Conto XXI– Desastres amorosos
Nota Inicial: É chegado o último conto do nosso segundo ano em Hogwarts! Narrado em terceira pessoa por mim, o nosso retorno a casa mostra-se desastroso amorosamente. Conseqüência da imaturidade! Confiram nas linhas que se seguem..
Remo Lupin
A repentina popularidade dos marotos não foi tão bem vinda quanto o desejado. Embora os garotos apreciassem ser o centro das atenções, principalmente Tiago e Sirius, tanto alvoroço quando passavam pelos corredores tornava-se incômodo e até mesmo assistir as aulas mostrava-se uma tarefa mais árdua, visto que era particularmente desagradável prestar atenção ao que o professor dizia com meia dúzia de olhos o espiando.
- Isto está começando a me encher o saco – desabafou Pedro, à mesa do Salão Principal, jantando em companhia de Remo Lupin.
- Se quer mesmo saber, já saturou – exclamou Lupin, fingindo não ver quatro garotas da Corvinal acenarem esperançosas para ele. Seus olhos, entretanto, buscavam os de Lílian e por um instante ele se perguntou porque a tal popularidade não afetara também o modo de agir da garota. Lamentou-se por dentro.
- Você está gostando da Lílian? – Pedro indagou, enquanto olhava de Remo para a garota. O outro, no mesmo instante, retrucou:
- Não! Claro que não. Eu só... – e calou-se, observando Lílian Evans levantar-se na outra ponta da mesa e caminhar em sua direção – Com licença – completou, erguendo-se da mesa e indo até a garota.
- Remo, como está? – a voz meiga e doce de garota soou.
- Bem... você? – disse Lupin, nervosamente.
- Também – respondeu, esfregando as mãos – Sabe, gostei de você... de você não ter se inflado, agora que se tornou tão popular.
- Er... obrigado – respondeu, sem saber se devia mesmo agradecer.
- Bem, a gente se vê – despediu-se Lílian com um largo sorriso, acompanhando duas colegas da Grifinória.
Lupin voltou a mesa da Grifinória a passos largos e desconsertados. Desta vez tinha a companhia adicional de Tiago e Sirius.
- Realmente, não dá para acreditar! – reclamou Sirius para o seu copo.
- Sossega, ela só está com ciúmes. Isso não é tão ruim assim – rebateu Tiago, como quem consola.
- Como não? Eu nem posso olhar para o lado e ela não está tão contente em ter um “namorado popular solto por aí nas férias de verão” – continuou Sirius, citando as palavras da namorada.
- Brigou com a Francy? – Lupin indagou, juntando-se aos outros.
- Não, mas quase. Ela quer que eu faça alguma coisa para que as garotas parem de me paquerar – Sirius explicou, olhando-os com uma expressão meio incomodada – Eu até entendo o lado dela, mas fazer isso não seria coisa de homem, se é que me entendem.
- Se você realmente gosta da Francy, coloque-se no lugar dela – Pedro comentou desatencioso, enquanto fazia o seu segundo prato do jantar.
- Não é tão simples assim – Sirius respondeu, em tom de revolta – Além do mais, ela quer acabar o namoro antes das férias, no mais tardar no Expresso de Hogwarts...
- Pensando bem, não sou a pessoa mais correta para te dar conselhos – Tiago falou, triste, olhando para Lupin – Estou ainda mais complicado do que antes.
- E a Lílian nem liga pra mim... – Lupin deixou-se falar, sem perceber. Na mesma hora, seu rosto pintou-se de um vermelho-vergonha.
- Lílian!? – exclamaram os outros três juntos.
- Bem que eu desconfiava! – exclamou Pedro, alegremente.
- Você gosta da Lílian? – Tiago perguntou, incrédulo – Isto explica muita coisa!
- Shhhh! Falem baixo! Por favor, não contem pra ninguém – assumiu Remo Lupin, olhando desconfiado por todo o Salão, antes de aproximar-se mais um pouco dos amigos e lhes contar o episódio ocorrido na plataforma 9 e meio no ano anterior.
O sol brilhava intensamente no desnudo céu azul que encobria Hogwarts na manhã do embarque no Expresso de Hogwarts na estação de Hogsmeade. Uma brisa leve e gélida, entretanto, soprava calma por toda a extensão do território da escola, conferindo as árvores uma bucólica coreografia. O farfalhar das folhas balançando ao vento acompanhou o estalido das passadas dos cavalos invisíveis que puxavam as carruagens entulhadas de estudantes até o vilarejo bruxo.
E lá estava o Expresso de Hogwarts, vermelho-vivo e expelindo uma densa e negra fumaça. Alguns poucos estudantes já haviam embarcado no trem; a grande maioria, porém, estava a caminho.
A última carruagem chegou e a estação de Hogsmeade parecia repleta de rostos sorridentes com a perspectiva de um longo período de descanso em seu lar. Tal ambiente, porém, pouco parecia convidativo para os desagradáveis eventos que estavam por vir.
Sirius e Francy estavam a sós em uma das últimas cabines do derradeiro vagão do trem. O clima na cabine não podia ser pior. A garota empenhava-se em olhar para o céu sem nuvens torcendo para que tal distração lhe fosse o suficiente para sequer ouvir a voz de Sirius. O garoto dizia, desanimado:
- Francy...Você não compreende que não possuo culpa alguma se todos me olham diferente, agora?
- Compreendo, claro que sim – a garota respondeu, depois de quinze minutos de monólogo de Sirius Black – Mas não sou idiota. Sei que você está gostando.
- Quem não gostaria? Tornei-me o cara mais popular da escola, por que não haveria de gostar? – falou-lhe o garoto com sinceridade.
- Você já se pôs no meu lugar? Não venha me dizer que sim, porque sei que não. Não sabe como me sinto vendo você sorrir e acenar para aquelas... – e deixou-se calar, embora continuasse a encarar o céu azulado.
- Esse teu ciúme é estúpido... – Sirius começou quando Francy retrucou:
- Estúpido? Gostar de você é estupidez? Nunca esperei por isso, Sirius Black! Jamais imaginei que você fosse tão... tão egoísta! – e desabou a chorar.
- Me desculpa, mas acho que você está exagerando – respondeu Sirius com franqueza, antes de acrescentar – Eu gosto de você.
- Isto não é o suficiente... Não quero ouvi-lo dizendo isso. Quero que prove – e, pela primeira vez desde que entraram na cabine, Francy olhou-lhe nos olhos – Prove que gosta de mim e faça o que lhe pedi.
- Mas é que... – Sirius começou quando Francy pôs-se de pé e correu até a porta da cabine. Abriu-a e antes de ir concluiu:
- Nada de “mas”. Está acabado – e batendo a porta de correr ruidosamente, deixou Sirius Black sozinho na cabine.
- Mas que drama... – disse ele por fim, pasmo, observando pela janela o trem deixar a plataforma.
Para Tiago, era estranho estar beijando Lana Finch. No ano anterior, a garota receava uma traição por parte do garoto no período das férias, mas ali era quando o rapaz podia afirmar que gostava dela e que não a trairia com ninguém. Este ano, Tiago não só sentia vontade de estar junto de ninguém, como também não entendia mais os seus sentimentos por Lana.
Vieram de Hogwarts para o vilarejo de Hogsmeade na mesma carruagem, embora Tiago tivesse tentado evitar a situação. A cada instante ele entendia menos o que ocorrera com a sua afeição pela garota. Chegando à estação, tiveram de buscar juntos uma cabine e, à sugestão de Lana, um lugar só para os dois. Então conversaram um pouco e se beijaram. E Tiago sentia-se mal...
- O que há, Thi? Você está diferente – Lana disse-lhe após o beijo, alisando o rosto do garoto.
- Não sei... acho que com saudades de casa – mentiu Tiago, olhando pela janela e vendo os terrenos de Hogwarts ficarem para trás.
- Entendo... – mas Lana não parecia mesmo estar entendo. Seu olhar demonstrava incredulidade e preocupação.
- Lana, não estou com saudades de casa – admitiu Tiago, no mesmo instante, encarando-a nos olhos – É que eu não estou conseguindo entender o que se passa comigo...
A respiração de ambos ofegou. A imagem de Lana refletia-se nos olhos de Tiago.
- Eu posso te ajudar? – a garota perguntou, embora a lágrima que surgia no canto do seu olho esquerdo parecesse indicar a resposta.
- Acho que... acho que seria bom darmos um tempo – e vendo a lágrima percorrer o rosto da garota, completou – Um tempo, apenas. Não é um fim. Quero apenas entender o que realmente estou sentindo.
- Você está gostando de outra garota, não é? Eu sabia, pude sentir – ela falou, em meio a soluços, olhando para o seu colo.
- Não, não estou. Acho que gosto de você, mas não quero te enganar. Deixe-me ter certeza – e ficou de pé, segurando as mãos da garota.
- O que eu fiz de errado? – soluçou a garota, as mãos trêmulas e frias.
- Nada, o erro deve estar em mim – e dizendo isso, beijou-a no rosto e saiu para o corredor. Seu coração batia apertado, embora livre. Era um misto de sentimentos que naquela idade jamais poderia entender.
- Outra vez, einh? – soava a voz de Pedro na mais silenciosa das cabines do trem – Só nós dois viajando juntos.
- É... – Remo respondeu, o coração batendo forte e a mente longe daquela cabine.
Desde que entrara no trem ficara imaginando o que aconteceria quando chegassem à King’s Cross e ficasse a sós com Lílian outra vez. Rezava para que fosse a vez do seu segundo beijo.
- Pensando em Evans? – Pedro perguntou e a menção daquele sobrenome retirou Remo Lupin do mundo de devaneios.
- Como pode adivinhar? – indagou o outro, surpreso.
- Deduzi. Está com essa cara de bobo desde que a Lílian falou contigo no Salão antes de entrarmos na carruagem. Deve estar torcendo para ficar com ela hoje, mais uma vez, assim como já aconteceu – Pedro falava-lhe e a cada palavra Lupin se surpreendia com a capacidade do garoto em perceber os seus sentimentos.
- Estou sentindo que não vai rolar nada – e suspirou dolorosamente.
- Que nada! Somos todos populares, esqueceu? – Pedro lembrou, um tanto irônico.
- Somos, mas para a Lílian isso não importa. Nem para mim, se quer saber. De quê me importa ser popular se a tal popularidade em nada me serve?
- Conquiste-a com as suas próprias armas – encorajou Pedro, batendo no peito do garoto.
- Não entendo como alguém que odeia namoricos possa dar tantos bons conselhos – notou Lupin, olhando para o amigo pelo canto dos olhos.
- Não odeio namoricos, só acho muito nojento – ele respondeu, contraindo a boca levemente ao falar.
- Ah, mas você se acostuma. Por que não tenta? – Remo incentivou, olhando-o sério.
- Não com você, não é? – Pedro rebateu no mesmo instante, olhando esquisito para Lupin.
- Claro que não! Mas há muitas garotas na escola.
- Nenhuma me agrada.
- Tem de haver uma de seu gosto – indignou-se Remo ao dizer.
- Não, não há. Sou mais observador do que pareço ser. Todas são muito metidas, ou dramáticas... ou pegajosas – Pettigrew respondeu e Lupin compreendeu a sua lógica:
- Não generalize. Só porque aquelas que melhor conhecemos são assim, não quer dizer que todas sejam. A Lílian não é.
- Mas ela já é sua, não é? – e dizendo isso, voltaram ao mesmo ponto. Pedro em silêncio e Lupin pensando na pequena grifinoriana que lhe tirava o sono.
Foi quando o carrinho de doces e guloseimas passou pela cabine de Pedro e Lupin que os garotos receberam a primeira visita da viagem: Severo Snape. Arrogante como costumava ser com os marotos, adentrou na cabine e logo alfinetou:
- Como está sendo a vida de celebridade?
- Muito bem... quer? – Pedro respondeu, cínico, oferecendo-lhe um caldeirão de chocolate.
- Tenho dinheiro para comprar, se quiser – rebateu o outro, com arrogância.
- Ninguém insinuou que você não tivesse dinheiro, apenas oferecemos. Não quer mesmo? – Lupin entendeu a jogada de Pedro e resolveu ir junto.
- Se eu quisesse já teria aceitado – Snape rebateu, olhando de uma forma estranha para os garotos. Com certeza, não esperava ter sido tão bem recebido.
- Mais alguma coisa em que pudéssemos ajudar? – Pedro perguntou, vendo que Snape os encarava através dos seus sebosos cabelos, como uma cobra que planeja seu próximo bote.
- Não preciso de ajuda dos “queridinhos de Hogwarts” – e completou – Sou auto-suficiente.
- Mesmo? Puxa, pensei que fosse sair mal pedir a sua ajuda para limpar a nossa cabine... – começou Lupin e Pedro completou:
- Mas já que você é auto-suficiente, não se incomodaria em limpar sozinho, não é mesmo? – e os dois caíram na gargalhada. Snape, apesar de não compreender o que estava ocorrendo, zangou-se e empunhou a varinha, apontando da porta para o peito de Remo.
- Quem será o primeiro? – e olhou do rosto de Lupin para o de Pedro.
- Ah, cai fora...
- É, não enche...
E, surpreendentemente, Snape pareceu dar-lhes ouvidos. Baixou a varinha e guardou-a no bolso de suas vestes. Deu as costas e bufando de raiva saiu.
- Eis a solução: não o leve a sério – disse Pedro, rindo de se acabar.
Sirius e Tiago só chegaram à cabine dos garotos uma hora após a visita de Severo Snape. Comentaram os seus desastres amorosos como quem já os tivesse superado e, por fim, não deram brecha para quaisquer conselhos que Remo e Pedro pudessem ter pensado em dar.
- Estamos perfeitamente certos de que foi o melhor para nós e, por favor, não estamos abalados – embora os garotos pudessem nitidamente ver em suas faces o abatimento pelo qual passavam.
A mesma cena se repetia e o coração de Remo Lupin não podia bater mais acelerado. Mais uma vez encontrava-se à plataforma 9 e meia, em King’s Cross. O expresso de Hogwarts havia chegado há alguns instantes e a movimentação naquele ponto, outrora intensa, resumia-se agora a poucos alunos que esperavam os seus pais virem buscá-los. E foi nesta expectativa que as mãos de Lupin suaram intensamente.
No ano anterior esperara a chegada de seus pais ao lado de Lílian Evans, bem ali onde estava. Será que haverá um outro beijo? Foi quando Remo a viu descendo do trem, arrastando um malão de aspecto pesado.
- Posso ajudar? – falou, aproximando-se da garota e estendendo-lhe a mão.
- N-não, tudo bem – respondeu Lílian, parecendo um pouco desajeitada.
- Não é nenhum incômodo para mim, se quer saber – Lupin cantou sem perceber, o rosto corando-se em vermelho pela enésima vez naquele dia.
E mergulharam-se no mais profundo silêncio. Esperavam no mesmo local do ano anterior e, como no mesmo ano, estavam praticamente sós. Lupin via os cabelos da garota, de cima, tentando enxergar discretamente a expressão que ela apresentava. E conseguiu...
Para sua tamanha surpresa, o rosto de Lílian Evans estava como o seu: vermelho-vergonha. Será que está se lembrando do ocorrido no ano anterior? Não gostaria de tentar mais uma vez? Era o tipo de pensamento que imperava na mente do garoto. Mas não houve nenhum sinal do tão sonhado segundo beijo. Trocaram poucas palavras e aquele segundo momento a sós resumiu-se a uma espera calada e nervosa.
Então surgiu pela plataforma um grupo de pessoas que Lupin reconhecia. Um homem alto e barrigudo ao lado de uma mulher bem vestida e penteada; logo atrás deles uma garotinha magra e pálida espiava: era a família de Lílian Evans.
- Bem... estou indo – Lílian falou a Lupin, ao ver a chegada dos seus pais – Vejo você em setembro.
- É... a gente se vê – despediu-se o garoto com um aceno discreto com a mão, engolindo em seco.
Notas finais: (além de conter notas do autor, há também os pensamentos, detalhes e opiniões pessoais de cada maroto sobre os diversos acontecimentos do conto).
# Os marotos terminam o seu segundo ano sós. Mas isto não quer dizer que terão uma vida solitária ou monótona daqui para frente. Lembre-se de quem Tiago realmente gostará e de uma das minhas primeiras notas da narrativa sobre o relacionamento entre Sirius e Francy. Há muito por acontecer.
# Já vieram me perguntar quando que irei dar mais destaque ao Lupin com as suas transformações. Adianto: ao que tudo indica, neste terceiro ano em Hogwarts.
# Pedro Pettigrew, como viram, não é contra o namoro. Apenas ainda não encontrou “a sua metade”. Alguma suspeita? Provavelmente não. Mas, tenha certeza, ele há de encontrar!
# Não, não... ignorar ou se fazer de desentendido não é a forma de se livrar do Snape. Aguarde, ele estará de volta nos anos que se seguem.
# Bem, espero que não tenham achado este último episódio muito meloso. Acho que posso ter exagerado um pouco, mas precisava lhes mostrar o destino amoroso de cada um deles ao término do segundo ano, já que no terceiro os garotos começarão a se empenhar em uma coisa que... ops, já falei demais!
Está encerrado o segundo ano dos Marotos em Hogwarts! Muitas confusões, aventuras e descobertas estão por vir! Comente se gostar (ou não) e até a próxima! ^^
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