Prólogo



Prólogo


Acho que nossa alma é o que popularmente chamam de “coração”. Ela é aquilo que se manifesta em friozinhos de barriga, em retrações das tripas, em palpitações na garganta ou borboletas no estômago. Ela vive angustiada. Ela mantém-se presa em nosso corpo, em certas ocasiões, com grande dificuldade. Ás vezes passamos por momentos de impacto emocional tão grande que é de se admirar o fato de sobreviremos á eles. Devíamos parabenisar nossas almas por não escaparem e não nos deixar desfalecer...não digo que elas escapam ilesas, mas escapam. Sofremos tanta pressão emocional que as tais “feridas no coração” são ás vezes mais profundas do que imaginamos, chegando a ser incuráveis.
Quem disse que “não á nada que o tempo não concerte” com certeza nunca se apaixonou como eu me apaixonei. O tempo pode ser sim um aliado fiel para nos acalmar durante alguns meses de terapia natural, mas eu conheço feridas que driblaram esse poder “infalível” do inigualável tempo. Senhoras feridas,se me permitem o termo...
É incrível como uma pessoa sozinha pode embrenhar-se numa teia tão confusa e voraz de sentimentos, tais como melancolia, desolação, solidão, depressão,rancor e outros tantos doentios e penetrantes. E como essa criatura pode sofrer! Não há, afinal de contas, sofrimento mais penoso, doloroso,martirizante do que o sofrimento amoroso... ah, ele é ácido corrosivo,desumado, desonrado!
O amor é o nosso “guia inoportuno”.Eu por exemplo, repudiava-o em certas ocasiões, sem saber que precisava dele para me tornar um homem completo. Ele é traiçoeiro, chatinho, irritante...mas tão importante! Ele está explícito nos rostos das mães, nos beijos das crianças, nos abraços dos amigos...mas e no coração dos amantes?Será que ele sempre está lá?
Bem, pelo menos no meu, ele nunca esteve.
Eu não sentia amor de amante,apenas ardor. Sentia prazer e não querer. Sentia que as garotas eram necessárias para o meu “sobreviver” e não para o meu “viver”; elas eram,para mim, um item secundário mas nunca necessário. Eram divertimento e não sofrimento...Com elas sentia-me feito mas nunca, e jamais, insatisfeito. Com elas eu costumava respirar prazer e não pulsações doentias soltas no ar a cada suspiro, palavra, gesto, toque...
Com elas eu me sentia incompleto, sem saber.
Hoje me sinto completo, e isto eu sei mais do que tudo no mundo que é necessário se saber...
E quando foi que descobri isso? Seria impossível de dizer...Se me perguntassem a hora e minuto exatos em que comecei a me sentir um novo homem,transformado internamente, eu daria de ombros, todo perdido. Eu realmente não sei quando foi.
E acho que jamais calculei, mesmo sabendo que sou capaz fazer uma estimativa mal pensada...
Talvez tenha sido quando senti, pela primeira vez, um batuque mais penoso no peito, ou quando senti aquele formigamento nas pâncreas,no fígado,em todos os meus sofridos órgãos...Talvez tenha sido junto com meu primeiro ciúmes em relação á ela, ou ainda quando percebi que, ao vê-la afastar-se de mim, minha respiração falhava. Não sei...talvez seja impossível marcar com precisão o momento de uma transformação pelo simples fato dele não existir. Toda a transformação é fruto de um processo, e não de um momento, eu acho...
Algo de que não tenho dúvida é o fato de eu ter mudado, e muito. E mudar, apesar de ser bom, não é fácil. É doloroso, é angustiante!
Quantas noites sem dormir, quantos pensamentos embaraçados, quantos ideais de vida perdidos no espaço...quanta honra desonrada e quantas batalhas perdidas!
Eu fui, literalmente, pisoteado para aceitar esta “transformação”.Fui humilhado,tive todo o meu subconsciente esmigalhado,minha alma/coração esfaqueada, chegando até mesmo á desejar a morte em algumas situações...
Lembro-me de ter olhado para o céu, certa vez, e de ter pedido ás estrelas,distantes mas compreensivas companheiras :“O que mais posso fazer?!Porque devo sofrer tanto,o que fiz para merecer esse martírio?”.
As desgraçadas cintilantes de nada fizeram. Continuaram lá no alto, inalcançáveis, esnobes, tão parecidas com a doce culpada dos meus embargados sentimentos...
Oh estrelas, vocês poderiam ao menos ter-me apontado o caminho menos sofrido que me levaria para longe daquele amor platônico,não poderiam??
Elas não fizeram isso,como vocês podem imaginar, mas optaram, por sua vez, por me ensinar algo muito mais valioso...algo que elas sabiam fazer tanto e tão bem,todas as noites,em todos o céu,de todo o lugar.
Elas me ensinaram a amar e ser amado me ensinando, finalmente ,a viver divinamente.
Me ensinando, por fim, a brilhar intensamente...
Sirius Black

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