Pensamentos
Dia seguinte. Aula de Transfiguração. A Profª McGonagall falava sobre transfiguração de insetos em alguma outra coisa, a qual Gina não escutara o nome antes de adormecer.
Transfiguração não era a sua aula favorita, e o fato de não Ter terminado a redação de História da Magia no prazo dado, fez com que ela passasse uma noite em claro para sua nota não sofrer um "abate".
Meio dormindo, mas ainda assim lutando contra o sono, tudo o que ocupava sua mente era nada menos que Draco Malfoy.
Gina nunca parara para pensar sobre Malfoy. Ele sempre fora o garoto insuportável ao qual ela deveria odiar incondicionalmente, mas Gina simplesmente não entendia mais nada, não sabia mais o que pensar.
E Malfoy era definitivamente aquele tipo de pessoa que você não consegue imaginar fazendo coisas como escovando os dentes, tomando banho, indo ao banheiro, sentindo frio, e esse tipo de coisas.
Mas o que a chocava ainda mais fora a atitude delicada dele para com ela. Oferecer a capa! Aquilo não deixava seus pensamentos. Não sabia explicar o que estava sentindo, mas era alguma coisa muito próxima de surpresa, em um misto com uma admiração, que ela não queria admitir para si mesma que sentia.
Rendendo-se finalmente ao sono, Gina pôde descansar, pelo menos até a Profª McGonagall interromper o seu cochilo e expulsá-la da sala.
Normalmente, a menina ficaria realmente preocupada por Ter perdido dez pontoa para a Grifinória, além de ser expulsa da aula e Ter seus deveres para a próxima semana dobrados.
Mas sua cabeça estava tomada por um rapaz louro a alto da Sonserina, sem lugar para deveres.
Sim, por mais que ela odiasse admitir, não podia ficar fugindo de seus sentimentos para sempre. Agora, ela admitia para si mesma que naquela noite na biblioteca, Malfoy fora extremamente agradável! Admitia que o gesto dele mexera com ela de tal forma que ela se viu obrigada a agir da mesma foram; e gostar disso. Admitia que não conseguia parar de pensar nele, por mais que quisesse. E admitia que não queria. Não sabia porque, mas não queria Ter de parar de pensar nele.
Uma forte simpatia por Malfoy que, quem sabe, possa se transformar em amizade, florescera nela. E Gina se sentia leve, feliz. Nunca havia sentido isso por ninguém. E sabia que Malfoy era um garoto diferente. Não poderia dizer em qual sentido, mas sem sombra de dúvida, ele tinha alguma coisa diferente dos outros, principalmente dos outros sonserinos, uma coisa que ela sabia que só descobriria se se aproximasse dele.
Ela não estava reconhecendo a si mesma. Onde estava com a cabeça? Pensar isso de Draco Malfoy? Deixá-lo ocupar sua mente daquele jeito, simplesmente não era Gina Weasley, não podia ser ela!
A menina balançou a cabeça, e tentou afastar tudo isso. Afinal, não adiantava ficar pensando desse jeito sobre o tipo de pessoa que ele era. Malfoy nunca mudara. Ele sempre fora desse jeito. Tanto que foi extremamente rude quando deixaram a biblioteca. aquele, sim, era Draco Malfoy. Na biblioteca, tu do o que Gina vira fora apenas um outro lado do rapaz, um lado bom, mas que ele insistia em esconder. E ainda, se ele preferia esconder, pelo menos dela, era porque queria que ela tão longe quanto humanamente possível.
Absorta em seus pensamentos, ela rumou para o Salão Comunal da Grifinória, e decidiu tirar o resto do dia de folga. Não tinha vontade nenhuma de assistir a uma aula dupla de Poções.
**
Era uma ensolarada tarde de Domingo. O clima era agradável, e anunciava a entrada da primavera.
Gina achou que aquela tarde era uma boa oportunidade para terminar seus deveres de Transfiguração, duplicados por causa do cochilo fora de hora.
Então, por volta das três horas, ela sentou-se confortavelmente à sombra de uma árvore nos jardins, com uma vista privilegiada do lago e dos tentáculos que a lula gigante exibia aleatoriamente.
Cercada por livros abertos, e mergulhada na matéria, Gina nem percebeu que o tempo passara, e acabou por rumar de volta ao castelo no início do crepúsculo.
Caminhando lentamente, sem absolutamente nada em sua mente a não ser a doce sensação de alívio por Ter finalmente terminado suas lições, Gina começou a ouvir o farfalhar da grama atrás de si, o que indicava que alguém tentava alcançá-la, a passos rápidos.
Como por instinto, ela virou a fim de saber quem era, para deparar-se com o conteúdo integral de sua mente nos últimos tempos.
- Oi, Weasley. Eu estava um pouco atrás de você, e vi que você deixou cair um livro enquanto caminhava.- ele estendeu um livro grosso de capa vermelha na direção dela.
- Obrigada. É o meu livro de Transfiguração. Que bom que você o achou. Realmente, não sei o que a McGonagall faria se eu aparecesse na aula sem o livro, depois de Ter ganhado uma carga dupla de deveres...
- Carga dupla?- ele agora acompanhava o passo lento dela, rumo ao castelo.- Tenho que concordar, é tão ruim quanto um espírito agourento. Mas o que você andou fazendo nas aulas dela?
Então, Gina lembrou-se do modo como ele a tratara quando saíram da biblioteca. Aquilo subiu à cabeça dela, e o que saiu de sua boca, foi:
- Ora, Malfoy! Estou realmente chocada! Você deixou bem claro aquele dia, saindo da biblioteca, que gostaria de manter-se o mais longe possível de mim... Por que esse súbito interesse sobre o que eu faço ou deixo de fazer nas aulas da McGonagall?
- Calma, Weasley! Eu só perguntei o que você fez para merecer uma carga dupla de deveres! Mas agora eu vejo a razão. Sabe, não deve ser fácil Ter que te agüentar por uma aula inteira!
- E o que você veio fazer aqui afinal de contas? Devolver o meu livro? Pois bem: já devolveu, e eu já agradeci, agora acho que você já pode ir!
Malfoy suspirou, como se estivesse contendo alguma resposta rude a grosseira.
- Certo! Você venceu! Na verdade, além da eventualidade do livro, eu já estava planejando vir atrás de você. acho que nós precisamos conversar. - e acrescentou, antes que ela pudesse perguntar qual era o assunto:- Eu andei refletindo sobre algumas coisas, e concordo com você: eu não agi bem aquele dia. Fui extremamente grosseiro, sem razão nenhuma. E devo desculpas.
Gina encarou-o de volta, incrédula. Não era possível! Alguém o estava controlando, ou alguma coisa do gênero! Ouvir essas coisas, da boca de Draco Malfoy, não era natural! Simplesmente não era!
- E então? Ainda estou esperando uma resposta. Você aceita o meu pedido de desculpas?
Gina ficou bastante sem graça. Não estava acostumada a passar por situações como aquela. E ainda por cima, sendo o cara que a surpreendera há pouco mais de uma semana e que não deixava seus pensamentos em paz desde então.
Ela não sabia direito o que dizer, nada vinha à sua cabeça, e ela sentia um friozinho na boca do estômago que não conseguia controlar.
- Sinceramente, Malfoy, eu não sei. ainda tenho que pensar sobre isso, porque... porque... ah! Porque nada! Esqueça que eu disse esse "porque". O importante é que eu ainda não sei. Ainda preciso pensar.
- Eu entendo. Acho que eu faria a mesma coisa no seu lugar. Mas só queria dizer que eu realmente sinto muito por tudo o que eu falei. Nãos ei de onde aquelas palavras vieram. Não era a minha intenção ser grosso com você.
- Pelo menos, não dessa vez.- Gina sentiu-se tão grossa quanto ele fora ao dizer isso, ma não pôde evitar. Era o que estava sentindo, e parecia que Malfoy havia inaugurado a Seção Sentimentalismo do dia.
Ele suspirou. Gina não soube identificar o que o semblante dele expressava, mas sabia que ele não estava confortável na posição em que ela própria o colocara.
Mas então, lembrou-se de todas as vezes que Malfoy fora maldoso, no mínimo, com ela e toda sua família. Nenhum Weasley morreu por causa disso, e certamente Malfoy também não morreria.
- Olha, Weasley, eu sei que as minhas atitudes são arrogantes de vez em quando. Tá bom, na maioria das vezes eu sou arrogante. Eu sei que não tenho razão alguma para tudo isso, mas... esqueça. Nem eu mesmo sei o que acontece comigo... o importante é que eu quero me redimir com você por tudo o que eu fiz.
Gina não sabia o que dizer. Cada vez mais, toda a antipatia que nutria por Malfoy se dissipava. Mas ela não podia simplesmente dizer que o desculpava, embora quisesse fazer isso.
Se ele realmente queria se redimir, deveria saber que a fizera sofrer, e que não seria tão fácil assim passar por cima de tudo isso.
- Por quê?
- Como?
- Por que você está fazendo isso? De um jeito tão súbito. Aconteceu alguma coisa. Aconteceu, não foi?
- Não me pergunte. Nem eu mesmo sei. Apenas senti, de alguma forma, que era a coisa certa a fazer.
- Mas por que eu? Quero dizer, é claro que você fez coisas ruins pra mim, mas não deveria desculpar-se com Harry também?
O rapaz aborreceu-se à menção do nome de Harry. Gina percebeu, e achou que tinha excedido, sem querer, os limites da boa educação.
- Desculpe. Não é da minha conta. Eu não tenho mais nada a ver com Harry, de qualquer maneira.
- Não há porque se desculpar. Acredite, eu responderia, se meus pensamentos estivessem em ordem e se eu entendesse o que estou fazendo. Como você mesma disse, não pareço eu.
Gina deu um meio sorriso.
- Malfoy, eu realmente...
- Draco.
- Como?
- Me chame de Draco. - disse o rapaz, sem olhar para ela.
Gina ficou um pouco mais desconcertada do que já estava durante toda a conversa, e em seguida acrescentou, simplesmente:
- Gina.
Dessa vez, Malfoy olhou-a, parecendo satisfeito.
- Gina. - ele concordou com um aceno de cabeça.
Nenhum dos dois soube mais o que dizer, e seguiram a caminhada em direção ao castelo lado a lado.
- Bem- disse Draco, parecendo também desconcertado. -, eu vou subindo. Ainda tenho umas coisas pra fazer para a aula de amanhã.
- Tudo bem.
- Até logo, Gina.
- Até logo, Draco.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!