Conto XXII – Lobo solitário
PARTE IV – DO TERCEIRO ANO EM HOGWARTS
Conto XXII – Lobo solitário
Nota Inicial: A terceira temporada de Contos Marotos inicia-se fora de Hogwarts. Narrado por mim e em primeira pessoa, este conto apresentará o dilema sofrido por minha pessoa em meados de embarcar para o terceiro ano da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. É o início de uma nova fase! Espero que gostem!
Remo Lupin
Eu estava em uma casa de campo. Mamãe achou por bem que nós passássemos as minhas férias em uma velha casa que tínhamos, em meio a colinas suaves e arredondadas, cobertas de um tapete verde-claro de grama. A razão era simples: no ano anterior eu sofrera uma transformação em lobisomem, dentro de casa.
Dói-me saber que quase matei a minha mãe, trancafiada em nosso lar num bairro londrino. Depois de muita espera, lágrimas e medo, o pessoal do ministério chegou para acudi-la e me acalmar. Desde então passei a tomar poções às vésperas da lua cheia. Tinha um gosto amargo e seco e era preparada por minha mãe.
Enfim a noite de lua cheia passara. Após longas horas de conturbação, chegara o que me acostumei a chamar de “dia pós-transformação”. Doentio e fraco, encontrava-me deitado em minha cama, ao lado de uma janela aberta, respirando o puro e levemente frio ar das colinas. Aguardava o meu café da manhã.
Tinha sido assim desde aquela noite, desde aquela maldita noite, em que Fenryr Greyback resolvera atormentar a minha família. Todo mês a lua cheia surgia, brilhante e amedrontadora, no céu de todo o mundo. Iluminava-me e eu deixava os meus sentimentos e pensamentos para trás para virar um monstro. Um monstro que vagava pela noite, uivando para a esfera brilhante que me perseguia mensalmente. Uivando de forma irracional.
Por que tinha de ser assim? Quando eu poderia ser comum? Como poderia levar uma vida comum com este estigma?
Nunca, eu me respondia e o sopro das colinas confirmava os meus receios. A alguns quilômetros dali havia um vilarejo, onde trouxas e bruxos escondidos viviam em comum. Poderiam viver tranqüilos com uma fera matadora como eu solta pela noite?
Mas a minha mãe me dizia para não pensar desta forma. Pedia-me, implorava-me, para ser forte, pois não deveria me entregar àquilo. Dizia que eu não poderia me dar por vencido e que, em algum instante, haveria encontrar uma cura. Mas quando?
Talvez fosse por isso que Lílian não me quisesse. Namorar um lobisomem não é nada comum. Teria de encontrar uma garota com o mesmo problema para me apaixonar, então? Era sofrível pensar em alguém senão Lílian Evans. Como eram lindos os seus cabelos...
Foi então que minha mãe entrou pelo portal do quarto, trazendo consigo uma bandeja de madeira contendo o meu café da manhã. Rodelas de pão com patê e queijo e limonada. Recebi a bandeja e ela pareceu perceber as minhas preocupações, pois falou:
- Coma, meu filho e não se preocupe. O mau tempo já passou, pelo menos por este mês. Descanse e depois saía para brincar com os seus amigos.
Mas eu torcia pela chegada do primeiro de setembro. Como era bom retornar a Hogwarts e encontrar os meus verdadeiros amigos. Às vezes enquanto divertia-me com eles, conseguia até mesmo esquecer o meu problema, ou a melhor conviver com ele. Tiago, Sirius e Pedro eram o complemento da minha alegria.
E pensar nisto me preocupava. Mais cedo ou mais tarde eles haveriam de descobrir o que sou. Como reagiriam?
Descendo as escadas do primeiro andar para a sala de estar, no térreo, encontrei a minha mãe. Resolvi perguntar-lhe uma coisa.
- Mãe, estive pensando... estive pensando em contar para Tiago, Sirius e Pedro que sou... lobisomem – e pronunciei aquela palavra baixinho, como se temesse ouvi-la.
- Meu filho, pensei que já os tivesse contado! Como pôde, Remo, viver assim, sozinho, sem ter alguém para desabafar? Claro que deve contá-los, já que você me diz que são seus grandes amigos – falava, alisando o meu rosto e arrumando os meus cabelos.
- Mas mãe... e se eles não me aceitarem, se começarem a se afastar de mim? – perguntei temeroso, trêmulo.
- Eles não irão. Se forem seus amigos, farão de tudo para ajudá-lo. Serão seus companheiros de todas as horas e te ajudarão a superar esta situação – falou suavemente, antes de completar – Dê a eles este voto de confiança.
- Está certo, mamãe – suspirei – Eu darei.
A última semana de agosto se arrastava e eu me ocupava a ler os livros recém-comprados na Floreios e Borrões, começando assim a me preparar para o novo ano. Foi quando li em certo livro, Animais Fantásticos e Onde Habitam, de Newet Scamander, um trecho que falava sobre lobisomens. Segundo o livro, classificado como “Mata bruxos/ impossível treinar ou domesticar”.
O lobisomem é encontrado no mundo inteiro, embora se acredite que tenha se originado no norte europeu. Os humanos somente se transformam em lobisomens quando são mordidos. Não se conhece nenhuma cura para esse mal, embora o recente avanço no preparo de poções tenha em certa medida, aliviado os sintomas mais graves. Uma vez por mês, durante a lua cheia, o bruxo ou trouxa afetado, que em outros períodos é normal, se transforma em uma fera assassina. Uma singularidade entre as demais criaturas fantásticas, o lobisomem dá preferência a presas humanas.
Não se conhece nenhuma cura para esse mal... uma fera assassina... dá preferência a presas humanas...
As palavras entraram pelos meus olhos e à medida que meu cérebro as decifrava eu me enojava. Sabia que não tinha culpa por ser o que era, mas sentia nojo de mim. Nojo de me tornar o que me tornava e de “dar preferência a presas humanas”... Lílian leria esta página este ano e com certeza pensaria duas vezes antes de andar comigo outra vez. Será mesmo que Tiago, Sirius e Pedro seriam tão compreensivos? E, o pior...
Não se conhece nenhuma cura para esse mal...
Isto quer dizer que passarei o resto de minha vida assim? Que viverei nesta perspectiva e morrerei como “fera assassina”?
As lágrimas brotaram de meus olhos e percorreram todo o meu rosto como uma cascata. Chorava, silencioso, em meu quarto odiando ferozmente Fenryr Greyback com todos os pontos do meu corpo.
Primeiro de setembro. Com um caloroso beijo no rosto a minha mãe deixou-me à porta do expresso de Hogwarts, desaparatando logo depois da plataforma 9 e meia. Segundo ela, não poderia esperar o trem partir porque tinha de providenciar os ingredientes da poção do mês de setembro e, em breve, estaria me enviando um frasquinho com o líquido.
Sozinho, embarquei. Caminhei pelos corredores semi-vazios e entrei na cabine em que eu, Tiago, Sirius e Pedro costumávamos viajar. Guardei a minha bagagem no bagageiro e aguardei, ansioso, a chegada de todos os outros alunos da escola, entusiasmados com o início de uma novo ano letivo e com a perspectiva de novas aventuras e surpresas que estariam por vir.
Eu também ansiava o início de um novo ano. Gostava das férias de meio de ano, mas, em geral, elas eram iguais. Sozinho com minha mãe, estudando e recebendo os devidos cuidados.
Agora, indo para Hogwarts, haveria uma mudança na rotina. Receberia os cuidados de Alvo Dumbledore e da enfermeira da Ala Hospitalar e me transformaria em uma casa de ninguém, selada por uma árvore que batia em qualquer um que se aproximasse.
Notas Finais:(além de conter notas do autor, há também os pensamentos, detalhes e opiniões pessoais de cada maroto sobre os diversos acontecimentos do conto).
# Creio eu, e corrijam-me se eu estiver errado, que este foi o conto mais curto de Contos Marotos. Desculpem-me pela demora e por ter escrito um episódio tão breve, mas era necessário.
# O trecho que fala sobre lobisomens foi transcrito do livro Animais Fantásticos e Onde Habitam, Rocco, página 63.
# Lupin sente-se muito só. Até então, ele ainda não se mostrou divertido e até mesmo travesso como devia porque passa por este intenso conflito interno. Sente-se mal por ser lobisomem e ainda não se acostumou à idéia de ser o que é. Entretanto, como sabemos, os marotos saberão muito bem como acolhê-lo e posso afirmar que a partir daí teremos um novo Lupin.
# Antes que se formem as torcidas pelo casal Remo/Lílian devo lembrar que ele não irá, de fato, se concretizar. Sabemos que Lílian forma par com Tiago, não com Lupin. Portanto, me esforçarei para separar os “pretendentes a casal” neste ano. Embora isto não queira dizer que eu vá conseguir...
# Para as fãs de Sirius Black: ele não conseguiu se comunicar com a Francy durante o verão. Embora mandasse inúmeras cartas para a garota, ela não respondeu a nenhuma. Confiram o desenrolar desta história nos próximos contos.
Bem, é isso! Espero que tenham gostado deste episódio e que comentem-no! Em breve, segundo conto da terceira temporada!
Um abraço.
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