Amizade...




Feriado. Fazia uma agradável manhã de terça-feira. Draco estava sentado sozinho à mesa da Sonserina, por volta de umas dez horas.
O Salão Principal estava vazio. Fora o único local que ele encontrara para ter um pouco de sossego, sem ninguém perguntando por que ele estava tão quieto, ou os suspiros das meninas do primeiro ano, que pareciam adorá-lo de uma forma gozada.
Não estava se reconhecendo. Desde o começo: a história da capa na biblioteca parecia vir de outro planeta! Parecia Ter acontecido com outra pessoa, um desconhecido. Parecia uma história a qual ele assistia de longe.
Normalmente, ele dormiria o mais sereno dos sonos, mesmo com alguém congelando a seu lado.
Mas o fato era que ele nunca tinha lidado com pessoas do tipo de Gina: especiais. Ela era especial! Draco não sabia como poderia saber isso, mas Gina era especial. Era, e ponto final.
Ela o deixara um pouco desnorteado, é verdade. Ver a pequena Weasley se transformar naquela garota bonita (porque sem dúvida, não havia como negar que de uns tempos para lá ela tinha se transformado totalmente.) e madura causara um choque nele.
E o peito de Draco era consumido de uma alegria que vinha de dentro para fora quando parava para refletir sobre o que tinha feito há uma semana atrás. Ele desculpou-se. Uma coisa que nunca havia feito em toda sua vida!
E o mais intrigante era que ele desculpara-se com Gina porque sentira vontade de fazer isso. Ela irradiava uma certa pureza, uma inocência, as quais ele não resistira. Sem pensar muito no que estava fazendo, ao ver Gina nos jardins pela janela, ele simplesmente desceu e falou o que estava sentindo.
E agora estava ali, sozinho, dando-se conta de que uma semana já se passara.
E não houvera resposta de Gina.
Então, do mesmo jeito que decidira desculpar-se, o rapaz decidiu falar com a menina no almoço, para saber o que ela decidira.
Penosamente, ele rendera-se a si mesmo, e admitira que o que realmente queria era uma aproximação. Queria a amizade dela, queria conviver com uma pessoa assim, tão especial. E começara tentando redimir-se de tudo o que fizera, de todas as vezes que a magoara.
Ao pensar sobre isso, Draco sentiu seu estômago despencar. Estava realmente nervoso, preocupado com o que Gina diria. A possibilidade de ela deixar-se mover pelo rancor o corroía por dentro, e o rapaz sabia que não agüentaria muito mais tempo sem saber o que ela pensava dele depois de tudo que acontecera.
**

Meio-dia. Gina desceu de seu dormitório para ir ao Salão Principal, para almoçar e encontrou Harry, que ainda parecia extremamente constrangido, Rony e Hermione na Sala Comunal.
Então, os quatro desceram juntos.
Ao chegarem no Salão, sentaram um ao lado do outro, sem notar Draco, que os acompanhava com o olhar, como uma raposa fugaz.
Quase não conseguia conter a ansiedade dentro de seu peito, mas sabia que aquela não era a hora apropriada para conversar com Gina.
Na verdade, ele não dava a mínima para a presença de Potter, Weasley, e muito menos da Sangue-Ruim. Mas sabia que causaria sérias complicações a Gina expondo-a de tal maneira, e por isso, achou melhor esperar um momento oportuno, quando ela estivesse sozinha.
O "Trio Parada Dura" levantou. Gina fez menção de levantar para acompanhá-los, seja lá onde estivessem indo. Mas Rony falou alguma coisa, ao que a menina fez uma cara de despontada, a qual Rony pareceu não notar, e sentou-se novamente, sozinha.
Draco seguiu os três com o olhar. Toda a aversão que sempre sentira por Harry faiscava agora em seus olhos cinzentos, misturados com uma tremenda irritação. Sabia que não era ninguém para julgar a atitude deles, várias vezes já fizera coisas piores, mas ele pelo menos arrependera-se, tentara se redimir.
Mas eles, não. Parecia que O Menino que Sobreviveu e seus fiéis puxa-sacos estavam muito acima de reles pedidos de desculpas à uma menininha e sua paixão infantil.
O rapaz estava imaginando as mais mirabolantes cenas de torturas, quando sua linha de raciocínio foi interrompida por Crabbe e Goyle, que derrubavam suco de abóbora por cima dele.
Por sorte, isso aconteceu no exato momento em que Gina, ainda sozinha, levantava-se da mesa da Grifinória e dirigia-se às portas do Grande Salão.
Com um gesto brusco e sem uma única palavra, ele foi atrás da menina, ignorando o mar de perguntas de Crabbe e Goyle sobre onde ele estava indo ou quando voltava.
Tudo parecia estar a seu favor, pois, ao sair do Salão, encontrou o Saguão de entrada deserto, a não ser por Gina, que encaminhava-se à escadaria de mármore.
- Gina?- ele correu na direção dela.
A menina virou-se para saber quem a chamava, e pareceu primeiro um pouco surpresa por ser ele, depois um pouco aliviada por não Ter mais ninguém por perto.
- Oi, Draco.
- Surpresa em me ver?- Draco não sentia mais a saliva descendo por sua garganta.
- Honestamente, você era a última pessoa que eu esperaria ver agora, aqui...
- Eu precisava falar com você, mas achei que não seria bom que todos nos vissem juntos. Para você, eu digo. Sei que os seus irmãos me odeiam, sem falar no Potter e na Granger...
- Realmente, foi prudente da sua parte. Eu iria me complicar com meus irmãos... não que eu tenha medo deles, mas... você entende. Mas eu volto a te dizer que o Harry não mais nada a ver com a minha vida. Aliás, acho que nunca teve. E sobre Hermione, detesto dizer isso, mas você tem razão, ela não gosta muito de você. Ela é minha amiga, e a opinião dela conta muito pra mim, mas não é por causa disso que deixarei que ela escolha os meus amigos.
Gina sentiu-se extremamente estúpida ao fazer todo esse discurso. Ela não devia explicação alguma a Malfoy, mas aquilo simplesmente saiu. Estava cansada de ser vista como a garotinha pequena e frágil, a superprotegida pelos irmãos, pelos amigos dos irmãos, pela amiga dos irmãos... chega! Isso tinha que acabar.
- Eu não quis insinuar nada disso, apenas pensei que...
- Não, por favor, não fique pensando que interpretei mal o que você falou. Eu entendi perfeitamente, mas... ah, sei lá por que eu disse isso... delete isso da memória...
Draco deu um sorrisinho divertido, o que fez com que Gina se sentisse um pouco melhor também. Pelo menos ele não pensava que ela era estúpida.
- Eu deleto. Mas... - aqui, ele teve certeza de que Gina daria um tapa na sua cara, mas não podia fazer mais nada. Terminaria o que começara. - o verdadeiro motivo pelo qual eu vim atrás de você é que... bom, você lembra quando eu te pedi desculpas por tudo o que fiz e coisa e tal, e você disse que precisava colocar seus pensamentos em ordem, e coisa e tal. Bem... não sei.. eu não quero parecer chato ou insistente, mas... será que você já pode me responder? Eu realmente gostaria que você me desculpasse, mas sei que tudo o que eu fiz anteriormente não serão coisas fáceis de perdoar, e eu entenderei se você...
- Draco. Calma.- ela tinha um sorriso divertido no rosto. Parecia estar achando sua aflição engraçada.- Eu já pensei sobre isso. Realmente, você nunca foi muito cortês comigo, e sinceramente, não sei se conseguirei perdoar tudo aquilo.
- Eu entendo.- ele ficou visivelmente desapontado.- Mas quero que você saiba que...
- Calma. Ainda não terminei. Acho que não conseguirei perdoar o que você fez. Mas posso tentar esquecer, se você estiver realmente disposto a ser meu amigo.
O rosto de Draco iluminou-se, e ela identificou sinceridade nos olhos dele. Desta vez, ele estava sendo verdadeiro.
- Acredite, eu estou.
- Mas ainda tem uma coisa: espero que você não se importe, mas eu gostaria de manter nossa amizade... como posso dizer...
- Em segredo? Eu entendo perfeitamente.
- Ah! Que bom! Na verdade, "segredo" não era bem a palavra que eu estava procurando, mas você captou a mensagem.
Draco deu outro sorriso. Os dois ficaram ali se olhando. Enormemente constrangidos. Não sabiam o que dizer, o que fazer, não sabiam nada!
Então, Gina achou melhor acabar com aquilo de uma vez, antes que a situação ficasse ainda mais constrangedora para ambos, se é que isso seria possível.
- Bem... eu vou subindo. Tenho umas coisas para arrumar.
- Então... até mais tarde...
- Até mais tarde, Draco.- ela estava sorrindo abertamente. Para Draco Malfoy. Nunca pensara que isso de fato acontecesse algum dia, mas estava acontecendo. E ela estava muito feliz por terem tido aquela breve conversa.
Agora eram amigos. Ela gostava da sensação de não Ter que odiar alguém pelo seu sobrenome. Bem, na verdade, nada mudara. Ela deveria odiar Draco, pois ele era um Malfoy e ela era uma Weasley. Mas estava decidida a quebrar a corrente que a prendia a esse tipo de preconceito, o qual ela na verdade nunca tivera, fora mais uma coisa imposta por sua família.
Toda a raiva que sentia por Draco era decorrente das provocações e brincadeiras de mau gosto, mas agora que o rapaz havia se redimido, não havia mais motivo para nutrir esse sentimento por ele.
Agora, caberia ao tempo decidir qual o sentimento que Gina dedicaria a Draco. E o tempo prometia ser breve.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.