Sou Eu... Como Um Monstro

Sou Eu... Como Um Monstro



 



 



HERMIONE



 



Acordei com sede. Muita sede. De novo.



As lembranças do dia anterior ainda reboavam em meu cérebro entorpecido...



Eu estava zonza. Acordei mal depois de ficar tão desgastada física e emocionalmente. Parecia que eu fora atropelada por um Rabo-Córneo Húngaro. Meu corpo estava mole e dolorido, assim como os ferimentos que ganhei em batalha. Minha cabeça ainda tentava apagar as lembranças horríveis do que eu havia visto e sofrido no dia anterior.



Apenas uma lembrança me fazia sentir bem... e ela tinha como protagonista o garoto ruivo que estava dormindo na poltrona ao meu lado.



Rony parecia tão angelical dormindo que eu poderia ter ficado o dia todo observando-o. Com medo de acorda-lo, levantei devagar e silenciosamente. Deixei um bilhete no braço da poltrona, para ele ler ao acordar.



 



Espero que esteja bem ao acordar. O melhor possível, no caso.



Fred provavelmente deve estar rindo de nós agora mesmo, de onde ele está... "então, Granger, deixando bilhetinhos apaixonados?".



Responda à ele por mim. Responder, sim, por que ele está aqui. Com você. Ponha a mão no peito. Ah, você o achou? Eu também.



Assinado: uma irritante sabe-tudo qualquer.



 



Eu não devia lembra-lo de Fred. Mas, por uma súbita inspiração, me pareceu a coisa certa a fazer. Lembrar à Rony que seu irmão estaria sempre ali com ele, e não esquecido num pesadelo de luzes verdes.



Desci até o Salão Comunal, massageando o meu estômago que se revirava. Meu corpo doía e fraquejava mais do que nunca. Depois do café, eu faria questão de visitar a Ala Hospitalar e pedir á Madame Pomfrey para me examinar. Devia ser uma intoxicação qualquer.



Quando cheguei na entrada, porém, uma sede aterradora atacou minha garganta. Corri até a ponta da mesa da Grifinória, onde havia uma jarra de água. Enchi o copo e virei-o de uma vez, mas a água tinha um gosto horrível e enjoativo. Me corpo se contorcia e doía como se mil mãos estivessem me esbofeteando. Um dos quartanistas se levantou e me segurou, preocupado, ao me ver tremendo. A água que eu havia acabado de tomar fez o caminho inverso e voltou, jorrando de minha boca numa cena muito desagradável. O quartanista ainda me segurava.



– Granger... o que aconteceu? - ele murmurou, aflito.



Tentei lhe responder, mas meu corpo parou de responder e caiu, escorregando de seus braços para o chão. Meu estômago parecia a matriz de toda a dor que eu sentia, irradiada daquele lugar até a ponta dos dedos.



A inconsciência veio como um cobertor quente, muito bem-vinda, ao me tirar daquela tortura.



Abri os olhos.



Minha garganta ainda estava seca, ardendo.



Meu estômago também.



Tirando aqueles pequenos dois órgãos de meu corpo, todo o resto parecia fraco e débil. Tudo doía.



Tentei mexer meus braços, mas enquanto os músculos do braço e da mão pareciam razoáveis, meu antebraço parecia ter virado espuma.



Mexi meu pé, mas algo tilintou quando executei o movimento. Me levantei, fraca, e me assustei ao ver a algema de aço que o prendia á uma longa corrente - corrente esta que terminava na parede da Ala Hospitalar. Por que ela estava ali?



Olhei ao redor. Uma cortina branca fina circulava a maca aonde eu estava. Do outro lado, duas pessoas conversavam. Madame Pomfrey, com certeza, e outra voz familiar. Gina!



– Então... o que houve com eles? - disse Gina. Parecia assustada.



– Vampirização - murmurou Madame Pomfrey, preocupada.



Ah! Então era isso... Eu tinha caído doente com a vampirização... como eu não reconheci os sintomas?



Mas isso queria dizer que eu não deveria estar raciocinando. Sim, eu estava com sede - de sangue, concluí chocada - e sobrecarregada de informações sensoriais do meu recém-instalado instinto animal. Mas eu não deveria estar também insensível á sentimentos e com o cérebro dopado contra qualquer raciocínio humano?



De qualquer forma... eu havia virado um monstro. Uma criatura perigosa que todos desprezariam e temeriam, com razão, até o efeito do vírus acabar. Agora, a algema em meu pé parecia amigável e útil. Me impediria de machucar alguém por causa daquela maldita sede de sangue humano.



Quem doaria? Não sabia, mas se tivesse bom senso, essa pessoa ficaria á alguma distância de mim... um quilômetro ou dois, por exemplo.



– Quantos estão doentes? - indagou Gina.



– Nunca vi uma epidemia dessa. Trinta pessoas... tivemos que arrumar todos os leitos e arranjar correntes...



Trinta vampirizados. Era como uma matilha de monstros acorrentados.



– Correntes? Céus, o Rony vai infartar quando souber - GIna gemeu.



– Você vai avisar o Sr. Weasley? - disse Madame Pomfrey, receosa.



– Vou.... quando ele acordar. Ele dormiu a tarde toda... acho que nem acorda hoje - Gina suspirou. Rony ainda estava dormindo... e, se Deus quisesse, continuaria assim. Eu não podia suportar a ideia de sua reação ao saber... ou de seu sofrimento.



Do jeito que ele era, impulsivo e bobo, faria tempestade em copo d'água e tentaria me visitar á todo custo... algo que, por mais que agradasse minha parte humana, era a última coisa que ele deveria fazer enquanto eu estivesse assim.



– Ela... - Gina sussurrou; sua silhueta na cortina se virou para mim - ela está muito ruim?



– Todos estão... com sede até agora. Estamos esperando alguns doadores.



– Não, senhora... quero dizer... de aparência.



Madame Pomfrey suspirou também.



– Você pode vê-la, se quiser.



– Hum... - Gina não parecia confortável com a ideia - vou vê-la quando Rony vir também. Eu... vou esperar...



Outra vez, fiquei inconsciente, provavelmente pelo efeito da Poção do Sono que pingava na minha veia através de um tubo em minha mão.



 



Pisquei quando a porta da Ala Hospitalar se abriu, dando passagem para três pessoas -uma delas que eu teria feito qualquer coisa para que não tivesse vindo me ver.



Rony estava lá, me procurando, com os olhos angustiados.



 



 


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