e começou a agitar os braços pra que algum garçom o visse.
- Lógico que não. Eu me conformei com a minha situação já faz mais de três anos.
- Eu não sei quem é mais idiota. Aquele loiro burro ou você.
- Burro por quê?! - Ela perguntou, curiosa.
- Você já acabou com essa taça? Por Slytherin... Você está uma esponja hoje, hein? - ele mudou de assunto propositalmente, mas ela não percebeu.
- Cale a boca e pegue outra taça pra mim.
- Tá legal... Só espero que tenha alguém por perto quando você resolver levantar dessa cadeira...
Um outro garçom de aproximou dos dois. Blaise murmurou ‘Finalmente...’ e pegou um outro copo de whisky pra ele.
- Peça a um garçom pra trazer uma taça de champanhe pra senhorita, sim?
- Pode me dar whisky mesmo! Não quero esperar o outro garçom.
Blaise a olhou, incrédulo.
- Não... Não vou te dar whisky!
- Pega pra mim, Blaise!
- NÃO!
Ela deu de ombros.
- Não preciso de você mesmo! – Ela esticou a mão e pegou o copo. – Viu?! Eu mesma peguei. - ela suspirou. - Nem pra pegar um copo você serve, Blaise!
- Ao menos não compartilhei com a sua bebedeira! Você deveria ao menos pensar na sua filha antes de encher a cara... – ele disse, emburrado.
- Eu não sou irresponsável. Eu não sou você. – ela disse e ele soltou um muxoxo. - Primeiro, aqui estão o pai e a avó da Anabelle. Segundo, Draco contratou uma babá pra tomar conta dela durante a festa, pra que eu não me preocupasse. - ela revirou os olhos. - A que toma conta da Elle é aquela ali... - Gina apontou na direção de uma mulher que estava apoiada em uma pilastra, olhando Anabelle brincar.
- Ahhh, sim... Agora você explicou o porque que você está bebendo tão tranqüilamente. - os dois sorriram - Mas bem que a babá é gostosinha, não é?
Ele esticou mais o pescoço pra olhar. Gina o chutou por debaixo da mesa.
- Você é um tarado!
- Só sou um eterno amante das mulheres. Se a babá é bonita, não tem porque não olhá-la...
- Pare de beber, Blaise... Você já está vendo coisas.
- Está com ciúmes, Virgínia? Não precisa, meu bem. Você sempre terá um lugar no meu coração. - ele levou as mãos ao coração, fazendo uma cena dramática.
- Eu e toda a torcida do Holyhead Harpies... - ela murmurou contrariada.
- Como é exagerada... Eu não amo toda a torcida do Holyhead...! Por exemplo, aquela sua amiga sangue-ruim também torce pra elas... E eu certamente não a amo! - ele fez uma careta de nojo.
- Não chame a Hermione de sangue-ruim, Blaise! – ela brigou com ele. - Eu gosto muito de você, mas sempre me aborreço quando você faz isso.
- Está legal... Desculpe-me, Cenourinha...
Ele gargalhou quando ela ficou mais vermelha ainda. Ele a chamava de cenourinha desde quando ele havia reparado que toda vez que ela ficava nervosa com algo, ela ficava bem vermelha. Então, ele deu o apelido a ela. E ela odiava.
- Pára de me chamar de cenourinha! – ela deu um tapa no braço dele.
- Que tal tomatinho, então? – ele gargalhava, enquanto ela estava mais vermelha ainda, porém, já não conseguia mais segurar o riso.
- Tomatinho?! Eu te mato se você me chamar assim!
- Me mata, tomatinho?
- Porra, Blaise! Você é muito chato! - ela bebeu o resto do whisky em um gole só.
- Não sou chato... Só que te ver com raiva é a coisa mais engraçada deste mundo!
Ela soltou um muxoxo.
– Ainda vou arranjar um apelido pra você...
Ele riu.
– Duvido que você consiga um tão bom quanto ‘cenourinha´.
- Tá, tá... Vamos mudar de assunto, por favor? – ela pediu.- Ei! Para aquele garçom ali!
- Ei, garçom! Uma pinguça desenfreada necessita de combustível aqui!
Ela o chutou por debaixo da mesa.
- Ai, Virgínia! Amanhã vou estar todo roxo!
- Ninguém manda ser engraçadinho... - ela deu de ombros.
- Mas foi você que disse que estava sentindo falta! – ele falou com um tom falsamente contrariado.
- Não disse nada! Só disse que você estava estranho porq---
- Cala a boca, Virgínia, e vamos dançar.
- Vamos o QUÊ?! - ela arregalou os olhos.
- Dançar! Está ficando surda, mulher? - ele esticou a mão pra ela.
- Não... Mas devo estar ficando maluca...!
Ela aceitou a mão dele e se levantou. Na hora que fez isso, pareceu que o mundo deu uma volta em torno dela numa velocidade maior que a de uma viagem com pó de flu. Sentiu-se tonta e se segurou no Blaise, que passou a mão pela cintura dela, mantendo-a em pé.
- Eu te disse que quando você levantasse a coisa ia ser complicada...
– Oh, você é meu herói... - respondeu, gargalhando.
Ainda rindo, ela olhou por cima do ombro de Blaise (que permanecia segurando-a) e deu de cara com Draco olhando-a com fúria. Ela manteve o olhar durante uns instantes. Depois, olhou pro moreno e deu um sorriso meigo.
- Não íamos dançar?
- E vamos, senhorita...
Aos solavancos, os dois conseguiram chegar até a pista de dança. Gina percebeu que ela não era a única bêbada. Blaise também estava. Percebeu pelo modo excêntrico que ele dançava, se sacudindo mais do que o normal. Porém, parecia que ninguém no salão percebia os dois dançando ali, no meio de tanta gente, apenas duas pessoas: a dama de honra e Draco Malfoy.
Depois de muito dançar, muitos pisões nos pés, cotoveladas e com o Salão já vazio, Gina resolveu ir embora. Anabelle dormiria na Mansão Malfoy, com sua avó, como já havia sido previamente determinado. Blaise se ofereceu a levá-la em casa e ela aceitou.
“Espere um minutinho que eu vou pegar meu paletó. Só falta lembrar onde eu o deixei...”, ele disse, enquanto bagunçava os cabelos e ia em direção ao outro lado do salão. Gina continuou sentada à mesa, com sua inseparável taça de champanhe.
- Ei! Draco... Você viu meu paletó?
Draco olhou pra ele e não respondeu.
- Está todo mundo surdo hoje ou eu estou tão bêbado que eu acho que eu estou falando, mas, na realidade, eu não estou? – ele coçou a cabeça mais uma vez, sacudindo mais os cabelos.
- Você está falando, Blaise. Eu só não estou a fim de dar papo para bêbados.
- Todo metido só porque casou... Há uns dias atrás você estava caindo de bêbado na sua despedida de solteiro e ainda tive que te aturar vomitando na estrada!
Draco cruzou os braços e soltou um muxoxo.
- Mas eu não dei em cima da sua... Sua... Ah! Vai se danar, Blaise!
Blaise sorriu.
- Já entendi o que está acontecendo... Ciúmes da ruivinha, não é?
Draco nada respondeu. Blaise continuou falando:
- Se deu mal, eu te avisei. Você poderia ter desistido, mas você não me escutou... Agora, se vira com a Sophie! - ele gargalhou, achando graça do que ele mesmo tinha falado. - Virgínia está livre, leve e solta... Aliás, Virgínia e eu estamos livres, leves e soltos...
Quando Draco ia retrucar, Blaise deu um grito de satisfação:
- Ali está meu paletó! – ele se abaixou e pegou o paletó caído embaixo de uma mesa. Quando levantou, bateu com o topo da cabeça na mesa, soltou um palavrão e finalmente ficou de pé, com o cabelo mais bagunçado do que já estava.
Draco começou a falar, mas ele ignorou. Foi até a ruiva, que agora olhava algo muito interessante dentro da taça de cristal vazia e a pegou pela mão. E ambos saíram juntos do Salão, trôpegos, passando na frente de Draco Malfoy.
O loiro respirou fundo e olhou para sua mulher sentada na mesa junto com a sua melhor amiga (que fora dama de honra), que estava triste por algum motivo que ele não sabia o qual. Agora era só ele e ela. Agora, ela era a sra. Malfoy. Agora, ela era a única mulher que ele deveria desejar e amar.
Agora, ele deveria esquecer Gina Weasley de uma vez por todas, pelo resto da sua vida.
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