Onde Estou?
Gina acordou ainda meio tonta devido ao efeito do feitiço que levara na testa. Sua cabeça doía, mas ela tentou ignorar esse fato.
Ela vestia sua camisola, tal qual saíra de seu quarto.
Então, como um estalo em sua cabeça, ela voltou à realidade. Examinou o local.
Definitivamente, não estava mais em sua casa. Gina estava deitada em uma cama estreita que ficava no canto esquerdo de um quarto muito grande e quase sem mobília com o chão e as paredes de pedra, o qual ela tinha certeza absoluta de nunca Ter visto antes.
O lugar tinha duas janelas na parede da direita, mas as duas estavam fechadas e, provavelmente, trancadas. Afinal, àquela altura, ela já sabia muito bem do que aquilo tudo se tratava: havia sido seqüestrada. O motivo, ela não fazia idéia. Quem estava por trás disso também, uma grande incógnita.
Mesmo sabendo que provavelmente não receberia reposta, a menina encaminhou-se à porta de madeira do quarto, e deu três batidas com os nós dos dedos.
Como já era esperado, tudo o que ressoou no ar foi o eco das batidas na pedra gélida.
Com a respiração curta e pesada, Gina voltou para a cama e deitou-se. Ela tinha três opções válidas: podia ficar batendo na porta do quarto até alguém atendê-la, o que de fato não aconteceria, e tudo o que conseguiria seria um pulso fraturado; chorar, o que sem dúvida não a faria sentir-se melhor; ou deitar-se, e tentar dormir novamente.
Agüentaria essa situação em tal estado de espírito o máximo que conseguisse. E evitava pensar no tempo. Dia, noite; manhã, tarde; sol, chuva; frio, calor. Não suportaria remoer todas essas coisas redundantes do cotidiano, mas que agora, longe, faziam tanta falta.
Queria dormir par anão Ter que pensar em sua família quando descobrisse o que acontecera. Não queria visualisar o Sr. Weasley chegando mais cedo do Ministério, Jorge tendo uma explosão, um ataque de nervos, os olhos arregalados e tristes de Rony; não queria pensar nas lágrimas que a Sra. Weasley sem dúvida derramaria, em Fred estático, em Percy sem saber o que dizer ou fazer, e em Gui tentando contornar a situação.
E definitivamente, não queria pensar em Harry, que chegaria à Toca dali a uma semana com Hermione, sua... namorada.
Aqui, Gina perdeu a batalha contra uma lágrima teimosa, que escorreu pela maçã de seu rosto e pingou de seu nariz para o colchão da cama.
A dor que tomara conta de seu coração ao ver Harry, o rapaz que sempre tivera o seu coração, namorando uma amiga sua, era cruel, até mesmo de lembrar.
Ela não culpava Mione de jeito nenhum: ela não sabia de seus sentimentos por Harry. Gina nunca contara. Havia a possibilidade de Ter escutado de Rony, mas se isso tivesse chegado ao seu conhecimento, ela nunca olharia Harry como nada além de um amigo querido.
Mudou de posição. Passou a encarar a parede. Tudo o que queria saber era onde estava.
E, se acontecesse o pior, queria Ter a chance de ver todas essas pessoas mais uma vez. Dizer aos pais e aos irmãos que os amava, abrir seu coração a Harry, e dizer a Mione que se ele vira algo nela era porque isso realmente existia.
**
- Então - disse Hermione, sem desviar o olhar do bilhete. -; nós temos que analisar esse bilhete muito bem. Lê-lo várias vezes, quem sabe há alguma pista que deixamos escapar...
- Mas como, Mione? Já lemos isso mais de um trilhão de vezes, e nunca aparece nada de anormal!
- A não ser o fato de não estarem pedindo resgate nenhum.- disse Harry.
- Exatamente. Deve haver alguma coisa por trás disso, alguma coisa muito importante.
- Mas o que, Hermione?! Eu não entendo! Quem poderia querer seqüestrar a Gina no meio da noite assim?- Rony estava desconsolado, e nada mais parecia fazer sentido.
- É isso que temos que descobrir!- disse Harry.
- Como, Harry? Você tem alguma idéia de quem tenha escrito isso? De quem poderia Ter feito uma coisa dessas?
- Calma, Rony. Não adianta nada perder a cabeça, não agora! Vamos começar do começo: Rony, você não sabe de alguém que não goste da Gina, em Hogwarts, na vizinhança, em qualquer lugar?
- Não, Mione. Você sabe como a Gina é. Recatada, tem poucos amigos, mas todos sem dúvida gostam muito dela. E nós não temos nenhuma relação com os vizinhos.
Rony suspirou. Harry teve vontade de fazer a mesma coisa, pois começava a achar que estavam chegando a um beco sem saída. Mas não podia transparecer o nervosismo que sentia, não na frente de Rony. O amigo precisava de apoio, agora mais do que nunca, e um ataque de nervos não melhoraria a situação em nada.
- Eu odeio dizer isso... - Hermione começou. - Mas acho que agora o melhor que temos a fazer é esperar. Vamos ver se os seqüestradores...
- Animais desprovidos de consideração. - interrompeu Rony.
- Muito bem. - ela controlava o riso. - Vamos ver se os animais desprovidos de consideração entram em contato novamente, então decidimos o que fazer.
- E se não entrarem?
Mione tinha a preocupação e o medo estampados em seu rosto, como nunca os rapazes tinham visto antes.
- Vamos torcer para eles entrarem em contato.
**
No dia seguinte, pela manhã, a angústia dominava a cozinha dos Weasley. Ninguém atrevia-se a pronunciar uma única palavra para quebrar o silêncio. Ninguém sabia o que dizer.
O Sr. Weasley foi o último a sentar-se à mesa. Enquanto a Sra. Weasley servia seu prato com torradas, ele abriu o Profeta Diário em uma página aleatória, apenas para ver se conseguia não esquecer, porque seria impossível, mas desligar-se nem que fosse por um momento de tudo aquilo.
Harry olhava para o nada através da janela. Seus pensamentos vagavam.
- Harry, me passa a geléia?
Jorge o acordou de seu devaneio. Ao esticar o braço com a geléia na direção do gêmeo Weasley, seus olhos pousaram acidentalmente na capa do jornal. O rapaz leu a manchete, incrédulo, e quis pular de alegria ao terminá-la. Levantou-se de qualquer jeito e inventou uma desculpa qualquer para levar Rony e Mione consigo. Por menos verdadeiro que ele tivesse parecido, ninguém realmente se importou.
Ao passarem para a sala de estar, Harry tinha um sorriso de orelha a orelha estampado no rosto.
- O que que foi, Harry?- perguntou Rony, sonolento e mal-humorado.
- É, Harry, acho bom que você tenha uma explicação fascinante para nos tirar da mesa no meio do café da manhã desse jeito.
- Tenho a mais fascinante das explicações! Vocês não fazem idéia de o que eu acabei de ler na manchete do Profeta Diário!
- Afinal, o que pode ser tão fascinante assim?
- Eu só olhei por cima, mas parecia dizer alguma coisa sobre um homem que disse ter visto Vol... desculpa, Rony... Você- Sabe- Quem!
A incredulidade tomou conta das feições de Hermione, e a indignação de Rony foi claramente visível.
- Como? Onde? Quando? Era Voldemort, de fato? Como ele pode ter certeza?
Rony pareceu não ter ouvido que Mione pronunciara tão temido nome. Estava preocupado com outras coisas.
- E você está dizendo que Você- Sabe- Quem pegou a Gina?
- É uma possibilidade, não é? – disse Harry.
- E você acha isso fascinante?
- Rony, por favor. – Mione apaziguou a situação. – Você sabe muito bem que esse pode ser o nosso ponto de partida para encontrar a Gina. E não esqueça, que você não é a única pessoa aqui que se preocupa com ela. Todos nós a amamos, mas precisamos manter a calma.- voltou-se para Harry. – Em todo caso, Harry, acho melhor esperarmos até esta tarde. Poderemos ler o Profeta Diário com calma e aí sim, ter certeza do que fazer.
Assim, os três voltaram à mesa do café.
Mas a oportunidade de ler o jornal veio mais cedo do que esperavam. Por terem levantado, os três foram os últimos a terminaro café da manhã.
Por sorte, o Sr. Weasley, ao terminar de ler o jornal, deixara-o em cima da mesa. Sem perder tempo, Rony pegou o jornal e abriu na página principal. Harry e Hermione sentaram um de cada lado do rapaz, para poderem acompanhar a leitura.
- “A mais recente aparição d’Aquele- Que- Não- Deve- Ser- Nomeado.
O Sr. Vincent Smith afirma ter visto o Lord das Trevas em sua propriedade.
Ontem à tarde, por volta das quatro horas, o Sr. Smith aguava a horta dos fundos de sua casa, que dá para um terreno baldio, quando notou um movimento no local.
Primeiramente, julgou ser algum tipo de animal, e não preocupou-se.
Porém, ao constatar que os ruídos de passos continuavam, achou melhor verificar. Ele foi até a cerca de madeira que separa sua propriedade do terreno, e diz ter sido então que viu um vulto encapuzado, vestindo uma capa preta.
O vulto pareceu notar sua presença, pois no segundo seguinte havia sumido.
“O que recordo ter visto claramente”, afirma o Sr. Smith, “foi a manga da capa escorregando por um segundo, tempo suficiente para tornar uma tatuagem da Marca Negra no pulso (que, diga-se de passagem, tinha uma pele muito clara, para não dizer pálida) da pessoa.”
Ainda não recebemos a informação de alguém mais ter visto o vulto, bem como ninguém pode dizer com absoluta certeza de que o vulto era mesmo Aquele- Que- Não- Deve- Ser- Nomeado.
Nossa equipe procurou Lúcio Malfoy, dono de uma mansão nas redondezas de onde o vulto foi visto, mas ele não quis dar entrevista. Tudo que declarou foi que “obviamente o homem está louco, ou ainda, inventou essa história ridícula para conseguir os seus quinze minutos de fama.”
O que nos resta agora é esperar por maiores detalhes.
De qualquer maneira, o Ministério pede que todos tomem muito cuidado com vultos ou barulhos estranhos, em qualquer região do país.”
Um silêncio sepulcral tomou conta da cozinha. Os cérebros dos garotos pareciam precisar de tempo para assimilar tudo. Foi Harry quem quebrou o silêncio:
- Bem... tudo parece muito claro para mim... Voldemort seqüestrou Gina, e a levou para seu cativeiro: a casa de seu mais fiel Comensal: Lúcio Malfoy.
- Mas por quê? – Hermione parecia em estado de choque.
- Eu não sei...
Rony não proferira uma palavra desde que terminara de ler a reportagem. Estático, assustado, furioso, triste, preocupado, receoso, ele exibira todas as expressões possíveis durante esse meio-tempo.
- Então... o que fazemos?- ele suspirou.
-Vamos atrás de Gina, é claro!
- “É claro!”? Como “É claro!”, Harry?- perguntou Mione. – Para começar, algum de nós três sabe onde fica essa tal Mansão Malfoy? E, se souber, como chegaremos até lá? Ainda não podemos aparatar, vocês sabem muito bem disso!
- Bom... – Harry ia começando uma desculpa esfarrapadíssima, quando Rony o interrompeu:
- O endereço do Malfoy eu consigo. Posso falsificar a letra de papai e mandar uma coruja a algum gabinete do Ministério. Malfoy trabalha lá, eles devem saber.
- Ótimo! Mas ainda há o outro problema.
- Ahhn... Ah, tudo bem!- Mione finalmente cedeu inteiramente à causa. – Posso ver em algum dos meus livros, certamente há algum que ensine a aparatar. Quem sabe eu consiga aparatar com vocês para o endereço que Rony conseguir. Afinal, isso é contra as leis do mundo mágico, mas a vida de Gina está em risco, não está? Estou disposta a arriscar tudo.- um sorriso triunfante, seguro e decidido surgia nos lábios da menina enquanto ela falava.
Harry encerrou a conversa ao levantar-se para tomar um pouco de ar fresco. Ao passar por Rony, viu claramente uma pequena centelha de esperança surgindo em seus olhos.
Mas o que mais o preocupava, além da segurança de Gina, é claro, era o motivo. O que diabos Voldemort poderia querer de Gina, se fora ele quem se colocara em seu caminho? Imediatamente, a idéia malévola passou por sua mente como um raio: estaria Voldemort tentando atraí-lo, usando Gina como isca? Sem dúvida alguma, era uma hipótese totalmente plausível.
O medo e a tristeza que o consumiam quando pensava em Voldemort vieram do nada. A vontade que tinha e sempre tivera, era de simplesmente sair correndo para algum lugar distante, longe de tudo isso, e desistir.
Mas então, pensava em seus pais. Se fizesse isso, Voldemort venceria, e a morte de Lílian e Tiago Potter cairia no esquecimento; não haveria ninguém para colocar um fim em tudo isso.
Pensava também em Gina, e a sensação de imaginá-la sozinha, desolada, infeliz, sem saber o que estava acontecendo, fazia a raiva queimar seu coração, e querer, mais do que nunca, ver Voldemort sofrer através de suas mãos. Iria atrás de Gina, não importava se precisasse jogar o jogo dele, se precisasse entrar no esconderijo dele, cheio de Comensais da Morte ansiando por matá-lo e entregar sua cabeça em uma bandeja para seu mestre. Não importaria nem mesmo se perdesse sua vida.
Afinal de contas, ela estava metida nisso tudo por causa dele. Ela o amava, ele sempre soube disso, e sempre sentira-se um pouco culpado por não correspondê-la. Mas não havia nada que pudesse fazer. Seu coração sempre batera por outra, por mais que quisesse controlá-lo, não podia!
Dessa vez, ele iria até o fim.
***
Rony subira para seu quarto assim que Harry deixara a sala. Passando na sala de estar primeiramente, para pegar alguma anotação que seu pai tivesse feito.
Sentado em sua escrivaninha, ele copiava caprichosamente a caligrafia do Sr. Weasley, redigindo uma carta ao departamento que Malfoy trabalhava, pedindo o endereço da mansão para “enviar uma correspondência urgente, apenas destinada a Lúcio Malfoy.”
A assinatura foi a parte mais difícil de tudo, pois Rony precisou copiar minuciosamente cada traço dos rabiscos que o pai fazia por cima do nome após escrevê-lo.
Terminando de escrever, ele dobrou o pergaminho duas vezes, de modo a caber em um envelope timbrado que surrupiara do quarto de Percy.
Foi então que percebeu. Não poderia mandar a carta por Pichitinho. Certamente, todos no Ministério iriam estranhar a coruja minúscula que, de uma hora para outra, o Sr. Weasley decidira utilizar para sua correspondência.
Edwiges seria tão inútil quando Píchi, por causa de sua cor. Era provavelmente a única coruja totalmente branca que existia pelas redondezas, além de Cornélio Fudge já a ter conhecido no terceiro ano, no Caldeirão Furado. Não esqueceria dela tão cedo.
Errol, sem dúvida, era impossível. Se chegasse ao Ministério coma carta intacta e legível, demoraria no mínimo uma semana, tempo suficiente para Gina voltar para casa e ser seqüestrada de novo; fora que todos os Weasley sentiriam falta dele.
Não havia jeito. Precisava pedir Hermes emprestado a Percy. Normalmente, ao escutar tal pedido, Percy provavelmente fecharia a porta no nariz do irmão, sem nem ao menos considerar a hipótese.
Em tais condições, com toda a certeza perguntaria para quem ele estava escrevendo, para quê, por que não usava Píchi ou Errol, por que tinha tanta pressa, etc.
Rony precisava estar preparado para todas essas perguntas, com respostas lógicas e convincentes, se quisesse colocar o plano em ação. Inventar uma história plausível e com alguma conexão entre fatos que convencessem Percy de que Fred e Jorge não estavam envolvidos, levaria no mínimo uma hora.
“Tomara que Hermione esteja indo melhor com os livros do que eu com a carta.”
**
Mal sabia Rony que a menina também passava por maus lençóis. Nada do que lera nos últimos trinta minutos parecia entrar em sua cabeça. Agora ela sabia por que apenas bruxos com no mínimo dezessete anos, ou seja, formados em Hogwarts, podiam aparatar: aquilo era magia muito avançada!
Quando tentava aparatar da sala para a cozinha, ia para qualquer lugar da Toca e fora da Toca, mas nunca para a cozinha, que era para onde realmente desejava ir.
Chegara ao ponto de jogar ao livros com força no chão, cheia de raiva por não conseguir executar um feitiço.
Logo agora,q eu todos confiaram nela, que todo plano dependia daquilo, ela falhava. Soltava berros abafados por almofadas do sofá da sala.
Ela sabia que a vida de Gina dependia deles e de tudo o que fizessem a partir de agora. Mas estava tão cansada, estressada, até. O ar parecia não alcançar plenamente seus pulmões, e uma mosquinha voando do lado de fora da janela irritou-a a tal ponto que a menina bateu o vidro com força para espantá-la dali.
Por fim, decidiu dar um tempo nos feitiços. Sentou no sofá com os cotovelos apoiados nos joelhos e a cabeça segura nas mãos. Deixou um longo suspiro escapar. Precisava se acalmar! Tudo o que não tinham naquele momento era tempo para acessos de raiva, ou nervosismo, ou seja lá o que for!
Gina provavelmente estava sofrendo muito agora, sozinha em um lugar que não conhecia, e ela, Harry e Rony eram os únicos que podiam fazer alguma coisa por ela.
Hermione não iria deixar que um simples montinho de folhas de pergaminho amareladas a fizessem sentir como uma estúpida derrotada e incapaz de aparatar! Aprenderia a executar o feitiço corretamente, custasse o que custasse.
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