Em uma noite de outono
Capítulo 2-Em uma noite de outono
-Mal feito, feito!!
As quatro vozes masculinas ordenaram apontando varinhas já profissionais para o Mapa do Maroto, que se apagou tão misteriosamente quanto o fez para se “abrir”. Tiago jogou também sua imensa capa da invisibilidade sobre sua cama, enquanto o pergaminho era enrolado,agora,por Remo.
- Querem saber de uma coisa?-Sirius foi o primeiro a vir logo com comentários- Esses nossos passeios até a cozinha estão começando a perder a graça!
-Oh Sirius, pra você Hogwarts é um parque de diversões que tem sempre de estar cheio por novas atrações!-Remo desaprovou; será que o amigo não achava o suficiente desrespeitar as regras da escola quase todas as noites, ao lado de um monitor, e não ser punido por isso?!
-Não é isso Aluado. Só acho que Filch, Pirraça, os professores e os monitores, todos eles, estão se mostrando cada vez mais fáceis de tapear!Eu queria mesmo era um desafio!
-Desafio, hu?- Pedro decidiu dar sua opinião também, aproveitando para virar-se para os amigos após fechar as cortinas do dormitório- Experimente atravessar todo esse castelo segurando bolinhos de chocolate deliciosos e se agüentar durante todo o caminho sem comer nenhum!-ele relatou melancólico a triste agonia que tinha acabado de passar, agora se encaminhando para os bolinhos surrupiados da cozinha, babando.
-Bah... quem merece palmas aqui é seu estômago,Rabicho!-Sirius observava o outro se lambuzar de chocolate numa expressão de impaciência- Deve ser mesmo um desafio para ele arranjar lugar para entocar tanta comida sem explodir!
Pedro ignorou o outro dando de ombros enquanto terminava seu “servicinho” com os bolos extremamente açucarados. Remo já bocejava de sono, enquanto Tiago encaminhava-se para a pia do banheiro. Nela, depositou sua escova de dentes e pasta, vendo-se finalmente livre para olhar-se no espelho. Sorriu admirado e orgulhoso com seu reflexo moreno, comentando em alta voz:
-Há!Aquela Elizabeth tem sorte de estar comigo!
Seu egocêntrico comentário soou no dormitório com facilidade:
-Você é quem devia estar agradecido!-corrigiu Sirius, destruindo as falas do amigo, que teve de aturar também Lupin:
-Realmente Tiago,você sabe como atrair o peixe errado! Está louco atrás de “Lilynguado” e acaba apanhando uma enguia!
Pontas emburrou de vez, surgindo no quarto empunhando sua escova de dentes:
-Hey!!Ela não é feia igual uma cobra dágua, a Berta Jorkins que é!
Pedro e Almofadinhas foram os culpados pelas risadas que enfureceram Remo:
- E eu não sei?! Mas que garotinha chata aquela, porque diabos está tão atrás de mim?!
-Olha amigo,acho que recaiu sob você uma segunda maldição!- respondeu Sirius, brincando- E ainda bem pior do que a primeira!!-era claro que Sirius referia-se á “maldição da lua cheia” que tanto atormentava Remo Lupin.
-Eu escolheria ser mordido mais 100 vezes por um lobisomem do que ter de aceitar aquela coisa!-Remo confirmou, até mesmo tendo tremeliques de pavor.
Tiago viu a deixa para continuar seu assunto, ainda querendo chamar a atenção:
- E eu-khan- aceitaria mais 100 beijos com a Adams mesmo que isso me custasse perder o título de capitão do time de quadribol!
-Ok chifrudo,você ganhou!-Sirius sentiu despontar em si uma tremenda curiosidade, por isso, foi logo puxando Tiago pelo braço para que se sentassem- Comece á contar Tim-tim por Tim-tim pros seus camaradas aqui!
Pedro livrou-se dos farelos de seus doces para aproximar-se dos outros, que já arrumavam-se ansiosos ao redor de Tiago.
Toda aquela curiosidade tinha uma explicação muito simples: Elizabeth Adams era uma das únicas garotas que nunca havia “passado” pelos dois rapazes mais mulherengos de toda a Hogwarts. Não que ela fosse uma grifinória difícil de ser notada (mas muito pelo contrário, pois era uma criatura fascinante em seus mistérios, silêncios, olhares e sorrisinhos desdenhosos), mas por obra do destino a jovem tinha entrado para o “fã clube” dos marotos á apenas dois anos. Nesta época, Sirius estivera ocupado demais com as atraentes Cynthia, Stephanie e Katherine, enquanto Tiago começava a cair de quatro aos pés de Lily Evans. Um ano depois foi o suficiente para que Almofadinhas se saciasse das novas amigas e para que Tiago o alcançasse, sobrando,finalmente, a grifinória de poucas palavras.
Não foi difícil perceber, entre esta passagem dos 15 aos 17 anos, que Elizabeth não suportava a presença de Sirius. A adolescente cortava o máximo que conseguia o contato com ele, fosse numa sala de aula, fosse no salão comunal, fosse entre amigos ou nos raros momentos sozinhos. Ela tentava ignora-lo o máximo que conseguisse, no entanto,suas ações não tinham motivos aparentes nem razoáveis. Sirius nunca se importara realmente: ele sempre teve outras alunas ao seu redor, filas delas na verdade, logo não sentia falta da estranha e incompreensível grifinória.
Grifinória?!
Sim. Apesar dos trejeitos, ela ainda era uma grifinória.
- Bem, ela parece ser feita de gelo.-poetizou Tiago, numa voz teatral- é meio distante no começo, quase não fala nada. Ela me olhava como uma gata, toda arisca! Eu sentia mesmo era vontade de ir logo a agarrando,mas até que fui paciente...
-Acho que a Evans lhe ensinou a ser.
-É verdade Pedrinho, se bem que a Evans é um desafio pra paciência de qualquer um!
-Sim, sim, claro... agora continue Dom Juan!
Tiago sorriu triunfante perante a impaciência de Sirius:
- Ela gosta de fazer charminho, se é que me entendem... parecia querer uma coisa, mas, em cima da hora, mudava seus desejos. Ah...aquilo me irritava tanto que eu me sentia no dever de satisfazê-la!
-Uhhh... “Garota fatal!”- brincou Remo, mas ainda sem atrapalhar a narrativa.
- Sim, sim, eu comecei a ficar maluco!-reforçou Pontas- Mas então, finalmente, depois de tanto atiçar o gelo, ela esquentou!
-Não parece ter demorado tanto...- fez Sirius escondendo a inveja- Faz agora 24 horas que vocês estão juntos!
-Mas isso é porque eu sou irresistível!- Tiago defendeu-se, fazendo Aluado e Almofadinhas entreolharem-se com expressões idênticas de desagrado entediado- Nem mesmo ela, dura e fria daquele jeito, conseguiu se agüentar por mais de horas!
-Pra mim ela vai te descartar igual uma cueca usada!- riu Pedro, ao que o apanhador grifinório retrucou imediatamente:
-Não se eu fizer isso antes...
-Daí você vai dar uma de patife idiota!-impôs a voz dura de Remo- Acho que aquela garota precisa mesmo é de um namorado sério.-Sirius esboçou uma careta,mas o jovem de cabelos castanhos ainda não tinha concluído sua análise- Ela é inatingível assim e sempre vai ser, até o dia que encontrar alguém. Pode rir, Sirius!- fez ele, agora que Black explodira de vez em gargalhadas estrondosas- Mas eu acho que ela tem é medo. Depois toda essa máscara de indiferença vai cair,vocês vão ver.
-Bobagem Aluado, isso não aconteceu com a Lily até agora!- Tiago fez a comparação mais óbvia.
-Isso é porque ela ainda não encontrou seu...pfffffffff...- e agora, fazendo um tipo de “aspas” com os dedos,Sirius ironizou- Ela ainda não encontrou seu “príncipe encantado”.- e voltou a gargalhar.
-Bem, seja como for eu pelo menos consegui provar o gostinho daqueles lábios mudos. – finalizou Tiago, preparando-se para voltar com a nem ao menos iniciada escovação de dentes- Mesmo que eu não venha a ser “a chave certa” que vai abrir aquela caixinha de segredos, pelo menos fui uma das chaves passageiras,e isso já é o bastante.
-Você fala assim porque já tem uma “caixinha” na mira, não?-Remo continuou agora desamarrando sua gravata grifinória- E é ruiva, se me permite dizer.
Pedro continuava mudo,plantado em seu lugarzinho com cara de paisagem. Adotara aquele estado inexpressivo e desligado dês do primeiro momento em que os amigos haviam iniciado aquela conversa por metáforas, pois se embananara todo.
-Caixinha de segredos?Chaves?Vocês ainda estão falando da mesma coisa?
Sirius foi o único que ouviu as lerdas perguntas do animago.Ignorou-as como se escutasse o zumbir de um mosquitinho chato. Enquanto dirigia-se para seu malão (a fim de escolher uma camiseta confortável para passar a noite) refletia interessado sobre o relato de Tiago.
Apesar de ter-se mostrado desinteressado, Sirius sentia um frêmito efervescente trespassar suas veias. Sempre olhara Elizabeth com um ar canino e esfomeado, no entanto, isso mostrara-se falho nos últimos dias. A distancia que era mantida entre os dois (por iniciativa da garota), aquela repulsa vinda dela em relação á sua família, aqueles dois anos de uma distante “colegagem”, aquele ar de mistério, tudo, o deixava atiçado.
Ela nunca caíra de amores por ele (como seria o esperado), mas sim muito pelo contrário. Ela até mesmo evitava conversas muito longas, o que era admirável!
Sirius Black, pela primeira vez, via-se desprezado por uma garota. Encontrara finalmente seu desafio, bastava agora enfrenta-lo.
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Setembro, o primeiro mês de aulas e os último suspiro do Verão, acabara.
-Meu, juro que não acredito! –Courtney jogou-se na poltrona do salão comunal ao final das aulas.- Já temos um trabalho absurdo pra fazer!Juro que se o Binns não estivesse morto eu matava ele!
-Affff...-Cynthia ,que vinha acompanhada de dez garotas, não pode deixar de conter uma exclamação ao ouvir aquilo.
A ruiva fez uma careta para a inimiga que passava e completou:
-Já eu estou feliz por que...-de repente se calou, olhando para outro ponto do salão, captando uma cena não tão agradável, murmurando algo e voltando-se logo para a conversa antes que a amiga tivessem a curiosidade de olhar também o que a aborrecera,continuando- por que vou fazer em dupla com o Remo!
-Vai,é?- a loira fez uma exclamação meio divertida-E porque isso te deixaria tão feliz,miss segredinhos?
-Por...-sua voz,pensamentos,alma e tudo mais que lhe pertencia pareciam terem sido roubadas e largadas ás traças,jogadas no lado oposto do salão comunal, aonde também seus olhos estavam presos-Por que eu não posso mais esconder que eu o amo tanto...- e caiu no choro.
Banks assustou-se tanto que o abraço dado na ruiva foi de carinho dengoso:
-Meu Deus!!- ela consolou a chorosa monitora com seus bracinhos delicados, oferecendo-lhe seus ombro para as lágrimas –E-eu não sabia miga...V-você ama o Lupin?Ama?Dês de quando?Como?Ai,que lindo!
-Não amiga...esqueça!Falei a coisa errada...f-foi besteira minha!-enxugou as lagrimas depressa e afrouxou os braços do aperto dado em Courtney.-Obrigada,mas por favor,esqueça isso.-Seu coração estava quebrado. Finalmente, depois de muita relutância, ela teve que admitir: estava completamente apaixonada pelo porco imundo com o ego mais pesado do que chumbo do Tiago Potter.Será que ela estava se tornando, sem saber, mais uma daquelas fãzinhas comuns que ele usava e jogava fora?Não, não podia ser...No entanto o que ela sabia é que seu estômago pulava a cada vez que seus olhos se deparavam com a imagem da garota mais nojenta e estúpida de Hogwarts, Elizabeth, tocando aqueles lábios maravilhosos que deviam ser seus há tempos...
E a cena que tanto machucava Lily era realmente um grande atrativo; Elizabeth já quase deitava-se no sofá,como em uma cama, por pressão do rapaz. Ele, inclinado sobre ela, repetia os amassos dados na biblioteca desta vez com um sabor ainda mais picante,se possível. Primeiranistas fitavam pelo rabo de olho o casal, esbugalhados. Outros grifinórios, como por exemplo dois amigos de treze anos, abandonaram o sofá mais próximo para irem conversar em um canto menos barulhento. E muito barulhento por sinal...Tiago ousava novos lances sobre a garota, desabotoando sua camisa branca, beijando seu colo. O colete cinzento já fora arrancando bruscamente, assim como a gravata, e agora jaziam entre almofadas chutadas por ele. Pontas, descabelado, foi deitando-se sobre a acediada grifinória, que estava ofegante. Sirius e Remo olhavam para tudo,tudo mesmo, menos para o amigo já não tão santo assim:
-Sirius...-murmurou Lupin,corado- Si-Sirius..?!
O cachorro preto das luas cheias mantinha o queixo apoiado pela mão e os olhos pensativos. Era de se admirar sua compenetração, pois o rapaz raramente dedicava-se tanto para reflexões. Curioso,o lobisomem tentou chamá-lo uma segunda vez:
-Oh Sirius, no que você ta pensando?
O moreno finalmente respondeu,ainda focando o nada:
-É estranho...realmente muito estranho...
-O que é estranho?-Lupin parecia tentar ignorar os sons que lhe chegavam aos ouvidos, vindos de Tiago e de sua companheira.
-Isso!!- Black exclamou, apontando o melhor amigo com o canto dos olhos,que logo voltaram-se para fitar Remo- Ela não é assim!!
-Tá chamando o Tiago de mulher?-brincou Aluado, para logo concertar-Ok, eu sei o que você quer dizer...é estranho,não é?
-Foi o que eu disse.
O fato tão inesperado á que se focavam os dois amigos não era difícil de ser explorado por sua tremenda peculiaridade: como era possível Elizabeth Adams estar entregando-se daquela maneira tão abrasadora para um rapaz com uma fama como era a de Tiago?O que de tão impactante havia ocorrido na cabeça inviolável da “quase sonserina” para que aquela cena pudesse se concretizar? Fosse o que fosse, devia ter afetado os neurônios mais valiosos que ela possuía...
A jovem de olhos cinzentos e cabelos negros era,afinal de contas, um alvo tão disputado entre os garotos quanto era Lílian Evans, não tanto pela sua beleza admirável,mas sim pelo grau de dificuldade com que eles se deparavam para atingi-la: ela se presava fervorosamente. Estava, praticamente, “amorosa de si mesma” e acima de tudo era muito responsável. Mostrara também ser uma pessoa de grande personalidade, pois não acabava sendo um bom modelo para alguém que quisesse generalizar as “alunas de Hogwarts”, mas muito pelo contrário: ela era uma raríssima exceção naquele mar de “periquitas”.
Nunca se deixava convencer facilmente. Andava com um dos grupos mais fúteis de garotas, porém, sem se deixar influenciar. Era hábil nas respostas e fria no olhar. Era sagaz. Torcia os olhos e fungava diversas vezes, expressando claramente a importância que dava para “o novo cabelo da fulaninha” ou “o fim do namoro da ciclaninha”, assuntos que eram sempre privilegiados pelas suas amigas. Por ser assim tão anti-sociável, era de se admirar o número dantesco de amizades que ela conquistara por sua popularidade, concretizada, obviamente, por suas amigas franguinhas e frisada por seus amigos babacas. Eliza aceitava os marotos e suas “brincadeiras” com muito bom humor apesar de tudo: ela era,afinal de contas,muito diferente de Lily. Ela gostava dos quatro rapazes ,particularmente de Tiago certeza aceitara o rapaz graças não só ás suas vantagens físicas,mas sim por ter uma predileção mal disfarçada por “puros sangue”.
Sim; apesar de ser característica dos seguidores de Salazar Syltherin, a jovem bruxa sentia arder no peito uma pitadinha incontrolável de preconceito. Era assombrosa tamanha contradição: ela estava, afinal de contas, em Grifinória!No passado seus pais haviam sido aurores (profissão que ela desejava seguir), o que indicava em altos brados sua repugnância para com bruxos malignos que eram, em sua maioria, puros sangues preconceituosos. Chegava quase a não fazer sentido algum!
Mas apesar de tudo dava-se para seguir uma linha de raciocínio razoável: a garota repudiava Artes das Trevas,assim como Tiago. Ela dava preferência á bruxos puro-sangue, tópico em que Potter também se encaixava. Estava aí sua escolha maníaca: Tiago era uma raridade como ela, já que se mostrava um grifinório de boa índole e, mesmo assim, de árvore genealógica completamente mágica!
Certo, estava justificada a escolha da garota.
-Nossa, o que é aquela agarração toda, em Almofadinhas?-inconformado com o casal recém analisado, Remo ainda sussurrava- Eu pensei que a Adams fosse tão difícil quanto é a Lily!
-E ela é. -frisou Sirius, apesar de parecer perturbado com a cena- Afinal de contas,foram pouquíssimos os namorados dela aqui na escola!
-Ora...-Remo agora adotou um ar meio pertinente- Eu também não sou capaz de fazer uma lista de garotas com quem já estive, mas isso não quer dizer nada!
Almofadinhas riu, sádico:
-Eu sei Lobo mau,mas o que quero dizer é que ela se mostrou sempre muito reservada para com a população masculina de Hogwarts...- e agora, com um ar meio soturno -Eu que o diga!
-Bem...-Remo piscou um tanto constrangido-Ela não parece tão “reservada” pra mim...
Sirius pareceu ponderar sobre o caso um pouco mais do que devia:
-Talvez...bem, talvez o nosso Pontas esteja realmente merecendo um troféu!Ele conseguiu realizar uma grande proeza fazendo a garota “se soltar” dessa maneira...
-E se “abrir” também...-Remo notou discretamente as pernas dela, que estava reclinada sobre o “leito/sofá” do salão comunal.-Daqui a pouco vamos ter que tirar os menores do recinto...
Sirius gargalhou,descontraindo-se:
-Ora essa, então mãos á obra senhor monitor!
Mas não foi preciso nenhum dos dois ir até lá: subitamente, Elizabeth colocou as mãos sobre o peito do rapaz, começando a empurrá-lo devagar enquanto sussurrava com a boca ainda colada na dele:
-Potter...vai com calma!V-você esta me assustando!Ta todo mundo olhando...
Ele abriu os olhos devagar:
- O que foi?- olhou para a jovem debaixo de si meio zonzo, desligado, afobado-Falou alguma coisa?
-Falei!Falei pra você ir com calma, este não é o lugar mais apropriado para...Sabe, está todo mundo olhando.-ela o olhava nos olhos.
-Deixa eles olharem...é só o que sabem fazer; sempre estão preocupados com a vida dos outros, comigo, com o que faço ou deixo de fazer...esqueça!-e tentou voltar para o que estava fazendo, querendo que a garota sentisse tanto prazer que se esquecesse de onde estava e ignorasse seus vizinhos.
-Não...Potter!-ela foi levemente mais insistente no “empurrão”, tentando fazer com que ele se sentasse-Estamos no salão comunal...
Ele obedeceu com relutância, arrumando o corpo e ficando novamente ereto no sofá. Notou os lábios dela:estavam absurdamente vermelhos.
-Me desculpe.
-Ah, agora sim!Desculpo sim...-e lhe deu um selinho.
A platéia acalmou-se com a reação dos dois, inclusive os marotos, que fizeram alguns “Até que enfim”, voltando-se para o jogo de Snap Explosivos.A jovem abotoou a camisa com a ajuda de Tiago, recolocou a gravata e o colete para dizer finalmente:
-Prontinho!Agora melhorou...olhe pra você!Está um horror!-Elizabeth voltou a se aproximar do moreno para ajeitar sua gravata e TENTAR,sem sucesso algum,colocar seus cabelos no lugar.
-Desista,Eliza!-ele riu, sentindo os dedos dela passearem incansavelmente por entre seus fios de cabelo negro- Eu tenho a “maldição do porco espinho”!É impossível arrumar isso aí!Tento fazer isso á dezessete anos e não consigo!
-Agora, você quer me dar mais alguns beijinhos antes de ir dormir?-ela falou no diminutivo para que Tiago não voltasse a ser um maníaco.
-Você já vai dormir?-ele perguntou deprimido- Ah...ok.
Deu selinhos compridos nela, segurando suas mãos famintas.
-Você acalmou rapidinho,hein?-ela riu-Você é...-e dessa vez ela mesma o puxou para um beijo fogoso, trocando palavras por atos, o que fez a estudante do outro lado do aposento baixar os olhos verdes novamete,derrotada.A loirinha ao seu lado não notou sua desgraça, pois jamais,nem em mil anos, combinaria Lily Evans á Tiago Potter:sabia que a amiga nunca se deixaria levar pelo arrogante rapaz ou,ao menos,pensava que sabia.
Tiago puxou Eliza durante o beijo,não tão faminto,mas mais caloroso. Terminou lentamente, murmurando:
-Você vai mesmo?
-Você quer que eu vá?-ela perguntou dengosamente.
-Não.
-Ai credo...eu vou sim.Você é grosso e frio demais...-ela fechou a cara.
“E o que ela quer que eu faça?Recite um poema?!”
-Ah,desculpa...Eu...eu não quero que você vá porque...Porque gosto de você aqui comigo, entende?
-Sim.Entendo...-por um momento ela sentiu-se mais usada do que um chiclete, mas logo no momento seguinte,pra puxar assunto, perguntou indo se sentar no colo dele-Quem é sua dupla de trabalho,mesmo?
-A Alice alguma coisa...a namorada do Frank!-ele contou com desânimo-E a sua?
-A minha?-e riu alto o bastante para,por um breve instante,todos os olharem-A Caveirinha de Pano!Vai ser hilário...-e pegou uma das mãos de Tiago para colocar sobre seus próprios joelhos.
-QUEM VOCÊ ESTÁ CHAMANDO DE CAVEIRA DE PANO, HEIN SUA VADIA?!-uma bufante,espumante e revoltada Courtney veio marchando até o casal; dedo em riste, queixo erguido,semblante furioso, olhos azuis saltados- VEM FALAR ISSO NA MINHA CARA!OLHA QUE EU SOU BOA DE BRIGA, HEIN?VOU TE MOSTRAR O QUE MEUS BRACINHOS DE OSSO PODEM FAZER!
-Courtney...que coisa feia!Não arranje briga,você não deve se intrometer aonde não foi chamada!-Lílian veio até a amiga e a puxou com força pelo braço, falando em seu ouvido: “Você estragou tudo! Eu tava preparando a maior entrada do século pra acabar com essa pornografia e você destruiu tudo! Agora vê se fica quietinha e senta!” e empurrou a loirinha no sofá forçando-a a dobrar os joelhos e se acalmar.
Tiago, não querendo que uma briga entre o grupo de Lílian e Elizabeth explodisse na sua frente, puxou a parceira para mais um beijo sugador, roçando suas línguas vorazmente. Durante o ato esbaforido, não pôde perder a oportunidade de deslizar as mãos (antes postas sobre o joelho de Adams) para a direção da saia do uniforme feminino, terminando finalmente quando sentiu a dobrinha das pernas de Eliza.Ele tocava,praticamente, a virilha da adolescente!
Ela parou o beijo com breves selinhos para apressadamente exclamar:
-Ei, ei, ei mocinho...que ousadia é essa?Acho que eu ainda não te dei liberdade para tanto!-e recolocou as mãos dele em seus joelhos,prepotente.
-Ah, me desculpa de novo!-ele sorriu brilhantemente,com um olhar maroto- Não queria ultrapassar meus limites.
Ela sorriu.
Aquilo fora simplesmente à gota d’água para Lílian: este era o momento que ela estivera aguardando ansiosamente desde o inicio do “showzinho” providenciado pelos dois jovens de cabelos negros.Levantou-se com coragem, estufou o peito fazendo brilhar seu distintivo de monitora e marchou até a cena, chegando em altos brados:
-ISSO AQUI NÃO É UM MOTEL TIAGO POTTER!É UM SALÃO COMUNAL DE RESPEITO!TEM ALUNOS DE PRIMEIRO ANO AQUI,E ELES ESTÃO TODOS OLHANDO PRA VOCÊ,COM ESSA SUA IRRESPONSABILIDADE E MANIA DE QUERER APARECER, SEMPRE!SERÁ QUE VOCÊ NÃO PERCEBE O QUANTO ESTÁ SENDO RIDÍCULO, SEU MERDA?!-a jovem mantinha as duas mãos na cintura e falava tudo que estivera entalado em sua garganta durante os carinhos ousadíssimos do casal-VOCÊ É UM COMPLETO BABACA POTTER!EU TENHO PENA DE VOCÊ!PENAAAAAAAA!
Todos, com a exceção de ninguém, olhava para o centro do conflito, alternando a vívida atenção de Lílian para Tiago e deste para Elizabeth, em um silêncio angustiado.
O rapaz, destruído pelas palavras de Lílian, empalideceu, soltou a cintura de Adams, tremeu:
-Eu...Lily, se acalme...
Remo e Sirius, largando seu já tedioso jogo de cartas, aproximaram-se da ruiva que tanto chamara a atenção dos grifinórios.
-Lílian, calminha.- pediu também Lupin falando baixo. Almofadinhas olhava para o par mais atiçado da casa com olhos faiscantes e misteriosos.
-Quem está querendo aparecer aqui é você!-retrucou a inimiga de Evans-Boa noite!- a companheira de Pontas se levantou e, com uma aceno de cabeça, chamou as três melhores amigas para perto.Sua calma e indiferença deixaram a monitora mais irada ainda e sem qualquer reação.-É tarde,estou cansadíssima e preciso dormir!Vamos meninas!
-Não me admira você estar cansada.-fez a voz de Sirius com um desdém incomum.O rapaz chegou até mesmo a ficar impressionado com sua própria e estranha reação; porque agira daquela maneira?O que tinha contra a menina?O que tinha contra tudo aquilo?Nada, aparentemente...Remo olhava-o espantado, Tiago confuso.
Elizabeth se virou para o rapaz com aquele olhar de total desprezo de sempre,mas dessa vez o acentuando bem mais,com as sobrancelhas erguidas.Deu as costas e saiu em passos delicados até as escadarias com ,em média,umas dez garotas em seus calcanhares.
Lílian a observou se afastar como alguém quando olha para uma barata nojenta,que acaba de ser esmagada,resmungando apenas:
-Nojenta...você me paga!-e voltando-se para os quatro marotos,mas dirigindo-se para apenas três deles finalizou-Fim de papo,estou indo me deitar.Remo,faça valer a confiança que Dumbledore depositou em você,ao menos uma vez,se for preciso.-e se foi.
Lupin estremeceu ao ouvir aquilo, baixando os olhos completamente constrangido. Sirius arqueou uma sobrancelha, sem uma palavra.Tiago bocejou, ainda deitado no sofá (que ficou todo amassado, violado, quente):
-Uaaaa,preciso tomar banho agora...
-Pra se acalmar um pouco,não é?!-Sirius exclamou estendendo a mão para o outro se levantar-Vamos logo.
E, ajudado por Sirius, o “devorador” de Elizabeth´s se ergueu. Remo seguiu os dois amigos escadas á cima num silencio conturbado ainda pelas palavras de Lílian. Pedro,notando o afastamento dos três, deu uma corridinha para alcança-los.
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Severo Snape não dormira aquela noite. Tinha passado horas ininterruptas revirando-se no colchão,que por um motivo ou outro,tinha se mostrado incrivelmente duro e desconfortável. Seus olhos não conseguiram fechar-se sonolentos,mas muito pelo contrário: haviam passado grande parte da noite arregalados,fitando o teto escuro do dormitório sonserino. Ele não conseguira relaxar a mente nem por um segundo,nada, nem sequer para sentir o ar da graça de um cochilo. Aceso e emburrado, o bruxo foi incitado por todos os seus ativos neurônios a se levantar, colocar o uniforme, e descer ao salão comunal em plena madrugada.
O ambiente já possuía por natureza um ar de “extravagância solitária” mas ás cinco horas da manhã conseguia aspetos um tanto quanto mórbidos devido á ausência de freqüentadores. O aluno de cabelos sebosos descera as escadas aquela manhã para gastar umas boas duas horas naquele “covil de cobras” já que,apesar de tudo, sentia-se bem ali,daquela maneira. O salão estava tão despovoado,tão silencioso, tão... confortável!!
“Afinal de contas o formigueiro só fica bem sem as formigas” sorriu ele, satisfeito, escolhendo uma das diversas poltronas onde poderia se sentar. Snape era sim anti-sociável, talvez nem tanto por escolha, mas sim por conseqüência.
Foram eles que lhe rejeitaram primeiro. Foram eles que riram primeiro. E agora eram eles que seriam ignorados...O sonserino não se importava mais. Não se importava mais em fazer amigos, pois sabiam que toda a escória que o cercava era farinha do mesmo saco. Para ele nenhuma alma dentro daquela escola valia uma libra esterlina, nem mesmo aquelas de índole parecida com a dele.
Sonserinos,Grifinórios,Corvinais e Lufa-lufas...o emblema no uniforme talvez fosse diferente,mas a mente dentro do bruxo era igual para todos. Severo sabia que o que movia a mentalidade daqueles alunos eram valores muito pequenos. Sabia que bastava um gringo ser geneticamente bem sucedido (leia-se aqui ter uma boa aparência),saber sorrir,montar numa vassoura de modo elegante e manusear uma varinha para que toda a população de estudantes caísse aos seus pés para lamber seus sapatos. Em outras palavras: ser popular, cafajeste e inteligente garantia o ticket para o “topo da cadeia alimentar” no reino dos adolescentes, onde quem podia “podia” e quem não podia...bem,quem não podia tinha suas calças abaixadas em público e sua cueca fincada num estandarte para que pudesse tremeluzir irritantemente igual á uma bandeira.
Snape empalideceu,tomado por uma onda inexplicável de sentimentos. Eram eles raiva,rancor,solidão,tristeza...balançou a cabeça (fazendo com que os cabelos ensebados batessem grotescamente em seu rosto),como que negando a si mesmo. “É tarde demais para se arrepender de ter nascido...o que passou,passou. E não há nada que se possa fazer”.
O jovem aprendiz já ouvira falar com freqüência que a juventude era, indubitavelmente, a melhor fase da vida.Aqueles seus sete anos em Hogwarts haviam lhe provado que nenhum conceito podia ser generalizado daquela forma...
Severo não via a hora de sair dali, de tornar-se independente, ter seu próprio emprego para poder embrenhar-se nos subúrbios de Londres e enterrar seu passado num buraco bem fundo e bem tampado.Não via a hora de livrar-se daquele “mundinho hipócrita” em que vivia, onde os mais fracos eram classificados com base em valores de preconceito em alta escala, de todos os tipos, de todos os gêneros, enquanto os mais fortes lideravam, tomavam o controle de todas as situações com arzinhos prepotentes.
Arrogantes bestiais! Snape queria vê-los mortos, todos eles!
Trespassou pelo seu corpo esguio um tremelique de frio; notou que a lareira estava apagada.Cansado da falta do que fazer,aproveitou para se levantar e ir esperar o dia amanhecer num lugar mais caloroso,de preferência nos jardins (aonde ele poderia ler algum livro debaixo dos raios foscos,mas presentes,do sol) para depois ir ao café da manhã (que só era posto a partir das sete da manhã). Encaminhou-se para a saída de seu salão comunal mantendo seu característico andar aracnídeo, passando e paralisando-se,de repente, na frente de um espelho.
Sob o console da lareira sonserina reluzia o infeliz: a moldura veneziana, cor prata, fazia do espelho uma das formas redondas mais luxuosas que ele já vira. Severo não era vaidoso, mesmo tendo a idade que tinha ou, pelo menos, ele se convencera de que não era.
Fitou-se carrancudo: seu reflexo mostrava um rapaz de feições enrijecidas, duras, quase ásperas.O rosto era ossudo e pálido, enfeitado por um nariz pontudo que mais se parecia com um gancho. Os olhos, talvez,fossem a única coisa que aparentava alegria naquele espetáculo de formas doentias: eram pretos e penetrantes,possuídos por um brilho assassino. O cabelo era composto praticamente por um conjunto de fios negros foscos e ensebados, compridos, que chegavam até os ombros sempre de maneira retilínea. Era algo cansativo de se olhar; algo totalmente sem graça.
Sirius podia não estar lá, mas Snape era capaz de jurar que via a imagem do arrogante grifinório postada ao lado da sua,como que fazendo troça,zombando dela em gargalhadas quentes. O contraste que mostrou-se diante dos olhos magoados de Snape era brutal: Sirius era dono de um corpo masculino feito por formas perfeitamente adequadas á sua idade; formas acolhedoras e fortes. Tinha a pele morena graças ao sol que ele sempre acabava encontrando em seus vôos corriqueiros debaixo do céu do campo de quadribol. Possuía cabelos negros que não necessitavam de muita atenção por terem nascido, simplesmente, perfeitamente penteados e estilizados. A franja travessa caía sobre os olhos acinzentados languidamente, tendo como parceiros o sorriso branco do rapaz, que fazia sempre a torcida feminina derreter-se euforicamente.
Desesperado, o sonserino afastou-se do espelho maligno em passadas largas. Chegou ao Salão Principal com lágrimas invejosas nos olhos, que não piscaram durante quantos minutos foram capazes. A primeira coisa que Snape faria caso encontrasse os marotos aquele dia seria partir para a baixaria como forma de vingança. Queria que Potter pagasse pelos anos de sofrimento e humilhação que impusera á ele.Queria também rir de Sirius algum dia -aquele delinqüente de língua afiada- ou ainda zombar do lobisomem traiçoeiro!E quanto a Pettigrew?Que o gorducho explodisse e que seus restos fossem deglutidos por baratas famintas!
Por obra do destino, Snape teve uma brecha para ao menos um sorrisinho vingativo e satisfeito, duas horas mais tarde,naquela mesma manhã.
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-Oh,vamos lá Tiago...está com medo de perder?-Sirius chacoalhava o copo de suco de abóbora na frente do rosto de um impassível Pontas.
-Perder?!-Pontas ironizou, agora estendendo a mão para recolher a bebida alaranjada.Sirius teve um sorriso de satisfação preenchendo seu rosto naquele momento.- Eu nunca perco pra você em nada nesse mundo inteiro,Almofadado...
-Pontas, essa é a maior besteira que eu já ouvi vinda de você!!-o outro rapaz enchia agora um novo copo de vidro com o suco fresco- Mas isso não vem ao caso agora....pronto?
Remo interferiu a brincadeira depois de engolir seu cereal, falando numa voz que ainda estava no intermédio entre sádica e divertida:
-Eu acho isso incrivelmente nojento!
-Ninguém pediu sua opinião,Aluado!-Tiago agora brindava seu copo com o de Sirius,fazendo-os tilintar.-Sim...estou pronto,Almofadinhas!
-Ok...-Sirius respirou fundo,tomando seu último fôlego antes de partir para o ataque-No três...
-Um...-fez Tiago,ansioso, olhando o líquido laranja que preenchia quase que completamente seu copo. Alguns vizinhos de mesa prenderam a respiração graças ao clímax proporcionado pela contagem lenta, afobada...
-Dois...-Sirius deu continuidade.
-Três!!-fizeram os dois rapazes juntos, virando o copo na boca logo em seguida.
O objetivo era tragar a bebida inteira num gole só, o mais veloz possível, sem engasgamento ou falta de fôlego. Não podiam parar para nada. Deviam se concentrar única e exclusivamente na sua missão, no seu copo,no suco de abóbora e em sua garganta, que devia mostrar-se perfeitamente bem treinada para uma situação de emergência como era aquela.
O líquido grosso começou a escorrer pelo canto da boca de Tiago,que começava a ficar roxo,mostrando que estava enfraquecendo: o que ele pretendia manter como um pigarro tornou-se tosse, depois ataques frenéticos de engasgamento, e quando menos esperava o grifinório já estava afogando-se em seu próprio suco. Cuspiu a bebida, esbaforiu-se, e ofegante desistiu. Remo teve de ser bem criativo para se proteger das cuspidelas arfantes do maroto de óculos. O jovem Black,por outro lado, terminava o desafio com um gostoso “ahhhhhhhhh...”.
-O que dizia meu querido Pontas?-Sirius limpava a boca com um guardanapo agora, posando o copo vazio num ato orgulhoso sobre a mesa,como se exibisse um troféu.
Remo dava batidinhas nas costas de Tiago,ajudando-o a desengasgar e voltar com a respiração normal. Os olhos do rapaz ficaram aguados graças ao esforço.
-Essa brincadeira é tão infantil...-murmurava o monitor, em mais uma das incontáveis tentativas de repreender os amigos e assim convencê-los de uma melhora.
Um ruflar assombroso de asas encheu o ar repentinamente quando centenas de corujas surgiram pelas janelas góticas da cúpula do grande salão, carregando o correio matinal. Umas vinham mais lentas graças ao peso da encomenda,outras mais velozes graças á leveza de seus simples cartões postais ou costumeiros pergaminhos de carta. Dentre a diversidade de aves, Sirius conseguiu distinguir Hades, a coruja negra de sua família. O animal com o nome do Deus grego que reinava sobre as forças infernais e sobre os mortos, dirigiu-se para a mesa comprida e distante de Sonserina. Os olhos amarelos da coruja preta como a noite fincaram-se em Narcisa Black,que recolheu de suas patas afiadas uma carta,meneando a cabeça.
Sirius dispersou seus olhos da prima apenas quando levou no rosto um bofetão cheio de penugens marrom:
-Hei!!De quem é essa coruja desastrada?!
O animal que acertara Sirius acabava de fazer um pouso complicadíssimo,alojando-se entre o prato de Remo e uma cesta de pães fumegantes. Não era desastrada,mas sim muito bem treinada para conseguir encaixar-se ali sem provocar nenhuma catástrofe , dando apenas tabefes no rosto de Sirius com as suas longas asas.
-É a Pã, Almofadinhas!-apresentou o manso lobisomen,desatando o pergaminho das patas cor de rosa de seu animal- Estranho...o que ela está fazendo aqui?
-Bem, supondo que ela é uma coruja o que você esperava?Que ela estivesse enchendo a cara num buteco trouxa lá nos confins de Londres?!-riu Pedro, pela primeira vez desinchando sua boca para falar. O gordinho comia alucinadamente.
-É que meus pais não costumam me mandar muitas cartas a não ser no Natal.-explicou-se ele, abrindo o envelope-Sabe, nós só temos uma coruja...
-Vai ver é um cartão de Halloween adiantado!-animou Tiago, agora já ressuscitado de seu ataque de tosses sufocadas.
Mas Remo tinha a testa franzida por preocupação. Começou a ler a correspondência imediatamente, como se não tivesse considerado muito a suposição do jovem Potter.
Lílian observava Sirius e Tiago, até agora com total repugnância e desprezo, não conseguia acreditar que dois jovens de dezessete anos fossem capazes de serem tão inúteis “Devia ter morrido engasgado!” pensava.
Berta,como sempre,observava Remo Lupin com atenção e sempre também, comia toda atrapalhada e já derrubara duas vezes seu suco de comia pouco, como um passarinho. Beliscava algumas frutas e bebericava seu chá, sem prestar muita atenção no mundo á sua volta.
Katherine assanhava-se toda para Frank Lonbgottom que dava algumas evasivas, mas não deixava de ser gentil. Mundungo Fltecher sorria com cara de drogado, como quem diz “Duas gatas,hein?Ta podendo,Frankie!”,mas outras pessoas não levavam aquilo na brincadeira: Alice,que estava sentada ao lado do namorado,passou os braços pelo seu pescoço,o abraçando e lançando um olhar de “É MEU!” para Kath,ao que Stéphanie revirou os olhos, comentando com a negrinha,sentada ao seu lado:
-Patética.-em sua vozinha costumeira,extremamente feminina.
Elizabeth estava com os olhos perdidos em algum ponto da sala,compenetrada e pensativa já que tinha terminado seu café da manhã e só esperava as amigas para sair dali.
Cynthia estava estressada e chateada, isso dês da noite anterior mas quando as amigas lhe perguntaram o que acontecera ela fingia-se de surda.Era extremamente estranho.
Os marotos já se satisfaziam aquela altura. Sirius foi o primeiro a ensaiar uma saída da mesa, olhando para os lados:
-Vocês vão se embuchar ainda mais?
-Eu não! -adiantou-se o animago que adquira chifres na lua cheia- Tira isso da boca Rabicho,vamos logo!
Tiago puxou a mão gorda do amigo antes que ela empurrasse mais uma rosquinha para dentro da goela de Pedro, que apesar de aparentar fartura, era guloso além da conta.
-Você ainda morre por intoxicação alimentar, ratazana.-advertiu o goleiro de Grifinória, tocando o ombro de Lupin-Vamos?
Mas fazia uns bons cinco minutos que o outro não se movia. Na verdade, dês de que recebera sua correspondência Remo adotara aquele silencio angustiante; estava mais pálido do que de costume, chocado, ainda apertando entre as mãos o pergaminho com a letra caprichada do Sr.Lupin,seu envelhecido pai.
-Algum problema, amigo?-perguntou Sirius ainda segurando seu ombro, adotando agora um tom preocupado.
O outro não produziu nem um som: limitou-se apenas a virar os olhos acaju para Black, mostrando lágrimas que não pretendiam escorrer tão cedo.
-Por Morgana,o que aconteceu?!-o outro agachou para ficar á altura de Remo, que ainda estava sentado. Tiago aproximou-se também num ar amigável, enquanto Pedro, amedrontado, observava o monitor como que temendo o pior.
Remo passou os olhos pelos amigos meio desorientado. Parecia estar perdido dentro de si mesmo, sem forças para se explicar. Agora outros grifinórios começavam a se interessar com a cena, debruçando-se sobre os pratos com semblantes inquisidores, alguns até mesmo dando-se ao luxo de perguntar coisas como “Qual é o babado, Sirius?!” ou “Alguma coisa errada,Tiago?”.
-Não é nada, gente.-mentiu Almofadinhas irritando-se com seus vizinhos de mesa, agora puxando Lupin para longe dali.Tiago vinha do outro lado com o braço em torno dos ombros encolhidos do lobisomem e Pedro logo atrás, aos pulinhos.
A carta causadora daquilo ficou esquecida na mesa de Grifinória.
-Sei que é feio ficar lendo correspondência dos outros...-fez Katherine,dando de ombros para justificar sua próxima ação:esticou-se e conseguiu recolher a carta de Lupin, puxando-a para si. Imediatamente Frank protestou:
-Não acredito que você vai ler!!
-Que feio!!-também repreendeu Fletcher, agora inclinando-se curiosíssimo para perto da carta-Vamos logo, o que está esperando?
-Eu me recuso a fazer isso...o Lupin não parecia muito bem quando saiu daqui,acho que vai ser extremamente anti ético ler a correspondência dele.-Elizabeth se levantou com a cara fechada para a melhor amiga e voltando-se para Cynthia,já que Stéphanie já estava indo até Katherine ler também a carta,falou-Já vou indo,você vem comigo?
A loira de cabelos ondulados olhou para a carta com desejo mas em seguida,pensando melhor, se levantou e também respondeu:
-Sim,vamos.-voltando-se para a monitora ruiva-Acho melhor você fazer alguma coisa Lílian querida...-e saíram as duas,rindo.
Lílian ainda não se dera conta do que estava acontecendo.Seus olhos estiveram presos na porta de saída do salão principal desde a partida dos marotos e ao ouvir o comentário irônico de Cynthia,sua mente voltou a funcionar e ela logo percebeu o que se passava.
A negrinha já pigarreava. Ergueu-se na cadeira para susto geral dos demais grifinórios.
-Gente!!Novo babado!!-anunciou,segurando o pergaminho como se mostrasse um troféu.
A menina extremamente magra perto da ruiva escandalizou o ato:
-Como você é baixa!!
-Eu?!-riu friamente a negra,com olhos verdes brilhantes.Olhava para baixo já que,sob o banco,adquirira uma altura razoável- Uh...estou chorando agora!Realmente,você magoou meus sentimentos caveirinha!-riu ao final da frase.
-Ninguém aqui pediu sua opinião ,ô sua pau-de-vira-tripa!Só queremos saber o que aconteceu,quem sabe podemos ajudar!-caçoou a jovem de cabelos castanhos,Stéphanie,que ainda permanecia sentada.
Todos os grifinórios pareciam impacientes para saber o que diabos aquela carta queria dizer e pela primeira vez não olhavam para Lílian e Courtney com respeito,mas sim com uma pontinha de raiva; todos sabiam no fundo que as duas “santas” grifinórias tinham toda a razão e,mais ainda,estavam muito cientes de que o que estavam prestes a fazer era falta de educação na mais alta escala,mas ninguém podia negar que a curiosidade aflorava com força.
-Veio de Liverpool.- anunciou o centro das atenções de toda a mesa,passando os olhos que se destacavam na pele escura por todas as letras da çou a recitar cada palavra:
“ Remo,
Como você está?Tudo bem? Espero que esteja se tratando...não gosto de vê-lo doente quando chega em casa. Nunca se deixe abalar pelos seus problemas, ou pelo que os outros dizem, pois sei que você é muito bom para todos eles. Mande abraços para Potter, Black, e Pettigrew por mim.
Me desculpe,mas não trago boas notícias. Sua mãe acabou de falecer ontem á noite. Esteve muito doente. Fiz tudo o que esteve ao meu alcance,mas ela estava já em estado grave.Interna-la em St.Mungus seria a melhor opção,mas estamos muito apertados financeiramente e não tivemos condições para nada,a não ser chamar um médico trouxa das redondezas.Ele ficou assustado.Disse que não conhecia aqueles sintomas; sugeriu apenas que ela repousa-se. Ela ficou de cama,pobrezinha, para nunca mais acordar.”
Naquele ponto em diante rabiscos e respingos preenchiam o pergaminho,como se o autor estivesse passando por uma crise existencial. Confusa, Katherine procurou o resto da história,que logo encontrou:as palavras recomeçavam agora escritas mais firmemente,mostrando decisão da parte do remetente:
“Não se desespere filho, por favor. Sei que você já tem problemas demais, e não queria te sobrecarregar. Infelizmente aconteceu.Teremos de ser fortes agora.
Dumbledore já sabe á essas alturas.O bom homem vai falar com você para combinar sua breve saída da escola,mas até lá peço calma. Por favor, não insista em vir tão cedo. Você vai poder se despedir de sua mãe,mas tente levar as coisas com naturalidade.Sei que você consegue,é mais forte do que eu para essas coisas.
E é por isso que tenho orgulho de você”
Tudo era finalizado com a humilde assinatura do senhor Lupin,que parecia ter escrito trêmulo.
Courtney ouvira mesmo á contragosto.Lílian,após o inicio da narrativa se calara e prestara atenção também ...agora seus olhos estavam esbugalhados.
Stéphanie não se agüentara: durante a leitura seus olhos marejaram e agora então a moça soluçava:
-Como somos horríveis!Pobre do Lupin...
Todos que antes estavam excitados,estavam agora sem reação.Chocados.
-A morte é algo tão estranho que as vezes a ficha das pessoas demora a cair.Acho que o Remo vai precisar da força de todos nós agora.-comentou Alice.
-Ele deve estar precisando de mim...oh!Coitadinho do meu !-falou Berta preocupada,ao que todos ignoraram.
Um silêncio constrangedor pairou sobre a mesa.Sorrisos desapareceram graças ao ar pesado.
Àquela altura os quatro já se afastavam pelos corredores do andar,três deles acalentando um quarto sem nem ao menos saberem os motivos para tanto. Um par de olhos frívolos seguiu o grupo silenciosamente, virando-se em seguida para Rodolfo Lestrange:
-O que acha que pode ter acontecido?
-Não sei,mas espero que tenha sido algo muito ruim...vamos averiguar?
-Com prazer.- o loiro ergueu-se jogando a capa para longe como uma calda negra e pesada, recebendo também a companhia de Severo Snape,que se levantava silencioso como um gato:
- O que quer, Severo?!-Malfoy sibilou entre dentes. Snape observou divertido que se a língua do loiro fosse bifurcada não mais o distinguiria de uma cobra ou um lagarto. Respondeu sério:
- E isso lhe diz respeito?!
-Esqueça, Lúcio.-apressou Lestrange-Vamos logo!
Lançando um último olhar congelado para Snape, o sonserino girou nos calcanhares para ir junto de Rodolfo para longe do refeitório. O ensebado de cabelos longos, no entanto, não ficou para trás e, movido por uma curiosidade maligna, seguiu a dupla sorrateiramente.
O trio de estudantes da casa de Syltherin não precisou ir muito longe para encontrar o quarteto maroto; na verdade depararam-se logo de cara com os rapazes de Grifinória, parados ao redor de Remo que estava arrasado, encostado numa das paredes frias do corredor..
Snape iluminou-se com a cena, idealizando em seu cérebro perverso possíveis causas para que o lobisomem se encontrasse daquela maneira. Malfoy, trocando um olhar cínico com o namorado de Bellatrix, foi o primeiro a se aproximar com uma pergunta já coçando sua língua cruel:
-Qual é o problema,Lupin?Seus pais não podem mais comprar roupas recicladas pra você?!
As reações foram diversas: Remo ergueu os olhos molhados e brilhantes para o novo ocupante do corredor com um ar confuso e desnorteado, enquanto que os dois sonserinos restantes riam discretamente. Tiago, que estivera conversando baixinho com Aluado, virou-se para o loiro dominado por uma fúria explosiva, que era facilmente notada graças aos olhos claros comprimidos e aos músculos contraídos.Pedro apenas ergueu a cabeça assustado, enquanto Sirius já partia pro ataque em berros enlouquecidos:
-CORRA SUA BICHA LOIRA! SE VOCÊ PREZA ESSA SUA CARCAÇA PODRE, CORRA COMO NUNCA CORREU ANTES, POIS EU VENHO ESPERANDO UMA OPORTUNIDADE Á SÉCULOS PARA TE ARREBENTAR!VAI SER HORRÍVEL, ESTOU AVISANDO... DOU CINCO SEGUNDOS PRA VOCÊ TENTAR SE SAFAR DESSA!-sacou a varinha agilmente, cortando o ar com a madeira mágica e polida, que concluiu um arco antes de ser apontada na direção do monitor de Sonserina, decidida-Vou começar a contar agora mesmo: UM...DOIS...TRÊS...
Mas foi Rodolfo que no “QUATRO” lançou um feitiço de luz azul berrante nos marotos, mas acabou sendo interceptado por Tiago e seu feitiço defensivo, que repelia ataques como um espelho faria. Sendo assim, Sirius foi protegido pelo escudo mágico de Pontas, que mandou a azaração de volta para Lestrange, tudo numa fração de segundos, tudo feito por movimentos quase imperceptíveis aos olhos.
Rodolfo não teve tempo para fugir de seu próprio feitiço: o flash mágico de luz azul produziu um corte feio em seu abdômen, antes tendo de rasgar seu uniforme como se o arranhasse com unhas invisíveis e monstruosas. As vestes caíram em tiras aos pés do rapaz, que levou as mãos rapidamente ao peito nu e sangrento. Sentia uma dor aguda.
Tiago baixou a varinha, apesar de ainda não sentir-se satisfeito:
-Agora obedeça o Sirius,Malfoy. Obedeça ou eu terei de corta-lo em fatias assim como fiz com as roupas do seu namorado...
Acovardando-se como uma garotinha,Lúcio deu as costas ao grupo tentando esconder o pavor que tanto esbugalhava seus olhos cinzas. Lestrange seguiu-o tentando estancar o próprio sangue mas Severo,fazendo o caminho contrário ao dos hipócritas sonserinos,encaminhou-se para o grupo de grifinórios armados por varinhas ainda sedentas:
-Espero que tenham se divertido.-sua voz seca era dirigida á todos, mas os olhos inexpressivos apontavam para Remo,que ainda permanecia mortificado atrás dos amigos- Porque seu amiguinho lobisomen já está me proporcionando uma onda de alegria que jamais pensei em sentir outra vez!
-Eu vou produzir uma onda de AGONIA se você não calar essa merda de boca agora mesmo,Ranhoso!-Sirius agarrou-o pela gola do uniforme, aproximando seus rostos o suficiente para sentir a respiração compassada do sonserino.Fitaram-se por breves segundos,durante os quais o ar em volta ficou carregado pelos mais diversos sentimentos de inimizade possíveis e alcançáveis. Sirius finalmente o largou num empurrão brusco, deixando as vestes do outro amassadas.
Snape ficou arfante graças ao contato tão próximo que acabara de ter com um de seus piores inimigos em toda a face da Terra. Parecia inspirar ódio e expirar vingança.
-Seu...
Mas não pôde terminar a frase, pois tanto Tiago quanto Sirius tinham varinhas não só apontadas para seu peito como também fincadas nele, tocando ele, como que tentando atravessa-lo antes mesmo dos feitiços.Ambos os morenos tremiam enraivecidos.
-Não quero ser preso por homicídio, Ranhoso!-agora era Tiago o dono das palavras, que batucavam em seus lábios no ritmo de seu coração no peito- Tenho ainda muitas coisas pra fazer nesse mundo,mas acho que você não vai ter essa oportunidade...
-Tente,Potter.-Snape mantinha a calma de um jeito tão perigoso quanto irritante.
Sirius já ia mexer os lábios para proferir um feitiço devastador no sonserino, quando uma vozinha rouca,enfraquecida pela tristeza alucinante, pediu:
-Não...deixem ele ir.
-Mas Remo!-fizeram os outros dois,ainda encarando Snape com ares doentios tamanha era a loucura do ódio.
-PELO AMOR DE MERLIN,DEIXEM ISSO PRA LÁ!!-agora a voz de Lupin já embargava.O mestiço parecia ter explodido, finalmente-Por favor...eu não estou me sentindo muito bem...
Ele já chorava baixinho. Era a primeira vez que os amigos o viam chorar,mesmo depois de sete anos juntos. É claro que Lupin já passara por milhares de sufocos causados pela “maldição da lua cheia” e sim, vivia abatido nesses períodos, tanto externa como internamente. Mas nunca tinha chorado; parecia ser mais forte que os outros marotos em certas ocasiões. Ele era silencioso e discreto até mesmo para derramar lágrimas, o que comoveu Tiago, Sirius e até mesmo Pedro. Os dois primeiros imediatamente guardaram as varinhas e viraram-se para Aluado,envolvendo-o pelos ombros. Pedro puxava-o pela manga do uniforme, pedindo para que continuassem andando em busca de mais privacidade.
Snape permaneceu onde estava. Os quatro rapazes deram as costas para ele,proporcionando-lhe uma chance mais que perfeita para um ataque. Ele chegou a escorregar uma das mãos magras para dentro do bolso do robe negro,sentindo o cabo de sua varinha. Tremeu de satisfação. Fechou o punho em torno do objeto mágico e, lentamente, habilmente,foi puxando-a para o ar livre. Apontou-a no ar. Mirava o grupo inteiro,que se afastava em passos confusos graças á situação.
“Vamos... o que está esperando idiota?!” ecoou uma vozinha na mente aparentemente paralisada de Severo “Acerte-os!Vingue-se!”. Ele continuou ali, o processo de vingança feito apenas pela metade, pois continuava com a varinha em mãos numa posição de ataque. Não proferiu nem um feitiço. Não fez absolutamente nada, como se estivesse sendo impedido por uma força maior que ele...uma força que nunca acreditou existir...
A culpa.
Os marotos cabisbaixos sumiram na virada do corredor.O momento se perdeu.
hr
-Você vai mesmo entrar na aula?-Pedro perguntou baixinho,segurando uma das alças da mochila jogada nas costas largas.
-Não sei...
Os quatro ainda estavam parados na porta da sala de História da Magia, meio num impasse entre entrar ou não. Tiago e Sirius permaneciam ao lado de Aluado, quietos,mas presentes. Remo não mais chorava,mas sua expressão era de condoer qualquer um; parecia mais triste assim do que aos prantos. Sentia-se esquisito, muito mais pesado do que quando estava em período de lua cheia. Do outro lado do corredor,o grupo popular de garotas do sétimo ano vinha emparelhado com o de Lily;.o primeiro absorto em uma conversa,que parecia ser extremamente secreta.Elas se aproximavam da porta aberta da sala de aula,mas ao notarem a presença dos marotos logo na entrada pararam para trocarem algumas palavras de consolo com Lupin.
-Remo...-começou timidamente Cynthia,enquanto as outras observavam apreensivas a cena.
Tiago, Sirius e Pedro olharam para elas agradecidos,pois não tinham mais o que dizer. Cansaram-se do uso típico de “Relaxa Aluado” ou “Estamos aqui” e ainda “A vida é assim”...precisavam de ajuda.
-Oi.-Lupin disse baixinho, bondoso e calmo.
-E-eu sei que você nem me conhece direito e que...que agente não conversa muito mas quero que você saiba que eu sinto muito.Muito mesmo e...bom,qualquer coisa que você quiser agente ta aqui,tudo bem?-falou com a voz branda.As suas três amigas,logo atrás, sorriram para ele como se concordando.Stéphanie tomou a frente dizendo na mesma voz tranqüilizadora:
-Eu não sei se você vai querer isso ainda....- e estendeu a mão com a carta-Você esqueceu na mesa.
Sirius olhou desconfiado:
-Você leram,não foi?
Katherine corou invariavelmente.
-Deixe isso pra lá,Almofadinhas.-Remo tentou dar um sorrisinho- Eu não me importo...a escola inteira já deve saber mesmo, qual é a diferença?- e aceitou a carta estendida pelas meninas.
-Obrigado por “sentirem muito”!-exclamou Pedro,acrecentando-Pensei que vocês só gostassem do Pontas e do Almofadinhas porque eles são galinhas extrovertidos e gostosos!Bem, sabem como é...-ele continuava a falar sem notar os olhos faiscantes dos outros-O Remo sempre foi meio tímido com vocês...e pra falar a verdade ele nem gosta de...
PAF!!!!!!!!!!
Foi interrompido por um tabefe de Sirius, que fez sua cabeça gorda e cheia de cabelos loiro escuros ser lançada para a frente. Pedro massageou-a ofendido:
-O que foi que eu falei de errado,dessa vez?!
-Ai Pedro!!-Tiago olhava para ele impaciente- Nunca,em toda a minha vida, eu vou encontrar alguém mais tapado do que você!
As jovens não pareceram muito felizes com as coisas ditas por Pettigrew:pareciam muito ofendidas na verdade.
-Vamos entrar.-Elizabeth falou seca, lançando um olhar de desapontamento para Remo,assim como fizeram também Stéphanie,Cynthia e Katherine. Afinal de contas o final da frase dita por Rabicho ficara explicitamente clara: “(...) e pra falar a verdade ele nem gosta de vocês.”
-Nossa Rabicho!!!-agora Almofadinhas parecia se segurar muito para não terminar de esbofetear o outro-Parabéns! Você conseguiu arruinar tudo ainda mais pro Aluado; agora elas nem sequer vão sentir piedade por ele, e sim raiva!
-Mas eu nem cheguei a falar que ele não vai com a cara delas...
-Mas ficou óbvio, seu infeliz!-finalizou ainda Almofadinhas, espiando para dentro da sala de aula que era, gradativamente,preenchida por alunos.-Mas e você Aluado?-agora seu tom de voz raivoso tornou-se piedoso-Acha que está em condições pra assistir o Bins?
-Eu acho que é melhor eu ir,Sirius.Tenho que pensar em outra coisa,qualquer coisa, e não ficar isolado em algum lugar me corroendo...-ele concluiu ainda naquela voz apática, cobrindo os olhos por breves instantes como se os secasse.
Tiago e o melhor amigo se entreolharam; eles sempre se impressionavam com a coragem do outro, com o modo como ele levava a vida, mesmo tendo todas as razões do mundo para desistir. O lobisomem era um exemplo para os mimados rapazes em muitos aspectos.Pontas sorriu:
-Se é assim, vamos entrar!- e arrastou-se para além da porta aberta,esparramando-se em sua cadeira. Logo em seguida Lílian chegou também,acompanhada pelo grupo de excluídas que eram suas amigas.Tiago seguiu-a com o olhar, suspirando.
Sirius escolheu uma carteira ao lado de Potter, enquanto, estranhamente, Remo preferiu os fundos da sala. Pedro aproveitou a deixa para ir se esconder também, arranjando um lugarzinho muito disputado, que ficava encostado na parede.Berta,notando que seu amorzinho fora se sentar no fundo da classe,fez o mesmo disparando-lhe um “Oi!” pateticamente feliz.Lílian acenou para que ele viesse se sentar junto dela e de Courtney,ao que o monitor balançou a cabeça negativamente.
Bins surgiu sem aviso, atravessando o quadro negro; esta sua entrada triunfal era sem dúvida o que de mais emocionante acontecia em toda a aula. O fantasma foi logo lembrando:
-Hoje vamos dedicar a aula para o projeto sobre a fundação de Hogwarts. Peço então,por favor, que se juntem em duplas,todos vocês.- a classe toda pareceu desanimada. O que o desligado fantasma ainda não sabia era que,até aquele ponto,todos haviam trabalhado em união, ignorando por completo as divisões em duplas, o que explicava o porquê de todos os alunos terem exatamente as mesmas informações.
Gemendo, cada estudante empurrou suas carteiras para perto do parceiro-tão mal escolhido pelo mestre de corpo transparente: Tiago analisou Alice por alguns instantes,bufando mentalmente enquanto via a garota se aproximar: “Ela é uma gracinha,mas não é a Lílian!Oh sim...e ainda está comprometida com o Frank,que droga!”. O namorado de Alice,por sua vez, não soube onde esconder a cara quando viu Berta Jorkins sentar-se ao seu lado, abobada. Remo viu Lily chegar,agradecido pela sua presença,mesmo sabendo que estavam juntos apenas para trabalhar; Sirius sorriu brilhantemente para Stéphanie,ajudando-a a sentar num ato cavalheiresco mas falso. Katherine fez cara de“Deus dai-me forças”, pois sua infeliz dupla era o palerma rapaz;Pedro Pettigrew.Mundungo foi para perto de Cynthia sem muito o que dizer,enquanto Courtney resmungou algo resignado como um“Eu mereço...” ,arrastando os pesinhos fracos para alojar-se perto de uma de sua piores inimigas.Sentou-se bufando,de braços cruzados e sem dar-lhe uma palavra ou dirigir-lhe o olhar.
-Caveirinha, o que você achou sobre esse tema?-perguntou Elizabeth,os olhos cinzas brilhando de malicia,observando a mocinha ao seu lado criticamente.
-Eu já estou farta desse seu jeito rude, sua defunta!- Courtney finalmente mostrou tomar conhecimento da misteriosa estudante sentada ao seu lado. Observou o aspecto um tanto assombroso da jovem:cabelos negros e lisos, pele clara,olhos de um tom incomum e lábios vermelhos sempre fechados. –Da próxima vez que você me tratar mal, usando esses apelidos idiotas, eu juro que vou enfiar meu dedo ossudo nos seus olhos e fazer eles reaparecem pela sua boca!!
A jovem de pele de porcelana sorriu com desdém,mas este sorrisinho não alcançou seus olhos que permaneceram assassinos.
-Como você pode ser tão infantil Banks?
-Ah ta...e até parece que você odeia pessoas infantis...- e agora, virando o olhar de Elizabeth para o novo parceiro da inimiga, chamou irônica- não é mesmo, Potter?!
-Hein?-Tiago virou-se em sua cadeira-Quem me chamou?Eu juro que ouvi um “Potter” flutuando por aí...
Courtney explicou:
-Estava só comentando com minha amiga morta aqui que ela deve ter uma quedinha especial por caras infantis, bem...daí me lembrei que você é o melhor exemplo que eu posso dar!Não concorda?
-QUÊ?!!
Elizabeth gargalhou alto,jogando seus longos cabelos para trás:
-Não meta o Tiago nisso babyzinho!Se eu gosto ou não de caras infantis o problema é meu e deles...acontece que você devia parar de ter inveja dos outros Court!É feio sabia?-e ainda continuou como se a loirinha tivesse respondido-Eu sei...eu sei...a vida é injusta!Eu tão linda,perfeita e você...oh Court,não se lamente por ser uma caveirinha branca e sem curvas!Ainda existem garotos que apreciam também a beleza interior e você vai ter a sorte de encontrar alguém assim!Estou torcendo por você...
Mil respostas foram passando na língua da loirinha,mas como Elizabeth não abriu brecha para uma jogada defensiva, ela atrapalhou-se sem saber o que retrucar primeiro. Só sabia que agora tinha provas de que sangue circulava em suas veias: ficou vermelha de ódio.Tiago percebeu que a conversa não mais o incluía e,sem querer se intrometer naquele “duelo de titãs”,voltou-se para Alice, que já se encontrava eufórica para entrar em ação e ajudar a amiguinha sem gordura alguma.
-Relaxa Alice, e vamos fazer isso aqui, ta bom?-Pontas pediu, molhando a pena com preguiça. Atrás dele a dupla feminina trocavam palavras ofensivas:
-Eu nunca vou esquecer quando sua amiguinha insuportável...- a loira lançou um rápido olhar para Kath, que escrevia seu trabalho emburrada enquanto Rabicho conversava com Sirius,sentado ao seu lado – chamou a Lily(na frente de meio mundo) de...-ela não tinha coragem de repetir,mas após um suspiro,murmurou -...sangue ruim.
-Queridinha, me desculpe, mas não é realmente o que ela é?Não que eu me importe com isso, mas se minha amiga se importa não vou crucifica-la. Eu só lamento por ela...e por você também.-mas,novamente,não parecia lamentar coisa alguma.
-Uhu!-riu a loira,cínica-Você realmente lamenta muito,não é?!Sabe...eu também “lamento” muito por você ser...-ela agora iria jogar pesado- orfã.
A outra fpareceu ligeiramente constrangida com o comentário.Ligeiramente por fora,pois por dentro seu coração pareceu parar de bater e suas entranhas “derreteram” de amargura.Porém,ela era Elizabeth Adams,a mestra em esconder sentimentos, e não foi diferente desta vez : seu semblante permaneceu intacto.Ao contrario do que Courtney esperava,seus lábios se crisparam em um novo sorrisinho,se possível,mais cínico e desdenhoso do que antes.
-Eu agradeço.Agradeço muito sabia?Mas agora quem vai realmente lamentar mais que nós duas juntas será !Vai perder a mensalidade que recebe da sua família.-e não sem antes dar uma rápida espiadela em Binns,que estava entretido em um discurso explicativo à duas jovens e ao resto da turma de sétimo ano( que nem notavam mais a briga) Elizabeth mirou sua própria varinha para uma janela : murmurando um feitiço fez com que esta se despedaçasse.O vidro se estilhaçou em milhares de pedacinhos finos, espalhando-se por toda classe.O som ecoou estrondoso e agudo, com um longínquo e surpreendente “Craaaaaaaaaasssssshhhhhhhh!!!”.
No segundo seguinte,mirou a varinha para seu próprio braço e reproduziu nele um corte,tudo isso em menos de dois segundos,começando a gritar em seguida:
-Oh!Professor..professor,pelo amor de Deus; socorro!-e levantou-se rapidamente, os olhos marejados,o braço com um filete de sangue estendido-Essa garota deve ter algum problema...oh!Eu estava quieta,pensando no trabalho quando de repente ela ficou irada,sem motivo,e q-quebro aquela ja-janela e me cortou..e..oh estou com tanto medo professor!Ela é uma ameaça para todos nós...faça alguma coisa!
Antes de tudo a sala estivera silenciosa graças aos entretidos alunos, mas toda a calmaria fora quebrada,ou melhor,bruscamente interrompida pelo som rachado da janela recebendo o feitiço.Todos,desprevenidos,saltaram em sua cadeira pavorosamente assustados: Tiago borrou toda uma frase que era ditada por Alice, enquanto seus visinhos compenetrados,Lily e Aluado,ergueram as cabeças para voltarem ao mundo real;Cynthia e Mundungo gritaram juntos,enquanto Stephanie abraçou Sirius,aproveitando o real susto. Pedro,extremamente abalado, sentiu o coração dar um solavanco abrupto,abandonando seu posto para cabecear suas amídalas. Instintivamente o animago tornou-se Rabicho,o pequeno ratinho,que zuniu para debaixo da carteira (tudo em um perigoso mas perfeito momento,em que ninguém prestava atenção nele).
Courtney parecia mais morta e apática do que de costume:tornara-se uma múmia em gestos e palavras,que simplesmente não saiam. Não estava apenas chocada,mas extasiada,boquiaberta,olhando para uma estérica e falsa Elizabeth como quem diz “Você enlouqueceu?!”.
O professor Bins nunca tivera distúrbio durante as aulas.Se possível elas ganhariam um prêmio Nobel de chatice pois nada acontecia,nunca,a não ser um arrastar-se mórbido de tédio e silencio. Confuso, o mestre de História da Magia pigarreou:
-O que foi que a senhorita fez, dona Banks?!
-ABSOLUTAMENTE NADA!-esgoelou-se Courtney,erguendo-se e apontando o dedinho fino mas decidido para Elizabeth-Ela que embirutou de vez e saiu lançando feitiços a torto e á direito!Ela é louca!Tô falando sério!
Sirius riu, olhando pra Tiago, que espreguiçava-se: “Isso vai ser tããããão legal!!”.
-O que?-os olhos claros de Elizabeth esbugalharam-se e voltando-se para o professor-O que o senhor acha?Quem está falando a verdade?Você acha mesmo que eu seria capaz de me cortar e quebrar aquela janela à toa?Do nada?Eu não me machucaria só para recrimina-la...não faz o menor sentido.Só quero que o senhor faça o que é justo.-os olhos dela brilhavam em lágrimas e sua voz era calma,para parecer mais correta e inocente.Em contraposto seus pensamentos eram malignos; “Eu sou ótima como atriz!”.
-Sim,sim...tem toda a razão.-o mestre morto tentou ajustar-se á nova situação- E além de tudo a senhorita danificou um patrimônio da escola!!-ele apontou para os cacos que antes eram uma bela janela medieval- Detenção senhorita!-ele forçou severidade-Pegue suas coisas e já pra fora!
-MAS EU NÃO FIZ NADAAAA!!!-agora ela batia o pé,chorava de raiva, torcia e saltava seus poucos músculos-SEU FANTASMA QUADRÚPEDE!!ESSA MENINA DEVIA ESTAR ERA NA SONSERINA!!NÃO SEI O QUE DIABOS DEU NAQUELE CHAPÉU VELHO PRA FALAR QUE ELA TEM UM “NOBRE CORAÇÃO”!!
-Uhhhhhhhuu!!!Vai nessa caveira!!!-aplaudiu Tiago-Bota moral!!!
Os marotos queriam era atiçar a monótona aula,mas na verdade não estavam de lado nenhum. Achavam brigas femininas,sempre, “pateticamente frescas”:
-PORRADA!
-MATA O FANTASMA!
-CAVEIRA VERSUS FANTASMA!A LUTA MAIS LOUCA DO CEMITÉRIO!
Sirius e Tiago riam agora,escandalosamente. Bins, se tivesse corpo,pele,veias e sangue estaria vermelho de ódio mas,como sempre,permanecia branco pérola. Seu rosto esfumaçado estava severo, como nunca havia estado:
-Saiam...da...sala...agora.- ordenou ele, apontando a porta.-Sigam para o escritório de sua diretora, Minerva McGonagall, e entreguem-na isto!-foi segurar uma caneta,mas atravessou-a- Erm...senhorita Evans,pode escrever isto que eu vou ditar?- todos prenderam risinhos,com a exceção de Pontas e Almofadinhas, que deram gargalhadas despreocupadas. Lílian abriu um pergaminho e molhou sua pena no tinteiro,respondendo educadamente em seguida:
-Sim professor,pode falar.
-“Cara McGonagall, estou lhe enviando esta baderneira graças á sua atitude hoje,durante minha aula: esta garota simplesmente atacou uma coleginha e destruiu uma de minhas janelas,lançando feitiços que não foram percebidos por mim. Peço-lhe que puna esta jovem delinqüente,que,acima de tudo, me insultou descaradamente. O pior,no entanto, foram as atitudes vândalas de Potter e Black, que mostraram não terem o menor respeito com qualquer alma morta ou viva dessa escola. Exijo resposta severa á eles também.
Obrigado,
Binns”.
Courtney se ergueu bufando. Recolheu o bilhete de Lily,lançando-lhe um rápido olhar de “depois te explico” e se dirigiu para a porta.Foi fechar, quando a voz de Binns soou assombrosamente grave:
-Não,não, não feche a porta ainda. Potter e Black vão junto;não quero esses dois fazendo gracinhas.
Tiago e Sirius se levantaram alegremente. Adotaram ares de prisioneiros libertos:
-Muito obrigado,professor!-sorriu o primeiro.
-Faça isso sempre,se possível!!Boa sorte pra vocês!!
Tiago arrumou seu material lançando uma piscadela para Lílian. Ela lhe deu a língua. Remo revirou os olhos. Logo em seguida o garoto e seu amigo canino seguiram a loirinha em um estado de humor bem melhor. Todos os outros ainda puderam ouvir os passos de Courtney,enraivecidos, e sua voz que ia tornando-se longínqua ecoar pelos corredores: “Aquela desgraçada,falsa,mentirosa!!Vou puxar aquele cabelinho até não poder mais quando tiver a chance...ela vai ver só... não se brinca com a boneca-de-pano...”.
Elizabeth sorriu vitoriosa para Katherine,em seguida voltando-se para o professor:
-O senhor me desculpe o transtorno.Eu não pretendia mas é que tive muito medo dela,naquela hora...me desculpe.Vou me sentar,mas alguém tem um lençinho pra me emprestar?
-Aqui,amiga!!-Katherine estendeu,comovida, um de seus lenços perfumados que ela carregava para todos os lugares possíveis. Pedro ia surgindo vagarosamente por debaixo da escrivaninha,mostrando um rosto gorducho ainda nervoso:
-O que foi aquilo?
-Nossa Pettigrew!-a negra notou o outro subitamente-Onde você esteve?Desaparatou?
-N-não...eu tava...tava pegando uma coisa que caiu no chão.-mentiu rapidamente,tentando ignorar o olhar duro de Lupin,que claramente dizia “Seu incompetente!!Se alguém tivesse visto ...ah...idiota!”.
-Obrigada.-Elizabeth por fim recolheu o lenço, enrolando-o no braço e indo se sentar.
Quando todos,mais calmos mas mesmo assim perplexos,voltaram sua atenção às suas respectivas duplas uma sineta alta ecoou pela sala,forte,estridente e muito bem vinda.
Sem esperar um segundo se quer todos os alunos se levantaram em uníssimo atirando seus materiais nas mochilas e saindo apressados pela porta. Deviam encaminhar-se agora para a próxima aula do dia (por sinal a ultima antes do almoço): Herbologia.Ao menos esta seria um pouco menos entediante pois era realizada nos jardins mornos da escola...
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Narcisa Black tinha a cabeça ligeiramente inclinada para a frente,pois sussurrava com a irmã Bellatrix Black algo que parecia ser de suma importância..Em suas frentes,os pratos cheios de comida permaneciam intocados dês do inicio da refeição.
Estavam no horário de almoço e como de costume achavam-se sentadas na comprida mesa de Sonserina.Esta encontrava-se repleta por alunos esfomeados, mas não seria isso que os fariam perder sua pose sempre inabalavelmente séria.
Em todo o salão podia-se ouvir o tilintar dos talheres nos pratos e a balburdia provocada pelo numero absurdamente alto de pessoas conversando.
-É Bella...isso mesmo.Você tem razão,mas...é tão difícil!-insistia a loira.
-Eu sei,eu sei...mas de que outro jeito nós vamos descobrir onde estão esses malditos papéis?-explicou Bellatrix,em uma voz ligeiramente irritada.
-Ok,ok...mas será que ela sabe de alguma coisa?Afinal se ela ou sua madrinha estúpida soubessem de alguma coisa,com certeza,já teriam entregue tudo ao Ministério e também ela não conversaria com agente...por que a única coisa que ela sabe é que foi uma família que pratica artes das trevas,mas nem sonha que possa ser a nossa família.-raciocinou a namorada de Lucio.
-É faz sentido,mas não custa nada tentar.Aliás,o que você prefere:tentar ou ter nossa família atrás das grades caso não agirmos rápido?Somos as únicas que podemos fazer isso...
-Preciso responder?
As duas riram.
-Bem..-a Black de cabelos muito parecidos com o de Elizabeth retomou o fôlego tocando o peito que subia e descia com as mãos finas- Vai ser um sacrifício,mas temos que tentar. Só sei que também vai levar muito tempo até que ela confie em nós e se apegue á nós á ponto de querer revelar algo sobre sua família,principalmente sobre esses papéis!
-Principalmente ela,não é?Tão silenciosa e misteriosa...vai ser difícil mesmo!Ela não parece ser do tipo que se abre muito...sei lá.Sabe,realmente eu não sei o que ela está fazendo na casa do maldito leão...-Narcisa,virou-se finalmente para seu prato,começando a revirar a salada com o garfo sem o menor interesse.A outra prima de Sirius fez um som parecido com o sibilar irritado de uma cobra,antes de responder:
-Sim, ela poderia estar em Sonserina conosco.Bem,então talvez não vá ser tão difícil assim...vai ser até que fácil se relacionar.- e gora,jogando os longos cabelos “Black” para longe da boca, continuou num sussurro ainda mais sibilado,mesmo não tendo uma língua bifurcada- Mas então, como vamos chegar ao ponto de perguntar isso e...oh,Rodolfo,pare!
-Que é,Black?!-ele resmungou,afastando-se relutantemente da futura esposa-Vai me dizer que não quer?
-Agora não!-ela foi dura,como sempre: afastou os beijos dele de seu pescoço com uma graciosidade perversa- Não vê que estou conversando com Narcisa?
-Vejo.
-Então me deixe!!- e o empurrou,cravando as unhas em seu abdômen,que ainda doía graças ao feitiço que recebera de si mesmo durante a manhã,quando tentara arranjar briga com os marotos. Bella continuou falando com a loira platinada- Vamos falar com ela hoje?
-Sim,sim vamos.Temos que chegar falando coisas que a interessem entende?Não é como com as outras garotas que você fala que a roupa está excelente e lhe pergunta como anda a vida amorosa que ela já esta lhe contando tudo.Temos que analisar bem aquela Adams,muito bem sabe?-os olhos claros da única Black que se diferenciava fisicamente do resto da família ergueram-se para observar o teto encantado do Salão Principal, que no momento encontrava-se pensativa,aos cochichos- Temos uma sorte enorme de aqueles aurores idiotas,os papais da nossa “amiguinha”,terem feito toda a pesquisa sobre os Black em segredo!E mais sorte ainda de titio e titia terem descoberto essa pesquisa antes dela ser entregue ao Ministério podendo assim exterminar os dois Adams bem a tempo!
-É, mas daí aquele maldito Smith,o padrinho da Elizabeth,foi se meter na história!Ah, é uma panacão mesmo...mas nunca pensamos que ele fosse descobrir aqueles papeis tão cedo.-as duas irmãs faziam,juntas,um pequeno retrocesso dos fatos-Mas descobriu...e novamente,por sorte,aquele orgulhoso quis tentar nos por atrás das grades primeiro para só depois contar a vitória para a esposa e a afilhada.Mas foi parar no St.Mungus,coitadinho.Que erro,hein?
-Grande erro,eu diria!-completou com desdém a namorada de Lucio-Pois então será mesmo que a Melissa Smith e sua afilhadinha sabem o paradeiro dos papéis?Depois que o Sr.e a Sra. Adams morreram e o Roger foi internado no hospital ninguém mais soube dessa pesquisa...e agora?
-E agora nós vamos descobrir aonde está.Certo,corremos o risco dela não saber nada,mas é um com quem teremos de conviver.- Agora Rodolfo olhava para Bellatrix pelo canto dos olhos,como quem diz “vai logo com isso!”. A sonserina, orgulhosa,voltou-se para ele- O que foi,Lestrange?
-Nada.-fez ele,também frio-Queria saber o que tanto vocês duas cochicham...
-Está interessado em conversas femininas,meu caro?-foi Lúcio Malfoy quem debochou,com desdém- Ora,ora,ora...eu esperava mais de você.
-Fica quieto,Malfoy.
Na mesa de Sonserina todos se tratavam com indiferença. Parecia não existir nada verdadeiro naquele grupo; nem amizade,ou amor,ou camaradagem. Nada,apenas sorrisinhos falsos e gestos cheios de segundas intenções,isso até mesmo entre parentes, “amigos” ou namorados. A casa da cobra seguia,sem perceber,todos os costumes e trejeitos de Salazar Syltherin.
-Olha lá Bella...parece que o nosso alvo está indo embora sozinha...é nossa primeira chance,vamos nessa?- a loira voltou para a conversa com a irmã,atiçada.-Oh não,merda!A merda daquela negra está em seus calcanhares,só pra variar!Esqueça.Mais tarde ou quem sabe outro dia agente começa.Já terminei de comer.
-Você nem começou.-comentou Purfinson Parkinson, um garoto com cara de buldogue.Narcisa lhe lançou um sorrisinho desdenhoso, levantando-se para sair da mesa.
Bellatrix foi atrás da irmã apenas para deixar Rodolfo extremamente irritado. Acompanhou-a para fora no salão Principal, não sem antes passar pela mesa de Grifinória para lançar um arzinho de nojo e superioridade para o primo, que lhe deu sorrisinho falso.
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História da Magia,Herbologia, Defesa contra as artes das trevas e,por fim, Adivinhações ou Aritmancia. O dia foi pesado,como seriam todos os outros para os alunos que já cursavam seu último ano em Hogwarts. O clima estava gelado... outono se mostrava.
Hagrid sofria muito tentando livrar todo o terreno da escola das folhas secas e amareladas que caíam por todas as partes, de todos os lados,a qualquer hora. A floresta proibida descabelava-se. Frutas,frutos e legumes engordavam (um grande exemplo eram as abóboras gigantes que cresciam de maneira impressionante graças ás chuvas quase constantes) enquanto uma neblina cinzenta decidia brincar rente ao chão,escondendo o gramado molhado por sereno .
Ao final da tarde, inexplicavelmente, Sirius e Tiago guiaram os outros dois amigos para...sim, é um fato impressionante,mas foi o que aconteceu:para a biblioteca, a fim de estudar pelo menos durante alguns breves minutos.
Livros grossos como tijolos cobriam todo o espaço que a mesa proporcionava, divindindo-o ainda com esguios tinteiros e penas, esmigalhados ao lado de pergaminhos e empurrando alguns outros materiais de estudo, como por exemplo uma tabela periódica de elementos químicos muito parecida com a usada por trouxas. Os quatro estudantes de dezessete anos nem ao menos conseguiam se enxergar por detrás de tamanho entulho escolar:
- Aluado?-a voz masculina de Sirius soou meio pedinte por detrás de uma das torres de livros.
-Não.-a resposta veio seca.
-Ah,só dessa vez...por favor!
-Não.
-Juro que faço todo o resto da lição sozinho,só quero saber uma coisinha...
-Não.
-Por favooor!!-agora ele abriu uma brecha por entre os materiais que o afogavam, tentando encontrar Remo sentado no outro extremo da mesa,ao lado de Pedro.
-Ah,ta legal!- Lupin finalmente suspirou,derrotado. Tiago deu uma risadinha infame por cima de seu pergaminho,como que dizendo “Eu sabia!”- O que você quer?
Sirius levantou-se satisfeito, carregando com sigo seu trabalho feito de qualquer jeito. Remo aceitou o pergaminho que lhe foi entregue na mão, ainda tendo que aturar o pedido:
-Queria que você terminasse essa conta aí pra mim. Tô com uma preguiça do cão!
-Mas Sirius, você faz isso aqui de olhos fechados!-exclamou o outro, tentando decifrar os números borrados, garranchados e rabiscados do amigo- Apropósito; isso aqui é um oito ou um zero?
Almofadinhas deu uma espiada no bagaço escrito por ele mesmo, franzindo as sobrancelhas e apertando os olhos brilhantes:
-É um seis.
-Por Merlin!
Pontas espreguiçou-se entrecortando gemidos. Pedrinho resmungou, a voz abafada pelo número absurdo de livros á sua frente:
-Ah, se o Aluado faz a lição do Sirius tem que fazer a minha também!
-Ele não está fazendo a minha...ele está me ajudando.-retalhou Almofadinhas, sentando-se todo espaçoso em seu acento de origem- E você Bambi, como vai indo?
-É um inferno fazer isso aqui!-grunhiu a voz de Tiago escondida por detrás de fileiras de papéis- É tão inútil,tão ridiculamente simples que chega a ser um insulto á minha inteligência!
-Então não faz, oh mestre dos neurônios!-ironizou Aluado, sem despregar os olhos das contas de Sirius e de seu próprio trabalho.
-Tenho que fazer.- Tiago respondeu numa voz de além túmulo-Essa porqueira aqui vale muita nota e eu não estou a fim de estudar pra prova...
-E você também não pode esquecer que a sua dupla é...- e um largo sorriso encheu o rosto de Sirius, que graças á baderna alta como arranha-céus sobre a mesa, não pôde ser fitado por Tiago- pfff...é a “carinha de bolacha”!
Tiago ganiu ao ouvir o deprimente fato que tentava esquecer á cada minuto que se debruçava sobre aquele trabalho:
-Queria ver se a Alice fosse sua dupla, seu animal insensível...
-Oh Ponteco, sempre que precisar de alguém que te faça lembrar os tristes fatos da sua realidade contemporânea que você tanto luta pra esquecer...disponha!
-Puxa Almofadinhas...estou emocionado.
Pedro, tentando entrar na conversa também e se livrar de seus estudos, exclamou:
-Aposto que o Tiago rasparia a cabeça em troca da dupla de trabalho do Aluado!
Tiago ergueu uma sobrancelha por detrás dos cabelos que lhe teimavam em cair nos olhos de forma desastrosa.Permaneceu em silêncio, como que conformado com a suposição de Rabicho.
Sirius parecia refletir sobre o novo assunto levantado:
-Que horror!Só de imaginar a Evans e o Lupin trabalhando juntos eu sinto tontura...-e para justificar aos amigos, que tinham agora semblantes espantados, ele concluiu- Dá até pra imaginar as frases tão perfeitamente escritas, as palavras tão minuciosamente escolhidas, o pergaminho tão cuidadosamente dobrado...chega a ser nojento!
-Nós sobrevivemos á dois anos de Hogwarts aturando esses dois como monitores.- observou Pedro, agora fechando o livro de Herbologia,completamente farto- Agora vamos ter de aturar os dois mais unidos ainda,estudando tão impecavelmente!
Tiago se mexeu irritado em seu lugar de estudos,enquanto Remo tentava não fazer comentário algum sobre a incrível ruivinha de olhos absurdamente verdes, com medo de falar algo exaltado demais.Apesar de tentar disfarçar, Aluado não conseguira conter sua face de corar levemente e seus olhos acastanhados de serem trespassados por um brilho anormal.
Sirius, tentando quebrar o crescente silêncio, propôs numa voz cética:
-Vocês estão realmente dispostos a continuar com essa tortura?Já estamos nessa biblioteca á uma hora!
-Que exagero, Sirius!-repreendeu Remo-Não faz nem meia hora que terminamos de encontrar e empilhar todos esses malditos livros aí na mesa, e faz menos tempo ainda que você sentou a bunda nessa cadeira!
-Mas já estou cansado, chatice!
-É Aluado...eu também.- fez Tiago, já decidido em abandonar o lugar tão sem graça que era a biblioteca do castelo-Podemos fazer essas coisas uma outra hora.
-Sei, sei...
-Bem, seja como for eu também tô vazando!-Pedro deu um salto feliz para longe da mesa,cadeira,mochila e materiais- Você pode terminar isso aí pra mim, “Remmy”?
-Ah não, “Remmy” é triste...- brincou o monitor, agora puxando o pergaminho de Pedro para perto de si- Pode deixar, mas ao menos leve o resto de suas coisas,eu não vou punir minha coluna vertebral pelo seu desleixo!Isso vale pra vocês dois também!-ele apressou-se em dizer, notando que os dois marotos de cabelos negros já davam ás costas para a mesa.
E assim, livres, leves e soltos por dentro mas carregados e pesados por fora (graças ás mochilas nas costas que pesavam orgulhosos 8kg cada uma) Sirius,Tiago e Pedro saíram trotando para longe dos olhos flamejantes e desconfiados da bibliotecária:madame Pince. Não deram nem alguns minutos de silêncio para iniciarem uma nova conversa:
-Chifrudo...
-Fala!
Sirius exitou por um breve momento antes de continuar:
-Você está gostando da...quero dizer...você quer mesmo continuar com a ... você está levando muito a sério a ...
-Cruzes!-Pedro interferiu as mal proferidas palavras de Sirius-Você ta falando em código Morsa,Almofadinhas?
-É código “Morse”, seu tapado!E não, não estou!
Tiago deu uma risada travessa:
-Você está se referindo á Elizabeth, não está sardento?
-É, ao menos estou tentando.- admitiu Sirius.
-E o que você quer saber?-incitou Tiago,dobrando o corredor com os amigos sem nem ao menos prestar muita atenção no caminho, já que seus pés o haviam decorado sem necessitarem dos olhos como confirmação.
-Queria saber até quando esse seu relacionamento com ela vai durar. –o outro foi direto. Tiago olhou para ele num meio sorriso:
-E porque esse interesse,hein?
Sirius estancou no meio do caminho:detestava aquela expressão de “eu sei o que está se passando na sua cabeça, Almofadinhas!” que Tiago ás vezes lhe lançava, por isso, apressou-se na defensiva:
-Se você está tendo a audácia de dizer que eu estou interessado naquela cópia grifinória da Bellatrix...
-Ué!-Tiago também brecara, segurando os livros com dificuldade-Eu não disse nada...
-Você não precisa abrir a boca pra falar alguma coisa, Tiago!Essa sua cara idiota já diz tudo!-Sirius não parecia bravo,apenas levemente ofendido- E eu sei o que você disse...
-O que eu disse, então?-perguntou Tiago.
-Você sabe o que você disse mesmo sem dizer!
-Almofadinhas,como é que eu vou saber o que você está falando que eu disse sendo que eu não disse nada?-agora o admirador nada secreto de Lílian Evans falava meio risonho.
-Eu não tô entendendo patavinas!-exclamou Pedro,agora apertando a cabeça,que parecia doer com tanta loucura vinda dos outros dois- E é bom um de vocês falar logo alguma coisa concreta antes que eu tenha um troço!
-Tá legal.-Sirius inspirou, jogou para trás os fios elegantes que lhe caiam nos olhos e concluiu mais decentemente suas dúvidas peculiares- Eu estava querendo saber do Tiago quando é que esse “namorico” nada discreto com a Adams vai acabar, NÃO porque eu tenha interesses- ele afirmou turvando os olhos para Pontas,que tentava manter-se sério- mas sim porque a Evans não parece estar gostando muito disso, e como bom Almofadinhas eu devo dizer que o Tiago está começando a perder as poucas chances que tinha para conquista-la.
Tiago dividiu-se entre susto e satisfação:
-A Evans está...está...incomodada?
-E muito!-confirmou Sirius, recebendo aos fundos um acenos confirmadores da cabeça gorda de Pettigrew- Mas não se iluda Ponteco; talvez ela esteja assim por ser a Elizabeth a sua nova companhia!
-Ah,é...elas se odeiam tanto quanto eu e o Sebão. – Tiago baixou a bola, já num tom menos animado- Mas de qualquer forma, isto está afastando ela ainda mais de mim!Preciso tomar uma atitude! E já!
-Era pra ontem!-exagerou Sirius, satisfeito com a reação positiva do amigo de óculos.
-Então, quer dizer que você vai acabar tudo com a Adams?!- chocou-se Pedro, ainda sem encontrar bons motivos para aquilo- Mas pensei que você estava gostando tanto!Bem, pelo menos era o que parecia...-e teve seus bochechões corados levemente ao lembrar-se da cena quase que pornográfica providenciada pelo casal no salão de Grifinória.
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O salão comunal estava lotado,como sempre.Era óbvio que todos os dias ele tinha o mesmo número de habitantes,mas devido a maior bagunça e agitação ele parecia mais cheio uns dias do que outros.
Podia-se ouvir,com clareza,o vento uivando como lobos lá fora.Lobos.E isso era mais uma má lembrança para Lupin, que se achava sentado em um sofá particularmente isolado do centro da confusão de alunos,com um livro em seus joelhos e os olhos caídos.
Cynthia,que estava com as amigas falando alto,rindo e conversando com todos,ao notar o rapaz de cabelos castanhos totalmente isolado e parecendo extremamente destruído(por fora e por dentro) sentiu pena.Muita pena.Uma vontade louca de chegar lá e consola-lo amigavelmente a invadiu, mas logo em seguida ela se freou lembrando-se das coisas ditas por Rabicho,na manhã daquele mesmo dia. “Mas afinal,se eu não for lá agora eu talvez nunca mude essa idéia errada que ele tem de mim.E ele não parece ser tão chato assim ... também não seria nada ruim ter um amiguinho monitor.”
Após uma breve reflexão a jovem de cabelos loiro-acobreados levantou-se murmurando um “Já volto” para a galera.
Foi se aproximando apreensiva, sem saber ao certo que assunto puxar com ele.Quando já estava perto o suficiente,parou com as mãos na cintura, pigarreando alto para mostrar que estava ali.
O livro sobre os joelhos do maroto não estava sendo lido,mas servindo apenas de disfarce,por assim dizer.A mente do bondoso lobisomem também não estava ali: ele pensava na mãe...lembrava-se muito bem dela;sempre tão bondosa,calma,prestativa. Segurou a testa com as mãos quando pensou no dia em que fora mordido,pois lembrava-se com perfeição da reação da mulher:ao em vez de chorar e acabar assustando-o ainda mais ela apenas lhe dissera num tom carinhoso: “Vamos dar um jeitinho nisso”. E talvez tivesse sido esse “jeitinho” a causa que o fazia sorrir todos os dias,aceitar os fatos,fazer amigos, ir para o Salgueiro para sempre se lembrar que estaria normal outra vez,no dia seguinte. A senhora Lupin lhe dava forças para viver o mais normal possível...mas,agora...
-Sim?O que é?-ele ergueu os olhos do intocado livro.
-Erm..ahn...bem..sabe,só vim ver se você está melhor...está melhor Lupin?-sorriu a moça um tanto confusa com o que dizer.
-Estou.-ele também sorriu.
-Ah sim,que bom.-Cynthia estava se sentindo mais idiota a cada palavra. Em sua cabeça a frase “O que estou fazendo aqui?’ era a única presente,mas continuou com a embolação de palavras -Fico feliz.Então por que não junta-se a nós,hein?
-Ah...eu...não gosto muito.- respondeu Remo,sempre falando baixinho.
-Ah ta.A sua única amiga é a Evans, né?É estranho sabe Lupin...eu aqui do nada puxando conversa com você sem nem saber por que e você tão distante assim!É,eu sei que você não ta afim de conversar,principalmente comigo que como o Pedro disse...bem,se você quiser ficar sozinho é só falar.- “Cynthia, cara amiga, se mata meu!”, pensava ela depois de ouvir as próprias palavras desengonçadas.
Ele não soube o que responder primeiro (pois a garota colocara á vista diversos assuntos distintos), por isso acabou falando apenas sobre o último comentário dela:
-Ah, olha...o Pedro não sabe muito o que diz...ele é o Pedro,afinal de contas.-ele disse,tentando não magoar a garota. Nem sabia porque não gostava muito delas,na verdade...talvez fossem aqueles chiliques eufóricos que elas davam,ou a maneira com que andavam,falavam,agiam, gritavam!Tudo,na verdade! Mas foi carinhoso- Eu não sei porque tenho poucos amigos. Mas não me importo muito...seria legal conhecer mais gente,mas parece que ninguém quer me conhecer.-ele deu de ombros, sem se importar-Bem, mas mesmo assim, obrigado por vir até aqui.
-Antes de dizer que o mundo deu as costas pra você, olhe bem por que talvez você tenha dado as costas para ele.-declarou a outra sabiamente-Eu quero sim te conhecer,se não eu não estaria aqui!E não vejo jeito melhor de fortalecer nossos laços se não te perguntando uma coisa,uma duvida minha...posso?
-Claro.-respondeu Remo,fechando seu livro-Porque você não senta?
-Eu?Ah,sim claro.-a jovem sentou-se próxima dele,cruzando as pernas de modo delicado,pegando uma almofada e colocando no colo-Bom,como é que uma pessoa faz para se livrar daqueles dementadores hein?Aquela sensação horrível que eles produzem na gente sabe?Aquele questionário que a professora Halle nos passou,eu fui tentar fazer,pra adiantar,mas desisti na primeira pergunta.Eu,pra ser sincera,não entendi nada da aula.
-Ah,é fácil.- disse ele, agora mais feliz por poder pensar em outra coisa- Primeiro; para se livrar mesmo de um dementador só usando o feitiço Expecto Patronum. –ele esperou um pouco para ver se ela entendera, para depois poder continuar- Daí, se o bruxo ainda está se sentindo...erm...triste, por assim dizer,pode se fortalecer com uma barra de chocolate. Legal,né?
-É.-a loirinha parecia um tanto adimirada-É tão engraçado como os professores demoram aulas e mais aulas tentando nos fazer entender coisas simples que se tornam complexas e,por isso, nós acabamos sem entender nada.E quando,depois,vamos pedir a ajuda de um amigo,se é que você me deixa te chamar assim,ele nos explica de uma maneira tão fácil!Você me fez entender,obrigada.
-De nada.
-Você devia parar de falar sabia?Não agüento mais ouvir sua voz por hoje...-brincou ela.
Ele riu timidamente.
-Você é muito extrovertido também Re...Lupin!Está me assustando...-continuou ela. Ele ficou observando-a achando graça, para logo depois dizer:
- Qual é o seu nome,mesmo?
-Nossa,me desculpe mas acho que ouvi alguém me chamando,você ouviu?-continuou a moça sorrindo-Essas pessoas gostam mesmo do meu nome,mas já estou cansando de falar para não ficarem dizendo ele em vão...não adianta muito.Cynthia é um nome mesmo de dar inveja, não?Como é mesmo o seu nome senhor Aluado?
Ele achou graça de novo, rindo discretamente.
-Nossa, como é que eu nunca conversei com você?
-Acho que eu que ia fazer essa pergunta.Putz, você tinha que me roubar ela...e agora?Quem responde?-Cynthia foi se soltando aos poucos,afinal seu único objetivo ali era deixar o maroto menos sentindo pena,e novamente a cada palavra dita sentiu sua simpatia por Remo crescer um pouco.Passou os dedos entre os fios soltos de cabelo,jogando-os para trás.
-Como sou cavalheiro vou deixar você responder primeiro.-ele disse,bondosamente. A garota parecia ser inteligente...tão diferente do que aparentava quando estava no seu “ambiente natural”,rodeada de amigas, falando mal dos outros ou rindo de modo galináceo.
-Oh que gracinha.Bom,não é obvio?Você nunca me deu uma chance de falar com você...sempre tão distante,ou sempre acompanhado ou sempre com a Evans então...só deu agora,né?-explicou ela-Mas você deve estar me achando mó idiota não é?Pode falar,eu não ligo...
-Não.-Remo admitiu- Não estou não. Na verdade estou gostando de conversar com você...Cynthia,né?
-Não,Berta Jorkins muito prazer Remmyzinho!-novamente falou divertida “Acho que não estou me saindo tão mal assim...”.
A verdadeira Jorkins achava-se do outro lado do salão,comendo,e observando a cena com tristeza,inveja e desagrado.Lílian ao seu lado,tinha o olhar preso na cena desviando-o apenas para observar amorosamente o seu odiado Potter.Ela também não gostava nadinha da cena que se passava ao canto do ,pobrezinha,pensava que estava sendo ouvida pelas duas amigas enquanto escorraçava Elizabeth em palavras,sempre gesticulando muito e berrando além da conta.Alice não estava presente.
-Oh não,por favor!-ele riu- Não fala assim...sério,estou começando a me arrepender de ter sido legal com aquela...hum...garota.
-Pobre garota,Remmyzinho!Não sabia que você era malvado assim...pobre da poço de banhas!-e se lembrando que aquele não era nem Potter,nem Black nem Diggori parou de falar. O rapaz corou com o apelido vindo dela...afinal,tinha que admitir; ela era linda.
-Olha que lindo Lupin...-ela virou-se para observar a janelinha atrás de si,ficando de joelhos no sofá apoiando os braços no encosto e a cabeça nestes,empinando a saia para trás.-Não tem lua hoje,nem estrelas...mas adoro esses terrenos da escola.E sei que por detrás dessas nuvens está ela...a dama da noite.
De repente o olharzinho triste voltou para o rosto do monitor, desta vez duplicado. Ele baixou os olhos, a voz, os ombros. Murmurou num tom arrasado:
-É...a lua é...li-linda.
Notando a mudança repentina dele,a jovem voltou-se para olha-lo.Os olhos castanhos de Remo brilhavam intensamente, já meio molhados.
-Oh meu Deus!O que eu fiz ou falei?Me desculpe Rem..Lupin.E-eu não quis te deixar triste...-e se sentou mais próximo ainda dele,inclinando-se para poder encara-lo.
-Ah, eu que peço desculpas. Você não fez nada.- Ele não podia piscar de maneira alguma!Seria patético!- Olha, estou ficando com sono...-não podia mais esconder; o brilho se tornou lágrima- Boa noite.- e pareceu querer levantar depressa.
-Se é assim,boa noite Lupin!-falou carinhosa,levantando-se para poder dar a ele a liberdade de levantar sem parecer grosso demais-Durma bem e lembre-se que amanha é um novo dia...você vai ficar bem!Mas não vai nem dar um beijinho de boa noite na Bertinha Jorkins aqui?-seus dentes brancos apareciam por completo.
Remo deu-lhe um beijo na bochecha, de início com pressa, mas terminando suavemente. Já descia uma lágrima chatinha mas silenciosa dos olhos dele...isso nunca acontecia. Não podia mais pensar na mãe,ou na lua...murmurou novamente um boa noite para ela,extremamente agradecido.
Ela se afastou em passos lentos e femininos,voltando para a multidão,ainda muito ativa.
-Ahá!!!-Sirius foi o primeiro a comentar, erguendo as sobrancelhas negras num arzinho safado- Eu sabia!!!Sabia que o Remo não era tão santinho quanto parecia!!E aí Cynthia?? Ele beija melhor que o Siri aqui?Claro que não,né...impossível. Mas mesmo assim, quero saber:como foi? Ele é do tipo que usa a língua antes ou depois?!
-Sirius,cala a boca!-falou Stephanie rindo,batendo nas costas dele de leve.
-Por que quer saber Black?Está interessado no Lupin também?-Cynthia exclamou cinicamente.
Tiago explodiu em risos. Sirius bufou:
-Cê ta doida??Estou perguntando só pra saber se ele é mesmo homem...não arranja uma namorada á meses e,é claro, como esta é a área em que me saio melhor,devo dizer que dependendo do nível da catástrofe de hoje eu poderia dar umas forcinhas pro Aluado...umas dicas, coisas assim.
-Nossa Sirius, pegou pesado agora!!-Tiago repreendeu- Logo hoje que o Remo está tão...bem, ele agora é órfão de mãe,dá um tempo!!- Pontas lançou para Almofadinhas aquele olhar de “Você foi longe demais”, do mesmo modo que fizera alguns anos antes, num incidente em que estavam envolvidos Severo Snape,uma noite de lua cheia e o Salgueiro lutador.
Sirius empalideceu:
-Nossa, é se ele já não tivesse problemas suficientes...-e procurou com olhos pesarosos pelo amigo-Onde ele está?
-Foi dormir,estava com sono,ele disse.Mas percebi que estava péssimo,acho que você devia ser mais amigo Black,ele está precisando bastante.Acho que ele não gostou quando eu olhei pela janela,não sei por que...- contou a jovem de olhos azuis e extremamente claros.Procurou com os olhos um lugar para se sentar e se alojou entre Mundungo e Ligia já que ali estavam quase todos os grifinórios de sétimo ano.
Mas os marotos sabiam o porquê daquela reação. Pobre Aluado...se as garotas soubessem o tamanho do sofrimento que era ser o que ele era...os três rapazes conviviam com aquele triste fato á seis anos (já que fizeram a descoberta apenas no segundo ano de Hogwarts) e,mesmo agora,ainda não conseguiam se colocar no lugar do outro.Só sabiam que os gritos,os uivos, os ataques...todos mostravam,sempre, que o processo de transformação deveria ser muito doloroso, quase algo inimaginável. E a vergonha de aceitar ser o que era...O preconceito dos outros...ah!Se elas soubessem tudo o que eles sabiam!
-Acho que vou lá falar com ele.-disse Pedro, se erguendo-Vocês não me apareçam tarde da noite,hein?! E se inventarem de tomar banho ás duas da manhã...
-Pode ir,Rabicho. Não prometo nada,mas pode ir. Ah...fala pro Remo que a gente já vai, e VÊ SE NÃO FALA NENHUMA MERDA!!!-Sirius sempre gritava com Pedro:não tinha paciência. O gordinho assentiu meio temeroso,se afastando do imenso grupo em passinhos rápidos.
Quando Pettigrew finalmente desapareceu pelas escadas que levavam ao dormitório masculino,Elizabeth adiantou-se até o moreno de óculos.Se aproximou bastante dele á ponto de poder sussurrar em seu ouvido “Posso falar com você,Ti?”.
-Já volto, pessoas. –anunciou Pontas, pegando a mão de porcelana da mocinha ,levando-a com cuidado enquanto driblava sua saída do grupo e tomando o cuidado para não pisar em pernas ou pés esticados.
-Usem camisinha dessa vez!!-exclamou Sirius, estranho,ao que Mundungo completou:
- E vê se vão pra um quarto,pelo menos!
-Com as janelas fechadas e a porta também!-terminou Frankie.
Elizabeth apenas riu.Os dois se aproximaram de uma janela solitária.
“Vamos tentar aproveitar o ultimo momentinho de Potter!” pensou ela quando finalmente parou de frente para o animago.Passou os dois braços pelo pescoço de Tiago,juntando seu corpo ao dele o encarando bem de perto.Ele lhe beijou, brevemente,mas também intensamente:
-Tenho que te falar uma coisa,Eliza.-disse,ainda colado á elaPor Merlim!Como seria duro para ele desperdiçar aquela coisinha tão perfeitamente esculpida pela natureza...mas qual era a graça de beija-la sem sentir seu coração palpitar?!Ele pensou em É que...
-Hey Ti...sem cerimônias ok?Eu sei o que você quer me dizer pois é justamente o que eu quero lhe dizer também...não tem pra que ficar enrolando, meu!-a jovem falou descontraída mas também não afrouxando nem um milímetro seu braço. Ele a beijou novamente:
-É que eu não queria perder uma amizade tão bacana...você é linda, legal, inteligente. Mas sabe que foi só uma...erm...brincadeirinha. Não fique chateada,mas foi.-ele sabia que ela não iria esboçar sentimento algum, por isso não ficaria surpreso se a amiga lhe respondesse, misteriosamente, um “Magina Potter!Eu?!”.
E ele não errou muito:
-Imagine Ti.Eu não sou infantil a esse ponto...fique tranqüilo, também não quero te perder!Você é um fofo...-passou os dedos pelo rosto dele-Afinal,Tudo que é bom dura pouco ,certo? Errado.Tudo que é bom dura tempo o bastante pra se tornar inesquecível.E é isso ai entendeu?-não conseguia sentir nada.Tristeza,alegria,amor...só se sentia normal.
A resposta de Tiago foi ataca-la novamente, ainda colando os corpos, eufórico, tentando aproveitar seus últimos momentos de Elizabeth Adams. Como foi retribuído, terminou apenas minutos depois, e foi com os lábios vermelhos e os cabelos ainda MAIS bagunçados que disse:
-É,foi muito bom pra mim também. –e deu uma olhada rápida para o grupo de amigos,que continuava a conversar animadamente,sem dar atenção para eles.
-Ai,ai...mas que esses seus beijos vão me matar de saudade...ah isso vão!-era incrível,mas esta era uma das únicas vezes em sua vida que Elizabeth não era misteriosa e “fechada” com um garoto.Estava falando o que realmente pensava e queria.-E esses músculos,hein?-ela se divertia passando a mãos pelos braços do apanhador.
Ele estufou o peito, sorriu orgulhoso,mas não disse nada. Voltou apenas á mordiscar os lábios vermelhos dela, tentando atiçá-la novamente. Disse apenas um tempo depois:
-É...também vou sentir saudades disso.- ela ainda se apoiava em seus braços- Oh sim, e quanto á eles...agradeça á natureza,que me fez assim, e ao quadribol,é claro!
-Prefiro agradecer ao quadribol,seu Narciso!Como pode você ser tão...você pode ser vai!?Mas só dessa vez hein Ti?-deu uma risada gostosa e em seguida passou também os olhos pelos amigos.Notou que Stephanie os observava e parecia comentar algo com Katherine.E ela sabia muito bem que era algo do tipo: “Ela terminou com ele de um jeito super normal,né?”.
Voltando-se para o rapaz à sua frente ela pegou as duas mãos dele e colocou em sua cinturinha, dizendo:
-E você tem que agradecer a quem?Bom,você só poderia agradecer à meus pais mas...-ela baixou os olhos e sua voz morreu.Seus cabelos lhe caíram sobre o rosto.
-Não fique assim,gata.-Tiago rearrumou os fios deslizantes dela,colocando-os atrás das orelhas.Levantou a cabeça de Elizabeth segurando o queixo feminino. Ficaram se encarando- Eu agradeço não muito por isso, mas sim por ter te conhecido. Você é uma grande amiga,então pare. Posso chorar também,sabia?Haha, já percebeu que hoje ta todo mundo melancólico?- lhe deu um selinho,como que tentando apagar as últimas palavras ditas por ela.
E conseguiu.Ela tentou esquecer daquilo e preocupar-se apenas em se despedir de Potter.
-Pode chorar também?Você só vai chorar agora quando eu for embora...por que vai querer que eu fique mais...vamos lá Tiago Potter despeça-se de mim.-ela sorriu.
Tiago encaixou suas bocas pela última vez. Moveu os maxilares,brincou com as línguas, foi e voltou diversas vezes em movimentos já decorados. Seus braços a enlaçavam pela cintura bem delineada mas, á medida que o beijo cheio de gemidos e suspiros foi crescendo, ambas as mãos do rapaz foram deslizando.Minutos depois ele já segurava a saia da jovem Adams.Ela por sua vez fincava as unhas no abdômen do rapaz e passava-as por toda sua extensão em movimentos ousados.Subia as mãos para os cabelos de Tiago que ela fazia questão de sempre bagunçar mas.Quando sua boca não estava sendo “usada” por ele,Eliza dava beijinhos e mordidelas em seu pescoço para em seguida voltar para a “atração principal”.
Muitos dos amigos do casal que sabiam do motivo para a conversa particular dos dois,achavam-se agora perdidos. Katherine inclinou-se para Stephanie com um semblante confuso:
-Se isso é o que a Liza chama de “separação” eu não quero nem ver o que ela considera uma “reconciliação”.
-Pois é...-a moça de cabelos e olhos castanhos olhava a outra com um quê de inveja .
Sirius parecia pensar a mesma coisa “Esse Tiago...é um veado mesmo, não tem palavra!”. Mundungo,próximo de Almofadinhas, era um dos únicos que observava o casal de cabelos negros com naturalidade.
-Siri...-chamou uma voz no ouvido do atento rapaz.
-Nossa!-ele se arrepiou todo-Quem é?-e virou-se,encarando-a – Oh sim...oi Lívia.
-Ligia.
-Ah é.
Os dois começaram a conversar; ela com vontade, ele com gula. Ela sentada no colo dele,que esperava o momento exato para terminar com o primeiro estágio da aproximação e partir para o segundo. Tiago não demorou muito para voltar,ainda de mãos dadas com Eliza:
-O que ficaram fazendo?Falando sobre mim?
-Não perderíamos o nosso tempo Pottinho.-brincou Cynthia.
Elizabeth indicou um lugar para Tiago sentar,sentando-se em seguida em seu colo.
O grupo extremamente popular de Grifinórios continuou suas conversas divertidas,suas risadas particularmente altas e suas piadas extremamente maldosas em relação as outras pessoas.Ali estavam presentes Silvester e Stéphanie Patil,Katherine e Kevin Brown,Cynthia McClair,Mundungo Flether,Ligia Coox,Tiago Potter,Elizabeth Adams,Sirius Black,Frankie Longbotton e ,incrivelmente,assustadoramente... Alice Skamachi.
Na realidade ,a ultima estivera ali o tempo todo por conta de seu namorado que insistira muito para que ela ficasse. Como para encoraja-la, ele achava-se sentadinho do seu lado,entrelaçando seus dedos.Se não fosse por isso,com certeza,ela não estaria ali.Afinal das contas ninguém dirigia a palavra diretamente a ela,falavam sobre as outras pessoas (inclusive sobre suas amigas,com exceção de Lily),falavam de coisas que ao seu ver eram completamente sem graça e faziam coisas extremamente ridículas. Chocava-se ainda mais quando via seu próprio namorado rir das gracinhas e às vezes até complementa-las.Ele nunca fizera aquelas “vavaquices”.Sentia muita raiva de tudo aquilo, estava prestes a explodir e começar a humilhar todos ali.Seus olhos passearam pelo salão encontrando-se com o de Berta,que sorriu trouxamente.
Suas amigas estavam no mesmo canto de antes:Lílian observava o grupo com pesar nos olhos,Courtney com raiva enlouquecida e Berta com ar envergonhado. Alice fez sinal para que estas se juntassem ao grupo, mas é óbvio que a resposta veio igual das três; um aceno negativo de cabeça.
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Newcastle.Norte da Inglaterra. Lugarzinho misterioso aquele, com seus telefones públicos “encaixotados” em compartimentos vermelhos espalhados pelas calçadas,que por sua vez sumiam em neblina. Neblina esta vinda dos bueiros obscuros; vinda do frio da estação; das viradas das esquinas; do sereno da noite; das fumaças das industrias inglesas. O céu, escuro, profundo, intenso, deveria estar salpicado por estrelas e carimbado pela lua,mas graças ás nuvens cinzentas e da água condensada,empoeirada, parecia apenas um manto obscuro. Todos os bairros estavam mascarados. Todas as casas apagadas, cercas fechadas, portas trancadas. Talvez os únicos lugares abertos e povoados naquele instante eram os pubs ingleses, destinados apenas para pessoas de vida boêmia e descuidada,mas, fora os desordeiros,os bêbados e os policiais, não havia nenhuma alma viva circulando pelas ruas. Postes altos piscavam num som de eletricidade defeituosa, cercados por mosquitinhos da luz e, entre bares com suas entradas literalmente espremidas por outros bares, entre apartamentos baixinhos e lojinhas discretas mostravam-se placas indicando os nomes das ruas. Avançando, sempre ao norte da cidade, estas mesmas ruas iam mudando o aspecto de suas construções mas não o ar de seus pulmões: sempre vacilante, uivante, desconfiado. E gelado. Gelado como todo o resto do país, distante entre as neblinas da Europa.
Um bairro de almofadinhas continuava adormecido entre suspiros dengosos; seus casarões de aspecto antigo, tradicionais, pareciam tão anacrônicos quanto todo o bairro, quanto Newcastle, quanto a própria Inglaterra.Até mesmo as belas entradas,quintais e terrenos deste jogo emparelhado de mansões estava escondida pela névoa vinda do mar, próximo, que batia na encosta daquela cidade litorânea.
O número 14 parecia cochilar coberto por uma máscara plástica de severidade. O casarão estilo século IX não tinha outro habitante além do silêncio modorrento: cada ala estava escura, cada objeto quieto,cada relógio ainda fazendo seus ponteiros arrastarem-se costumeiros pelos números em grego, e cada quadro, móvel, tapeçaria ou tapete estava coberto por sombras. Nenhum chiado. A lareira apagada, as velas inutilizadas enquanto o belo lustre da sala de jantar parecia aposentado do se ofício de iluminar a cena.Espelhos venezianos refletiam a escuridão á sua frente e, por detrás de cada vidro de cada janela, não resvalavam nada,nem sequer uma das luzes da noite.
No segundo andar da mansão,mais precisamente no quarto de casal, arrastavam-se como num préstito a sonolência, o cansaço, a solidão, o conforto. A cama era larga,envolta por cortinas de seda,além de ser alta,protegida.Nela uma mulher dormia toda estirada; deleitosa. Enroscada em sorrisos, Melissa Smith virou-se para jogar um dos braços aonde deveria estar deitado o seu maridinho no entanto apalpou distraidamente, ainda dormindo, o travesseiro vazio. Era praticamente viúva,a pobre mulher...
Roger Smith, no passado grande amigo do casal Adams, ainda estava internado em St.Mungos desastrosamente inconsciente. A madrinha de Elizabeth ainda ia visitá-lo quando podia, e até mesmo em sonhos pensava nele. Dormia sem companhia á anos, e mesmo agora, com seus cravados 40 anos de idade, ainda preferia aguardar. Esperava esperançosa, angustiada, pela retomada de sentidos do marido. Murmurava, gemia, como fazia agora...tinha um sono conturbado á muito tempo...
Um ruído no andar de baixo. Ecoaram passos. Alguém resmungou baixinho, cortando o estado desligado de toda a residência monumental. Agora uma segunda voz, mais rouca e madura, criticou a primeira, que voltou a murmurar.
-Acende uma luz...não estou enxergando nada!
-Faz isso você!Eu não posso ainda...você sabe que se eu fizer magia,ainda mais agora,posso receber uma carta idiota daquele ministério idiota!
Os movimentos do segundo cobriram as reticências pairadas no ar; ele ergueu uma luz arredondada que saía da ponta de sua varinha de modo a descobrir o ambiente á sua volta, cujas sombras eram seu invólucro. Deu um assobio raso:
-Belo lugar...é uma casa ao nível da sua,não é Black?
-Ora,deixe disso!Vamos ao que realmente interessa!
Os passos impacientes dos dois invasores rangiam no primeiro andar, chegando como ecos longínquos aos ouvidos da habitante do segundo. Ela deu um resmungo lânguido antes de abrir os olhos molhados lentamente, meio desconexa. Os barulhos impertinentes mas ainda abstrusos continuaram,agora incentivando a mulher a sentar-se na cama. “Quem será a essa hora da noite?Será que o carteiro bebeu ou já amanheceu?”.
Regulo Black, o dono da voz mais jovem e enriquecida por reticências, azafamava-se pela casa sem muita preocupação. Ainda mantinha a varinha em riste, e ia, inabalável, examinando com olhos negros cintilantes cada canto suspeito que encontrava (seriam eles uma almofada encostada á um cantinho,ou uma prateleira de livros, uma estátua móvel,uma gaveta trancada). O rapaz era prematuro; já reunia a colheita que mal brotara. Ele continha a pulsação, a paixão da juventude, mas tornara-se autoconsciente. Era muito diferente do irmão mais velho: enquanto Sirius apresentava uma forte personalidade, Regulo se mostrava vulnerável á qualquer pessoa que lhe soasse mais plausível e criativa do que a anterior. Alma e corpo, corpo e alma, como eram misteriosos! Havia animalismo na alma, e o corpo possuía momentos de espiritualidade. Os sentidos poderiam refinar-se e a mente degradar-se, afinal de contas, seria a alma daquele rapaz uma sombra instalada na casa do pecado?
Rabastan chamou-o num grunhido gutural:
-Venha ver isto aqui!!
Ficaram parados em frente á um imenso quadro, mais ou menos com uns dois metros de altura para três de largura. A pintura,mesmo iluminada toscamente pela varinha de Rabastan, era até certo nível visível e admirável: retratava uma guerra medieval. Nela, retratados com perfeição,homens com aspectos de sofrimento e ao mesmo tempo fervor enraivecido, caíam de cavalos empunhando espadas. A natureza elaborada da moldura dava ao quadro um porte bastante avolumado ;além disso, a imensa obra de arte não poderia estar melhor alojada; o aposento á sua volta era,nada mais nada menos, do que uma espécie de sala de troféus, diplomas e méritos.
-Eles eram aurores reconhecidos.-observou o irmão de Rodolfo Lestrange, passando olhos nervosos á sua volta.
-É o que parece.-fez Black.
A mulher no andar de cima começou a apavorar-se aos poucos mas tentou se manter autocontida.Precipitou-se para fora da cama,buscando na escuridão seu par de chinelinhos e cobrindo-se com um robbe.Encaminhou-se até uma gaveta, abrindo-a e retirando de lá sua varinha.
Empunhando seu objeto mágico, digiriu-se agora até a porta de carvalho esculpido, descerrando-a. Estava apreensiva.Só poderiam ser ladrões, pensou, e ela não tinha muito como se defender sozinha já que seus criados não seriam úteis agora.Sentiu raiva dos pequenos escravinhos.Mesmo assim Melissa foi esgueirando-se pelo corredor afora, aproximando-se da escada meio receosa, quase que temendo chegar.
Apesar dos protestos obsequiosos de Rabastan Lestrange, que nutria a antipatia denodada do verdadeiro assaltante de fazer barulho, Regulo ergueu a varinha com firmeza para uma tapeçaria flamenga,felpuda,em que um rei e uma rainha,desbotados,jogavam xadrez num jardim ao passar de uma companhia de mascates que portavam pássaros encapuzados nos pulsos protegidos por manoplas.
-Lacarnium Inflamarium!
O belo enfeite daquela sala gloriosa começou a arder-se em chamas, destacando-se horrendo na escuridão. As luzes dançantes do fogo se refletiram nos olhos negros de Regulo:
-Comece a procurar!Destrua tudo se possível!
O outro, após se recuperar do choque, saiu da sala para devastar outros aposentos: foi para os lugares mais óbvios de se esconderem dossiês importantes como eram os documentos que procurava. Saiu lançando feitiços poderosos á torto e a direito, praticando o simples “Alorromora” em gavetas e armários fechados ou ainda o potente “Rictussempra!” para lançar contra a parede dezenas de vazinhos,que espatifavam-se numa mistura de água e flores violadas. Enfurecido, o bruxo rasgou também um pano pendurado em uma das paredes: o pano era velho, de couro espanhol, dourado, gravado e trabalhado num padrão Luís Quatorze, bastante floreado. Esquadrinhou-o com curiosidade, e imaginou se ele ocultava algum segredo particularmente interessante.Rasgou-o para descobrir o que ele escondia: um cofre!
- procurar feitiço- ordenou com convicção.
O cofre soterrado na parede explodiu,assim como metade da parede, que se espatifou no ar jogando-se contra ele e a sala.Formou-se um buraco profundo e convidativo para ele mergulhar os braços,enfrentando toda a poeira dos resquícios da explosão.No entanto, apesar de toda aquela dedicação flamejante, Rabastan percebeu que não havia nada ali a não ser uma pasta toda empoeirada e repleta por papéis em branco,que foi atirada para longe pelos braços furiosos do bruxo.
Não muito longe dali, Regulo lançava dezenas de quadros no chão e pisava desconfiado em certos pontos do assoalho,na esperança de encontrar alguma espécie de portinhola que o levaria para um pequeno porão ou simplesmente um esconderijo para guardar-se objetos pequenos,como o que procurava. Olhava á sua volta com olhos selvagens,arregalados. Notou a silhueta trêmula de alguém na boca da escadaria principal; ergueu a cabeça bruscamente:
-Quem está aí?!
A mulher empalideceu.O vento frio e cortante, vindo de uma janela aberta bagunçou-lhe os cabelos castanhos ondulados,que batiam em seus ombros.Os pés da Sra.Smith pareceram estar fortemente atados ao chão, e isso a impedia de fazer a coisa mais correta; ou seja, correr. Seus olhos negros buscaram socorro na obscuridade sombria de sua casa, não encontraram nada além de massas disformes de sentimentos e preocupações que pareciam estar fugindo de seu próprio pressa, tomou sua varinha em mãos novamente, já que a devolvera ao bolso e lançou em si mesma o Feitiço da Desilusão sentindo que um ovo fora-lhe quebrado na cabeça e no mesmo instante tomou cor e textura da casa à sua volta.
Ela já sabia exatamente o que estava acontecendo.Se aquelas duas pessoas fossem realmente ladrões já não estariam mais podendo carregar coisas dês do momento em que pisaram na casa,pois cada milímetro de sua decoração e estrutura era composta por algo valioso.Aqueles bruxos(pois as evidências mostravam que eram bruxos) estavam em busca de algo especifico.Algo realmente importante.Eles estavam atrás do dossiê que incriminaria toda sua família,bastava lhe apenas descobrir que família era essa.Mas agora isso já não tinha mais razão.Era suficiente que ela achasse esses documentos, tão bem pesquisados e escondidos pelo casal Adams e tempos depois por seu marido, antes daqueles bruxos.Apenas isso importava,e era isso que ela iria fazer.Afinal existem momentos em que a razão torna-se tola e a loucura parece ser a melhor saída.Este era um desses momentos.
“Vou vingar a morte dos meus amigos e a insanidade do meu marido, nem que seja a última coisa que eu faça” sentenciou por fim antes de,com muita cautela e tentando fazer o menor barulho possível, atravessar o corredor (aonde Regulo se encontrava ainda olhando para o pé da escadaria)indo em direção à fonte dos outros barulhos produzidos já que concluira que este primeiro bruxo que havia perguntado quem estava ali ao invés de agir depressa era um pouco menos nocivo do que ela esperava.
Correu até a sala aonde um segundo bruxo se encontrava.Ele levantava sofás,empurrava móveis e destruía tudo.Seu coração deu uma lavancada ao ver sua sala de estar com as paredes destruídas e pegando fogo em alguns pontos.Tentou desviar seus pensamentos de mais essa preocupação entrando de vez no aposento e apenas com os olhos atentos ela procurou encontrar algo suspeito ou que fora desprezado pelo rapaz mas que parecesse ser importante.
Suas esperanças foram morrendo à medida que o bruxo também fora perdendo as suas.
-Ra...bas...tan! –ofegou o jovem Black chegando aos tropeços no que um dia fora uma sala, mas agora era uma grande ala cheia por entulhos e restos do que foram,outrora, caros e luxuosos móveis, pinturas e paredes- Eu acho que vi uma mulher na escada!
-Ótimo!-ofegou o outro,segurando agora um abajur- Procure-a! Talvez ela saiba de alguma coisa!
-Ela sumiu!-esclareceu o outro, rispidamente- E o que raios você está fazendo?!
Rabastan largou o abajur com força,que,obviamente,se partiu tristemente no chão. Melissa afastou-se temerosa ,já que vez por outra uma espécie de silhueta de si mesma balançava-se por onde ela passava,como um camaleão humano. Recuando, ela pisou numa pasta largada de qualquer jeito entre os resquícios de cofre e parede; agachou-se, recolhendo-a: o que Rabastan não havia notado,na pressa de sua observação, fora os letreiros “Confidencial” com a assinatura já tão conhecida dos Adams. Melissa sentiu o sangue se esfriar: será que era?Será que tinha,finalmente, encontrado os documentos que haviam sido cultivados pelos aurores, procurado por Smith e por ela mesma e que eram, indubitavelmente, de suma importância?! Algo palpitando em seu peito lhe dizia que sim...
A mulher,tresmalhada, saiu pela sala numa correria desabalada, apertando a pasta contra o peito. Seus passos desesperados saíram ecoando em direção ao corujal da casa,que ficava na única torre da casa.
-Escute!!- esgoelou-se Rabastan, tapando a boca do irmão de Sirius,que preparava-se para dizer alguma coisa- Ela está indo por ali!Está invisível;a desgraçada!
Régulo atirou a mão do outro para longe com certa repugnância, para logo em seguida apertar o passo, seguindo as ordens de seus ouvidos.Lestrange foi mais rápido: propalou-se não só rapidamente,mas também erguendo a varinha á sua frente:
-Imóbilus!!!
Melissa ouviu o feitiço cortar o ar para bater-se em uma coluna, que ela driblou. Chegou ofegante no patamar que dava para a entrada e caminho ao corujal: lançou-se para seguir as escadas,que nunca se mostraram tão cruelmente longas. Pareciam querer dificultar sua fuga. Elas seguiam para o alto em círculo,de modo á causar tontura, pois também não possuíam um corrimão. Eram mais ou menos oitenta degraus de pedra contínuos, cansativos, que levavam até as corujas.
Regulo e Rabastan seguiram-na. Iam aos tropeços, bufando, xingando, lançando feitiços que acabavam sendo interceptados pelas paredes circulares; eram milhares de “Crucio”; “Impérius”; “Impedimenta” e “Petrificus Totallus” que eram devolvidos conforme a mulher sumia na virada da subida circular, seus cabelos castanhos batendo nas suas costas, também invisíveis. Agora, graças aos seus suspiros cansados-mas nunca derrotados- os rapazes confirmaram suas suspeitas de estarem perseguindo uma mulher.
Foi uma corrida não só contra os dois,mas contras as escadas,o tempo, a angústia e o cansaço. Ela chegou exausta no topo da torre. Olhou á volta do corujal meio demente, zonza, sentindo as pernas bambas por debaixo da camisola. Os pés doíam intensamente, protegidos apenas pelo chinelinho,que num último esforço bruto,arrastou-se para perto de uma coruja cinzenta e robusta,pousada num dos níveis escalonados do corujal,mas mesmo assim próxima.
Ela amarrou a pasta pesada nas patas do animal, que teve ainda de usar as garras para agarrar seu fardo.
-Ministério...da...magia...-ofegou ela,lançando um olhar suplicante para a ave enquanto carregava-a para a janela- Voe como nunca voou antes, Tina.
A coruja assentiu beliscando sua mão com o bico torto. Ergueu as pesadas asas, esfregando sua bela penugem no corpo trêmulo e próximo da mulher. Levantou voou graciosamente, no exato momento em que, de sopetão, o jovem Black entrou no corujal; todos os olhos amarelos dos habitante emplumados voltaram-se para ele,avaliando-o. Ruidosamente,Rabastan surgiu também,pisando com raiva naquele chão coberto por palha,fezes,ratos e aranhas mortas.
-ONDE ESTÁ?!!-urraram os bruxos, estreitando os olhos. O Feitiço da Desilusão, que fora até aquele momento o salvador da pátria para Melissa, começava a falhar, a perder o efeito. Ela deixou de ter a textura da paisagem atrás de si; foi ficando visível, de início relutantemente, para finalmente mostrar-se inofensiva e palpável.
Os olhos dos demais faiscaram de prazer: eles avançaram, varinhas erguidas, passos calculados. Ela recuou, sentindo atrás de si apenas a janela por onde partira Tina,a coruja:
-Não tem para onde ir, sua maldita!
-Na verdade tem...-retorquiu Rabastan, cheio de malícia- Para o inferno!! AVADA KEDAVRA!!
Ouviu-se um grito pavoroso ecoando em meio á luz verde,que cegou á todos. Lestrange baixou a varinha,os olhos lacrimejados pelo prazer do ato. O corpo sem vida da senhora Smith desabou no chão; Régulo avançou ferozmente para a janela,passando por cima da morta que estava em seu caminho:
-A CORUJA!!ESTÁ FUGINDO COM OS PAPÉIS!!-ele por fim descobriu o sacrifício por detrás da assassinada e assustada Melissa; seu último suspiro de vida fora dedicado á salvar os documentos- MALDITO PÁSSARO! CRUCIO!!
O feitiço saiu rasgando o ar,sem sucesso algum: Tina parecia um foguete que, conforme zunia,ia se deixando engolir pela noite.
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