Convivência e Sustos

Convivência e Sustos



Capítulo 2 – Convivência e Sustos

Passaram-se dias, semanas, meses. E Gina passou a se acostumar com a presença do Draco novamente em sua vida. Não que ela não sentisse mais vontade de correr para os braços dele toda vez que o via. Não. Apenas aceitou o fato de que eles tinham uma filha e que por isso teriam que conviver mais. Era como uma guerra e cada dia, uma nova batalha: ela sabia exatamente o que teria que enfrentar naquele dia e se esforçava o bastante para conseguir superá-lo. E quando passava, ela respirava fundo e esperava, pacientemente, ao outro dia, quando começaria tudo novamente.

Na realidade, ela até gostava de encontrá-lo. Era maravilhoso e dilacerante ao mesmo tempo. "timo, porque agora a relação entre eles havia se acalmado um pouco, e eles se permitiam conversar decentemente. E ela se divertia com os comentários maldosos que ele sempre fazia! Sim, ele não havia mudado nada. E isso fazia com que Gina se lembrasse sempre do homem por quem ela se apaixonou. Não foi com um Draco bonzinho que ela conviveu. Ela namorou um Draco cheio de defeitos, mas com inúmeras qualidades que nem todo mundo conhecia. E agora, ela estava usufruindo tudo isso novamente. O lado ruim era o que mais machucava, o que mais doía. Era estar tão perto dele e não poder tocá-lo. Era ver aqueles braços, que já havia segurado-a tantas vezes, agora tão distante dela. Era refrear a vontade de tocar no rosto dele, de segurar as suas mãos frias. De beijá-lo...

Com relação a Anabelle, Draco encontrava com a filha sempre que podia. Eles criaram um vínculo muito forte e a menina passara a gostar muito dele, até porque ele fazia as coisas totalmente ao contrário do que Gina costumava fazer: entupia a menina de sorvete e balas antes das refeições, comprava brinquedos com funções 'duvidosas' como os vendidos na Zonko´s, os quais Gina nunca deixara a menina brincar, entre outras coisas. Lógico que Gina brigava muito mais com ele do que com a filha, mas não adiantava muita coisa... No outro dia ele estava fazendo tudo novamente. Quando Draco e Anabelle estavam juntos, ele virava criança novamente. Ajudava a menina a fazer as travessuras que ele costumava fazer quando era pequeno. 'Ah, Virgínia... Se eu não ensinar a ela, quem vai ensinar?' Era o que ele sempre respondia. Ela bufava e dava de ombros, não adiantaria retrucar mesmo.

Agora, os dois se viam um pouco menos do que o normal, já que Draco havia decidido voltar para a Inglaterra, e por isso estava envolto com a sua mudança. Essa notícia pegou Gina de surpresa. Ele havia dito que morar na Dinamarca estava dando muito trabalho, já que ele ficava viajando para lá todas as semanas, então ele resolveu voltar a morar na antiga Mansão Malfoy. Por conseqüência disso, o seu casamento havia sido adiado. Quem não gostara nada dessa história havia sido Narcisa Malfoy e sua noiva, logicamente. Porém, Draco não deu atenção. O que mais lhe importava agora era sua filha e inconscientemente, estar cada vez mais perto de Gina Weasley. Ele havia se esquecido como era bom estar perto dela. Como era bom dizer algo debochado sobre ela e vê-la ruborizar, ver o sorriso tímido que ela costumava dar quando algo inesperado acontecia. Ou, simplesmente, contemplá-la. Olhar naqueles olhos castanhos que faziam com que ele se sentisse aquecido e vivo. Ver como as sardas dela combinavam perfeitamente com seus cabelos vermelhos e como estes contrastavam com sua pele branca. Quando se deu conta, Draco estava novamente ligado àquela ruivinha. Lógico que sempre que se encontravam, sua maior intenção era encontrar a sua filha, mas vê-la era uma das coisas que o motivava.

Numa quinta-feira de sol, Gina levou a filha para encontrar com Draco em um parque não muito longe da Toca. Quando elas chegaram lá, ele já estava à espera.

- Belle! - ele exclamou quando a menina foi correndo na direção dele.- Me dê um abraço.

A menina obedeceu e deu um forte abraço nele, que aproveitou e a pegou no colo. Depois de uns instantes, Draco pediu que a menina fosse brincar um pouco em um dos brinquedos da pracinha e se aproximou de Gina.

- Já faz três meses que você me disse que iria contar para a Belle que eu sou o pai dela, Virgínia...

- Não me pressione, Draco. Isso não é algo fácil de se fazer. - ela respondeu com a voz baixa.

- Eu sei que não é fácil, mas tem que ser feito. Eu não quero ficar com esse papel secundário pelo resto da vida.

Ela ficou pensando por um instante, fitando a filha enquanto ela brincava em um balanço.

- Muito bem. Eu conto para ela ainda essa semana. Você vai para a Dinamarca, não vai? - ela se voltou para ele, que concordou com a cabeça.

- Vou, mas volto no fim de semana. É a minha última viagem para Dinamarca. Semana que vem, já estarei devidamente instalado na minha casa.

- Bom pra você e pra Elle também. Ela está muito ligada a você. - ela respondeu.

Draco sorriu.

- Ah, Virgínia! Por falar nisso... Eu já separei um quarto na Mansão pra ser exclusivamente dela. Minha mãe vai cuidar da decoração do quarto, mas queria que você me dissesse de algumas coisas que ela gosta e que eu ainda não tenho conhecimento. Quero que fique o mais agradável possível.

Gina não pôde deixar de sentir ciúmes. Achava que Draco aos poucos estava tirando a sua filha de si e estava ocupando um espaço que antes era ocupado somente por ela. Porém, ela não tinha como evitar isso. Era uma conseqüência natural e vinha para o bem da sua filha. Mesmo que tivesse que dividir a atenção da Anabelle com ele, ela assim o faria, porque sabia que sua filha sofreria muito mais se não tivesse um pai e isso ela não poderia negar a ela, já que ele queria tomar conta dela. Então, ela não poderia fazer nada além de se resignar.

- Virgínia? O que foi? - ele perguntou ao ver o olhar perdido dela.

- Ahn?! Ah... Nada. - ela respondeu, recompondo-se. - Não foi nada. Pode deixar que eu irei te ajudar. E a sua noiva? Quando vem?

Draco sempre se sentia desconfortável quando Gina tocava nesse assunto com ele. Sentia que toda vez que ela falava sobre a sua noiva, ela tinha um tom de amargura na voz, e isso o incomodava. Além do quê, ele não gostava de falar sobre esse assunto com ela, principalmente porque ainda achava que quem deveria ser a sua noiva era a ruivinha e não Sophie. Mas então, ele tratava de se lembrar que, se eles não estavam juntos nesse momento, era tudo culpa de Gina e que ela havia escolhido seguir esse caminho e por isso, ele não podia fazer nada. Lógico que havia sido rude com ela, não havia dado chances para ela se explicar, sendo que em sua mente, não havia nada a ser explicado. Ele havia visto o suficiente para compreender o que estava acontecendo. Ele gostava de Sophie, não poderia negar. Ela era a mulher perfeita para carregar o nome Malfoy: muito bonita, loira, educada e refinada. E além de tudo isso, ela era totalmente apaixonada por ele e fazia qualquer coisa para vê-lo feliz. E ele não ignorava esses fatos, porém, o que ele sentia por Gina era muito maior e ele nunca havia conseguido se livrar do sentimento por mais que tivesse tentado. Talvez essa fosse a maior frustração da sua vida nesses últimos tempos: não conseguir esquecer Virgínia Weasley.

- Ela não vem logo comigo... Só após o casamento. – ele respondeu, contrariado.

- E quando é o seu casamento? - ele não deixou de notar na voz embargada, que ela tentou, em vão, esconder.

- Não quero falar sobre isso. Será que podemos mudar de assunto?

- Por que você não quer falar? Não sei porque você fica tão aborrecido quando eu falo do seu casamento.

- Se você não sabe, não sou eu que irei explicar, Virgínia. Mas já que você quer saber tanto, me caso daqui a quatro meses. Satisfeita? - ele perguntou, completamente sarcástico.

- Muito.

Ele fez uma careta, saiu do lado dela, e se dirigiu até a filha. Gina deu um suspiro resignado e sentou em um dos bancos enquanto via os dois brincando, ao longe.

- Anabelle! Venha até aqui que a mamãe quer falar com você...

Gina se sentou em um sofá na sala da Toca. Havia dito para Draco que contaria tudo para a filha e agora era o momento certo. Ponderou durante muito tempo qual seria o melhor método para fazer isso e com a ajuda de algumas pessoas, chegou a conclusão que toda a verdade deveria ser contada, utilizando-se todo o tato possível. Estava nervosa, logicamente. Não sabia como a filha iria reagir. Tudo bem que ela era uma menina de dois anos e que não entendia muito das coisas que aconteciam ao seu redor, mas seu medo era que inconscientemente, ela sofresse de algum tipo de trauma e que algum dia isso pudesse voltar contra ela.

A menina veio em sua direção e Gina a sentou no seu colo. Ficou durante um tempo acariciando o cabelo da menina, até que começou a falar:

- Bem, Elle... O que a mamãe quer falar com você é algo muito importante, tá? - ela virou a menina para si e respirou fundo, tomando coragem. - Toda criança tem um papai. O tio Rony é papai do Joey e o tio Fred é o papai do Mike e da Courtney. Assim como o vovô Arthur é o meu papai. Você sabe disso, não é?

A menina sacudiu a cabeça, afirmando.

- Então... Como todo mundo, você também tem um papai.

- Eu tenho um papai? - Gina viu quando os olhinhos dela brilharam ao fazer a pergunta, e isso fez com que Gina se motivasse e percebesse que estava no caminho certo.

- Sim... Você também tem um papai. Você não o conheceu antes porque ele estava muito, muito longe, num lugar bem distante e fazendo algo de muito importante. Mas agora ele voltou e vai cuidar de você também.

- Quem é meu papai?

- Seu papai é o Draco. Você gosta dele, não gosta?

- Gosto sim! Mas o tio Dlaco é o tio Dlaco!

- Não, Elle... O Draco é o seu papai...

- Mas ele não é o tio Dlaco? Tio Dlaco é meu papai?

- Sim, ele é seu papai. E a partir de agora, você não precisa mais chamá-lo de tio Draco. Pode chamar só de papai, tá bom?

Ela olhou meio desconfiada e deu de ombros. Depois disse baixinho "Tá bom, mamãe".

Gina deu um beijo na filha e a soltou, pra que ela fosse brincar. Sentiu-se infinitamente mais aliviada. Havia contado toda a verdade para a filha sem maiores danos... Agora era esperar que tudo desse certo.

Anabelle demorou um certo tempo pra assimilar a informação. Continuou chamando o Draco de tio durante um certo tempo e Gina sempre a consertava. Com o tempo, ela foi se acostumando, até que sempre o chamava de pai e Gina ficou mais aliviada. Tudo estava se encaixando e, calmamente, as coisas voltavam para o lugar.


TEMPOS DEPOIS


- Rony! Dá pra me ajudar aqui?

Gina estava pegando algumas coisas dentro do armário. Faltava cerca de um mês para o Natal e eles já estavam montando a árvore de Natal. Tinham esse costume por causa das crianças da Toca. Queriam que elas aproveitassem ao máximo essa época. Elle, por exemplo, ficava fascinada nessa época, sempre fitando durante horas as fadinhas reluzentes que voavam ao redor da árvore. E se tratando da menina, isso era um grande feito.

Já estava saindo com as coisas do armário, quando Joey entrou correndo na casa.

- Tia Gina! Tia Gina! A Elle caiu!

- O QUÊ, JOEY?! - Gina gritou, enquanto deixava todas as coisas caírem no chão.

- A Elle caiu da árvore! Está lá fora!

- Por Merlin! - Gina gritou e saiu correndo da casa, sendo acompanhada por Rony e por Carlinhos, que chegaram na sala ao escutarem o barulho.

Ao chegarem lá, a menina estava caída no pé da árvore, desmaiada. Num impulso, Gina foi em direção a filha para fazê-la levantar, mas Carlinhos a impediu.

- Não mexa nela, Gina! Se ela sofreu alguma fratura, será pior se você mexer nela. Temos que chamar o médico!

- E a minha filha vai ficar caída aí? Você está louco? - ela respondeu, com a voz alterada, chorando muito.

- Calma, Gina! Mantenha a calma! – em seguida, virou-se para Rony. – Rony, chame os curandeiros, urgente. Enquanto isso, cuidaremos dela. - Carlinhos disse quase que exigindo, enquanto ainda segurava Gina.

- Ela está morta, Carlinhos! Minha filha morreu!

- Não! Ela não está morta, Gina! Acalme-se e deixe-me vê-la.

Carlinhos se abaixou perto do nariz da menina e verificou que ela ainda respirava, para seu alivio. Realmente o caso da menina parecia muito grave, mas não havia comentado nada para não deixar a irmã mais nervosa. Depois, passou a examiná-la de longe, sem tocá-la. Não sabia o que ela poderia ter sofrido, não era curandeiro e poderia piorar a situação. Mas viu que a perna da menina estava inchada e um pouco arroxeada, e ele sabia que esse era um dos sintomas de uma fratura. Começou a pedir a Merlin que fosse somente isso, porém o fato dela estar desmaiada não ajudava em muita coisa.

- E então, Carlinhos? O quê que a minha filha tem? Ela vai ficar bem? - Gina perguntou, soluçando.

- Ela vai ficar bem! Elle está respirando. Está tudo certo. - Carlinhos mentiu para que a irmã se acalmasse.

- Você jura?

- Dou minha palavra. - ele disse, sem olhar para a irmã. Gina nem ao menos percebeu. Limpou os olhos e viu quando Rony se aproximava com dois curandeiros.

- O que aconteceu com a menina? - O mais alto havia perguntado. Tinha a feição fechada, mas parecia completamente compenetrado no que fazia. O outro, mais baixo, já tinha a aparência mais amena e tratou de tranqüilizar Gina.

- Ela caiu da árvore. - Gina respondeu.

- Exatamente de que altura? - o segundo perguntou.

Joey, que estava grudado no pai, olhando tudo muito assustado, apontou para a árvore.

- Hum... Cerca de dois metros. É uma altura considerável. - o outro ponderou. - Vamos levá-la para o St. Mungus.

- Realmente há a necessidade? Ela está tão mal assim? - Gina começou a ficar nervosa novamente.

- Não sabemos se há gravidade. Temos que levá-la para fazermos exames no hospital. Vamos lá.

O bruxo mais sério conjurou uma maca e em questão de segundos, Anabelle já estava presa na maca. Em seguida, o bruxo mais baixo retirou uma chave de portal de dentro da bolsa.

- É o método mais seguro de irmos com pacientes até o St. Mungus. - Gina concordou com a cabeça, e ele continuou a falar. - No entanto, só podemos transportar os pacientes, não os parentes. Então, se a senhora quiser ir até lá, deverá usar seu próprio método de locomoção.

- Tudo bem. Minha filha ficará bem, doutor?

Ele a fitou sério.

- Só poderemos afirmar com precisão depois que examiná-la, senhora...

- Senhorita Weasley. - ela informou.

- Perdão, senhorita Weasley, mas agora temos que ir.

Ela concordou. Os curandeiros colocaram a lata nas mãos da menina e os dois tocaram a lata. Segundos depois, não havia mais nada no local em que eles estavam. Gina começou a chorar novamente.

- Minha filhinha... Eu sou uma péssima mãe! Péssima!

- Não é não, Gina! Pare de se culpar! Quantas vezes você havia avisado pra que ela ficasse longe da árvore? Não fique assim... - ele abraçou a irmã.

- Temos que avisar ao Draco... Rony... Você pode fazer isso pra mim? - Gina pediu.

- O QUÊ? Eu? Por q—

Rony começara a reclamar, mas Carlinhos lançou-lhe um olhar contrariado. Batendo o pé, Rony entrou na casa enquanto Carlinhos e Gina aparatavam até o St. Mungus.

Draco chegou muito nervoso até o hospital. Não sabia ao certo o que tinha acontecido com a sua filha, já que Rony se recusou a falar decentemente com ele. Não estava com o cabelo penteado e tinha a aparência um pouco desleixada. Não se importava. Sua filha estava no hospital, seu estado era indefinido. Não tinha tempo pra ficar se arrumando.

Logo que chegou, viu Gina sentada em um dos sofás da sala de espera, junto com alguns familiares. Carlinhos se antecipou e foi falar com ele:

- Como minha filha está? - Draco perguntou logo que Carlinhos se aproximou.

- Não sabemos. O curandeiro ainda não apareceu para nos dar notícias. Olhe, Malfoy...- ele abaixou o tom de voz. - Não culpe a Gina, ela não te---

Draco olhou pra ele, censurando-o.

- Não me diga o que eu devo ou não fazer. - ele passou a mão pelos cabelos, jogando-os pra trás.

- Ela está muito nervosa. Você vai piorar o estado dela... - Carlinhos se alterou.

- Nervoso está você. Eu não vou culpá-la.

Sem dizer mais nada, Draco foi em direção a Gina.

- Como você está? - ele perguntou, abaixando-se pra ficar na mesma altura que ela.

- Ah, Draco... É tudo culpa minha! Eu sou uma péssima mãe! - ela chorou mais, levando as mãos ao rosto.

Draco retirou as mãos do rosto dela e as segurou. Com uma das mãos, enxugou as lágrimas que rolava pelo rosto dela. Não conseguiu deixar de pensar no quanto ela o atraía e em como era bom tocá-la novamente. Olhou-a firmemente nos olhos.

- Não é culpa sua. Crianças são assim mesmo, Virgínia. Elas nos cegam e quando a gente vai ver, elas já aprontaram algo. Não se culpe.

- E se... E se acontecer algo de mais grave a ela? - ela fez um biquinho, como se fosse chorar novamente.

- Não vai acontecer. Anabelle ainda vai nos dar muitos sustos desse tipo. Você vai ver.

Ela deu um sorriso fraco e Draco sentou-se ao lado dela, ainda segurando uma das mãos dela.

- Vai ficar tudo bem... - ele disse por fim.

Ele olhou para o lado e viu que alguns Weasley lançavam olhares incrédulos a ele. Fez, então, uma expressão de nojo e perguntou, apenas movendo os lábios: 'O que foi? Nunca viram?'. Alguns, como Carlinhos, disfarçaram, embora Rony e os gêmeos permanecessem encarando-o. Draco fez novamente uma expressão de nojo e os ignorou, voltando sua atenção para Virgínia.

Estava realmente preocupado. Não iria perder o seu tempo pensando em algo ofensivo para dizer. Não fazia idéia de como sua filha estava e nenhum curandeiro aparecia para lhe dizer. Olhou por um momento para a mão de Gina, que tremia. Apertou a mão dela em apoio... Não sabia se queria apoiá-la ou se queria dizer para si mesmo que tudo terminaria bem. Talvez fosse um pouco das duas coisas. Talvez achasse que passando força para ela, iria acabar com seus próprios medos.

Não se lembrava a partir de que momento que Anabelle passara a ter tanta importância em sua vida. Só sabia que no primeiro momento em que olhou naqueles pequenos olhos castanhos, sentira algo de diferente. Sentira que ela era como ele. Só não entendia ao certo se ela fazia parte dele ou ao contrário... Mas conseguia ver que, através daqueles olhos tão inocentes, existia um 'qu' de Draco Malfoy. Não conseguia explicar ao certo o que era isso. Só sabia o que havia sentido e que, quanto mais o tempo passava, quanto mais ele convivia com a filha, mais se sentia ligado a ela.

O tempo passava e Draco ficava mais angustiado. E o mesmo acontecia com Gina. Ele conseguia escutar os soluços fracos que ela dava. Em um certo momento, ela encostou a cabeça no seu ombro, e ele se sentiu arrepiar. Era o maior contato que eles tinham desde que haviam se reencontrado. Mesmo tendo passado incontáveis dias juntos, parecia que ainda existia uma barreira entre eles, que impedia que eles se tocassem. Na realidade, Draco até agradecia por isso. Achava que não seria capaz de se controlar tendo Virgínia tão perto de si. Mas agora era uma situação completamente adversa e ele não tinha cabeça para pensar em fazer nada, a não ser deixar que ela recostasse em si.

Não demorou muito e um curandeiro apareceu. Imediatamente, todos levantaram em um salto e Draco permaneceu segurando a mão de Gina, que pareceu não perceber.

- E então? Como está minha filha?- Gina perguntou, chorosa.

- Acalmem-se... Ela está bem e felizmente não foi nada grave. Ela sofreu uma fratura interna na perna direita, que já foi consertado e algumas luxações. O desmaio foi recorrente do tombo e nós já fizemos todas as verificações para termos certeza de que nada mais sério aconteceu com a menina... Ela é muito forte.

- E muito travessa... - Gina comentou, já se permitindo sorrir. Todos os outros sorriram levemente.

- Podemos vê-la agora? - Draco perguntou.

- Não acho prudente. Ela ainda está descansando. Mais tarde o senh---

Draco interrompeu-o.

- Mais tarde? Nós estamos aqui ansiosos por qualquer notícia, sendo que nenhum de vocês foi capaz de vir até aqui dar qualquer satisfação e você ainda vem me dizer para que eu veja a minha filha mais tarde? Não. Eu quero vê-la agora. - disse, intransigente. O curandeiro soltou um muxoxo.

- Draco... Ele sabe o que é melhor para Elle... Se ele acha que é melhor vê-la mais tarde, é porque é verdade... Qual seria a intenção dele de nos impedir de ver a nossa filha?

Ele lançou um olhar frio ao médico e manteve-se calado. Gina, vendo que ele não iria responder, tornou a falar.

- Nós já sabemos que ela está bem e por hora, é o suficiente. Nós a veremos mais tarde... Ok?

Draco suspirou, resignado.

- Eu queria vê-la agora. - disse tão baixo a ponto de que somente Gina o escutou.

Ela sorriu e quando iria respondê-lo, seu olhar pousou na mão dele, que ainda estava entrelaçada com a dela.

Engoliu em seco.

Lembrou das vezes em que culpou Draco por nunca ter lhe dado apoio. Por estar tão longe dela nos momentos mais difíceis. Pensou nas vezes em que queria apenas que ele segurasse na mão dela e dissesse que tudo daria certo, que terminaria bem. E agora, em um dos momentos mais críticos da sua vida, ele finalmente estava ao seu lado. Mais: estava segurando a sua mão, dando o apoio que ela tanto precisava no momento. Ele estava ali. Ele havia voltado. E pela primeira vez desde que haviam se reencontrado, Gina finalmente percebeu o quanto que a presença dele a fazia bem. O quanto que somente um olhar, uma palavra dele poderiam fazer com que ela se sentisse especial. O quanto que apenas um toque dele fazia com que ela achasse que seu coração iria saltar pela sua boca...

Finalmente ele viu pra onde ela estava olhando. Ainda estavam de mãos dadas. Há quanto tempo não usufruía daquele toque? Há quanto tempo não sentia o quanto que aquelas mãos eram macias? Não lembrava ao certo, mas nunca esquecera a sensação que aquilo lhe causava.

Gina acariciou de leve a mão dele, passeando lentamente com os dedos. Viu quando ele engoliu em seco, exatamente como ela fizera segundos atrás. Seu coração acelerou novamente. Deu um leve sorriso. E sentiu sua respiração falhar ao ver que ele correspondeu com um sorriso tímido, mas genuíno. Não importava quanto tempo se passasse, ele nunca mudaria. Esqueceu completamente o mundo a sua volta quando o viu dando um passo em sua direção. Achou que lhe faltava o ar. Mordeu o lábio inferior, sem intenção, mas lembrou-se depois de que ele se sentia provocado com tal gesto. Continuou acariciando a mão dele, desta vez com mais confiança. Olhavam-se profundamente nos olhos um do outro. Outro passo. Sentiu as pernas fraquejarem...

- Draco! - uma voz feminina, carregada no sotaque, quebrou o momento. Eles se afastaram imediatamente.

Gina já sabia de quem se tratava mesmo sem conhecê-la. Já sabia no momento em que escutou a voz. Virou-se lentamente e fitou a mulher que estava na sua frente.

Era inegavelmente... linda. Alta, com seus longos cabelos loiros e lisos, caindo sobre os ombros. Estava com um vestido longo azul, que fazia com que seus olhos, também muito azuis, ganhassem vida. Tinha um ar de superioridade no rosto e um sorriso de desdém traçado em seus lábios. Definitivamente era o par ideal para Draco Malfoy.

- Sophie...? O que está fazendo aqui?!

A loira se aproximou do noivo. Todos os Weasley viraram para acompanhar a cena. Rony estava ligeiramente boquiaberto e recebeu um cutucão discreto da mulher. Gina limitou-se a abaixar a cabeça.

- Oh, Draco... Você saiu tão apressado, tão nervoso... E estava demorando a voltar, por isso pensei que algo muito importante deveria ter acontecido e fiquei preocupada... - ela disse num tom falso, que todos os presentes perceberam.

Ela então, se virou para Gina.

- Oh... Então você é a mãe da filha do Draco, não é? - ela disse isso na tentativa de ofendê-la. Queria dar a entender que Gina não passara de uma procriadora e ela havia conseguido, a julgar pelo olhar que a ruiva deu ao loiro.

- Sim... Eu sou a mãe da Anabelle.

Sophie deu um sorriso falso e esticou a mão.

- Muito prazer, eu sou Sophie Montserrat. - suspirou por um momento e completou - Noiva do Draco.

Gina apertou a mão dela e também deu um outro suspiro.

- Eu sou Virgínia Weasley.

Draco aproximou-se de Sophie e, puxando-a pelo braço, levou-a para um outro canto do hospital e disse baixo:

- Eu falei para você ficar em casa.

Sophie deu um suspiro.

- Então você quer me dizer que eu venho da Dinamarca apenas para ficar com você e no primeiro chamado dessa ruivinha sem classe, você sai correndo, como um cachorrinho, me larga plantada na sua casa e eu tenho que aceitar? - ela respondeu em um tom igualmente baixo e mantendo um sorriso no rosto, fazendo com que ninguém que tivesse escutado o que ela havia dito percebesse o que realmente estava acontecendo. Gina escutou todas as palavras ditas por ela. Com um muxoxo, sentou-se em uma das cadeiras do hospital, preferindo ignorar a conversa.

- Você precisa aprender a assimilar mais as informações, Sophie... Primeiro: minha filha sofreu um acidente e foi por isso que eu vim pra cá. Não estou aqui para me divertir. Segundo: eu não mandei você vir da Dinamarca pra cá. Você veio porque quis. E por último, um aviso: nunca mais em sua vida me chame de cachorrinho. – ele terminou com um sorriso enviesado.

- Diga o que você quiser, Draco. Mas eu não sairei desse hospital sem você. Pensa que eu não vi como vocês estavam se olhando quando eu cheguei?

- Você viu errado. Não estava acontecendo nada entre Virgínia e eu. – ele respondeu sério, fitando-a nos olhos.

- Assim espero. Lembre-se que somos comprometidos... - ela deu um leve sorriso.

- Pode apostar que eu não esqueci disso em nenhum momento. - ele respondeu por fim, em um tom levemente sarcástico, que passou despercebido por ela.

Não conseguia tirar da sua cabeça a imagem dela quando avistou Sophie. Seus olhos, que em segundos antes estavam brilhantes, escureceram. Um leve rubor tomou conta de seu rosto e seus pés tornaram-se subitamente alvo do seu interesse. Ela havia ficado incomodada com a presença dela. E isso o torturava.

Sabia que estava voltando a sentir por ela tudo o que ele quis enterrar no passado. Percebeu que não fora bem sucedido nessa meta e que de nada adiantava tentar esquecê-la se ela ainda mantinha tudo o que havia feito com que ele se apaixonasse por ela: a voz doce, a aparência frágil, decisões fortes... Estava mais consciente e sensata, era fato. Mas ainda mantinha o mesmo ar juvenil e alegre que ele tanto admirava...Ainda mantinha o mesmo toque...

Draco Malfoy tocou a sua própria mão, onde ela havia tocado alguns dias antes. Por quê raios não conseguia esquecer aquele toque? O quê que aquela garota tinha que a diferenciava de todas as outras mulheres do mundo? Por quê não se apaixonara por Sophie do mesmo modo que se apaixonara por ela?

Sabia que precisava tomar um rumo na sua vida. Do jeito inconstante que estava, não poderia continuar. Só não conseguia se decidir que caminho que escolheria: o mais fácil ou o mais tortuoso. Casar com Sophie era o que estava preste a acontecer. Só restava se acomodar. Tentar com Gina era o mais complicado... Teria que passar por cima do seu próprio orgulho e os dois, juntos, teriam que tentar recuperar a confiança que fora perdida. No entanto, não sabia se ela iria querer isso. De fato, não sabia se ele mesmo estava pronto pra isso.


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E então?? Gostaram do capítulo????

E Sophie Montserrat finalmente apareceu! E é em homenagem à Chloe, que ama a Sophie.. u.u'

Queria agradecer de coração à todo mundo que mandou as reviews! Eu amo vocês!!!

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