Mas Ainda É Você...

 

 

RONY

 

 

Entrei na Ala Hospitalar, procurando-a.

Santo Deus, eu quase estrangulei minha irmã quando ela mencionou sobre as algemas.

O que aqueles idiotas estavam pensando? Hermione estava doente. Não era um monstro venenoso para ser acorrentada.

Se eu descobrisse quem foi o infeliz que teve tal ideia, eu esmagaria o crânio dele com vontade embaixo do meu pé.

– Hermione? - chamei-a.

Ouvi um farfalhar nas cortinas da segunda cama.

– Rony - Gina ciciou atrás de mim - eu acho melhor a gente...

– Hermione... apareça, por favor... - falei outra vez.

A cortina da segunda cama se abriu, e um vulto magro se levantou e sentou na beira da maca.

Meus Deus. Era ela.

Depois do que eu ouvira falar da vampirização, eu achara que Hermione estaria um tanto parecida com um misto de vampiro e diabrete: magra, encovada e assustadora.

Ela estava assustadora, sim.

Mas era por causa da forma imponente que ela exibia agora.

Seus cabelos estavam soltos, um tanto clareados. A pele pálida contrastava com a roupa escura que usava. E os olhos... os olhos, antes castanhos, estavam da cor do âmbar.

Tudo nela era claro. Era como um anjo...

Um anjo feroz, sibilante, que não parecia nada feliz com a minha presença ou com qualquer outra.

Uma algema puída estava atada ao seu tornozelo, tornando o conjunto ainda mais surpreendente. Era como uma figura mitológica fantástica segurada por um barbante.

Até onde eu sabia, correntes eram tão úteis para segurar um vampirizado quanto um fio de cabelo.

– Calma, Hermione... tudo bem... - falei, como se tentasse acalmar uma criança alterada.

Ela bufou baixinho, como se desdenhasse.

– Claro, não está tudo bem - me desculpei - mas vai ficar.

Ela me olhou com a cabeça curvada, parecendo quase... petulante. Ou confusa. Muito confusa.

E Gina me olhava quase com a mesma expressão, só que bem mais chocada.

Eu quase podia entender sua linguagem corporal. Ela não podia falar - afinal, o vírus atacava também as cordas vocais - mas praticamente estava conversando comigo com bufadas, sibilos e expressões faciais. Até onde eu entendera naquele breve momento, ela gostava de minha presença ali, mas não queria ela de jeito algum. Por que?

Ela sibilou mais alto, assustando Madame Pomfrey.

A velha curandeira se aproximou de mim, parecendo surpresa e fascinada.

– Ela parece... querer protege-lo, Sr. Weasley. Acha que é um ameaça para o senhor. Por isso não o quer aqui. Nunca vi um vampirizado reagir desse jeito á uma presença humana.

– Vem com essa! - foi minha vez de bufar para Hermione - você nunca faria mal á ninguém!

Os olhos dela se estreitaram.

Um movimento repentino e feroz surgiu em uma das macas do lado esquerdo da Ala Hospitalar.

Só pude registrar um vampirizado - pelas feições, Douglas Booth, da Lufa-Lufa - se jogando para cima de mim.

Um vulto furioso se atracou com ele segundos antes de me atingir.

Era Hermione.

Ela sibilava mais do que nunca, os braços e pernas levemente arqueados, parecendo um gato furioso. Olhava zangada para Douglas, que se acocorara do lado de sua maca, com a mão ensanguentada. Ele sibilava baixinho, parecendo querer atacar outra vez, mas com medo da retaliação de Hermione.

– Ela o mordeu - comentou Gina, parecendo dividida entre o fascínio e o medo - ela ainda... parece ser ela mesma.

– Eles arrebentaram as correntes - disse Madame Pomfrey para dois aurores que entraram - vindos não se sabe de onde - dentro da enfermaria e imobilizaram Douglas. Hermione não precisou ser coagida; assim que terminou de atacar Douglas, voltou para sua maca com uma expressão mal-humorada, e pôs ela mesma a algema de volta.

A cena foi tão engraçada que eu e Gina rimos.

Hermione arregalou os olhos, parecendo curiosa com minha risada.

Os aurores também olhavam embasbacados para a cena incomum.

– Fantástico - comentou um deles - ela parece ter plena consciência do que faz.

– Mas ainda é perigosa - disse o outro.

– Bobagem! - Gina parecia bem chateada - se ela quisesse atacar alguém, já tinha feito isso!

– E ela atacou - brincou o primeiro auror.

– Gina tem razão - eu falei, agoniado - já viram que ela não faz mal á ninguém... por que não soltam ela?

– Mas Sr. Weasley - Madame Pomfrey estava quase dando a primeira risadinha desde o fim da Batalha - ela se recusa a sair da enfermaria!

– Ah, é? - olhei para a figura orgulhosa e linda que era minha namorada sentada na maca. Hermione bufou outra vez, parecendo querer deixar claro que não saía dali nem se houvesse outra guerra.

Ela degustava o pequeno filete de sangue que ficara em sua boca após morder Douglas. A reação á isso foi impressionante; seus olhos ficaram brilhantes e ela pareceu bem mais relaxada fisicamente - até aquele momento, Hermione parecia estar com dor e tremia bastante.

– Já acharam doadores? - Gina indagou.

– Não para ela. a Srta. Granger parece não estar disposta á... hum... cooperar com a ingestão de sangue - Madame Pomfrey olhou de esguelha, parecendo temer outro ataque de raiva meu.

– Ela não quer tomar sangue?? - exclamei, ficando finalmente alterado.

Hermione olhava de mim para Gina e dela para Madame Pomfrey com uma expressão tão azeda que parecia ofendida de ser mencionada na conversa como se nem estivesse ali.

Isso eu não ia aguentar. Aquela garota maluca estava precisando de ajuda e não queria colaborar por causa de algum código de ética e moral ridículo.

– Hermione, as convenções antigas acabaram - Gina disse para ela - vampirizada ou não, você vai aceitar ajuda... ah, vai. Só espere a gente se organizar.

Hermione parecia querer passar a semana da doença em estado comatoso, pois já ia tomar por conta própria um vidrinho de Poção do Sono que estava no armarinho ao seu lado.

– Accio!

A poção veio até minha mão após meu aceno com a varinha.

Admito que a expressão furiosa que Hermione abriu em seguida foi bem intimidante.

– Foi mal, Hermione - suspirei - não dá para continuar assim. E se você quer o meu bem também, não vai continuar mesmo com isso.

– Eu fico com ela - Gina segurou meu braço - vá avisar o Harry. Ele também vai ficar preocupado.

Acenei com a cabeça, olhando a figura bela e desolada que Hermione era agora. Minha pobre amiga.... minha pobre garota. Orgulhosa, boa e gentil o suficiente para se achar um monstro com uma simples doença.

– Ainda é você mesma... - sussurrei para ela antes de sair da enfermaria.

O rosto dela quando saí transparecia a mais pura tristeza.

 

 

 

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