A conversa com Jane K'artier
Harry resolveu caminhar um pouco. Respirar um pouco de ar puro. Fazia tempo que não andava pela ruas.
Ao passar pelo muro de sua casa, ficou imaginando quem estaria ali invisível, vigiando-o. Bem que eles podiam uma vez ou outra aperecer pra conversar um pouco.
Harry pulou o portão do parque, e sentou-se num banco de cimento. O balanço que se sentara da última vez, no ano passado, já havia sido quebrado por Duda e seus amigos.
-Posso sentar aqui?
Harry virou a cabeça lentamente para o lado.
Jane estava parada alí, sorrindo para ele.
-Hum... Oi. Claro, claro... Pode. - E Jane sentou-se ao seu lado.
-Então, vai a festa? - perguntou ela.
Harry evitou encarar a garota
-Ah...
Mas ela não deixou ele acabar:
-O Duda não parecia muito feliz com a idéia de você ir, não é?
-É, a gente não de dá muito bem.
Harry olhou para ela. Jane tinha colocado as pernas em cima do banco, e abraçava os joelhos com as mãos. Olhava pra cima, fazendo com que o sol refletisse em seus olhos claros.
E ainda enquanto a garota olhava para sol, ela falou sorrindo:
-Eu e meus primos nos damos muitíssimo bem. Toda vez que a gente se encontra é uma festa.
Harry riu baixinho.
-Quem me dera ser assim. Eu e Duda nos odiamos desde pequenos.
-Jura? - ela virou-se para olhar Harry melhor. - O Duda não parece o tipo de pessoa que odiaria alguém assim...
-Não, não na sua frente.
-Ah, para vai... Tenho certeza de que é exagero seu...
-Não, não é.
Harry esperava a garota revidar, e começar a defender Duda. Olhou então para ela.
Jane mirava com olhar febril cada parte do parque: os balanços pendurados por uma só corrente, a gangorra com o assento de madeira quebrado, o escorrego com os degraus quebrados...
-Parece que passou um furacão aqui não é? - disse ela séria - Ah, mas se eu pegasse alguém fazendo um vandalismo desses... A pessoa ia ter que começar a se explicar muito bem!
Harry sorriu. O que diria Jane se soubesse que quem fazia tudo aquilo era o querido namorado dela e sua fiel gangue?
-O que foi?
Harry virou-se e notou que Jane o observava.
-Ah... Não é nada... - ele parou de sorrir e tentou fazer uma cara séria.
-Claro que é alguma coisa. Quando eu falei do lamentável estado do parque, você começou a sorrir e...
-Bom, eu estava só imaginando sua reação quando soubesse.
-Soubesse de que?
-Que quem faz tudo isso é seu namorado e sua fiel gangue.. - disse Harry sem olhar pra ela - Ha um bom tempo que eles chegam destruindo brinquedos e batendo em crianças de 10 anos ou coisa do tipo...
-Meu namorado? Do que está falando?
Harry encarou Jane, que parecia tão surpresa quanto ele.
-O Duda... Ele não é seu namorado? - perguntou o garoto confuso.
-O Duda? - ela pareceu duas vezes mais confusa que ele - Não, não é. Não tenho namorado.
-Bom, o Duda anda dizendo lá em casa que você é a namorada dele.
Jane formou uma expressão extranha em seu rosto como se quisesse rir.
-Ah... Bom, não sei o que deu nele pra sair falando isso... Mas com certeza é história dele. Eu apenas estudo na mesma sala dele, e agora me mudei pra cá, e...
Harry olhou para Jane, e viu que a garota corara.
Mas antes que ela pudesse continuar, mudara repentinamente de assunto:
-Você tem notado essas mortes estranhas, Harry?
-Sim, tenho - respondeu o garoto sério - estão acontecendo por toda parte.
-Foi por isso que me mudei. Porque lá no bairro onde eu morava, muita gente já tinha morrido assim.. Do nada. Então, minha mãe ficou com medo e resolveu vir pra cá, onde pelo que sabemos, ainda não ocorreu nenhum acidente do tipo.
-É. - disse Harry desconfortável - Temos realmente muita sorte.
-O que você acha que pode estar causando isso?
-Não sei. Não faço a mínima idéia.
A garota deu um sorrisinho estranho
-Minha irmã está achando que podem ser bruxos.
Harry que estava encarando os balanços, deu olhada rápida na garota, e depois voltou a se concentrar novamente nos balanços.
-Bruxos? Sua irmã... Hum.. Acredita na existência bruxos? - perguntou Harry tentando parecer intrigado
-Ela diz que é a única explicação. Mas sabe que eles não existem, por isso fala essas coisas só por falar. Porque você acredita em bruxos ou seres de um outro mundo?
-Ah... Não sei.
-Ora, Harry... Se você acreditar, as pessoas vão começar a pensar outras coisas...
Harry forçou um sorriso
-Me diga uma coisa, Jane. Se você descobrisse que bruxos realmente existem, qual seria sua reação?
-Ah, não sei. Acho que ficaria com medo. Ou talvez... Um pouco assustada.
Harry franziu a testa
-Mas... Porque, Harry? Você não sentiria medo?
-É, acho que sim.
Ele voltou a olhar para Jane. Ela também olhava pra ele.
-Mas acho que essa hipótese pode ser descartada, não é?
-A de existirem bruxos? - perguntou Harry
-É
-Acho que sim. Na verdade pode ser apenas uma onda de suicídio ou coisa do tipo...
-Suicídio, Harry? - a garota olhava pra ele agora como se ele estivesse ficado louco - Você não está falando coisa com coisa, sabe... Talvez não tenha visto no noticiário, mas essas mortes não são suicídio, envenenamento, assassinato, doença, enforcamento, nem nada do tipo. A única explicação, talvez, seja morte de velhice, morte por causas naturais, eu quero dizer. Só que ainda semana passada morreu uma criança de 6 anos. E isso não faz sentido.
Veio então a Harry, o pensamento de como devia ser a vida dos trouxas agora. Porque pelo menos, os bruxos sabiam o que estava acontecendo. E os trouxas não tinham nem se quer uma dica dessas mortes.
-É.. é realmente intrigante - concordou Harry
-Sabe, Harry.. - suspirou Jane - Às vezes eu fico com medo até de dormir, achando que isso pode acontecer comigo... Ou com alguém da minha família..
-É normal, Jane. - disse Harry - E quanto mais otimista você for, melhor será. Lembre-se disso.
Ela tentou sorrir
-Certo. Eu vou pra casa, ajudar nos preparativos da festa
E ela saiu do parque.
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