Mente Vazia



Adeus ou Tchau


Capítulo Seis – Mente Vazia

I want you to notice
When I’m not around
You’re so fucking special
I wish I was special



Puxa, ela acabaria se acostumando com aquela coisa de se jogar na cama do Hotel Gaarder, refletiu Hermione consigo mesma. Só não imaginara que poderia fazer aquilo para lembrar de Rony atravessando o mundo atrás dela só porque estava preocupado com ela.
Até mesmo depois que conseguira despistá-lo e achava que poderia ter um pouco de paz, o Gaarder resolveu que ela seria a pessoa ideal para se perguntar qualquer coisa sobre a conferência.
-Senhorrita! – ele exclamou, satisfeito. – A conferrência já termina? Yosef pensou que demoraria mais... Aconteceu alguma coisa? – o dono do hotel fitou-a, parada, com o rosto afogueado e as mãos trêmulas. – Oh, da, clarro que acontece... Conte parra mim, senhorrita, vacê parrece tão abatida...
Hermione hesitou, encarando-o com cansaço. E respirou fundo. Seria injusto demais destratar o pobre Gaarder... Ele nem sabia do que tinha acontecido.
-Houve uma... interrupção. – murmurou ela entredentes. – A conferência acabou sendo adiada.
-Mas que pena... – Gaarder suspirou, pondo uma mão no queixo. – E o que interrompeu a conferrência, Srta. Grranger?
Ela baixou a cabeça, quase como se tudo tivesse sido culpa dela. No fundo, talvez ela pensasse isso mesmo.
-Eu... Eu tive uma indisposição. Não sei o que aconteceu comigo, Sr. Gaarder, mas o fato é que eu passei mal, compreende? – a bruxa esforçou-se para tornar sua voz controlada e natural, mas seu tom tremia demais para ser convincente mesmo para Nicolai. – E houve uma confusão depois disso... O senhor deve saber como essas coisas são.
-Ah sim, Yosef sabe... – o velho murmurou, abrindo a porta de sua saleta. – Por que não entrra e toma um bebida comigo? Eu ter um licor ideal parra jovens frrágeis como vacê...
A mulher se ouriçou. Jovem frágil, logo ela? Hermione expirou. Tudo bem, ele não fazia idéia de seu passado. Ela tinha se esquecido de como pessoas inocentes de verdade agiam. Mirando a porta e o gesto amigável de Gaarder, ela sentiu saudade de Hagrid.
Gaarder indicou-lhe uma poltrona desbotada coberta por uma colcha marrom, perto da qual havia uma gata branca enroscada confortavelmente. Mais lembranças para Hermione; Bichento tivera que ficar em casa... Já estava velho demais para uma viagem como aquela, e doente. Ela se sentou, observando o sono tranqüilo da gata com um aperto dentro de si. Gaarder, enquanto isso, estava examinando uma prateleira com velhas garrafas de licor, escolhendo a dedo.
-Aqui está! – ele se esganiçou, sacando a varinha e convocando dois copos. Abriu a garrafa lacrada e entregou um copo cheio para Hermione, que levou-o à boca apenas para sentir um toque do sabor acre e forte do licor.
-Ficarrá novinha em instantes com issa. – Gaarder comentou, parecendo satisfeito consigo mesmo. – Mas o que a senhorrita sentiu? Yosef tem uma irmã que foi currandeira, entende, e sabe um pouquinho da magia currativa.
Ela hesitou, mas com um olhar na expressão preocupada do dono do hotel, detalhou a escuridão que fazia sua vista formigar e as têmporas que latejavam antes que desmaiasse.
-Hum... – fez ele. – Parrece que a senhorrita anda com o corração frrágil, se não estou muito enganado... Não teve nenhuma brriga durra com nenhuma sanguessuga afrricana de espinho vermelho, teve?
Hermione sacudiu a cabeça, nem querendo imaginar como poderia ser um encontro com uma sanguessuga africana de espinho vermelho. Felizmente deixara Trato das Criaturas Mágicas no sexto ano, antes que Hagrid pudesse pensar naquilo.
Gaarder ia abrir a boca para discursar sobre qualquer outra possibilidade de seu mal estar, quando surgiu à porta ninguém menos do que Rony. O velho virou-se prontamente para ele e Hermione encarou seu copo com resignação; virou o resto de sua bebida, levantou-se, e com um breve boa-noite para Gaarder, passou direto por Rony e tomou o caminho para seu quarto.
Já de volta, Hermione cai na cama resolvida a pensar em uma maneira eficiente de mandar Rony de volta para casa. Mas é claro! A princípio ela não entendera, durante a conferência, por que motivo estava passando mal outra vez. Mas naquele momento, tudo já se encaixava. Mas é claro! Rony estava a caminho, estava vindo atrás dela. E isso a fazia se sentir mal de novo, já que tinha a obrigação de se manter longe, pelo bem do próprio Rony.
Poderia entregá-lo uma coisa qualquer disfarçada de Chave de Portal. Sim, aquilo funcionaria, embora apenas a curto prazo; era lógico que ele voltaria. Estava mesmo decidido a descobrir o que estava errado com ela, afinal! Tinha que bolar algo definitivo.
Definitivo? Bem, ela teria que magoar os sentimentos dele. Mais uma vez. E deveria ser definitivo, de modo que ele nunca mais se aproximasse.
Hermione rolou na cama. Que baboseira! Ela amava Rony. E ele a ela. Então por que raios ela tinha essa obrigação de mantê-lo afastado? Parecia algo tão medieval quanto um dos romances de Shakespeare. Ultrapassado!
A bruxa pegou no sono pensando em como seria se não houvesse aquela droga de maldição sobre ela. Rony merecia alguém melhor, ela sabia disso. Ele não era bobo, não era incompetente e nem insensível. Bem, talvez ele tivesse sido insensível no passado, mas é claro que ele crescera. Só que ela nunca confessara que achava isso, pra ele.

*-*-*-*-*-*-*-*-*

Bateram à porta. Hermione piscou, lenta e preguiçosamente. Se for o Rony vou simplesmente fingir que não tem ninguém aqui, ela pensou, xingando-se mentalmente depois.
-Abre logo essa porta, Hermione – sibilou uma voz apressada do outro lado, que ela reconheceu como sendo Carlinhos. A bruxa se levantou de forma repentina e correu até a porta. Parou por um momento, tentou baixar o cabelo com as mãos, esfregou os olhos (burra, pensou, consegui dormir com a roupa do corpo), e pôs a mão na maçaneta.
-Estava dormindo até agora? - Carlinhos indagou, reconhecendo sem dificuldade a cara amassada dela.
-Não, eu estava tentando lançar um feitiço anti-acne - retrucou ela de mal humor, revirando os olhos. Carlinhos ergueu uma sobrancelha e ela deu de ombros. - O que foi?
-Tenho que te contar algumas coisas sobre Rony. - ele começou, entrando sem pedir permissão. Lançou um olhar para a cama revirada e sentou-se na cadeira diante da penteadeira. – Algumas coisas que podem ser importantes.
Ela encarou o ruivo por um momento, hesitando.
-Ouça, Carlinhos, eu não posso fazer nada, preciso mesmo me manter longe dele, embora...
-Quem aqui está falando de vocês dois? – o outro cortou-a, franzindo a testa. – Estou falando de algo que aconteceu assim que ele chegou ao país.
Cerca de meia hora depois, ambos desciam as escadas do Hotel Gaarder em uma conversa absorta; Hermione ouviu a história do homem que levara Rony até a conferência, especulando de todas as maneiras o que aquilo poderia significar.
-Os noruegueses estão por trás de tudo, então – ela murmurou, enquanto Carlinhos assentia. – A esta altura eles já perceberam a confusão e devem estar armando algo novo. Rony pode estar correndo perigo. – concluiu ela, achando redundante o final.
-Ah, ali está Dan. – disse Carlinhos, apontando o homem sentado a uma das mesas do restaurante do hotel, tão logo cumprimentaram um sorridente Sr. Gaarder. – Vamos contar tudo a ele. Ah. Isso me lembra... O Rony parece estar muito enciumado, Hermione. Parece que ele está achando que não podemos confiar no Dan.
Ela virou os olhos; era bem o tipo da coisa que podia esperar de Rony. Sentaram-se depois de uma breve troca de cumprimentos.
-Você está se sentindo melhor, Hermione? – Dan questionou, parecendo levemente preocupado. A seu lado estava Nicolai, seu irmão.
-É... Acho que sim... – ela murmurou, sem jeito de pensar em desconfiar dele. Rony era mesmo um idiota! Ele só dissera aquilo porque Dan estava sendo gentil com ela, e como ninguém podia tratá-la decentemente... Ela não agia daquele jeito sempre que alguma mulher se interessava por ele?
-Temos que te contar algo importante. – Carlinhos começou, dedilhando a mesa com olhares para os lados. – Tem uma armação dos noruegueses no meio de toda essa conferência, Dan.
O russo sustentou o olhar do irmão de Rony, respirando fundo.
-Até que enfim temos uma evidência concreta. – ele comentou, baixando os olhos para a mesa.
A comida veio e se foi enquanto eles falavam; Nicolai ficou a maior parte do tempo em silêncio, muito esporadicamente fazendo breves comentários e citações de Hawstings durante o tempo que já haviam gastado na conferência do dia anterior.
Dan baixou a cabeça, consternado. Hermione trocou um olhar incerto com Carlinhos e Nicolai fitava o irmão de maneira fiel.
-O que podemos fazer? – perguntou ela, não agüentando o silêncio na mesa.
-Esperar que eles ataquem esse Rony. – replicou Dan prontamente, mas diante do rosto chocado de Hermione, soltou um riso amargo e completou: - Porque eles vão tentar, sem dúvida alguma. Só nos resta manter um olho nele e não deixá-lo desprotegido.
-De qualquer maneira, ele não vai gostar muito da idéia. – interveio Carlinhos. – Mesmo que ele tenha sido confundido com algum enviado dos noruegueses, é questão de tempo até que eles tentem eliminá-lo.
-E o mesmo para cada um de nós. – concordou Dan. – Qualquer um imaginaria que ele já teria nos contado tudo, principalmente a você, Hermione. – ele concluiu, com um olhar fixo nela.
Hermione percebeu-se observada tão atentamente pelo bruxo, e não pode deixar de estremecer. E naquele momento ela teve a impressão verdadeira, pela primeira vez, de que Dan poderia estar alimentando qualquer tipo de interesse por ela. A mulher baixou o olhar, envergonhada. Foi quando tudo tremeu e sua vista falhou; a velha sensação de queda se fez notar, e Hermione lutou para se manter na superfície.
-Bem... – ela murmurou, disfarçando. – Não muda o fato de que devemos tirar o Rony daqui, e quando mais depressa...
-Ah, por favor – Carlinhos cortou-a. – Você não quer que ele vá embora.
Dan tinha a testa franzida. Hermione sentiu-se enrubescendo e foi ficando mais zonza. Era melhor levar a conversa para assuntos menos tempestuosos.
-Será o melhor para ele, Carlinhos, você sabe disso...
Ficaram sentados juntos por muito mais tempo do que o almoço; Hermione não pode deixar de flutuar um pouco durante a conversa, que Dan mantinha centrada em armadilhas contra Hawstings. E, claro, percebeu que Rony não descia. E se ele tivesse mesmo voltado para a Inglaterra? Tanto melhor, ela respondeu para si mesma.
Ou ele poderia estar dormindo até aquele momento, e ela poderia ir acordá-lo, para encontrar o ruivo enrolado em um lençol, talvez até mesmo no meio de uma troca de roupa...
Oh, nossa. Aquela imagem sim a fazia enrubescer.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

-Então já estamos combinados. – Dan completou, enquanto Hermione já estava combinada havia muito tempo de seguir os noruegueses aonde fossem. Ela se levantou apressada, pensando em ir até a porta deles e colocar algum feitiço de escuta – pena que não tinha nenhuma Orelha Extensível ali com ela, talvez Carlinhos tivesse alguma com ele...
Mas uma voz chamou-a e ela girou nos calcanhares para ver o rosto sorridente de Gaarder.
-Sim? – perguntou ela, esforçando-se para ser gentil.
-Está muito cansada, senhorrita? – o velho arriscou. – É a prrrimeirra vez que vir até Rússia, não?
-É sim – ela respondeu. – Por quê?
-Orra, não está mesmo querendo vir para a Rússia sem conhecerrr a prraça vermelha, está? – Gaarder assumiu tom professoral. – É um dos maiorres pontas turrísticas de Moscou, e Yosef ter certeza de que vá adorrar o lugar.
Ela sacudiu a cabeça.
-Talvez não seja uma boa idéia, Sr. Gaarder, afinal eu ainda tenho que planejar as defesas para a conferência em dois dias, e...
-Ah, por favorrr! – ele deu um gesto largo de descaso, novamente lembrando um italiano a Hermione. – Serrá marravilhoso! Chame seus amigos também!
Ela ergueu uma sobrancelha, estranhando tanto entusiasmo. Gaarder deu de ombros.
-Yosef ter convênia com serviço de trransporte russo. – ele confessou, quase travessamente.
Hermione sorriu, e estava pronta para recusar mais uma vez quando viu a silhueta de Rony terminando de descer as escadas. E se viesse falar com ela? Exigir que contasse o que estava acontecendo? Antes que ela pudesse fazer qualquer coisa, Rony ergueu a cabeça e encontrou os olhos dela. Ela estremeceu e viu um canto da boca dele se mexer, como se fosse dizer algo, mas desistiu.
-Sr. Gaarder... – ela falou subitamente, virando-se para o dono do hotel e sentindo suas entranhas muito geladas. – E é muito caro o serviço de transporte por aqui?
Enquanto corria para a porta da rua, Hermione se censurou por não manter um olho em Hawstings e van Pels. Mas bem, havia ainda Nicolai, Dan e Carlinhos no hotel para fazer isso.

*-*-*-*-*-*-*-*

Ela estivera em seus sonhos.
Rony despertara sentindo uma felicidade inexplicada por conta disso. Em sonhos ele a abraçara e a olhara por horas; ele pegara uma mecha de cabelo castanho e a enrolara num dedo, enquanto ela sorria, envergonhada, mas feliz. E falando em felicidade, uma parte dele amanhecera tão feliz que Rony tivera que acordar e tomar um banho de água fria, por mais que nevasse lá fora.
Desceu, viu-a falando com Gaarder outra vez e chegou a ficar curioso. Que tanto aquele velhote falava com ela? De qualquer forma, ele apenas foi para o restaurante, onde encontrou Malfoy revirando um prato de comida com ar de nojo. Rony pensou umas dez vezes se fazia ou não a insanidade de sentar-se com o loiro, mas acabou preferindo isso a ficar sentado sozinho. Os noruegueses poderiam chegar, afinal. E até Malfoy seria companhia melhor do que eles.
-Cale a boca – sibilou Malfoy quando ele se sentou.
-Mas eu não disse nada! – Rony exclamou, injustiçado.
-E nem deve dizer. – Malfoy resmungou.
Rony revirou os olhos e ficou esperando que seu prato chegasse. Sua memória então lhe fez o favor de trazer à tona a lembrança mais do que vívida de Hermione beijando-o. Sim, aquela mulher continuava precisando de ajuda. Rony só não imaginara que ela fosse resistir tanto. Ela chegara a pedir a ajuda de Harry... E por que não a dele? Ela IA falar com Harry. Poderia ter desistido depois, mas ela chegou a marcar com o amigo... E no quê Harry podia ajudar que ele não?
Seus pensamentos foram interrompidos pela chegada tardia dos noruegueses. Rony cravou os olhos em seu prato de comida recém chegado, mas manteve-se atento à movimentação dos dois bruxos, que se sentaram normalmente e pediram seus pratos. Em dado momento, arriscou um olhar direto até o bruxo chamado Hawstings, mas se arrependeu porque estava sedo focado também, ao mesmo tempo.
Foi quando Dan apareceu na porta do restaurante, encontrando-o sentado ali. Rony fechou os punhos sobre os talheres quando o russo veio até ele.
-Sr. Weasley – ele disse, sentando-se com eles sem a menor cerimônia, e ignorando Malfoy completamente. – Posso chamá-lo de Rony, como seus amigos fazem?
Ele se sentiu mordido. Dan não era seu amigo.
-Aham. – fez, de boca cheia e sem olhá-lo.
-Hermione me contou como você chegou até a conferência ontem – Dan foi rápido, e Rony podia perceber Malfoy aguçando os ouvidos. – E nós fizemos um planejamento de vigia a eles – acrescentou, com um olhar brevíssimo para Hawstings e van Pels. – Quer nos ajudar?
Rony franziu a testa.
-Por que diabos você está nos ajudando? – ele inquiriu.
Foi a vez de Dan estranhar.
-Do que está falando? A conferência que eu organizo está cheia de complôs por baixo do pano e você espera que eu apenas assista às coisas acontecendo? – Dan pareceu ofendido. – Você não confia em mim, não é?
Rony desviou o olhar e não respondeu. Resmungou qualquer coisa que nem Dan nem Malfoy compreenderam.
-De qualquer forma, nós precisamos da sua ajuda. – o bruxo russo insistiu. – Hermione achou que seria mais seguro para você voltar para a Inglaterra, mas seu irmão tinha certeza de que você não gostaria...
-Eu sei o que Hermione acha de mim. – cortou-o Rony, finalmente olhando-o nos olhos, com certa amargura.
-Bem, eu não sei exatamente do que você está falando. – Dan deu de ombros e Malfoy tossiu estranhamente. – Mas mesmo assim, gostaria que você se mantivesse afastado dos noruegueses, enquanto estiver andando sozinho por aqui. Você sabe, eles podem querer eliminá-lo.
-Não seja idiota – interrompeu Rony, com certa crueldade. – Qualquer diabrete com um mínimo de atividade cerebral imaginaria que eu já disse tudo a vocês. Olhe só pra eles. Não seriam idiotas o suficiente para atacar somente a mim.
Dan engoliu em seco.
-Eu sei. – disse ele. – Mas estou fazendo isso por Hermione. Ela não quer você correndo riscos.
Rony se levantou e por pouco não jogou sua cadeira no chão; sentiu os olhares dos noruegueses sobre ele com mais força do que antes.
-Está fazendo tudo pela Mione, não é? – vociferou, esforçando-se por todos os Weasley do mundo para não gritar. – Eu sei o que você está pretendendo ganhar com tudo isso. Você... Você não é tudo que aparenta, sabia? A mim você não engana!
Saiu do restaurante, depois de jogar algumas moedas na mesa. Malfoy pregou os olhos nelas e depois jogou mais dois galões sobre elas. Dan fitou-o.
-Vai pagar para ele?
Draco Malfoy encarou-o com amargura.
-Ouça aqui, engomadinho. – ele sibilou, com um olhar gelado. – O pobretão já tem bastante para se preocupar com aquela... Nascida trouxa... Estou me ferrando para o que pode estar acontecendo, mas se segurarem o Weasley aqui para lavar pratos, ele pode demorar muito para sumir deste país.
Levantou-se, arrumou as vestes e também deixou Dan para falar sozinho.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Rony encarou a porta do quarto onde estavam hospedados Hawstings e van Pels, sentindo ainda o sangue pulsando depressa em sua têmpora. Aquele maldito russo estava se apaixonando por Hermione! Ao menos ele tinha se entregado, pensou o ruivo furioso, sacando a varinha. Estava fazendo tudo por causa dela. Bancando o herói para conseguir a garota bonita no final... Pois sim! Hermione não gostava de heróis, disse Rony para si mesmo. Ela gostava dele. E ele nunca fora um herói.
-Alorromora! – fazia muito tempo que não usava aquele feitiço e não esperava sinceramente que fosse dar certo. Mas sob a ponta de sua varinha a tranca da porta se desfez e a porta lentamente girou para admitir a entrada dele.
Ele não tinha muito tempo.
O quarto estava desarrumado; havia algumas malas abertas no chão, com as roupas reviradas. A cama estava feita, embora de maneira descuidada; as janelas estavam fechadas e sobre uma mesa estava uma infinidade de papéis. Rony sentou-se à frente deles mas nem tentou lê-los; estavam todos em norueguês. Se pudesse encontrar aquele rapaz, aquele intérprete, talvez encontrasse uma maneira de traduzi-los.
Tirou algumas cópias dos papéis com a varinha e guardou-as nos bolsos; logo depois, ouviu passos no corredor, e tudo em que conseguiu pensar foi em tentar lançar um Feitiço de Desilusão em si mesmo. Enquanto começava a tomar a textura da parede atrás de si e se enfiava atrás das cortinas, Rony viu a porta se abrindo para dar lugar aos dois bruxos que viera espionar.
Dali pra frente Rony não conseguia se lembrar de mais nada; havia um lapso terrível, um branco em sua memória, que ele não conseguia preencher com nenhum momento de que recordasse. O ruivo se viu num banheiro, estatelado no chão; parecia um banheiro usado por muitas pessoas, talvez o de um restaurante ou de qualquer lugar parecido... Sua cabeça doía e ele se sentia estranho.
Rony consultou o relógio. Quatro horas da tarde...! Mas ele só se lembrava do que tinha acontecido desde cerca de uma hora da tarde... O ruivo esforçou-se para levantar, apoiou-se na pia e encarou seu reflexo no espelho. Ele tinha um corte na testa, que quase a atravessava completamente em diagonal. A dor o fez lembrar mais uma vez de Harry, mas muito rapidamente; logo ele se lembrou de que não se lembrava de nada.
Ia passando pela porta quando deu um encontrão em alguém e quase caiu sentado; fitou de frente Draco Malfoy, que recuara dois passos com o tropeço e naquele momento o observava quase frustrado.
-Aí está você, Weasley. – resmungou o loiro. – Genial. Como veio parar aqui?
-Eu adoraria saber. – Rony retorquiu, fechando a cara. – Não me lembro de nada das últimas três horas.
Malfoy estudou-o.
-Bem, se você não se lembra quer dizer que pode ter acontecido uma infinidade de coisas – suspirou ele. – Ande. Os dois Strotski estão procurando Hermione. Ao que tudo indica, ela saiu para dar uma volta há quatro horas e ainda não voltou.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Hermione esmurrava uma parede de madeira, em algum lugar da Sibéria, naquele preciso momento. Era aquilo que ela ganhava por ser prestativa!
A praça vermelha era de fato muito bonita. Hermione ficou lembrando das coisas que já lera sobre a Rússia, para descansar a mente. Até mesmo entrou em uma livraria e encontrou uma seção de volumes em inglês. Comprou um romance e um estudo da bruxidade russa, e estava andando a esmo pelos pavimentos quando um homem muito alto, usando um capote preto e peludo passou por ela, derrubando um pedaço de pergaminho. Hermione chamou-o no único idioma que conhecia, inglês, e se abaixou para pegar o pergaminho.
Para descobrir que era outra Chave de Portal.
E agora ela estava ali, presa numa cabana de madeira, no meio da neve, sem nenhuma comunicação. Estava com sua varinha, correto, mas nenhum feitiço seu surtia efeito ali. Tentou de tudo, tudo mesmo – desde Accio até um mero Lumus, e nada funcionou. Como aquilo poderia ser possível?
A verdade é que ela não tinha nenhuma indicação de onde estava. Mas gostava de pensar que estava na Sibéria, talvez por intuição. Intuição sombria a dela, mas paciência.
A cabana onde estava presa não tinha porta, apenas duas janelas com vidros grossos, por onde ela podia ver campos inteiros de neve, com um pinheiro aqui, outro ali... Sem nenhum sinal de vida humana, trouxa ou bruxa. Havia uma mesa com três cadeiras, um sofá rasgado com um tapete por cima, uma cama com um colchonete por cima, e ao lado um armário vazio, com três gavetas furadas por cupins.
Hermione encostou-se a uma parede, cansada de gritar, tentar feitiços ou qualquer outra coisa. Mais cedo ou mais tarde, alguém teria que aparecer. Quem a mandara até ali, talvez. Não a deixariam para morrer ali, de fome ou sede... Ou deixariam?

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