Encontros



...

- Você..! - ela murmurou, ainda assustada.

Seu coração parecia que ia explodir. De todas as coisas do mundo, o que ela menos queria era se encontrar com Draco Malfoy. Depois de tudo que ela havia passado, de tudo que ela havia sofrido, encontrar aquele homem era como trazer a tona todos os sentimentos que ela queria ocultar. Num impulso, ela se virou para a sua filha:

- Elle, vá ficar com a sua madrinha.

- Mas, mamãe...

- Vá, Elle! - ela disse, com severidade.

A menina, batendo o pé, se dirigiu até Hermione, que estava não muito longe dali, presenciando a cena.

Draco acompanhou todo o trajeto que a sua filha fez até Hermione, ainda com a aparência muito assustada. Depois tornou a olhar para Gina. Ficou algum tempo movendo os lábios, mas sem falar nada. Parecia querer tomar coragem.

- Ela é sua filha, Virgínia? - ele perguntou, sem gaguejar, mas com a voz bastante tremida.

- Sim. - ela não conseguia encará-lo, por isso voltou sua atenção para onde sua filha estava.

- Ela tem quantos anos?

Gina ficou um tempo considerável olhando para a filha.

- Três anos e quatro meses.

Ela viu quando Draco fechou os olhos e deu um suspiro.

- Nós terminamos há quatro anos atrás...

Ela concordou com a cabeça.

Um silêncio inquietante tomou conta deles, a tensão era palpável. Draco queria falar algo para quebrar o silêncio, mas não conseguia. Gina queria, a todo custo, que ele desse meia volta e fosse embora sem fazer a pergunta que ela havia temido durante todos os dias depois que sua filha tinha nascido.

Ele a encarou. Ela permaneceu olhando para a filha, mas sentiu o peso do olhar dele em cima de si e ruborizou. Não agüentando mais ver aquele olhar pousado em cima dela, ela quebrou o silêncio:

- O que você quer, Malfoy? - ela virou para olhá-lo.

Um instante de silêncio entre eles. Ele parecia tomar coragem novamente e ela temia pelo que iria escutar.

- Quem é o pai dela, Virgínia? - ele perguntou, sério.

Gina soltou um suspiro resignado. Não conseguia olhá-lo sem reparar o quanto que ele estava bonito, o quanto que os olhos cinzentos dele ainda faziam com que ela tremesse...

Ela voltou a olhar para a menina, que agora estava entretida, brincando com seu primo Joey.

- Ela não tem pai. - ela disse com a voz trêmula. Dizer que a filha não tinha pai, estando diante dele, doía mais do que ela imaginava. – Pai é aquele quem cria... Sendo que quem me ajuda a criá-la são os avós e os tios dela... E eles não podem ser chamados de pai.

- Quem é o pai biológico dela? - ele perguntou, dessa vez com mais força e um pouco de raiva na voz. Estava nervoso, queria saber logo das respostas, mas ela fugia, sem dar respostas conclusivas.

- E isso realmente importa? Do que interessa saber quem é o pai biológico dela se ele nem está do lado dela agora? - ela estava se alterando. Já sentia suas mãos tremerem. 'Por quê ele tinha que aparecer nessa festa? Ele não estava planejando o casamento com a tal dinamarquesa? Por quê não havia ficado lá com ela? Antes tivesse escutado meu coração e tivesse ficado em casa com Anabelle', ela pensou com amargura.

- Importa se o pai dela ignorasse por completo a existência da filha e por isso que ele não estava do lado dela! - ele aumentou o tom de voz e Gina agradeceu por estarem em um lado isolado do sítio.

- Não se ele tivesse renegado-a quando ela nem havia nascido! - ela retrucou, já muito nervosa. Olhou para cima, para o céu azul, como se pedisse aos deuses que alguém a acalmasse.

Ele respirou fundo várias vezes. Olhou para a filha e ficou fitando-a enquanto ela se divertia com o primo. Ela era realmente linda. Era muito branca e tinha os cabelos platinados, tal qual eram os dele. A única diferença encontrava-se nos olhos, que eram castanhos, assim como os da mãe e as poucas sardas que ela tinha no rosto. Ela era, incontestavelmente, filha de Virgínia Weasley e Draco Malfoy.

Ele voltou a olhar para Gina, que estava com os olhos marejados de água. Ele percebeu que ela estivera observando-o enquanto ele olhava para a filha.

- Eu não sabia que você estava grávida. Nem passou pela minha cabeça que você estivesse. - ele engoliu em seco. - Eu posso ter feito o diabo com você, Virgínia, mas eu nunca abandonaria um filho.

- Mas abandonou...

- Eu não sabia! Quantos milhões de vezes eu vou ter que repetir isso? Ou você não entende mais o que eu digo? - ele se alterou, levando a mão à nuca, como que se tentasse se acalmar. - Eu quero fazer parte da vida dela agora. Ela é a minha filha e eu tenho que ser um pai para ela.

- Não fale como se isso fosse uma obrigação. Ela viveu muito bem até agora sem você. Ela não precisa de você. - ela disse com maldade, querendo feri-lo a todo custo.

- Querendo você ou não, essa é a minha obrigação e eu vou cumpri-la. Você não pode me negar isso.

Ela olhou para ele com fúria e, pela primeira vez, o encarou de verdade.

- Como não posso te negar isso? Anabelle é minha filha! Eu que a criei! Depois que passou toda a fase difícil, você aparece aqui, todo pomposo e vem dizer que vai ficar com a minha filha? Você tem noção do que eu passei, Malfoy? TEM? - ela gritou e viu quando Hermione olhou pra ela. Acalmou-se um pouco e abaixou o tom de voz. - Eu tive uma gravidez muito difícil. Por sua culpa, eu entrei em depressão profunda e por pouco eu não a perdi. Não queria comer, não queria viver. Mas, mesmo assim, eu consegui ter a Anabelle. E depois... Tudo o que eu queria era alguém ao meu lado. Não que eu não tivesse ninguém... Não... Meus pais, meus irmãos, Hermione, Harry, me ajudaram muito. - Draco bufou involuntariamente ao ouvir o nome do Potter. - Mas mesmo assim, eu queria alguém ao meu lado, que segurasse a minha mão quando eu fosse dormir, que me apoiasse nos momentos mais difíceis, quando eu pensava seriamente em desistir... Mas isso você não me deu. E eu nem pediria tanto... Eu queria um pai pra minha filha. E você também não deu isso a ela, também. E como agora você se acha no direito de reivindicar algo?

Quando ela parou de falar, as lágrimas já rolavam pelo rosto dela. Gina achava-se incapaz de chorar mais do que já tinha chorado por esse assunto, mas viu que estava errada. A volta de Draco fez com que a ferida, que ela achava que já estava cicatrizada, voltasse a abrir. Tinha muito que ela queria dizer a ele, muitas coisas entaladas na garganta dela. Mas ainda não era a hora. Ainda não tinha forças para tanto.

- Eu... Eu imagino pelo que você deve ter passado. Por isso que eu quero dar o meu nome a ela, quero cuidar dela...Não quero cometer o mesmo erro com ela... Dê o direito da sua filha ter um pai, Virgínia.

Ela respirou fundo. Ele vendo que estava obtendo avanços, continuou:

- Imagine daqui a alguns anos, quando ela já entender mais das coisas... Ela vai perguntar pelo pai dela e o que você irá dizer? Que eu estou morto? Não, você pode poupar isso. Basta permitir.

Nesse momento, Elle veio correndo, sorrindo e correu pra trás da mãe. Joey veio logo atrás.

- Elle! Eu não gosto que você brinque de correr! - Gina ralhou. - Pare de correr, Joey!

- Desculpe, mamãe. - Elle abaixou a cabeça, mas ainda sorria pro primo. Joey voltou pra perto da sua mãe, Hermione.

Gina olhou apreensiva para Draco quando viu que ele sorria pra menina. Anabelle deu um sorriso maroto pra ele, escondendo-se atrás das pernas da mãe. Parecia ter esquecido completamente que havia se assustado com ele momentos antes.

Ela viu quando Draco, com um sorriso, se esticou para o lado onde a menina estava, e Elle, com uma gargalhada, se escondeu pro outro lado.

Ele estava brincando com ela!

Gina não conseguiu impedir que algumas lágrimas caíssem por mais patético que aquilo pudesse parecer. Sempre quando brincava com a filha, imaginava como deveria ser Draco Malfoy sendo pai. Ela o via sendo um pai desajeitado, fazendo as coisas tudo ao seu modo, e agora, via que ela não estava tão errada. Mesmo que aquela 'brincadeira' fosse um tanto normal, Draco parecia desconfortável, mas mantinha-se sorrindo, fazendo Elle gargalhar atrás dela.

Do nada, ele parou de 'perseguir' a menina e olhou para Gina, ainda sorrindo. E, dessa vez, ela não desviou o olhar.

Sentiu novamente a tão característica contração no estômago que ela costumava sentir quando olhava pra ele. Sim, ela ainda o amava. Amava muito. E agora ela se dava conta da força desse amor. Nem três anos separados e toda a dor que ela havia sentido serviu para que aquela chama se extinguisse. Como aquele olhar tinha a capacidade de fazer com que ela esquecesse toda a raiva que sentia dele e fazia com que ela quisesse correr para os braços dele? Ela iria enlouquecer se continuasse a olhá-lo deste modo. Travava uma guerra entre a sua mente e o seu coração. Enquanto o racional mandava que ela desviasse o olhar e ficasse o mais longe possível dele, o emocional dizia que se ela mantivesse o olhar, ele a abraçaria e eles ficariam juntos novamente. Estava perdida.

Draco olhou pra ela meio que sem querer, mas não conseguiu desviar o olhar. Agora reparava mais na mulher que estava à sua frente. Ela estava diferente e ele não sabia dizer ao certo o que havia mudado. Ela estava mais bonita, seu rosto mais sereno, mesmo que agora estivesse marcado por lágrimas. Mas mesmo assim, ele encontrava os traços daquela mulher que o havia ensinado tanto. Que havia feito com que ele mudasse vários de seus conceitos. Que havia mostrado a ele que ele era capaz de amar. Ele a amou muito. E hoje, continuava a amar, embora negasse para si mesmo a existência desse sentimento. Vê-la nos braços do seu maior inimigo nos tempos de escola e de seu eterno desafeto havia machucado-o como nunca havia acontecido antes. Ela tinha que ter feito aquilo com ele? Justamente naquele dia? E agora, ali estava ela, com a mão na cabeça da sua filha. 'Minha filha... Minha filha... Minha filha...', ele repetia isso, mentalmente, como se quisesse assimilar a informação que havia recebido a pouco. Ele era pai. Ele tinha uma filha. De agora por diante, não poderia pensar apenas em si, como sempre havia feito. Havia mais alguém, extremamente fraca e inocente, que precisava dele.

Gina desviou o olhar, para desgosto dele, e se virou para falar com sua filha.

- Elle, querida... Venha aqui que a mamãe quer te apresentar um amigo dela...

Draco arregalou os olhos. Ela havia, enfim, aceitado a sua proposta! Ela deixaria que ele cuidasse da filha deles! Na realidade, não entendia ao certo por quê insistia tanto em assumir aquela criança. Não que tivesse alguma dúvida quanto a paternidade, ela era incontestável. Mas porque não era da natureza dele se importar com o que era o correto a ser feito. Talvez fosse porque sempre quis ser pai. Não pai de uma criança qualquer, mas sim, pai do filho de Virgínia Weasley. Isso, ele queria quando eles ainda estavam juntos, só que, para sua surpresa, isso continuava tendo um imenso peso em sua vida.

- Vá cumprimentá-lo...- Gina completou.

A menina obedeceu a mãe e, sorrindo, foi até ele. Draco, por sua vez, se abaixou e, hesitando um pouco, deu um abraço na menina. Um abraço fraco, mas que em seguida se intensificou e ele levantou, com ela nos braços, fazendo-a sorrir.

- Qual seu nome? - ela perguntou, com sua voz fina, enquanto brincava com uma das orelhas dele.

- Draco... O seu é Anabelle, não é?

Ela concordou com a cabeça.

- Um nome muito bonito, Anabelle. Você tem quantos anos?

A menina tentou fazer um dois com as mãos. Depois de um tempo, com uma certa dificuldade e alguma ajuda do Draco, ela conseguiu.

- Três anos!?! - ele fingiu surpresa.- Mas já é uma mocinha! - ele a colocou no chão.

- Eu sou mocinha. - ela repetiu, ajeitando o vestido e correndo para o outro lado, porque seu primo havia acabado de chamá-la.

Draco e Gina sorriram ao mesmo tempo.

Mais um silêncio tomou conta entre eles. Draco abaixou a cabeça, pensando no que dizer, então, optou pelo mais sensato:

- Obrigado, Virgínia. - disse, e em seguida olhou para o lado, como se tivesse feito algo vergonhoso e não quisesse encará-la.

- Não precisa agradecer. Fiz o que a minha consciência mandou. Elle é sua filha e não posso privá-la do contato do pai pelo que você me fez no passado. Agindo desse modo com ela, eu estaria fazendo a mesma coisa que te culpo hoje: negligência, descaso. - ela suspirou. - No entanto, nossos problemas são apenas nossos, ele não pode afetar a nossa filha. - ela ruborizou profundamente ao dizer isso.

Ele, percebendo, não comentou nada. Apenas deu um sorrisinho satisfeito (e involuntário) para si mesmo.

- E... Como vai ficar a minha situação com ela? Você me apresentou como amigo...

- Você não queria que eu chegasse pra uma criança de dois anos, do nada, e dissesse 'Elle, querida, venha conhecer seu pai...' - ela debochou.

- Três anos, mas é lógico que não! Mas você tem pretensões de contar a ela... Não tem?

Ela ficou um tempo pensando. Olhava para filha, olhava para ele, ameaçava falar algo e não dizia nada. Ficou assim por uns instantes, deixando-o impaciente. Odiava quando ela hesitava em falar. Parecia que ela iria fazer exatamente o contrário do que ele queria que ela fizesse.

- Ahhhhh, Draco Malfoy... Se você ousar magoar a minha filha ou tentar fazer um terço do que você fez pra mim... Eu juro que eu mato você!- ela disse, com um tom raivoso, mas soando condescendente.

- Primeiro de tudo, Virgínia Weasley... - ele sabia que chamá-la pelo nome completo a irritava, e ele não conseguiu evitar o sorriso ao vê-la bufando. - Você aprontou muito mais comigo do que eu com você. Não se esqueça disso. - ela tentou retrucar, mas ele impediu. - Segundo, você nunca me mataria, porque você é nobre o suficiente pra isso. E por último... Eu nunca magoaria a nossa filha. - ele disse essa última frase, um pouco mais baixo do normal.

- Isso não faz parte da natureza dos Malfoys... - ela disse, olhando-o fixamente.

Ele deu um passo a frente, sem desviar o olhar.

- Eu nunca magôo aqueles que amo.

- Então você nunca me amou. - ela respondeu, com a voz firme.

Ele levantou a cabeça, olhando-a do alto. Depois, deu um sorriso sarcástico.

- Se você prefere pensar assim... Eu, simplesmente não posso fazer nada.

Gina interrompeu o olhar dado por ele e não disse nada. Draco, por sua vez, quebrou o silêncio.

- Bom... Está na hora de ir. Ainda não fui fazer o que eu tinha pra fazer aqui nessa festa. Alguns contatos... - ele explicou e Gina fez uma expressão como não se importasse.- Você pode chamar a Elle pra me despedir dela?

Sem respondê-lo, Gina chamou a menina, que veio prontamente.

- Dê um abraço no Draco, ele está indo embora...

- Tchau, tio Dlaco...

Draco deu um abraço forte e demorado na menina. Em seguida, olhou para Gina:

- Até mais, Virgínia. A gente se encontra em breve... - ele respondeu, saindo em seguida.

Gina respirou fundo e sentou-se na grama. 'A gente se encontra em breve', isso ecoava na sua cabeça. Antes, não queria encontrá-lo de modo algum, agora, não poderia mais fugir. O pior não era conviver com ele. O problema era resistir a ele. Sempre impecavelmente bonito, arrumado, perfumado. Com o olhar penetrante e o sorriso enviesado. Perfeito como sempre. Como será que ela sobreviveria a isso? Só o tempo poderia responder e, por enquanto, ela teria que conviver com a expectativa de encontrá-lo novamente.


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Notas da Autora:

Oh, céusssssssss! Como eu senti falta disso!!!! Tá, eu sei q eu prometi voltar a escrever fics bem rápido e sei que tem anos que Fenômeno acabou, mas a preguiça foi maior... Não faço idéia se vcs sentiram a minha falta mas mesmo assim eu digo: Desculpem ;;

Mas agora eu voltei com uma fic novinha em folha! Espero que vocês gostem!!!!!

Algumas considerações sobre a fic

Ao contrário do que pode parecer, Still Loving You não é centrada na Anabelle. Nos primeiros capítulos, ela vai aparecer bastante, mas a partir do meio da fic, começa a se desenvolver o D/G action, logo, ela terá a sua participação reduzida.

Ela ainda está sendo escrita, embora eu já tenha 2 capítulos prontos dela. E o seu enredo tbm ainda está sendo desenvolvido, mas espero que não haja nenhuma complicação com relação à postagem dos capítulos, até pq eu estou adiantada com a fic...

O nome da fic é baseado numa música homônima do Scorpions. Sugiro q vcs leiam..! É linda e muito D/G! Em alguma parte da fic, eu certamente

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