Leve desespero
“Não consigo lembrar de nada
Não posso dizer se isto é sonho ou realidade
Dentro me sinto gritar
Este silêncio terrível me prende”
(One - Metallica)
O fato de ter uma mulher compartilhando do mesmo espaço em que ele vivia, era algo totalmente novo e inusitado na vida de Severus Snape. Ele ainda estava chocado com a maneira com que Morrigan entrara em sua vida e se instalara de maneira tão confortável em sua casa. Com certeza ela não era uma mulher comum. “Completamente impertinente!”, ele acrescentaria com gosto.
Bem, já que teria de conviver com a moça durante alguns dias (e que Snape desejava fervorosamente que fossem realmente poucos), tratou de ignorá-la ao máximo, para que não se irritasse com o humor inconstante dela.
Na tarde que se seguiu após a primeira tentativa de diálogo entre os dois, Snape havia cedido gentilmente um dos quartos de sua casa em Spinner’s End para que Morrigan ocupasse. A moça havia passado boa parte da tarde lá, descansando, afinal, dormir em uma poltrona não havia sido uma experiência muito agradável para a Sacerdotisa.
E por um momento sublime e feliz, Snape havia se esquecido completamente da existência da moça. Agora, ele estava confortavelmente acomodado em sua poltrona na sala, mergulhado em uma leitura sobre “A Arte sutil do preparo de Poções”. Tudo parecia perfeito, exceto pelo detalhe que vinha lhe incomodando nas últimas semanas: a terrível enxaqueca que o acometia quase que diariamente. Às vezes era uma dor insuportável, onde ele mal conseguia abrir os olhos, e às vezes era uma dorzinha chata e incômoda, não muito forte, mas persistente.
Mas independente da força e intensidade, ela era sempre constante em sua rotina.
Com dor ou não, Snape estava completamente compenetrado em sua leitura, uma das poucas coisas que ele fazia durante os dias em que esteve nas suas “férias”. Mal notou o som baixo de passos lentos descendo a escada do pequeno sobrado onde morava.
Após um breve cochilo durante aquela tarde, Morrigan se levantou e tomou um bom banho, trocando as vestes empoeiradas que usou na viagem, por um vestido azul meia-noite com bordados brancos nas mangas compridas. As poucas horas de sono foram o suficiente para que ela recuperasse as suas forças e sentisse as energias renovadas. Mas ficar ali, sem fazer nada, a estava aborrecendo já que não estava acostumada a ter momentos de ócio. E foi quando decidiu descer para arrumar o que fazer que ela encontrou Snape na sala.
Ele nem havia notado a sua presença, enquanto ela o observava atentamente, tentando compreender que tipo de homem era aquele. Mas Snape era uma verdadeira fortaleza, trancando a sete chaves todos os seus pensamentos e sentimentos, sendo que tudo o que ele deixava à mostra era o seu desprezo e desdém por tudo o que não era de seu interesse. No entanto, Morrigan não pôde deixar de se preocupar ao ver a expressão de dor que ele carregava em seu rosto, enquanto com uma das mãos massageava a sua têmpora.
-Enxaqueca? - Ela perguntou com voz baixa, enquanto se sentava em um sofá em frente à ele.
Por detrás do livro grosso que Snape lia, Morrigan só foi capaz de ver um erguer de sobrancelhas dele. - Como sabe disso?
-Apenas observando. Você parece incomodado com alguma coisa e pelo jeito como massageava sua têmpora, pude deduzir que estava sentindo dor. Estou certa?
-Está. - Respondeu seco e direto, pouco se importando em ser gentil.
-Se quiser posso preparar algo para aliviar a dor... - Ela perguntou com gentileza. “Mas por que motivo insisto em ser agradável com esse homem?”
Bom, apesar de ter aquele livro grosso e enorme à sua frente, Snape já não conseguia prestar atenção em nada do que estava escrito. Sinceramente? Quanto mais ele convivia com Morrigan (e olha que nem chagaram a passar 24 horas sob o mesmo teto) mais ele se convencia do quanto ela era estranha. Por que ela tinha a irritante mania de querer se meter na vida dele? Ele estava ali, convivendo pacificamente com sua companheira enxaqueca, até ela aparecer e se intrometer em tudo. Bufou cansado e pousou o livro em seu colo.
-Não é necessário. Eu posso me virar sozinho -Levantou-se, indo em direção ao interior da casa, com Morrigan o acompanhando silenciosamente.
Snape não era nenhum curandeiro e nem tinha conhecimentos avançados na arte de preparar medicamentos, mas sendo um mestre em poções, ele julgava ser capaz de preparar sem a ajuda de ninguém uma poção que pudesse aliviar a sua dor. Para uns isso pode até parecer auto-suficiência em demasia, mas para ele, era mais uma questão de ser independente.
Ele atravessou a pequena sala e logo em seguida a cozinha da casa. Entrou em um cômodo que parecia ser a lavanderia da casa (e que também parecia nunca ter sido usada), se aproximou de uma das paredes e utilizando a sua varinha deu duas batidas leves nesta. Neste momento Morrigan estava chegando no cômodo e viu a parede desaparecer, dando espaço a uma escadaria estreita que descia a um nível abaixo da terra. Viu Snape descer pela escada e sem conter a curiosidade, ela o seguiu.
Chegaram em um aposento frio e úmido, cheirando fortemente a mofo e à substâncias de procedência desconhecida. Sem se importar com o olhar atento e sagaz da Sacerdotisa, ele começou a retirar alguns frascos de dentro de prateleiras que estavam dispostas ao longo do diminuto aposento e as depositar encima de uma mesa escura que ficava ao lado de um caldeirão médio de estanho.
Sim, óbvio que Snape não estava achando muito agradável ser observado daquela maneira, mas para quem lidou com “aborrecentes” metidos a saber tudo e Comensais da morte (sendo que ele não sabia dizer qual dos dois era o mais cruel), aquilo não era quase nada.
Começou a escolher cuidadosamente os ingredientes de que necessitaria para produzir sua poção para dor. Morrigan se encostou no umbral da porta e se pôs a observar a maneira precisa com que o homem trabalhava, mas sem mudar a expressão de que estava se sentindo incomodado por algo.
-Sabe, você deveria deixar de ser tão orgulhoso e me deixar ajudá-lo. - Morrigan disse.
Snape ergueu os olhos de seu trabalho e os estreitou, encarando a moça com desprezo.
-Então você está querendo dizer que eu não sou capaz de preparar uma simples poção? - E a voz dele soou perigosamente ameaçadora.
Morrigan também fechou a cara e lançou um olhar sisudo para ele.
-Não estou duvidando da sua capacidade de preparar uma poção. - Ela começou a falar com sua voz mais calma. Quem a visse falando daquele jeito, não seria capaz de dizer o que se passava em seu interior: se tinha raiva ou se estava no mais absoluto estado de enfado. - Eu estou querendo apenas dizer, que preparar a poção no estado em que você se encontra, ela não vai surtir muito efeito sobre a sua enxaqueca.
Snape parou de cortar as ervas que estavam encima da mesa, mostrando pela primeira vez, algum interesse nas palavras de Morrigan. Ele ficou curioso em saber o que ela queria dizer com aquilo, pois pelo seu tom de voz, ela parecia uma expert no assunto.
Ela se aproximou da mesa e começou a mexer nos ingredientes que estavam ali dispostos. Analisou alguns, torceu o nariz para outros e acabou escolhendo alguns poucos que estavam ali.
-Quando se prepara algo, você tem de estar bem consigo mesmo - Ela começou a explicar. - Por exemplo, você vai preparar um chá para as visitas, mas não está em um dia muito bom. Os sentimentos que você carrega vai acabar interferindo no efeito do chá. O contrário também ocorre. Se você está bem conseqüentemente isso vai passar para a pessoa. Entende?
-E por causa disso você acha que eu não devo preparar a minha poção?
-Basicamente sim! - Disse com simplicidade. - Se você está com dor e se sentindo mal, é meio óbvio que isso vai acabar interferindo no efeito da sua poção. “Francamente, não entendo o que essas escolas bruxas ensinam ultimamente.”
-E foi isso o que aconteceu quando você me preparou aquele chá? -Snape perguntou, enquanto observava Morrigan lidar com os ingredientes sobre a mesa. Ela acenou afirmativamente, sem se desviar de sua tarefa.
Snape ficou curioso em saber quais os métodos que aquela mulher usaria para preparar a sua poção e somente por esse motivo (ou talvez não), ele deixou que ela trabalhasse em seu laboratório improvisado. Conjurou uma cadeira e sentou-se em um canto do aposento. Enquanto olhava a maneira delicada com que Morrigan se movimentava, sua mente começou a divagar por entre pensamentos confusos. A visão daquela mulher remexendo no caldeirão lhe lembrou as antigas fábulas que falavam sobre atraentes feiticeiras que preparavam poções do amor para fisgar o coração de seus pretendentes descuidados.
O vapor que se desprendia do caldeirão encobria o rosto da jovem, fazendo com que ela parecesse um tanto etérea e sobrenatural. E naquele momento Snape se perguntou se as antigas fábulas não tinham um pouco de verdade e se aquela moça não estaria o enfeitiçando com encantamentos sutis. Os movimentos dela eram tão graciosos, que ele se pegou fitando-a com um interesse muito maior do que gostaria de ter.
Após alguns minutos de silêncio, Morrigan falou:
-Quando eu preparei aquele chá de manhã, eu queria que você se recuperasse logo. - Ainda sem olhar para Snape, a Sacerdotisa começou a jogar dentro do caldeirão alguns ingredientes que estavam separados. - Apesar de você não ter sido a gentileza em pessoa, o teu estado me preocupou, sabe... Aliás, porque você passou mal?
E a voz doce e musical da Sacerdotisa despertou Snape de seus devaneios. Por sorte, ela estava tão compenetrada em seu trabalho, que não viu o estado de perturbação em que ele estava.
-Acho que foi a bebida... -Ele respondeu de qualquer jeito, como se o simples fato de erguer a voz fosse o suficiente para quebrar aquele clima de encanto e magia que a moça conseguira criar.
E sem se dar conta, Snape e Morrigan começaram a conversar tranqüilamente. Bem, não tão tranqüilamente assim quando se trata de duas pessoas de humor tão irônico e cínico e, portanto, tão parecidas. Mas a descoberta de algumas afinidades fez com que os diálogos não fossem tão acalorados e carregados de tensão.
Definitivamente, o destino tem meios muito próprios de agir na vida das pessoas!
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Gina abriu os olhos lentamente, enquanto sua cabeça latejava dolorosamente. Perscrutou o aposento frio e úmido, na tentativa de saber onde se encontrava. Todos os membros e músculos de seu corpo também doíam e foi com grande esforço que conseguiu erguer a cabeça alguns centímetros acima do chão duro e de pedra fria onde estava deitada.
Ela estava absolutamente apavorada, sentindo o medo a invadir e se espalhar rapidamente por seu corpo como se fosse o veneno de uma cobra peçonhenta. Não sabia onde estava e nem por qual razão havia parado ali. Tudo o que sabia é que precisava buscar forças no recanto mais profundo de seu ser e se levantar. Mas, suas pernas não obedeceram ao seu comando e tudo o que ela conseguiu fazer foi se arrastar por alguns metros. Pouco a pouco, as forças que ela achou que havia recuperado foram dispersas ao ouvir uma voz masculina a chamando:
-Gina... - A voz cantarolava de modo divertido.
Quanto mais a voz se aproximava, mais Gina tentava se mover. Mas o seu corpo parecia estar petrificado ante o terror que aquela voz lhe provocava.
-Gina, Gina, Gina... - A voz continuou, e dessa vez estava muito próxima.
A ruiva escutou o som de passos se aproximando de onde ela estava caída e fechou os olhos, implorando para que aquilo tudo fosse apenas parte de um grande pesadelo e que logo acabasse.
Os passos estavam mais próximos e a voz fria ficava cada vez mais alta.
-Gina...
A pessoa se aproximou do lugar onde a ruiva estava largada e afastou uma mecha de seu cabelo vermelho que cobria o seu rosto que empalidecia. A garota tentou se esquivar daquele toque, mas o seu corpo estava ficando cada vez mais fraco.
-Ora, Gina, porque está com medo de mim? -Ela ouviu a pessoa dizer. A voz era até bonita, mas o tom com que falou era tão gélido, que isso já era capaz de fazer com que os pêlos da nuca da garota se arrepiassem. - Sou eu, o seu querido Tom.
Com voz fraca, a única coisa que ela conseguiu dizer foi um “me deixe só”, enquanto lágrimas quentes escorriam por seu rosto. Tom secou uma das lágrimas de Gina, tendo um sorriso debochado em seu belo rosto. Aproximou-se mais da garota e sussurrou em seu ouvido:
-Você sabe que não vai se livrar de mim, não é Gina? Não enquanto eu não conseguir ter o seu namoradinho aqui.
-Não, você não pode... - O esforço de tentar falar fez com que sua garganta doesse e o choro ficou mais angustiado. - Ele não é o meu namoradinho...
-Oh sim, eu havia me esquecido que o famoso Harry Potter nunca deu atenção à irmãzinha estúpida e sem graça de seu amigo. - Ele gracejou, soltando uma gargalhada. - Mas não podemos nos esquecer que ele gosta de bancar o herói, não é Gina? Claro que ele virá resgatá-la...
As lágrimas cada vez mais abundantes, embaçaram a visão de Gina. Ela olhou para o rosto do jovem que estava ao seu lado, mal podendo acreditar o quanto havia sido idiota ao confiar os seus segredos e sentimentos para algo que fora parar em suas mãos de maneira tão estranha.
Harry... Tudo o que Tom queria era atrair Harry para aquele lugar frio e horroroso e a isca havia sido ela. Como fora tola em acreditar nas palavras gentis e amigas de Tom Riddle...
Ela tentou se mover. Um desespero latente tomou conta de seu ser... Logo, logo ela iria sucumbir...
Fazia anos que Gina tinha aquele pesadelo, mas ele nunca havia sido tão real como estava sendo naquela noite. Ela tentava se mover, tentava despertar, mas era como se ela fosse tragada para as profundezas de seu maior medo e não fosse ser capaz de nunca mais acordar. Os gemidos baixos que soltava enquanto tentava acordar logo se transformaram em gritos e em poucos momentos, algumas Sacerdotisas que dormiam na Casa das Moças foram acordadas.
Uma delas entrou rapidamente no quarto e viu o estado de agonia em que Gina estava. Ela se remexia na cama, enroscada nos lençóis como se estivesse presa em uma camisa de força. A Sacerdotisa se aproximou e tentou despertar Gina, mas ela parecia presa em seu próprio sono, como se fosse um cárcere sombrio. Vendo que não conseguia acordar a jovem ruiva, a mulher foi até o corredor e chamou uma jovem noviça que espiava assustada a movimentação.
-Vá chamar a Senhora. - A mulher disse com urgência, enquanto a noviça se aproximava. - Diga que é grave!
A moça saiu desabalada pelos corredores de pedra, sem nem ao menos se preocupar em levar alguma tocha ou lamparina para iluminar o seu caminho. Alguns momentos de profunda angústia se passaram, enquanto a mulher tentava em vão acordar Gina.
Foi com um olhar de preocupação que ela recebeu Eriu no quarto, sem nem ao menos se lembrar das convenções que uma Senhora de Avalon merecia. A figura alta e pálida da Grã-Sacerdotisa apareceu de forma tão repentina, que a única coisa que a outra Sacerdotisa conseguiu balbuciar foi “a garota não acorda”.
Algumas mulheres curiosas se aproximaram do quarto onde Gina dormia, tentando compreender o que estava acontecendo. Mas uma ordem imperativa de Eriu foi o suficiente para afastar todas dali, enquanto ela ficava sozinha no quarto com Gina.
-Gina, fale comigo, criança. - Eriu ordenou, com voz decidida.
A ruiva apenas se remexeu com agonia, respirando com dificuldade.
Eriu pôs a mão sobre a fronte quente e úmida pelo suor da garota e se concentrou. Parte daquela agonia a invadiu e seu coração se encheu de angustia. Gina estava presa em seu próprio pesadelo, como se algo maligno estivesse sugando as suas boas energias.
-Não, você não pode fazer isso... não com o Harry... - Gina balbuciou em meio ao sono.
-Gina, desperte! - Eriu ordenou mais uma vez.
O rosto banhado de lágrimas e suor de Gina se contorceu num espasmo de dor, até que finalmente ela abriu os olhos. Na pouca luz que banhava o aposento, Eriu foi capaz de ver o olhar febril da garota a encarar com desespero, até que ela se ergueu um pouco e abraçou Eriu fortemente.
-Mãe, eu estou com medo... - Ela sussurrou próximo ao ouvido de Eriu, enquanto esta afagava o seu cabelo flamejante.
“Certamente ela deve estar delirando e por isso me chamou de mãe, ou talvez, ela esteja apenas vendo a face da Deusa em mim”
-Calma, criança, está tudo bem. - Eriu tentou tranqüilizá-la.
Aos poucos a respiração de Gina foi se normalizando. Somente quando teve a certeza de que ela estava calma, foi que Eriu se afastou do abraço dela. Ajeitou Gina delicadamente na cama, secando o rosto úmido dela com uma toalha. O olhar de Gina ainda estava bastante apavorado e quando Eriu fez menção de sair, a ruiva a reteve, segurando a sua mão com firmeza.
A Grã-Sacerdotisa sorriu maternalmente e permaneceu ali, até que Gina fosse capaz de adormecer novamente.
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Mais uma noite insone de vigília e o que Molly Weasley tanto ansiava estava longe de ser alcançado. Mais uma noite em que ela ficou sem dormir, esperando, aguardando uma única notícia que fosse de seus filhos, não só os gerados e criados por ela, mas aqueles que ela estimava como se tivessem saído de seu próprio ventre.
Suspirou cansada e se permitiu sentar numa poltrona que ficava na sala de leitura da nova Sede da Ordem da Fênix. O aposento estava parcamente iluminado por algumas velas dispostas ao longo deste e escondida na penumbra ela sentiu as lágrimas começarem a descer lentamente por seu rosto, transformando-se rapidamente em um pranto angustiado.
Afundou o rosto entre as mãos e deixou que o choro tentasse aliviar aquela dor que sentia em seu peito. Tinha até medo de imaginar o que poderia ter acontecido às “crianças”. Eles poderiam estar perdidos, feridos ou até mesmo mortos. Aquele pensamento fez com que os soluços se tornassem insuportáveis, e a pobre mulher já tinha até medo de raciocinar.
Por um breve momento, pensou estar beirando a insanidade, pois podia jurar ter ouvido a voz chorosa e angustiada de Gina a chamando. Mas o som de passos apressados no corredor, seguido pelo ruído da porta se abrindo, sobressaltou Molly, fazendo com que ela secasse as lágrimas no rosto gorducho rapidamente. Os olhos ardiam, mas ainda assim ela os estreitou na tentativa de ver quem havia adentrado o recinto.
-Ah, Arthur, querido, alguma novidade? - Por mais que tentasse manter o tom de voz calmo, sua voz saiu incerta e soluçante.
Arthur Weasley vinha acompanhado pelo ex-Auror Alastor Moody, que parecia mais assustador e sombrio do que o normal. O patriarca da família Weasley também não estava muito diferente. Estava sério e abatido, mas tentou manter o tom de voz normal e estampar um sorriso (um tanto cansado e forçado) em seu rosto, assim que viu sua esposa. Mas uma sombra de preocupação o dominou ao ver o estado de Molly, pois além de ter os olhos vermelhos e irritados pelo choro, a mulher tinha olheiras profundas e escuras abaixo de seus olhos.
O Sr. Weasley suspirou longamente e se sentou numa poltrona ao lado da poltrona de sua esposa. - Ainda não, querida. - E tomou as mãos dela entre as suas. - Eu e Alastor patrulhamos a madrugada inteira e Kingsley procurou alguma pista na trilha que eles deveriam tomar pra chegar até aqui. Mas até agora não conseguimos descobrir nada.
-Oh Arthur. - E a Sra. Weasley se jogou nos braços do marido, o sufocando em um abraço apertado. As lágrimas voltaram novamente a rolar sobre seu rosto e ela não conseguia controlar os soluços desesperados.
-Talvez tenha sido a chave de portal que eles usaram. - Moody se manifestou pela primeira vez, mas parecia que ele estava falando consigo mesmo. - Do jeito que Nymphadora é atrapalhada, é bem capaz de ter enfeitiçado uma chave que os levasse para o outro lado do mundo.
-A Tonks até pode ser atrapalhada, mas é uma boa Auror. - Arthur retrucou. - Além, de que Lupin estava junto e todos sabemos o quanto ele é competente.
-É, é, eu sei disso, Arthur - Moody resmungou, enquanto o seu olho mágico girava descontroladamente na órbita. - Mas o sumiço deles não tem nenhuma explicação, oras.
Tinham voltado à estaca zero. Nada de notícias e nada de pistas.
Moody resmungou algo sobre ir verificar os feitiços de proteção no castelo e saiu, deixando o casal Weasley a sós no aposento.
-Bem, Molly, já está amanhecendo e eu tenho de ir para o Ministério.
-Mas já? - Ela secou o rosto na manga das vestes e encarou o marido com uma expressão preocupada no rosto. - Você está tão abatido, Arthur. Deveria descansar um pouco, meu querido.
-Não posso me dar ao luxo de faltar no serviço, principalmente em tempos de guerra. Tenho tido muito serviço no Ministério, além de que a busca que eu e alguns membros da Ordem fizemos não tem nada a ver com o meu emprego. Não posso levantar suspeitas sobre isso... As pessoas ainda não desconfiam do desaparecimento de Harry e os demais.
-Tudo bem, Arthur, - A Sra. Weasley suspirou novamente. - Se é assim, é melhor você ir logo.
O Sr. Weasley levantou lentamente do lugar onde estava sentado e depositou um beijo carinhoso na testa de sua esposa. Lançou um último olhar preocupado à esposa e saiu, deixando Molly entregue às suas preces silenciosas.
Mas novamente, Molly se sobressaltou e dessa vez foi por um pigarrear alto vindo da direção onde a lareira se encontrava. A mulher ergueu os olhos e perscrutou o aposento em busca da origem daquele som. Mas na penumbra seus olhos não conseguiam enxergar nada além das sombras bruxuleantes das velas.
Ela se levantou e começou a observar as paredes altas, onde alguns quadros estavam pendurados, mas parecia que os seus “moradores” estavam adormecidos, portanto, o pigarrear não havia sido de nenhum deles. Ainda assim, ela continuou observando os quadros daquela sala que ressonavam tranqüilamente em suas molduras, até chegar em frente à um que estava pendurado acima da lareira.
-Ah, vejo que finalmente você me achou, minha cara Molly!
Molly Weasley ergueu os olhos para o quadro e acendeu algumas velas que estavam em um candelabro ali próximo. A luz alaranjada iluminou o quadro de um velho bruxo de barbas longas e nariz encurvado, que carregava um belo par de olhos azuis emoldurados por óculos de meia-lua.
-Oh, professor, me desculpe, não o tinha visto aí em cima. - Molly tentou abrir um sorriso, ao ver o quadro do querido professor Dumbledore.
-Sem problemas. - Dumbledore sorriu de volta, cruzando os dedos longos e finos em frente ao corpo. - Agora, por que não se senta e me conta o que a entristece tanto?
-Imagina professor. Não vou lhe incomodar com isso...
-Não Molly, não será incômodo algum. - O velho bruxo lançou um olhar penetrante à mulher e sua voz era séria. - Quem sabe não posso ajudá-la?
A Sra. Weasley puxou uma poltrona para perto de onde estava e sentou, observando o quadro de Dumbledore a olhar com respeito e ternura.
-Ah, professor, estou tão preocupada com as crianças. - Ela começou a falar com voz chorosa. - Faz dias que eles estão desaparecidos e nós não conseguimos ter nenhuma pista do que pode ter acontecido a eles. Eles podem estar machucados, perdidos ou... - E parou nesse momento, com medo das palavras que não foram ditas, mas que povoavam sua cabeça a cada instante.
Dumbledore ouvia tudo atentamente, apoiando o queixo nas mãos cruzadas.
-O que sua intuição de mãe diz? - Dumbledore disse, após alguns minutos de silêncio.
Molly Weasley achou muito estranha aquela pergunta, mas ainda assim, um sorriso cheio de esperança surgiu em seu rosto. - Acho que eles estão bem e em segurança em algum lugar. Quase posso ter a certeza de que eles estão sendo muito bem cuidados.
-Então, minha cara, se apegue a essa esperança. - Os olhos azuis de Dumblerore emitiram um brilho sobrenatural, principalmente pelo fato de ser somente um quadro, um simples espectro do que o verdadeiro Dumbledore havia sido um dia. - Não existe coisa mais maravilhosa e mais sublime do que o sentimento de uma mãe por seus filhos. A intuição de uma mãe é muito mais confiável do que a certeza de um homem. Nunca duvide disso, Molly.
A mulher sorriu, enquanto as últimas lágrimas teimosas lhe embaçavam a visão.
-Está bem, professor, não irei duvidar. - E se levantando da poltrona, disse. - Agora preciso ir. Tenho que dar um jeito nas coisas por aqui. Pode ser que eles apareçam a qualquer momento, não é mesmo?
E após a saída de Molly, o aposento mergulhou novamente no silêncio que não era total somente por causa do ruído suave de alguns quadros que ainda ressonavam. Dumbledore, dentro de sua moldura recostou a cabeça no espaldar da cadeira onde estava sentado e soltou um longo suspiro.
-É, eu também espero que eles apareçam logo...
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Semanas e mais semanas planejando cuidadosamente os seus próximos passos. Ultimamente era essa a rotina do temido Lorde das Trevas. Mas naquela madrugada, enquanto repousava, algo estranho aconteceu. Lembranças estranhas com uma jovem de cabelos flamejantes invadiram a sua cabeça e ele se sentiu imensamente perturbado com aquilo tudo.
Eram lembranças de um Voldemort jovem, quando ainda atendia pelo nome de Tom Riddle. A garotinha que deveria ter uns onze anos parecia apavorada no lugar frio onde ela se encontrava. Um sorriso saudoso brotou involuntariamente em seu rosto ao seu lembrar daquele lugar. Ah, a Câmara Secreta! Quantas recordações não tinha daquele lugar...
Mas um nome fez com que ele ficasse mais atento à jovem e não ao lugar onde estava. Harry Potter. “Curioso, muito curioso”
Lorde Voldemort ficou muito curioso com aquele estranho “sonho”, mas não podia negar que havia lhe trazido uma idéia simplesmente genial. Se ele não era capaz de invadir a mente de Harry, então ele deveria tomar um outro rumo. Um alguém mais frágil e mais sensível...Um alguém que já o ajudou involuntariamente de outra vez...
O Lorde Negro sorriu satisfeito. Que belo sonho havia sido aquele!
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Sobre o capítulo: Bem, esse capítulo foi meio morninho, mas de graaande importância para o desenrolar da história. Sobre a parte em que a Gina estava sonhando, é referente ao episódio da Câmara Secreta. Acredito que o fato de Gina ter sido possuída por Voldemort quando ainda era uma menina, foi o suficiente para criar um elo entre eles e por isso o Voldie foi capaz de penetrar na mente dela.
Bem, fiquei meio com medo de ter deixado o Snape meio descaracterizado nesse capítulo, mas ele tinha que começar a ceder aos encantos da Morrigan em algum momento, né?
Ah, e pleeease não me batam pela demora em postar o teste do Harry, mas acontece que esse capítulo ainda está em planejamento e está sendo um pouco complicado. Mas acho (e assim espero cumprir) que não vá demorar muito.
Bem, acho que é só.
Grata pelos comentários e votos.
Beijos e inté o próximo
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