A hora do chá




FANFIC: A HORA DO CHÁ



A chaleira com água estava apitando sobre a mesinha no canto da parede. Fora magicamente fervida.
O homem alto e com o rosto enrugado levantou-se de sua poltrona de espaldar macio e enfeitado de rendas. Pegou a chaleira e serviu uma xícara de chá. Adoçou e levou a xícara consigo de volta a poltrona.
Fosse porque a xícara tivesse um peso enorme, fosse porque o peso dos anos era quase insuportável, aquele homem andava arrastando os pés de botas negras, como negros eram suas vestes, os seus cabelos e olhos.
Sozinho na sua sala, mexendo devagar na xícara de chá, ele piscou, lembrando de tempos antigos, quando era jovem, enérgico, e tinha uma grande sede de poder. Uma gota de chá fervente pingou em seu dedo. Ele voltou ao presente e imaginou se não fora uma gota de lágrima que lhe caíra dos olhos. Mas ele não era um homem de lágrimas, tampouco era um homem de ação, era mais como um ator.
Já não sabia mais onde começava seu verdadeiro eu e onde terminava o seu eu de fachada. No passado, um desses eus se enamorara de uma bela jovem: a pele alva contrastando com os cabelos negros, os olhos, crentes, cândidos e iludidos. Era magra e tênue como uma flor, e de alma igualmente tênue que reagia aos sentimentos como uma rosa ao sabor do vento.
Lembrava-se do beijo dela, molhado, quente, suave. Com os olhos piscando e as mãozinhas trêmulas. Lembrava-se de ter sido terrivelmente ríspido e cruel com ela, ao dizer-lhe que não desejava mais tornar a vê-la. Naquela época achara que tivera muita força de vontade e caráter ao conseguir separar-se de tão angelical e maravilhosa criatura.
Agora percebia que havia sido apenas um crápula. Naqueles tempos, o sofrimento que tanto a transtornara, como um vendaval no roseiral, parecera-lhe apenas fraqueza moral e debilidade mental. Percebia agora tardiamente, que alguns tormentos têm o poder de destruir uma pessoa.
De volta ao presente achava-se ali agora, sozinho, bebendo chá, sozinho, ouvindo seus pensamentos, sozinho.
De que lhe adiantara tanta engenhosidade, tanta determinação, tanto sangue frio e tanta frieza de alma?
Provou do chá, estava insuportavelmente doce. Puxou a varinha e tocou a xícara com ela. Provou do chá de novo. Estava sem sabor. Tomou um grande gole. Sua vida era insípida, somente chás insípidos eram suportáveis.
Gostaria de ser jovem novamente, com grandes expectativas, sonhos e uma vontade de dobrar o mundo a sua maneira. Mas já não era assim. Não havia mais nada no seu futuro.
Alguém bateu a porta. Ele sentiu a presença, a onda de energia que emanava daquela pessoa. Já sabia quem era antes de abrir a porta.
_ Algum problema Diretor?- inquiriu o homem de alma negra ao velhinho de barbas brancas, vestes prateadas, e longos cabelos brancos, a sua frente.
_ Achei apenas que talvez pudesse compartilhar à hora do chá com o senhor, Professor Snape.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.