A última peça

Já estava quase escurecendo e o vento dos primeiros dias do verão ainda era frio ao anoitecer. Hermione estava na varanda nos fundos da casa com um livro fechado sob as pernas, não sabia quando fora a última vez que tinha lido um livro.

 

- Isso é patético! - criticou a si mesma, recostando a cabeça e fechando os olhos

 

Ela simplesmente não conseguia se concentrar mais na leitura, mal lia um parágrafo e tinha que voltar dois pra se lembrar o que já havia lido.

 

- Problemas com a leitura? – perguntou Gina divertida se sentando ao lado dela

 

Hermione ergueu a cabeça para encarar a amiga, e sorriu tristemente.

 

- Nunca imaginei que isso aconteceria. – admitiu

 

Gina entrelaçou seu braço ao dela e Hermione deitou sua cabeça no ombro dela.

 

- Sempra achei que o primeiro casamento que veria de nós sete seria o seu e do Harry! – brincou a ruiva

 

Hermione riu.

 

- Você realmente sabe animar alguém! – brincou Hermione ainda sorrindo

 

- Eu sei! – disse convencida

 

Elas ficaram em silêncio por algum tempo.

 

- Nenhum de nós faz a mínima idéia do que você passou esse ano Mione! – disse Gina quebrando o silêncio – E não sei se algum dia consiguiremos entender, mas...

 

Hermione se afastou para encará-la, surpresa.

 

- Gi, porque isso agora? – perguntou Hermione sem entender

 

- Porque eu tenho medo que nós não consigamos tirá-lo de lá! – disse apresada – E se isso acontecer eu não sei se você vai aguentar!

 

Gina concluiu a encarando firme, Hermione abriu a boca, mas não conseguiu dizer nada. Ela nunca quis fazer seus amigos sofrerem mais do que já sofriam, mas sabia que mesmo assim não conseguiu evitar aquilo.

 

- Durante todo esse tempo temos sido pacientes com você, tentando fazer você entender que precisa continuar... – continuou a ruiva – Mas se o Harry não voltar Mione, dessa vez vai ser diferente! Não vamos mais ficar parados, vendo você jogar sua vida fora!

 

- Gina... – começou ela num sussurro, sua garganta ardia, ela pôs a mão sobre o peito – Você não faz idéia do quanto doía e do quanto ainda dói... – ela pausou mais uma vez, tentando respirar - ...dói não ter podido tocá-lo, beijá-lo, feito amor com ele durante todo esse tempo. Dói a falta que ele faz, e dói ter esquecido o cheiro dele, o gosto do beijo dele... E mesmo agora, sabendo que ele estava vivo, dói... tanto! Então não venham me dizer que eu devo continuar Gina, porque essa dor no meu peito me diz que sem ele não dá mais!

 

Gina suspirou e a abraçou enquanto ela enfim se deixava chorar, tinha tanto medo de perdê-la também. Já era bem difícil sem Harry, e ver Hermione parar de viver aos poucos não deixavam as coisas mais fáceis, muito pelo contrário. Mas sabia que estava sendo egoísta, sabia que se fosse com ela também não agüentaria, e talvez tivesse se entregado muito mais rápido do que Hermione.

 

- Me desculpe, me desculpe! – pediu a ruiva desesperada, enquanto o choro da amiga piorava – Eu fui idiota, eu nem sei porque disse isso, eu tenho certeza que ele vai sair de lá, eu não sei o que deu em mim! – tentou se justificar

 

Ela a abraçou ainda mais forte, se sentindo culpada. Ouviu a porta dos fundos se abrir e Mônica surgir por ela. A garota se assustou com a cena, mas em seguida compreendeu, Gina suplicava ajuda com o olhar. Mônica se ajoelhou na frente das duas e as abraçou, tinha sido um ano difícil pra todos, e só conseguiram passar por tudo porque tinham uns aos outros, e seria sempre assim.

 

- Está tudo bem Mione, falta pouco pra ele sair de lá! – sussurrou Mônica docemente - E quando isso acontecer toda essa dor vai passar, você nem mesmo vai se lembrar que ela existiu!

 

Hermione assentiu e seu choro foi diminuindo aos poucos. Gina olhou atônita para Mônica, era como mágica, em menos de um minuto ela fizera Hermione parar de chorar. Hermione se afastou para encará-las.

 

- Vocês acreditam mesmo que nós vamos conseguir? – perguntou Hermione mais calma, mas ainda abatida

 

Mônica riu, limpando as lágrimas do rosto da amiga.

 

- Eu tenho certeza disso! - disse ela

 

- Eu sabia que tudo ia dar certo no momento em que peguei aquele anel nas mãos. – disse Gina sincera, se referindo ao anel de Harry que fora encontrado em Hogsmead

 

Hermione balançou a cabeça, sem muito ânimo, mas no segundo seguinte sua expressão mudou completamente: seus olhos brilharam e um misto de alegria e surpresa invadiu sua face.

 

- Oh meu Deus! – exclamou ela

 

Gina e Mônica se entreolharam preocupadas.

 

- O que foi Mione? – perguntou Mônica se levantando, sem soltar a mão da amiga

 

- Eu sabia que não estava tão enferrujada assim! – disse orgulhosa – Eu sei um jeito de descobrir o horário!

 

- Você sabe? – perguntou Gina apresada – Como?

 

- Os anéis! – disse Hermione sorrindo – Nós nos esquecemos deles, mas eles são uma das peças não são?

 

- Sim Mione, mas como eles podem nos ajudar? – Mônica parecia irritada com a demora

 

Hermione revirou os olhos.

 

- Eles são anéis mágicos, e anéis mágicos marcam a data e a hora da última vez que foram usados! – contou com cuidado

 

As faces das duas garotas também se iluminaram.

 

- Por isso ele me pediu que eu não deixasse ninguém usá-los! – concluiu Gina em êxtase

 

- Mas porque todos? – perguntou Mônica

 

- Porque os sete anéis são um só! – concluiu Hermione – Eles funcionam juntos, e se um for usado os outros também são alterados. Apesar que cada um deles provavelmente deve possuir um horário diferente, mas se um for usado é como se a memória dos outros se alterassem também!

 

Elas ficaram em silêncio, absorvendo aquelas informações. Era a última peça que faltava, nem mesmo podiam acreditar.

 

- E o que ainda estamos fazendo aqui? – perguntou Gina se levantando – Vamos contar aos meninos!

 

As duas se despertaram e concordaram com a ruiva, seguindo-a apresadas para dentro da casa. As três encontraram os quatro garotos e Thereza sentados na sala, conversando sobre algo. Elas entraram ofegantes, e no mesmo instante Draco parou o que estava falando pra observá-las.

 

- O que aconteceu? – perguntou ele assustado

 

- Achamos um jeito de descobrir o horário exato em que o feitiço foi executado! – disse Hermione sorrindo vitoriosa

 

Hermione explicou tudo novamente, sobre os olhares atentos dos outros cinco.

 

- E você sabe como fazer pro anel mostrar o horário? – perguntou Thereza

 

- Eu nunca executei esse tipo de feitiço, no livro diz que é muito complexo, e que poucas pessoas sabem fazê-lo. Eu poderia até tentar... – se prontificou Hermione - ...mas acho que não temos tanto tempo assim!

 

Os outros concordaram e ficaram pensativos.

 

- Dumblendore provavelmente deve saber! – sugeriu Rony – Ele é muito sábio, e foi ele quem nos deu os anéis.

 

- Claro Ron! – concordou Olívio – Vou enviar uma coruja à ele agora mesmo.

 

O garoto se levantou.

 

- Tem pena e pergaminho na biblioteca Olívio. – indicou Cedrico se levantando também – Eu vou pegar Edwiges.

 

- E eu vou pegar os anéis! – disse Gina seguindo Cedrico

 

- Mônica, vocês conseguiram falar com o juiz? – perguntou Rony

 

- Enviamos uma coruja a ele mais cedo, esperamos que ele nos dê uma resposta hoje! – disse em tom preocupado – Esse casamento precisa ser realizado amanhã!

 

No instante em que Mônica terminou de falar eles ouviram um estrondo vindo dos fundos. Rony revirou os olhos, enquanto Draco e as três garotas arregalavam os olhos.

 

- Deve ser Pichi. – sugeriu ele com tédio, para alívio dos quatro – É a coruja mais desastrada que conheço.

 

- Deve ser a resposta do juiz. – disse Mônica vendo Rony se levantar

 

Ele concordou e saiu para apanhar a coruja, enquanto Cedrico voltava.

 

- Edwiges já está pronta pra partir, deixei-a com Olívio. – informou ele se sentando ao lado da noiva

 

- Concerteza Dumblendore vai poder nos ajudar! – disse Hermione ainda meia incerta

 

Rony reapareceu com uma carta, mas sem a coruja.

 

- Mandei ela levar uma carta a mamãe, precisamos contar tudo a eles. – disse enquanto entregava a carta nas mãos de Mônica – É pra você.

 

Ela olhou para Cedrico um pouco nervosa.

 

- É do juiz. – contou

 

- Então abre! – pediu ele

 

Ela abriu a carta e leu em silêncio, enquanto todos aguardavam a resposta.

 

- E então? – perguntou Draco

 

Ela levantou os olhos da carta.

 

- Amanhã às três da tarde! – disse suspirando

 

Todos ficaram aliviados, mas não sorriram, a tensão no local era nítida.

 

- Isso é bom. – disse Cedrico, mais para Mônica do que para os outros – Você pediu pra ele manter em segredo?

 

- Sim, e ele disse pra não nos preocuparmos. – respondeu a garota

 

Cedrico balançou a cabeça e ficou em silêncio junto com os outros. Ninguém falava nada, aguardavam Olívio e Gina voltarem. Olívio foi o que chegou primeiro.

 

- Feito! – disse se sentando também – Pedi a ele que viesse até aqui o mais rápido possível. Ainda é cedo não é?

 

Viu Rony olhar o relógio.

 

- São quinze pras oito. – disse o ruivo em resposta – Ele deve vir por pó de flu assim que receber a carta.

 

- Voltei! – disse Gina entrando com a caixa dos anéis nas mãos

 

- Gina, tem uma pergunta que preciso te fazer, não se sinta ofendida por favor! – disse Olívio sem perder tempo, e Gina concordou se sentando – Você tem certeza que ninguém de fato usou esses anéis?

 

- Tenho sim! – respondeu convicta - O anel do Harry ficou perdido todo esse tempo, e o garoto que o achou me jurou que não o tinha posto no dedo, e eu acreditei nele. E os nossos, bem os nossos eu me lembro muito bem a última vez que foram usados, mais exatamente quando saíram dos nossos dedos pela última vez....

 

 

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Os seis estavam na pequena saleta improvisada pra eles, entre os destroços da imensa Hogwarts. Haviam passado por uma dura batalha e venceram, mas a verdadeira guerra estava acontecendo naquele exato momento e eles nada poderiam fazer. Enquanto eles estavam ali, Harry e Voldemort duelavam no pequeno vilarejo de Hogsmead.

 

- Eu não entendo porque levar esse duelo até Hogsmead, é muito suspeito! – disse Gina preocupada – Pode ser uma armadilha!

 

- Gina não se preocupe, tem gente dando cobertura ao Harry e qualquer coisa que aconteça fora do combinado nós seremos avisados! – tentou Cedrico – A maioria dos comensais estão presos ou mortos agora, poucos conseguiram fugir, e em breve serão capturados. Mas pra tudo isso ter um fim Voldemort precisa ser destruído, e ele estava esperando por Harry.

 

Gina concordou, e olhou pra Hermione, que estava apagada sobre velho o sofá, o único que móvel no local, além de algumas cadeiras.

 

- É eu sei. – disse Draco acompanhando o olhar de Gina – Acho que a estuporei com muita força. Não sei se foi a coisa certa a se fazer.

 

- Ela deve acordar logo Draco. – o tranqüilizou Mônica

 

- E não tinha outro jeito! – disse Rony – Ela queria ir atrás dele, e Harry deixou bem claro que nos queria aqui!

 

Eles pararam de falar, e o barulho ensurdecedor daqueles corredores a minutos atrás agora fora substituído pelos lamentos das vidas perdidas, e pelo silêncio causado pela angústia da espera. Permitiram se abater por um instante, pensando no que viria pela frente, pensando se quando seus últimos homens voltassem se Harry seria um deles. Havia quase uma hora, e as notícias não chegavam. Os anéis ainda “pulsavam” em seus dedos, como sinal de que ele ainda estava vivo. Viram Hermione acordar e se sentar assustada, e em seguida suspirar em sinal de derrota.

 

- Vocês me estuporaram não foi? – constatou

 

Todos concordaram.

 

- Sentimos muito, mas foi necessário. – disse Rony indo sentar-se ao lado dela

 

- Eu entendo, eu ia fazer besteira. Vocês fizeram certo em me impedir! – admitiu Hermione – Alguma notícia?

 

- Ainda nada! – disse Mônica angustiada – Mas os anéis ainda...

 

Ela não terminou o que pretendia dizer, e jamais terminaria. Todos ficaram estáticos. Naquele exato momento sentiram aquela onda de poder deixar seus corpos, sugerindo que o anel tinha perdido uma força, sugerindo o que eles mais temiam, sugerindo que Harry estava morto.

 

- O que... – começou Hermione em estado de choque, mas sem conseguir falar alguma coisa

 

- Meu Deus! – exclamou Cedrico muito branco

 

Mônica agarrou as mãos dele, apertando-as com força. Rony  passou os braços em torno de Hermione.

 

- Fica calma. Eu...eu... – ele apenas se silenciou

 

Draco não se mexia, mas seguiu Gina com os olhos quando ela se levantou.

 

- Preciso que vocês tirem os anéis. – pediu em tom abalado, mas ainda assim muito firme – Tirem os anéis agora!

 

Todos a olharam sem entender, e Hermione enfim se despertou encarando-a em desespero.

 

- Não Gi, ele pode precisar... – começou sem nem ao menos saber o que estava falando – Harry precisa dos poderes...se nós tirarmos...

 

- Cedrico, o seu. – pediu Gina ignorando os apelos de Hermione

 

Ele a encarou, hesitando por um instante, e Mônica tirou o dela antes do que ele, fazendo-o fechar os olhos quando mais uma vez sentiu aquela sensação de poder deixando seu corpo. Ainda de olhos fechados ele tirou o dele e o entregou a Gina.

 

- Obrigada. – agradeceu a ruiva indo em direção a Draco – Amor...

 

Ele se mexeu, mas seu olhar estava distante, tirou o seu anel do dedo e antes de entregar a ela a encarou.

 

- Que diferença isso faz agora Gina? – perguntou cético

 

Ela franziu o cenho, tirando o próprio anel e esticando a mão para receber o dele.

 

- Apenas... – começou em tom de angustia – faz.

 

Ele pôs o anel sobre a palma da mão dela, e abaixou a cabeça. Faltava apenas Rony e Hermione agora. Ela se aproximou dos dois no sofá, e antes que pudesse pedir Rony tirou o dele e entregou a ela. Ela ficou com a mão estendida esperando o de Hermione.

 

- Mione, eu preciso que você tire o anel, é importante! – pediu novamente, tentando ainda se manter firme

 

- Não Gina! – resistiu Hermione – Harry precisa deles pra derrotar Voldemort! Eu não vou te dar... eu...ele...

 

Gina se ajoelhou na frente de Hermione e muito calmamente disse o que tinha que dizer.

 

- Hermione, Harry está morto!

 

- Gina... – chamou Rony

 

– Ele está morto! – continuou ainda muito calma, sem se preocupar - Você sentiu, não sentiu? Você sentiu quando ele nos deixou.

 

Hermione balançou a cabeça deixando as lágrimas rolarem, enquanto Rony a puxava para um abraço apertado. Hermione ainda esticou sua mão direita a Gina, pra que ela tirasse o anel, e Gina assim o fez, suspirando aliviada em seguida, deixando-se chorar também. A ruiva sentiu alguém levantá-la por trás e se virou para abraçar o Draco. Ele apertou-a contra seu peito, permitindo-se chorar como todos ali.

 

- Ele está morto, morto. – ouviram Hermione sussurrar, sem acreditar nas próprias palavras.

 

 

 

 

 

 

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