Ruídos Estranhos
Era quase uma da manhã, e Gina ainda estava acordada. Lia um romance trouxa que encontrara por acaso em uma prateleira da Floreios e Borrões.
A menina estava presa pela leitura e pelo enredo da história de um casal apaixonado que enfrentava qualquer obstáculo imposto para ser feliz.
Sentia-se extremamente infantil, rejeitada e idiota ao fazer isso, mas não podia evitar. De vez em quando pegava-se imaginando Harry no lugar do rapaz do livro, e ela própria no lugar da mocinha. Imaginava as palavras doces do livro saindo da boca de Harry, direcionadas a ela, única e exclusivamente a ela.
Por mais que tentasse lutar contra esse sentimento, por mais que quisesse arrancá-lo de seu coração, Gina não conseguia. Amava Harry. Por menos que gostasse de nutrir um amor (inteiramente sincero) não correspondido, não havia como evitar.
Não havia mais espaço para ninguém em seu peito ou em sua mente, e ela amaldiçoava o momento em que seu coração começara a bater mais forte por ele, amaldiçoava todas as vezes que deixara cair os livros porque ele estava por perto, amaldiçoava cada lágrima que já derrubara por ele.
Achou melhor ir dormir logo de uma vez. Aliviaria a dor que era pensar em Harry e, além do mais, teria um dia cheio no outro dia, desgnomizando o jardim.
Vestiu a longa camisola cor-de-rosa, por ser esta a única camisola de mangas cavadas que ela tinha.
Mal colocou a cabeça no travesseiro, já estava dormindo um sono leve, inquieto, como se pressentisse alguma coisa fora do normal.
**
Tum. Um barulho, como se alguém tivesse topado direto em uma parede.
- Ssshhh!!!
Alguém pedia silêncio. Os barulhos vinham do corredor.
Gina assustou-se. Ficou deitada por algum tempo. Como os barulhos não se repetissem, ela ficou encucada e decidiu ver o que era.
Estava com tanto sono que nem lembrou-se de vestir um casaquinho por cima da camisola.
Tentando fazer o máximo de silêncio possível, a menina abriu a porta. Seus olhos nem bem haviam acostumado-se à escuridão do corredor, e ela sentiu uma mão cobrindo sua boca e puxando-a para trás. Por mais que tentasse desvencilhar-se, era em vão: a pessoa que a segurava era muito mais forte do que ela. Ela queria ver quem era, mas também era impossível.
Gina sentiu uma onda de medo tomar conta de si ao pensar sobre como aquelas duas pessoas teriam entrado em sua casa, porque teriam feito aquilo, para onde a estariam tentando levar e porquê.
Mas esse medo não demorou muito a passar, uma vez que a menina sentiu uma varinha apontada para sua testa.
No segundo seguinte, ela estava sedada e segura nos braços de um homem alto e forte.
-Vamos.- disse ele ao outro, um baixinho que parecia extremamente inquieto.
E, cinco segundos mais tarde, os dois já haviam desaparatado, levando Gina para longe de sua casa, deixando apenas um simples bilhete em cima de seu travesseiro.
**
-Ronald Weasley, eu não vou chamar de novo! Venha tomar café! E aproveite e mande a Gina descer também!
-Já vou, mãe, que coisa! São só dez da manhã, eu ainda tenho duas horas inteiras para tomar café! Não sei qual é a pressa!
Rony levantou de sua cama, com as pálpebras dos olhos grudadas uma na outra de sono. Cambaleando no quarto escuro, ele foi em direção à janela e a abriu.
Os raios do sol matinal inundaram o quarto, causando uma ardência nos olhos do rapaz, acostumados à escuridão.
Sem nem ao menos vestir-se, ele dirigiu-se ao banheiro. Após lavar o rosto e escovar os dentes, ele parou no batente da porta fechada do quarto de Gina, e bateu com a palma da mão direita.
-Ô Gina, a mãe tá mandando você descer para tomar café! E anda de uma vez, porque já são dez horas!
Esperou um pouco para ouvir o gemido preguiçoso da irmã que acordava devagar, seguido por algum tipo de xingamento.
Mas nada. Não obteve resposta.
Diante isso, Rony apenas deu de ombros e desceu as escadas d´A Toca, que davam do corredor do andar de cima para a cozinha.
Encontrou Fred, Jorge, Percy e Gui, que estava passando suas férias em casa, sentados à mesa, terminando de tomar café. A Sra. Weasley estava na pia, lavando a louça que Rony não fazia a mínima idéia de onde poderia Ter saído.
-Bom dia, querido!- disse ela, ao vê-lo entrar.- Acho que as torradas já esfriaram, mas se você quiser eu posso esquentá-las para você.
-Não, obrigado. Não estou com muita fome, de qualquer jeito.- disse ele, servindo-se de uma caneca de leite morno.
-E a Gina? Chamou ela?
-Chamei, mãe, mas ela nem me respondeu. Aí eu me irritei e desci. Ela ainda deve estar lá deitada, dormindo como uma pedra.
-Então é hereditário! Concorda, Jorge?
-Tudo indica que sim, Fred. O que você acha, Percy?
-Vão pro inferno vocês dois. - Percy estava no meio da leitura de uma carta de Penélope, e aparentemente não gostou da interrupção dos irmãos.
-Percy, olhe o jeito que fala com seus irmãos! E vocês dois parem de incomodar! Rony, suba de novo e chame a Gina aqui, está bem? E não desça enquanto ela não levantar da cama. As aulas estão quase começando e vocês precisam largar esse vício de acordar ao meio-dia.
-Tá, mãe.
Rony subiu novamente as escadas, praticamente arrastando-se de degrau em degrau.
A porta do quarto de Gina estava fechada, tal qual ele a vira alguns minutos atrás. O rapaz bateu novamente.
-Gina, desce logo! Mamãe não está muito contente com você dormindo até essa hora.- sem resposta.- Tá legal, Gina, até eu já me irritei! O que você está fazendo aí dentro de tão importante que não pode descer? Estou entrando!
Dizendo isso, Rony abriu a porta do quarto devagarinho, e espiou para dentro. Tudo escuro. Caminhou em direção à janela e abriu-a, como fizera no seu quarto.
-Vamos, Gina, nós ainda temos que desgnomizar o jardim hoje, lembra? E você não vai fazer como da última vez que...
Quando virou-se de frente para a cama de Gina, ele pôde ver porque a irmã não respondera esse tempo todo: não havia ninguém ali.
O cérebro de Rony parou de funcionar. Gina não dormiu em casa!
Como um furacão, ele voltou à cozinha, armando um escândalo, que fez a Sra. Weasley quebrar o pires que colocava no escorredor de louça.
-Mãe! Suba lá! Agora!- ele estava ofegante.
-Calma, Rony! O que houve?- Gui preocupou-se.
-E a Gina, afinal, Rony? Vem ou não vem?- Percy, que não podia ver uma agulha fora do lugar dentro de casa, já estava irritado.
-Não, Percy, de fato não!- Rony parecia possuído por um espírito agourento.- aliás, ela nem dormiu em casa essa noite!
Gui, que estava tomando um gole de suco, cuspiu todo o conteúdo que estava em sua boca na cara de Percy. Jorge, engasgou-se com um pedaço de torrada, e Fred continuava a encher sua xícara, mesmo após esta transbordar. A Sra. Weasley, por sua vez, desamarrou tranqüilamente o avental da cintura, largou o pano de prato em cima da pia e foi em direção às escadas. Ao ver as reações estáticas dos rapazes, ela simplesmente falou:
-Não tem como ela Ter dormido fora de casa. Eu passei no quarto dela ontem, antes de dormir, e inclusive trouxe um copo de leite quente para ela. Se ela não está no quarto, deve estar em algum outro lugar da casa.
A Sra. Weasley entrou no quarto de Gina. Como Rony havia dito, não havia ninguém lá. Certa de que Gina estava em outro lugar da casa, escondendo-se ou alguma coisa do gênero, e já pensando em ralhar com ela por causa disso, a Sra. Weasley olhou debaixo da cama.
Não encontrando a menina, ela levantou-se e estendeu o lençol, embolado em cima da cama, como ela costumava deixar todos os dias.
Ao estendê-lo, a Sra. Weasley percebeu que uma folha de pergaminho caiu no chão. Recolheu-a e a leu, por achar estranho encontrar na cama, ao invés de sua filha, um pergaminho.
Mas quando chegou ao último ponto do que estava escrito, ela sentiu suas pernas bambas, e deixou-se cair sobre a cama de Gina, sem força alguma para levantar-se de novo.
**
-Mas como?! Como isso pôde acontecer? Como entraram? Como sabiam que morávamos aqui?- Jorge estava descontrolado.
-Clama, Jorge, isso não vai adiantar nada!- disse Percy.
-"Calma, Jorge"? Como calma? Se você ainda não percebeu, Sr. Assistente do Gabinete Sem Função do Ministério, alguém seqüestrou a nossa irmã no meio da noite!
-Jorge!- o Sr. Weasley, que havia voltado do trabalho assim que a Sra. Weasley o chamara, estava incrédulo, mas estático.- A última coisa de que precisamos aqui é um ataque de nervos! Controle-se!
A Sra. Weasley não parara de chorar um segundo sequer. Estava sentada em um canto, sem nem ao menos prestar atenção no que os homens conversavam.
-Nós temos que notificar o Ministério! O quanto antes! - Falou Gui.
-Eu já mandei uma coruja.
-Bom trabalho, Percy- o Sr. Weasley esfregava as pálpebras dos olhos, cansado e aflito. - Rony, para quem é essa coruja?
-Estou mandando corujas para Harry e Mione. Pedi para virem assim que receberem o recado. Quem sabe eles possam ajudar de alguma maneira, sei lá.
-O.K.- disse simplesmente o Sr. Weasley.
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