Travessuras e Preparações
N/T: Tradução da fic “Never Alone, Never Again”, da autora Bored Beyond Belief. Capítulo 9/42.
Hermione Granger teve pouco sucesso em sua tentativa de manter o ar de dignidade ao ser atirada da lareira dos Weasley diretamente para a sala de estar. Porém, diante da cena que encontrou, percebeu que não deveria ter-se preocupado. Enquanto limpava a fuligem de suas roupas, ainda próxima à lareira, olhou ao redor, intrigada diante do que via.
Remo Lupin parecia literalmente uivar de tanto gargalhar. Espreitando por uma fresta na porta da cozinha, Fred e George carregavam expressões igualmente satisfeitas, enquanto Rony ria tanto que lhe faltava o ar, e até mesmo Harry tinha um largo sorriso no rosto. Todos eles observavam o que parecia ser um meigo poodle miniatura, seu pêlo negro contrastando com os olhos azuis e o pequeno laço rosa-choque em sua cabeça.
O animalzinho olhava ao redor aparentemente confuso, porém rosnou quando o Professor Lupin enfim dobrou-se para conter o acesso de risos, apoiando as costas contra o braço do sofá enquanto lágrimas escorriam por seu rosto. Suas risadas eram recortadas pela respiração ofegante.
“Eu preciso parar! Eu não consigo respirar!…”, falou com dificuldade. “Eu não rio tanto assim há décadas!”
“Bom trabalho, colega”, Fred disse, ainda escondido pela porta com apenas sua cabeça à mostra, fazendo parecer que esta flutuava sozinha. George estava mais afastado, completamente dentro da cozinha, mas mantinha uma mão no batente da porta, como se estivesse pronto para correr caso o cachorro decidisse persegui-lo.
“Certamente, meu caro Fred. Certamente”, o gêmeo concordou, tentando soar o mais digno possível.
“Agora nós teremos de renomeá-lo, Almofadinhas. Talvez Sininho seja mais apropriado?”, Remo sugeriu, ainda entre risos, antes de cair completamente no chão. “Ah, minha barriga! Eu preciso de uma poção!”, exclamou, fazendo com que o pequeno poodle rosnasse veementemente e latisse. O latido, porém, soou mais como um gritinho agudo, fazendo com que o cachorrinho imediatamente parasse, aparentemente chocado com o fato de ter produzido aquele som.
Hermione poderia jurar que o animalzinho parecia envergonhado ao dar as costas para todos e subir as escadas apressadamente. Aproveitando o momento, tentou entender o que estava acontecendo.
Os gêmeos provavelmente haviam pregado alguma peça em Sirius, transformando-o no já citado poodle. Diante daquela conclusão, sentiu seu próprio sorriso confuso alagar-se ao observar a expressão de desgosto de Sirius enquanto este se esforçava para pular os degraus, altos demais se comparados ao seu tamanho naquele instante. De tempo em tempo, ele parava para lançar olhares furiosos por entre os balaústres de madeira do corrimão e rosnar.
Era um rosnado realmente fofo.
“Vocês realmente estão mortos!”, Rony comentou enquanto observava Sirius partir.
Fred e George voltaram para a sala alegremente, ainda brilhando de pura satisfação.
“Ah, eu estou tremendo de medo. Você vai me proteger, não vai, Fred?”, George perguntou, colocando uma mão trêmula sobre o ombro do irmão gêmeo.
“Afaste-se, George. Eu salvarei o dia!”, o garoto exclamou, dando um salto no ar e voltando ao chão com as pernas amplamente afastadas, um braço à sua frente empunhando uma espada invisível. Hermione conhecia filmes trouxas o suficiente para reconhecer a típica pose de herói, mas não fazia idéia de como os gêmeos poderiam saber aquilo.
Lupin finalmente parara de gargalhar e agora voltava a sentar-se, ainda enxugando as lágrimas do rosto e balançando a cabeça, seu rosto parecendo anos mais jovem com o sorriso que ainda carregava. “Ah, riam agora, crianças, mas vocês realmente deveriam ter dado atenção ao aviso dele”, o homem advertiu. Rony assentiu, concordando, e finalmente voltou sua atenção para a lareira.
“Hermione!”, exclamou alegremente, aproximando-se dela. Harry, que até então estivera, com a ajuda de travesseiros, semi-deitado sobre o mesmo sofá no qual Lupin agora se apoiava, virou sua cabeça bruscamente na direção a que Rony se dirigia, e um sorriso iluminou seu rosto quando também avistou a amiga.
“Oi, ‘Mione!”, disse, seus olhos ainda brilhando graças à comoção anterior.
Hermione atravessou a sala e o abraçou com força, aproveitando-se da tímida surpresa de Harry diante do gesto para avaliar a condição em que o amigo se encontrava.
Harry perdera bastante peso. Aquilo ficara óbvio ao sentir os ossos do amigo destacando-se sob o tecido da roupa. Ele se parecia mais com o Harry de suas memórias do primeiro ano do que com o amigo que vira no ano anterior, apesar de que seus olhos – mesmo brilhando com jovialidade – eram agora solenes, parecendo assombrados por algo.
O garoto carregava o olhar de um velho em um rosto contraditoriamente jovem. Sua pele era fria e úmida ao toque, e Hermione podia sentir a pouca firmeza nos braços que agora a envolviam, retornando seu gesto de carinho. A palidez da pele contrastava violentamente com suas mexas negras de cabelo.
Em suma, ele não parecia bem.
Enquanto finalmente se afastava do amigo, a Sra. Weasley adentrou o cômodo de braços abertos.
“Hermione! É bom vê-la, querida. Como tem sido o seu verão?”, perguntou, trazendo a garota para um abraço afetuoso. Os olhos de Hermione e Rony se encontraram nesse momento, e o olhar dela parecia procurar respostas, mas tudo o que encontrou no ruivo foi grave preocupação. Ele lhe ofereceu um sorriso tranqüilizador, mas a garota sabia que as coisas não estavam bem.
“Ótimo, Sra. Weasley. Mamãe e papai viajaram há poucos dias. Ele prometeu que renovariam os votos de casamento, então eu estou ansiosa para saber o que anda acontecendo por lá”, Hermione respondeu, balançando a cabeça. Seus pais ainda eram incuravelmente românticos. Seu pai continuava a gostar de oferecer pequenas coisas – pequenas, mas significativas – sem razão alguma. Lembrava-se ainda da vez em que ele a levara – apenas ela – para Paris quando tinha oito anos.
“Eu queria que você conhecesse a cidade mais romântica do mundo com um homem que sempre a amará”, ele dissera a ela em tom solene enquanto visitavam a base da Torre Eiffel, esforçando-se para enxergar o topo.
Hermione sorriu diante do olhar distante que a Sra. Weasley agora carregava. Suspeitava que a matriarca dos Weasley era o tipo de pessoa que chorava em todos os casamentos a que era convidada.
“Ah, mas isso é simplesmente adorável, querida!”, a mulher exclamou brandamente antes de pigarrear e lançar um rápido olhar sobre os outros garotos (e o Professor Lupin) ainda presentes na sala, dirigindo-se para a cozinha apressadamente. Hermione poderia jurar que a ouvira murmurar algo sobre desejar que Gina voltasse para ter mais mulheres na casa, mesmo que só por algumas semanas.
A garota sorriu e retornou sua atenção para os amigos.
Ofereceu um rápido abraço a Rony, que se remexeu inquieta e ridiculamente, mas ela o ignorou e simplesmente o envolveu com firmeza. Então, encaminhou-se para o sofá e sentou ao lado de Lupin, abraçando-o com igual fervor.
“Muito obrigada, Professor”, Hermione disse afetuosamente, e ele piscou diante da intensidade daquelas palavras. Ela notou o breve momento em que os olhos do homem ficaram ligeiramente mais sombrios antes de retornar o gesto.
“Harry tem sorte de ter amigos como vocês dois”, Lupin respondeu. “Por favor, me chame de Remo”, corrigiu-a logo em seguida, erguendo uma sobrancelha em um ar irônico e fazendo com que Hermione se perguntasse quantas vezes ele já teria repetido aquela mesma frase.
“Eu espero receber um abraço desses também”, Sirius disse enquanto descia a escada, ao que Hermione riu, observando-o retirar, com irritação, um laço cor-de-rosa de seu cabelo. No mesmo instante, os gêmeos gargalharam e saíram correndo da casa. “Vocês podem correr, mas não se esconder”, o homem murmurou para ninguém em particular, e a garota viu Harry balançar a cabeça.
“Eles não fazem idéia do que os aguarda”, o garoto de olhos verde-esmeralda disse com um sorriso. “Parece que eu finalmente vou conhecer o motivo pelo qual os Marotos são tão famosos…”
“Eu gosto de não ter que ser o mais maduro”, Sirius disse, lançando um olhar furioso na direção de Lupin quando este bufou ironicamente. “Está bem, talvez essa não seja a melhor coisa a se dizer, mas, ainda assim…”, o padrinho de Harry emendou.
“Suas coisas estão com você?”, Rony perguntou, ao que Hermione assentiu, indicando, próximo à lareira, o malão que chegara poucos minutos depois dela.
“Está um pouco pesado”, advertiu.
“Não tem problema”, Remo respondeu, erguendo-se e levitando o malão para que este o acompanhasse enquanto subia as escadas. “Qual é o quarto?”, perguntou ao chegar ao último degrau.
“O último à direita”, Rony explicou.
“Onde Gina está?”, Hermione perguntou, curiosa. Gostava da companhia da caçula dos Weasley e descobrira que as duas tinham mais em comum do que imaginava.
“Mamãe pediu para que ela ficasse com Carlinhos por algumas semanas”, Rony voltou a falar, o olhar que lhe enviava advertindo-a para que não perguntasse qualquer outra coisa além daquilo por enquanto. Ela assentiu muito levemente, compreendendo a mensagem silenciosa, e observou enquanto Sirius e Remo trocavam caretas ao cruzarem caminho na escada.
“Ah, já estou com saudades do laço”, Remo murmurou, sua voz ecoando por todo o corredor enquanto deixava o malão de Hermione no quarto de Gina. Sirius cerrou os olhos diante daquele último insulto. “Era a cor perfeita para você, Sirius.”
“Tome cuidado, Aluado, ou eu talvez decida incluí-lo na minha vingança pelo mero fato de você ter se divertido demais com tudo isso”, o padrinho de Harry advertiu em voz alta, ao que o garoto de olhos verdes bufou.
“Eu nunca vi Aluado rir tanto”, Harry disse logo em seguida, e Hermione notou quão fraca a voz do amigo ainda soava. Ela suprimiu um longo suspiro, ainda desejando ardentemente poder azarar aqueles Dursley nojentos caso os encontrasse.
“Que comecem os jogos”, foi a única coisa que disse, porém, em voz alta, fazendo um anúncio formal do que estava para acontecer diante da expressão de Sirius. Ela reconhecia um plano sendo elaborado quando via um. Um desafio fora lançado, e vários pares de olhos desviaram sua atenção para ela em diferentes graus de compreensão diante daquelas palavras. Harry reconhecia a citação trouxa, claro, e talvez Remo também. Os outros certamente compreendiam o que elas implicavam.
As coisas estavam prestes a ficar interessantes n’A Toca.
Remo voltou a descer as escadas e sentou-se na cadeira oposta a Harry, suas longas pernas repousando sobre a mesa de centro. Hermione inconscientemente olhou ao redor para ver se a Sra. Weasley estava por perto, pois a mulher certamente ficaria uma fera se visse pés sobre sua mesa. Remo provavelmente notou o olhar, pois os retirou imediatamente e deu de ombros.
‘Ora, eu sou solteiro,’ sua expressão parecia dizer, ‘coisas como escorredores de pratos, guardanapos e refeições saudáveis não são minha maior preocupação.’ A garota revirou os olhos e lançou um olhar significativo para Sirius. Remo soltou uma gargalhada alta, que imediatamente cobriu com uma discreta tosse por trás de uma de suas mãos. O padrinho de Harry, porém, pareceu nada notar.
“Então… quando nós contaremos a eles sobre os Marotos? Antes ou depois?”, Rony perguntou, curioso.
“Depois”, Harry, Remo e Sirius falaram em uníssono. O padrinho de Harry riu baixo, enquanto Hermione gargalhava.
Harry enfim adormeceu após o jantar, e Rony aproveitou a oportunidade para explicar o que estivera acontecendo n’A Toca recentemente. Falou sobre o fato de o amigo já estar há longos cinco dias sem tomar a Poção para Dormir Sem Sonhar, e que, todas as noites, os sonhos ficavam cada vez piores. Explicou por que Harry não podia tomá-la sempre e que, graças àquilo, fora forçado a suportar os pesadelos sem ajuda alguma.
“Obviamente, não está dando muito certo”, Rony dissera em certo ponto da conversa.
Madame Pomfrey não tinha certeza quanto à origem dos tremores e calafrios de Harry; se eram graças à conexão com Você-Sabe-Quem prestes a tomar o controle ou à constante exposição de Harry às Maldições Imperdoáveis que o bruxo lhe infligia. Rony descreveu com detalhes dolorosamente vívidos algumas das vezes, na última semana e meia, em que fora forçado a acordar o amigo brutalmente, chamando-o de forma desesperada e tentando interromper qualquer que fosse o controle do Lord das Trevas sobre Harry.
“Mamãe está tentando engordá-lo a todo custo”, Rony disse após um longo e solidário silêncio.
“Bem, nós podemos tentar ajudá-la também”, Hermione ofereceu.
“Você acha que ele sequer notou que é o aniversário dele amanhã?”, o ruivo questionou após alguns instantes, ao que Hermione suspirou.
“Eu duvido muito. Mas suponho que todos concordaram que ele nunca mais terá de voltar para lá, certo?”, a garota inquiriu, soando temerosa. O ruivo assentiu, o que a deixou mais aliviada. “Então, a partir deste aniversário em diante, ele poderá celebrar da forma que sempre deveria ter celebrado”, a garota completou, veemente. Rony novamente concordou.
“Eu estou preocupado com ele, ‘Mione”, Rony disse, solene. “Eu sempre soube o quão perigoso tudo isso é, mas… as coisas mudaram horrivelmente para Harry quando Cedrico morreu, e eu não consigo descobrir, por mais que eu tente, uma forma de ajudá-lo a passar por tudo isso”, continuou, surpreendendo a amiga com sua sinceridade e observação. Muito do que ele acabara de dizer, ela também notara, mas nunca imaginaria que Rony seria capaz de reconhecer aquele tipo de… dor? Ferimento? Fosse o que fosse, aquilo mudara Harry.
“Eu também estou preocupada, mas aqui está algo bom em que pensar: sua mãe vai deixá-lo mais saudável, os gêmeos vão animá-lo, nós vamos deixá-lo em forma novamente, e Sirius e Lupin vão ajudá-lo a ter algo que Harry nunca teve antes… uma conexão com os pais dele. É o bastante, Rony”, Hermione o encorajou.
Trocando um pequeno sorriso com o ruivo, ela se levantou.
“Vamos lá. Vamos ver como o resto da sua família está”, ofereceu, e, juntos, eles seguiram as vozes que riam em outro cômodo da casa, ocupadas em preparar a celebração do dia seguinte.
N/T: Aqui está, muito depois do que deveria (sim, eu tenho consciência da demora, acreditem). Peço desculpas pelo atraso e, respondendo a uma review, não, certamente não desisti da fic, por mais que não pareça. Só estou passando por uma época difícil para lidar com muitas coisas ao mesmo tempo. Eu sei que vocês nada têm a ver com tudo isso, então não vou me prolongar em um parágrafo gigante sobre problemas. Apenas peço perdão mais uma vez e espero que entendam. Não pretendo me demorar tanto novamente. ‘té.
Próximo Capítulo: “Recordações”
Sirius correu os dedos pelo cabelo do afilhado. Estava ensopado de suor. O homem sacudiu o garoto em seus braços firmemente. “Harry”, disse, seu tom de voz mais alto. Em resposta, Harry começou a ofegar.
“Harry!”, Sirius exclamou novamente, quase gritando, sendo aos poucos tomado pelo pânico quando, abruptamente, as pernas do afilhado debateram-se contra a cama, rígidas. Suas costas ficaram arqueadas pela dor, o grito que deixou seus lábios fazendo com que calafrios tomassem o corpo de Sirius.
“Lumos”, uma voz pronunciou, vinda das escadas. Passos apressados soaram, vindo em sua direção, e Sirius piscou diante da iluminação repentina do cômodo.
“Não!”, Harry gritou, seu corpo agora tomado pelas convulsões. Retorcia-se tão violentamente que quase caíra do sofá.
“Harry, acorde!”
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