O Quebra Cabeça Russo
Capítulo Sete – O Quebra Cabeça Russo
I’m a weirdo
What the hell am I doing here?
I don’t belong here…
She’s running out the door
She’s running…
She run, run, run run, run…
Ela estava sentada no chão, pensando. Começou a fazer desenhos no chão com a varinha, frustrada. E se ela usasse seu patrono para enviar uma mensagem a Dan? Ah... Seria perfeito se ela soubesse onde ele estava, e se sua magia não estivesse bloqueada.
Primeiro: Harry vencera Voldemort, e isso já parecia ter sido há muito tempo; ela despertara da maldição, e figura para a conferência na Rússia por imaginar que a maldição poderia atingir Rony, se ela ficasse com ele. Quarto: Dan Strotski, irmão de seu intérprete Nicolai, a alertava num tom urgente demais sobre qualquer coisa que estivesse sendo armada secretamente, e ele nem mesmo tinha suspeitos. Então a conferência chegava, e Rony vinha atrás dela; com isso ela tinha outra daquelas imersões assustadoras que ela começara a ligar ao ruivo...
Então Rony era confundido com um homem dos noruegueses, Hawstings e van Pels. E então Rony e ela se beijavam... Ops, aquilo não devia ser importante para os acontecimentos... O caso era: depois daquilo ela o evitara e saíra para dar um inocente passeio por Moscou, para acabar se descobrindo vítima de algum tipo novo de seqüestro.
Muito bem, ela tinha um resumo admirável dos últimos tempos. Restava saber o que aconteceria naquele momento... A bruxa se sentou no colchonete que tentava imitar uma cama decente.
De súbito, um pedaço de madeira sólida se destacou, denunciando os contornos de uma porta; Hermione mal teve tempo de levar a mão ao chão para pegar sua varinha...
-Expelliarmus!
Um jato vermelho e ela viu sua única arma voando longe de seu alcance. A voz que pronunciara o feitiço era ao mesmo tempo surpreendente e previsível.
-Srta. Granger. – disse Hawstings, com a maior calma do mundo. – Pena que tenhamos que chegar a isto. Nós andamos observando-a faz algum tempo, mas não imaginamos que fosse ter a ousadia de nos dar algum trabalho.
Hermione não respondeu. Já conhecia bem a conversa de um vilão se sentindo por cima para pagar de heroína capturada e inconformada.
-Sabe de uma coisa – Hawstings acenou com sua varinha e porta fechou-se atrás dele, escondendo mais uma vez os montes nevados que cercavam a cabana. – Tivemos algum trabalho com o seu caso. Você sabe, não há nada mais desgastante do que capturar um militante da Ordem da Fênix... Vocês costumavam ser muito escorregadios, na época da guerra.
Hermione franziu a testa. Certo, ela não estava diante de um Comensal da Morte. Ele agia muito calmamente para ser um deles. Mas mesmo assim, ele sabia o que era a Ordem e que ela fora parte disso, informação que já poderia deixar qualquer um desconfortável.
-Já viu um Yet na vida, Srta. Granger? – Hawstings perguntou, erguendo uma sobrancelha, sem realmente esperar resposta. – Sim, foi o que eu pensei... – o bruxo fez uma pausa brusca e olhou para o relógio. – Estou fazendo essa pequena introdução porque estamos esperando a chegada de um amigo meu... Então começaremos a experiência.
Ela engoliu em seco. Já que tinha algum tempo a seu favor, o jeito era fazer as perguntas de praxe.
-Quem são vocês?
Hawstings gargalhou com gosto, divertindo-se com a expressão fechada de Hermione, que tinha os cabelos espessos muito despenteados devido ao tempo gasto gritando e chutando as paredes da cabana.
-Ah, eu estava esperando tão ansiosamente que perguntasse. – com isso o bruxo ergueu a manga das vestes no braço esquerdo, lentamente; Hermione prendeu a respiração, mas não havia Marca Negra alguma ali. O norueguês riu mais ainda, e deixou a roupa cair de volta ao seu lugar. – Não, só quis pregar um pequeno susto. Não sou um antigo inimigo seu; não me tome por idiota. Srta. Granger, somos inteligentes demais para nos envolver com planos de purificação da raça bruxa, ou de dominação do mundo. Inclusive, nós dois até compartilhamos isso... Eu nasci trouxa, Srta. Granger.
Ela esperou, lançando um olhar saudoso para sua varinha. Hawstings convocou-a ao vê-la e começou a rodar a fina arma entre os dedos, como um malabares.
-Não se preocupe, isso não será necessário. Mas onde eu estava? Ah sim... Silverts está muito atrasado, não concorda? Muito bem. Sinto que a hora do suspense acabou... Somos um tipo de mercenários. Pertencemos ao mercado negro, e estamos trabalhando para alguns camaradas muito interessados em filtrar magia negra, ou se proteger dela.
Hermione respirou fundo.
... estudos qualificados apontam o potencial dos Yets para funções curativas ou até filtração de energias como a magia negra...
Ela quis se bater naquele momento; o próprio Hawstings lhe dera a dica no dia da conferência!
-Sim, eu sei. Por que bruxos das trevas gostariam de se proteger da própria magia?
-Você não sabe de nada. – retorquiu ela, começando a ficar irritada com tamanha presunção.
-Eu sei, com toda a certeza. Mas veja...
Hawstings se virou, num movimento curto, mantendo a varinha de Hermione muito junta ao corpo dela; a porta começou a se delinear mais uma vez na parede de madeira, e ela resolveu tentar a sorte. Levantou-se de um pulo e lançou-se na direção do bruxo magricelo, mas um jato de luz verde a lançou num arco contra a parede atrás de si. Hermione bateu as costas com um baque dolorido, e ao cair sobre os joelhos frouxos, lançou um olhar ferido a quem a enfeitiçara.
Era ruivo, alto e magro; ela teve que piscar e olhar de novo.
*-*-*-*-*-*-*
-Você tem que se lembrar de alguma coisa! – Dan exclamava para Rony, irado, dando voltas nervosas no saguão do Hotel Gaarder.
Rony passou uma mão pelo cabelo, que ficou em pior posição do que antes, despontado e curvado. Nicolai e Carlinhos estavam sentados num sofá bege e duro, enquanto Dan ia e voltava com uma expressão fechada, e Malfoy estava parado diante do portão para a rua, como se não pudesse ouvir a discussão. Rony se apoiou na parede. Não adiantava! Quanto mais ele se esforçava, pior ficava sua dor de cabeça recém-chegada. Não conseguia, e Dan Strostki não estava melhorando as coisas com sua atitude.
-Eu já tentei, certo? – retorquiu ele, sem se preocupar em esconder o mau humor. – Não posso!
-Isso é ridículo – desabafou Carlinhos. – Nós sabemos que Feitiços de Memória são reversíveis... Você tem certeza de que não sabe como fazer, Dan?
-Não, claro que não sei – Dan respondeu, sem parar de andar em círculos. – Certo, Rony, fale de novo qual foi a última coisa da qual você se lembra.
-Eu já cansei de explicar. – Rony resmungou, em tom monótono. – Eu usei o Feitiço da Desilusão, depois me escondi atrás das cortinas, quando os dois estavam entrando. Depois mais nada.
-Ei, Malfoy – Carlinhos chamou. Malfoy se virou lentamente, sem a menor pressa, e encarou o ruivo mais velho. – Você sabe desfazer um Obliviate, não sabe?
Malfoy suspirou, depois deu de ombros.
-A tortura era o meu encargo na maioria das vezes. – resmungou. – Quem desfazia esse tipo de feitiço nos reféns era Zabini.
Rony encarou Malfoy, refletindo. Se ele tivesse sido um Comensal da Morte, não falaria daquilo com aquela tranqüilidade. Mas claro, um Weasley nunca se tornaria um Comensal. Ainda mais um Weasley criado por Arthur e Molly. Será que um dia eles haviam sido convocados para seguirem Voldemort? Afinal, ambos eram sangues puros. E Rony não podia negar que fossem bruxos bons... Em algum momento talvez seus pais tivessem negado lealdade a Voldemort, o que o enchia de orgulho. Ao menos aquilo ele sabia que também faria, se um dia ele tivesse tido importância para o bruxo das trevas. Ele também teria dito não.
Ele deu dois passos para o lado, tentando forçar a mente, e levou uma mão aos bolsos, instintivamente.
E ali encontrou papéis.
-Sr. Weasley! – exclamou Nicolai, muito interessado, ao ver Rony tirando as folhas de sua capa com um ânimo renovado.
Dan, Carlinhos e Malfoy voltaram-se para ele como se fossem um só; Rony fitou as cópias das folhas, sentindo-se muito mais leve.
-Isto aqui – ele começou, um sorriso invadindo seu rosto. – são cópias de papéis que encontrei no escritório de Hawstings e van Pels... Não acredito que eles deixaram...
-Dê isso aqui – sibilou Dan rispidamente, tomando os papéis da mão de Rony e examinando-os apressadamente.
-Ei, o que você pensa que...
-NICOLAI! – exclamou Dan, virando-se para o irmão e ignorando Rony. – São os símbolos celtas! Aqueles sobre os quais você ia fazer seu ensaio para a revista... Fiquem todos aqui, agora! – virou-se para Rony, apressado. – Isso será muito útil, Rony, obrigado. Só preciso buscar alguém...
E subiu as escadas a passos rápidos.
Carlinhos se debruçara sobre Nicolai, enquanto o rapaz empurrava o óculos para cima e se punha a ler os símbolos.
-Isso é código comercial... – resmungou Nicolai, vendo as primeiras linhas. Carlinhos assentiu.
-Eu sei. No mercado negro romeno alguns gostam de usar coisa parecida para nos despistar.
Mas Rony estava mais uma vez parado, e seu olhar recaiu sobre Malfoy, que por sua vez encarava a porta da recepção deserta.
-Vai ficar aí parado, não é, Weasley...? – provocou ele, sem olhar Rony diretamente. – Qualquer um sabe que esse Dan está indo é alertar os noruegueses.
Rony ouriçou-se todo; Malfoy concordava que Dan não era confiável! Sacou a varinha instintivamente e virou-se para a escadaria por onde Dan desaparecera. Com um último relance para o rosto indiferente de Malfoy, saiu correndo. Nem ouviu seu irmão chamando por ele.
*-*-*-*-*-*
Dan sacou a varinha, num dos corredores do terceiro andar do hotel. Ele deveria estar em qualquer lugar por ali. Já sabia onde Hermione estava... A mensagem dos papéis era importantíssima, mas ele conhecia um dos códigos... um asterisco retorcido fechado em meio círculo. Ela só poderia ter sido levada para a única reserva Yet da Rússia.
-Procurando por alguém, Sr. Strostki? – uma voz carregava falou, tão logo seu dono virou um lance de corredores. Seus passos eram lentos, mas a varinha estava diretamente posicionada para Dan.
O bruxo russo encarou van Pels nos olhos. O norueguês tinha a mão suada sobre a varinha e os cabelos desalinhados; com certeza estava fazendo algum trabalho especial para...
-Que bom encontrá-lo, van Pels – ele devolveu, com os lábios contraídos. – Diga-me, já encontrou a Srta. Granger esta tarde? Tenho razões para crer que anda em companhia de seu colega Hawstings...
-Sinto que deveria perguntar quais são essas razões, Strostki, mas... – van Pels ergueu a varinha. – Estupefaça!
-Protego! – Dan defendeu-se depois esquivou-se de outro feitiço. Aquele gordo estava maluco? Duelar no corredor de um hotel TROUXA? – Petrificus Totalus!
-Oh, eu peço que não me subestime! – van Pels disse, tão logo bloqueou o feitiço de Dan. – Conheço alguns feitiços muito mais interessantes do que este... Vassilis!
Dan conjurou um Feitiço Escudo, mas o jato de luz azul perfurou-o e atingiu-o em cheio na boa do estômago; Dan foi jogado para trás, sem fôlego, para aterrissar de costas no chão. O homem girou para um lado porque outro feitiço já vinha em sua direção; mas foi de repente empurrado contra a parede por uma mão muito mais forte do que ele.
-Estupefaça! – gritou Rony, e van Pels se protegeu de seu feitiço. Dan caiu mais uma vez de costas, desta vez contra a parede, mas se levantou e apontou a varinha para van Pels.
-Certo, van Pels, somos dois contra um. – ele ponderou, e o norueguês pareceu hesitar brevemente. – Por isso seja inteligente e nos diga onde Hawstings está... E onde Hermione está.
Rony assentiu de expressão fechada, mas ainda se sentia incomodado de ouvir o nome de Mione na boca de outro...
Van Pels respirou fundo, encarou Dan por um momento demorado e ergueu a varinha. Como ele não disse nada, Dan ficou imóvel; mas Rony de repente se jogou no ar e puxou mais uma vez o russo, e talvez ele tenha se aproveitado um pouco para dar uma boa cotovelada nas costas de Dan... Mas diabos, ele estava salvando-o, podia se dar a esse luxo. O raio de luz verde saído da varinha de van Pels passou direto e os dois perceberam afinal que o norueguês não queria conversa.
Por alguns minutos os feitiços explodiram pelo corredor; nenhum trouxa apareceu, o que alarmou Rony mais ainda; e se fossem antigos Comensais que já tivessem assassinado os trouxas do lugar?
O ruivo esquivou-se e por pouco não perdeu o equilíbrio; van Pels tinha o rosto úmido, embora atirasse feitiços com a habilidade de alguém com anos e anos de treino – em magia suburbana, pelo que parecia. Feitiços esquivos e colunas de fumaça, que Dan e Rony tinham que cortar com Feitiços Sugadores, seguidos de disparos e outras coisas furtivas e não tão destruidoras quanto as Artes das Trevas que Rony já encontrara na guerra.
Afinal, em meio aos feitiços do duelo injusto, Rony viu Dan caindo no chão, cortando uma nuvem de fumaça branca no caminho; Rony mal teve tempo de dá-lo por desacordado que van Pels retomou o ataque. Ele já estava ficando cansado... Precisava de algo diferente... Algum feitiço que ninguém esperasse!
-Vassilis!
Rony jogou-se no chão e girou a varinha:
-Obliviate!
Era meio que uma pequena vingança.
Van Pels ficou sem ação por um segundo que lhe saiu caro: logo seu rosto estava tão inexpressivo quanto uma folha em branco. O norueguês olhou em volta, abobalhado, até que encontrou Rony entre a fumaça que desvanecia.
-Com licença... Estou procurando um lugar, e...
Rony não se permitiu nem uma risadinha, no momento:
-Petrificus Totalus!
Aí sim, começou a rir para si mesmo. Voltou-se para Dan, que estava apagado no chão, com um certo temor incomodando-o. Viera até ali para deixar o próprio Strotski fora de combate... Não confiara nele porque o rapaz estava definitivamente interessado em Hermione.
-Enervate! – o que o ciúme não fazia...
*-*-*-*-*-*-*
-Silverts, já não era sem tempo! – exclamou Hawstings, exasperado, para o ruivo alto que entrara. Aquele não tinha sardas nem olhos azuis, e sim castanhos; também era um pouco curvado, mas tinha até o mesmo nariz longo de Rony. – Estávamos esperando por você. Sabe se van Pels vai demorar muito?
Silverts deu de ombros. Hawstings respirou fundo e se virou mais uma vez para ela.
-Este, Srta. Granger, é o meu amigo que deveria ter aparecido na conferência, em lugar do sujeito que ficou muito nervoso em vê-la caindo no chão... – o norueguês se permitiu um risinho de desdém. – Silverts deveria ter nos trazido uma série de documentos muito importantes. Alguns nos ajudariam a convencer a conferência, inclusive a senhorita, a permitir um envio de Yets para a Noruega... E outros, bem, como prevenção... Alguns encantozinhos muito discretos, que teriam ajudado se mesmo assim vocês não parecessem satisfeitos.
Hermione pensou imediatamente na maldição Imperius. Aquele bruxo não podia estar falando sério!
-Trouxe o animal, Silverts?
O ruivo assentiu, indicando a porta que não desaparecera ainda.
-Ótimo. Venha comigo, Srta. Granger. – Hawstings conjurou cordas que se enrolaram nas costas e na barriga de Hermione. – Achei que seria útil lacrar magicamente a cabana, entende, talvez não acabasse muito interessada na nossa reunião surpresa... Espero que compreenda.
-Mas o que diabos está querendo comigo?
Silverts gargalhou. Hermione fuzilou-o com o olhar, e Hawstings empurrou-a para a frente, na direção da saída.
-Bem, antes disso as orientações. Eu não aconselharia uma fuga a pé, porque estamos, como deve imaginar, em plena Sibéria. Para ser mais preciso, na Reserva Natural dos Yetina da Rússia, a única do mundo, cujas fronteiras já andaram sendo derrubadas pelos animais... Agora, o que queremos? No momento, um mero experimento.
Hermione ergueu uma sobrancelha. Silverts foi até o começo de uma floresta cerrada, caminhando com dificuldade, devido à neve que lhe batia nos joelhos. Hermione, que nem pensara em fugir, estava com os flocos brancos até mais da metade das coxas.
Foi quando Silverts veio voltando, de varinha erguida, arrastando consigo um animal enorme, maior do que uma barraca de camping, que lembrava nitidamente um urso polar, embora seu focinho fosse mais protuberante, e os olhos, azuis. Ele tinha também as patas mais ligeiras, e poderia ter chegado até Hawstings bem mais depressa se quisesse, especialmente se Hawstings fosse um salmão gigante ou coisa do tipo.
Hermione engoliu em seco.
-Acontece que você, Srta. Granger, é uma pessoa amaldiçoada. – disse Hawstings de repente, e ela olhou-o, alarmada. – Ah, sim, nós temos nossos métodos... No submundo, você sempre encontra um amaldiçoado quando quer. Acontece que nós descobrimos que quem impregnou esta maldição é você foi alguém mais... venerável... do que a maioria dos bruxos das trevas. Então nos interessa muito mais.
Silverts parecia ocupado, domando o Yet, que estava cada vez mais nervoso, embora a princípio parecesse apenas aborrecido por ter sido despertado contra a vontade. Depois de ver que ainda tinham tempo de sobra, Hawstings voltou-se de novo para Hermione, pregada na neve e curvada sobre si mesma, tentando computar cada informação; dessa maneira poderia encontrar, quem sabe, uma saída dali. Era só questão de recuperar sua varinha.
-Estamos sendo pagos para isso, não se esqueça. Nossos mandatários querem proteção contra meios altamente nocivos, como muita magia negra concentrada, por motivos que eu desconheço. Nem estou interessado, afinal. Mas o caso é que temos que testar. Será que podia matar logo esse inútil deste Yet de uma vez?
Hermione se endireitou.
-Por que você precisa matar o animal para testá-lo? – inquiriu, involuntariamente olhando para o animal acossado sob a varinha de Silverts.
-Ora, Granger, um Yet nunca escolheria proteger um humano em sã consciência. Sendo assim, temos que arrancar a pele dele à força...
-Já vou – resfolegou Silverts, diante de um Yet cada vez mais nervoso por se desviar dos feitiços.
Hermione encarou Hawstings com energia, aflita com a perspectiva de ver o animal morto, bem na sua frente.
-Existem outros métodos de proteção contra Artes das Trevas! – tentou. – Eu conheço vários, já que...
-Já que lutou na guerra contra o tal Você-Sabe-Quem, eu sei disso. – Hawstings completou, entediado. – Acontece que a pele do Yet não é qualquer tipo de proteção. – mas o norueguês se cansou da conversa e virou-se para Silverts e o Yet, com a varinha erguida.
Mas não completou qualquer que fosse o feitiço que pretendera atirar, pois Hermione jogou-se contra o bruxo; Hawstings gritou, irritado, e o disparo de luz amarela atingiu a copa de uma árvore, que rangeu e logo depois despencou com um ruído poderoso sobre a neve. Hermione tentou pegar a varinha das mãos no norueguês, mas tivera o azar de cair de costas para ele; Hawstings empurrou-a na neve e levitou-a a três metros do chão em seguida.
-Já chega de brincadeira! Você por acaso gosta de ser amaldiçoada, Srta. Granger? Eu estou aqui fazendo o que fui mandando! Tenho que testar essa maldita pele de Yet! Será bom para todos, não consegue compreender? Eu ganho o meu dinheiro e você se livra da maldição!
Silverts aparentemente conseguira ao menos estuporar o Yet, que caiu pesadamente no chão, como se dormisse.
Hermione imaginou o que seria dela se a maldição se fosse.
-Eu... Isso não é certo! – ela decidiu. – Yets estão em extinção! Não podemos usá-los dessa forma, e...
Hawstings passou uma mão pelo rosto, parecendo cansado então, e deu alguns passos na direção de Hermione, até ficar frente a frente com a mulher que ainda era levitada por ele.
-Não vamos fazer mal nenhum, Granger. Apenas colabore, e te deixaremos no Hotel Gaarder antes do final da noite. Com um Feitiço de Memória, é claro, e já teremos voltado para a Noruega amanhã de manhã. Vocês poderão decidir suas leis tranquilamente, pois elas nunca serão cumpridas de verdade.
Hermione franziu a testa.
-Vocês têm que defender a posição de seu país na conferência – ela rebateu. – Vocês não irão embora, eu sei disso...
-Sim, nós iremos. Van Pels e eu somos do Ministério Norueguês, mas podemos preencher alguns relatórios alegando doença, ou qualquer outra coisa. O nosso Ministro não ficará tão decepcionado assim. E o nosso chefe cobrirá tudo... – Hawstings se endireitou, enquanto Silverts se aproximava com dificuldade. – Então, o que me diz, Granger? Que tal colaborar conosco e ainda se livrar da maldição que anda carregando desde o final da guerra?
*-*-*-*-*-*-*-*-*
Carlinhos soltou uma exclamação alta quando viu Rony chegando com Dan apoiado nos ombros dele.
-Diabos, Rony, o que você fez com ele?
-Eu SALVEI a vida dele, Carlinhos. – Rony lançou um olhar rancoroso a Malfoy, que mal se movera. – Tivemos um encontro amigável com van Pels no corredor, e já tenho ele bem aqui – Rony sentou Dan num sofá da entrada e com um aceno de varinha, o grosso bloco humano de van Pels veio flutuando pelo saguão até eles.
-Eu consegui traduzir tudo! – exclamou Nicolai, embora tivesse os olhos preocupados em seu irmão. – Os de cima são documentos forjados; tem anotações aqui indicando a entrega no dia da conferência; eles alegam infra estrutura para o recebimento dos Yets, sem falar de condições de multiplicação da espécie para posterior uso das propriedades mágicas deles... Depois, há uma lista de feitiços. A maioria, de dominação da mente.
-Imperius? – Rony cortou-o, estupefato.
-É uma delas, mas acho que não a usariam de verdade – retorquiu Nicolai. – Tem outros mais leves, mas que usados ao mesmo tempo por dois ou três bruxos, poderiam ter o mesmo estrago... E sem mandar os bruxos para a cadeira, se fossem pegos, porque as proibições desses feitiços novos ainda estão sendo votadas.
-Eu sei pra onde levaram Hermione – balbuciou Dan, enquanto lutava por ar. Ele tinha uma careta de dor, o cabelo grudado e desalinhado e estava curvado sobre si mesmo.
-E PARA ONDE? – Rony berrou, resistindo a pegá-lo uma segunda vez pela gola das vestes.
-Reducto! – ordenou Carlinhos à sua varinha, arrancando uma boa lasca da poltrona onde estava sentado. – Aqui, Dan, você consegue fazer uma Chave de Portal para lá?
-É a Reserva.... na Sibéria...
-A Reverva Natural Yetina! – Nicolai exclamou, levantando-se de pronto e derrubando os papéis. De um só movimento, tomou o pedaço de móvel de Carlinhos e sacou a varinha.
-Alguém terá... que ficar aqui. – murmurou Dan, parecendo melhorar. – Os trouxas do hotel estão todos trancados em seus quartos...
-Mas por quê? – Malfoy não resistiu a perguntar. – O que os trouxas têm a ver com isso?
Rony observou a expressão de Dan se fechar quando ele voltou o olhar para a porta da recepção.
-ESTUPEFAÇA!
Mais uma vez, Rony viu o russo caindo desacordado, e girou sobre os calcanhares apenas para dar de cara com...
-Gaarder?
-Por que fez isso? – Nicolai interrogou inocentemente.
-Porque eu não quero que vocês interrompam meus subordinados... Expelliarmus! – exclamou Gaarder, e as varinhas de Nicolai, Rony e Carlinhos voaram distantes. Rony mal teve tempo de notar o desaparecimento de Malfoy.
O ruivo mais jovem franziu a testa.
-O que o senhor poderia ter a...
Gaarder apontou depressa e ameaçadoramente a varinha para Rony.
-Não seja idiota, moleque – sibilou ele, num tom que até então não usara. – Hawstings e van Pels estão trabalhando a meu mando. Por pouco não chego a tempo, não?
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