cap6



Acordou e olhou à volta, aquele quarto era-lhe tão familiar…tinha mais uma vez adormecido com Tiago e ele trouxera-a para o seu dormitório “Coitado anda sempre a tomar conta de mim” pensou. Um trovão reçoou, “Ainda não passou a tempestade”, tentou abrir as cortinas da cama mas elas estavam fechadas possivelmente para ela não ouvir barulho quando acordasse.

Olhou o relógio, uma hora, era tão cedo…voltou a deitar-se na cama, Tiago dormia a seu lado, uma mão por cima da sua cintura, sorriu ao ve-lo dormir. Se não tivesse sido ele provavelmente a estas horas ainda estaria a chorar que nem uma desesperada por ter visto a morte de Niera. Niera…apertou o bolso em que tinha o amuleto, tinha que conseguir encontrar os outros guardioes, era o seu dever. Mas não iria pensar nisso agora, havia tempo, pouco mas havia.

Encostou-se no ombro de Tiago e dormiu junto a ele as poucas horas que lhe restavam.

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Os olhos abriram-se de repente e olhou para o teto, suores frios correram por todo o seu corpo e ele apertou-a contra o seu corpo, ao menos tinha-a ali… ela acordou e desencostou a cabeça do seu pescoço para olha-lo.

-Tiago…já amanheceu? – ela coçou os olhos verdes com as mãos, como um bebe quando acaba de acordar e coça os olhinhos para espantar o sono.

Ele riu-se, e passou as mãos pelos seus cabelos ruivos.

-Sim, mas dorme mais um pouco.

Ela encostou-se a ele e adormeceu outra vez. Tiago saiu da cama de vagar para não acorda-la, abre as cortinas com a varinha. Ainda estavam todos a dormir, indiferentes à sua confusão e à sua inquietação.

Foi para o banheiro e meteu-se debaixo do chuveiro sentindo a agua cair-lhe sobre o corpo dando-lhe uma sensação de calma nunca antes sentida. Fechou os olhos e um arrepio percorreu-lhe o corpo ao lembrar-se do sonho que tivera. Queria que aquela frustração desaparecesse… e aqueles olhos e aquela voz saíssem de uma vez por todas da sua mente. Fechou os olhos mais uma vez e foi como se pudesse ouvir aquela voz sussurrar-lhe outra vez: “ vem ter comigo, vem! Estou à tua espera…despacha-te eu responderei a todas as tuas perguntas!”. “ que perguntas?” perguntou a si mesmo. Os olhos verdes passearam-lhe uma vez mais pela cabeça e ele desferiu um murro na parede, frustrado.

Saiu do banheiro e abriu a porta. Remo estava acordado e vestido. Sirius tinha acabado de acordar e com a cara amarrada voou para o banheiro e Pedro estava a acabar de se vestir, Lily ainda dormia.

-Ontem foi uma noite difícil… - disse Remo casualmente e sorriu-lhe cúmplice, depois apontou com a cabeça para a cama de dossel de Tiago que ainda tinha as cortinas fechadas.

-É, um bocado.

-Devias acorda-la Tiago, é melhor que ninguém saiba que ela passou aqui a noite mais uma vez…sabes como são as pessoas.

Ele abanou a cabeça afirmativamente, concordando e quando Remo e Pedro sairam Tiago acordou Lily. Ela passou as mãos pelos cabelos, bocejou, esticou-se finalmente, olhou-o.

-Bom dia – sorriu

-Bom dia… é melhor ires Lily.

-Está bem – ela levantou-se. – Obrigada – deu-lhe um beijo no rosto e saiu.

Entrou no dormitório, Ana saiu do banheiro e ao ve-la sorriu maliciosamente.

-Onde é que a menina esteve?

-Adormeci lá em baixo – e de cabeça baixa caminhou até à sua cama perguntando-se porque mentira à sua amiga – a Alice?

-A tomar banho

O silencio instalou-se. Lily deitou-se na cama, o amuleto de Niera rodando nas suas mãos, os quatro símbolos brilhando…onde estariam eles? Saberiam eles da existência dela?

***

Ela caminhava lentamente para o salão principal, desatenta. Ana e Alice tinham ido na frente ela ficara para se vestir. Estava mesmo a entrar no salão, quando alguém bate contra ela e os dois caem, os seus livros espalhados pelo chão. Ainda atordoada, olha para a pessoa e vê John.

-Desculpa – disse

-Não, desculpa, eu. Eu estava meio aéreo. – ele deu-lhe a mão para ela se levantar e ajuda-a a arrumar os livros.

Lily sorriu e já ia entrando quando ele a segura pelo braço.

-…Lily ainda não falamos desde as ferias…está tudo bem?

-S…sim – respondeu olhando nos olhos pretos ele.

-Não pareceu ontem.

-Está tudo bem John. – disse tremendo “porque estou a tremer?”

-Ok se um dia quiseres falar…- as palavras faltaram-lhe, aproximou-se dela e beijou-lhe a face. – adeus. – disse e virando costas continuou o seu caminho.

Lily atordoada, caminha até à mesa da Grifinória e sentou-se entre Tiago e Ana.

-O John Lily? – perguntou Alice

Ela corou e baixou a cabeça deixando algumas madeixas caírem pela cara.

-Não, não é nada disso.

A voz fria dele surpreendeu-a.

-Entao é o quê?

-Nós somos só amigos.

-Ah, pois é só amigos – disse e levantou-se – Vamos Sirius?

O amigo que olhava para o sumo de abóbora completamente concentrado, não o ouviu.

-Sirius?

-Sim?

-Vamos para as aulas?

-Não, eu ainda tenho que ir fazer uma coisa primeiro – disse sorrindo.

Remo levantou-se.

-Eu vou – disse começando a andar mas depois olhou para trás e ao ver que Pedro não ia, pegou nele pela capa e arrastou-o dizendo coisas como “Pedro você tem que deixar de comer”.

Os dois saíram do salão principal atrás de um Tiago emburrado.

-Eu também vou indo – disse Sirius.

Levantou-se e despediu-se de todos, depois rumou para fora do salão com um único pensamento na cabeça “encontra-la”. Não tinham combinado nada, mas ele não aguentava nem mais uma hora sem estar com ela. Dobrou um corredor e viu-a com umas amigas da Sonserina, estranhou “tornou-se social?”.
Com pressa andou até ela e deu-lhe um encontrão que a fez desequilibrar-se, mas não olhou para trás, nem a agarrou. Continuou a andar e ainda pode ouvir “Hei! Cuidado”, mas não se virou.
Virou mais outro corredor e encostou-se na parede à espera. Passado uns segundos ouviu passos e depois ela passou por ele a correr sem o ver. Agarrou-a pela cintura e puxou-a para uma sala vazia. Fechou a porta e encostou-a na parede sentindo o perfuma a rosas que dela emanava inebria-lo.

-Onde é que a menina ia com tanta pressa?

Ela olhou-o com aqueles olhos negros que o consumiam e aproximou-se até os seus narizes se tocarem. Depois, capturou os seus lábios e num segundo sentiu-se ir ao céu.

-Para quê gastar tempo com perguntas? – perguntou maliciosamente

Ele fingiu pensar por um tempo e depois abriu um lindo sorriso.

-Tens razão – agarrou-a e prendeu-a outra vez contra a parede, precionando o seu corpo contra o dela, passando as mãos velozmente pelas suas curvas, alargando o nó perfeitamente feito da gravata e beijando-lhe os lábios vermelhos com ardor, amor. Passou as mãos por entre os cabelos negros e encaracolados dela e ela deixou a cabeça pender para trás.
Olhou-o nos olhos “ isto é uma loucura” e de facto era. Dois primos encontrarem-se às escondidas para se amarem era no mínimo uma loucura. “mas que interessa isso agora?”. Fez os seus corpos rodarem e precionou-o contra a parede, sentiu que ele a enlaçava pela cintura e que ele a puxou pelo pescoço para um novo beijo, um novo tocar de lábios.
Ela entreabriu os lábios e sentiu-o introduzir a língua, explorar-lhe a boca, tentar descobrir todos os seus segredos, os seus medos. Puxou-a mais para si, tentou acabar com o espaço entre os dois e em meio a um novo roçar de línguas ele ouviu-a suspirar. E foi em meio a tais carinhos que tocou para as aulas e assustados, separaram-se, olharam-se e beijaram-se novamente.

-Quando é que nos voltamos a ver?

-Depois digo-te qualquer coisa – arranjou a saia, refez o nó da gravata, deu-lhe um novo beijo e saiu da sala.

Ele esperou uns segundos e depois saiu também rumo à sala de feitiços.

***

Estavam todos sentados e ela estava ao seu lado, os cabelos ruivos espalhados pelas costas, os olhos verdes e felinos presos às palavras do professor, enquanto a pena riscava veloz o pergaminho antes branco.

-…accio, o feitiço….entre!

A porta abriu-se e um rapaz com um sorriso atrevido nos lábios entra.

-Black, atrasado!

-Desculpe stor, não volta a acontecer.

-Sente-se – o rapaz dirigiu-se à cadeira que estava ao lado de Tiago e sentou-se. – retomando a aula… o feitiço accio é um feitiço convocatório….

-Entao, onde estiveste?

-Algures – o amigo riu-se

-Diz!

-Com a Bella e… - sorriu.

Tiago sorriu pervertidamente.

-e…

-Eu estou realmente a gostar daquela rapariga.

-O quê? – a ruiva inclinou-se para ouvir a conversa, os olhos arregalados de surpresa.

Tiago e Sirius enrijeceram.

-O quê Sirius, tu estiveste com Bellatrix Black, tu… - perdeu a voz

-Tu ouviste mal Lily – retrucou Tiago

-Não ouvi nada, foi Bella que eu ouvi, Sirius…

-Não contes a ninguém Lily, ok?

A ruiva cerrou os olhos e aos poucos começou a ficar vermelha de raiva (notou Tiago), agarrou a pena com muita força e fazendo uma força extremamente grande para não berrar disse:

-Vocês andam e ela não me disse nada…eu vou mata-la, trucida-la, mas que falta de confiança!

Tiago e Sirius pasmaram!

-Quer dizer que vocês são amigas? – perguntou um Tiago abobalhado.

-Amigas? Se nos somos amigas? Nos somos melhores amigas desde o 3º ano. – disse a ruiva esmagando a pena nas mãos - eu, ela, a Alice e a Ana.

-Como é que nos nunca reparamos?

-Porque vocês são uns tapados – cortou Lily.

Os dois emudeceram enquanto viam Lily dirigir a sua raiva para a pena amachucada que ela continuava a esmagar.

-Lily… - chamou Tiago tentando uma conversa passados minutos.

-Sim…

-Queres ir dar uma volta depois do almoço?

-Não – curta e seca

Ele aproximou a cadeira da dela e sem o professor ver passou um braço pela sua cintura e agarrou uma das suas madeixas ruivas e começou a encaracola-las. A seguir, encostou e cara ao seu pescoço e começou a respirar junto dele, da forma que ele sabia que ela detestava. Ela riu-se, deixando de lado o mau humor temporário.

-Tiago, para! – pediu

-não – disse sorrindo maliciosamente.

Ela tentou afastar-se, mas estava presa entre os braços dele que a agarravam.

-Tiago, o professor…largam-me.

-Só se disseres que vens comigo – disse agarrando despreocupadamente uma madeixa do seu cabelo.

Ela suspirou contra feita e ele riu-se, convencido, à espera da resposta dela.

-Está bem, mas agora deixa-me ouvir.

-Sim – ele afastou-se e depois aproximou-se do ouvido dela e sussurrou – eu realmente tenho muito poder sobre as mulheres.

-És um convencido.

***

Estavam todos à mesa a comer quando Lily ouve alguém chama-la e vira-se.

-Oi Miguel senta-te - disse dando espaço para ele se sentar à mesa.

-Não é preciso Lily, eu vim só dizer para ti e para o Remo que hoje à reunião da monitoria, para combinarmos os horários para as rondas, às 8:00.

E depois saiu do salão, sem sequer dar explicação. Ela olhou para Remo e ele confirmou com a cabeça. Voltou então a olhar para a comida que tinha no prato e de repente sentiu-se ser observada. Olhou ao longo da mesa da Grifinoria e viu maravilhosos olhos negros presos nela. Sorriu, ele sorriu de volta. Viu-o levantar-se e caminhar até ela. Sem saber porquê, retira a mão de Tiago da sua cintura e sentiu os olhos castanhos-esverdeados olharem-na indignado, confuso, sem perceber. Levantou a cabeça e viu-o parado à sua frente, os olhos negros brilhando.

-Posso falar contigo Lily?

Sentiu Ana cutucar-lhe e dar um sorriso malicioso.

-Cl…claro – levantou-se e sentiu Tiago agarrar a sua mão de leve.

-No lugar do costume, à mesma hora de sempre – sussurrou-lhe mas ela mal ouviu, porque não o ouvia afinal?, aqueles olhos negros e brilhantes estavam a po-la maluca, hipnotizada.

Levantou-se e seguiu-o para fora do salão principal até um corredor vazio.

Quando pararam ela quis começar de algum maneira mas não sabia como, a voz parecia ter ficado presa, mas la conseguiu falar.

-O que querias falar comigo?

Ele encostou-se na parede e começou a estalar os dedos, nervoso.

-Queria…hum…apenas perguntar se querias ir dar uma volta um dia destes?

Ela abriu um sorriso tímido e abaixou a cabeça, olhando os pés. Que dizer? Sim? Ele é muito simpático e tem uns olhos lindos mas…

-Claro, quando quiseres

-Queres ir dar uma volta pelos jardins, agora? – disse olhando-a com um sorriso enorme na cara.

-Eu…clar…quer dizer não posso

-Porquê?

-Hum…eu combinei sair com o Tiago agora depois do almoço.

Ele encostou-se à parede, olhando o teto.

-Vocês tem alguma coisa? – perguntou

Lily olhou-o como se fosse o maior absurdo que já ouvira em toda a sua vida e depois quando se ia rir, parou, reflectiu e disse:

-Não, somos só grandes amigos.

Ele sorriu – então nesse caso, fica para outra vez – disse e quando ela se ia despedir dele, tropeçou numa saliência no chão e sentiu-se cair quando foi apanhada pelos braços dele. Ele encostado a parede e ela sobre ele, numa posição no mínimo comprometedora. Ela sentiu a sua face começar a queimar e começou a olhar para tudo à sua volta, quando ele a largou.

-Entao adeus – virou-se e começou a caminhar para a saída do castelo. o caminho todo a relembrar a conversa, os olhos, os gestos dele, tudo…até que chegou lá. Adorava aquele lugar, era meio escondido, mas por isso mesmo magnifico. O lago naquela parte dos jardins era límpido, aquilo era o fim do lago e começo da floresta, ninguém lá ia tirando ela e ele. Havia umas partes em que formava pequenas cascatas. A árvore grande e nodosa, de ramos fortes completava o cenário. As folhas agora caíam, amarelas e castanhas, formando tapetes dourados no chão.

Ela sentou-se ao lado da árvore e esperou, mas ele não apareceu.
Quando desistiu de esperar, levantou-se e foi para o castelo, pegou num livro e fechou-se na biblioteca, frustrada sem saber porque é que ele não tinha ido ter com ela.

****

Ele caminhava pelos corredores à procura de algo, de um sítio qualquer onde pudesse ficar sozinho sem ninguém para perturba-lo. Virou um corredor, a cabeça doia-lhe, parecia que ia estourar. Os sonhos atormentavam-no outra vez, precisava encontra-la, rapidamente, sabia disso. Mas onde? Virou mais outro corredor e esbarrou contra uma rapariga, desequilibrou-se e só teve tempo de a agarrar antes dela cair. Abriu os olhos e ela estava à sua frente. Cabelo castanho caía-lhe aos cachos pelos ombros e os olhos castanhos eram meigos e sinceros.
A cabeça doia-lhe ainda mais agora que ela aparecera, precisava encontrar a rapariga de olhos verdes rapidamente antes que desse em louco.
Olhou-a, ela estava estranhamente calma, sentiu o corpo arrepiar-se levemente e perguntou-se porque estava a ter aquele comportamento.

-Estás bem? – perguntou-lhe

-Sim

“porque a voz dela tem que sair tão doce?”, sentiu alguém tocar-lhe o ombro e virou-se para trás ainda sem a largar.

Um rapaz alto, entroncado, de feições finas e superiores, andando esnobemente e que ele sabia ser da Sonserina, encontrava-se à sua frente.

-Longbottom…

Ele olhou-o durante um tempo e depois desviou o olhar para Alice abrindo um falso sorriso.

-Alice, que surpresa!

-Whist – a sua voz estava fria e cortante.

Miguel apertou-a mais contra si no que viu o olhar do outro preso no braço por cima do ombro dela.

-Para quê tanta agressividade, eu só te vinha dizer que os teus pais aceitaram, então até daqui a três anos querida – e olhando-a com um sorriso extremamente malicioso virou costas e desapareceu.

Ele sentiu-a desiquelibrar-se e olhou-a agarrando-a melhor. Os seus olhos estavam arregalados de pavor, ela tinha uma mão da cabeça como se fosse cair a qualquer momento e varias lágrimas caíram pela sua face. Olhou-a melhor e mesmo sem perceber porquê, ainda com a cabeça prestes a estourar-lhe, abraçou-a.

-O que se passa?

-N…nada – a voz dela estava tão tremida… ela toda tremia.

- O que é que ele quis dizer com aquilo?

-Ele…- a voz escapara-lhe e ela escondeu a cara na sua camisa, deixando ainda mais lágrimas caírem.

Sem entender o que se passava, encostou-se à parede e deixou-se cair ainda com ela colada à camisa dele e passou uma mão pelas suas costas, juntos ficaram ali na pedra fria. Ele tirou a capa e passou-a pelas costas dela. Em meio Às lágrimas, ela não dizia nada, mas ele ouvia os pensamentos dela mesmo sem querer. Tentou fechar a sua mente mas era mais forte do que ele. “ porquê eu?” “eu não quero…vou fugir”, sabia que ela dizia e sem se controlar, perguntou.

-Vais fugir para onde?

Ela olhou-o sem perceber, fazendo uma leve linha na testa e olhou-o com aqueles olhos de quem não percebe nada, tal como as outras pessoas o olhavam quando ele completava pensamentos dos outros, quando ainda era uma criança. Tentou desviar a atenção dos olhos dela.

-Como é que sabes?

-Esquece…

Ele limpou-lhe as lágrimas e levantou-se, ajudando-a.

-Estás melhor?

Ela acenou com a cabeça.

-Entao eu vou indo, se precisares de alguma coisa – sorriu-lhe e deixando-a para trás, virou o corredor.

Mal sabia ele, que sentada encostada à parede, Alice ainda chorava desesperadamente tentando encontrar uma solução contra o maldito destino.


***

De vagar caminhava pelos jardins tentando esquece-lo, esquecer o seu olhar, o seu sorriso, o seu toque. O seu corpo levava-a sem direcção.
Onde estaria ele agora? Talvez com ela, abraçando-a, tocando-lhe os cabelos sedosos. Sorrindo-lhe e sussurrando-lhe palavras que ele dizia ser amizade, palavras de carinho, de compaixão, de brincadeira. Enquanto ela estava ali, sozinha, caminhando sabe-se lá para onde. Sentiu a inveja invadi-la e um buraco apoderar-se do seu coração, querendo ficar com ele. Sorriu e abanou a cabeça, como poderia ter inveja de uma amiga?

Estava mais ou menos na orla da floresta proibida e a correr, dela sai um pequeno veado ferido. O pequeno ajoelha-se no chão quase sem forças e olha-a tentando caminhar para trás, para se proteger.
Era tão pequeno e puro, sem malícia alguma, apenas o instinto o seguia, tentand afasta-lo do mal. Olhou-o nos olhos vítreos, para passar-lhe calma.
Encarecida pelo pobre animal, tentou ajuda-lo, mas quando o tocou um flash passou na sua cabeça e ela viu-se outra vez naquele lago com aquela roupa vermelha. Ao mesmo tempo uma dor lancinante cortou-lhe a pele e no seu pulso, uma cruz apareceu deixando a sua pele em carne viva.

O veado tinha fugido, o rastro de sangue ainda se via mas ela decidiu não segui-lo, talvez com medo do que lhe pudesse acontecer. Sentiu-se como se todo o calor do seu corpo tivesse desaparecido e deu um passo para trás, para se encostar a qualquer coisa mas nada avia e ela sentiu-se cair. Quando já quase sentia o chão, sentiu alguém agarra-la e apanha-la antes dela fechar os olhos. O seu ultimo pensamento: porque é que ele não esta comigo?

***

Abriu a porta e sentou-se no parapeito olhando os pássaros voarem em direcção ao sol poente. Tirou um cigarro do bolso e acendeu-o. Inalou o fumo e soltou-o pela boca. Encostou-se à parede fria.

Sentia ciúmes dela, sabia que não podia, mas era incontrolável, irresistível, era mais forte do que ele. Ela era só dele, a sua bonequinha, o seu anjo ruivo, a pessoa que passara com ele todos os momentos, não questionando as suas acções, apoiando-o acontecesse o que acontecesse, ela era a sua irmã…irmã, era assim que antes pensava nela, mas e agora?

Abanou a cabeça, ela era e seria para sempre a sua irmã, mas não podia ignorar o sentimento que se apossava dele, a vontade que tinha de partir a cara do outro quando o viu abraça-la como ele a abraçava, quando o viu olha-la nos olhos como ele fazia com ela, quando teve a certeza que ele iria capturar a alma do seu anjo ruivo… rouba-la dele. Queria tanto ter chegado lá e partir-lhe os ossos todos, faze-lo ver que com ela ninguém mexia, ninguém! Ela era só dele…

Atirou a cinza pela janela e com raiva levou outra vez o cigarro à boca. Estava aborrecido com ela, como se deixara enganar por aquele rapaz? Como é que ela se pode ter esquecido dele? Ela era só dele, tinham jurado amizade eterna, será que não se lembrava?

Observou o relógio que ela lhe tinha dado… este brilhava, ela queria falar com ele, encontra-lo. Provavelmente saber porque não fora ao encontro que tinha marcado com ela, debaixo da arvore deles.
Passado um tempo a porta da sala de Astronomia abriu-se com violência e ela entrou. Madeixas ruivas caiam-lhe pela cara, os seus lábios estavam secos e a boca aberta, respirava ofegante. Pousou uma mão na porta para se apoiar e depois caminhou até ele. Ele viu-a abrir a boca para falar, mas ele soprou-lhe o fumo para a cara e riu-se por dentro ao pensar no quanto ela não gostava que ele fumasse.

Ela fechou a boca e sentou-se no parapeito virado de frente para ele. Ele ignorou-a, como sempre fazia quando estavam chateados. Levou o cigarro à boca uma ultima vez, soltou o fumo e apagou o cigarro.

-Vais falar? – o seu tom de voz era frio, ela estava cheia de vontade de gritar.

Ele nem a olhou.

-Porque é que não foste hoje?

-Talvez porque pensei que estivesses ocupada

-Ocupada? Ocupada com o quê? – perguntou confusa.

-Não sejas mentirosa, tu sabes muito bem, podias era ao menos ter confiado em mim e contado…

-Contado o quê?

-Que andavas com o Colt! – disse enfurecido

-Mas eu não tenho nada com ele – retrucou

-Eu vi-vos aos dois. – disse mexendo nervosamente no cabelo.

Entendendo tudo Lily não aguentou e riu-se. Estivera o dia todo a pensar porque é que ele não tinha ido ter com ela e saber que tinha sido por isso, por ciúmes, realmente era hilário. Olhou para ele, ele não gostara que ela se tivesse rido. Aos poucos acalmou-se e conseguiu falar.

-Eu não tenho nada com ele, não aconteceu nada. Eu só escorreguei e ele apanhou-me.

Ele virou a cara e observou o céu, custava-lhe aceitar aquilo. Ela pousou uma mão na sua cara, obrigando-o a olha-la.

-Não acreditas em mim?

Ela olhava-o assustadoramente perto, os olhos verdes brilhando intensamente. Oh malditos olhos verdes! Quis virar a cara mas não conseguiu, os seus olhos não deixavam.

-acredito.

Ela abraçou-o com força e ele abraçou-a de volta. Onde estavam as forças para poder dizer que a adorava, e que a queria só para ele? Onde estavam as forças que ele juntara o tempo todo para lhe dizer que ela era a pessoa mais importante da vida dele?

Ela afastou-se rapidamente e ele viu nos seus olhos que ela lhe queria dizer alguma coisa.

-O que se passa?

-Eu esqueci-me completamente…a Ana ela está na enfermaria.

Ele ficou tenso de repente. Levantou-se a correr do parapeito e saiu porta fora a correr com ela atrás nos calcanhares.

-Como?!

-Eu não sei, ela desmaiou, levaram-na para lá.

-Mas ela está bem?

-Acho que sim.

Eles chegaram na enfermaria, rapidamente ele abriu a porta. Ela dormia toda encolhida, o cabelo escuro espalhado pela cara. Ele aproximou-se da cama dela e fez-lhe uma festa no cabelo. Depois sentou-se numa cadeira e esperou.


****

Acordou e viu-se na enfermaria, abriu as cortinas e sentados numa cadeira a dormir ela viu Tiago e Lily, ela com a cabeça no ombro dele e ele com uma mão na cintura dela.
Voltou o olhar para a outra cadeira e viu dois olhos azuis presos nela. Ao principio assustou-se, depois silenciosamente dirigiu-se até ele.

-devias deitar-te – ele disse – ainda estás fraca.

Ele levou-a até à cama e ela sentou-se sem forças para contestar.

-Como é que eu cheguei aqui, o que aconteceu?

-Eu trouxe-te, agarrei-te quando ias a cair.

-O que aconteceu?

Ele olhou para o chão – vou chamar a Madame Pomfrey

Sem lhe dizer mais nada, virou-lhe costas e foi ter com a enfermeira, avisar-lhe de que ela já tinha acordado. Passado uns segundos voltou.

-Sente-se bem?

-Sim – disse olhando para a senhora sem perceber nada, o que se passava afinal? Ela só tinha desmaiado, talvez por não comer como devia. Porque a olhava ele como se não fosse normal?

Ela deixou que a enfermeira a examinasse e depois, ao ver que estava bem deixou a sala dizendo que ela dormiria ali aquela noite e depois teria alta.

-Remo…o que se passou?

-N… - mas ele não pode acabar porque Ana foi esmagada por Lily que se atirou a ela num abraço.

-Estas bem?

-Sim…

Tiago correu para ela também e abraçou-a.

-Não nos dês outro susto desses – disse com um tom severo mas preocupado.

Ela engoliu em seco e abanou com a cabeça.

-Esta tudo bem

Ele acenou que sim com a cabeça, deu-lhe um beijo na testa.

-eu vou indo, ficas bem? – disse Tiago

-Claro, não se preocupem

-Vens Lils? – perguntou, ela acenou com a cabeça e abraçou Ana.

-Vemo-nos amanha…Remo vens?

-Eu já vou.

Lily e Tiago sairam da enfermaria e Remo sentou-se numa cadeira. Ela ficou a olhar para ele, sem saber o que pensar. Os olhos azuis claros observavam-na com atenção à espera que ela dissesse alguma coisa, mas ela não sabia o que dizer. Sentou-se na cama e o silencio tornara-se pesado, era tudo muito estranho e tinha tudo acontecido rápido de mais. Olhou o pulso, estava enfaixado. Tentou tira-lo para ver a marca da cruz para interiorizar que todos aqueles lapsos não eram sonhos.

-Não tires! – disse-lhe rapidamente com uma voz profunda.

Ela olhou para ele, todo ele parecia cansado, cansado de alguma coisa, de uma situação. Olhou-o nos olhos azuis, eram profundos e para ela como um espelho. Ela não percebia porque mas sempre que olhava para os olhos daquele rapaz, do amigo do seu primo, da pessoa que conhecia à cinco anos mas que nem tinha grande intimidade, via neles primeiro de tudo uma grande amargura, depois…ela conseguia ler-lhe os olhos, ver tudo o que quisesse, sentia como se o conseguisse controlar e isso incomodava-a. Quando estava sozinha, sentia os olhos dele perseguirem-na, odiava aquela sensação de saber que havia alguém que sabia sempre onde ela estava, mas não conseguia deixar de se sentir bem por alguém se preocupar com o que quer que seja em relação a ela.

Naquele momento, no entanto os seus olhos estavam escuros como se uma sombra os perseguisse, como se ele quisesse fechar a sua mente a ela.

-Para! – disse-lhe outra vez quando ela tentou tirar a tira de pano que lhe cobria o pulso.

-Porquê? Eu só quero ver. – disse tentado tirar.

-Não faças isso… - ele levantou-se e agarrou-lhe os braços.

-Deixa-me Remo, eu quero ver como está.

Ele largou-a e sentou-se ao seu lado na cama, olhou a parede.

-Tira mas depois não te queixes.

Ela aquietou-se e desenfaixou o pulso. A cruz mantinha-se ali viva, em carne viva. Já não lhe doia mas ela tinha permanecido ali para ser lembrada eternamente. Quem lhe fizera aquilo? Porquê? Como? O que era quilo afinal? O que se passava com ela?
Sentiu uma vontade enorme de lhe tocar, de tocar aquele desenho imprimido a frio no seu pulso, esticou a mão… mas ele agarrou-a.

-Para! Não toques!

Ela enfureceu-se.

-O que se passa afinal que eu não sei? O que se passa comigo que eu não sei mas tu sabes? Diz-me Remo!

Ele desviou o olhar para o chão.

-Diz-me, eu preciso saber – pediu.

Ele abanou a cabeça – eu não posso dizer, desculpa.

-Porquê é assim tão mau?

Ele continuou a olhar o chão, sem responder. Ela dirigiu outra vez o seu olhar para a cruz e esticou o dedo para lhe tocar. Ele ao se aperceber, olha rapidamente para ela. A ultima coisa que viu quando tocou a cruz foi os olhos dele arregalados, mostrando um pavor nunca visto. Depois, sentiu-se ser transportada para outro lado, sombras perseguiam-na, vozes sussurravam à sua passagem, o frio entranhava-lhe nos ossos. Começou a caminhar e ao longe viu uma pequena luz, correu. Uma mulher sentada numa cadeira belamente ornamentada por símbolos góticos, olhava-a maliciosamente. Os seus cabelos completamente loiros, caiam em cascatas pelas costas, os olhos azuis claros resumiam o mal que havia no mundo. Ao seu lado, um homem também belo de cabelos negros e olhos azuis claros, sentava-se também numa cadeira parecida à da rapariga. Sem saber porquê, viu-se ajoelhar perante eles, à volta as sombras ainda a rondavam.

A mulher levantou-se e caminhou até ela.

-Levanta-te –ela levantou-se e olhou a mulher à sua frente – eu sou Luna. Mostra o teu pulso. – ela mostrou e a mulher tocou-lhe a cruz provocando-lhe dores horríveis.

Ela tentou-se soltar mas não conseguia.

-Olha para mim filha das trevas. – ela olhou. – as trevas são a tua casa, elas…

Mas ela deixou de ouvi-la nitidamente, de repente era apenas um sussurro. No fundo da sua cabeça sabia que alguém a puxava para fora daquele mundo de escuridão, mas aquilo doía. Aquela luta entre a mulher e a pessoa que tentava fazer com que ela saísse provocava-lhe dores horríveis.

-As trevas são a tua casa….

“Não a ouças, volta Ana, volta!”

-As trevas….

“Ana fecha os olhos, concentra-te, agora volta!”

No meio à dor ela fechou os olhos, a voz das duas pessoas que a atormentavam provocando-lhe dores horríveis mas soando como sussurros.
Abriu os olhos.
Remo estava à sua frente, as mãos dele estavam nos seus ombros e ele respirava rapidamente e com dificuldade, no entanto os seus olhos mostravam preocupação.
O seu corpo doía horrores como se a tivessem torturado, sentia a cabeça doer-lhe e aquela sensação de que alguém a tentava invadir. Luna…era ela.

Remo olhou para ela e segurou a cabeça dela com as duas mãos, fazendo-a olhar directamente nos olhos dele.

-Vai-te embora - disse e ela sentiu a cabeça esvaziar-se um bocado enquanto o corpo ainda lhe doía.

Ele abraçou-a com força e ela deitou a cabeça no seu ombro, chorando. Não percebia o que se passava, o que aconteceu com ela? O que lhe tinham feito, o que ela era? Nada fazia sentido.

-Calma…já passou.

-O que se passa Remo? Porque é que estas coisas estão a acontecer?

Ele enfaixou-lhe o pulso outra vez enquanto ela chorava.

-Tem calma, vai tudo resolver-se mas eu não te posso contar o que se passa agora para a tua própria segurança. – Ele suspirou – estas melhor?

-Dói-me o corpo todo

-deita-te tenta descansar.

-Eu não vou conseguir dormir…e se ela vier outra vez? E se…

-Chssss – ele pos um dedo sobre os lábios dela – não vai acontecer nada, eu fico aqui. – disse e sentou-se na cadeira ao lado dela, acariciou-lhe os cabelos. – tens medo? – perguntou-lhe

-Tenho, mas não sei do quê.

-Não tenhas, só promete que nunca mais tocas na cruz.

Ela fez que sim com a cabeça.

-Óptimo agora descansa. – ele deu-lhe um beijo na testa e ela encostou a cabeça no peito dele. – vai tudo ficar bem…tudo.


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