Sonhos e Revelações
N/T: Tradução de ‘Never Alone, Never Again’, por Bored Beyond Belief. Capítulo 3/42.
Vozes foram a primeira coisa que Harry tomou ciência ao voltar a si. A princípio, indistintas – até seu volume aumentar. O garoto, porém, deixou que as palavras passassem despercebidas aos seus ouvidos. Estava aquecido e confortável. Hmm…
‘Estou morto?’, divagou distraidamente. Acreditava que não. Suas costelas ainda doíam… por que doíam? Os Dursley… não. Havia algo mais…
Ah, sim. Sirius! O padrinho viera atrás dele. Estivera preocupado e o tirara da Rua dos Alfeneiros. Ao lembrar disso, Harry sentiu seu coração ser preenchido. Havia tantas coisas pelas quais ele já nem tomava gosto, mas aquilo, para ele, fazia mais diferença do que qualquer outra coisa.
Frases começaram a penetrar o plácido mundo em que se encontrava.
“… comida e repouso. Eu deixei poções nutritivas para que ele tome três vezes por dia, assim como duas poções curativas, que devem ser tomadas duas vezes por dia: uma para as feridas e as costelas quebradas, e a outra, para os danos internos provocados pela severa desnutrição por que ele passou…”, uma voz disse firmemente. Harry a reconheceu. Era Madame Pomfrey. Então ele estava na Ala Hospitalar?
O garoto começou a se mexer. Sirius…
“Ele está acordando”, outra voz se pronunciou. Sr. Weasley.
‘Eu realmente estou acordando?’, Harry se perguntou, tentando engolir, mas sua garganta estava seca demais para que pudesse fazê-lo. Não tinha certeza se já queria acordar. Aquele era o lugar mais confortável que estivera em muito tempo.
“Harry?”, a voz de Sirius chamou-o gentilmente, próxima ao seu ouvido. “Acorde, está bem? Madame Pomfrey precisa examiná-lo.”
Harry realmente não queria acordar, pois aquilo significaria encarar sua dor novamente. Seus sonhos, Cedrico, sua vida… Por outro lado, seria tão bom ver Sirius, que soava preocupado. Queria tranqüilizá-lo.
Sua cicatriz já estava começando a arder. Harry sibilou de dor ao se mexer – suas costelas lembrando-o que deveria escolher um abajur mais leve na próxima vez – e tentou abrir os olhos. Após algumas tentativas falhas de pôr a visão em foco, pousou o olhar sobre o homem de cabelos negros ao seu lado. Sirius gentilmente tentou colocar os óculos do afilhado em seu rosto e, após acertar uma de suas orelhas na primeira tentativa, conseguiu postá-los corretamente para garoto, que sorriu ao ver as feições tensas do homem.
“Oi”, Harry disse, sua voz quase um sussurro.
“Deixe-me vê-lo primeiro, Sirius”, Madame Pomfrey falou energeticamente, passando à frente do homem e começando a perguntar ao garoto o que doía e qual a última coisa que comera, assim como pedindo que seguisse sua varinha com os olhos, movesse seus braços e pernas, entre outras coisas. Harry piscou ao ver Sirius sair do caminho dela rapidamente e agüentou as perguntas sem fim e as ordens da enfermeira, obedecendo de forma cansada.
Quando finalmente parecia estar satisfeita, Madame Pomfrey andou na direção de Dumbledore, permitindo que Harry visse, pela primeira vez, onde estava e com quem. Era A Toca.
‘Como eu posso estar n’A Toca?’, Harry se perguntou. O lugar era silencioso demais para ser a casa do amigo.
Ele estava na sala de estar dos Weasley. Sirius, Rony, Professor Lupin, Sr. e Sra. Weasley, Madame Pomfrey e Professor Dumbledore estavam ali também, olhando tanto o garoto quanto a enfermeira atentamente. Harry notou a expressão austera dela ao encontrar com o olhar de Dumbledore e acenar com a cabeça em direção à cozinha, indicando que lhe desejava falar em particular. Assim, todos, com exceção do padrinho e Rony, a seguiram para dentro do outro cômodo, querendo ouvir o que a mulher tinha a dizer sobre a saúde de Harry.
Sirius, por outro lado, retornou à cabeceira do afilhado, pegando a mão dele entre as suas. Rony postou-se ao lado dele, seus olhos com um brilho intenso de preocupação.
“Como você está se sentindo?”, Sirius perguntou.
“Aquecido. Está bom assim”, Harry sussurrou. Estava deitando no sofá dos Weasley, envolto por cobertores e com um travesseiro sob sua cabeça, e sentia-se confortável como há muito tempo não conseguia. “Hey”, cumprimentou, acenando com a cabeça para Rony, que sorriu fracamente.
“Minha nossa, Harry… o que eles fizeram com você?”, o ruivo perguntou. Sirius lançou um olhar zangado para o garoto, mas Harry apertou a mão do padrinho de forma tranqüilizadora.
“Essas férias têm sido difíceis”, Harry respondeu secamente. Ele não queria falar sobre aquilo.
“Que bom que você ainda tem um mês para se recuperar. Parece que vai precisar de cada um desses dias”, o outro garoto declarou. ‘Sempre deixe a sinceridade para Rony’, Harry pensou, divertido.
“O que fez você vir?”, Harry perguntou a Sirius, como sempre dividido entre o medo pela segurança do padrinho e a necessidade esmagadora de sua presença. Supunha que todos n’A Toca agora soubessem sobre a inocência dele, caso contrário, teriam posto o homem para correr com vários tipos diferentes de feitiços. ‘Bem, Madame Pomfrey talvez não’, Harry ponderou com um pequeno sorriso ao lembrar do padrinho tentando manter uma boa distância da mulher. Porém, ela não olhara atravessado para Sirius nem uma vez, Harry lembrou, agradecido.
“Quando nenhuma das minhas corujas chegou até você”, Sirius respondeu simplesmente, seus olhos perscrutando o rosto do afilhado.
“Depois, Edwiges voltou para ficar aqui permanentemente, e sem cartas. Eu sabia que alguma coisa estava errada”, Rony disse, mordendo o lábio inferior e sacudindo a cabeça, para depois olhar para Harry. “Eu pedi a Hermione que tentasse falar com você do jeito trouxa, mas eles disseram que ninguém chamado Harry Potter morava lá”, ele continuou, seu rosto ficando vermelho de raiva.
“Rony me mandou uma coruja com essas notícias…”, Sirius falou, quase rosnando.
“… e eu sabia que teríamos de tirar você de lá mais uma vez”, Rony interrompeu, entusiasmado, “mas Dumbledore não deixou”, continuou, sua expressão aborrecida.
“… e eu discordei dele”, Sirius declarou.
Harry olhava de um para o outro enquanto falavam, sentindo como se estivesse assistindo a uma partida de Quadribol.
“Rony e Hermione sabiam que eu tiraria você de lá a qualquer custo”, Sirius falou firmemente, e não passou despercebido ao garoto o olhar venenoso que o padrinho lançou na direção em que Dumbledore deveria estar.
“Contudo, Almofadinhas sabia que não poderia obrigá-lo a se esconder com ele, e então teve de fazer outros planos”, Lupin disse ao sair da cozinha e se aproximar, parando ao lado de Sirius e pousando uma mão sobre um de seus ombros.
“Remo, sempre a voz da razão, sabia que você gostava d’A Toca e sugeriu que falássemos com Arthur e Molly sobre o assunto”, Sirius continuou com um enorme sorriso quando o amigo se juntou ao grupo.
“O que também facilitaria quando fôssemos buscá-lo, já que os Weasley já haviam visitado sua casa e poderiam nos ajudar a ultrapassar as barreiras”, Lupin adicionou.
“Mas isso não significa que…?”, Harry começou, repentinamente preocupado que os Weasley pudessem ser usados para tentar alcançá-lo. Aquilo significava que eles estariam em um perigo maior ainda, e não poderia permitir uma coisa daquelas. Olhou ao redor à procura de Dumbledore, agitado com o que acabara de saber, mas Sirius se inclinou em sua direção e descansou sua testa contra a do afilhado. O garoto congelou diante do gesto de carinho.
“Harry, eu sei em que você está pensando, e está errado. Eles não estão correndo um perigo maior do que já estavam antes. Eu vou contar a você um pequeno segredo que Dumbledore me disse”, Sirius sussurrou gentilmente, encarando os olhos do afilhado atentamente, seus cabelos fazendo cócegas na bochecha de Harry.
“Qual?”, o garoto perguntou, enquanto seu coração, na garganta, parecia desesperado para se manter ali e, ao mesmo tempo, conformado que não conseguiria.
“Os únicos bruxos e bruxas que podem atravessar as barreiras de proteção ao redor da casa dos Dursley são aqueles que o amam”, Sirius sussurrou, para depois se afastar, sorrindo.
“Então…”, Harry começou, pasmo com o que acabara de saber.
“Então Sirius decidiu se revelar para os Weasley e explicar o que realmente aconteceu”, o Professor Lupin disse, balançando a cabeça e efetivamente dando fim a todas as perguntas de Harry com um olhar que deixava claro que deveria perguntar novamente mais tarde.
“Graças a Rony, eles me ouviram, mas, ainda assim, eu escapei por pouco”, Sirius disse de forma atravessada.
“Na verdade, eles quase fizeram de Sirius o mais novo animal de estimação…”, Remo disse, levantando uma sobrancelha em uma careta. Harry sorriu, suspeitando que ele não dissera aquilo no bom sentido. Imaginava o quão assustadores o Sr. e a Sra. Weasley poderiam ser quando zangados.
“Porém, eles já tinham conhecido seus parentes horríveis, então não precisaram de muita persuasão para nos ajudar uma vez que os convencemos de que havia algo de errado”, Sirius falou, o que fez Harry franzir a testa.
“Mas, se Dumbledore achava que não era seguro… eu poderia estar colocando todos aqui em risco”, sussurrou, medo começando a preencher a boca de seu estômago enquanto tentava se sentar. Sirius balançou a cabeça e pressionou uma mão contra o ombro do afilhado, empurrando-o de volta para o sofá. Harry esperou que a dor amenizasse, sorvendo pequenas quantidades de ar. Mover-se fora uma má idéia, mas não poderia deixar que algo acontecesse com os Weasley.
“Não, você não está, Harry. Fique parado e me ouça. O que acontece é que Dumbledore vem trabalhando a maior parte do verão, adicionando novas proteções tanto n’A Toca quanto na casa dos Granger. Acrescente a isso um ex-Auror perfeitamente qualificado, um ex-professor de Defesa Contra Artes das Trevas e uma família inteira de bruxos e bruxas muito competentes, e você conseguiu um refúgio”, Sirius falou com um pequeno sorriso.
Harry podia ver que o padrinho estava se esforçando para manter os ânimos elevados, e sentia-se agradecido por isso. Então ele poderia ficar? Tinha medo de criar expectativas.
“Harry, A Toca é quase tão segura quanto a casa dos Dursley era”, Dumbledore disse quando também deixou a cozinha e, aproximando-se, sentou no sofá, próximo ao garoto, gentilmente. “Eu pretendia, em uma semana ou duas, permitir que os Weasley o trouxessem para cá. Sirius apenas adiantou os planos”, o Diretor continuou e, então, se inclinou para frente, seus olhos claros demonstrando preocupação.
Harry piscou diante da expressão dele, chocado. Até ali, fora capaz de manter uma conversa superficial e não falar sobre o que acontecera, mas sentia como se Dumbledore pudesse ultrapassar tudo aquilo e ver a dor que estava dentro dele. Harry rezava para não ser obrigado a falar sobre aquilo. Não naquele momento.
“Harry”, Dumbledore começou, aproximando-se mais, “eu terei de perguntar em algum momento”, falou gentilmente. O garoto foi mais uma vez surpreendido por quanto o Diretor parecia ver de seus pensamentos e medos mais íntimos, e tentou novamente engolir, apenas para falhar outra vez. Sirius franziu a testa e lançou um olhar para Madame Pomfrey quando ela e os pais de Rony retornavam para a sala.
“Eu posso pegar algo para Harry beber?”, Sirius perguntou a ela, que assentiu. Assim, ambos se dirigiram à cozinha novamente.
“Eu sei”, Harry respondeu ao homem, então olhou para a pequena pilha de livros sobre o seu malão, próximo à lareira. Eles haviam encontrado suas coisas escondidas sob a cama. “Um daqueles livros é um diário, que Hermione me deu. Eu o tenho usado para anotar meus sonhos”, disse. Sabia o quão importante aquilo era para Dumbledore.
Todos na sala ficaram em silêncio por um momento, e Harry relutantemente ergueu os olhos para encontrar os do Diretor. ‘Isso vai ao menos evitar algumas das perguntas’, Harry pensou, agradecido. Nunca quisera passar por tudo aquilo, quem dirá falar sobre o que acontecera. E aquilo incluía tanto Voldemort quanto os Dursley.
“Sua cicatriz tem doído, então?”, Dumbledore perguntou, apesar de soar mais como uma afirmação. Harry assentiu.
“O tempo todo”, o garoto respondeu, cansado, e ergueu o olhar para Rony, que ficou pálido, mas não se pronunciou. Harry se perguntou o que estaria sendo publicado n’O Profeta Diário sobre as atividades de Voldemort e de quanto o amigo saberia. O Sr. Weasley comentava sobre a guerra que se aproximava?
“Então, se não se importar, eu gostaria de levar o diário? Eu o devolverei em alguns dias, quando voltar para vê-lo”, Dumbledore pediu, sorrindo gentilmente em compreensão.
“Por favor”, respondeu. Não desejava realmente receber o diário de volta, mas fora um presente de Hermione.
“É claro”, o Diretor concordou.
Sirius retornou com um copo de água e, sentando-se ao lado de Harry, levantou a cabeça do afilhado gentilmente para permitir que ele bebesse, o que o garoto fez avidamente. A água fria contra sua garganta inchada e ressecada era uma sensação ótima, e Harry sentiu seus olhos começarem a se fechar. Esforçou-se para mantê-los abertos, saboreando o fato de poder engolir novamente.
“Não, Harry, está tudo bem. Você precisa do seu descanso. Durma agora. Eu o verei em dois dias”, Dumbledore disse e afastou o cabelo da testa do garoto de forma gentil. “Você está seguro agora”, sussurrou, e Harry escutou quando o pó de flu foi jogado dentro da lareira.
Sirius apertou a mão do afilhado.
“É, se apresse e melhore. Fred e George têm sido um terror por todo o verão, e eu preciso de um parceiro para planejar uma boa vingança”, Rony disse.
Harry sorriu, a mão de Sirius ainda presa à sua, e deixou que seus pensamentos divagassem. Ele ficaria. Ele ficaria, pelo resto do verão, com as pessoas que amava.
Rony conversou um pouco mais com Sirius, mas Harry não estava mais ouvindo. Ele se deixou flutuar para longe, perguntando-se se seus sonhos finalmente seriam agradáveis.
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