Cena II - Um



Interlude – Cena II – Um
“Waiting

In the calm of desolation

Wanting to break

From this circle of confusion

Sleeping

In the depths of isolation

Trying to wake

From this daydream of illusion”

- Dream Theater, “Misunderstood”






***

Harry suspirou frustrado e escondeu a cabeça entre as mãos. Largou os óculos no chão e atirou-se sobre o macio sofá; mantendo os olhos fechados por muito tempo, tentando esquecer os eventos da pior noite da sua vida.

Lupin voltou ao apartamento dos Potter no final da tarde seguinte, com a afilhada de seis anos, Leahnny, para encontrar Harry ainda deitado no sofá, de bruços, aparentemente desacordado. A garotinha logo correu para perto do pai, ajoelhando-se ao lado dele e mexendo no cabelo de Harry, tentando chamar atenção.

– Pai? Papai? – ele não respondeu, mas Leahnny insistiu. – Papai?

– Harry? – perguntou Lupin, vendo que alguma coisa estava errada.

– O que houve com ele? – perguntou a garotinha ao padrinho, muito preocupada, ainda tentando acordar o pai. – Papai?

– Estou bem, filha – disse Harry, com a voz abafada pela almofada.

– Então levanta daí, pai!

– Não agora. Vá pro seu quarto, Leah – murmurou ele, sem levantar o rosto para encarar as duas pessoas que o observavam atentamente.

– Papai... – resmungou ela.

– Filhinha, depois eu converso com você, ‘tá bem? Vá para o seu quarto, por favor.

– Mas eu quero ficar com você, papai. Eu ‘tô’ com saudade...

– Eu também, Leah. Podemos conversar depois, sim?

– Venha, Leah, eu levo você até lá – Lupin estendeu a mão.

– ‘té mais, papai – ela despediu-se, acompanhando o padrinho até o quarto.

Lupin fechou a porta e murmurou um feitiço de imperturbabilidade, antes de voltar para a sala e aproximar-se de Harry.

– O que houve, Harry? – ele perguntou, parado às costas do sofá.

– Adivinha?

– Não deu certo?

– Não, Remo. Deu tudo errado. Tudo – Harry respondeu com a voz abatida.

– Como assim? Hermione não...

– Ela teve que voltar ao laboratório ontem à noite... e já vai ficar por lá.

– O que você quer dizer com isso?

– Ela me deixou – Harry resmungou, afundando mais a cabeça na almofada.

– Hermione não pode ter deixado você, ela... quer dizer... vamos, diga, o que foi que aconteceu?

– Ela chegou às dez da noite... dizendo que tinha de voltar logo ao laboratório, não poderia ficar muito tempo e...

– Hum, sinto muito.

– Não foi só isso – continuou Harry. – Nós... brigamos depois disso. Discutimos feio. Então...

– Harry? – Lupin colocou a mão no ombro dele.

Harry virou-se e finalmente abriu os olhos. Dois pontos verdes encararam Lupin, com um brilho sem vida. Fora isso, Harry não fez mais nem um movimento, nem ao menos pegou os óculos que ainda estavam caídos no chão.

– Ela só estava comigo por pena... agora acabou...

– Pena? – surpreendeu-se Lupin.

– Foi o que ela disse – falou Harry.

– Em um momento de raiva, com certeza...

– Não importa, é o que ela pensa. Eu não sei porque ela escondeu a verdade por tanto tempo... seria bem mais simples se ela não tivesse mentido, se não tivéssemos ficado juntos...

– Vocês se casaram porque era para ser assim, Harry. Ela lhe ama e eu tenho certeza de que esse sentimento é recíproco.

– Ela ama o trabalho naquele laboratório; aquilo sim é importante...

– Tenho certeza de que não é assim, Harry.

– Nosso casamento acabou, se é que um dia existiu. Ela sequer me via quando chegava, nem respondia mais às minhas corujas... deve ter se cansado de mim... eu não sei como isso pode acontecer, porque eu não cansei dela... eu sentia falta, eu sinto falta, eu quase não a vi durante esse tempo todo e agora...

– Há muita coisa acontecendo com essa pesquisa, Harry, ela deve estar apenas nervosa com isso; por isso ela se irritou com você.

– Ela não deveria trazer isso para casa! Eu quase nunca a encontro e quando isso acontece ela nem ao menos olha para mim... a única forma de conseguir fazê-la falar alguma coisa é se eu acusá-la, ou se começar uma discussão...

– Harry, isso acabará em poucos dias...

– Mas eu não consigo mais esperar, Remo! Eu não consigo ficar o dia todo aqui nesse apartamento tentando adivinhar que horas ela vai decidir aparecer.

– Talvez seja o caso de você encontrar algo para fazer, Harry, tentar tirar isso da sua mente...

– O que eu posso fazer? Trabalhar com os trouxas? Eu não consigo voltar para o mundo bruxo, Remo, não depois de tudo... eu não consigo nem andar no Beco Diagonal sem ter umas cinqüenta pessoas apontando para mim e cochichando como se eu fosse uma espécie de herói. Não posso encontrar bruxos depois de seis anos tentando me manter afastado disso.

– Eu sou bruxo...

– Você entendeu o que eu quis dizer. Agora, eu não posso trabalhar com trouxas, o máximo que eu tenho de estudo trouxa é a escola primária. Seria como se eu não tivesse feito nada durante mais de vinte anos, já que Hogwarts não conta para eles.

– Você poderia pedir um diploma de equivalência...

– O quê?

– Para os bruxos que querem trabalhar com trouxas, o Ministério criou um diploma de equivalência... você terminou Hogwarts e foi professor... eles podem conseguir algo como se você tivesse terminado o secundário e também trabalhado em uma escola trouxa, se você quiser...

– Hum... seria interessante, fazer uma faculdade trouxa, quero dizer... mas a Leahnny não pode ficar sozinha em casa.

– Ela não vai começar a escola em setembro? Então, ela estuda, você estuda...

– Vou pensar sobre isso... obrigada, Remo...

– Você vai falar com Hermione sobre isso?

– Ela não se importa mais e mesmo que se importasse... não quero mais saber... eu quero esquecê-la.

– Você quer não quer esquecê-la. Se quisesse, não teria ficado até agora atirado nesse sofá.

– Você não entende, Remo? Eu preciso esquecê-la. Nosso casamento acabou.

– Foi apenas uma briga, Harry. A mais séria que já tiveram, tudo bem, mas ainda assim, apenas uma briga. Quando ambos estiverem calmos e conversarem novamente, verão que estão sendo equivocados.

– Eu não estou sendo equivocado. Só não sei agora como vai ser com a Leah...

– Ela vai ficar com você?

– Hermione foi embora – Harry deu os ombros –, e tudo que ela fez até agora foi fingir se importar com a nossa filha.

– Lamento, Harry. Sabe que pode contar comigo – disse Lupin.

– Você acha que... ela vai pro apartamento da Minerva?

– Provavelmente. Ou talvez tenha ido para a casa dos pais...

– Ela ainda tem a casa de Hogsmeade... eu preciso falar com ela – Harry sentou-se no sofá, tentando pensar objetivamente e, com essa frase, dando um pouco de esperança a Lupin. – Ela precisa pegar as coisas dela...

– Por que vocês dois não esperam um tempo até...

– Já esperei seis anos.

– Com certeza não é uma separação definitiva que você tem em mente – disse Lupin.

– Eu não tenho mais nada em mente, agora. Só a Leah... você pode me ajudar a contar para ela?

– Acho que seria mais sensato se você fizesse isso com... Hermione do seu lado. É o melhor para Leah...

– Não sei quando Hermione volta. E nem sei se... quero vê-la de novo.

– Ora, vamos, Harry! Não seja dramático!

– Não vou ficar enrolando a minha filha até aquela... até ela dar as caras de novo... não que vá fazer muita diferença para a Leahnny, ela ter ido embora, já que ela nunca estava aí mesmo.

– Só dê um tempo, ok? Não adianta você ficar com raiva por enquanto.

– Eu vou tentar, Remo... – Harry respirou fundo e mudou de assunto. – Você quer jantar com nós?

– Acho melhor não, Harry, eu tenho que aprontar algumas coisas para amanhã...

– Eu gostaria que você ficasse... ainda não sei se estou pronto para explicar à Leah o que aconteceu, mas ela vai querer saber... e seria bom se você estivesse aqui enquanto eu conto...

– Sim, eu fico. Posso trazer a Leah?

Harry apenas assentiu.

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