A Toca



N/T: Tradução da fic “Never Alone, Never Again”, da autora Bored Beyond Belief. Capítulo 2/42




“Harry? Harry!”, Sirius chamava urgentemente, enquanto via o garoto – que pesava quase nada em seus braços – perder a consciência. Ao ver o peito de Harry subir e descer, lutou contra o pânico que comprimia sua garganta. Ele ainda estava respirando, graças a Merlin.

“Eu achei, Sirius”, Remo falou, retirando alguns livros e uma pequena caixa que estavam debaixo de algumas tábuas levantadas do assoalho, sob a cama do garoto.

Remo colocou as coisas de Harry sob os braços e olhou para Sirius com um rosto quase impassível, seu corpo completamente imóvel. O outro conhecia aquele olhar; era quando o lobo estava prestes a se expor.

Sirius segurou Harry perto de si enquanto descia. Não tinham muito tempo. Pela aparência do garoto, eles quase chegaram tarde demais. Na verdade, ainda havia chances de que estivessem, de fato, atrasados. Remo vinha logo atrás. Arthur já jogara o pó de flu na lareira, o fogo iluminando a sala sinistramente, e seus olhos se arregalaram ao ver o garoto nos braços de Sirius.

“Vá por último, alguém tem de impedir que Remo os mate”, Sirius disse a Arthur, que assentiu enquanto olhava fixamente para a forma imóvel de Harry, algo que o padrinho do garoto também pretendia fazer mais tarde.

“Não que eu não os queira mortos, mas Harry não vai querer”, Sirius explicou, quase bufando ao perceber que sentia como se tivesse de explicar-se por não matar aqueles… animais.

“A Toca”, falou alto e entrou na lareira.

Remo parou por um momento, e Arthur esperou-o silenciosamente. Os olhos do lobisomem brilharam assustadoramente sob a luz do fogo quando olhou para trás de si, escada acima, em direção aos quartos dos Dursley adormecidos, depois para Arthur e, finalmente, para a lareira. O Sr. Weasley poderia jurar que ouvira um rosnado antes de Remo dizer, “A Toca”, e seguir Sirius.

Os olhos de Arthur observaram a organização da casa dos Dursley por um momento, impressionado com os monstros que eles, na realidade, eram, e suprimindo sua própria raiva. Harry era tão amado por Molly e ele quanto um de seus filhos. Como alguém podia abusar de um garoto tão gentil, de fala suave e tão amável…?

Balançou a cabeça, dando fim aos devaneios antes que cedesse às suas vontades e subisse pela escada para matar, com suas próprias mãos, aqueles Dursley.

“Nunca mais”, ele prometeu para o cômodo vazio. “Eu não me importo com o que Dumbledore disser. Nunca mais Harry Potter terá de viver nesse… lugar”, Arthur jurou, e entrou na lareira também, gritando o nome de sua casa como destino.



Sirius foi recebido com uma cacofonia de vozes e luzes ofuscantes quando adentrou a sala dos Weasley.

“Ah, não”, Molly Weasley gemeu, lágrimas instantaneamente se formando em seus olhos ao ver Harry nos braços dele. “Coloque-o aqui, por enquanto. Nós precisamos olhá-lo”, a mulher instruiu, deitando o garoto no sofá carinhosamente.

Rony, Fred, George e Gina - que também estavam esperando os mais velhos retornarem – agora se encontravam parados, observando o amigo em choque.

“Gina, pegue uma toalha e uma bacia com um pouco de água quente. Fred, pegue alguns cobertores e um travesseiro. George, contate Dumbledore e diga que precisaremos dos conhecimentos de Madame Pomfrey”, Molly ordenou, e seus filhos saltaram de onde estavam para obedecer. “Pegue minha varinha para mim, Rony”, ela pediu gentilmente ao filho, que assentiu de leve e relutantemente deixou o cômodo, por alguns instantes, para pegá-la.

Remo e Arthur também haviam retornado e estavam agora parados ao pé do sofá, observando enquanto Molly rapidamente assumia o controle daquele caos. Sirius se acomodou ao lado de Harry, segurando a mão pálida e inanimada dele contra o seu peito, enquanto lágrimas escorriam por seu rosto sem serem notadas. Rony retornou, entregando a varinha à mãe, e postou-se atrás do sofá, olhando Harry de perto, seus olhos arregalados.

“Sirius, deixe que eu o acomode primeiro, está bem?”, Molly disse gentilmente, sua mão no ombro do homem, que assentiu e se levantou, afastando-se e soltando Harry com relutância. Contornou o sofá para postar-se ao lado de Rony, que se aproximou e o abraçou, surpreendendo-o.

“Obrigado por ter buscado ele”, Rony disse, sua voz tremendo enquanto lutava contra as lágrimas.

“Eu deveria ter ido mais cedo…”, Sirius disse, sua própria voz embargada pela aflição. “Olhe o que fizeram com ele! Com Harry!”, ele falou e correu uma mão trêmula entre os cabelos pretos bagunçados. Apertou os ombros de Rony e novamente se voltou para a forma imóvel de Harry, escondendo seus punhos cerrados entre as vestes com brutalidade.

Sem se demorar, Molly lançou um feitiço para remover as roupas sujas de segunda mão que Harry usava. Olhando feio para a pilha rasgada e ensangüentada, falou rispidamente, “Comburo”. As peças entraram em combustão e, em questão de instantes, não eram nada além de cinzas.

Sirius observou atentamente os olhos de Molly enquanto ela tomava ciência, desesperada, da extensão dos danos, tentando determinar se a mulher pensava que Harry ficaria bem. As feridas ao longo do tronco do garoto eram facilmente distinguíveis contra as costelas ressaltadas e a pele quase translúcida. O corpo dele, ao toque, estava frio e úmido. Seu rosto estava sujo, mas também parecia exibir um inchaço ao redor de um dos olhos, assim como havia marcas óbvias de dedos ao redor de seu pescoço.

Molly ergueu os olhos – quase negros de fúria – para Arthur.

Fred retornara com alguns lençóis, que ele continuou a segurar firmemente contra o peito ao parar, com um tropeço, ao lado de Remo, fitando Harry. Molly quase soluçou ao balançar a cabeça, ainda olhando as feridas, tanto antigas quanto recentes, e o corpo quase esquelético do garoto. Pegou as cobertas que o filho lhe oferecia, alcançando a outra ponta e envolvendo Harry, de forma a aquecê-lo.

A casa dos Weasley, geralmente barulhenta, estava agora silenciosa, exceto pelo som da madeira que queimava na lareira, enquanto os presentes esperavam pela avaliação da Sra. Weasley quanto à condição de Harry.

“O Professor Dumbledore e Madame Pomfrey estarão aqui em meia hora”, George disse ao voltar, de forma apressada, para a sala e parar ao lado de Fred. Molly assentiu.

“Obrigada, George. Eu acho que ele ficará bem até lá”, ela disse, soando incerta.

‘Você espera que sim’, Sirius pensou, temeroso, ao perceber que Molly não se sentia segura.

Gina desceu a escada em seguida, equilibrando a bacia cuidadosamente para não derramar a água. Ao chegar, depositou-a sobre a mesinha ao lado do sofá. Enquanto se afastava, notou o rosto e o pescoço machucados de Harry, seus olhos arregalados. A ruiva fitou-o por alguns instantes, depois se voltou para Rony com lágrimas nos olhos.

“Você estava certo. Eu não podia imaginar isso, mas você estava certo…”, disse a ele com suavidade. Rony olhou-a enquanto lágrimas começavam a escorrer pelo próprio rosto e, então, balançou a cabeça furiosamente.

“Eu queria que não estivesse. Como Dumbledore pôde deixar Harry naquele lugar?”, Ron perguntou para a sala silenciosa. Ninguém tinha uma resposta. “Vocês sabiam que ele sequer recebia presentes de Natal até entrar em Hogwarts?”, insistiu, com raiva.

“Rony, isso não vai ajudar em nada agora”, Arthur Weasley falou e se aproximou, tomando o garoto nos braços, que não se opôs ao gesto. Em vez disso, ele apenas se virou e continuou a observar Harry, ainda sob a proteção do abraço do pai.

“Obrigada, querida”, Molly falou para Gina. Em seguida, pegou a toalha, mergulhou-a na água e torceu-a um pouco antes de começar a limpar o rosto de Harry gentilmente. “Todos nós o conhecemos, Rony. Já vimos como ele está sempre magro, principalmente no começo do ano. Ele é pequeno demais para a idade que tem… mas Harry alguma vez comentou sobre isso? Com qualquer pessoa?”, ela perguntou para a sala em geral. Ninguém respondeu.

“Nesse momento, vamos apenas nos preocupar com a melhora dele, está bem?”, ela sugeriu, encontrando com o olhar de Rony por um momento antes de voltar toda a sua atenção para Harry.

Sirius a observou lutar com suas próprias emoções enquanto tentava limpar o rosto do garoto, apenas para descobrir que boa parte do que ela pensava ser sujeira era, na verdade, feridas.

O homem teve de se esforçar para não começar a andar de um lado para o outro, sua ansiedade quase dominando todos os outros sentimentos. Harry estava imóvel demais... Sirius quase não podia ver o subir e descer do peito dele. E estava tão pálido, tão… Merlin, ele poderia morrer!

“E então?”, Arthur pediu a Molly por alguma novidade quando ela suspirou, quebrando o silêncio. A mulher se ergueu e curvou as costas, cansada, enquanto Fred e George sobressaltavam-se ao ouvir a voz do pai.

“Eu não sou uma especialista, Arthur. Algumas costelas quebradas, torções, desnutrição… esses são os mais evidentes. Dá para ver claramente que, em algum momento, ele foi sufocado, mas não posso dizer qual é o real cenário até que Madame Pomfrey chegue”, ela informou, observando o marido por alguns instantes. Depois, lançou um olhar para o resto da família.

“Dumbledore chegará daqui a pouco, e não temos espaço o suficiente aqui, então subam. Assim que Madame Pomfrey tiver terminado de cuidar de Harry e nós o acomodarmos, eu chamo vocês de volta”, Molly anunciou para os filhos. Todos eles subiram, com exceção de Rony.

“Eu não vou sair”, disse ele. Os olhos de Molly lampejaram por alguns instantes, então ela assentiu. A mulher sabia reconhecer uma batalha perdida.

“Eu entendo. Você pode ficar então, mas em silêncio”, ela instruiu. Rony acenou positivamente com a cabeça, agradecido, e permaneceu onde estava, seus olhos nunca abandonando Harry.

“As coisas não foram bem, não é?”, Molly perguntou aos três homens. Arthur assentiu, o que a fez fechar os olhos. “Eu só rezo para nós tenhamos chegado a tempo”, ela disse.

Sirius acrescentou seu próprio ‘amém’ àquela prece.



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