Sob o efeito da lua








Capítulo 01-Sob o efeito da lua


- “Eu tinha apenas dez anos quando tudo aconteceu. Dez! Já te contei mil vezes essa história, mas... mas parece que a cada vez ela muda um pouco, fica mais triste, mais deprimente. Foi tudo tão estranho... rápido demais. Você não imagina o que é dar um beijo comum em seus pais, de boa noite, antes de dormir, e na manhã seguinte ir acordá-los alegremente e os encontrar mortos. -seus olhos se enchiam de lágrimas à medida que falava-Foi comprovado que eles foram mortos por bruxos praticantes de artes das trevas, e é por isso que eu odeio tanto essas coisas! Logo quando aconteceu o assassinato nós achamos que tinha sido apenas pelo fato de eles serem aurores, afinal essa profissão é bastante arriscada; com ela você coleciona inimigos e espalha desconfiança... mas não. Com meus pais foi diferente, bem diferente. Eles estavam de “ férias” do trabalho, mas eu sabia que estavam fazendo uma busca profunda, meio que secreta, sobre uma família com provas suspeitas o suficiente para levá-los a Azkaban. Mas não sei, e acho que ninguém sabe, que maldita família era essa. A não ser uma única pessoa... que agora se encontra incapaz até mesmo de me reconhecer. Roger Smith, meu padrinho. Está no St.Mungus .Quando eu fiquei órfã,fui morar com ele e minha madrinha. Roger parecia determinado a encontrar os assassinos e mesmo com Melissa,sua esposa,falando sempre para ele que aquilo poderia ser perigosíssimo,ele foi fundo!Estava completamente obcecado por vingança, já que era muito amigo dos meus pais.Até que um dia ele nos apareceu sorridente e triunfante como nunca, nos dizendo que tinha descoberto tudo!No entanto não quis nos contar (talvez pelo orgulho de prender os culpados sozinho, ou sei lá).O fato é que ele saiu de casa determinado á entregar aquela maldita família assassina ao ministério “matando dois coelhos com uma tacada só ’’,já que além de serem os responsáveis pelo fato de eu ser órfã eles já estavam sendo “observados”por meus pais pela hipótese de serem praticantes das artes das trevas...mas essa foi a última vez que eu vi meu padrinho consciente,foi a ultima vez que ele me abraçou sabendo quem eu era...oh Deus!-a voz fina da garota falhava às vezes já que as lágrimas desciam livres pelo seu rosto-A partir daí eu não penso em outra coisa a não ser virar aurora depois de me formar e fazer jus ao que fizeram com as pessoas que amo.É por isso que odeio tanto famílias com caráter duvidoso,pessoas que praticam essas artes das trevas ou qualquer coisa ligada a magia negra.E como sei,e não só eu como todos sabem,que o Sirius pertence a uma família EXATAMENTE assim,eu quero distancia dele!” -finalizou a jovem já mais controlada com a tristeza.Se pôs a olhar pela janela da cabine vendo os campos esverdeados e tranqüilos do lado de fora passarem rapidamente a medida que o céu ia escurecendo lentamente.

Katherine Brown ouvia comovida,como sempre. Seus olhos verde claro brilhavam numa atenção vivaz, baseada no respeito, no carinho. Respondeu num suspiro de consentimento:

-Nossa, é que...puxa, sempre que você me conta essas coisas tristes fico sem ter o que dizer...ai Eliza, desculpa!Você tem razão! Eu,no seu lugar, cuspiria na cara do Sirius cada vez que o encontrasse!- e secou as mais que comuns lágrimas de pena. Voltou o rosto para a mesma paisagem rural que distraia a amiga- Temos uma longa viajem pela frente...está com saudades de Hogwarts?

-Bastante...da tanta dó da min...-a bruxa de longos cabelos negros se calou quando a porta da cabine deslizou suavemente, abrindo caminho para duas garotas entrarem; uma de cabelos e olhos castanhos mel e outra de cabelos loiro “queimado”,raspando na cor bronze, que se davam ao luxo de serem delicadamente cacheados nas pontas.

-Caramba!Vocês não sabem “quen’s” agente encontrou agora!-falou a “loirinha” já sentando.

-Logo para abrir o ano letivo com chave de ouro!-completou a outra sua voz mimosa.

-Quem?-perguntou Elizabeth Adams,jogando seus cabelos negros para trás e voltando seus olhos acinzentados para as novas ocupantes da cabine.

-Se vocês estão pensando no quarteto maroto,acertaram em cheio!-exclamou uma sorridente Cynthia McClair enrolando um de seus cachinhos com os dedos.

-Acha que esse é o tipo de cena em que nós não estamos presentes?-caçoou Stéphanye Patil,fazendo seus olhos cor de mel brilharem de maldade.

-E estão “brincando” com quem?!-ironizou Cynthia já caindo na gargalhada fina,aguda e fresca ao que todas as outras responderam já se erguendo,dominadas por sorrisos aprovadores:

-Berta Jorkins!!!!-e todas saíram,indo em direção ao bolinho de gente parado no meio do corredor do trem,abrindo caminho até chegarem no centro do “show”.

Sirius girava os óculos de Berta entre os dedos longos,rindo brilhantemente, enquanto Tiago avaliava num sorriso escárnio:

-Minha filha...isso aí nem toupeira usa! E olha que eu entendo de óculos...

Berta, a pobrezinha, tinha a face vermelho-berrante. Tentava fitar seus malfeitores pressionando os olhinhos aguados. As risadas ecoavam em sua cabeça como tiros de flechas...os rapazes se deleitavam:

-Vai buscar, gordinha!-Sirius jogou para longe o objeto,que espatifou-se, partindo as lentes.

-Foi bondoso demais Almofadinhas... essa coitada aí deve usar cintas debaixo da roupa pra não estourar a saia e a camisa com as banhas...

-Podemos ver,Jorkins?!- pediu o outro moreno,virando-se para ela. A platéia ria num prazer maldoso. Sonserinos, Corvinais, Lufa-lufas e Grifinórios, principalmente estes últimos, admiravam a dupla. Pedro fazia parte da multidão entretida: ria em guinchos de rato,corado, os olhinhos amendoados reduzidos a riscos.

Apenas duas grifinórias não pareciam satisfeitas. Alice Skamachi e Courtney Banks repudiavam a cena, quase que se revoltando, cobrindo a boca em exclamações de choque e rebeldia,mas algo faltava nas suas veias para impeli-las para a frente.Não tinham coragem de mover um músculo. Não conseguiam se imaginar ali, entrando com passadas firmes no centro da tortura, em altos brados, enfrentando a dupla. Vontade era o que não faltava,sem dúvida...mas se vontade fosse coragem elas já teriam reduzido os dois a pó. Naquele momento nem ao menos se pareciam com grifinórias.

O colo alvo de Elizabeth palpitava conforme a sua risada ia se intensificando.Para ela era como se aquilo fosse um hilariante espetáculo de comédia.Seus olhos acinzentados brilhavam de prazer,enquanto seus lisos e longos cabelos negros eram jogados de um lado para um outro conforme ela virava-se para fazer algum comentário sobre a cena com uma das amigas,propiciando um lindo contraste do escuro tom dos fios com a tonalidade “neve”de sua pele.Tinha as duas mãos postas na cintura. Katherine,sua melhor amiga dentre a diversidade que Eliza tinha, ria numa frieza quase mortal. Sua pele era escura, forte, viva e quente. “Kath” era um exemplo de negra. Nem mesmo Lúcio Malfoy, preconceituoso que só ele, conseguia sentir seu racismo aflorar. Os olhos verde claro se destacavam com vontade graças ao tom escuro do seu rosto, assim como os dentes, cor de leite. Dentes que,no momento, se mostravam com vontade em risadas abertas. O cabelo da patricinha não era afarelado, mas pelo contrário: estava muito bem penteado para trás,cacheado por completo, com um ou outro “tererê” entre mechas bem divididas.Stéphanie apoiava-se na primeira de tanto que ria,mas sempre daquele jeito fresco.Ela possuía cabelos médios,que no momento estavam presos em um alto rabo de cavalo,em um colorido mel acastanhado.Sua pele tinha um tom bronzeado que deixavam seus olhos castanhos amendoados muito bem colocados.Às vezes soltava exclamações do tipo “Vai fundo,gato!” enquanto fazia “poses” para se sobressair destacada entre a multidão.A última, Cynthia,era a mais empolgada do grupo pois as vezes ajudava os garotos soltando umas palavras ofensivas à gordinha.Seus olhos eram de um tom claro de castanho,seus cabelos meio ondulados e com cachos apenas nas pontas eram de um loiro escuro,meio acobreado.As quatro se divertiam com a cena,rindo muito,se aproximando mais dos rapazes para “fazer charminho”.Todos os outros riam tão escandalosamente que só faltavam morrer de cólica.

Já cansados de insultarem a baixinha apenas com palavras ofensivas, ergueram as varinhas com firmeza, sempre ombro a ombro, juntos como gêmeos.

-Meninas, querem ver a cinta da Berta?!-perguntou Tiago numa exclamação risonha. A população de saia respondeu um “Siiiiiimmm” embargado por euforia.

-E vocês,caras?!-perguntou Sirius logo em seguida. Os bruxos responderam com mais gargalhadas alteradas.

E com uma troca de olhares ambos mexeram as varinhas,pronunciando o feitiço num solo grave. A blusa branca começou a se desabotoar,enquanto as roupas de baixo de Berta tremiam,pedindo para sair. Humilhada, ela rompeu em prantos.

Alguns monitores colocaram as cabeças para fora de sua cabine,atraídos pelo tumulto escandalosamente alto vindo do corredor. Remo olhou os amigos numa careta quase que de nojo, voltando-se para seu livro bufando. Ninguém fez nada...

Até que um tufão ruivo apareceu.

-O QUE ESTÁ ACONTECENDO???Ahhhh, por que eu pergunto...tinha que ser o Potter!-uma voz feminina e extremamente nervosa vinha se aproximando do centro da muvuca.-Pare de ser infantil e idiota Potter!Deixa a menina em paz!DEIXA ELA EM PAZ!- e finalmente se pôde ver a quem pertenciam os brados,o que não foi surpresa para ninguém: Lílian Evans,tinha que ser ela,só podia ser ela.Todos se calaram.A ruiva puxou o braço de uma humilhada Berta e a mandou voltar para a cabine,junto com as amigas,Courtney e Alice,que saíram aplaudindo.-QUANDO SERÁ QUE VOCÊ VAI CRESCER,HEIN SEU MOLEQUE?Qual é a graça de humilhar as pessoas?E se fosse com você???

-Mas não é com ele Evans.Nem nunca vai ser.-respondeu uma voz irônica e feminina,que realmente não era a de Tiago.Era Elizabeth,com o olhar desafiador.

Pontas olhou para ela já galanteando-a, mas a presença de Lílian pedia por uma resposta. Sirius se balançava nos pés, assobiando, numa boa.

-Evans, escute...Porque raios você defende a ralé,hein?!Não estamos, nem nunca iremos, fazer nada contra você meu docinho.

-DO QUE VOCÊ ME CHAMOU????ELA NÃO É RALÉ!É MINHA AMIGA!-algumas pessoas conteram risadas,com exceção do quinteto feminino que riu alto,ao que Lily ignorou completamente-QUANDO VOCÊ APREDER A VIVER TALVEZ A GENTE POSSA CONVERSAR POTTER...TALVEZ!EU TENHO NOJO DE VOCÊ,NOJO!- e saiu em passos firmes abrindo caminho na perplexa e excitada multidão.

Sirius fez um “Uhhh,mas que nervosinha” baixinho,falando com sigo mesmo, mas Tiago olhou-a partir com uma expressão meio perdida,quase desolada:

-Evans, volta!!!Que merda, era só uma brincadeira!!!

Mas não veio resposta. Ele jogou a varinha no chão com força,quase partindo-a no meio. Sua platéia,já saciada, ia se dispersando aos poucos, novamente com exceção do grupo de Elizabeth (que esperava uma atenção dos rapazes pacientemente).

-Relaxa Ponteco, ela ta caidinha por você!-mentiu o amigo- E qual das minas não está?!

Pedro veio para eles como um cãozinho adestrado, enquanto as cinco jovens também aproximavam-se, por sua vez, com passos sensuais:

-Ah Tiaguinho relaxa ai meu!-falou Cynthia cumprimentando os três com beijinhos no rosto e voltando-se novamente para o moreno de óculos-Essa mina é toda lesa...afff desencana.

Stéphanie,Katherine e Elizabeth também cumprimentaram os três,a última o mais rápido possível quando se dirigiu a Sirius.

-Oi gatas!-respondeu Almofadinhas imediatamente-Estou ficando louco ou vocês estão ainda mais bonitas?!

Tiago forçou um sorriso, arrasado.

-É...oi, que saudades.

Pedro encabulou-se, e todo corado, desengonçado, beijou de volta cada uma das meninas, com estalos.

-Erm...oi.

-Ai credo Ti.Pensei que você sentisse falta das suas amigas nas férias, eu senti de você.-falou Elizabeth brincando, fingindo-se magoada.

Como resposta, num impulso, ele puxou ela pela cintura para um abraço devorador,pedindo desculpas. Pedro esperava o mesmo, mas ninguém nem ao menos olhava para ele. Murmurou, então algo como “espero vocês na cabine” e se foi, em passos lerdos, sem saber que ninguém o ouvira.

-Onde vocês estavam?-perguntou ainda Sirius, o mais empolgado com a presença do grupo. Olhava para todas como que banqueteando-se mentalmente.

-Bem ali...-apontou Katherin-Venham!Vamos terminar a viajem juntos, temos muita coisa pra contar das férias!!

Os dois se entreolharam, como que refletindo sobre o pedido. No fim assentiram, com sorrisos malandros.

Todas se encaminharam de volta à cabine, acompanhadas de perto por ambos.Passaram o resto da viagem rindo e falando sobre suas viagens e momentos felizes de liberdade das muitos doces quando a velha bruxa passou com seu carrinho e,depois de muito tempo,sentiram o vagão diminuir a velocidade e parar na estação.Pôde-se ouvir a euforia do lado de fora da cabine e gritinhos excitados de alunos do primeiro ano:

-Chegamos em Hogwarts!!!!Chegamos!!!!

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O banquete calórico (mas delicioso) pesava no estômago de todos os alunos. Antes mesmo de deleitarem-se na comida, todos assistiram à cerimônia de seleção, aplaudindo os novos e jovens alunos, tentando transformar o medo ansioso dos primeiranistas em paixão pela nova e eterna casa de Hogwarts. Dumbledore não fez muitos devaneios, mas sim um sábio e breve discurso. Tiago sempre tinha a impressão de que o diretor o observava por detrás dos óculos de meia lua, o que não tinha sido diferente aquela noite. Pedro reconheceu uma das pequenas que vestiu o chapéu seletor aquele ano, e foi logo contando para os demais que uma das novas Lufa-lufas era sua vizinha meio trouxa, Amélia Bones. Remo emburrou a noite inteira com os amigos, e o mais estranho: tratou Berta como a uma namorada muito querida,morrendo de pena. Graças á isso, a gordinha corou muito, baixou os olhos, e atrapalhou-se com seu jantar. Ao seu lado, Courtney dava risadinhas de apoio como que dizendo “Vai fundo amiga!”. Queria muito ver Berta se dar bem, pelo menos uma vez, e nada melhor do que um garoto para tirar sua timidez (timidez, esta, que era a barreira entre Berta e o mundo masculino: ela NUNCA beijara. Nunca.).

Courtney ás vezes sentia-se mal por isso. Seu grupo de amigas era composto por “exiladas”: ela, uma loirinha branca e magrinha, era chamada de anêmica e até mesmo de “caveirinha” dês dos seus onze anos. Sua pele fina e clara, rosada nas faces, permitia a visão de suas veiasinhas azuis, que lhe davam um aspecto ainda mais frágil. Courtney nunca tivera um corpo escultural: sempre fora assim; sem curvas ou formas invejáveis, até mesmo agora com seus recentes 17 anos. Até mesmo os cabelos pareciam quebráveis: os fios eram quase transparentes, lisos, sem forças nem ao menos para prender fivelas ou laços. Ele batia em seus ombros, suavemente. Os olhos azuis não contrastavam, já que toda a garota era feita por tonalidades fracas e doentias.Tinha sarda nas bochechas magras. Apesar de tudo chegava a ser engraçadinha com seu aspecto infantil, feminina além da conta.Lílian achava-se sempre ao seu lado, demonstrando sempre muito carinho pela melhor amiga.

Ao final do jantar a mesa do leão dourado já formigava com muitos outros alunos. Os primeiranistas mal mastigaram sua comida, pois não encontraram tempo nem fôlego para tanto: queriam observar tudo á sua volta com uma curiosidade gulosa, perdendo então o apetite pelo banquete em si. Seus olhinhos brilhantes de emoção se encontraram,finalmente aos dos monitores de Grifinória; Lílian Evans e Remo Lupin, que foram logo anunciando sua primeira fala de autoridade aquele ano “ Alunos de primeiro ano, sigam-me para o salão comunal”.

Courtney perdeu a companhia da ruiva de olhos verdes mas ganhou a de Alice Skamachi, uma jovem de cabelos castanhos meio cheios e olhos no mesmo tom. Não era gorda,apenas rechunchudinha.Possuía um sorriso caloroso que fazia covinhas surgirem em suas bochechas.

As duas amigas foram se encaminhando para a porta de saída do salão principal conversando distraídas:

-...e a minha mãe disse que era meio perigoso,mas eu não ligo!To decidida,vou mesmo ser aurora!-contava Alice animada.

-Como pode?-suspirou Lílian chegando para perto das amigas enquanto tentava segurar uma turma exaltada de jovens de onze anos de idade.

-O que Lily?

-Aquilo...-apontou a ruiva para o quinteto feminino que ia logo a sua frente, acompanhadas de três dos quatro marotos,já que Remo ia se afastando com um grupo de inexperientes alunos. Cynthia desgarrou-se de Elizabeth para ir tentar puxar papo com o monitor, obtendo apenas respostas vagas e tímidas. -Como podem gostar tanto assim delas?

-É,é isso que eu também não sei...queria entender por que elas são grifinórias.-comentou a loirinha.

-E não é só isso...olha como elas são com esses moleques,nossa!!!Todas amiguinhas cheias de intimidades com o Po...digo, com os garotos todos.-terminou Evans meio sem jeito. A fila de primeiro anistas atrás da ruiva impacientava-se, enquanto as outras duas apenas se entreolharam sorrindo,pensando exatamente na mesma coisa e dizendo juntas ironicamente:

-É TODOS os meninos!!!

O grupo em questão subia as escadarias inquietas da escola num cortejo meio dividido: Elizabeth ia conversando dengosamente com Tiago Potter,lado a lado.Stéphanie e Katherine iam juntas cochichando sobre algo que parecia ser realmente excitante,logo atrás. Pedro e Sirius seguiam liderando o grupo:

-Hey Bola, qual das meninas aqui você acha mais atraente?-perguntou Sirius num sussurro próximo á orelha redonda de Pedro.

-Num sei...a Elizabeth,talvez. Olha Sirius, falando nela...

-É,eu sei.

-E então?

-Tudo em seu tempo.

Enquanto a conversa se desenrolava devagar, Tiago e a dita cuja caminhavam próximos. Remo fazia o mesmo com Cynthia , no entanto, sem falar muita coisa realmente relevante. Estava sem graça, como sempre, e um pouco desinteressado.

Em poucos minutos chegaram no salão comunal. Os novatos e inexperiente aglomeraram-se receosos ao redor de Lupin,que lhes passou breves explicações sobre a torre de Grifinória,pedindo, meio impaciente, diversos “Não empurrem,crianças!” para certos primeiranistas desgarrados que chegavam ao grupo tão amedrontados,mas tão desnorteados, que não viam uma solução melhor a não ser a de enfiar-se e aconchegar-se nos demais.

Os marotos e suas companhias foram logo cumprimentando todos os outros grifinórios, sorrindo, falando alto, exclamando algum “Como tem passado as férias?” e se afastando para não ouvir a resposta, puxando cadeiras e pufes para se juntarem numa já quase formada platéia. Lílian e suas amigas vieram em seguida, silenciosas.A primeira fez um gesto vago com as mãos para que seus seguidores de onze anos de idade se dispersassem e fossem “Brincar por aí”, enquanto ela ,Alice e Courtney baixaram as cabeças ao passarem pelo grupo galináceo de grifinórios unidos ao redor da lareira apagada.

-Evans, quer ficar aqui com a gente?-chamou Tiago enquanto puxava mais uma almofada, abrindo um sorriso.

-Que você disse Potter?Você ACHA que eu iria sentar ai?Do seu lado?Há,há não me faça rir moleque!-retrucou com ironia e desdém a ruivinha.Suas amigas abafaram risinhos.Elizabeth revirou os olhos.-Que foi menina?Eu to falando com você “alma penada’’?

-QUE?!-a outra se levantou passando os dedos pelos cabelos lisos e os jogando para trás, lançando um olhar de desaprovação para Tiago e em seguida para a ruiva,com mais intensidade-Vê se vai deitar garota...ninguém te quer aqui,ninguém te convidou...cara,SAI FORA!

-Ninguém me convidou?-repetiu ironizando ela-O meu fã me chamou sim...

Elizabeth olhou novamente para o moreno de óculos dizendo apenas com um olhar cinzento um explicito “Tome trouxa!Agora faz alguma coisa!”.Todos assistiam enquanto as amigas da patricinha já se mantinham atentas caso precisassem entrar em ação. Courtney, a amiga de Lily mais preocupada com a situação, tocava o cabo de sua varinha discretamente, como que para sentir mais segurança.Alice segurava seus ombros, tentando, em vão, acalmá-la.

Tiago assumiu uma expressão dura:

-Ok Evans. Vai se enfurnar no seu quarto então...-e passou o braço pela cintura fina da rival da ruiva, puxando seu corpo para si- Eu cansei...

Remo não conseguia mais ficar calado. Disse numa voz fraquinha:

-Pessoal, olha...sem constrangimentos, nem brigas, por favor.- o distintivo de monitor em seu peito parecia,finalmente,ter algum significado.

-É Remo eu também acho...vai embora Evans,você ouviu o Ti,ele cansou de você!-Elizabeth sorriu vitoriosa passando uma das mãos pela cabeça do rapaz,bagunçando ainda mais os seus cabelos.

Por um momento Lílian ficou sem reação alguma,não acreditando no que via:ele,Tiago Potter,dizendo que cansara-se dela!?Não podia ser.Ela não queria que fosse...

-Faça bom proveito desse bagaço Adams,só lhe desejo boa sorte.-e se virou séria para subir as escadas para os dormitórios,novamente com Courtney e Alice em seus calcanhares.Os olhos castanhos de Aluado seguiram a ruivinha com certo constrangimento, assim com os de Tiago, que já se umedeciam. Sirius olhava a cena com desdém. Pigarreou:

-Caracas, vocês não se agüentam mesmo, hein gatinha?-ele olhou para Elizabeth, passando a mão na franja negra. Tinha que começar a planejar um meio de pegar aquela também, nem que fosse por uma noite.Ela apenas levantou as sobrancelhas,séria. Tiago afrouxou os braços da cintura da jovem, indo se sentar perto de Lupin, que olhou para ele com pena.

-O que essa Evans tem?-perguntou Stéphanie,fazendo uma cara de nojo e indo se sentar entre Remo e o outro. Os dois se entreolharam, permitindo a intromissão da amiga,que se alojou entre eles.

-Na minha opinião ela é uma ninguém.-cortou a voz de Kath,carregada por um toque de superioridade- Não tem beleza, namorado,popularidade, e está cercada por amigas nojentas!

-Espere um pouco Katherine...-Sirius interveio-A EVANS não é bonita?!!Huahuahua!!!

A negrinha fez os olhos faiscarem de ódio:

-Está insinuando que ela é mais bonita que eu?!

-Quê?!!Eu não disse nada!!- o animago riu, como se latisse.

Elizabeth,com a cara mais fechada do mundo,suspirou em alto e bom tom:

-Essa noite já deu o que tinha que dar.Boa-noite pra todos.-e fez um aceno com a cabeça para que as amigas a seguissem.-Não esqueçam de ir dar boa noite também para a gatona da Evans,Potter e Black!-finalizou desdenhosamente se virando e também se encaminhando para as escadas do dormitório,seguida de um numero consideravelmente grande de garotas.

Sirius deu de ombros, como sempre, de bom humor. Tiago encostou-se no sofá, Remo não fez nada além de responder o “boa noite” enquanto Pedro começou a bocejar, lacrimando os olhinhos roedores e observando sonolento os sofás se esvaziarem “ Porque as garotas têm sempre de andar em bando?!”.

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Ver as camas de dossel arrumadas e limpinhas, com seus lençóis brancos passados e dobrados, seus travesseiros afofados, suas cortinas finas dançando ao ritmo do vento-que soprava da janela entreaberta- fez com que Almofadinhas senti-se um carinho devotado por aquele lugar. É verdade que dês de que se mudara para a casa dos Potter (em seus plenos 15 anos) suas férias de verão tinham se tornado invejáveis, mas nunca, mesmo no novo estágio de vida em que estava, o rapaz deixara de sentir saudades de Hogwarts.

Gostava de cada parede, de cada passagem, de cada armadura, de cada quadro. Olhou á sua volta, já podendo visualizar aquele dormitório tão organizado tranformando-se, aos poucos, num ninho de ratos. Gostava da baderna. Gostava de cada ação e momento passado dentro daquele castelo.

Espreguiçou-se:

-Ah...mais um ano letivo!

-O último ano letivo.-concertou Pedro agachado junto de seu monstruoso malão.- Que deprimente...

Tiago retirava um pergaminho amarrotado do bolso de seu casaco:

-Nada de melancolia, Rabicho! Vai ser um ano muito divertido...- e guardou o Mapa do Maroto paternalmente na gaveta de seu criado-mudo.

-Oh, nem me fale!-exclamou o maroto de cabelos castanho claro e olhar sempre cansado- Mais um ano com muitas idas ao Salgueiro Lutador...não vou agüentar!

-Oh, vai sim Remo!- exclamou Sirius jogando um travesseiro certeiro no amigo, do outro lado do quarto- Vamos estar lá com você pra zoar muito!

-É...certo.-ele disse ainda sem emoção, pegando o travesseiro de Sirius.

Pedro puxou seus pijamas- que mais se pareciam com tendas de piquenique- para fora da mala, suspirando:

-Essas roupas já estão apertadas em mim.

Tiago deu um ronco de risada, fitando-as. Tirava o uniforme habilmente:

-Certo,certo...escuta Pedroca, já não está na hora de mudar a dieta não? Desse jeito você ainda vai acabar o ano encanado, como sempre.-ele se referia á falta de garotas na vida do amigo.

-Uhm...eu sei que garota o barril aqui está de olho.- fez Sirius indo fechar a janela para que pudesse não passar frio mesmo sem camisa- A tontinha da Jorkins !!

-Pare com isso!-pediu Lupin,nervoso.

-Oh não, o que vejo aqui?!-emendou o goleiro de Grifinória, olhando agora para seu amigo lobisomen- O Aluado está caidão pela Berta!!

-O QUE?!-riu Pontas, relaxando os ombros,desse modo, permitindo que sua capa negra deslizasse para seus pés- Que casal perfeito!

Pedro guinchou de nojo, enquanto Remo esbugalhou os olhos:

-Vocês piraram?!-ofegou- A Berta?! Minha nossa, senti enjôo...

-HUAHUAHUAHUAHUA!-riram a dupla morena. Sirius perguntou cheio de curiosidade, agora apenas com suas calças:

-E quem seria então a felizarda, tomatinho?!

Antes do adjetivo o monitor ainda não estava corado,mas agora, como que num impacto feito pela palavra, avermelhou-se:

-Ora, Sirius!

E queimava mais à medida que as risadas dos amigos se intensificavam. Tiago, jogando as roupas em sua cama, comentou:

- A Elizabeth é mó gata, está sozinha...por que não,hein?

Remo quase que retrucou um “Porque eu não suporto ela!” mas se conteve, com medo de ofender os amigos. No entanto, disse, desarrumando a gravata em volta de seu pescoço:

-Porque ela está louca por você, cabelo de moita!

O maroto não gostou do conteúdo da frase. Não mesmo.

-Ela é legal sim, mas...-e sua voz foi sumindo junto com seus pés, que encaminhavam-se para a pia do banheiro- Mas você sabe que ainda não desisti da Evans...

Os demais suspiraram num coro de “Ah, Tiago!!”.

-Fui tão indiferente com ela...-ganiu ainda o capitão do time de quadribol gastando todo seu tubo de pasta de dente, desinteressado- Coitadinha...fui grosso, fui um idiota!

-Mas...cara!!-Sirius não acreditava nas palavras humildes que ouvia-Ela sempre te trata mal, te despreza, e você fica aí se martirizando por causa da única frase decente que você disse!!

Os outros olharam para a porta aberta do banheiro, de onde certamente soaria a voz do outro maroto.

Mas ele limitou-se a um suspiro, resignado.

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-Mentira!-falou Stéphanie com veemência.-Tá mais que na cara Beth...você e o Ti vão acabar ficando.

-Não vamos não.Alias não tenho planos de ficar nem com ele nem com qualquer amigo dele.-Elizabeth parecia ligeiramente irritada, encarava o teto com um olhar de desaprovação e continuou a ouvir as amigas discutindo sobre o seus sentimentos e atos,mas já não estava mais agüentando.Todas as suas quatro melhores amigas achavam-se deitadas,cada uma em sua própria cama,em total escuridão prontinhas para dormir .É claro que ao em vez de escolher esta última opção as garotas conversavam animadas sobre a vida amorosa da líder do grupo.

Para Elizabeth, nunca uma chegada em Hogwarts parecera tão desanimadora,e justo agora em seu último ano na escola ela só sentia vontade de ficar quietinha em sua cama aquecida,pensando um pouquinho na vida,completamente tranqüila sem ouvir a opinião de ninguém.Não sabia bem por que mas sentia-se chateada e irritada...sentia uma daquelas angustias adolescentes que bate de repente ,sem motivo certo, e que proporciona um terreno perfeito para acessos de choro e grito.A jovem começou a sentir raiva de si mesma por estar sendo tão mal humorada, mas ao mesmo tempo sabia que não era sua culpa estar assim. Por fim ,resolveu continuar quieta mesmo já que sabia bem que se fosse responder qualquer uma das perguntas que as amigas lhe faziam acabaria sendo grossa.Preferiu fingir que já dormia.

-Ah...-fez Katherine, enfiando os pesinhos macios e escuros para dentro dos lençóis.- Mas você fala isso sem pensar,Eliza. Duvido que se um daqueles caras viesse todo cheio de desejos você iria dar um “chega pra lá” nele! O que vocês acham, meninas?

-É lógico!O Si...

-POR FAVOR,SERÁ QUE VOCES NãO TEM OUTRO ASSUNTO?-a moça de cabelos negros e pele de mármore explodiu.

-Ai credo...só estávamos conver-versando Elizabeth!Que mal humor...-defendeu-se Cynthia entre bocejos.

-É ,mas a conversa podia ser outra?

-Não,não podia!Será que você não vê Beth?Eles são os meninos mais gatos,simpáticos,fofos,engraçados,cobiçados e interessantes dessa escola e simplesmente nos tratam como amiguinhas intimas deles,isso é simplesmente SEN-SA-CI-ONAL!!!-completou Stéphanie-Mas é verdade,chega deles!Vamos dormir.

-É...é melhor mesmo.Boa-noite migas.-falou com voz meiga e sonolenta a loira de cachos.

-Boa Cynny...- Stéphanie se dirigiu a Cynthia-Boa noite todas.

Elizabeth suspirou aliviada quando as amigas finalmente se calaram. Grata aos céus, pôde ouvir as cortinas em volta de cada cama se fecharem, logo aproveitou para fazer o mesmo.Sentiu um pouco de pena por estar sendo tão “má” em pensamento com as meninas, mas agora nada mais importava, só queria dormir depressa para que aquele dia tão “pesado” acabasse de uma vez.”Nada como um dia após o outro!” mentalizou, para só então pode virar-se para um lado e dormir tranqüilamente.

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Era uma manhã deliciosa. Havia um ar transparente e fino; o céu arredondava-se a uma grande altura com o mesmo azulado que possuem certas porcelanas velhas e, aqui e além, uma nuvenzinha algodoada, molemente enrolada, cor de leite, passeava. A folhagem tinha um verde lavado, a água do único lago dos terrenos da escola uma cristalinidade fria; pássaros chilreavam de leve com vôos rápidos.

O sol fazia os cabelos dos alunos reluzirem, em brilhos foscos de cabelos ensebados ou suaves de fios bem tratados. O ar bocejava num gracejo, como que se despedindo do verão. A turma inteira de setimanistas, tanto aqueles que carregavam no uniforme emblemas de leões como os de cobra, ouvia em silêncio o arisco Ketleburn dar-lhes explicações. Este, por sua vez, parecia empenhado em prender a atenção dos alunos, pois trouxera para aquela primeira aula um animalzinho perigoso,intrigante e realmente chamativo.

-Um filhote de dragão chinês.- contava ele, andando em círculos ao redor da jaula de seu pequeno orgulho com escamas- Notem o tom azulado que vai se tornando escuro ao redor do pescoço; podemos observar,também,que é uma fêmea. Alguém pode me dizer porque?

Um silencio preguiçoso foi a resposta da turma. Protegendo os olhos do sol, o professor procurou avidamente alguma vítima mais desprevenida.

-Senhorita Banks,a senhorita pode me dar essa simples explicação?-ele pediu, fazendo a loirinha amiga de Lílian levantar os olhos ainda embaçados por sono.

-Erm...-fez ela,fingindo pensar. Os raios ainda vesgos de sol batiam em seus cabelos e pele clareando ainda mais sua figura, já de tonalidades fracas. O colo e pescoço, ambos lácteos, ficaram sombreados. Ela mordia os lábios pequenos com os dentes também muito brancos- Acho que pra saber se é fêmea basta olhar no meio das pernas,não é professor?!

Alguns sonserinos riram com escárnio,enquanto Sirius,sem se agüentar, exclamou audivelmente um “Que bobinha!”.

-Não exatamente,minha cara.-desaprovou o professor sem alterar sua expressão profissional apesar dos risinhos- Em um dragão chinês podemos notar a grossura das escamas; as do macho são sempre mais grossas.Além disso notem o focinho mais achatado- e apontou para o réptil acuado mas atento dentro da gaiola.-isso é porque é uma fêmea,e jovem.

A dragão estava apertada apesar de ser pequena. Suas asas de morcego permaneciam coladas para lhe proporcionar um maior no entanto quase irrelevante espaço, o pescoço grosseiro encolhido, o rabo pontudo e duro ao redor de seu corpo e, em volta das mandíbulas, ela tinha de aturar uma potente e mágica focinheira. Suas narinas inalavam todo aquele cheiro de terra do terreno do lado de fora, enquanto seus olhos amarelos olhavam por entre as grades aspirando liberdade.

Os bruxos a avaliavam.

- E alguém aqui pode me dizer com que idade essa criaturinha pode começar a cuspir fogo?-tentou Ketleburn novamente, ainda passeando num vai e vem com suas botinas de couro.

-Com menos de um ano, professor?!-respondeu Alice ainda meio em duvida.

-Sim, sim, certamente.-ele confirmou, chutando uma pedrinha para longe- É uma raça pequena dentre os grandes dragões. Perto do maior de sua espécie (o Rabo Córneo Húngaro) chega a ser uma anã. Esta chinesa aqui,por exemplo,vai ficar miudinha por ser fêmea. Uma “miudinha” que atingirá orgulhosos seis metros de altura e pesará toneladas, além do que terá o potencial de, em um lança-chamas, jorrar torres de fogo com altura máxima de quatro metros na vertical.-notando as expressões impressionadas de seus ouvintes, explicou-se – E é por isso que tenho permissão, tanto da escola como do Ministério, de trazer aqui apenas um bebê, e enjaulado.

Apesar de aquela ter sido uma aula dividida entre rivais não houve grandes constrangimentos, talvez por ser apenas o primeiro dia letivo, ou seja: um dia feito para os estudantes “desenferrujarem” e, lentamente, voltarem aos eixos.

Sonserinos seguiram para as torres sul do castelo, enquanto Grifinórios, como condenados, foram para História da Magia.

Aquela seria uma longa e cansativa segunda-feira.

-Tenho que organizar os treinos de quadribol!-comentou Tiago observando, a distancia, a cabeça reluzente de uma das altas balizas do campo. Subia ao lado do grupo os degraus de entrada de volta ao castelo, sentindo a cabeça quente graças ao martirizante sol. Sirius, ao seu lado, ainda bocejava e estralava os ossos do pescoço, enquanto Remo estranhava alguns olharzinhos corados que Berta Jorkins lhe lançava. Pedro resmungava alguma coisa sobre não ter comido o suficiente no café da manhã...

E as horas se arrastaram, cumprindo seu dever.

hr

O som de tilintar de garfos,facas e colheres fazia,junto com a balburdia do inicio da tarde, uma orquestra desgovernada de alunos almoçando.

Na mesa de Grifinória, Frankie Longbottom não conseguia disfarçar; por mais que tentasse, não vencia a tentação de olhar para Alice. Mundungo lhe cutucava ordenando para o amigo que ele come-se, já que tinham apenas uma hora para terminar o almoço, mas o sardento grifinório não dava atenção. Sirius,ao seu lado, também sofreu um momento embaraçoso:

-Me empresta...esse...treco...-esticou-se sobre o prato tentando alcançar o suco, que estava ao lado do cotovelo de Elizabeth. A mão do rapaz cutucava o espaço da garota, numa elasticidade digna de goleiro.Ela o olhou despreocupada.Ele reforçou:

-Dá um empurrãozinho...vai,não custa nad...

-Pô Sirius, sua roupa tá comendo minha comida!-resmungou Lupin,ao seu lado, que espetou com o garfo uma parte do uniforme de Sirius-Sai daí!!

-Eu to com sede,merda!

-Então bebe saliva!

-Que nojo Lupin!-a jovem fez uma careta-Black...cadê a palavrinha mágica?

-Por favor!!-implorou ele, agora completamente derrubando o almoço do amigo,que só resmungava baixinho.

-Ah,agora sim!-sorriu ela e lhe deu a jarra de suco.

-Quer ajuda Remo?-perguntou a tão diferente e especial garota ruiva sentada á frente do monitor.

O outro embaraçou-se,esbarrando no suco de Sirius,que tinha acabado de se servir. Agora foi a vez de Almofadinhas reclamar.

-Ah,n-não, obrigado Ev..Lil...obrigado. –na dúvida de que nome usar para se dirigir á ela, decidiu finalizar a frase o mais rápido possível. Não sabia porque estava tão fora de controle,mas sabia que,mais tarde, se xingaria por este momento atrapalhado.

-Você é quem sabe.-sorriu ela e voltou a comer.

-Já fez a boa ação do dia Evans!Agora você já pode voltar a atazanar a vida dos outros normalmente!-disse Cynthia que estava sentada ao lado de Elizabeth,que por sua vez se encontrava do lado de Lílian.

-Meu,para de ser idiota e me deixa em paz!Você pensa que é engraçada ou o que?

-Impossível elas deixarem de ser idiotas Lil.-completou a amiga pálida da ruiva.

-E é impossível você não se meter aonde não é chamada,sua Caveira de Pano!-retrucou Elizabeth.

-E mais impossível ainda é vocês ficarem mais de cinco minutos no mesmo lugar sem brigarem.-finalizou o monitor de cabelos castanhos ao que todas as jovens se calaram,em respeito ao distintivo em seu peito.

Tiago não agüentava mais ficar em silêncio:

-E impossível você não vir com bronquinhas adultas,né senhor monitor?

-Adultas pra você,criançola.

Tiago endureceu de surpresa. Remo se calou em seguida, voltando os olhos confusos para o prato,querendo retirar o que dissera. Sirius olhou de um para o outro,guardando seus pensamentos para si, emudecido. Pedro comia fingindo indiferença e, finalmente pensando em outra coisa que não estava integrada no mundo gastronômico, arrotou:

-Temos aula daqui a dois minutos!

-Aff Bola, que porco!-disse novamente Elizabeth, levantando-se da mesa, colocando a mochila nas costas e soltando um apressado “Já vou indo tá meninas?”.Saiu, não sem antes dar uma ultima olhada no moreno que comia distraído a sua frente e sussurrar apenas para si mesma: ”Por que você não larga essas malditas magias negras, Black?”,retirando-se.

Katherine apressou-se na sua refeição para seguir os passos da adolescente com cabelos lisos, pegando sua mochila ainda aberta,pois na agonia de alcançar a outra, foi puxando e fechando o zíper no meio do caminho. Jogando os cabelos para longe dos olhos negros,Sirius observou a dupla delicada sair do Salão Principal, perguntando interessado:

-Eu já fiquei com alguma delas,Pontas?

-Já.- contou o apanhador, amassando seu guardanapo entre os dedos longos-Com a Kath, no quarto ano.

Sirius se levantou com a resposta,puxando também sua mochila para um de seus ombros fortes:

-Bem, então vamos á luta meu chapa!Temos Poções agora.

-Eu já vou.-disse o outro,olhando de esguelha para uma jovem de olhos verde escuro- Tenho que falar com a cenourinha antes.

-Vai levar um fora,to dizendo...Simbora Lobinho?

Remo fuzilou o amigo ao ouvir o apelido, murmurando um “vamos”.Pedro seguiu os dois carregando alguns restos de sobremesa desesperadamente.

Tiago olhou as quatro garotas que ainda almoçavam.Apoiou-se na mesa para dizer:

-Evans, desculpa estar incomodando,mas...

A melhor amiga da ruiva engasgou-se numa gargalhada disfarçada. Ele continuou:

-Mas é que ontem eu disse uma coisa que não queria ter dito. Você ficou chateada,Evans?

-E como hein Potter!Chorei a noite toda,não esta vendo meus olhos inchados?-ela arregalou os olhos e os aproximou do rosto dele. Sem se segurar, ele deu-lhe um selinho.A proximidade do rosto dela tinha sido a gota d’água para os nervos á flor da pele do bruxo de dezessete anos, e para ele, bastava um toque rápido e singelo como aquele para fazê-lo sentir,ao menos, maiores esperanças.

A jovem não agüentou tamanha audácia: soltou uma exclamação indignada,colocou as duas mãos no peito do rapaz e o empurrou para trás com todas as suas forças,completando:

-Isso é para você nunca se esquecer que EU não sou qualquer uma,Potter.Vamos Court.-e se levantou puxando uma alça da sua mochila com uma mão e um braço da loirinha com a outra,saindo como sempre em passos decididos.

Tiago nunca imaginou que Lily tivesse tanta força naqueles bracinhos femininos e, aprumando-se novamente, pensou de maneira rebelde “Deixa de dar uma de palhaço, Potter!!Desiste!” para logo depois suspirar e, fascínio: aquela sua “nota mental” ele já se ouvira repetir incontáveis vezes, dês do primeiro fora que recebera da ruivinha, em seu primeiro ano na escola de magia.

Ela surtia tanto efeito nele como as broncas do amigo Aluado.

hr

A tarde do primeiro dia letivo dos grifinórios setimanistas fora bastante agitada e cansativa.As aulas exigiam total atenção e complexas anotações sobre a matéria,já que aquele era o ultimo ano de escola e saindo dali cada um teria que escolher seu futuro,ou seja, que profissão decidiria seguir.As cabecinhas de todos pareciam estar cheias de pensamentos acumulados,em um misto de problemas pessoais e matérias novas.Os professores haviam voltado com tudo,mandando diversas lições e trabalhos para serem entregues em prazos não tão longos assim.Alguns deles davam “aula” sobre orientação vocacional,essas em que a maioria dos alunos se penduravam em cada palavra dita.

Quando a sineta soou o fim das aulas aquele dia todos respiraram aliviados ,se encaminhando tranqüilos em meio a conversas animadas para o jantar, no salão principal.Depois de entocados por comida ainda puderam voltar cada um para seu aconchegante e acolhedor salão comunal, tomarem banhos quentes e se espatifarem nos sofás, pufes e poltronas.Elizabeth e suas amigas, após seus longos banhos femininos, tinham corrido para falar com uma colega de Corvinal antes que o horário permitido para passear pelos corredores se esgotasse. Em seu retorno para Grifinória depararam-se com Narcisa e Bellatrix Black, que acenaram frescamente para o grupo.Ao passarem pelo buraco do retrato da mulher gorda falando a senha (Veritasserum),se encontraram em meio a uma grande quantidade de alunos “leoninos”, todos conversando alto e rindo com arzinhos preguiçosos.Permaneceram paradas ali, sem saberem aonde ir, ou o que fazer,observando todo mundo à espera de um convite.

Berta,Alice e Court não estavam com pique para estudar ou fazer qualquer coisa relacionada ao raciocínio extremo,por isso afastaram-se da amiga de olhos verdes, que fazia as lições do dia para não ficar acumulada. Lily tinha,em sua mesa,apenas a companhia de seus livros, pergaminhos,penas e de Remo. Os amigos deste último jogavam xadrez bruxo no centro do salão, embelezando o jogo com exclamações exageradas. Pedro cochilava num sofá próximo,encolhido como um garotão crescido.

-Cansei do jogo,veadão!-Sirius admitiu,notando as garotas que acabavam de entrar.

-Só porque eu tava ganhando,né?- Tiago disse despreocupado,chamando o grupo- Hey meninas, venham aqui!

Os cabelos preto,acobreado,castanho e de trancinhas escuras bateram nas costas das garotas á medida que elas gingavam na direção dos dois. Lily ergueu os olhos,curiosa, ao ouvir seu tiete chamar a companhia de algumas garotas: queria, não sabia bem o porquê, saber QUEM’s seriam. Fez uma expressão de desgosto ao descobrir.

-Sabe jogar,Beth?-perguntou Almofadinhas rearrumando as peças mágicas.

-Sei.-respondeu vagamente ela,se sentando no colo de Tiago, fazendo Lílian (que ainda observava a cena) fechar a cara.As outras se acomodaram no sofá aonde Pedro dormia o cutucando:

-Vá pra cama Bolinha.-sorriu Stéphanie.

Ele abriu os olhos pesados de sono para responder,na sua voz desengonçada:

-Só se você for comigo.

-Nossa Rato!!-exclamaram os amigos,orgulhosos- Vivendo e aprendendo, é isso aí!!

Ela forçou um sorriso amarelo e completou:

-É melhor você ir sozinho mesmo!

Ele se desmanchou para fora do sofá, cambaleante. Bocejou como um leão marinho, coçou as costas e começou a se rastejar no ritmo de uma lesma para as escadarias do outro lado.

-Quer jogar, então?-continuou Sirius agora que o tabuleiro já estava pronto. Tiago envolveu a cintura da garota em seu colo, fechando os olhos para começar a idealizar sua figura feminina: nitidamente surgiu Lílian no seu cérebro.

-Não Black, obrigado.-ela mal o encarava.

Ele pareceu ofendido:

-Oh,só não me chame pelo meu maldito sobrenome...não...não gosto muito da minha família.

-É verdade.-completou Tiago abrindo os olhos- O Sirius passou a morar comigo faz uns dois anos...não sei como ainda não enjoei dessa cara feia.

Todas as amigas da garota pigarrearam alto e ela as encarou surpresa.

-Não gosta da sua família Bl...digo,erm..Sirius?-ela perguntou depois de um tempo.

-Não.-ele disse numa voz beirando ao sério- Mas também odeio falar sobre isso...é que, ah você sabe...eles não são legais.

-Realmente...-Tiago ajudava o outro- Eu tinha medo de entrar na sua casa!Cheia de elfos empalhados,cruzes!

-Desculpe.-ela falou parecendo confusa.”O que ele esta querendo com isso?Ele está falando sério?Deus...que coisa estranha!Será que ele ouviu minha conversa com a Kath no trem??Não...acho que não...”-Bom,mas te chamo de que então?

-De Sirius,ué!Que eu saiba esse é o nome dele!-sorriu Cynthia.

-Mas ás vezes eu escuto os meninos falarem “Almofadinhas”.-riu Kath,ainda atônita com o que acabara de ouvir. Ficou tão confusa quanto a amiga, e devaneava “Vou pegar a Eliza de jeito lá no quarto!!”.

-Ah sim...- Sirius mudou a expressão para um sorriso- É o Tiago que não tem mais o que fazer além de falar merda.

-Não fui eu que criei “Almofadinhas”!!-protestou-Foi o gordo!

Por um momento se calaram. O assunto faltou até que:

-Mas Elizabeth,porque me chamou por “Black”,hein? Está brava comigo?

-Não.Está tudo bem.-ela falou com o olhar distante,novamente sem encará-lo e em seguida virando-se para Tiago completando-Aquela hora você falou muito alto,estourou meus tímpanos!

-Ah...desculpa.-ele respondeu imediatamente-Quer que eu “concerte?”- e beijou a orelha dela, com mordidelas, já sem controle. De repente parou,pigarreando. Sirius os fitava calado. Kath arrepiara-se toda.

Elizabeth sorriu para ele :

-Ai Tiago...não.Aqui não.-falou isso com o maior esforço do mundo.

-Onde,então?-ele perguntou ousado. As meninas estavam sem ar.

-Em lugar nenhum.Vamos continuar aqui,bonitinhos.O que dizia mesmo Bl..Sirius?

-Ah,nada.-ele disse, meio sem reação. Quase se sentia feito de cera, dentro de um castiçal: se aqueles beijinhos tivessem evoluído ele já teria ido embora, para dar maior privacidade aos amigos. O único problema era: se Eliza ficasse com Tiago, o que seria meio duradouro, não aceitaria ficar com ele logo em seguida, o que significava que sua lista de “meninas provadas”jamais estaria completa.

Todos mergulharam novamente em estupor. Tiago suspirou, antes de dizer:

-Foi mau pessoas, não queria matar vocês!

Todas riram. As risadas terminaram, assassinadas pelo já crescente tédio.

Perto dali, Remo terminou sua lição, tocando na mão de Lily todo bondoso:

-Quer que eu deixe aqui ou posso levar esses livros,Evans?

-Lílian.-ela corrigiu-Não,pode deixar ,eu acho que vou usar ainda.-ela falou olhando para o outro lado da sala,adiantando-se numa mudança brusca de assunto-Posso perguntar uma coisa Remo?

-Claro.

-Seu amigo desprezível está ficando com aquela garota nojenta e também desprezível?

Remo olhou rapidamente para os amigos,voltando-se para Lily com um sorrisinho estranho:

-Não,não...ele é sempre assim, atirado com as meninas.-e baixando a voz, falou fazendo força-Mas sabe; ele só tem olhos pra você.

-É ,mas eu não pra ele!-disse ela não conseguindo conter um sorriso.-Obrigada, Remo.

Ele ainda ficou incomodado com a pergunta:

-Mas pra que você queria saber?-aquilo talvez significasse um aumento das chances de Tiago.

-Só para parabeniza-los. Fazem um perfeito casal de idiotas.-disse ela simplesmente, virando-se para os livros não gostava de ouvir insultos em relação a qualquer um dos marotos,Aluado se afastou.

O salão foi se esvaziando à medida que a noite intensificava-se e o tempo corria, lhe restando,finalmente, apenas sete habitantes.As meninas se levantaram e deram beijinhos de boa noite nos dois garotos. Elizabeth cumprimentou apenas Tiago e se virou rapidamente para ir embora ,mas teve que esperar as amigas terminarem o ritual de despedida.Fingiu estar distraída com a figura distante de Lílian a estudar.

-Não vai falar comigo nem um “até amanhã ”?!-indignou-se Sirius, olhando para a “distraída” grifinória.

-Ah desculpa.Esqueci.-as amigas deram corridinhas para chegarem a escada que ia para os dormitórios.Elizabeth se encaminhou até Sirius penosamente: mal encostou sua bochecha na dele e já se virava para ir embora, parecendo alguém com medo de pegar uma doença contagiosa. Almofadinhas não entendeu nada daquela reação enojada.

Tiago se levantou,estralando as costas. Foi andando em direção ás escadas do dormitório masculino,não sem antes passar por Lily,tocar seu ombro e desejar( sussurrando em seu ouvido):

-Boa noite pra você também.-e se ergueu rapidamente, antes que levasse um insulto,ou ainda, uma livrada. Chamou Sirius numa voz apressada. O outro veio lentamente, com um olhar intrigado:

-Notou como aquela mina me trata estranho?

-Ah, ela deve estar a fim de você e fica sem graça...sei lá.- e com um último olhar para a estudiosa ruiva-Vamos, vira lata!

-Boa noite,Evans!!!-desejou Sirius.

-Boa.- ela respondeu apenas,encurvada sobre os estudos.

hr

A semana começou a correr no ritmo frenético e contagiante das aulas de magia. O ar abafado perambulante no castelo tinha um cheiro complexo, indefinido- em que se sentia um sabor de musgo, poeira das pedras e carvão queimado pelas tochas flamejantes, acesas ao anoitecer. O ambiente tinha um aspecto jovial de felicidade tranqüila: apesar do esforço contínuo, os alunos nunca se impacientavam, como se cada dia fosse apenas uma nova aventura a enfrentar.

Tiago bateu na mesma tecla, durante horas de todos os dias, zumbindo nos ouvidos de todos os jogadores de Grifinória,resmungando eufórico sobre os treinos de quadribol. Sirius aturava-o pacientemente, pois ele também sentia todo o pique de início de ano letivo.

Os corredores estavam sempre povoados, movimentados, preenchidos por jovens que iam ou voltavam de aulas da tarde,manhã e Astronomia-a única praticada ao anoitecer. Meninas se aglomeravam nos banheiros,entrando e saindo em bandos, comentando sobre os alunos novos,sobre os que haviam saído- e que fariam falta - ou sobre si mesmas; observavam o bronzeado de uma adquirido nas férias, criticavam outra que havia engordado, ou ainda sussurravam em tom de segredo tudo o que havia acontecido durante os dois meses de recesso. Os bruxos,em sua grande maioria, seguiam os passos de Tiago e começavam a voltar os pensamentos para o torneio de quadribol daquele ano, o que resultava em pequenos desentendimentos entre Grifinórios e Sonserinos, que haviam encerrado a final da última vez, entre porradas. Ambos os times aspiravam o ouro novamente.

Durante as aulas as piadinhas feitas pelos marotos ainda não estavam intensificadas, já que, por enquanto, eles se sentiam serenos. Professores como Minerva McGonagall lecionavam com um ar de autoridade preocupada, falando e sublinhando os discursos sobre profissões,provas, e tudo o mais relacionado ao duro futuro dos aprendizes. Outros, como o professor Binns, não haviam mudado em nada a rigidez das aulas, previsíveis como só eles.

Os cinco primeiros dias, no geral, foram até que prazerosos.

Mas nenhum dia chegava a ser tão feliz quanto o sábado.

O jardim ficou lotado. Todos os alunos tentavam aproveitar ao máximo aquele ultimo resquício de sol e calor que ameaçava se extinguir com pesadas e escuras nuvens que já iam se formando no céu, já não tão claro assim.Era dia sete de setembro.A aproximação do outono era anunciada graças ás folhas que começavam a secar nas árvores e acumularem-se no gramado e relva verdes.O lago ia se tornando um pouco mais gélido a cada dia que se passava, com a falta do calor intenso do sol para aquecê-lo.Havia alunos fazendo deveres, lendo livros, conversando animados, jogando algum jogo bruxo ou somente caminhando pela propriedade.

Elizabeth achava-se sentada no meio de um grande grupo de garotas, todas contando coisas e dando palpites e conselhos com relação as historias das outras.Em meio a elas estavam suas três melhores amigas, e também Narcisa e Bellatrix Black, o resto eram apenas suas colegas ou conhecidas de vista.Eliza ouvia a tudo e dava seu palpite quando pediam, mas não abria a boca para falar nada que fosse a respeito da sua vida pessoal,achava tudo aquilo realmente muito fútil.Ao invés disso,simplesmente fazia as unhas meio incomodada com a presença das duas garotas Black,mais uma daquelas malditas famílias que gostavam de magia negra.

O ar estava suavemente aveludado. A mesma brisa que varria as folhas secas e amareladas na grama brincava com os cabelos das jovens. Narcisa,por exemplo, segurava os fios loiros entre os dedos e unhas pintadas, impaciente com a desarrumação. Bellatrix remexia as pernas como se estivesse sentada sob um formigueiro pinicante, irritada com a grama “nojenta” que emporcava suas calças. Nem um pouco confortável, opinou:

- Vamos andar por aí?-e os olhos negros viajaram ao seu redor, captando possíveis passa-tempo que poderia estar executando, como por exemplo o de conversar ao sol,sem tocar na terra úmida.

A jovem de olhos cinzas encarou as amigas com um pedido de “socorro” mas Stéphanie já sorria e respondia:

-Vamos sim!-e se levantou puxando Katherine pela mão em seguida.Narcisa ajudou Cynthia a se erguer ao que essa fez o mesmo com Elizabeth.O restante das garotas preferiu continuar ali mesmo,aonde estavam. E assim, o agora reduzido grupo de meninas se endireitou para uma caminhada pelo delicioso terreno de Hogwarts.

Ao passarem por um carvalho, a dupla sonserina não se conteve:

-Como comprou este livro, caipira? Tirou do lixão?!
Remo levantou os olhos das palavras,confuso. Estava debaixo da sombra da árvore,sozinho, mas mesmo assim desfrutando de um momento agradável. Olhou para cima e viu as duas primas de Sirius, sorrindo.

- O que?!

-Não ouviu?-agora foi apenas a de longos cabelos pretos que falou exasperada,como se cuspisse sobre um tímido inseto- Estamos falando com você,quem mais seria babaca o suficiente para perder um fim de semana lendo?

Ele fechou a cara,sério. Não gostava de brigar e,por isso, não disse nada. Narcisa tinha os olhos cruéis cintilantes.

-Parem com isso meninas.Vamos ELE não.-Elizabeth estava séria assim como todas suas amigas e trataram de reiniciar sua caminhada o mais depressa possível.Stéphanie ainda olhou para trás e apenas com os lábios sem emitir som algum falou ao rapaz:

-Me desculpe!

Remo respondeu para a garota apenas com uma cara ofendida,fechando seu livro,erguendo-se, e abandonando a sombra da árvore. Katherine acompanhava as sonserinas furiosa:

-Porque fazem isso?!Qual é a graça?!

-Ora...-fez Narcisa numa voz amarga-Quando meu primo estúpido e seu amigo de óculos fazem a mesma coisa,ainda mais escandalosamente, vocês não fazem nada. Na verdade vocês adoram!Suspiram!Esbravejam!

A escurinha corou, percebendo que a namorada de Lúcio Malfoy tinha razão. Bellatrix, que não queria de maneira alguma perder aquele valioso contato com a ”ralé grifinória”, cortou aqueles pensamentos conflitantes com um comentário:

-Linda essa sua blusinha, Cynthia. É nova?- por dentro corroia em risos maldosos; sabia que, com o luminoso e abundante dinheiro de sua família, podia comprar vestes muito mais picantes, caras e,na opinião dela, mais atraentes.

-É sim.Gostou?Ah,alias meninas vocês não sabem?-contou uma animada Cynthia,passando a mão pelos cachos das pontas de seus cabelos loiros acobreados.As outras fizeram cara curiosa e ela continuou-O Amus pediu pra ficar comigo de novo!Ele disse que amou o ano passado...aquela vez,lembram?O que acham?

-O que achamos?Cara,eu nem pensava duas vezes!Vai migaaa!!!!-falou Stéphanie excitada com os cabelos castanhos completamente bagunçados devido ao vento.Elizabeth não respondeu nada com medo até mesmo de falar algo de tal valor perto das duas “comensais”.

-Ele é engraçadinho.-fez Narcisa com desinteresse-Mas é um bruxo de classe média, não tem montanhas de dinheiro...não vale muito a pena.

-Ela vai beijar ele, e não casar com ele!-protestou Katherine, comendo sem querer alguns de seus fios negros e frisados que se metiam entre seus lábios- Que materialista que você é!

A Black tremia de ódio,mas agüentou-se,em silencio. A vontade que rinha era de açoitar aquelas meninas á pauladas,todas elas, e ficar apenas com a companhia de Elizabeth,para que ela e Bellatrix começassem, devagarzinho, a executar o mais novo e ambicioso plano que tinham.

O grupo acabou alcançando o lago da lula gigante, onde pararam para observar seus reflexos na água espelhada. Depois, recomeçando uma nova conversa, seguiram na direção do campo de quadribol: puderam ver o time de Grifinória treinando, excitados.Katherine e Stéphanie acenaram para seus irmãos, Kevin Brown e Silvester Patil, que junto com Mundungo Fletcher formavam os três artilheiros do time. Como batedores a casa do leão apresentava Frankie Longbottom e Alice, a única garota do grupo. Sirius como goleiro e o orgulhoso Tiago como capitão e apanhador.

Narcisa, aproveitando a distração das duas (que observaram durante algum tempo os irmãos sob suas vassouras) e de Cynthia (que babava em Sirius) cutucou Elizabeth para uma conversa íntima. Bellatrix baixou a cabeça também, notando a loira e a grifinória compenetradas. Sibilou baixinho um pedido para, logo depois, voltar a cabeça imponente, olhando as sete vassouras que cortavam o ar metros á cima. Desejava que todos aqueles grifinórios morressem, numa queda alta e tortuosa.

O céu com ar nublado foi, conforme as horas passavam, escurecendo gradativamente, pois o sol se recolhia. No final da tarde os terrenos já estavam praticamente despovoados, pois a graça (que era a claridade do dia) já os tinha abandonado. Todos se recolheram para o castelo, se encontrando para algumas xícaras de chá de frente para as lareiras, seguindo á risca aquele costume tão britânico de ser. Na biblioteca os estudantes mais dedicados entregavam-se aos livros e lições, enquanto nos salões comunais os baderneiros riam alto, com a consciência limpa já que ainda tinham um longo domingo para os estudos.

Lílian, Courtney e Berta acompanharam Alice para o segundo andar da torre de Grifinória, já que a jogadora almejava um banho quente e fortalecedor. Pedro Pettigrew desesperou-se com as lições acumuladas, e num acesso agudo de preguiça implorou para que Remo o ajudasse com o atraso, o que ele fez de bom grado. Tiago e Sirius transformaram o banheiro numa piscina total com seus banhos de proporções titânicas, fazendo com que os vizinhos Frankie e Mundungo ficassem sem água quente no quarto ao lado. Assim, entre uma confusão e outra, desceram para o jantar, limpos, secos e cansados.

hr

Katherine tremeu as pálpebras antes de abri-las. Estava com a cabeça deitada no travesseiro, o rosto fitando a cama da melhor amiga. Mesmo no breu do quarto ela podia enxergar silhuetas e contornos, pois a lua crescente boiava intensamente, prateada que só ela, além da janela de vidros fechados e cortinas cerradas. Ainda de lado em sua cama, a voz abafada pelo travesseiro, bocejou:

-Beth,aonde você vai?

-Vou no banheiro amiga!Dorme...pode dormir,já volto.-mentiu uma apressada Elizabeth,já saindo pela porta do dormitório.

Desceu correndo as escadas: se viu em um escuro e deserto salão comunal.Sentia-se preocupada, ao mesmo tempo curiosa e até mesmo louca.Nunca...bom, quase nunca, saíra depois do horário permitido pela escola.Já tinha levado uma detenção uma vez que fora pega com Amus Diggori tarde da noite e sabia muito bem que era horrível; não queria outra como aquela.Ao mesmo tempo queria e “precisava” muito saber o que diabos as duas jovens sonserinas queriam lhe falar com tanta urgência.Mas será que valia a pena se arriscar tanto assim para encontrar-se com duas pertencentes à família Black?Com duas pessoas que faziam parte daquele circulo de gente que ela tanto detestava?E se fossem falar algo ligado a artes das trevas?Ai com certeza teria de usar sua varinha , por isso já estava preparada.Ficou um tempo refletindo sobre tudo aquilo, parada na escuridão quando de repente tomada por um acesso de coragem,o que a tornava uma explicita grifinória , saiu com tudo pelo buraco do retrato da mulher gorda.Puxando o agasalho o mais perto possível do corpo para aquecer-se, conseguiu atravessar o castelo inteiro até os jardins sem grandes problemas.Estava com pressa, por isso, ao passar pela grossa porta de carvalho da saída ,tentou fazer o menor barulho possível,começando a correr pelos jardins delicadamente.

A noite não estava sombria, ou escura o suficiente para fazê-la andar ás cegas; estava iluminada, banhada por estrelas. A relva farfalhava. O salgueiro lutador, uma das árvores mais jovens da escola, parecia imóvel. Seus galhos fortes (e um tanto vivos) descansavam, erguidos em sinal de paz. A brisa noturna era fria, um tanto úmida, chegando a ser cortante quanto batia no rosto. Ela andava devagar,tremendo, abraçando o próprio corpo.

Sentia que o seu coração ia pular para fora do peito,já que este batia em ritmo acelerado devido ao medo da jovem.Parecia que tudo a sua volta a espiava e a qualquer momento uma criatura completamente horrível pularia em cima dela.Queria chegar depressa ao local marcado mas parecia que quanto mais ela andava mais longe ele ficava.

Um vulto alto como uma muralha, com passos grandalhões e desengonçados, aproximou-se:

-Quem está aí?Quem é?-a voz grossa do guarda-caça perguntou. O gigante acabava de sair da floresta proibida, por isso cultivava ainda seu instinto de observador desconfiado.

Elizabeth tremeu como um arbusto ao vento.Não tinha como fugir,correr ou se esconder.Só tinha uma opção: responder o “meio gigante”.

-Sou eu Hagrid,a Elizabeth.-falou com a voz cansada.

-Fazendo o que aqui fora?-exclamou ele, logo em seguida tomando uma iniciativa nova e mais amigável- Ah, mas pelo menos saia desse frio!Se importa de me acompanhar até minha cabana?Não? Vou fazer um chá pra te aquecer...venha,preciso conversar com alguém antes de dormir.- e sem esperar grandes respostas foi empurrando,com suas mãos espalmadas e largas como pratos, as costas de uma surpresa Elizabeth,que ficou impedida de qualquer reação. Tropeçava nos próprios pés graças á força com que ele a impelia para a frente.

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-Pô Sirius, você é folgado, hein?-Tiago exclamou, jogando a camiseta abarrotada para longe de sua cama, aonde pretendia se deitar-Você é assim lá em casa, aqui em Hogwarts...que lástima!

Sirius, que estava guardando a escova de dentes ainda molhada, saiu do banheiro irritado,mas sem dizer nada. Sabia que se Tiago continuasse com aquelas reclamações ridículas seria capaz de explodir de raiva: sua paciência para com o amigo diminuíra consideravelmente graças á convivência.

Pedro, que se achava já deitado em sua cama com os olhos fechados, fez questão de os abrir para assistir o que deveria ser o inicio de uma hilária discussão entre os amigos.Mas estava enganado, dessa vez. Remo estava indiferente á tudo aquilo: sentado em sua cama, observava um calendário lunar pousado nos joelhos.

Sirius se abaixou para recolher sua camiseta, jogada ás traças:

-Não precisava fazer isso, moleque!-reclamou, irritadiço, enquanto desamassava a peça de roupa e a atirava de volta para seu malão aberto.

-Eu já devia ter feito pior-exasperou-se o rapaz, tirando os óculos- Estou te alojando faz um ano e você continua assim,sem ao menos agradecer!

Os olhos negros do jovem Black tiveram um momento elétrico, como se tivesse perpassado por eles um raio.

- Escute aqui Tiago...-começou,pausadamente, tentando controlar o tom de voz- Eu não vou me passar por coitadinho só porque esse seu gênio terrível e egoísta decidiu dar as caras essa noite, mas fique sabendo que não estou alojado na sua casa como se estivesse em um hotel. – o outro fazia indícios de querer falar, mas Almofadinhas não permitia, tamanha era a vontade de se explicar- Estava lá,de início, porque pensei que você me acolheria depois de ter fugido de casa, mas agora começo a me arrepender...-Pontas parecia querer protestar- Acho que seria mais fácil aturar minha família nojenta mais alguns aninhos do que têm sido,pra mim, aturar um egocêntrico como você!

Remo guardou o calendário que tinha em mãos, chocado com as palavras soltas no ar. Pedro assistia a cena com um olhar surpreso mas mesmo assim sonolento,vendo que as coisas saiam de um jeito diferente do habitual. Tiago recebeu aquilo como alguém que recebe um chute:

-Egocêntrico?!-repetiu,com desdém- Quem é que ofereceu tudo pra você durante um ano?!Quem é que têm te tratado como a um irmão, doando a melhor cama, roupas,comida,dividindo tudo; quarto, pai e mãe, tudo, todo esse tempo?!-enquanto falava começava a embargar a voz, movido pela euforia, enquanto Sirius deixou-se sentar na cama, respirando ódio. Tiago falava como se o outro fosse um infeliz ingrato...

Quando retrucou Almofadinhas tinha desgosto na voz:

-Pensei que isso saísse naturalmente de você. Não sabia que você esperava uma gratidão eterna em troca,mas sim, amizade.

Remo abraçou os joelhos,sentado tão quieto que parecia fingir não estar lá. Pedro olhava para este como que pedindo socorro,temendo que talvez tivessem que separar um duelo intenso de varinhas.

Tiago agora olhava duramente para o outro,que o encarava na mesma intensidade. O ar entre os dois parecia pegar fogo.

- Você está sendo ridículo...- rugiu Pontas,trincando os dentes- Eu nunca quis dizer isso...

-Talvez não,Potter.- Sirius começava a sair de si- Você age sem pensar, fala também, mas seu subconsciente te diz exatamente essas palavras. Sabe, ás vezes...-e sua voz inflamada pareceu perecer por segundos.Voltou com coragem- Ás vezes olho pra você com tanta pena.

-O QUE?!- esgoelou-se o outro, agora levantando da cama.-Explique isso melhor Sirius BLACK!- fez questão de grifar o tão odiado sobrenome do amigo.

-Você é tão mimado, um delinquentezinho tão irresponsável, que não consegue olhar á sua volta a não ser que esteja cercado por espelhos!- esbaforiu-se o moreno, soltando indignações que nem ao menos sabia que existiam. Tiago ficou atônito.- A Evans tem razão!!!Você é um coitado sem cérebro,Potter!

Os dois amigos que assistiam a cena não paravam de trocar olhares absurdamente pasmados, ficando a cada segundo mais surpresos, questionando-se o porquê de tudo aquilo. Até aquele momento ainda não entendiam como aqueles dois haviam começado aquela briga, e ainda por cima numa ira tão descontrolada como aquela.

-Você pensa assim, não é seu imbecil?!- irrompeu Tiago,completamente detonado por um sentimento de humilhação e,ao mesmo tempo, fúria- Então porque não desgruda de mim nem por um segundo???Tem interesses?!

Sirius sentiu o sangue ferver, borbulhar,escaldar, evaporar-se. Não conseguia aceitar aquelas palavras:lançou um olhar tão cortante para o (naquele momento) rival de óculos, que fez o ar cair alguns graus na escala Celsius. Marchou para a porta sem dar mais nenhuma palavra, pois sabia que seria capaz de mirar um soco forte e bem dado na cara de qualquer um de seus amigos, já que estava fora de si. Fechou a porta como que querendo arrebentá-la, fazendo as paredes tremerem.

Pedro soltou um “CARACAS!” bem alto e ficou com a boca escancarada por um longo tempo dizendo depois em sussurros para o rapaz ao seu lado :

-Essa foi a pior briga deles né Remo?Sem duvida...

O outro não respondeu em palavras,apenas num olhar de sobrancelhas erguidas. Tiago, enraivecido como um leão, virou o rosto para os dois:

- O que estão olhando?!

Aluado inquietou-se, meio sem paciência:

-Nem vem Tiago, eu e o Pedro não temos nada haver com isso...

-É...fica quieto que é melhor!

E se calaram, com os nervos tumultuados.

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Elizabeth despediu-se de Hagrid após longas xícaras de chá e bolinhos duros, pois sabia muito bem que estava não só atrasada, mas sim absurdamente atrasada. O guarda-caça ainda lhe sugeriu “Não vá dormir tarde!Volte logo para o castelo!” ao que ela confirmou um “Claro,pode deixar” falso e esbaforido. Foi tropeçando que chegou ao encontro com a dupla de sonserinas.

- Aonde você...-a namorada de Lúcio Malfoy observou Adams dos pés a cabeça, num ar de analista patife- Estava?

-Bom...-Bellatrix não permitiu que a grifinória respondesse- Vamos logo ao que interessa...

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Bellatrix e Narcisa se despediram e se afastaram em passos apressados,finalmente,com vitoriosos sorrisos nos rostos que não puderam ser vistos pela outra.Elizabeth permaneceu parada aonde esteve durante toda a conversa,encostada em uma arvore de frente para o lago.O brilho intenso da lua e das estrelas refletia na superfície lisa da água tornando o cenário novamente assustador, e dessa vez também misterioso.A moça sentia-se agora confusa.Muitas duvidas pairavam sobre sua cabeça; estava atordoada.Por que aquelas duas a tinham chamado ali,aquela hora da noite e completamente sozinha? Isso apenas para que não ficasse com uma má impressão delas?

Ficou contemplando o castelo escuro de pedra ao longe por um longo tempo cheia de vontade de conversar com çava a se sentir sozinha; não pelo fato de não ter companhia, mas sim por não ter com quem conversar em um momento de tantas duvidas como aquele.

Houve um barulho de passos se aproximando, fazendo a bruxa se sobressaltar. Aos poucos o som tornou-se forma.

Sirius levantou os olhos:

-Quem está ai?-perguntou ainda num tom carregado de raiva.

Ao ver quem era a menina desesperou-se.Teve a certeza que caíra em uma armadilha dos Black,sentindo uma louca vontade de sair gritando socorro mas sabia que com um simples aceno da varinha o rapaz poderia lhe lançar uma maldição pelas costas.Não tinha o que fazer,sentia-se perdida.Depois de pensar um pouco percebeu que era melhor fingir-se de desentendida e tentar voltar para o castelo o mais rápido possível,então respondeu com a voz calma e divertida:

-Por que será que todos perguntam isso?

-Ah, é você...-Sirius reconheceu a voz, o que o fez acalmar.-O que faz aqui essa hora?Não devia estar dormindo?

-E você também não dorme?Está esperando alguém?-ela permaneceu encostada na arvore.Sentia que tinha perdido os movimentos das pernas,por isso,não conseguia tomar a iniciativa de sair andando para o castelo. Sirius aproximou-se, sentindo a brisa e a nova companhia melhorarem gradativamente seu humor.

- Não, é que...-e a lembrança dos amigos,de Tiago,do assunto discutido, enfureceu-o novamente. Ele preferiu não falar nada sobre o assunto, apenas fitou-a, com olhos negros profundamente chateados.

-O que você tem Black?Esta tudo bem?Precisa de ajuda?O que aconteceu?-Elizabeth não sabia por que não estava correndo a quilômetros dali e sim ao invés disso, perguntando o que o “vilão” tinha.Será que ela estava louca?

Rancoroso,ele disse numa voz baixa e étera:

-Briguei com o Potter.

-Sério?Oh,eu sinto muito.-mas parecia não sentir nada-Essas coisas acontecem mesmo,sempre,é impossível duas pessoas serem amigas e não brigarem.E se brigam é por que já se conhecem o suficiente para ver os defeitos do outro...entende?Amanhã vai estar tudo bem.-ela deu um sorriso,mostrando seus dentes brancos mas podia notar-se que seus lábios estavam roxos e sua boca tremia ligeiramente.

Os fios negros dos invejáveis cabelos masculinos bagunçavam-se com o mesmo vento que fazia a outra tremer de frio. A luz azulada do ambiente deu um ar e tonalidade mais elegantes ao rosto do rapaz,que retrucou,contrariado:

-Não sei não...foi tão sério.-ele chegou mais perto,querendo sentir a presença da única alma viva naquele imenso campo de mistérios.- Eu fiquei tão nervoso...ele falou coisas tão inaceitáveis...-e apertou os dedos,estralando os ossos, dessa maneira,despachando os sentimentos vingativos.- Não sei se vou falar com ele tão cedo assim, mas sei que eu não queria que isso tivesse acontecido...droga.- parecia tão arrasado que qualquer palavra se encaixaria ao seu semblante,menos “vilão”.

As suspeitas de que aquilo era uma armadilha foram morrendo lentamente,pois se realmente fosse,Sirius era o melhor ator do mundo.Não sabia o que dizer e fazer mas mesmo assim permaneceu atenta.

-Nossa!Foi feio ,hein?O que ele te disse?-olhou para o céu e ficou contemplando as estrelas,aguardado uma resposta,do “pobre” que já começara a lhe causar pena e tristeza.-Eu posso saber?

Ele veio para ela com os braços cruzados, baforando sereno, inquieto. Recostou-se na árvore também,ficando ao lado dela, roçando os ombros. Olhou para o céu límpido.

-Ah,ele...é...teve um ataque idiota de idiotismo.-e deu de ombros- É um bebezão completo! Eu mereço um troféu por ter agüentado ele durante sete longos anos da minha vida!

Ela não conteu uma risada, não deixando também de acrescentar mentalmente “E você é mil vezes pior!”:

-Você fala isso agora.É da boca pra fora...acame-se Si...Black.-ela sentia-se inquieta com a proximidade dele,mas tentou continuar calma apenas olhando para o céu.-Ele que começou?

-Foi, só pra variar...-disse soturnamente, despregando os olhos meio tristes das minúsculas e distantes estrelas para o escultural e próximo rosto da jovem.-Mas não queria mais pensar nisso...Vim aqui pra me acalmar, senão o pobre do Remo e o tonto do rato iriam pagar o pato!-e notando uma certa aflição,espalhada em todo o corpo encolhido da outra,perguntou- E você?O que está fazendo aqui?

-E-eu?Nada!-ela sorriu novamente,completamente sem graça.-Só sinto frio,mas não quero entrar...o céu está lindo não é?-tentou mudar de assunto.

-É...-fez ele, novamente olhando para o manto azul escuro sob suas cabeças. Viu a sombra de uma coruja voar do corujal e, rapidamente, enfurnar-se na escuridão.- Você conhece as estrelas?-ela ,finalmente,desprendeu os olhos do céu e tomando coragem o encarou pela primeira vez dês de que chegara.Ergueu as sobrancelhas esperando a continuidade do assunto,era horrível admitir,mas estava interessada. Sirius queria livrar seus pensamentos da “cena” com Tiago, por isso tentava voltar-se para outras coisas, dessa maneira,descarregando sua alma (que parecia pesar como chumbo). Se revezava entre olhar para os pontinhos brilhantes no alto e para o rosto obscuro dela, que, por ilusão ou mesmo loucura, parecia incrivelmente lindo e atrativo. Elizabeth sempre fora uma jovem que despertava desejos masculinos,é claro, mas ele sempre esteve tão ocupado com “as outras” que nunca tinha parado para admirá-la. Aquele inoportuno momento foi sua chance.

-Bem...-pigarreou,numa voz macia que guardava apenas para suas ouvintes femininas- Está vendo aquele grupo mais amontoado perto da torre de Astronomia?-ele usava a sombra sólida de Hogwarts como referencia para ela. Com o assentimento de Elizabeth, continuou a explicação, sempre sem perder o ar terno. Contou-lhe que aquelas estrelas só podiam ser admiradas em noites sadias,ou seja, em paisagens rurais. Era meio óbvio o comentário,claro, por isso apressou-se em citar os nomes das estrelas, suas posições, a proximidade com outras constelações. Mostrou-se um grande conhecedor de Astronomia.

-Nossa Black!Você sabe muito sobre estrelas...sabia que eu amo estrelas!?-ela começou a perder um pouco da “antipatia” por ele,mas muito pouco por conhecer MUITO bem a sua fama-Olha só.-e tirou de dentro do decote da blusa uma correntinha de ouro com um pingente de estrela.-Meu pai que me deu,antes de...ele me deu por que dês de pequenininha eu sou fissurada por elas,atrás tem meu nome escrito.

Ele olhou a jóia um tanto interessado, para logo dizer:

-Combina com seu pescocinho.-e completou- Eu também gosto de estrelas...bem, olhe o nome de metade da minha família!Olhe o meu nome!-não queria comentar sobre o pai dela, por educação.

Ela sorriu e aproveitou a chance para dizer:

-Black...por que você não gosta da sua família?

-Porque eles praticam artes das trevas, daquelas fortes mesmo,sabe?-disse sem emoção, com uma pitadinha de nojo na voz- Eu não gosto disso, não suporto nenhum dos meus odiosos parentes,nem mesmo minhas primas que ás vezes vejo conversando com vocês...-olhou para ela com certa cumplicidade- Elas não são legais Eliza,tenha cuidado,viu?

-Por que quer que eu tenha cuidado?Se preocupa comigo?-ela já estava confusa demais com relação aquela família,afinal,ele lhe falava uma coisa e as duas sonserinas outra,em quem confiar?Por isso,preferiu deixar esse assunto para depois.

Ele riu:

-Ora,mas é claro!- fumaças condensadas esvoaçaram-se no ar escuro.

-Ah!-ela sorriu novamente-Black...suas primas também praticam...artes das trevas?

Ele respondeu não tão diretamente:

-Sou o único que não faço isso.- o assunto trouxe uma outra idéia á sua cabeça, que rapidamente se ligou com o que tinha acabado de acontecer no dormitório.Explicou- Foi por isso que me mudei para a casa do Tiago no quinto ano e,mais ou menos, foi a nossa “convivência” que desencadeou a briga,entende?

-Ah sim,claro.Normal.-sua cabeça explodiu em mil perguntas .Sentia-se péssima,com vontade de chorar.Tinha medo de confiar na pessoa errada e depois quebrar a cara,por isso, respirou fundo e contou-Estive com elas.Suas primas,agora.Me falaram que não gostam de sua família,e que são as únicas a não praticar essas coisas em sua casa...sei lá.Não sei o que pensar,entende?

Ao ouvir aqueles absurdos tão repentinos, sem esperar,Sirius sentiu uma risada invadir sua boca. Elizabeth sentiu-se menosprezada ao vê-lo rir daquela maneira.

-Ai,ai...que piada...aquelas duas viborasinhas? Desculpe, não dá pra agüentar...- e coçou os olhos, que já quase lacrimejavam- Ah, elas são tão frias que foram parar na Sonserina Eliza,não percebeu? Sou o único grifinório da família...me lembro que, quando meus pais descobriram a classificação do chapéu seletor,me mandaram um berrador estúpido.

Ela continuou com o semblante sério,olhando para um ponto perdido além do lago,pensando muito sobre o que ouvira.

-Eu não to legal Black...-em seguida corrigiu-Esqueça.

-Não me chame assim.-pediu ele pela milésima vez,logo em seguida mudando o tom para algo mais carinhoso,sem perceber-Mas o que há com você? Está triste,também? Me conte, eu te contei o meu problema...

-Sabe...ai é tudo!Você não sabe a falta que...ah,Black eu não posso ter esse tipo de conversas com você!-ela se lembrou que ainda podia estar sendo enganada por ele,e deveria avaliar melhor quem estava falando a verdade antes de fazer ou falar qualquer coisa.-Eu acho que vou embora.-abaixou a cabeça,e todos os fios de seu cabelo vieram para frente,cobrindo seu rosto.No que ela reergueu a cabeça passando os dedos no cabelo,o jogando para trás.

Ao vê-la assim, confusa,agindo em gestos quase que sensuais, sentiu pontadas de desejos de agarrá-la. Afastou esses pensamentos para logo dizer,paternalmente:

-Porque você não confia em mim,hein?-tentava olhar para ela, querendo enxergar os olhos cinzentos- Não vou te forçar á nada,mas fique sabendo que é muito ruim guardar sentimentos.- e terminou,com uma expiração- Você devia confiar mais nos amigos...eu pensei que fosse um. Ah!E me chame de Sirius-sublinhou a última palavra- Afinal é uma estrela, e você gosta de estrelas não gosta?

-Gosto de você também.-“Uh!Adoro!”pensou ironicamente-Confio sim...mas é que é tão estranho conversar com você.E não fale assim Sirius...você é meu amigo!-ela não conseguia olhar para ele direito e nem conseguia acreditar como podia ser tão falsa,as vezes.-Mas em todo caso...obrigada!Posso te dar um abraço?-ela pediu com gratidão inexplicável “Quê? O que estou fazendo?”mas era tarde demais pra voltar atrás.

O rapaz sorriu calorosamente,devorando com os olhos as palavras da jovem.Lentamente,puxou ela para mais perto, primeiro tocando sua mão, entrelaçando seus dedos, logo depois puxando seu corpo com o outro braço, esquentando-a num abraço.

-Está melhor agora,né?- comentou, baixinho.

Ela empalideceu.Ficou imóvel,sem saber se ele estava sendo sincero?Era difícil.

-Obrigada.Eu estou mesmo precisando a tempos de um abraço...ainda mais agora que estou com tanto frio!-riu,e só depois desse tempo é que retribuiu o abraço.-Depois eu vou te falar um negocio.

Os braços dele envolviam a adolescente como se quisessem protegê-la daqueles sentimentos deprimentes de medo,solidão,angustia e confusão. A luz da lua contornava os dois corpos abraçados no sereno da noite:

-Me fale agora.-pediu ele, voltando o rosto moreno para ela, que agora estava próxima. Ele sentia,pelo toque amigável, um ou outro frêmito de insegurança vindos da outra,sem saber bem o porquê. Decidiu não ser mais ousado do que já estava sendo (talvez ela estivesse com receio de suas atitudes) e, sofregadamente, desprendeu-se dela.

-Não.Me abrace,estou com frio...-as palavras saíram da sua boca sem ela perceber.-Você quer mesmo saber?

Agora um tanto despreocupado, até agradecido,ele obedeceu o pedido. Colou e arrumou o corpo de Elizabeth entre seus braços, fazendo-a apoiar-se em seu peito, envolvendo-a novamente. Tocou seu rosto ao dela, já sentindo-se avanços de atitudes, a partir dali,seria difícil.

-Quero.-disse por fim.

-Bom...é que você sabe.Meus pais morreram...eu tinha dez anos e os encontrei assassinados.Foi uma coisa horrível e a partir daí eu só penso em encontrar os malditos que fizeram isso com eles e com meu padrinho também,que foi se vingar e foi destruído por eles...vou ser aurora depois de formada.E só o que se sabe é que os responsáveis por essa tragédia foram pessoas de uma família que pratica artes das trevas...você esta entendendo?-ela tentava não se emocionar enquanto,indiretamente,lhe explicava o motivo de lhe tratar sempre tão mal...

Ele sabia da história dramática sobre os parentes da grifinória,mas nunca ouvira ser contada pela mesma.Ficou extasiado; olhava-a com ternura,cheio de pena:

-Oh,sei que isso não significa muito pra você mas...mas eu sinto muito.- e deixou uma expressão amigável fitar a aluna acolhida em seus braços.

-Obrigado Sirius.Eu...deixa para lá.Bom,vamos voltando?Você foi maravilhoso hoje!

Sirius teve um ímpeto de dizer “Eu sou maravilhoso sempre!” mas se conteve, exprimindo a gratidão apenas num sorriso branco. Ainda com o braço ao redor da cintura da inglesinha com cabelos longos, foi-se dirigindo para os portões do castelo, que pareciam dessa vez tão distantes e perdidos.

-Sabia que se me pegarem vou receber minha segunda detenção em menos de uma semana de aula?-comentou meio com orgulho,meio se divertindo. Queria vê-la sorrir.E conseguiu.

-A primeira foi quando vocês zoaram daquela “gorditinha” da Berta né?Foi muito louco...

-Você gostou,é?-ele olhou para ela.

-Gostei.Gosto das coisas que você faz.-ela também olhou para ele,enquanto caminhavam de volta ao castelo que estava bem mais próximo agora.

-Hummm...-ele pareceu um tanto maroto com a reflexão- Veja se gosta disso- e, parando nos degraus de entrada da escola medieval, tomou-lhe as mãos frias para esquentá-las num selinho morno de seus lábios especialistas.-Você devia ter pedido meu casaco, lá fora...-ele repreendeu, puxando-a porta á dentro.

Ela não teve tempo de fazer nada.Mas também não faria se tivesse tido.O observou e deixou-se ser conduzida para dentro do castelo aonde começaram a andar nas pontas dos pés.Ele a guiou pelos atalhos do mapa do maroto fazendo com que chegassem o mais depressa possível no salão comunal da Grifinória,sem serem detidos por ninguém.Ao entrarem no salão completamente escuro eles se encaminharam para o pé da escada do dormitório feminino,aonde se despediram,vendo apenas um os contornos do outro.

-Bem,boa noite minha coitadinha.-brincou ele, soltando-lhe as mãos.-Não vai nem me dar um beijinho de boa noite? Eu não vou te morder.

Ela riu e disse:

-Coitadinha?-e sorrindo terminou-Boa noite!Durma com os anjinhos...-e se virou para subir os degraus,ignorando completamente o pedido.

-Ok. Vou sonhar com você então!.-ele respondeu segurando o corrimão que o levaria de volta para o dormitório masculino.

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- Tiago,porque você não vai falar com ele?-a voz rouca e serena de Remo atravessou a escuridão do quarto e ultrapassou os roncos profundos de Pedro para chegar aos ouvidos de Tiago,que estava deitado olhando o teto em profundo silêncio rancoroso.

-E pra quê?!!

-Ora, você sabe que não foi nada legal aquilo que você disse.- o maroto de cabelos castanhos tentava mostrar para seu amigo pirracento o lado certo da história- O Sirius é seu melhor amigo, não está na sua casa por mal nem está querendo abusar da sua hospitalidade. Falar que ele é “folgado” não foi...

-Ah Lupin, porque você sempre tem que se intrometer em tudo?-cortou o outro,sentando-se na cama. Seus olhos acostumavam-se com a escuridão, pois ele já conseguia visualizar imagens se revelando aqui e ali,como por exemplo, o vulto de Remo do outro lado do dormitório- Você faz isso só pra dar uma herói bonzinho,é?

O monitor sentiu-se ofendido.Afinal de contas ele só queria ajudar!

-É que não gosto de ver vocês brigados.

-Problema seu, Remo John Lupin!Foi ele quem quis dar uma de vítima e foi se isolar nos jardins igual uma velha emburrada!- Tiago capotou de volta em seu travesseiro, fechando os olhos com força como que querendo que a noite acabasse naquele exato momento para que assim, quando ele voltasse a abrir as pálpebras, já pudesse ver o sol radiante á sua volta anunciando um novo e brilhante dia. Um dia onde ele poderia começar tudo de novo.

Remo fez uma última tentativa antes de fechar-se por detrás das cortinas de sua cama, desta vez com menos paciência:

- Ah Tiago, o Sirius só saiu pra não ficar ainda mais irritado com você!Porque, meu chapa, a verdade é essa: você agiu como um idiota!

Aquilo foi a gota que faltava para o copo de Tiago transbordar. Furioso,ele partiu pra ignorância, falando tão rispidamente que até mesmo Pedro (que dormia sempre como uma pedra) se mexeu incomodado em seu colchão:

-Não fale do que você não entende, lobisomem desbocado!

Aluado arregalou os olhos castanhos.Tiago tapou a própria boca num choque repentino de arrependimento. O silencio que se seguiu foi conturbado. Ouviu-se o som de passos do lado de fora. No quarto silencio. Os passos subiam escadas. Silencio. Atravessaram o corredor. Remo baixou a cabeça, agora angustiado por tristeza e raiva, enquanto Tiago coçava os cabelos,envergonhado.

Os passos pararam á frente da porta,que se abriu, permitindo que uma tira de luz vinda de fora lambesse o ambiente adormecido do lado de dentro.

-Vocês estão acordados?-sussurrou Sirius-Eu posso acender uma luz?

Pontas não quis responder para Sirius,apesar de querer pedir desculpas para Remo, por isso deitou-se,puxando o cobertor para além de seu rosto,cobrindo sua cabeça e sumindo de vista. Lupin murmurou um “vai Sirius,acende a luz” tímido e constrangido.

Sirius sentiu as “vibrações negativas” naquele dormitório, mas logo agora que tinha conseguido esfriar a cabeça não queria enfiar-se novamente em desentendimentos. Ele bem sabia que todas as amizades saudáveis passavam por momentos assim, mas não sabia que isso podia acontecer tão furiosamente, logo com eles, que se conheciam á sete anos!

Alguns minutos depois de pura arrumação (escovar os dentes nunca demorou tanto! Sirius ficou olhando-se no espelho com uma expressão pálida, notando o quanto aquele vento frio dos terrenos havia bagunçado seus cabelos) o rapaz entrou no quarto já de pijama.Entrou por debaixo das cobertas sem dizer uma palavra para os outros dois (que ele sabia que ainda estavam acordados). Remexeu-se todo desconfortável, colocando finalmente os braços debaixo da cabeça, preguiçosamente. Soprou a franja que lhe caia nos olhos negros. Aturou os roncos titânicos de Rabicho por mais alguns segundos, certa vez até mesmo soergueu-se na cama para olhar o gorduchinho, com medo que este tivesse se engasgado com a própria saliva, entre seus roncos furiosos.Mas estava tudo bem, notou Sirius dando uma risada gostosa.

Voltou a fechar os olhos, sorrindo quando viu a imagem de Elizabeth... “Eu adoro estrelas, meu pai me deu este colar que tem um pingente de estrela, linda né?”...oh sim...linda. Ele suspirou todo safado, tentando pensar em outra coisa...queria ter um sonho perfeito para conseguir acordar bem humorado e,quem sabe, fazer as pazes com Tiago. Espreguiçou-se novamente, tentando fazer o sono chegar,tentando se sentir relaxado...mas que raios!Ela outra vez?!

Será que a psicose de Tiago havia passado pra ele?!Pontas só falava da Lílian...respirava Lílian, suspirava Lílian!Se ficava entediado,olhava para ele e dizia “Meu, a Evans está linda hoje!” ao que Sirius respondia “Você sempre fala isso!”.Mas pensar em Elizabeth?! Ela era apenas uma garota comum, qualquer, uma companhia feminina bem vinda e necessária. Só isso.

“Mas então, porque ela não sai da minha cabeça?!” ele fechou os olhos novamente,dando de ombros.

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Minerva sabia exatamente como prender a atenção de uma classe.Todos, com apenas duas exceções, penduravam-se em cada palavra dita pela mestra como se essas fossem a ponte mais correta para leva-los no caminho de grandes futuros.Ela falava sobre o processo dificílimo que consistia em transformar ANIMAIS (e apenas animais)dantescos e perigosos em criaturinhas inofensivas e pequenas (como,por exemplo, um leão em um gato ou transformar ainda um crocodilo numa tartaruga,etc).

A diretora da casa vermelha e dourada fez sua varinha passear entre seus dedos, crispando os lábios enquanto passava os olhos pela sala. Viu Courtney escrevendo alucinadamente as novas informações em seus pergaminhos, ao seu lado, notou Lílian Evans com cara de intelectual apenas prestando atenção em suas sábias palavras, enquanto Alice prestava atenção, mas lançava olhares de censura para os dois marotos: Sirius que fazia aviõezinhos de papel e mirava-os em Berta e Tiago que olhava bestamente para Lílian.Mundungo Fletcher e Frankie Longbottom olhavam para Minerva aguardando mais informações, interessados. Pedro Pettigrew sabia que Minerva só se calava daquela maneira quando estava procurando uma vítima para “torturar” por isso encolheu-se na carteira, deixando que sua testa ficasse na altura da bancada.

-Senhorita Adams!-chamou a professora finalmente,na sua voz profissional- pode por favor me explicar,com detalhe,clareza e perfeição, o porquê do feitiço não funcionar em certas situações?E depois me dizer quais são elas?

Toda a classe de sétimo ano olhou para ela.Sirius inclusive, num sorriso. Courtney deu risadinhas malvadas, trocando um olharzinho significativo com a ruiva. Katherine, a melhor amiga da pobre coitada, olhou para ela transmitindo (como se fosse ajudar em alguma coisa) segurança apenas com um olhar.Parecia querer passar a resposta por telepatia.

A moça de cabelos negros ficou parada olhando para a professora,mais pálida do que de costume.Muito mais.Olhou para os lados como a procura de um buraco para enfiar a cabeça, mas não obteve o esperado.Ao invés disso encontrou mais um motivo para ficar nervosa,pois notou que todos a observavam aguardando uma resposta enquanto Lílian,com cara de vitoriosa,já erguia a mão no ar.A primeira percebendo que seu silencio começava a ser estranho resolveu falar alguma coisa, qualquer coisa:

-Vocês querem parar de me olhar?!

Os marotos riram;suas vozes se misturando no ar e descontraindo o clima. Remo queria dar a resposta, mas achou que ficaria feio mostrar que sabia depois do vexame dado pela garota, por isso decidiu ficar quieto. O grupinho de Eliza olhou com receio para McGonagall, que puxou os óculos para mais perto dos olhos severos:

- Então você não sabe a resposta,sabe senhorita?- e pedindo com um aceno para que Lily abaixasse a mão,continuou- Vou formar duplas agora para executarem o trabalho de hoje. Senhorita Adams- voltou-se para a grifinória de olhos cinzentos e expressão misteriosa- Vou ter que te colocar com alguém que realmente saiba esta matéria,pois quero que você aprenda. Ah!E ao final da aula passe na minha mesa para que eu possa lhe recomendar alguns exercícios extras, sim?

A garota a encarou sem qualquer mudança na expressão,com aquele mesmo olhar profundo e cheio de mistérios que quase todos tentavam,sem resultados, desvendar.Disse apenas em sua voz calma e macia:

-Sim quem eu me sento?Kath?

A negrinha abriu um sorriso branco e já foi agarrando suas coisas, empolgada, quando apenas um movimento de cabeça da professora a desaprovou. Com a reação negativa de Minerva, Kath ficou onde estava com um quê de desapontamento.

-Não quero o “clube da luluzinha” reunido!-ela protestou com frieza- Quero duplas de trabalho,não fofoca!-e agora voltando-se para a classe- Vocês todos estão consciente de que agora estão cursando seu ÚLTIMO ano!Isso significa dedicação!Estudo!Responsabilidade acima de tudo!

Estas grossas palavras foram seguidas por um longo e tedioso discurso, que finalizou,finalmente, com:

-Potter!

-Quié?

-Faça com a ...

-Evans?!-ele perguntou esperançoso, cortando a professora. Minerva refletiu um pouco sobre o assunto, olhando pensativa de um para o outro,até concluir-Não,não, os dois são bons, quero equilíbrio de conhecimento...Evans com Pettigrew, Potter com Banks, Lupin junte-se a Jorkins- ele disfarçou uma careta, ela corou deliberadamente- Black...BLACK!!!

-Sujou...

Sirius fora pego com a mão na massa: acabara de enfiar dentro do uniforme de um garoto de sardas á sua frente (Stebbins, um infeliz grifinório com cara de texugo) um Snap explosivo. O lerdinho do rapaz nem sequer desconfiava. Minerva torceu o rosto jovem numa expressão de fúria:

-Vou ignorar isto senhor Black,porque preciso de você para ser a dupla de Adams!Mas,mesmo assim, lá se foram 25 pontos de Grifinória e...Stebbins,por Deus,tire essa coisa de suas costas!

A vítima lesada de Sirius agiu tão lerdamente que apenas desconfiou de que algo estava errado ao sentir uma explosão começar dentro do uniforme, o que finalmente o fez ser mais veloz e jogar o explosivo bem a tempo no chão,quando ele explodiu.Todos riram a não ser Lílian. Minerva queria conquistar a atenção da sala novamente e agora,ultrajada,exclamou:

-Detenção,Black!

-Ah, mas o cara nem se machucou!-protestou ele para, logo em seguida,acrescentar (com medo do flash assassino que reluziu nos olhos da professora)- Khan, sim...claro Minnie.

Torcendo o nariz, Minerva terminou de escolher as duplas daquele dia. Após certa turbulência na sala de aula,todos se uniram na dupla indicada pela mestra começando a executar seus exercícios teóricos,para depois,como dever de casa,fazer os exercícios práticos.

Elizabeth passava os dedos por entre seus longos fios de cabelos negros,parecendo paciente em esperar o moreno se sentar ao seu lado.

-Bem, parece que temos bastante coisa pra fazer,não?-ele usou seu tom aveludado, perfeito para começar uma conquista.Algumas grifinórias próximas resmungavam, lançando olhares invejosos á Eliza.Sirius passou os olhos pelo quadro,notando a quantidade de perguntas absurdas e longas que a vice diretora escrevia. Molhou a pena,virando-se para ela- Gostei do que você falou pra Minnie, muito...original.

Ela virou os olhos cinzentos para ele fitando cara milímetro de seu rosto em uma expressão absurdamente misteriosa.Não disse uma palavra.

Sirius,intrigado, pensou com sigo mesmo “Mas que diabos está se passando na cabeça dela?Dizem que os olhos são o espelho da alma...bem, aposto que quem disse isso nunca tinha olhado pros olhos dessa garota!”. O revolto Black,então, decidiu pinicar:

-Dou cem nuques pelos seus pensamentos, Adams!

-Se o meu silencio não lhe diz nada....minhas palavras são inúteis.E você precisaria de bem mais que isso por eles.

-Um beijo,então?

-O QUE?O que você disse?-suas sobrancelhas se contraíram.

Ele deu uma risada aprovadora:

-Bem, bem, passou pelo primeiro teste...vem,vamos fazer isto logo porque a Minnie já está olhando pra mim!-e abriu um pergaminho que insistia em ficar enrolado.-Primeiro: ah...é a pergunta que ela te fez.

-Eu sou um verdadeiro lixo nessa matéria, meu...vou ter que aprender muito com você.-ela preferiu ignorar o primeiro comentário do rapaz.

-Não é tão difícil quanto parece.- tranqüilizou o animago- Por exemplo, você devia ter dito que o que faz o feitiço dar errado é o próprio estado do feiticeiro. Para transformar algo, qualquer coisa,você tem que sentir cada pedacinho do objeto, se colocar em seu lugar, se imaginar com perfeição.-Sirius acabou falando de modo tão convincente que chegou até a desconfiar se não tinha deixado muito na cara o fato de saber se transformar em cão-Esse feitiço que ela está ensinando só funciona em animais, portanto imagine a cena: você está lá,desesperada para se livrar de...um dragão Norueguês! De repente se lembra das suas aulas em Hogwarts...sim!E que melhor solução poderia arranjar do que a de transformar o Dragão em um lagarto? Mas então, você está lá, toda aflita e confusa, toda embaraçada e desconcentrada, e acaba não conseguindo nada. O que quero dizer é: o estado emocional influencia muito no resultado de um feitiço de Transfiguração. Entendeu alguma coisa do que eu disse?

-Sim...É entendi mais do jeito que você explicou do que o jeito que a professora explicou!Já é um bom começo!

Ele jogou os cabelos para trás num movimento de cabeça tomado por um ar convencido mas,ao mesmo tempo,agradecido.

-É, sim, já é um começo...você pega rápido,pelo menos mais rápido que o Rabicho...-e se lembrou dos dois tortuosos anos que levaram até que Pedro conseguisse se transformar, por completo,em rato.

Ela deu um sorrisinho frio lhe lançando um olhar de “continue, por favor”. E ele assim o fez até o último minuto.

-Longbottom,pode por favor recolher as respostas?-Minerva pediu ao final da aula, fazendo o sardento garoto se erguer atrapalhado e passar em vista de cada carteira. Depositou o bloco de pergaminhos á frente da mulher,que ainda tinha mais uma ordem para dar,dessa vez, olhando a dupla de Sirius:

-Venha senhorita Adams.

O rapaz lançou-lhe um olhar de “até logo” galanteador, jogando a mochila nas costas e seguindo a debandada de grifinórios para fora da sala.

A jovem revirou os olhos,passando as alças da mochila por apenas um dos ombros e se dirigindo à mesa da professora.

-Você deixou aquela baixinha toda excitada,hein Remo?!-assim que trombou com o amigo na saída da aula,Sirius fez o comentário, olhando de esguelha para Berta Jorkins.Os olhos castanhos de Lupin faiscaram:

-Nem me ço a me arrepender de ter sido simpático com ela.

-Está esperando quem?-perguntou ainda Almofadinhas,notando que o amigo continuava parado no arco da porta-O Pedro?

-Também...e o Tiago,ué!

-Ah...certo.-Sirius agora parecia ofendido-Vou indo então...

-Ah não,você fica!-pediu Remo,segurando seu braço-Já está passando da hora de vocês dois começarem a se comportar igual gente e fazer as pazes!

Mas Sirius desvencilhou-se ,com um suspiro resignado, se juntando ao grupo de adolescentes cansados,quando uma menina o puxou pelo braço e o encarou com tristeza profunda,lhe dizendo entre suspiros e soluços:

-Por que Black?Por que?Eu te observo dês do dia que você pôs os pés nessa escola e você nem me nota...não agüento mais!Já esperei sete anos por você mas já percebi que se eu for esperar...isso não vai sair!Eu preciso de você...preciso...-ela se debulhava em pesadas lágrimas mas não deixou de o olhar,como se o estivesse vendo pela ultima vez na vida.-Me desculpe...-e se virou para o fim do corredor s disparando em direção à maior janela que havia e que no momento se encontrava aberta.

Aparvalhado no mínimo, Sirius ficou olhando para a desvairada grifinória, que ele nunca,talvez nem por um segundo, tinha visto circulando pela escola. Talvez tivesse, mas com certeza nem a notara (o que significava que não era muito atraente). Como estava atrapalhando a passagem dos outros parado ali, decidiu ir até a louca e perguntar alguma coisa,ou ao menos saber o que ela pretendia fazer:

-Então né...oi.

A menina olhava os jardins da escola que podiam ser perfeitamente visualizados pela janela,com olhos rancorosos e carregados de ódio,como que se perguntando o porquê da vida.Quando ouviu a voz do garoto que amava a longos sete anos ao seu lado quase desmaiou, mas procurou responder mais controlada:

-Oi...o-olha me desculpe!É que você nunca passou por isso e nem nunca vai passar,nunca vai saber a dor que é amar assim e não ser correspondido...

“Realmente...tomando o exemplo do Tiago deve ser horrível!” pensou ele,acrescentando mais firmemente “Nunca quero passar por isso...que patético é se apaixonar!”.

-Olha, podemos nos encontrar lá no salão comunal hoje á noite.- enquanto falava ele a analisava: não era feia,não era uma Deusa escultural...mas...bem, era uma garota.Dava pra passar o tempo e se divertir um pouco,em momentos de tédio “Nossa,eu sou mau!”- Se você quiser,hu...umas nove horas?Estou livre pra você, gatinha!Ah...qual é o seu nome,mesmo?

-Ligia...-foi apenas o que ela conseguiu responder-Ok...me desculpe de novo..as nove!-e parecia ter recuperado completamente a calma saindo com sorrisinhos sonsos e tchauzinhos. “Patética!” ele refletiu,notando o estado cambaleante com que ela foi-se pelos corredores.

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Durante o almoço, Grifinória ficou coberta por um ar fúnebre de início de ano letivo.Até mesmo os primeiranistas já resmungavam o excesso de matérias,sendo criticados duramente por Katherine Brown,que lhes assustou com algo como “Vocês não perdem por esperar!”.

Berta Jorkins,por detrás de seu suco de abóboras,disse num pedido guloso:

-Quer me ajudar na minha lição hoje,Remo?

-N-não, obrigado.

Tiago deu risada, notando a expressão de desespero que se escondia por detrás do sorrisinho calmo do amigo. Pedro,ao seu lado,devorava seu almoço gulosamente.Sirius brincava com a comida.

Elizabeth veio andando em direção à mesa de grifinórios com cara de triunfo e foi se sentar ao lado de Tiago.

-Oi querido...e ai tudo ok?Que cara é essa?-ela perguntou sorrindo enquanto se servia de salada.

-É a minha.-ele respondeu desinteressado-Ah.foi mal Eliza...é que não estou muito feliz hoje.Temos Poção daqui a pouco, sabia?-ele tentou justificar sua infelicidade.

-Ah sei...imaginei.Mas será que é só isso mesmo?-ela passou os dedos pela nuca dele e foi subindo pela sua cabeça,acariciando-Não é a Evans de novo é?-esta, que observava a cena com olhar de desprezo, sentiu por dentro um profundo ciúme que tentou ignorar.

Ele não respondeu,apenas baixou os olhos para o prato meio zonzo pela proximidade da bela jovem de cabelos pretos e pele macia. Courtney,sentada ao lado de Lílian, observava a “agarração” com cara de desdém.

-Será que eu posso ajudar a melhorar essa carinha, Potter?Eu adoraria ajudar você...-a ruiva voltou-se para o prato bufando,fazendo força para não explodir (só não sabia bem porque...).

-Ah,me chame de “Tiago”, ok?-ele pediu, agora virando um sorriso para ela-E se quer saber...já está ajudando muito!

-Ah é?!Que bom...se eu puder ajudar mais ainda...seria ótimo,não é?-Elizabeth lhe lançou aquele olhar de que todos tanto se questionavam.Cheio de significados que,talvez,permaneceriam nas trevas para sempre.

Tiago, já cansado do lengalenga ( e com a nítida impressão de estar sendo observado pela sua “flor-do-campo”) encaixou os dedos no queixo da misteriosa adolescente e,aproximando seu rosto, lhe deu um selinho molhado.

-Acho que depois vou te mostrar como curar essa tristeza...só nós dois!Ta?-ela passou a mão no rosto dele e se voltou para a comida notando o olhar,que se desviou rapidamente,de Evans. Sirius pigarreou:

-Hei,ah...Potter?!

-Fala Si…Black.

Os dois se entreolharam irrequietos.Nenhum queria dar o braço a torcer, mas ambos desejavam a mesma coisa...Pontas chegou a abrir a boca e preparar um “desculpa” mas foi interrompido por Sirius,que iniciara aquele primeiro diálogo “pós discussão”:

-Esquece.-ele quase fez ás pazes, mas o orgulho encheu seu peito,mente e língua no exato momento.Além do mais,não queria estragar o pequeno “romance” que seu amigo acabara de iniciar com Adams; primeiro deixaria a criança se divertir,depois ia levar á tona aquele assunto deprimente.

Todos já iam se levantando para tomar seus devidos rumos em direção às aulas.Stéphanie colocou a mochila nas costas e chamou:

-Kath,Liza, vamos?-só não precisou chamar Cynthia que já estava ao seu lado conversando com uma garota da Sonserina que mechia em seus cachos acobreados.

As duas se ergueram e acompanharam as amigas na saída do salão.

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Fumaças subiam redondas no ar, se desfazendo com uma delicadeza preguiçosa. Além dos resquícios de substancias evaporadas,havia o cheiro de ervas cozidas...e o gostinho de desgosto. Por detrás de caldeirões que trabalhavam furiosamente, escondiam-se rostos revoltos de grifinórios que encaravam sonserinos...existiam alunos cochichando contra alunos, vizinhos de bancada conspirando contra inimigos. A batalha do leão contra a cobra nunca iria terminar.

Todas as aulas de poções eram regidas daquela maneira; açoitadas por birras silenciosas e olhares lânguidos. Snape,por exemplo, era vigiado de perto pelos malignos marotos, enquanto Bellatrix e Narcisa desgraçavam a poção do maior números de garotas rivais que conseguissem. Lúcio Malfoy lançava olhares superiores para os demais, que respondiam com caretas. Lílian podia ouvir cochichos perto de si ,comentários maliciosos, todos envolvendo a palavra “sangue-ruim”, assim como Courtney, que enchia os olhos de lágrimas sempre que captava as vozes grossas de McNair e Rodolfo Lestrange sibilando “Será que os bracinhos dela quebram se a gente assoprar?”. Berta Jorkins jogava todos os ingredientes de uma só vez no caldeirão,não dando a mínima para as ordens e quantidades indicadas enquanto lançava olhares e sorrisinhos para o outro extremo da sala,aonde Remo Lupin fazia sua poção,muito concentrado. Pedro Pettigrew transpirava em agonia: tinha uma certa mania de perseguição com relação àquele professor, e assim, tremia a cada passo dado pelo outro ou a cada olhar lançado para “a platéia”. Stephanie,Cynthia e Katherine continuavam sentadas nos seus lugares oficiais,trocando bilhetinhos fúteis que eram acompanhados,sempre,por risadinhas beatas. Elizabeth prestava atenção em cada palavra dita pelo mestre,e seguia tudo com uma perfeição minuciosa,ignorando completamente as indiretas de Avery,que a fitava gulosamente.Tiago aguardava a oportunidade ideal para poder arruinar a poção de Severo, no entanto, jogando vez por outra esta devota atenção para outros pontos da masmorra.

Almofadinhas olhava seu mestre entediado, bocejando indiscreto, como quem diz “Quanta besteira...”. Estava formigando de vontade de virar para Pontas e sugerir uma brincadeira que quebrasse aquela monotonia (além do mais, sua poção já estava pronta á muito tempo, o que lhe garantiu minutos vazios), mas aguardava as desculpas do outro pacientemente. Sabia que não estava errado!

E assim, lerdamente,os segundos,minutos e horas se arrastaram. Não apenas se “arrastaram” mas foram quase que “guinchados”, pois as vítimas aquele dia enfrentaram uma DUPLA aula de poções (a conhecida “dobradinha dos infernos”) para, muito tempo depois, serem premiados com um horário vago na biblioteca, já que o dia letivo terminaria com Astronomia (aula que exigia um céu muito escuro e estrelado).

-Não sei o que uma viborasinha gostosa como você está fazendo nesta maldita casa vermelha!- Avery ousou sussurrar o que ele considerava um elogio ao pé do ouvido da jovem Adams, jogando e amassando seus materiais de volta para a mochila. Todo o resto da classe “estuporada” fazia o mesmo.

-Meu...-ela o olhou com repulsa e nojo antes de se virar em direção à porta de saída da masmorra, em passos leves.

O grupo debandou para as escadarias de pedra, levando com certa relutância seus pés para a biblioteca. Ligia derrubou,acidentalmente, seus livros escada á baixo, cheia de esperanças...queria, enlouquecidamente, que “algum” garoto educado e cavalheiro a ajudasse. Sirius passou reto, até mesmo resmungando um “Sua desastrada!”, diferente de Lupin, que sorriu para ela perguntando serenamente um “Quer ajuda?”.

-Shhhh!!!-esgoelou-se madame Pince quando percebeu o batalhão que entrava em sua biblioteca- Os livros merecem respeito!!

Lucio Malfoy,assim como outros rapazes de Sonserina, riram secos para a mulher, entrando em passos brutos. O loiro,além de tudo, teve a oportunidade magnífica de passar por Pedro e empurra-lo numa cotovelada forçada e mal disfarçada. O gordinho guinchou.

As garotas grifinórias de sétimo ano uniram-se todas em uma só mesa, apesar da grande diferença entre algumas, para estudarem.

-E então Lily...e aquele trabalho de Historia da Magia,qual livro será que tem?-perguntou Alice á amiga.

-Não sei, acho que no “Hogwats, uma história” deve ter não é?Alguém por favor vai buscar ele pra...

-Eu vou Evans, pode deixar.-interrompeu a moça de pele clara-Mas posso precisar de ajuda-e virando-se para a mesa ao lado-Você pode me ajudar Tiago?

Levantando-se enquanto arrepiava os cabelos, todo orgulhoso de si mesmo, ele foi até ela como um pavão desfilando numa passarela com holofotes (que, é claro, apontavam para ele):

-Fala, Eliza...- e abraçou a cintura dela.

-Precisamos do “Hogwarts, uma história” pro trabalho, vou ver ali,entre as prateleiras se encontro...mas você sabe, ele pode estar meio alto e eu não alcanço...-ela falou toda meiga.As colegas de casa olhavam Tiago com demência enquanto a ruiva revirava os olhos, com nojo, fechando a cara novamente.

Ele riu com a meiguice da outra, respondendo num olharzinho enigmático:

-Vamos então...-e puxou a jovem pela mão, entrelaçando seus dedos aos delicados dedos de Elizabeth, gostando do toque,que era quente. Remo chamou Pontas emburrado:

-Vê se não demora,Tiago!Também precisamos do...Rabicho, para com isso, está me enlouquecendo!

Pedro parou de batucar na mesa imediatamente.Sirius equilibrava-se nas pernas traseiras de sua cadeira, soprando a franja negra. Pelo jeito daquele grupo não sairia trabalho algum...

A ruivinha cruzou os braços sobre a mesa recostando a cabeça sobre eles, como que tentando fugir das conversas e vozes á sua volta e tentando fugir também da vontade de ir com o moreno buscar o livro, ao invés de deixar sua pior inimiga fazê-lo.

Dez minutos se passaram. Nada.

Não agüentando mais esperar e percebendo que se não fosse por ela ninguém faria merda de trabalho nenhum, levantou a cabeça olhou em volta e disse:

-Eu acho que o Potter e a Adams foram mandar fazer o livro...re-fabrica-lo talvez!Vou eu mesma pegar...-e se levantou com estrondo, deixando para trás uma mesa desordeira, onde garotas já fofocavam entre si animadamente. Lily notou que era a única ainda com esperanças em relação ás ordens dadas pelos professores: metade dos alunos de Sonserina já haviam abandonado a biblioteca para sabe-se Deus aonde, enquanto os restantes tramavam mexericos e destruíam a imagem de terceiros, em fuxicos traiçoeiros(Narcisa e Bellatrix davam corda para tópicos mais extravagantes nesta área). Severo Snape tinha seu nariz de gancho encostado ao pergaminho, tamanha era a dedicação que dava para uma lição de DCAT. Sirius já havia se atirado de cabeça numa conversa masculina com Mundungo, do outro lado da biblioteca, enquanto Remo e Pedro distraiam-se com joguinhos do tipo “Joquempô”. Madame Pince já abandonara o recinto minutos antes aos berros estrondosos, gemendo coisas como “Mas que absurdo! Que falta de ética! Eu vou pedir os meus direitos!Vou falar com o diretor!Isto é um ultraje!” reclamando sobre a baderna que tomara conta da biblioteca dês da chegada do grupo de alunos entediados.

Lílian dirigiu-se com determinação em direção as prateleiras, analisando a distribuição de livros que era feita por gêneros, ziguezagueando por entre os corredores, meio sem rumo.Muitas buscas frustradas depois, a jovem acabou se deparando com algo que não esperava encontrar...nem mesmo em seus piores pesadelos:

Tiago mantinha o corpo colado ao de Elizabeth graças aos braços seguros, que enlaçavam cintura e costas. Beijava-a com tanta voracidade que parecia estar banqueteando-se. Seu uniforme estava escandalizado; a gravata listrada desabrochada, a capa caída no chão, o colete amarrotado. A saia de Adams, evidentemente, já fora erguida e abaixada centenas de vezes. Os cabelos negros já haviam passado por tantas carícias que dele despontavam fios rebeldes; o rosto branquinho estava corado, assim como o do rapaz, que tocava seu rosto no dela constantemente. Não demorava muito,entre um beijo e outro,para as mãos de ambos se misturarem em toques diferentes.Uma das pernas coberta por meias ¾ da garota já se encontrava soerguida, apoiada pelo braço dele, numa pose já obscena até demais para britânicos! A prateleira de livros era a cúmplice dos amassos, pois servia como apoio para o casal (curiosamente as estantes estavam forradas por livros de Romance).

Cansado, finalmente, o maroto abriu os olhos castanho esverdeados:

-O que a gente veio procurar mesmo?

-Nem lembro mais Potter...só que estou impressionada!Eu nunca senti nada assim com nenhum outro cara...Você é bom nisso, hein?

-Oh, eu sei...-ele deu de ombros, agora recolocando os óculos pois já se sentia enjoado com a tontura feita pela miopia forte- Fala a verdade; eu fui o melhor caso que você já teve na sua vida inteira,não foi Eliza?Fui e vou ser eternamente...

- Ai coitado de você...nem se acha né?Eu tenho que admitir que ...- e se calou-Deixa quieto....

E assim, enquanto a conversa fluía,a jovem Lily continuava estacada no inicio do corredor,na mesma posição em que estivera quando vira os dois no primeiro instante.Não conseguia se mexer, por mais que tentasse. Seu coração batia acelerado no peito.Mil pensamentos lhe ocorreram, mas não tinha forças para executar nenhum deles.Estava chocada acima de tudo: nunca em toda a sua vida ela vira nada igual àquilo.Não conseguia entender direito o motivo daquela fusão de ódio e tristeza que a invadiu, mas preferiu se enganar pensando no tempo que perdera sem o livro.

-Está cansada?-ele perguntou inspirando fundo-Porque eu estou...

-Quem não estaria?Não sou uma maquina...bom,a Evans deve...EVANS?!-a jovem começou a passar a mão pela saia tentando alisa-la novamente,enquanto se virava para o fim do corredor aonde achava-se parada a outra,com olhos verdes arregalados.Por um momento Adams também não soube o que fazer, por isso no instante seguinte já se virou para o companheiro, esperando alguma reação, conseguindo dizer apenas-A q-quanto tempo você está a-aqui?

Tiago ficou pálido,talvez alcançando a cor de pele de Courtney. Não soube o que dizer,nem o que fazer, ou para onde ir...pois certamente não desejava mais estar ali,mostrando-se um perfeito canalha na frente da única garota com quem realmente se importava.Baixou os olhos, envergonhado, mudo, desnorteado.

Elizabeth abriu a boca e tornou a fecha-la várias vezes. Era uma das primeiras vezes que seu olhar se viu facilmente decifrável, já que transmitia o mais nítido embaraço.

Silêncio constrangedor.

Depois de certo tempo, a ruiva piscou varias vezes, recompondo-se:

-Encontraram o livro?- disse aquilo numa voz estranhamente calma, mas com um quê de ironia disfarçado.

-Ainda não...é incrível a dificuldade que passamos...pode nos ajudar Evans?- a outra respondeu displicente, não podendo conter um sorrisinho desdenhoso. Tiago a repreendeu com um olhar, pois já cansara de fitar o chão. Voltou-se para Lily, tremendo ao falar:

- V-você está a quanto tempo aqui,hein?-repetiu a pergunta não respondida anteriormente,pois decididamente precisava da resposta.

-Tinha acabado de chegar...mas vi o bastante Potter!Você a cada dia só confirma mais as minhas teorias sobre seu caráter...o livro por favor?

-Oh Lílian, não diga isso...

-Vamos procurar o livro...-ela o ignorou voltando-se para as prateleiras com o coração pesado de duvidas e sentimentos.A outra continuava a fingir que nada tinha acontecido, procurando o livro também na prateleira oposta.Tiago desejava que o bendito livro fosse pros infernos! Não se importava mais com o trabalho, as ordens que recebera ou qualquer outra coisa...Simplesmente não podia acreditar no que tinha deixado acontecer!

Recolheu sua capa bruxa rapidamente, embolando-a debaixo do braço, para virar-se e dizer:

-Meninas, não vamos achar nada aqui. Isso é “Romance”...

-Escolheram bem o local....-comentou Lílian saindo do corredor.Elizabeth ergueu as sobrancelhas exclamando um “Puxa!”, seguindo um caminho oposto ao de Lílian, não sem antes trombar com um aluno de vestes negras esvoaçastes e andar de Conde Drácula:

- Estamos estudando,não?-fez Snape, entortando os lábios finos. Tiago chegou até ele, espumando:

- E isso é da sua conta,Ranhoso?!

-Dos professores sim,Potter.

-Você não é um.

-Sou um monitor...

-Mesmo assim não é um.

Snape estava louco de vontade para ganhar a razão naquela pequena discussão, por isso,apenas chiou:

-O que vi seria o suficiente para lhe dar um mês inteiro de detenção, descarado!-olhou para Evans com um brilho estranho no olhar; a ruiva já se afastava.Lendo a pergunta nos olhos flamejantes de Tiago,ele completou- Acabei presenciando o mesmo “show” que a sangue ruim...-e agora num tom severo-Acho que aqui não é bem o lugar para praticar orgias, é Potter?

-Tiago,Evans eu achei o ....O QUE VOCE FALOU SNAPE?-Elizabeth vinha entrando novamente no corredor de livros com um particularmente grosso em mãos, chegando á tempo de ouvir o rapaz de pele macilenta falar. Seu rosto se contraiu de ódio.-REPITA!

-Ah...que bom que você achou.Me dê...-Lílian, que também voltava graças ao chamado da outra,tentou tirar o livrão das mãos da mesma ,sem obter sucesso: Elizabeth o segurava com tanta força que parecia querer transforma-lo numa pasta, o que fez a ruiva concluir que talvez ela estivesse imaginando aquilo como sendo o pescoço do sonserino.Decidiu por bem permanecer quieta, com olhar de displicência.

O animago, sem pensar duas vezes, meteu um murro muito bem dado no rosto pálido de Severo, entortando ainda mais seu nariz de gancho.

-EU TE AVISEI, RANHOSO!-grasnou Tiago ainda com o punho erguido-Eu avisei que a próxima vez que você chamasse a Lily de “você sabe o que” iria ter um encontro amigável com a minha mão na sua cara!!

O sonserino, tonto graças ao bofetão, caiu no chão num urro de dor mordido de ódio. Mal se viu atirado e já foi procurando sua varinha, louco por vingança, quando uma quinta voz irrompeu do outro extremo da estante:

- Seboso, nem pense em tocar no Tiago! – Sirius apontava sua varinha para as costas do humilhado e ensebado monitor. E agora, olhando para Pontas (que ainda tinha os lábios muito vermelhos graças ao ato esfomeado de minutos antes), disse- Eu te perdôo,Tiago.

-Ah...Sirius!!!- Tiago caminhou para o amigo abrindo um largo sorriso, mudando sua expressão de cólera para uma de extrema satisfação, pisoteando Snape sem nem ao menos se importar, já que o sonserino ainda se encontrava detonado no meio do caminho: tinha também o nariz pontudo sangrento e quebrado- Desculpa,eu não queria falar aquelas coisas pra você!Estava muito estressado!

Os dois se abraçaram, ignorando os gemidos de ódio dolorido de Snape,pisoteado no chão da biblioteca. A jovem Evans não pôde deixar de sorrir com a linda cena amigável entre os dois marotos, apesar das circunstâncias.A outra ainda olhava para Snape com repugnância ,mas quando voltou-se para a dupla que se abraçava,seu olhar voltou a ser inexpressivo e misterioso.

-Acho que é melhor você ficar caladinho Severo...-falou Elizabeth por fim-Vamos voltar...-terminou, virando-se para os grifinórios.

Lílian não respondeu, apenas girou nos calcanhares e começou a voltar para o centro da biblioteca, onde todos os outros alunos se encontravam.Elizabeth lançou um olhar expressivo para Sirius que podia ser claramente traduzido: “Sabia que vocês ficariam bem novamente!” e acompanhou a ruiva. Os morenos,agora radiantes,seguiram as amigas segundos depois, rindo juntos. Snape se ergueu entre tropeções, massageando o nariz mutilado.

-Gente!!-chamou Khaterine, eufórica- Aonde você estavam?! –ela olhava da melhor amiga para Tiago, deste para Lílian (mudando o semblante para algo mais indignado) e finalmente para Sirius.

-Estávamos pegando o livro...-respondeu a moça de olhos acinzentados,piscando para a amiga.

-Achamos...agora mãos a obra!-Lílian se esforçava para parecer normal,mas por dentro seu coração estava quebrado.

-Aleluia...aleluia,meu Deus!! –veio a voz sonolenta de Remo,que caíra no cochilo e fora acordado por um cutucão de Pedrinho- Vocês se perderam feio nessa biblioteca,hein?!-disse,querendo se convencer das próprias palavras, já que analisando a imagem escandalizada de Tiago e Elizabeth acabou meio assustado.

- Claro Aluado, foi isso.-Sirius arrumou os cabelos preguiçosamente, já entediado- Agora,vamos ter de socializar esse livro.

-Numa boa, Black!- confirmou Katherine Brown, indo até sua mesa- Venham até aqui!Vamos fazer juntos, ok?

Tiago, antes de se sentar para iniciar de vez o trabalho de História da magia, tocou o ombro de Lílian educadamente, chamando-a com ternura:

-Evans, posso te perguntar uma coisa?

-Você já esta perguntando Potter.Mas seja breve, vamos, pergunte logo.

Tiago esperava uma reação assim, por isso, realmente foi breve:

-Quer sair comigo?

-Vai pra merda...-e voltou-se para o trabalho.

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As estrelas podem tem muito a revelar. Apesar de distantes, estão também próximas de nossas vidas, pois elas nos dizem muito. Astros podem se confessar conosco, nos sussurrar o futuro, nos aconselhar, ou simplesmente nos olhar lá do alto com um brilho misterioso cheio de curiosidade.

E a professora de Astronomia sabia muito bem disso.

Dalva era uma velha astróloga bruxa e também trouxa, além de uma apaixonada estudiosa de Adivinhações, horóscopos e supertições.

-Há muitas deusas representadas no simbolismo astrológico.
Além da Lua, Vênus e Lilith, outros asteróides receberam a força da mitologia e a atenção de astrólogos. Vamos ver sobre essas deusas e como elas influenciam os mapas astrais.

Era meia noite. A torre mais alta do castelo estava agora habitada por setimanistas, que se espalhavam com telescópios, mapas astrais, pergaminhos e penas, além de compassos e objetos para medição. O céu noturno estava lindamente forrado por estrelas, límpido graças ao fim do verão. Sirius estava entusiasmado; se tinha uma professora naquela escola que ele respeitava, era Dalva. O rapaz era fascinado por Astrologia bruxa e Astronomia trouxa, e se mostrava um excelente e comportado aluno, diferente do que era em outras matérias (nas quais ele se mostrava apenas excelente).

Tiago brincava com seu telescópio como uma criança que tem em mãos um brinquedo excitante e muito perigoso. Seus colegas de sala ouviam Dalva com atenção:

- Invisíveis a olho nu, como os planetas transaturnianos -Urano, Netuno e Plutão- os asteróides permaneceram de fora de toda a produção astrológica tradicional. Em grande número e muito pequenos, invisíveis e sem contar com efemérides de fácil construção, os astrólogos rejeitaram os asteróides por longos anos.Ceres, primeiro e maior asteróide, descoberta em 1801, só começou a ser estudada pelos astrólogos no século 20. A astróloga Eleanor Bach,trouxa, foi a primeira a estudar os quatro primeiros asteróides, que receberam nomes de deusas da mitologia grega.-esclareceu a idosa mulher,virando-se para a negrinha de cabelos muito pretos e dentes muito brancos-Senhorita Brown,poderia me dizer algum dos nomes desses asteróides?

A morena tirou os olhos verdes do céu e voltou-se para a mestra:

- Ceres, Palas, em seguida Vesta e depois Juno, professora.

-Excelente.Dez pontos para Grifinória!-falou com emoção,continuando seu discurso.-Observem pelos telescópios, e escrevam a posição de pelo menos dois desses asteróides, matematicamente.Oh sim, é um trabalho individual.-completou ao ver Ligia começar a puxar sua cadeirinha e materiais para junto de uma amiga.

-É dever de casa,professora?-perguntou uma esperançosa Cynthia.

-Não senhorita McClair,é para fazer agora mesmo.Vocês tem vinte minutos e retomaremos a aula.

Os asteróides lançam luz a respeito de algumas facetas, identificando com mais clareza, de acordo com os astrólogos, certos eventos, ocorrências e tendências de um mapa astrológico natal. Utilizando técnicas como os meios-pontos, somados a outras técnicas específicas tais como a progressão secundária pelo arco solar e os trânsitos planetários, poderiam ser elucidadas desde tendências às doenças até o perfil de eventos decisivos nas vidas humanas, como o uso dos asteróides Folos, Nessus, Asbolos, Vulcano e Chariklo. Assim, o estudioso aplica-se a alguns grupos específicos de asteróides quando deseja estudar um determinado assunto ou campo da vida da pessoa. Era exatamente isto que Dalva gostaria que seus alunos fizessem.

Elizabeth virou seus olhos profundos para o céu e sua grandiosa vastidão.Ajustou seu telescópio numa posição perfeita,puxou para si pergaminho,pena e tinteiro e começou a observação. Ela viu as famosas estrelas que eram perceptíveis no céu de Hogwarts (que observava á sete anos), e foi-se inclinando, alterando seu campo de visão, procurando os devidos asteróides. Tinha sorte de estar em um observatório privilegiado e de estar usando um telescópio mágico, pois pôde notar, de repente, algo definitivamente antinatural...

A Lua é o astro feminino máximo da astrologia e tem o poder de ligar um planeta com outro, marcando os eventos que aconteceram e os que ainda ocorrerão. Mudança e ritmo, repetição que traz de novo a criação do mundo na Lua Nova, e que destrói esse mesmo mundo na Lua que se apaga no céu. Dama da mudança, rainha da memória, impressionável, variável, dominadora de oceanos e da mente humana, brilha pálida a Lua nos céu da astrologia.É muito poderosa na interpretação dos eventos e das cartas astrológicas, pois identifica as personalidades emotivas, o mundo dos sonhos, o organismo que incha e desincha a cada fase lunar.

A jovem contraiu as sobrancelhas e olhou em volta da rainha da noite.Pode notar, com facilidade,que dois planetas estavam estranhamente próximos a ela,como se a indicassem.Virou a cabeça para ver se alguém mais tinha notado o estranho fato,mas conclui que não.Sentia que aquilo podia conter algo extremamente importante,queria e precisava falar para alguém.Olhou para a pessoa mais próxima de si e exitou.Sirius anotava milhares de coisa em seu pergaminho e parecia estar muito “longe” dali.Mas quem melhor do que ele para ser consultado sobre algo como aquilo?Chamou-o em voz calma:

-Black?Hei...Black?

Ele piscou confuso e se virou para o lado:

-Quem está me chamando?

-Eu...aqui!Vem aqui,por favor.

Ele olhou de relance para a professora, que no momento ajustava o telescópio de Frankie. Se levantou por fim, indo até ela curioso:

-Quer ajuda?

-Mais ou menos...-e resolveu ser direta-Olha isso aqui.- ajustou o telescópio de modo que o fenômeno pudesse ser visto imediatamente.

Elizabeth estava posicionada de frente á uma janela individual. Seu banquinho redondo ficava ajustado na altura ideal para que ela encaixasse os olhos no telescópio, á sua frente, e conseguisse fazer sua observação com precisão. Sirius, de pé atrás dela, teve que se inclinar para alcançar o objeto, meio que “abraçando” a outra,passando os braços por cima dos ombros da grifinória. Ficou parado alguns minutos, hora alterando o foco, hora retirando os olhos, impressionado.

-O que é isso?!

-Eu não sei...é justamente o que eu quero saber.-ela, apesar de preocupada,não pode deixar de sentir algo estranho ao ouvir a voz dele tão próxima do seu ouvido-Mas não fale alto,eu só sei que isso não é nada positivo e pode deixar os outros preocupados.

Sirius sentia o perfume de sua companheira, sentia o toque quente do corpo dela, seus cabelos roçando nele. Devia se controlar imediatamente para acabar não atacando a nova “namorada” do melhor amigo:

-Acho que aquele planeta ali é Vênus...estranho, porque será que apenas os astros que representam o feminino estão tão próximos um do outro?

Ele se desencostou de Elizabeth, ficando novamente em pé.Precisava pensar seriamente no assunto e, para tanto, decidiu cortar aquela proximidade maligna que o deixava zonzo e atrapalhava seu raciocínio. Elizabeth tentou ajuda-lo:

- Uma Lua forte sugere facilidade para captar as próprias necessidades corporais, emocionais e psíquicas. Em um mapa natal, a Lua encontra-se naturalmente desequilibrada quando nos signos de Escorpião e Capricórnio.- ela usou seus conhecimentos de Adivinhações além dos astronômicos para tanto, já que a Lua era o astro em questão naquela análise.

- Outro planeta feminino importante na astrologia é Vênus, representação máxima da sedução e dos prazeres físicos e sensuais e da capacidade de atração. Na antiga Grécia, Afrodite era invocada tanto para os amores sensuais, Afrodite Pandemos, quanto para os relacionamentos sociais e culturais, Afrodite Urânia. - contou ele, sempre falando em voz baixa para que somente a jovem Adams escutasse. Após uma retomada de fôlego, continuou- Embora fosse dedicada a Hera, esposa de Zeus, a proteção dos casamentos, o parto e a boa educação dos filhos, a regência dos amores ficou sempre nas mãos de Vênus, a deusa bela nascida da espuma do mar. Assim, Vênus posicionada em lugares proeminentes do mapa natal significa um grande poder de atração, com todo o séqüito da deusa da sensualidade e do amor: gentileza, graça, feminilidade e suavidade. Se o poder da Lua reside no seu potencial de proteger, acarinhar, cuidar, o poder de Vênus está em realizar seus desejos usando a sedução e a atração sensual.

Sirius pediu com educação para que pudesse olhar novamente os dois estranhos planetas que ameaçavam enfileirar-se atrás da Lua, novamente passando os braços em torno de uma extasiada Elizabeth:

-O outro planeta ali é Marte...oh Eliza,Marte é o representante do masculino, da espada, do homem.- e fez uma rápida junção dos fatos,agora olhando rapidamente para ela- Homem;Marte, mulher; Vênus.

Não foi difícil para Adams interpretar:

-Estão nos mostrando que alguma junção entre homem e mulher está prestes a acontecer...Uma junção carnal,se é que me entende...-envergonhou-se ao dizer aquilo.

- Oh,mas isto está acontecendo em todos os lugares do mundo á toda hora!-brincou ele, fazendo-a ficar sem graça:

- Black, quero dizer uma junção importante. Irão...hum... “iniciar” o ato principal para que possa,no futuro,acontecer o nascimento de alguém.Alguém de extrema importância,talvez.

-Quer dizer; estão fazendo sexo por aí. –ele concluiu com displicência.Ela o corrigiu irritada:

-Vão fazer,e isto vai gerar algum “bruxinho” realmente importante e especial.

Ele concordou agora com seriedade, completando:

-E deve ser especial mesmo para ser anunciado pelos astros e planetas antes mesmo de nascer,hein?

-E como...gostaria de saber quem são!Acha que deveríamos falar para mais alguém?-a jovem manteu a conversa educadamente,mas começou a sentir raiva de si mesma.O que ela fazia conversando,novamente,tão intimamente com aquele integrante de uma família tão repugnante?

-Acho que só pro bom velhinho.- Brincou ele,lembrando-se da quantidade incontável de coisas e mistérios que Dumbledore não só “sabia”,mas tinha conhecimento profundo.

-Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiirius!!!-ganiu Pedro, agora socando seu telescópio-Me ajuda, pelo amor da sua mãe!!Eu não to entendendo nada!!!Nem sei mexer nesse...ih...acho que quebrei.

-Pelo amor da minha mãe?!-repetiu Sirius dando agora um tom irônico á sua voz- Você deve estar brincando,Pedroca!










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