Flor que desabrocha



- Hermione? – disseram Harry e Ron em uníssono.

Os três ficaram se olhando por um breve momento. Harry e Ron, principalmente Harry, não podiam acreditar que Hermione, a bruxa mais inteligente que já conheceram em toda sua vida e recém empregada do Ministério, estava ali, encarando-os.

- Ron. Harry. Quanto tempo! – disse ela indo à direção aos amigos e lhes dando um abraço.

A rala e fina chuva começara a cair. Embora o sol estivesse mais que radiante, a chuva ameaçava engrossar. Durante os abraços e beijos, Harry pôde sentir um aroma delicioso vindo de Hermione. Seus cabelos estavam mais tratados e os cachos mais definidos, o corpo era de uma mulher já feita e o sorriso era o mesmo de sempre: o mais radiante que Harry já vira em toda sua vida.

- Vocês estão ótimos! Parece que nada mudou. – disse ela rindo e ainda analisando os amigos.

“Gostaria de dizer o mesmo...”, pensou Harry.

- Você também! Está muito arrumada e toda chique. – disse Ron, causando risos nervosos em todos.

O que falar depois de tanto tempo sem se verem? O que falar depois de rever uma amiga de infância que sempre os ajudou em todos os momentos difíceis?

- Está muito bonita. – disse Harry sem tirar os olhos de dentro dos de Hermione.

- Obrigada. – disse ela fazendo o mesmo. Ron, notando o clima, riu e saiu com a desculpa de que o cheiro do almoço estava deixando-o com mais fome ainda. E realmente, o cheiro delicioso de comida caseira era impossível de não ser notado.

- Vamos entrar não podemos ficar aqui na chuva não é? – disse Harry apontando para dentro de casa, embora a chuva nem bem molhasse direito a rua de tão fina.

- Ah sim. Claro... O cheiro está ótimo Harry, ou devo dizer... Sra. Weasley? – disse ela ao ver a bondosa Sra. Weasley esperando-a com um sorriso estampado no rosto e os braços armados e prontos para espantar a saudade.

- Hermione, querida! Quanto tempo sem te ver. Quanta saudade. Como está? Muito trabalho? – disse ela sem solta-la.

- Estou ótima, e a senhora? Também estava cheia de saudades! Se não fosse pelo trabalho iria visitá-la sempre. – disse ela notando uma tímida lágrima escorrendo pelo canto do olho de Sra. Weasley.

Depois de matar toda a saudade, Hermione conheceu os filhos de Harry e juntou-se a eles para o almoço. Elogiou Harry pela comida e começaram a conversar sobre os tempos de escola. Lily, curiosa e doida para saber um pouco mais de seu pai, continuou à mesa ao contrário de George que, entediado, foi descansar um pouco para depois procurar o que fazer.

- O Menino-Que-Sobreviveu? Pai você nunca me contou isso! – disse Lily ao ouvir Hermione e Sra. Weasley.

- Viram o que fizeram? – brincou Harry.

- Ah Harry, deixe de ser bobo – disse Hermione, que se fosse por ela ficaria ali para sempre, mas por causa de seu trabalho, teria que sair dali e dar suas explicações. – Bem Harry, infelizmente tenho que ir, mas antes preciso conversar com você em particular. E pelo que me parece, com o Ron também.

- Ah claro, tudo bem... – disse Ron pensando, sem saber, o mesmo que Harry.

- Certo, mas antes eu posso ir lá em cima...? – começou ele, mas foi interrompido por Hermione.

- Ah claro, fique a vontade. É bom que eu fico mais um pouquinho com Lily e Sra. Weasley. – disse ela.

- Tá legal... Ahn, Ron? – disse Harry ao se levantar.

- Que-merda! Droga, eu sabia que uma coisa dessas iria acontecer! – disse Ron ao chegar ao quarto acompanhado de Harry. – E logo quem eles mandam? Hein? Hermione... Ai vida...

- Calma Ron. Mantenha-se calmo! Pode deixar que eu arco com as conseqüências, afinal a casa é minha. Então é minha responsabilidade. Mas o pior – disse ele olhando para seus pés e mexendo nos cabelos de forma que ficassem bagunçados. – é que eu não consigo mentir agora! Eu poderia falar qualquer coisa, mas não! Quando ela me olha e...

Ron apensa observava. Queria rir, pois sabia o que Harry queria dizer, mas ao mesmo tempo não queria. Ele sabia o que Harry ocultava para si mesmo, mas nada dizia. E mesmo que se dissesse, seu amigo Harry, do jeito que o conhecia, iria negar qualquer gota de sentimento por...

- Hermione. Logo ela!? Estava tudo tão bem. Cara, esse Ministério não perde nada. – disse Ron.

- Eu que o diga... – disse Harry para si mesmo.

- O quê?

- Nada – disse rapidamente. – Vamos Ron, senão ela vai desconfiar.

- Eu ‘to indo... – disse Ron como se fosse uma criança.

Ao descer as escadas, Hermione se despediu de Lily e Sra. Weasley e seguiu para o jardim. Ao atravessar o portal, Harry e Ron entreolharam-se disfarçadamente para Hermione não notar, e respiraram fundo.

- E sim Hermione. Mione. Mimi! Miii – disse Ron tentando descontrair a situação, rancando olhares de Harry e Hermione.

- Enfim, vou ser bem direta. Estou aqui, pelo que já deve saber Ron, por causa da morte de Violet Elliot, sua namorada. – disse Hermione.

- Mione, hã, lembre-se do “ex”.... – sorriu Ron.

- E como já devem ter notado, eu sou do Ministério da Magia. A morte de Violet foi muito misteriosa e pelo que nos pareceu muito bem escondida... Até agora – disse ela, fazendo com que os outros dois se entreolhassem novamente. – Harry, eu posso ver as redondezas da sua casa?

- Claro. Vamos por aqui. É onde a estufa fica. – disse ele seguindo para os fundos, onde a estufa os aguardava.

- Você é do ramo de remédios, certo? – disse Hermione mais séria.

- É eu comecei logo quando vim para cá. Até me tornar um auror... Quero ficar aqui e aproveitar a minha vida com o máximo de tranqüilidade possível. – disse ele pegando sua varinha e borrifando gotículas de água nas plantas em que passavam por perto.

Hermione ficou encantada com as variadas plantas de Harry. Era como se estivesse voltando às aulas de Herbologia em seus tempos de Hogwarts. Um delicioso aroma floral era notável no lugar, deixando-o não só mais embelezado, mas também muito romântico.

- Estou impressionada Harry. Pensei que se dedicaria à vida de auror. – disse Hermione cheirando uma estranha flor rosa-azulada.

- Como disse antes, eu também, mas quando conheci a Faye, a minha vida toda mudou. – disse ele olhando fixamente para sua mão onde antes o seu anel de casamento era mantido.

- Faye? Sua...

- Esposa, é. – disse ele.

- Vocês são divorciados? – perguntou Hermione despertando seu interesse.

- Ela morreu faz um tempo. – disse Harry primeiramente olhando para baixo para depois voltar-se a Hermione com um simples, porém confortável, sorriso.

- Ah... Desculpa Harry, não queria te... – mas foi interrompida pelo indicador de Harry implantado docilmente em cima de seus lábios.

- Não, não. Não tem problema. Você apenas não sabia e... – disse ele agora se lembrando onde tinha colocado seu indicador. Observava Hermione e seus olhos castanho-brilhantes. Rapidamente recolheu sua mão e afastou-se um pouco da mulher.

- Ahn... Harry – pigarreou Hermione – você conheceu a Violet?

- Ah sim, eu a conheci sim. – disse ele pegando sua tesoura e começou a podar alguns galhos, evitando olhar nos olhos de Hermione.

- E o que você me diria dela? Assim, como era sua personalidade? – disse Hermione aproximando-se, fazendo Harry afastar-se.

- Bom ela... Ela era uma pessoa meio... Fora dos... Padrões. Nenhum de meus filhos gostava dela. Ela era meio... Tinha, aliás, NÃO tinha educação. – disse ele agora do outro lado do balcão.

Harry, nervoso, cortava onde não era necessário. Por mais simples que as perguntas de Hermione soavam, para ele era como se tivesse bebido um pouco de Veritaserum para falar a verdade. Evitava sempre que podia os olhos de Hermione, pois se os olhasse sabia que haveria um vômito de palavras. E ele não queria isso. Nem ele, nem Ron.

Passado algum tempo, Hermione terminou suas perguntas. Disse que voltaria no dia seguinte para falar com Ron. Ao ouvir isso, Harry viu que não tinha jeito. Ela realmente não se esquecera deles e de como eles eram. Por um lado isso era bom, por outro péssimo e por outro mais péssimo ainda.

Harry não queria mais pensar no que fizera a Violet. Quando estava em seu quarto, pegou sua agenda e escreveu um lembrete onde dizia: “Comprar uma Penseira. Urgente!”. Foi tomar uma ducha fria. Depois conversaria com Ron sobre o próximo interrogatório.

Se Hermione descobrisse tudo, o que fariam? Será que perderiam a amizade dela depois de tantos anos? Ah, como gostaria que um trasgo a encurralasse novamente para reatarem sua amizade. “Harry, deixa de maluquice! Agüente firme. Aliás, só porque você está meio que... Como é a palavra mesmo?” - pensava consigo mesmo. Tinha sempre um refúgio para não admitir: ou era interrompido de seus devaneios ou tentava pensar em outras coisas e parar de discutir com aquela voz irritante a quem todos chamavam de consciência.

De acordo com Freud, o pai da psicanálise, os sonhos são manifestações do inconsciente. Então não precisava se preocupar com todos aqueles sonhos em que Hermione aparecia não é mesmo? Simplesmente não. Negativo. Nada. Zero.

...

Que zero nada! A preocupação fala mais alto. Não queria ser preso. Não queria perder seus filhos. E não queria perder a chance de ver novamente a luz do dia. Não queria perder a amizade de...

- Hermione... – disse ele olhando para fora da janela em seu quarto, pensativo.


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