Sombra e Luz







Dumbledore entrou no escritório de Snape e sua mera presença teve o poder de aquecer aquele aposento. Talvez devido as suas vestes prateadas, talvez devido aos seus cabelos e barba brancos, Dumbledore refletia luz. Seus olhos azuis cristalinos faiscavam como estrelas distantes. Toda a sua figura dava impressão de majestade e luminescência como se a atestar o grande poder que aquele bruxo possuía.
Dumbledore sentou-se em outra poltrona, com um gesto de sua varinha, a chaleira serviu uma nova xícara, sozinha, e flutuou em direção a ele. Ele provou do chá e uma expressão de prazer transpareceu em seu rosto cheio de vincos e rugas.
Snape fixou seus olhos frios no Diretor da escola. Respeitava aquele homem. Somente em sua presença sentia que havia um poder no mundo muito maior que os homens e suas ambições mesquinhas. O poder do bem. Ele, Dumbledore, sem dúvida era o herói de seus compares, e um exemplo a ser seguido por todos os bruxos.
Mas voltando à vida cotidiana, tanta magnificência não alterava as perspectivas da vida dos homens amargurados e desiludidos como ele próprio, Snape.
_Imagino o que prenderia a sua atenção neste fim de tarde, Diretor.
_Sem dúvida nenhuma o seu gosto refinado, Severo. Garantiu-me que eu provaria um excelente chá, se viesse aqui esta tarde.
_As luzes do firmamento parecem refletir na sua figura, Senhor. (Disse Snape com uma ponta de irritação na voz, que não passou despercebido de Dumbledore).
_Espero que o excesso de luzes não venha ofuscar a suave iluminação do seu recinto, Severo. Imagino que este abajur seja de vossa mãe.
_Sim.
_Grande Pianista. Eu tive o privilégio de ouvi-la certa vez.
_Minha mãe já é falecida Senhor. Mês passado depositei flores em seu túmulo. (Disse Snape com uma inflexão grave na voz).
_Sempre me admirei que você não tivesse herdado o mesmo talento musical de sua mãe, Severo. Seria de grande utilidade no coro da escola.
_Imagino que meus conhecimentos no preparo de poções não estejam em seu agrado Diretor, a ponto de mandar-me para o coro da escola. (Disse Snape sério, mesmo sabendo que aquilo fora uma piada).
_São de meu inteiro agrado sim Severo. Não tenha nenhuma dúvida disso. Deve me perdoar as sandices da idade.
_Mesmo em suas sandices Diretor, o senhor é o homem mais inteligente e melhor estrategista que já conheci. Muitos bruxos gostariam de Ter um pouco de vosso miolo mole, se me permite a expressão.
_Pela primeira vez escuto um gracejo seu Severo. Faz bem a alma, devia rir um pouco.
Snape rolou os olhos e esforçou um esgar de sorriso no rosto enrijecido. Sentiu-se ridículo com aquilo. Perturbado levantou-se da poltrona e arrastou-se até a chaleira para pegar mais chá. Sabia que poderia tê-lo feito com a varinha, mas de outra forma, não conseguiria interromper aquele diálogo inútil com Dumbledore.
_Veja Severo, o sol se pôs. Os insetos em breve procurarão um substituto do astro-rei e ficarão inutilmente rodeando as luzes externas do castelo.
Snape sentiu como se o tivessem beliscado. Esquecera-se de fechar a mente em presença de Dumbledore. Ele havia percebido o seu pensamento.
_Desculpe-me Diretor se estou menos cordato esta tarde. Perdoe-me por alguma aspereza. (Disse o mais delicadamente que conseguiu, embora ainda soasse rascante).
_Não tem sentido sofrer tanto Severo, houve bons momentos também. Seria mais produtivo relembrá-los em vez de remoer fracassos.
_Não sabia que meus pensamentos voavam assim tão longe.
_Voam.


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