Violet: O retorno



Dois dias se passaram e os interrogatórios de Hermione haviam começado. Como ela suspeitava, alguns desconfiavam de Harry, pois alguns pais e crianças haviam visto objetos serem levitados ou transfigurados e até mesmo pessoas dentro da casa desaparecer.

Hermione ficou meio assustada pelo fato de terem visto tanta coisa e o Ministério não ter sido notificado, o que normalmente era feito desde os tempos em que se entendia por bruxa. Respostas condenatórias eram feitas pela maioria dos vizinhos. Mas havia alguns que se interessavam pelo fato de seu vizinho ser bruxo.

- Bruxo?Claro!Maligno?Jamais! – disse Lucy, uma mulher excêntrica, mas de uma fina simpatia que trabalhava junto com Harry na loja.

- Eu já ouvi barulhos muito estranhos vindo de lá! Até mesmo meu filho foi testemunha do poder obscuro deles. Diga a ela querido! – disse Victória, a “certinha”, mas que de todos sabia, mostrando seu filho, Jacob, de nove anos.

- Mas... O que fizeram exatamente com ele? – perguntou Hermione analisando o menino, que não parecia ter nada “a mais”, até ele abaixar suas calças e mostrar um rabo amarrado à perna com fita adesiva.

Fazia apenas dois dias e Hermione parecia estar tentando há dois meses! Nunca em sua vida demorou tanto para arrecadar pistas. A única coisa de estranho foi o fato de um sapo ter expelido o anel da vítima. Isso era para ser estranho, mas como vivia no mundo bruxo, não dava muita importância ao fato. Claro, ela não o ignorava, mas não fazia alarde.

Estava interrogando mais uma pessoa para depois ir para casa. Já havia passado do meio-dia, e estava com fome. Quando passou em frente à loja de Harry, não resistiu e entrou. Apreciou os produtos e aproveitou o acontecimento e fez algumas perguntas aos funcionários que diziam a mesma coisa que o resto da vizinhança.

- Bom dia gente! – disse a voz de Harry. Hermione virou-se e viu um homem arrumado vestido de camisa social bege e jeans. A única coisa que faltava era o cabelo que continuava sempre despenteado.

- Bom dia Harry!

- Bom dia chefe. A respeito daquela encomenda das pomadas, ela está...

- Bom dia... – disse Hermione, vidrada.

- Bom dia. – disse ele ignorando o funcionário que informava sobre algo parecido com pomadas.

Foi para detrás do balcão, abaixou-se e quando Hermione pôde ver seu rosto novamente, em suas mãos segurava um belo prato de comida. Jogou um sorriso e esta o respondeu entendo o que ele havia feito.

Era por isso que todos desconfiavam dele! Quando é para disfarçar ele não o faz! Ah, se ela soubesse que ele ficou assim somente depois de sua vinda... Ela continuou sua conversa com a atendente e pegou um xampu na prateleira. Harry apenas observava tudo, comendo.

- Quanto é senhor? – perguntou ela colocando o produto a frente do almoço de Harry.

Harry sorriu e consultou livro grande e fino com capa escura. Voltou, deu mais uma garfada na comida e quando abriu a boca para falar foi interrompido por um homem alto, branco e escandaloso de vestes cor azuladas que havia entrado na loja.

- Sr. Potter, isso é propaganda enganosa! Você me disse que isso iria aliviar a minha alergia, e estou usando isso há uma semana e meia e não aconteceu nada. Absolutamente nada. Eu vou lhe processar por propaganda enganosa e... – dizia ele, gesticulando.

- Sr. Doyle, primeiramente: calma. O senhor está massageando como diz a bula?

- Sim! Eu peço ajuda à minha mulher porque eu não tenho tanta flexibilidade nos braços. E é no centro das costas então...

- Sr. Doyle, isso não é para as costas. – disse Harry num tom mais baixo. Hermione prendeu o riso.

- Como assim? Eu... – iniciou o homem.

- Sr. Doyle, não é para passar nas costas... – encarou Harry tentando não rir, mas sem tirar o sorriso que tinha no rosto.

O tal Sr. Doyle encarou Harry e seu o sorriso meio maroto e meio cansado. Respirou fundo e rapidamente recolheu o produto e foi em direção à saída.

- Obrigado e desculpe pelo incômodo. Bom dia! – disse rapidamente quase não dando a entender.

Todos os funcionários da loja começaram a rir sem parar. Harry quase engasgou com sua comida. Hermione colocava a mão à frente da boca para rir e Harry chorava de tanto gargalhar.

- São 25₤ Hermione. – disse ele rodando o canudo do suco que havia conjurado.

Hermione fitou Harry por exatos cinco segundos com os olhos esbugalhados e deu-lhe o dinheiro. Pegou a sacola e saiu resmungando.

- Que cidadezinha estranha. Todos são... E eu nunca paguei tão caro por um simples xampu! – disse ela fitando Harry e saiu.

Harry a seguiu com os olhos até sair pelo portal e no segundo seguinte saiu da loja para ir ao seu encontro impensavelmente. Puxou-a pelo braço para poder vê-la nos olhos. Olhos esses em que quando fitava via sempre aquele mesmo pôr-do-sol. Mesclados cor de mel podiam ser vistos diante de si.

- Escuta qual o seu problema? – disse ele, finalmente.

- Meu problema? Não está se tratando do xampu não é? Porque se for isto, eu repito o que disse! E é caro mesmo! – disse ela ameaçando seguir seu rumo.

- Não é isso! Você sabe do que eu quero dizer. – disse ele, fazendo-a parar e olhá-lo novamente.

Um notável silêncio entre os dois iniciou-se. Um não falaria até o outro fazer o mesmo! Não conseguiam parar de se encarar. Era impossível deixar de admirar as jazidas verdes de Harry e o doce de mel nos olhos de Hermione. Corações batendo fortemente, o sangue correndo mais rápido, aquele friozinho no estômago, lábios aproximando-se... Lentamente...E então eles...

- Pai! – gritou Lily, sua filha de 12 anos, apressada e assustada - Papai, rápido! Vem logo! Tem uma coisa estranha acontecendo com o tio Rony! – dizia Lily rapidamente, do outro lado da rua.

- Acalme-se filha, o que foi? – perguntou preocupado. A menina tomou fôlego e começou a explicar coisas sem sentido como sapos e gritos e...

- Vamos logo de uma vez então. – disse ele começando a correr.

Hermione, que havia permanecido o tempo todo calada e observando, foi atrás dos dois. Tinha que investigar o caso e ver como seu outro amigo estava. Parece que, nos momentos mais intensos de nossas vidas, os minutos e até mesmo os segundos passam mais devagar. Por mais rápido que a gente corra para alcançar determinado objetivo, nunca chegamos lá.

Essa era a sensação que Harry sentia. Corria e corria. E pensar que foram apenas quatro quarteirões... Chegando lá, notaram a casa totalmente escura. Não parecia a casa em que Harry morava. Parecia mais uma casa mal-assombrada. Só faltavam mesmo os fantasmas, se é que eles já não estivessem lá.

Entraram pela porta dos fundos, e acenderam as luzes. A cozinha estava totalmente suja e desorganizada. Hermione olhava tudo atentamente, tomando fôlego. Se estivessem pela manhã, poderia dizer que havia uma pequena quantidade de sangue no meio daquilo tudo, mas preferiu permanecer calada.

Harry não dizia nada, só queria ver se seus filhos estavam bem. Mas como dito antes, quanto mais desejamos que não aconteça, acontece. Ele deparou-se com seu filho mais novo, George, na escada. Chorando e abraçado aos seus joelhos.

- Meu filho... Está tudo bem, seu pai está aqui. – dizia ele enquanto abraçava o filho. Hermione observava toda aquela cena emocionada. Nunca havia imaginado que veria Harry fazendo isso. Tirando toda aquela situação emergencial, em sua mente já planejava ter filhos.
Mas... Voltando à realidade, subiram as escadas apressados. Harry tinha seu filho mais novo entrelaçado nos braços. Quando entrou no quarto de seu amigo Ron, viu-o deitado na cama, quieto. Olhou para Hermione e para os filhos que devolviam olhares assustados e cautelosos.

Deixou seu filho mais novo com Hermione, que prontamente o recolheu, e foi lentamente em direção à Ron. Este permanecia quieto, como se estivesse morto ou paralisado por um forte feitiço. Harry olhava para trás e seguia mais adiante, olhava novamente e seguia até parar perto de Ron.

Harry não precisou dizer nada, pois os olhos de seu amigo abriram-se rapidamente, fitando-o. Harry, assustado, regressou alguns passos. Ron não dizia nada, apenas encarava-o com seu olhar frio. Estava quase sem vida. Como se estivesse saindo de uma espécie de transe, ficou com o corpo mais relaxado e tentou levantar-se.

- Harry, me ajuda... – disse ele, quase que num sussurro.

- Oh meu Deus... – disse Harry para si mesmo.

Ron novamente ficou com o corpo duro, e levantou por completo ficando de pé frente à Harry. Este não sabia o que dizer nem para si mesmo, nem para Hermione e seus assustados filhos e nem mesmo para Ron, mas reuniu um pouco de coragem, e voz, para falar com Ron.

- Ron... Sou eu, Harry. Seu amigo. Seu velho amigo de Hogwarts. – dizia ele, tentando manter a calma. Ron riu friamente.

- Tolinho. Você é um idiota mesmo. Por que perde seu tempo com idiotas como este aqui? – disse ele apontando para si mesmo. Harry não entendia nada. Ron suspirou impacientemente e fechou os olhos novamente. Segundos depois, desmaiou.

Harry teria ido socorrer o amigo, se não fosse pelo fato de Violet Elliot estar ao lado de Ron. Esta olhava fixamente para Harry. Ele e ela começaram a andar em círculos até que ele conseguiu chegar a Ron. Abaixou-se rapidamente para ver se o amigo estava vivo.

- Não se preocupe, ele está bem... Por enquanto. – acrescentou.

- Sua... – iniciou Harry.

- Nananã-ão. Olhe a educação Sr. Potter. Além disso, temos crianças aqui. – disse ela em tom de zombaria.

Por alguns minutos, Harry havia se esquecido de que as crianças estavam ali. Olhou na direção delas, que correram em para trás do pai. Hermione tinha sua varinha apontada para a acinzentada Violet. Imitando Hermione, Harry tirou a varinha do bolso e apontou para o espectro.

Violet apenas ria. Hermione aproximava-se por trás e Harry continuava onde estava. Violet cessou os risos e ficou apenas observando os vivos.

- Violet Elliot... – disse Hermione mais próxima, chamando a atenção da morta fazendo-a virar em sua direção. – Eu sou do Ministério e...

- O que você vai fazer? Prender-me? – riu Violet. – Ai ai, vocês são idiotas mesmo. Por isso que gostam tanto do Rony...

- Não fale mal do Rony na minha frente! – disse Harry apertando ainda mais sua varinha, que só não quebrou por sorte.

- Idiota. – disse ela. No momento seguinte fez um gesto rápido com a mão esquerda e, percebendo o que faria Hermione rapidamente meteu-se entre ela e Harry.

Todos ficaram assustados ao ver a mão de Violet dentro do tórax de Hermione, que ficava com falta de ar. Estava ajoelhada e sem ar. Quando Harry ia dizer o feitiço para afastar Violet de Hermione, Violet gritou de dor. Recolheu sua mão esquerda e viu que havia se queimado.

- Sua miserável! Eu vou voltar seus porcos. Eu vou voltar e tirar a vida de vocês! – gritou ela, desaparecendo e deixando uma densa poeira para trás.

Assim como Ron, Hermione caiu, porém consciente. Harry não sabia quem olhava primeiro, Ron ou Hermione. Primeiramente iria ver Hermione, já que estava mais perto, mas mesmo assim as crianças já haviam dito que o ruivo estava bem.

- Não se preocupe comigo. Eu estou bem. – disse Hermione, entre longas inspirações de ar.

- Meu Deus... – era só o que Harry havia dito.

Ambos foram ver Ron. Colocaram-no de novo na cama e Hermione ficou ali um pouco para se fortalecer. De acordo com ela, ela havia sentido muita falta de ar e um aperto em seu coração. Mas depois sentiu que a mão de Violet diminuindo a pressão que exercia.

Depois de alguns poucos minutos, Ron acordou bruscamente. Ainda estava assustado. Conseguiram acalmá-lo com um feitiço tranqüilizante – fato que surpreendeu as crianças. Rapidamente, começou a conversar mais sorridente e mais calmo.

- Oh vida atribulada, não é mesmo? – disse ele rindo abobalhadamente no final, depois parou um pouco para pensar e riu novamente. – O engraçado é que... Eu estava aqui normal e quieto e... – mais risos -... E eu senti um calafrio. Como se eu estivesse nu no Pólo Norte! – riu novamente – Senti uma sonolência e um mal estar, então resolvi deitar. O resto não me lembro de nada.

Harry sabia que era por causa do efeito da... Mesmo não querendo admitir, tinha que fazê-lo... Efeito da possessão. Seus filhos haviam dito antes o que Ron havia feito. Realmente estava fora de si, pois o olhar era frio e a fisionomia do menino era séria.

É, parecia que todos ali deveriam usar as pulseiras da Sra. Weasley.

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