Madame Lancret
Parecia que o ar havia sido sugado de uma forma inesperadamente rápida de seus pulmões. Sua visão tornou-se difusa, não permitindo que visse o rosto perturbado da garota de cabelos ruivos a sua frente.
-Como é que é? –perguntou, ainda incrédulo Harry, a cabeça relutante em aceitar a novidade.
-É isso que você ouviu Harry! Estou grávida... –respondeu Gina, com os olhos fixos na grama congelada em seus pés.
Num gesto pouco pensado, Harry apertou a garota em seus braços, sua cabeça fervilhando de pensamentos, e o peso de suas ações em seus ombros.
-Quem mais sabe? –perguntou Harry, após alguns minutos de total silencio, exceto pelo canto distante dos passarinhos.
-Só contei a Hermione e a mamãe... –respondeu ela.
-Como sua mãe reagiu? –perguntou Harry, agora olhando fixamente para a garota, as mãos fortes apertando seus ombros esguios.
-Inesperadamente bem... Disse que vai arranjar uma boa baba, você sabe... –respondeu ela, num meio sorriso.
-Você vai morar lá em casa Gina, não vou lhe deixar faltar nada! –falou Harry sério. –Nem para você, nem para o babe! –completou, passando a mão cuidadosamente sobre o ventre da namorada.
Gina sorriu, e apertou a mão de Harry, os olhos tornando-se então mais confiantes.
-Estou assustada... –comentou, uma pequena lágrima escorrendo por sua bochecha rosada do frio intenso.
-Eu também... –respondeu Harry, a apertando mais forte ainda contra seu corpo, lágrimas inundando seus olhos. –Também estou temeroso... Se Voldemort vier a descobrir que você espera um filho meu, não gosto nem de pensar no que pode acontecer... Jamais me perdoaria se algo acontecesse a vocês, Gina.
-Não vai! –respondeu ela calmamente, passando a mão no rosto do rapaz. –Você é Harry Potter, e vai nos proteger, tenho certeza disso. Você sempre se deu bem...
-Não havia outras coisas em risco além da minha própria vida, e além do mais, a maioria foi um golpe de sorte... –retrucou ele, com a voz pesarosa e preocupada.
-Houve a minha, anos atrás, e você me salvou... –falou baixinho Gina. –Nós vamos nos sair bem, Harry, e essa é uma promessa, não deixaremos nada acontecer a esta criança.
-Não, não deixaremos! –respondeu Harry, abraçando Gina e engolfando-a em um estado entorpecente de carinho, amor e compreensão.
O senhor Weasley passou preocupadamente a mão por sobre a testa já enrugada. Os cabelos ruivos e ralos acentuavam a preocupação vista em seus olhos, outrora alegres e amigáveis.
-O que pretendem fazer? –perguntou ele de repente, sentando-se em uma poltrona na sala de estar.
-Gina vai morar comigo, Sr. Weasley, isto é, se você permitir... –respondeu Harry, apoiado no console da lareira.
-Não posso permitir nada, Gina já é maior de idade e você também, devem fazer o que acham que é certo... –respondeu ele numa voz cansada.
-Sua opinião seria valiosa...
-Quer um conselho Harry? –perguntou o Sr. Weasley, sorrindo cansado.
-Quanto mais, melhor... –respondeu ele, num meio sorriso.
-Meu neto não pode ter pais solteiros... –respondeu ele, levantando-se da poltrona e servindo dois copos de uísque de fogo. –Aconselho os dois jovens a casarem o mais rápido possível... –comentou, oferecendo a Harry um dos copos, enquanto tomava um gole do próprio.
Harry raciocinou por algum tempo, a boca e a garganta ardendo por conta do líquido que acabara de ingerir.
-Acho uma boa idéia... –respondeu Harry com dificuldade. –Quanto mais cedo melhor...
-Muito bem, meu rapaz, Molly ficará encantada de cuidar de tudo... –falou ele, dando tapas amigáveis nas costas de Harry. –Particularmente fico feliz que tenha sido com você, Harry. Suas decisões foram imprudentes, pode acreditar, e irão pesar em breve sobre suas costas, mas saiba que minha casa estará sempre aberta para vocês...
O aposento era escuro e empoeirado, e Harry jamais estivera ali. Havia tocos de velas, e sua chama bruxuleava, produzindo sombras distorcidas na parede. Um homem de estatura baixa, e bastante corpulento havia se ajoelhado diante de seus pés.
Ergueu o rosto em feitio de rato, e fungou.
-Fez um bom trabalho, até agora, Rabicho... –falou Harry. Mas sua voz não a sua própria. Era uma voz cortante e fria, uma voz que há anos Harry não escutava. –Mas não vou permitir deslizes...
-Não senhor, milorde... –respondeu assustado o homem a seus pés, gotas de suor escorrendo por sua testa, e os olhos lacrimejados a implorar por piedade.
-Agora vá, e retorne ao seu posto... –falou Harry novamente, a mesma voz fria saindo de sua boca.. –Só retorne novamente quando houver mais novidades. Cuidarei do seu... Assunto...
-Sim milorde, com licença... –despediu-se Rabicho, parando a porta do aposento e fazendo uma exagerada reverência, que fez com que quase beijasse o chão ao seus pés.
Harry levantou-se majestosamente da cadeira de espaldar alto na qual estivera sentado. Caminhou pelo aposento e enxergou as silhuetas difusas ao seu redor.
-Onde esta Severo? –perguntou com a voz fria, a raiva apossando-se de seu corpo.
Harry acordou de um sobressalto, a cicatriz em sua testa doendo de forma que parecia que seu crânio iria rachar. Passou a mão sobre a testa que formigava, e percebeu que seu pijama grudava em certas partes de seu corpo, devido a grande transpiração.
-Harry, o que foi? –perguntou espantada Gina, que estava dormindo ao seu lado na cama. –Você estava gritando...
-Eu tive mais um daqueles sonhos... –respondeu ele, acariciando a cicatriz.
-Com Voldemort? –perguntou ela preocupada.
-Sim, e eu novamente era ele... –respondeu Harry, correndo para o banheiro. Encheu a cuba da pia de água e molhou o rosto. Pelo espelho pode enxergar a expressão horrorizada estampada no rosto de Gina.
-O que houve no sonho? –perguntou ela, o abraçando, tentando acalma-lo.
-Nada que pudesse ser útil... Rabicho parece estar em algum serviço sujo para Voldemort, e trouxe alguma informação para que ele resolva algo...
Gina o olhou preocupada.
-Não sei o que dizer... –falou.
-Não diga nada, vamos dormir novamente... –respondeu Harry cansado, passando a mão carinhosamente na barriga da garota. Hermione e Rony já haviam partido para a França, e a casa em Godric’s Hollow era só deles.
-Claro... –respondeu ela. –Mas temos correspondência... –comentou, apontando para a janela sobre a grande cama. Lá havia uma coruja cinza de olhos amarelos, com uma carta no bico.
Harry correu até lá, e deixou a passagem livre para que a ave pudesse entrar no quarto. Com um aceno na varinha, Gina acendeu as velas do aposento, e Harry recolheu a carta, enviada a ele e Gina.
-É de Rony e Hermione... –comentou, entregando a carta para Gina.
-“Queridos Harry e Gina!” - leu ela. –“A França é maravilhosa, e Hermione está adorando a escola de medicina. No Natal voltamos para seu casamento, nos aguardem. Mas temos uma surpresa para vocês... Encontramos em um café local uma governanta que parece ser muito competente, e dissemos para ela passar por ai esta manha. Achamos que poderia ser útil para o bebe. Esperamos sinceramente que gostem. Com amor, Rony e Hermione.”.
-Isso é ótimo! –comentou Harry. –Tia Petúnia sempre disse que as francesas são as melhores babas que existem em toda Europa!
-Vai acreditar nas coisas que sua horrível tia lhe dizia? –riu Gina.
-Achei que fosse uma boa idéia... –defendeu-se Harry.
-É maravilhosa sim! Tenho certeza de que mamãe adorará a idéia!
-É... Esta bem então, vamos voltar a dormir agora... Acordamos amanha e conversamos com esta mulher, pode ser que venha a ser útil, não é mesmo? –falou Harry, encostando preguiçosamente a cabeça nos travesseiros. Abraçou protetoramente Gina e ambos adormeceram, esquecendo-se momentaneamente dos perigos que o rodeavam, envoltos pela penumbra das trevas.
-Bom dia, creio que o senhor seja o senhor Potter, estou certa? –cumprimentou Harry horas depois uma mulher alta e de aparência aristocrática, parada a soleira da grande casa. Carregava atrás de si um grande baú, algumas plantas e aquários. –Sou a senhora Lancret, creio que seus amigos lhe deixaram a par de minha situação...
-Er... Bom dia! Sim, sou Harry Potter, muito prazer em conhece-la... –cumprimentou Harry, estendendo-lhe a mão e indicando a sala de estar. A mulher seguiu seu gesto, e sentou-se elegantemente em uma poltrona aveludada. Examinou o local com grande interesse.
-Imagino que sua esposa venha juntar-se a nós, não é mesmo? –perguntou após instantes, quando nenhum dos dois ousara falar algo, e o silêncio havia tornado-se incômodo.
-Oh sim, mas de fato, Gina ainda não é minha esposa, vamos casar próximo do natal... –explicou Harry, um pouco constrangido ao ser examinado pelo olhar da senhora. –A senhora aceita chá?
-Sim, obrigada Sr. Potter... –aceitou ela.
-Pode me chamar de Harry... –falou ele.
-Prefiro chamá-lo de Sr. Potter se não se importar. –respondeu ela num tom seco, lembrando a Harry sua antiga professora de Transfiguração, Minerva Mc. Gonagall, atual diretora de Hogwarts. –mas conte-me, Sr. Potter, como a srta. Weasley espera um filho seu se não são casados?
Harry espantou-se com a pergunta, e estava a ponto de dar-lhe uma resposta bastante calorosa quando Gina e Dobby entraram sorrateiramente na sala.
-Bom dia! –cumprimentou Gina, estendendo a mão educadamente para a mulher. –Sou Gina Weasley...
-Bom dia, meu nome é Gertrude de Lancret... Mas as antigas famílias a quem servi me chamavam de Madame Lancret.
-Dobby veio servir, Sr. Potter... –chamou uma vozinha aos joelhos de Harry. O elfo doméstico aguardava ansioso por ordens, e repuxava seus shorts, sob o olhar desaprovador de Madame Lancret.
-Obrigada Dobby, Madame Lancret vai querer chá, eu quero um hidromel e Gina, o que você quer?
-Água! Ela tem de beber água! –interrompeu a mulher, ao que Dobby virou-se devagar para encará-la com seus gigantes olhos verdes.
-Por que água? –pediu uma Gina bastante petulante, cruzando os braços displicentemente.
-A senhorita está grávida, então é o mais saudável para o bebê... –respondeu displicente Madame Lancret, acenando uma varinha bastante torta e conjurando um copo contendo água pura e cristalina.
Contrariada, Gina agradeceu pelo copo. Dobby retirou-se do aposento, mas quase que imediatamente reapareceu, carregando uma opressiva bandeja de prata.
Madame Lancret aceitou seu chá, e enquanto o bebericava de maneira exuberante, Harry a observava por de cima da borda de seu copo cheio de hidromel. A mulher prendia os espessos cabelos grisalhos em um coque firme no topo da cabeça, seus olhos vivamente azuis eram contornados por rugas, e seu rosto apesar de cansado e enrugado, apresentava fortes sinais de vivacidade e juventude. Apesar de seu tom sério e crítico, demonstrava grande confiança e lealdade.
Também usava um longo vestido rodado preto e sem muitos detalhes, exceto por um broche na altura do pescoço, na qual fechava o colarinho do vestido engomado.
-Quando pode começar? –perguntou Gina, de repente.
-Semana que vem, assim que trazer todos meus pertences... –respondeu Madame Lancret de prontidão.
-Ótimo, então a senhora está contratada, assim pode dar tempo de se acostumar a nossa vida, antes do bebê nascer, não é mesmo? –falou Harry, levantando-se para acompanhar a mulher a porta.
-Formidável... –comentou ela, acompanhando Harry. –E senhorita Weasley?
-Sim? –perguntou Gina, passando a mão pelos longos cabelos.
-Use vestes mais largas, para o bebê crescer direito, está bem? –disse carinhosamente, ao que aparatou, deixando Harry boquiaberto.
-Ela é terrível! –comentou Harry, sentando-se ao lado de Gina.
-É sim, ela é, mas precisamos de alguém para educar nosso filho Harry... –comentou Gina, passando a mão na barriga.
-Nós podemos fazer isso! –reclamou Harry.
-Você já esqueceu das Horcruxes Harry? –perguntou ela, os olhos faiscando. –Esse é o melhor para nosso filho, essa mulher é o ideal. Acostume-se! -completou, no momento que direcionava-se a cozinha, o olhar risonho ao perceber a expressão boba de Harry.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!