A Fuga de Monstro
-Monstro!
Harry caminhou mais alguns passos pelo jardim encoberto de orvalho, antes de parar defronte a porta. Fazia uma enevoada manha de setembro, e havia folhas secas e amareladas espalhadas pelo gramado, mostrando que o outono aproximavas-se.
-Monstro! –chamou ele novamente.
O elfo havia sumido por mais dois dias consecutivos, e Harry estava começando a ficar preocupado com as coisas que aquele velho elfo poderia estar fazendo. Hermione dizia que ele estava chateado com Harry, pelo último episódio na cozinha, há mais ou menos uma semana.
Monstro e Dobby haviam brigado novamente. As brigas haviam tornado-se constantes, e Harry já superara seu limite em relação a Monstro. Ameaçou-o com uma meia encardida que tirara do pé, e o elfo tornou a fazer uma aparência triste, tal como fizera com seu padrinho alguns anos atrás, apenas murmurando “o senhor deve fazer o que acha que é certo”, e Harry irritado jogou a meia a alguns centímetros do elfo.
Hermione achava que Monstro havia entendido tal gesto como seu passo a liberdade, pois segundo ela, ouvira-o chorar desesperadoramente em um canto da casa, a altas horas da madrugada.
-Mas ele não pode simplesmente ter ido embora! –argumentou Rony, na noite anterior. –Quer dizer, o Harry não entregou a meia de fato para ele, apenas a jogou próximo.
-É, mas você sabe que o Monstro já está velho! Pode muito bem ter se confundido... –retrucou Hermione, com o rosto pensativo. Observou Harry, que permanecera quieto.
-O que você acha Harry? –perguntou de repente, fazendo com que o rapaz voltasse a si.
Harry pensou por alguns breves segundos antes de abrir a boca para responder. Sua mente viajava em lugares mais distantes.
-Bem, ele pode ter ido embora, ou podem ter o levado! –respondeu ele, sentindo-se tolo pela resposta dada.
-Harry, Monstro tem seus próprios poderes... Poderia aparatar e livrar-se de qualquer um que o tentasse seqüestrar! –respondeu ela.
-Mas e se Monstro quisesse, de fato, ser levado? –indagou Rony, servindo-se de mais hidromel.
-Quer dizer, se ele quisesse um novo mestre? –perguntou Hermione franzindo a testa.
-Isso ele já demonstrou dezenas de vezes que quer... –suspirou Harry. –E...
-Desculpe-me interromper Sr. Potter, mas a janta está servida... –declarou timidamente Dobby.
-Monstro! Apareça! –ordenou Harry novamente ao pátio vazio. Esperou por alguns minutos, esperando ouvir o estalido seco do elfo aparatando.
Ouviu um barulho indistinto, próximo ao portão, e seu corpo encheu-se de esperança. Não que gostasse de Monstro, tampouco por que ele faria falta. Estava preocupada com que companhia Monstro poderia estar no momento.
Se quisesse, poderia procurar Bellatrix Lestrange novamente, e contar a ela todos os segredos da Ordem, e da caça aos Horcrux. Era essencial que Voldemort não soubesse dos planos dos garotos, ou iria prevenir-se para a próxima batalha.
Aproximou-se cautelosamente do local onde pensou ter ouvido o elfo, mas percebeu que era apenas um castor correndo atrás de algo.
Soltou o ar pesadamente e passou as mãos no cabelo negro, pensativo. Quê fariam, se Monstro contasse a Voldemort seus planos?
-Nem sinal? –perguntou uma voz calma as suas costas.
Harry virou-se rapidamente e deparou-se com Hermione, os cabelos espessos, agora compridos, com duas canecas fumegantes nas mãos. Ofereceu uma a Harry, e da outra tomou um comprido gole.
Sentou-se na grama, e Harry imitou seu gesto.
-É licor de canela... –declarou ela, ao olhar duvidoso de Harry. –Especialidade de Madame Rosmerta. Experimenta!
Harry tomou um grande gole, e sentiu o líquido doce e fumegante entrar em sua boca e aquecê-lo.
-E então? Não o achou? –perguntou ela, olhando para o horizonte.
-Não! Ele não aparece, então, isso provavelmente quer dizer que eu o libertei... –respondeu amargurado Harry. –Estou com medo do que ele possa contar ao outro lado... –declarou ele, pensando em Voldemort e seus Comensais da Morte...
Hermione não respondeu, continuou a olhar para o infinito.
-Vamos dar um jeito, prometo Harry! Não importa se... -ela hesitou por um momento. –Se Voldemort descobrir que destruímos alguns Horcruxes, vamos torná-lo mortal novamente e destruí-lo... Mais cedo, ou mais tarde!
-Eu sei... –respondeu Harry, passando o braço por sobre os ombros da amiga. –Não sei o que faria sem vocês, Mione! –falou ele, referindo-se a Rony também.
-É para isso que servem os amigos... –respondeu ela, um sorriso espalhando-se em seus lábios.
-Mas você e Rony não parecem mais tão amigos... –brincou Harry.
Estava louco de curiosidade para saber como os dois estavam no momento. Lembrou-se de uma cena que vira na biblioteca, algumas semanas atrás.
Hermione enrubesceu.
-Que quer dizer? –perguntou inocente, mas com as bochechas ligeiramente vermelhas.
-Ora vamos, Mione, eu não sou cego! –respondeu Harry, com um tom de deboche no ar.
-Está bem então, algumas coisas aconteceram, sim... Mas ainda somos amigos! –respondeu ela, dando um leve tapa no ombro de Harry.
-Então vocês só são amigos? –perguntou ele, sentando-se na grama cheirosa do pátio.
Observou um banco de pedra na orla do bosque. Pensou ter visto alguém lá, porém seus olhos voltaram-se novamente para Hermione.
Hermione deitou-se na grama e suspirou feliz. Seus olhos encontraram o de Harry, e ali, naquele jardim, Harry percebeu. Sentia muita saudade de Gina Weasley.
-Bom dia, Sra. Weasley! –cumprimentou Harry, animado, quando saiu das chamas da lareira da Toca. –Desculpe aparecer sem avisar, mas eu estava passando e resolvi fazer uma visita...
-Está tudo bem, querido... Sente-se, estou fazendo alguns bolos de caldeirão! –falou ela, enquanto enxugava as mãos em seu avental florido. –Como você está? Está se alimentando direito?
-Estou ótimo, Sra. Weasley... E posso lhe assegurar que Dobby faz a mesa cheia lá em casa!–respondeu Harry, puxando uma cadeira da mesa, e sentando-se. –E a senhora?
-Ah ocupada, você sabe... Arthur anda cada vez mais ocupado lá no Ministério, cuidando de casos horríveis, você não iria gostar de saber... –respondeu ela vagamente, enquanto observava seu relógio encantado. –Cadê meu Rony? E Hermione?
-Ah sim... Eles saíram juntos hoje cedo... Mandaram um olá para a senhora... –respondeu Harry, medindo as palavras. Privacidade é importante. –Acho que virão aqui mais tarde... –completou, tamborilando os dedos calmamente no tampo de madeira da mesa.
-Gina está lá em cima, porque você não a chama para tomarmos um café da tarde juntos? –disse Sra. Weasley, com um sorriso enigmático no rosto. –Acho que posso arranjar um tempinho, ora, as roupas podem muito bem se lavar sozinhas!
-Certo! –respondeu Harry, pondo-se de pé em uma fração de segundos.
Subiu rapidamente a precária escada da toca. A cada passo que dava, a escada rangia. Abriu a porta do quarto de Gina cuidadosamente, e encontrou-a debruçada sobre uma porção de pergaminhos amarelados, e livros pesados, com capa de couro. Os olhos da garota examinaram rapidamente
Harry, que parara na porta, e havia perdido temporariamente a fala.
-Harry! –exclamou ela, caminhando ao encontro do garoto. –O que faz aqui?
-Obrigada pela hospitalidade! –brincou ele, quando lhe dava um enorme abraço.
Ela sorriu.
-Rony e Hermione saíram juntos, e eu não quis ficar sozinho em casa... Estou enlouquecendo lá... –respondeu ele, deixando a garota desvencilhar-se de seus braços.
-Como assim? –perguntou ela, passando as mãos na longa juba de cabelos ruivos.
-Monstro fugiu... –suspirou Harry, tomando seu lugar nos pés da cama, ainda observando a garota. –Quer dizer, não fugiu, realmente... Pensou que eu o libertei... –declarou ele. Contou a história inteira a garota, que se sentara ao seu lado.
-Está tudo bem... –falou ela, num tom doce demais. –Afinal, não estamos em desvantagem, não é mesmo? Também sabemos algumas coisas que Voldemort anda aprontando na sarjeta... Quer dizer... –corrigiu ela. –Ao menos o que sobrou da Ordem sabe!
Harry sorriu.
-É, você tem razão... Hei Gina? Sua mãe pediu para avisá-la para descer, ela está fazendo bolos de caldeirão! –falou Harry, lembrando-se de repente da mulher baixinha que batia panelas, alguns andares mais abaixo.
-Está bem, vamos então... Só vou fechar estes livros, estive estudando alguns feitiços... –explicou ela. –São impressionantes quantas leis existem no preparo das poções...
-Mas você já decidiu no que vai trabalhar? –perguntou Harry quando desciam as escadas.
-É... Mais ou menos... –respondeu Gina, ficando mortalmente sem jeito. –Eu esperava contar isso mais cedo ou mais tarde, mas... Bem de qualquer forma, eu consegui uma vaga em uma universidade bruxa, na América...
-Como assim? –perguntou Harry, tentando absorver ao máximo as palavras da garota.
-Eu estou pensando em ir para lá, me aprofundar mais na história bruxa, entende?
-Quer dizer que você pretende tomar o lugar do Binns? –perguntou Harry, surpreso. –Soube que ele continua a dar aula, mesmo sem nenhum aluno em Hogwarts.
Gina riu.
-Não, não, na verdade Harry, eu queria era sumir deste completo caos, por algum tempo entende? –Harry concordou com a cabeça.
-Então, qual é o nome da universidade? –pediu a contragosto.
-Instituto Acadêmico de Magia de Salem... –respondeu ela, quase num sussurro. –Ficaria agradecida se não mencionasse isso a mamãe.
-Minha boca é um tumulo! –falou, mesmo com um nó a comprimir-lhe a garganta. Forçou um sorriso.
-Ótimo!
Após lancharem em companhia da Sra. Weasley, Harry e Gina, saíram sozinhos para passear pelos montes verdes de St. Ottery Cachopolle. Talvez fosse o ar rarefeito do local, ou o cheiro doce que inalavam, vindo das ervas aos seus pés, que tivesse feito com que Harry se sentisse confortável em relação a sair a sós com sua ex-namorada. Ou talvez fosse o perfume adocicado de flores que ela usava que o deixara sem recursos.
Mas quando ambos estavam à beira de um bosque, Harry não se controlou, e enlaçou a garota num abraço apertado, colando cada parte do seu corpo junto ao dela.
E beijou-a com vontade e voracidade, ansiando cada vez mais e mais pela jovem a sua frente.
E ela respondeu, num beijo de sofreguidão, forte, emocionado. E foi então que Harry notou as grossas lágrimas que escorriam dos olhos castanhos da garota, e morriam em sua boca.
-Gina? –chamou baixinho Harry, encostando a mão suavemente no queixo da garota, obrigando-a a olhar para ele.
-Me desculpe Harry, eu realmente não tinha intenção... –falou ela com a voz embargada, tentando controlar o choro.
-Está tudo bem, eu não devia ter feito isso... Você me desculpa Gina? –perguntou Harry.
-Eu também quero isso, harry, você não entende? –perguntou ela, com os olhos úmidos. Segurou as mãos de Harry, e o fez abraça-la novamente. –Eu não me importo se me seqüestrarem... Eu quero ficar com você!
Harry demorou algum tempo até raciocinar cada palavra.
-Está bem, vou deixar para me arrepender depois... –falou ele, num tom carinhoso. –Você sabe que eu não resisto a você...
-Você me deseja Harry? –perguntou ela, num sorriso maroto por entre as lágrimas.
-Eu te desejo mais que tudo nessa vida, menina! –respondeu ele, com a voz rouca, antes de deitar a garota na grama.
E então o sol saiu por de trás das nuvens, e uma fina garoa caiu em cima da grama, e do jovem casal, trazendo o cheiro de terra as suas narinas. E um sabiá cantou vagamente ao longe, e ambos sorriram. Estava tudo em paz.
Harry, ainda espreguiçando-se, desceu as escadas rangentes da Toca. Ele, Mione e Rony, haviam decidido passar alguns dias em companhia da Sra. Weasley, que então ficaria sozinha com exceção à Gina, pois seu marido, o Sr. Weasley, viajaria a negócios do Ministério, e sua volta não tinha data marcada.
Ouviu então o som de conversa vindo da cozinha, e de algo se batendo violentamente contra a precária parede. Quando entrou na cozinha, vislumbrou uma cena jamais vista antes. Rony abraçava Hermione pelas costas, e os dois riam como se tivessem contado uma piada extremamente engraçada. Pareceram constrangidos ao perceber que harry estava ali. Eles ainda não haviam assumido namoro.
Com as orelhas muito vermelhas, Rony largou Hermione, e concentrou-se em procurar a varinha em algum lugar em baixo da pia, que àquela hora estava atulhada de coisas para o café da manhã.
-‘Dia... –cumprimentou Harry, arrastando-se até uma cadeira.
-Bom dia Harry... –respondeu Hermione, tentando parecer extrovertida com a situação. Harry ouviu um resmungo vindo do local onde Rony se ajoelhara e interpretou como um olá. –Dormiu bem?
Os pesadelos da noite que passara entraram como um jorro da água na cabeça de Harry. Não fizera boa noite, e sabia disso. Porém não queria preocupar os amigos, não agora, que era um período muito tranqüilo.
Mas infelizmente, Hermione percebeu a tensão em seu rosto, e com um olhar intrigado perguntou:
-Harry? Você está bem?
-Estou, estou ótimo... –mentiu Harry. –Quem fará o café hoje? Não vejo a Sra. Weasley... –perguntou, para que a conversa tomasse outro rumo.
-Ela está lá fora, desgnomizando o jardim... –respondeu a voz abafada de Rony. –Ela quis trocar os lugares hoje... Eu vou fazer o café...
-Então vamos morrer da fome... –murmurou Harry, mas nem Rony nem Mione o escutaram.
-Harry, o que aconteceu? Quer falar? –perguntou Hermione novamente, a mão amigáveç sobre seu ombro, encorajando-o a contar.
-Está bem, está bem... –suspirou Harry, agora vencido. –Acordei com a minha cicatriz doendo novamente, e tive um sonho sobre Voldemort...
Agora Rony havia puxado uma cadeira para si próprio, e ele e Hermione observavam Harry, intrigados, devido ao fato que era a primeira vez em muito, muito tempo, que a cicatriz de Harry não mais doía.
-Parece que alguém contou a ele sobre seus Horcruxes... Ele não está nada contente, devo acrescentar... –narrou Harry, lembrando-se vivamente do sonho. Era uma sala escura e empoeirada, com uma porção de homens mascarados ao redor dele. Harry entrara novamente na mente de Voldemort.
-Você acha... Acha que foi o Monstro? –perguntou Rony vacilante.
-Talvez... –respondeu Harry, depois de alguns instantes de silêncio. –É a situação mais provável, mas você sabe muito bem que pode se esperar tudo vindo de Voldemort...
-Você está certo... –murmurou Hermione, com o olhar vidrado na janela da cozinha.
O dia amanhecera escuro, e preparava-se para uma grande e torrencial chuva. Puderam observar enquanto a coruja-das-torres, trazia em sua perna o exemplar do Profeta Diário de Hermione.
-Chegou o jornal! –anunciou Rony sem a menor necessidade. Hermione já fora até a janela e a abrira para que o animal pudesse entrar. Pousou num balcão próximo a Hermione, e estendeu a pata onde havia uma bolsinha de couro. Hermione pegou seu exemplar e a pagou.
-Alguma coisa? Alguém que conhecemos? –perguntou Rony depois de alguns minutos.
-Sim! –respondeu sombriamente Hermione, entregando o jornal aos garotos. –Houve uma invasão em massa ao Ministério, na noite passada.
Na madrugada de hoje, 25 de setembro, houve uma grande agitação no Ministério, devido a grande invasão em massa ao prédio das autoridades. Não houve mortes, mas Érico, o bruxo-vigia teve de ser imediatamente levado à seção de tratamento intensivo no Hospital St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos.
Os Curandeiros não quiseram informar ao Profeta a respeito da situação de Érico.
Hoje a tarde, o ministro da magia dará uma coletiva de imprensa, no próprio prédio Ministerial, sobre o que se acredita, seja uma tentativa frustrada dos seguidores de Aquele-que-não-deve-ser-nomeado, a entrar no Departamento de Mistérios.
-O que eles queriam lá? –perguntou Rony, jogando o jornal de volta para Hermione, que deu de ombros. –Quer dizer, a profecia foi destruída, o que ele poderia querer lá? –comentou.
-Há muito mais coisas no Departamento do que você possa imaginar Rony... –ponderou Harry. –Ele deve ter seus motivos.
-Quem deve ter motivos? –perguntou uma voz sonolenta, vindo da direção da sala de estar da casa.
Gina estava com os cabelos ruivos despenteados, e usava apenas um roupão verde acolchoado, mas exalava um doce perfume de flores, que Harry conhecia tão bem. Ela adiantou-se até Harry, abraçou-o pelo pescoço, e deu-lhe um beijo na nuca, deixando Harry sem ação.
Rony fez uma careta de desaprovação, mas Hermione o encarou tão profundamente que ele baixou os olhos, e calou-se.
-Então, quem teve motivos para o quê? –perguntou Gina, tomando se lugar ao lado de Harry.
-Voldemort... –respondeu Harry, percebendo que Rony havia tremido ligeiramente a menção do nome. –Rony, esse seu medo bobo pelo nome dele é ridículo, você precisa se controlar! –censurou Harry, enquanto Hermione entregava o jornal para Gina. Esta leu a matéria com os olhos apertados.
-Nada de mais... Provavelmente há coisas piores que virão! –respondeu ela, jogando o jornal de volta para Hermione. –Sei que não é legal o que aconteceu... –completou ela, ao olhar incrédulo de Harry. –Mas, qual é, ele faz coisas muito mais horríveis do que invadir o Ministério... Até nós já fizemos isso!
-É você tem razão! –concordou Rony, com o olhar vacilante.
-Então, onde está o café? Estou faminta! –comentou Gina.
-Sai num minuto... –respondeu Rony, empunhando a varinha como se fosse uma espada. –O que vocês querem?
-Arenque... –respondeu monotonamente Gina.
-Paciência a sua, eu só sei preparar mingau... –resmungou ele, virando-se para a pia, com o rosto contrariado e as orelhas, muito, muito vermelhas.
-Parece que o alvo de seu roubo era uma planta mística, e extremamente rara chamada Lágrimas de Merlim... –comentou Lupin, naquela noite, quando ele, Tonks, Harry, Gina, Rony, Mione e a Sra. Weasley estavam jantando. –Os últimos exemplares estão guardados nos cofres de segurança máxima do Ministério, abaixo do departamento. Parece que vão ser mandadas para algum cofre de Gringotes.
-Mas o que são essas lágrimas? –perguntou Rony, curioso, ao que a Sra. Weasley o repreendeu com um olhar.
-Só posso dizer o que têm nos livros, nunca cheguei a ver uma. De fato, pouca gente teve esta honra e infelicidade ao mesmo tempo. –respondeu Lupin, coma voz rouca. –Dizem que é uma planta que só crescia nos confins da Irlanda, muito ao norte. Suas flores em geral são escuras como a noite, e ela possuem grandes poderes mágicos.
-Quem lidava com elas? –perguntou Harry. –Os inomináveis?
-Exato... –respondeu Tonks, animada. Seu rosto estava emoldurado por um cabelo loiro espesso e encaracolado.
-De fato, os últimos inomináveis que se tem registro, que fizeram uma pesquisa sobre as Lágrimas, foram sua mãe, e Victoria St. Clair, poucos meses antes da morte da última... –respondeu Lupin, olhando diretamente para Harry. O peito de Harry inflou de orgulho da mãe, no mesmo instante.
-Mas você mencionou que “pouca gente teve esta honra e infelicidade ao mesmo tempo”... –comentou Hermione. –Que quer dizer?
Harry, Rony e Gina olharam espantados para a amiga. Hermione geralmente sabia de tudo um pouco, pois qualquer leitura que passasse perto dela, era capturada. Ela fez um mero sinal com a mão, que ninguém reconheceu e continuou a olhar esperançosa para o ex-professor.
-Não acho que seja uma boa idéia contar tudo a eles, Remo... –interferiu Sra. Weasley, num momento inapropriado. Estavam com sede por saber.
-Você é quem sabe, Molly... –respondeu Lupin, com um aceno de cabeça, e tornando a prestar atenção na sopa a sua frente.
-QUÊ? –perguntou alterado Rony. –TODOS AQUI SOMOS MAIRORES DE IDADE, TEMOS DIREITO DE SABER!
A Sra. Weasley ponderou por alguns minutos, no qual Harry pensou ter perdido a oportunidade de saber sobre as mágicas plantas, mas para sua total surpresa, Sra. Weasley sorriu.
-Está bem então, pode contar... –falou. Rony a olhou de um jeito medonho, quase sem acreditar nas últimas palavras.
-Quem é você? –perguntou horrorizado, ao mesmo tempo em que os outros gargalhavam à vontade.
-Bem, as Lágrimas, trazem grandes benefícios quando bem usadas, mas tornam a pessoa que a usa, totalmente dependente dela. Como aquelas coisas que os trouxas usam como é mesmo? –respondeu Lupin.
-Drogas? –arriscou Hermione.
-É isso mesmo, drogas... –respondeu ele baixinho, tomando um pouco mais de sopa. –Está uma sopa maravilhosa, Molly. –cumprimentou ele, sorrindo formalmente para ela, que agora olhava nervosamente para os lados.
-Não fui eu que fiz, foi Gina... –respondeu ela, ainda muito nervosa.
-Oh, meus parabéns, mocinha... –cumprimentou Tonks, alisando a barriga. –Deliciosa.
-Obrigada! –sorriu Gina, ao lado de Harry.
-Bem, eu preciso buscar um suco de abóbora na cozinha, alguém precisa de algo? –perguntou a Sra. Weasley, com pequenas gotas de suor saindo da testa.
-Você está bem, mamãe? –perguntou Rony.
-Estou ótima... Bem, certo! –respondeu ela, saindo imediatamente, quase correndo, em direção a cozinha.
-Mas por que os Comensais estavam atrás dela, se ao mesmo tempo é uma maldição? –perguntou Harry, ainda muito curioso.
-Você deve entender Harry, que eles fazem de tudo que for preciso para estarem no poder... –comentou Lupin. –Lembre-se: Voldemort foi capaz de destruir a própria alma em sete pedaços, para tentar tornar-se imortal. Que tipo de homem pensa que ele é?
-Se é que aquilo ainda é um homem! –comentou Harry sombriamente, enquanto Sra. Weasley voltava da cozinha.
-Mamãe, cadê o suco de abóbora? –perguntou Rony, sinalizando para as mãos vazias da mulher.
-Ah sim querido... –respondeu ela. –Esqueci! Vou buscar imediatamente... –e saiu novamente em direção à cozinha.
-Ela anda estranha ultimamente, não acham? –comentou Gina, baixinho, quando os tornozelos da Sra. Weasley saíram de vista.
-Provavelmente é só stress, a agitação dos dias que estamos vivendo... –falou sabiamente Hermione.
Lupin não respondeu, apenas continuou com o olhar vidrado no lugar em que a mulher havia desaparecido. Continuou a olhar mais algum tempo, e por fim resolveu ignorar algo, e voltou-se para sua sopa.
-Com licença, preciso ir ao banheiro... –pediu Gina, com a voz fraca. Estava muito pálida, mas ainda assim sorria.
-Você está bem? –perguntou Harry, segurando-a firmemente pelo pulso.
-Sim, acho que o café da manha do Rony me fez mal, estou um pouco enjoada... –respondeu.
Rony e Harry subiam a encosta verde do monte, dois dias depois, com grandes capas, para proteger-se do frio, que este ano havia chegado mais cedo. Ofegavam, mas não pararam.
-Estou preocupado... –comentou Harry.
-Por quê? –perguntou Rony, parando de chofre, e sentando-se na grama.
-E se Scrimgeour não conter os Comensais? O que faremos, se eles roubarem os itens importantes do Ministério? –perguntou Harry, olhando para o céu cinza, cheio de nuvens.
-Vamos ter que arrumar as coisas sozinhos... –murmurou Rony, cutucando a grama com um graveto seco.
-Queria que Dumbledore estivesse aqui... –comentou Harry, cedendo a seus temores mais obscuros. –Não fazemos idéia de onde está a Taça de Hufflepuff! Agora que ele sabe que estamos em sua cola, deve ter a trocado de lugar, não é mesmo?
Rony concordou coma cabeça.
-E onde diabos será que está àquela maldita cobre Nagigi? Precisamos destruí-la também!
-Poderíamos pedir uns conselhos ao retrato de Dumbledore... –comentou Rony. –Sei que pode parecer besteira, e que seu retrato não possuí nem um décimo da inteligência que ele mesmo possuiu, mas podíamos tentar, não é mesmo?
-Você tem razão, Rony! –falou Harry, com o rosto iluminando-se de empolgação. –Vamos visitar Hogwarts... –completou, correndo colina abaixo, em direção a estrada que levava a Toca.
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