Capítulo TRÊS



CAPÍTULO TRÊS (Conversas na biblioteca)

Lily apontou para uma mesa perto de uma grande janela e rumou para lá, seguida de um James calado. Sentaram-se em seguida. A ruiva demorou muito a se manifestar... Sentia seu rosto vermelho devido aos olhões grandes que James fazia para ela. O tom de voz saiu baixo, quase frio:

- Eu agradeço por ter vindo - começou ela. - Escolhi a biblioteca para que você, principalmente, não se exalte. Madame Pince está ali de olho em nós - ela apontou para a bibliotecária que, conforme Lily tinha acabado de dizer, estava espreitando o casal.

- Eu tenho que falar Li...

- Apenas eu falarei, Potter - Lily interrompeu categoricamente, estreitando os olhos. - Se você tiver algo para me falar, este algo só será ouvido depois que eu teminar.

O jovem assentiu e depois colocou a mão para segurar a cabeça. A ruivinha, por sua vez, esboçou um pequeno sorriso no rosto. Gostou da postura que o garoto encarou como sendo a melhor para ele. Tamborilando os dedos na mesa, ela continuou com o seu discurso:

- A questão que me levou vir até aqui com você, Potter, é de extrema delicadeza. O fato é que haverá um ponto final nessa atribulada convivência entre nós dois. - O jovem quis protestar, porém a garota prosseguiu tornando o seu tom mais incisivo. - É visível o seu amor por mim. Não me gabo por isso e nem me gabarei. Esse sentimento, que não sei se é realmente verdadeiro, está me deixando com mais dor de cabeça do que nunca... A começar pelo incidente no salão comunal agora a pouco.

- Uma pedra? - exclamou James, quebrando a barreira de Lily.

Madame Pince levantou a cabeça e fitou os dois jovens assustadoramente. Sua expressão era horrorosa e seu "psiu", que foi solto no momento seguinte, estridente. Lily acenou para bruxa em sinal que não mais iria se repetir o infeliz "barulho".

- Não escolhi este lugar por mero acaso, Potter - sussurrou Lily entredentes.

- O que essa corujona pensa que é? - interrogou James, encarando a bibliotecária impiedosamente.

- Ela é a bibliotecária de Hogwarts e está no direito de nos censurar caso ultrapassarmos os limites estabelecidos pelo regimento da biblioteca. - Lily pausou. Depois de um suspiro longo prosseguiu: - Não quero ver você mais me interrogando sobre os meus atos como o exemplo dessa... Potter, está me ouvindo?

O garoto não olhava para ela, mas respondeu que estava ouvindo tudinho e depois, mudando de assunto brusacamente, discorreu sobre o regimento da biblioteca... Foi aí que Lily quase gritou, porém no último instante ponderou o grito:

- Não quero saber se você é contra ou a favor do regimento da biblioteca! Não estamos aqui para isso... - Ela colocou a mão no rosto, completamente nervosa. James Potter tinha o mau hábito de não prestar atenção nas coisas e Lily sabia disso. Ínumeras eram as vezes que os professores tinham que censurar o modo que o garoto se comportava nas aulas... Ora ele ficava em devaneios, ora conversava com os colegas. No entanto, ela tentaria uma conversa civilizada.

- Potter! Pelo amor que você tem por Merlin pode fazer o favor de me escutar? - indagou ela, depois de um tempo.

James concordou com uma balançar de cabeça descompassado.

- Pois bem - disse ele. - Mas saiba que eu te amo.

- Então não diga nem mais uma palavra - murmurou Lily de volta. - Sabe, estou levando esta conversa, ou melhor, este princípio de conversa de uma forma gentil. Não estou aqui para brincadeiras. Veja que estou disposta a um diálogo... Você tem que entender, Potter, que nós namoramos (um pouquinho, é verdade) mas o namoro já acabou... Tudo por culpa sua, é claro.

- Você ficou muito carrancuda depoios daquele Baile de Inverno - James observou, tristonho.

- Você me traiu naquele Baile... Aos beijos com aquela francesinha da Sonserina! Uma vozinha aqui dentro da minha mente - apontou ela para a cabeça - tinha me alertado que você não era uma boa pessoa. Entretanto, não segui o conselho que ela propôs e que foi que deu? Traição! Vi com os meus próprios olhos você aos beijos com aquelazinha... Descobri o quão mentiroso você é!

Ela parou, afim de tomar o fôlego. James, por sua vez, permaneceu calado ante o brilho de decepção que os olhos da ruiva refletiam. Lily Evans o amou, mas não o amava mais...

***
- Aluado, não quer ver o nosso casal? - Peter Pettygrew perguntou, quase sussurrando, para um afastado Remus Lupin.

- Pare de falar, Rabicho! - resmungou Sirius Black. - Eles podem nos ouvir!

Remus apenas sorriu. Aquela cena hilária poderia ser retrada por uma boa fotografia. Sirius e Peter estavam agachados no chão, tentando ver e ouvir a conversa de um casal sentado mais adiante. Estavam atrás de uma prateleira e, de quando em quando, espichavam o pescoço para ver James e sua eterna amada num aparente diálogo pacífico.

- É uma pena que eles falam tão baixinho! - resmungou Peter mais uma vez. Sob o olhar tirano de Sirius, no momento seguinte, ele se desculpou: - Tá bom, vou ficar calado.

Era certo que tinha concordado de ir ali dar uma só espiada na conversa de seu amigo, porém Remus não quis se abaixar literalmente para estar a par da conversa. Quando chegaram ali, ele mesmo tinha censurado Sirius e Peter que aquilo era uma jogada suja. Os dois, por outro lado, retrucaram que a cabeça do lobisomem não funcionava da mesma forma que a deles e o empurrou para atrás.

O garoto decidiu sair dali, afinal não queria ouvir conversa alguma mesmo. Seus passos o levou por corredores e mais corredores de livros, manuscritos e pergaminhos importantes. A biblioteca de Hogwarts era enorme, ocupando todo o segundo andar do castelo, e era um dos lugares mais importantes do mundo mágico. Reunia exemplares que só ali possuía... Talvez fosse por essa importância enorme que Madame Pince agisse daquela forma maternal doentia.

Ele parou a caminhada para dar uma olhada num estranho livro, que chamava muita atenção em relação aos demais, na estante reservada à matéria de Poções. Era um livro grosso de capa verde e dura. Estava prestes a pegá-lo, quando ouviu um barulho que vinha do outro lado da estante. Ele correu e chegou do outro lado segundos depois. Deparou-se com uma pesada porta de madeira fechada. Por ali entrava-se para a misteriosa Seção Reservada, onde ficavam os volumes mais importantes, dentre eles livros de Magia Negra. Junto a porta, uma figura pequena tentava abrí-la.

- Ei, o que está fazendo? - perguntou Lupin, caminhando para mais próximo da porta.

A figura se virou, depois de ter soltado um ruidoso suspiro. Lupin reconheceu a figura quase que imediatamente. Ali estava a bizarra Roxana Finnes, uma garota de cabelos azuis desgrenhados e de olhos azuis reluzentes. Os lábios eram negros, devido ao fato de terem sido pintados por uma espécie de maquilagem trouxa. Sua veste amarela se balançou, quando ameaçou seu primeiro passo em direção ao grifinório.

- Roxana?

- Olá, Remus! Eu... eu... estou surpresa por vê-lo.

- O que estava tentando fazer? - indagou Remus, confuso. - Por trás desta porta está a...

- Seção Reservada - completou Roxana, após um sorriso. - É estranho, não? O que Roxana Finnes estaria tentando fazer? - Sua expressão sofria alterações de espanto um tanto quanto exageradas.

- Uma boa pergunta - observou Remus.

Ela correu até o garoto, abraçando-o por fim. Deixou-se deslizar pelo corpo do grifinório até o ponto de encará-lo.

- Não faça mais perguntas... - sussurou ela, encantadora. - Nunca faria algo que poderia prejudicar Hogwarts... ou você!

- Eu... eu...

Roxana desgrudou de Remus. Estendeu a mão para o garoto, como se fosse uma dama, e disse:

- Poderia me levar daqui, meu cavalheiro?

Ele, por sua vez, colocou a mão dela por entre as suas. E não se fez mais perguntas.

***
Bellatrix deu um forte encontrão em alguém, quando virou a esquina do corredor, caindo pesadamente no chão. Ergueu-se rapidamente, pronta para esmurrar o infeliz ou a infeliz que a fez cair. Soltou um grunhido de raiva ao perceber quem tinha sido o responsável. Rodolphus Lestrange sorria para ela.

- Do que está rindo? - indagou ela, friamente.

- Do destino, minha Bella - Rodolphus respondeu. - Você tinha escapado de mim, mas o destino fez com que nó se encontrássemos numa esquina das masmorras. Não é divertido?

- Não vejo diversão nisso.

O setimo-anista da Sonserina de um passo em direção a Bellatrix. Sua expressão calma tinha se transformado numa outra bem diferente. Ele tomou o braço da garota violentamente e gargalhou.

- Não está se sentindo como antes, Bella? Toda cheia de si, pensando que eu sou um tolo capacho nas suas mãos... Definitivamente não sabe com quem está falando. - Ele apertou mais ainda o braço de Bellatrix, depois de um sorriso.

Bellatrix não disse nada, mas seu rosto contorcia de dor. A mão de Rodolphus, além de ser enorme, tinha uma força descomunal.

- Queria tanto um beijo seu, sabia?

- Eu... eu não vou... sujar minha boca! - vociferou Bellatrix, tentando conter a dor. Era uma pena que sua varinha estava fora do alcançe de suas mãos.

Rodolphus arqueou as sobrancelhas e semicerrou os olhos. Forçou o corpo da Sonserina para mais próximo do seu e gargalhou mais uma vez.

- Tenha cuidado com o que fala, minha Bella! - alertou ele, ainda rindo.

Aproximou sua boca carnuda e vermelha para perto do rosto de Bellatrix. Ela, por sua vez, tentou se safar daquele beijo eminente. Já muito próximo aos seus lábios, a garota resolveu parar de lutar. Beijou-a. Um beijo rápido, pois Bellatrix mordeu os lábios de Rodolphus, fazendo se largar dela um segundo depois.

- Bellatrix... - murmurou Rodolphus, contendo ele agora a dor.

A quintanista gargalhou e correu dali.

***

- Fiquei doente bem no dia do Baile de Inverno e por isso tive que ficar na Enfermaria, sob o olhar ferino de Madame Pomfrey. - Lily parou, passando a mão no olho para tirar algo que incomodava. Por fim, tirou e voltou a fitar James. - Deixei você livre para ir ao Baile, porque não queiria vê-lo infeliz, por causa de minha prostação. O que você fez?

- Ela...

- Cale-se - gritou Lily, perdendo o controle. Ela olhou para a mesa de Madame Pince... Surpreendentemente, a bibliotecária não mais estava no seu posto de guarda. Voltou o olhar para James. - Cale-se, pois não quero ouvir suas desculpas. É por isso que fiquei com mais ódio de você, Potter! - O tom continuava alto, porém não de uma forma histérica. - Suas desculpas são tolas...

- Não são desculpas! - bradou James. Uma pontinha de irritação já se assomava no rosto do maroto.

- Como não? Como não? São desculpas esfarrapadas sim... Aposto que você usa estas desculpas para suas outras garotas. Oh, pois é claro que não devo ser a única a cair na infalível lábia de James Potter.

- Saiba que você me cativou, tocou meu coração! - Ele se levantou. - Foi a primeira... Agora... Agora não passa de uma franguinha raivosa. Como pude perder meu tempo com uma sangue-ruim??!!

Dessa vez, ela se levantou. Bateu com as mãos na mesa e fitou o garoto.

- Você... nunca mais me chame de sangue-ruim!! - O rugido saiu alto e vigoroso. Pela face vermelha, uma lágrima cristalina rolou.

- Vou infernizar sua vida, Evans! - falou James. - A nossa luta foi branda demais até o momento. Você e seu Ranhoso estarão sobre a minha mira a partir de agora. - Ele sacou a varinha... Prestes a soltar um feitiço na garota, uma mão segurou a varinha.

Madame Pince, mais assustadora do que nunca, arreganhava os dentes para o maroto. Em sua outra mão, ela segurava dois garotos pela gola de suas vestes. Sirius e Peter estavam petrificados... O Petrificus Totalus de Irma Pince os acertou em cheio, uma estante atrás de onde estavam.

- Não pode gritar nem usar magia na minha biblioteca, sr. Potter. - Madame Pince falou, energicamente. - Nem bater na mesa fortemente com as mãos, srta. Evans. E muito menos - olhou para os garotos paralizados em sua mão - ficarem "brincando" de ouvir a conversa alheia.

Lily soltou um gritinho de raiva.

- Você armou para cima de mim, trazendo essas figuras bestiais para ouvir nossa conversa? - indagou, olhando para James.

- Eu...

- Os quatro - interrompeu Irma Pince - vão direto para a sala da profª McGonagall, onde poderão se explicar.

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