O Segredo de Gina



Harry, Rony, Hermione e Gina seguiram de imediato até o povoado de Hogsmeade, com intenção de aparatar o mais rápido possível, acompanhando o elfo Dobby, que balançava suas grandes orelhas enquanto corria a frente de todos. Pouco antes de aparatar, Harry sentiu o frasco onde continha a memória de Dumbledore em seu bolso, mas decidiu-se que pediria a penseira emprestada assim que pudesse, para conferir o que havia sido deixado para trás pelo ex-diretor.

-Vamos rápido senhores, pode ser que ele desapareça! –guinchou Dobby, quando se aproximaram das gigantes portas duplas da casa dos Potter. –Dobby o achou esta manhã, mas não o colocou para dentro de casa...

Ofegante, Harry segurou o ansioso elfo pelos minúsculos ombros, tentando conte-lo.

-Agradeceria Dobby, se você explicasse exatamente o que está acontecendo certo?

-O senhor Harry Potter deve confiar na palavra de Dobby, e já entenderá do que Dobby fala! –murmurou ele, os grandes olhos redondos faiscando. Convencido, Harry concordou com um gesto de cabeça, e seguiu o elfo casa adentro.

Atravessaram toda casa, em direção ao bosque nos fundos. Adentraram as grandes e nodosas arvores que lá se encontravam, e o ar tornou-se ligeiramente perfumado por ervas silvestres. Dobby continuou a correr, com todos em seu encalço, até que parou de chofre.

Indicou uma clareira no meio das arvores logo adiante, onde se pode enxergar um vulto distorcido, caído de uma forma estranha, e ligeiramente pequena.

Harry aproximou-se cautelosamente, a varinha em punho, a espera de inimigos. Mas não houve necessidade. Logo percebeu qual era aquele corpo. Monstro estava deitado de bruços, a pele enrugada descolada de seus ossos, as tripas estiradas para fora, e os olhos cinzentos e aguados vidrados no céu poente.

-O que... O que aconteceu? –perguntou Hermione horrorizada. Parecia à beira de lágrimas.

-Parece que foi mordido... Sangrou até a morte... –averiguou Rony, a ponta do pé cutucando o corpo inerte com curiosidade.

-Isso me lembra terrivelmente mordida de lobisomem... –falou Harry baixinho, pouco mais que um sussurro.

-Como você sabe que tipo de mordida é a de lobisomem? –fungou Hermione.

-Não sei, apenas vi isso... –respondeu Harry, e apontando para o chão, mostrando a marca de gigantescas patas na lama, por toda a área, até onde seus olhos podiam enxergar com clareza.

-É, isso definitivamente é lobisomem... –confirmou Gina baixinho. –Mas pensei que o Monstro tinha fugido... O que ele fazia na sua propriedade, Harry?

-É uma boa pergunta... –falou Harry, os olhos ainda fixos na imagem a sua frente. –Talvez ele estivesse nos espiando, você sabe... A mando de Bellatrix Lestrange.

-É provável... –comentou Rony. –Quem mais ele procuraria a não ser ela? Qual é, o cara idolatrava a mulher!

-E ela idolatra a Voldemort... Ah, para Rony! –reclamou Gina, ao perceber o tremor involuntário do irmão.

-Existem lobisomens por aqui? –perguntou Hermione de repente, com lágrimas escapando-lhe de seus olhos.

-Ah Hermione... –suspirou Rony, correndo para abraçá-la. –Ele nem sequer era um bom elfo... –ao invés de melhorar, o comentário de Rony só fez com que Hermione se debulhasse em lágrimas contínuas.

-Pois é Harry, existem lobisomens por aqui? –perguntou Gina, os olhos fixos na criatura a sua frente.

-Não sei, mas parece que sim não é mesmo? –respondeu ele, indicando o cadáver a sua frente. –Fico me perguntando se Fenrir Grayback não tem algo a ver com isso...

-Por quê? –perguntou Gina novamente.

-Não sei, mas me parece muito suspeito isso... Nunca ouvi lobisomens uivando para a lua nas noites de lua cheia aqui em casa... Como pode ter simplesmente aparecido um? –perguntou ele, a cabeça raciocinando o mais rápido possível. Sua expressão concentrada mudou repentinamente, e tornou-se ansiosa, ao perceber que Gina tornara-se mais branca que o normal, e fazia difusas caretas de dor e ânsia. –Gina, você está bem?

-Estou... Acho que só não me alimentei direito hoje e... –mas não terminou sua frase, virou-se rapidamente em uma moita e vomitou. Harry correu para ajudá-la, ao que Rony e Hermione corriam apressados para ver como ela estava. –É só uma ânsia, sério... Comi ovos hoje de manhã, devia ter... Como é que os trouxas chamam mesmo? Salmonela!

-É, isso é comum... –comentou Hermione, suspirando aliviada. Tinha parado de chorar, mas seus olhos haviam tornado-se vermelhos e inchados. –Mas de qualquer forma... Entre em casa, vou ver só um livro e vou preparar uma poção para você, vai se sentir melhor! Harry acompanhe-a até meu quarto certo? E Rony? –chamou ela. –Você vem comigo procurar as ervas?

Rony confirmou rapidamente com a cabeça, os olhos apreensivos.




-Meninos! Preciso falar com vocês... –chamou Hermione, dias depois, quando ambos estavam quase adormecidos diante da lareira da sala de estar, as cabeças pendendo ligeiramente sobre os grossos livros que Hermione os fizera ler. Eram complicados e cheios de mapas estrelares, e eram extremamente chatos, mas Hermione achava que poderiam vir a calhar alguma hora dessas.

-Hm? –murmurou Rony, o olhar sem foco e os cabelos ruivos despenteados.

-Preciso falar seriamente com vocês, está bem? –falou ela novamente, com um sorriso bastante satisfeito no rosto.

-O que é? –perguntou Harry rabugento, fechando imediatamente o livro mal-lido.

-Vocês lembram quando a Gina ficou doente semanas atrás, e eu cuidei dela? –perguntou ela, com um sorriso radiante.

-Claro... –respondeu Rony, sonolento. –Você preparou as poções muito bem Mione, parabéns, agora será que eu e Harry podamos voltar a dormir?

-Não! –respondeu ela secamente.

-Você quer que a gente lhe agradeça mais? –perguntou ele, ainda com a voz lenta e arrastada.

-Não!

-Então o que é?

-Bem, eu estava tentando explicar! –reclamou ela contrariada. –Bem, o fato é o seguinte: preparando aquelas poções, percebi que realmente gosto da medicina bruxa. É muito complexa, e há várias formas de tratar os pacientes, de uma forma totalmente diferente.

-Aonde quer chegar Mione? –perguntou Harry, que agora estava bem acordado. A conversa tornara-se esquisita.

-Bem é... Eu me candidatei como Curandeira no St. Mungus! –declarou ela, com um imenso sorriso estampado no rosto.

-E a procura pelos Horcruxes? –perguntou ele, terrivelmente desapontado.

-Não se preocupe... Eu vou pegar o turno das oito da manha até as três da tarde, o resto vou me dedicar! Você sabe que eu consigo... Sei que andaram produzindo mais vira-tempos, e já pedi para algumas pessoas me ajudarem a conseguir um... –respondeu ela, o sorriso intacto e inabalável.

-Certo Mione é o seguinte... –interrompeu Rony. –Eu sei que você é brilhante e tudo mais, mas você nem sequer cursou o último ano em Hogwarts, e não prestou N.I.E.M’s, como espera ser aceita em um hospital como o St. Mungus?

-Pensei a mesma coisa... –respondeu ela, com um sorriso triunfante. –Mas falei com o Profº. Slughorn, e ele tem vários contatos lá dentro, então me conseguiu uma entrevista imediata com a chefe de lá uma tal de Sarah Mc. Guire... Consegui o emprego!

-Nossa isso é muito bom! –respondeu Harry, muito alegre pela amiga.

-Meus parabéns, Mione! –parabenisou Rony.

Hermione ficou quieta por alguns minutos, mas depois concluiu.

-Mas não era isso que eu queria de fato falar para vocês... –continuou ela, os olhos hesitantes.

-O que era então? –perguntou Rony.

-Como não prestei os N.I.E.M’s, vou ter que cursar um estágio de dois meses da França, e depois terei de voltar para lá duas vezes por semana, por quase quatro anos... –respondeu ela, com um suspiro.

-Quê? –perguntou indignado Rony. –Você vai me deixar aqui dois meses inteiros?

-Eu não queria mesmo deixar vocês, meninos, mas esta oportunidade não aparece assim tão fácil... Abriram uma exceção para mim por causa das minhas notas nos N.O.M’s, e é a escola de medicina mais próxima da Inglaterra... E eu posso aparatar! –argumentou ela.

Com um olhar aterrorizante Rony levantou-se da poltrona, visivelmente transtornado, os punhos cerrados de forma agressora.

-Você está sendo tão egoísta, Mione! –falou, os olhos saltando de órbitas e ligeiramente trêmulo.

-Eu? Você não está escutando a si próprio? –retrucou ela exasperada.

Rony virou o rosto e subiu as escadarias, pulando dois degraus de cada vez. Hermione suspirou.

-Você não me disse uma vez que queria fazer algo que realmente valesse a pena? –perguntou Harry.

-Você acha que salvar vidas não vale? –perguntou ela em resposta. Harry riu. –Vou tentar falar com o Rony, não quero que a gente fique brigados por muito mais tempo.




No domingo seguinte, véspera da partida de Hermione para a França, os três reuniram-se para almoçarem na Toca. Os dias finais do outono chegavam com tudo, e o vento cortante e gélido queimava os rostos desprotegidos de quem andasse na rua. Aparataram afastados da Toca, mas puderam enxergá-la de imediato. Uma torta construção em meio à relva de montanha, com galinhas ciscando ao redor, e sebes não mais floridas no jardim.

-Ai! –exclamou de dor Hermione, quando já se aproximavam da porta de madeira da cozinha, onde haviam sido deixados vários pares de botas.

-Que foi? –perguntaram juntos Rony e Harry.

-Nada de mais... –respondeu ela, massageando o pé. –Um gnomo me mordeu!

-Eu não sabia que eles podiam fazer isso... –comentou Harry, espantado.

-Podem! –concordou sombriamente Rony. –E realmente não queira experimentar uma mordida, dói pra caramba...

Harry riu ao mesmo tempo em que Hermione lançava um feitiço silencioso no próprio pé. Bateram na porta, e puderam ouvir o costumeiro som de tachos e panelas se chocando na cozinha. A voz abafada da Sra. Weasley pode ser ouvida vindo de dentro, e segundos depois Gina apareceu na porta para recepcioná-los.

-Ela está bem nervosa hoje, está quebrando tudo... –cochichou Gina referindo-se a mãe, depois de cumprimentarem-se.

-Por quê? –perguntou Hermione, despido seu grosso casaco e colocando-o sobre os ombros de uma cadeira.

-Disse que faz tempo que não cozinha para uma família grande e está com medo de que nem todos gostem de sua comida... –comentou ela baixinho, enquanto entravam na cozinha.

-‘Dia Sra. Weasley! –cumprimentou Harry alegremente, enquanto Rony e Hermione a davam um grande abraço. Estava suada e com o rosto estranhamente vermelho, e mexia as panelas com dificuldade. Harry jamais imaginava que a Sra. Weasley teria problemas na cozinha.

-Então, quem vai almoçar aqui em casa hoje? –perguntou Rony, puxando uma cadeira para si e Hermione.

-Gui, Fleur, Carlinhos, Fred e Jorge, nós e papai... –respondeu Gina, contando nos dedos.

-Você quer ajuda Sra. Weasley? –perguntou Hermione, recusando a cadeira que o namorado oferecia.

-Ah, que bom que se ofereceu, Hermione. Pode cuidar da comida um instantinho só? Vou arrumar a mesa... –respondeu ela parecendo bastante aliviada, e tirando uma porção de pratos do armário, com um feitiço convocatório muito mal feito, que resultou na quebra de todos.

-Reparo! –ordenou harry, e os cacos de vidro uniram-se novamente, ao que ela murmurava obrigada. –A senhora está bem? –perguntou ele. Já havia visto a mulher usar feitiços convocatórios antes, e sempre os executara perfeitamente bem.

-Oh sim, é só um pouco de estresse, Harry... Querido... –completou ela, começando a por a mesa.

-Não quer que eu coloque a mesa, Sra. Weasley? Não sei cozinhar muito bem... –ofereceu Hermione.

-Não seja tola menina, são só alguns instantes! –respondeu ela.

-Certo... –cedeu Hermione, mexendo cuidadosamente o conteúdo dos panelões de ferro.

-Mamãe, lembra que eu lhe falei que a Hermione vai para França não é? –comentou Rony, casualmente. Pronto, pensou Harry, agora ela vai chorar.

-Claro, por quê? –perguntou, cruzando os braços na frente do peito.

-Bem... Eu imaginei que poderia ir com ela até no Natal, sabe, para dar um apoio, sabe... –comentou ele, hesitante.

-Claro, é uma idéia ótima! –comentou ela, despreocupada. Harry e os outros deixaram o queixo cair, boquiabertos. Imaginavam que choraria e dificultaria muitos as coisas. –E você volta quando, Hermione?

-Metade de Janeiro... –respondeu ela, ainda tomando conta da comida, e sem olhar diretamente para a mulher.

-Muito bom... –comentou a Sra. Weasley baixinho.




Após o almoço onde todos comeram muito bem, riram e contaram as novidades, Harry deitou-se na grama do jardim respirando o ar fresco. Os dedos da mão congelados, mas preferia ficar longe de Hermione e Rony nesses dias. Gina aproximou-se quando todos estavam dentro da casa, e o beijou na testa carinhosamente.

-Eu te amo! –falou baixinho e docemente.

Harry a encarou com seus profundos olhos verdes, o rosto brilhando estranhamente, refletindo a felicidade interior que sentia por estar junto a ela.

-Eu também te amo Gina, mais que tudo... –respondeu, beijando a garota nos lábios. Passou a mão despreocupadamente em suas coxas, e subiu carinhosamente aos seios. Gina suspirou, mas logo o empurrou de volta.

-Harry, nós não podemos fazer isso! –falou com a voz baixinha e mortificante.

-Por que não? Você não gosta? –perguntou, meio rindo, meio sério.

-Não, é claro que eu gosto... –respondeu ela atordoada. –Mas não podemos fazer isso...

-Por quê? –perguntou ele risonho, abraçando Gina carinhosamente.

Esta demorou alguns instantes até responder, e quando o fez, sua voz era baixa e não mais tão confiante.Os olhos castanhos estavam baixos e no rosto tinha uma expressão de medo mesclada a felicidade.

-Harry, você vai ser papai...

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