Alberfoth Dumbledore
Harry repuxou as vestes mais para próximo de si, para evitar que as cortantes e gélidas lufadas de vento o deixassem congelado. Abraçou com mais força Gina, que caminhava ao seu lado. Ela o olhou, e Harry, com uma pequena pontada de alegria, sorriu.
Olho Tonto mancava a sua frente, o olho azul elétrico contorcendo-se violentamente em seu crânio, a procura de inimigos ocultos pelas sombras da noite que caíra. Rony e Hermione finalizavam a marcha, logo após Harry, ambos abraçados, e com o olhar curioso.
O retrato de Dumbledore os havia mandado para Hogsmeade, em uma caçada noturna a seu irmão, Alberfoth, o barman de um pub local de Hogsmeade, o Cabeça de Javali. Disse que suas poucas lembranças não poderiam ajudar, mas que havia deixado um recado valioso ao seu irmão, pouco antes de sua morte. Moody, que estava a serviço da Ordem em Hogwarts, resolveu acompanha-los, para uma possível eventualidade.
Suas vestes esvoaçavam quando se aproximaram da estalagem. Rangia acima de suas cabeças um enorme letreiro de madeira, com uma cabeça ensangüentada envolta de um pano branco, pendurada por correntes enferrujadas. Harry estivera ali, apenas uma vez, em seu quinto ano, quando ele e alguns colegas se reuniram para tomarem aulas e Defesa contra Artes das Trevas.
Rabugento, Moody empurrou a porta de madeira, apresentando um aposento pouco iluminado. As poucas janelas possuíam uma espessa camada de poeira, fazendo com que a luz dos lampiões da rua se tornasse difusa, e quase dispensável. Havia alguns tocos de velas, que ainda que precariamente, estavam acesas. Um ou outro andarilho estava sentado em uma mesa, bebericando silenciosamente suas bebidas, envoltos por capas escuras que lhe encobriam os rostos.
No fundo do pub, atrás de um balcão de bar feito em madeira, encontrava-se o barman, esfregando copos com um imundo trapo. Harry o reconheceu, havia o atendido na única vez que pisara no pub, e apesar de rabugento, Harry havia percebido sua semelhança para com seu irmão, Alvo Dumbledore.
-Vamos! –resmungou a voz de Moody a sua frente, ao que se pôs a andar, e a produzir um agourento som de madeira batendo-se com madeira.
Todos o seguiram calados, ainda observando o estranho bar. Havia dois sujeitos, de aparência irlandesa jogando cartas trouxas em uma mesa escura, e lhe lançaram estranhos olhares, ao que passaram.
-O que querem? –resmungou rabugento, Alberfoth. Parecia mais velho e mais rabugento do que da ultima vez que Harry o vira, e espessos pelos brancos agora saiam por suas orelhas. A barba e o cabelo prateado lembravam terrivelmente a seu irmão, porém seus olhos claros não transmitiam a sensação de paz que os de seu irmão, mas sim uma tenebrosa raiva.
-Viemos falar com você, homem, queremos uma sala reservada para nós... –resmungou em resposta Moody, que continuava a espiar com seu olho mágico através da própria nuca.
-O que querem comigo? Estou ocupado! -argumentou o outro, com um tom irritado na voz.
-Esfregando copos empoeirados? -perguntou Moody, sarcástico, erguendo uma sobrancelha inquisitoriamente. -Cale a boca e vamos logo, ou verá como ficarei ocupado! -ameaçou ele com a varinha em direção ao peito do velho homem, que imediatamente fechou a cara e virou-se, tornando a esfregar os copos empoeirados.
-Fazia anos que não pisava em meu bar, velho Olho-Tonto, o que o traria novamente aqui, acompanhado por crianças? -perguntou ele sibilante, provocando sem juízo o bruxo a sua frente.
-Eu faço as perguntas por aqui, Alberfoth, se atenha a respondê-las, sim? -resmungou Moody, coçando o nariz cheio de cicatrizes.
-Viemos por ordem de Alvo Dumbledore! -interrompeu Harry, antes que o barman pudesse responder. Este se calou imediatamente, e uma mescla de horror e de riso se passou por seu rosto velho e abatido.
-Andam obedecendo a ordens malucas do retrato de meu irmão, eh? -perguntou ele desdenhosamente.
-Confiamos em Dumbledore, e iremos segui-lo até que achemos necessário... -respondeu Harry, apertando a varinha em seu bolso.
-Alvo não passou de mais um velho senil que você, jovem Potter, conheceu... -resmungou ele, ainda encarando Harry com os assustadores olhos azuis.
Antes de dar por si, Harry já havia pegado o homem pelo colarinho e o feito ofegar, apontando a ponta da varinha diretamente a garganta do homem, que imediatamente soltou uma risada debochada.
-Vai me matar aqui, é Potter? Na frente dos meus clientes? -Ele passou a mão na barba prateada e suspirou. Harry o largou novamente ao chão. -Alvo tinha razão ao me falar sobre você...
-Que quer dizer? -perguntou Harry.
-Nada que um jovem de dezoito anos apenas deva saber... -resmungou o velho de volta acariciando o próprio pescoço.
-Você não poderia fazer a gentileza de encontrar um quarto desocupado onde possamos conversar tranquilamente sem a presença... Deles? –perguntou Moody, olhando significativamente para os vultos que bebiam ao seu redor.
Alberfoth o observou longamente, os olhos azuis percorrendo os rostos de cada um daquele grupo, a espera que algum fosse explodir, por fim suspirou.
-Vão pagar? –perguntou ranzinza.
-Ora essa, queremos falar com você por alguns minutos velho patife! –resmungou Moody.
-Tudo bem... –acalmou-o Harry, tirando uma pequena sacola de couro do bolso e oferecendo o ouro a Alberfoth.
O velho pegou a sacola estendida por Harry com as mãos enrugadas e de dedos muito finos e compridos. Mordeu um galeão que lá se encontrava, e constatando de que era verdadeiro, os conduziu por um longo corredor de assoalho escuro, as paredes forradas por painéis de madeira escura, com uma porção de velas, praticamente todas derretidas, sobrevoando suas cabeças.
Alberfoth abriu uma pequena porta simples e estendeu a mão, indicando que os outros deveriam entrar. Com um aceno na varinha, Moody fez fogo na lareira de pedra engastada, e indicou uma poltrona mofada em um canto escuro.
-Sente-se ali! –resmungou para Alberfoth, que imediatamente reclamou.
-Calúnia! Sento-me onde bem quiser, afinal estou fazendo um favor a vocês e ao velho maluco de meu irmão! –falou ele em cólera, seus incrivelmente assustadores olhos azuis saltando em órbitas.
-Está bem, professor... –falou Harry, percebendo que Moody já brandira a própria varinha. –O deixe como quiser, vamos apenas trancar portas e janelas...
Com um aceno na varinha, Hermione, que permanecera calada até então, trancou toda e qualquer saída por onde o velho pudesse escapar.
-Estás bem, o que querem de mim? –perguntou irritado Alberfoth, cruzando os braços magros por de cima do peito arfante.
-Queremos o que Dumbledore deixou para mim! –falou Harry em um tom ameno, evitando demonstrar sua apreensão.
-De que está falando, menino maluco? –perguntou ele, encarando Harry como se não soubesse de nada.
-Sei que Dumbledore me deixou algo, um recado, um objeto, alguma coisa, não tente mentir... –falou Harry, a ansiedade transbordando.
-A cicatriz que Você-sabe-quem deixou em sua testa deve ter prejudicado seu cérebro, não é mesmo, Potter? –debochou Alberfoth, ao que imediatamente lançou um grito de dor. Estava sem sua varinha em posição, que Moody havia o atingido nas costas com um feitiço não-verbal.
Hermione gritou, e Harry correu em direção a Moody para impedi-lo de continuar lançando a maldição.
-Pare! –ordenou Harry. –Ele está velho, pode ser que não sobreviva a uma maldição como a cruciatos!
-Como sabe qual maldição estou usando, Potter? –resmungou Moody, os dois olhos o observando.
-Voldemort já a lançou em mim, lembra? Não é nem um pouco agradável!
Moody riu.
-Está bem, Potter, faça do seu jeito, mas se este velho rabugento não colaborar, prometo que irei terminar com a raça dele! –resmungou Moody, sentando-se na grande cama a sua frente.
Harry foi à frente, e sentou-se ao lado do atordoado Alberfoth e coçava a cabeça continuamente.
-Escute, Dumbledore nos avisou que você poderia ser difícil, por isso vim preparado, entenda bem... –falou Harry, tirando um frasquinho pequeno do bolso interno das vestes. –Veja isto... –mostrou o líquido transparente contido ali. –Você reconhece esta poção?
-Certamente que sim, já a usei uma porção de vezes... –resmungou ele.
-Certo então você provavelmente não quer tomar Veritasserum, não é mesmo? Ou todos seus segredos vão ser jogados ao vento, e nós saberemos tudo, até mesmo o que não precisaríamos ouvir, não é mesmo? –perguntou Harry, feliz ao perceber o rosto de Alberfoth se contrair. Conseguira o que viera buscar.
-Está bem, Alvo deixou algo aos seus pirralhos alguns meses antes de morrer... Uma carta, não sei de que se trata, não a li... –falou ele.
-Onde está? –perguntou Moody, a varinha ainda apontada para Alberfoth.
-Em meu quarto... –respondeu ele rabugento. –Mas não permitirei a vocês entrarem em meus aposentos sozinhos! Irei junto...
-Está bem... –suspirou Harry, colocando a varinha apontada em direção ao bruxo a sua frente. –Eu vou com você...
-Eu também Potter... Nunca é demais! –resmungou Moody, se pondo de pé, a perna de madeira ecoando a cada passo.
Deixaram Hermione, Gina e Rony ainda no quarto, e seguiram pelo mesmo corredor escuro de antes, em direção a uma segunda porta simples, apenas de que esta, não possuía nenhuma maçaneta pela qual pudessem entrar. Alberfoth foi a frente, e acariciou a porta com os longos dedos, ao qual ela abriu-se imediatamente, permitindo que os três bruxos passassem.
-Expelliarmus! –Harry ouviu a voz de Alberfoth gritar em direção a sua varinha estendida, e em um átimo de segundo Harry revidou, gritando “Impedimenta!”, ao que a varinha de Alberfoth voou longe do alcance de suas mãos.
-Está maluco? Só queremos a carta de Dumbledore, não queremos lhe machucar! –falou Harry em cólera. –Accio carta de Dumbledore!
Da escrivaninha escura a sua frente, voaram no mínimo vinte cartas amareladas pelo tempo diretamente na mão estendida do rapaz. Harry procurou rapidamente a qual era endereçada para ele, enquanto Olho Tonto mantinha os olhos sob o velho, que havia se encolhido em sua cama.
Achou-a quase que imediatamente, era pequena, porém, selada com o emblema de Hogwarts, e Harry a enfiou no bolso da capa negra.
-Vamos! –ordenou Moody. Harry o obedeceu, e ambos deixaram Alberfoth, para juntar-se aos outros na noite fria de outubro.
Uma fina garoa caiu quando estavam no caminho de pedras tortas que levava todos de volta a confortável Hogwarts.
Sentados confortáveis no escritório da diretora Mc. Gonagall, Harry abriu a carta endereçada para ele, com a fina caligrafia de Dumbledore e a leu em voz alta:
Prezado Harry,
Imagino que se estiver lendo esta carta, o mundo bruxo está em época de trevas. Apenas peço Harry, que siga as instruções das memórias que deixei no retrato que farão para mim, e procure por todo o lugar até nos cantos mais escuros!
Atenciosamente,
Alvo Dumbledore.
Descansou a carta sobre a escrivaninha da diretora, que o observava pensativamente por de trás dos oclinhos quadrados. Ela passou as mãos nos cabelos presos severamente em um coque apertado, e suspirou.
-Parecia que ele sabia que ia morrer, não acham? –comentou Hermione em voz baixa. –Quer dizer, esta carta é muito estranha!
-Sim, também pensei nisso, srta. Granger... –respondeu a diretora. –Mas Dumbledore foi um bruxo maravilhoso, tenho certeza de que devemos confiar no que escreveu sem questionar os seus porquês...
Harry concordou com a cabeça, enquanto Rony soltava um muxoxo indistinguível.
-Que lembrança ele pode estar referindo-se? –perguntou alto.
-Vejo que você Harry, ainda não presta atenção nas coisas que lhe digo... –respondeu uma voz serena vinda da parede.
Harry e os outros imediatamente viraram-se para o local de onde surgira a voz. Lá estava o retrato de Dumbledore, a terrível e fraca imitação do que aquele bruxo havia sido em vida. Empertigado em sua moldura de ouro, a barba e os cabelos prateados, os óculos de meia-lua posto em seu nariz torto. O sorriso benevolente, e os olhos azuis a faiscar.
-Que quer dizer com isso, Alvo? –perguntou Mc. Gonagall, adiantando-se.
-Creio que todos vocês, exceto a jovem srta. Weasley lembram-se de quando os instruí para que procurassem a Sala Precisa, a fim de achar um local para se guardar memórias, não é mesmo? –perguntou ele, enquanto coçava despreocupadamente o nariz curvo.
Harry raciocinou alguns instantes.
-Sim, foi quando vimos sobre a mãe de Harry, não é mesmo? –adiantou-se Rony, ao que Harry fechou a boca.
-Exatamente, mas vocês não esqueceram de algo não? –perguntou Dumbledore com um sorriso nos lábios, que agora acariciava a longa barba.
-Não que eu saiba... Não vimos nada... –respondeu Harry.
Dumbledore suspirou, parecendo abatido.
-Quando você vai entender Harry, que nem tudo que existe a gente pode enxergar?
Harry, acompanhado por Gina, Rony, e Mione caminhou três vezes na frente da tapeçaria de Baranabás do sétimo andar, focalizando toda sua atenção à sala de Dumbledore. Depois das três voltas completas, como de costume, uma porta de aspecto simples materializou-se na parede lisa de pedra. Harry esticou a mão que tremia até a maçaneta de latão e abriu a porta, encontrando-se num aposento de muitas estantes.
Hermione foi a primeira a localizar o local onde estavam as lembranças de Dumbledore, que parecia a principio vazia. Mas com um exame mais detalhado do local, ela encontrou ao fundo da estante, uma garrafinha empoeirada, com os dizeres, “Dumbledore e Snape”.
-Harry, olha aqui! Achei! –chamou ela, ao que Harry correu para pega-la em suas mãos. Olhou para o rótulo e sentiu um nojo crescer dentro de si, por ver aquele nome. Havia dois anos que não via o antigo professor de poções, mas ainda assim a raiva borbulhava em suas entranhas.
-Vamos! –chamou ele. –Vamos para o escritório da diretora, vamos abrir a memória!
-Encontramos! –anunciou Harry ao chegarem na porta lustrosa, com uma maçaneta em forma de grifo. Minerva Mc. Gonagall soltou um suspiro de alívio e imediatamente abriu uma porta de um armário a sua frente, e de lá tirou uma bacia rasa de pedra, com runas antigas incrustadas. Harry reconheceu de imediato a penseira antiga de Dumbledore.
-Coloque logo aí, vamos ver o que é! –gemeu Gina, ansiosa, segurando o braço de Harry. Este desenrrolhou rapidamente a garrafinha, mas quando estava prestes a derramar seu conteúdo prateado na penseira um estalo o interrompeu, denunciando a chegada de alguém na porta. Harry repôs a rolha na garrafa, no mesmo momento que a Profª. Minerva abria a porta para receber quem fosse.
Harry espantou-se ao ver que quem estava lá era ninguém mais, ninguém menos de que Dobby, que repuxava seus calções, de modo que lhe subiam quase até o peito nu, exceto pela gravata borboleta que hoje vestia.
-Dobby sente muito em interromper... –falou ele baixinho, com as orelhas murchas e baixas, e os olhos de bolas de tênis com um ar culpado. –Mas o senhor Harry Potter deve retornar imediatamente para casa, porque Dobby encontrou de seu interesse!
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