Felicidade! Liberdade!
No meio da escuridão, do silêncio, Harry perguntava-se o que era aquilo… talvez, talvez ele tivesse morrido… Mas então porquê?
“Porque a ligação com Voldemort era forte, talvez.”
Sim, talvez…
Estava naquilo havia muito tempo, não sabia À quanto tempo exactamente, mas havia algum…
Tentava mexer-se, abrir os olhos, mas não conseguia, o corpo não lhe obedecia… Sentia a força da vontade nos músculos, mas estes pareciam dizer-lhe “não, agora não!”
Já não aguentava aquela quietude, aquele silêncio ensurdecedor e daquela escuridão onde nada conseguia avistar, nem uma única luz ao fundo…
“oh, estarei eu a sonhar, não! Eu já não sonho! É mesmo! Uma porta?” De repente começou a sentir o corpo e poder mexe-lo.
Lá ao fundo uma linha ténue de luz esverdeada desenhava um rectângulo. E então a porta abriu-se e a luz recheou o interior do rectângulo. Iluminou também uma boa parte das redondezas, havia borrões ou sombras indistintas a movimentar-se em direcção àquela porta… O que era aquilo, para que mundo dava ela passagem?
E então uma silhueta bem delineada apareceu do outro lado da porta, parecia uma mulher, ao lado da mulher apareceu outra silhueta, e outra, as duas de homem. Saíram da ombreira da porta, que mais parecia uma moldura e caminharam até ele.
- Olá, querido! – cumprimentou a mulher.
Lilian Potter era uma mulher de altura mediana, magra e bonita, com uns olhos verdes e um cabelo ruivo escuro.
- Como vão as coisas, filhote? – perguntou um dos homens dando-lhe uma palmadinha amistosa no ombro.
James Potter era um homem alto e bem constituído, com o cabelo preto sempre em desalinho e olhos castanhos claros, era bem-parecido.
- Bem, bem, bem! Se não é o meu afilhado favorito! – disse o outro homem.
Sirius Black, após 12 anos de Azkaban, três anos de fugitivo não ajudaram em muito a re-ganhar a beleza natural dele, nem a engordar o que devia! O cabelo preto comprido já apresentava alguns brancos, e os olhos negros eram sempre calorosos!
- Ele é o teu único afilhado, logo seria um bocado estranho se não fosse o teu favorito! – rematou James, com uma cara de quem constata o óbvio.
- Pormenores! – exclamou o amigo.
Harry olhava incrédulo para aquelas três pessoas à sua frente, os olhos começavam a arder.
- Oh meu… Nem sei o que dizer… desejei tanto este momento…
- Nós sabemos isso – disse Lilly abraçando-o – nós também… Estamos tão orgulhosos de ti! O nosso filho!
- E meu afilhado!! – acrescentou Sirius encostando-se a uma parede invisível ou até mesmo inexistente.
- E teu afilhado! – confirmou James.
- És tão parecido com o teu pai!
- Os olhos são teus Lils, os olhos são teus!
- É por isso que ele é mais bonito que tu! – o marido fez uma careta.
- Vão mesmo ficar a dizer essas coisas ao rapaz?! Ele já ouviu isso tanta vez… até eu já lhe disse…
Jim balançou os braços e com uma cara de quem não quer o caso disse: - A rapariga é bonita!
- E simpática, querida e amorosa! Não me importava de tê-la como nora! – acrescentou a mãe de Harry.
- Ginny Weasley, lembro-me dela… - Siriu s fazia um enorme esforço para encontrar as palavras certas - uma caixa de surpresas…
- Ya, ya… finge que não a achas sexy… – James levou com um olhar assassino de Sirius, felizmente para ele, já estava morto.
- Ela é bestial, mesmo… – comentou Harry que decidiu ignorar o comentário do pai – isto é a morte?
- Mais ou menos… – suspirou o padrinho.
- Aquilo – respondeu James apontando para a porta donde eles tinham saído – é a morte, tivemos a oportunidade de sair durante um pouco para te… falar. Aquilo – disse apontando para uma porta com a luz amarelada atrás de Harry – é a vida.
- Estás no meio. Podes escolher, o que queres. Se queres morrer ou viver. – completou Lilly.
- Na morte tenho-vos a vocês… – assimilou ele.
- Sim, mas na vida tens tudo o resto, não é difícil a escolha, hein?
- É, mas tenho saudades vossas, tantas…
- Harry: nós vamos estar sempre aqui. Nós em vida não fizemos grandes males, fomos para onde quisemos! É quase como uma segunda vida… com a diferença que não morremos nem envelhecemos…
- Nem comemos… nem bebemos uma cerveja em ocasiões especiais, nem fumamos um bom charro de vez em quando… nem fazemos s… – murmurou Sirius, mas foi interrompido por James.
- Não interpretes isto mal, nós queremos-te muito connosco, mas quando fores um velho barrigudo casado e com um porradão de filhos!
- James… – advertiu Lilian – o que o teu pai quer dizer é que nós queremos que vivas tudo o que tens a viver! Não podes escolher a morte só porque queres estar connosco enquanto tens uma miúda excelente À tua espera, para casarem e terem filhos.
- Tu próprio disseste – interveio Sirius – que te querias casar com ela, lembras-te? “por mim, casava contigo aqui e agora.”
- Sim, sup--- ‘pera aí! Como…?
- Oh, nós sabemos de tudo! É a nossa diversão quando tamos aborrecidos, tens uma vida interessante!
- Vocês… vocês viram? – perguntou Harry aparvalhado com o comentário do pai.
- Oh não! A tua mãe não deixou, alguma coisa sobre privacidade… Nha…. – lamentou-se Sirius.
- De qualquer forma, espero que tenhas sido tão bom como eu era! AUUU! – James tinha levado uma bela palmada na nuca.
- Harry querido, não te preocupes, eu consigo controlar estes marmanjos, cenas intimas nós nunca vemos, acho que precisas do teu espaço… E não estamos sempre a ver…
- Pai?
- Sim…?
- Eras um bom baterista e… – ponderou se havia de dizer ou não – belo feitiço!
- Obrigado, usaste-o bem… aquele puto era mesmo um cérebro de ervilha…
- Sirius…. Bela voz!
- Eu sei, eu sei! ‘brigado!
- E… desculpa por não ter usado o espelho…
- Não faz mal… afinal, não posso dizer que a morte me tenha saído cara…
- Mãe… Obrigado por tudo… sobretudo pelos olhos… – disse com um sorriso mais descontraído e divertido.
- De nada, querido, de nada! – disse ela agarrando-o os ombros e depois dando-lhe um abraço apertado e beijando-o na testa – Devias ir andando, a rapariga está à tua espera… E o Ron e Hermione, também… Vá, vai ter com eles!
- Foi bem ver-te, Harry! Não é coisa que eu diga muita vez, mas… adoro-te… Não me importava que fosses meu filho – despediu-se Sirius abraçando-o.
-Mas não é… Toma conta de ti, protege a tua miúda, dá-me netos bonitos como nós, arrasa na cama e… sê feliz como eu, ou mais até, se for possível – aconselhou-lhe James abraçando-o e esfregando-lhe as costas.
- És o nosso orgulho, querido. Creio que falo também por estes dois panascos aqui ao lado quando digo que te ama-mos muito, e que és uma pessoa extraordinária! Mas agora tens de ir!
Harry abriu a porta e olhou para trás uma última vez.
- Uma última coisa filho, odeio ser desmancha prazeres…
- Não, não odeias! Não te preocupaste com isso naquela noite – disse Sirius, mas perante o olhar de Lilly… – ok, odeias! Pelo menos destes!
- Como disse: odeio ser desmancha-prazeres, mas não te vai lembrar disto…
- Eu n---
- VAI!
- Amo-vos – disse Harry antes de fechar a porta.
De volta à escuridão, mas desta vez não era assim tão escura, parecia mais um castanho muito escuro, com pintas fluorescentes em todos o lado (N.A.: experimentem fechar os olhos), nem silenciosa, havia vozes à distância, mas não percebia o que elas diziam…
Podia ter ficado a ouvi-las para sempre tal fora o seu desespero por um som.
Sentia todos os músculos do seu corpo, mas com tanto sono que estava não conseguiu resistir. Adormeceu.
***
- Gin… Ron… Herm… – murmurou ele, ainda cansado.
- Não houve resposta, Harry abriu os seus olhos e demorou um pouco a focar, aliás, não focou. Faltavam os óculos. Mas mesmo assim conseguiu distinguir uma pessoa adormecida a seu lado. Aquele cabelo era inconfundível. Ruivo claro, fino, vaporoso. Mais que lindo… maravilhoso!
Fez o mínimo barulho para não a acordar, pôs os seus óculos e reconheceu a ala hospitalar. Na mesa-de-cabeceira estava uma embalagem que mais parecia de detergente para o chão, pegou e leu o rótulo. Poção revitalizante, pegou num dos copos e encheu-o de poção. Bebeu, sabia a Whisky, sentiu uma onda de energia a descer-lhe pelo corpo…
Vestiu-se, silenciosamente, com os calções de ganga e a T-shirt branca que estavam em cima da sua cama. Reparou que tinham sido lavados desde a noite em que ele derrotara Voldemort.
Andou até à janela e olhou lá para fora. Um dos dias mais bonitos do ano, com certeza. O céu estava limpo, à excepção duma ou outra nuvenzinha branca como tudo, O sol estava alto e brilhante, os campos pareciam verdes alface e o lago estava calmo e azul! Neste momento os estado de espírito dele reflectia-se naquela paisagem.
“Estou livre, sem mais Voldemort para me atormentar”
Virou-se para encarar Ginny que estava toda torta a dormir, ia ter cá uma dor de pescoço!
Disse-lhe ao ouvido:
- A dormir assim dás cabo da coluna!
Ela acordou num instante com o susto.
- Harry! Oh, Graças a Deus que acordas-te!
- Bom dia!
- Que se danem os cumprimentos – disse ela e depois saltou para cima dele e beijou-o intensamente, ele retribui com todo o gosto.
Quando se separaram Harry perguntou:
- Como estão todos?
- Bem depois de tu teres desmaiado chegaram alguns aurores.
- Alguém morreu?
- Dois Aurors, o Quingsley Shackelbot e outra que nós não conhecemos, o Conlin Creevey perdeu a memória, ainda não se tem a certeza se é temporário ou definitivo. - disse Ginny abrindo a porta da ala para saírem.
- Alguém da Ordem sem ser o Quingsley?
- Tonks está em St. Mungos para recuperação, foi atirada contra o Salgueiro, e o Mundungus está inconsciente desde a luta, não lhe dão grandes esperanças…
- O Lupin?
- Não lutou, era Lua Cheia…
- Do outro lado?
- O Neville matou Rudolphus Lestrange com a tua espada! Tu matas-te a Bellatrix já para não falar do Voldemort, o meu irmão no meio duma luta viu-se obrigado a afogar alguém, acho que foi o MacNair, Eu e a Hermione não tivemos outra escolha se não espelhar o Avada Kedrava…Os aurores mataram um ou outro… E o resto foi tudo para Azkaban! Os Dementores estão de volta no lugar deles…
- Fixe… Quero ver o resto do pessoal…
- Estão lá fora. As aulas foram suspensas! E visto que acordas-te vai haver um baile de comemoração da morte do Voldemort, aqui em Hogwarts para toda a comunidade bruxa da Grã Bretanha… Oh, olha é a Hermione!
- HERMIONE! – chamou Harry.
Ela desatou numa correria até Harry e os dois abraçaram-se. Hermione chorava de alívio.
- Oh, meu maninho – disse a rir-se.
- Oh, minha maninha! – respondeu ele divertido, beijando-lhe a bochecha e voltando ao abraço.
- Foi uma agonia tão grande! Tanto podias acordar como morrer a qualquer momento!
- Estou aqui, não estou? Vamos esquecer isso?
- Com prazer! – disse limpando os olhos – O Ron está lá fora, deves querer falar com ele! Nunca o vi tão mal… tão…pessimista!
Os três seguiram para os campos, e à beira do lago, lá estava ele, sozinho a olhar para as águas calmas.
- Vai, nós ficamos aqui.
Harry sentou-se ao lado de Ron, o ruivo nem se preocupou em ver quem era, mas falou.
- É estranho não o ter por perto, a sorrir, ou até mesmo a gritar, a admirar e suspirar pela minha irmã, a censurar-me a mim e à Hermione para não discutir-mos… Como pode o dia estar tão bonito se ele não está aqui para o apreciar…? Se ao menos ele cá estivesse, connosco, a conversar, a nadar até mesmo a aparvalhar! Qualquer coisa, ele iria adorar, desde que fosse com os amigos!
- Tens razão, eu ira adorar! E falas como se eu já tivesse morrido!
Ron virou a cabeça tão rápido que foi quase um milagre não ter partido o pescoço.
- Oh! Harry! Acordas-te!
- Yap!
- Sentimos a tua falta nestes três dias! – disse abraçando o amigo.
- Três dias?
- Ya, três longos dias… Temos que mandar uma coruja à mãe e ao pai!
- Claro mas por enquanto eu gostava de hum… conversar, nadar e aparvalhar!
- Ora aí está uma bela ideia – concordou Hermione sentando-se entre as pernas do namorado e inclinando-se para trás.
- Não me importava nada de facto! – declarou Ginny abraçando Harry pelas costas.
- Ai não? – perguntou ele.
- Não!
- De certeza?
- Sim!
- Ok!
Harry levantou-se e pegou nela ao colo.
- O que é que vais fa… Oh não! HARRY! NÃO! ESTOU VESTIDA! – estrebuchava ela enquanto Harry entrava dentro de água.
- Eu também, e depois? – brincou Harry e depois atirou Ginny para a água.
Mal a rapariga recuperou começou a atirar água a ele, e ele a ela.
Logo Ron despiu a camisola e as calças ficando e boxeurs e entrou a correr na água, com um grito de guerra, e saltou para cima de Harry fazendo-lhe uma amona.
Hermione sabia que aquilo era uma autêntica patetada, mas nem ela conseguia resistir ao encanto duma lagoa cheia de amigos a divertirem-se, tirou a saia e entrou também.
Foi uma das melhores tardes de sempre…
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