Entre farsas e vexames
Há um ano, um Natal como este era comemorado naquela mesma casa, sob uma atmosfera de tristeza e pesar. Não havia o velho anfitrião à mesa para desejar-lhes Feliz Natal quando fosse meia noite, nem para incitá-los a devorar o banquete que, todos os anos, Molly Weasley se empenhava em preparar. Também não havia uma parte de Jorge Weasley, a sua metade fora morta na batalha. Também não tinha a presença de espírito de Olho Tonto, e suas piadas fora de hora. Tonks também não tinha uma mão a que segurar quando precisasse se sentir confiante, porque Remus não estava mais ali para tornar as cores de seu cabelo constantes e alegres. Por isso eles mudavam de cor o tempo inteiro, agora.
Em contraste com os sorrisos levemente entristecidos, sempre que se davam conta de que um lugar ou outro na mesa estava vazio, havia a presença notável de Severo Snape, sua pele alva realçada pelo preto habitual de suas roupas. Seus cabelos pretos cobrindo superficialmente seus olhos, e impedindo que notassem seu desconforto. Ele sempre soube que as pessoas o culpavam por aquelas mortes, mesmo que ele nunca tenha movido um aceno sequer de sua varinha contra eles, exceto Dumbledore, claro, mas aquele já era um assunto resolvido. No entanto, faziam com que se sentisse culpado pelo simples fato de ele ter sobrevivido e os outros não.
Agora, a mesa ainda estava vazia, nos mesmos assentos. Mas era indiscutível que a atmosfera em nada lembraria aquela do ano anterior. Havia conversas paralelas a todo o momento, e uma piada ou outra podia ser ouvida, arrastando risos por onde passava, de boca em boca. A ceia fora servida um pouco mais cedo, naquela noite, e com a ajuda de todos havia sido preparada como um verdadeiro banquete.
Apenas uma única atmosfera de desconforto podia ser sentida, entre Snape e Hermione, sentados a uma distância merecedora de piadas, visto quão longe estavam, e evitavam trocar qualquer tipo de olhar. Após o incidente em que seus corpos se tocaram, causando dúvidas em ambos, não trocaram mais nenhuma palavra no decorrer do dia. Não era como se nunca tivessem se tocado antes, porque na verdade Hermione se lembrava de já tê-lo abraçado pelo menos uma ou duas vezes, no Natal anterior talvez. Mas estes abraços, apesar de serem tão próximos, sempre fizeram com que ela se sentisse, ao mesmo tempo, extremamente distante dele. Com exceção do contato ocorrido mais cedo, onde tinha certeza de que o sentira perto o bastante.
Precisava evitar qualquer contato com ele, por não entender o que de fato estava sentindo, e temer que seus hormônios a traíssem, mas também porque Rony assumira uma posição de defesa constrangedora, e detestaria qualquer discussão em que pudesse terminar com uma imagem injusta de traidora.
Uma vez, ao ser pega por Snape em uma de suas visitas às escondidas em seu escritório particular, conseguira contornar o constrangimento de ser flagrada tentando sair do local com diversos livros de poções, e o convencera a dedicar alguns poucos minutos tirando-lhe inúmeras dúvidas que, na época, tinha em relação a algumas poções mais complexas. Sabia que o deixaria tentado a responder qualquer indagação que ela tivesse acerca daquele assunto, e o sucesso esperado fora além de suas expectativas. Passaram horas fragmentando trechos de preparos de poções em busca de melhores resultados, criando e recriando fórmulas até que o cansaço do sono os vencesse.
Na despedida, em uma atitude desesperada, colocou o máximo de livros que conseguiu dentro de sua bolsa, esperando que ele não se desse conta de que eram seus próprios livros. Uma vez de volta à segurança de seu quarto, achou ter obtido êxito, mas fora surpreendida pela entrada abrupta do mestre, sobre olhares de intensa desconfiança. Assustada, lembrava apenas de ter recuado em defesa, enquanto ele dizia “Por acaso você prestou alguma atenção ao que eu estava lhe explicando sobre aquelas poções, Granger, ou você só queria roubar meus livros no final das contas?”.
Tudo o que fora capaz de fazer tinha se resumido em uma gargalhada divertida, nada contida, enquanto pensava como, por Merlim, aquele homem podia ser tão observador o tempo inteiro. Na ocasião, assustado com o som de vozes e riso no quarto, Ronald se viu obrigado a interromper seu banho pela metade, saindo do banheiro coberto de sabão nos olhos, o que rendeu piadas por semanas seguidas. Desde então, Rony sempre dizia à Hermione que queria que ela mantivesse distância de Snape, porque nunca confiara em sua lealdade e porque ele representava uma ameaça constante. Sem seguir nenhum dos conselhos, continuou invadindo o escritório de Severo vezes seguidas.
Por outro lado, Severo se sentia miserável sem saber controlar suas reações orgânicas. Parecia um menino desprovido de autocontrole, e seu pensamento partia de seu prato de torta de ameixa para Hermione em seus braços em frações de segundos. Uma vez ou outra tinha que olhar para os lados, sempre com a impressão de ter ouvido algo, e então se dava conta de que era apenas o som da respiração ofegante que Hermione emitira no momento do contato, mais cedo, e que parecia gravado no interior de sua mente como uma realidade absurda, fazendo-o se lembrar do quanto estivera próximo dela.
Era uma sensação quase desesperadora, admitir que não tinha estado tão próximo de mulheres assim, nos últimos anos. Não contaria como fato nenhuma de suas aventuras noturnas, em noites de insônia. Porque eram tão raras que nem conseguia se lembrar da última vez que procurara por essas mulheres.
Normalmente, conseguia desviar seus pensamentos para qualquer outro assunto que não remetesse às suas necessidades orgânicas. Mas agora sentia todas essas vontades vindo à tona, como se tivesse esquecido que era um hábil manipulador de mentes, inclusive a sua.
Lembrava-se da visão que tinha tido de Hermione mais cedo, e surpreendia-se com a forma como uma imagem podia mudar por razões totalmente impróprias. Antes de tê-la, não de forma proposital, encurralado contra seu próprio corpo, na intenção de tomar-lhe os livros à força, só tinha conseguido enxergar uma jovem extremamente astuta, de mente brilhante, porém perigosa, que tentava a todo custo não admitir não dar à mínima para suas ordens, e que o enfrentava de queixo totalmente erguido, sem medo de reprimendas. Agora, só via a mulher cuja astúcia lhe causaria muitos transtornos quando deitasse para dormir, em sua cama, naquela noite.
- Estão prontos? – era Arthur Weasley quem lhes perguntava, deixando seu talher cair sobre o prato vazio – Que tal partirmos logo para os presentes?
Uma baforada de irritação foi ouvida do outro lado da mesa, e vinha de Snape. Mas o restante da mesa estava animadíssimo para o Amigo Oculto sugerido por Dumbledore, logo mais cedo, como conselho para apaziguar os ânimos. Era de se esperar que ele fosse propor alguma coisa do tipo, visto que ele próprio teria desejado participar. Se isto já não fosse demasiado triste, ele ainda acompanharia a entrega dos presentes, de esguelha através dos muitos quadros que havia na casa.
Um a um, seguiram para a sala, acomodando-se cada um em seus lugares favoritos, entre sofás e poltronas. No canto da lareira, Snape tinha seu lugar reservado, e ninguém ousaria ocupá-lo. Do lado oposto à sala, sentada sobre o tapete do chão, ao lado das pernas do namorado, estava Hermione. De lá não conseguia enxergar muito da expressão de Severo, mas podia notar a aparente decepção que ele sentia por ter que participar do evento, claramente demonstrado na postura com que estava sentado.
Cada um carregava em mãos seus presentes, alguns maiores, outros bem pequenos. Mas não havia nenhum nas mãos de Snape, para curiosidade de muitos.
- Era mesmo de se esperar que o amigo oculto do Snape fosse ficar sem presente, essa noite... – Gina comentara, sarcasticamente – Por acaso as lojas que visitou estavam fechadas, professor?
Seu comentário rapidamente foi seguido por uma risada ácida de Rony, ao tempo em que Hermione o encarava repreensivamente.
- Deseje apenas que eu não tenha sorteado você como amiga oculta, senhora Potter... – Snape respondeu à provocação, sua voz baixa, porém audível.
Imediatamente se viu preso a uma reflexão interna, por ter se referido à filha caçula dos Weasley como esposa de Harry, quando eles não eram mais que namorados. Lembrou-se imediatamente que Hermione e Ronald também não eram casados, mas viviam como tal desde o fim da guerra, e nunca nem se quer pensou em trocar o sobrenome dela por outro. Sentiu um bolo se formando em sua garganta e uma involuntária retração de seu pulso, enquanto retirava do bolso interno de sua veste um embrulho minúsculo, que com o aceno da varinha foi trazido ao tamanho original. Estava precariamente embrulhado em um papel manchado.
Após uma rápida preparação, iniciaram-se as entregas dos presentes. Ao centro da sala, a pessoa da vez fazia um pequeno discurso sobre seu sorteado, e o anunciava entre palmas e assovios, entregando o presente e sorrindo para uma foto rápida que Tonks tirava. Um a um, os presentes eram entregues. Como não haviam tido tempo suficiente para a compra do presente, visto a ideia de ultima hora, a improvisação era o melhor da brincadeira.
- Meu amigo oculto... Vejamos o que falar dele. – Hermione agora estava no centro, visivelmente nervosa por ter de falar sob tantos olhares. – Na verdade, sinto que não tenho muito a dizer sobre ele. – suas mãos estavam suando, à medida que tentava olhar nos olhos de cada um, evitando os de Snape – Pensando bem, eu não tenho nada a dizer mesmo. – e uma onda de risos nervosos pareceu dominar o ambiente, como se todos pudessem prever que Hermione houvesse tirado o nome de alguém de quem tinha inimizade – Eu poderia falar qualquer coisa, e ainda assim eu não estaria dizendo nada, porque não vejo como dizer coisas que já foram ditas tantas vezes. – levou a palma das mãos de encontro às calças jeans que usava, estavam levemente úmidas, e tal ato provocou a mente insana de Severo, fazendo-o desviar seus olhares para a visão de uma jovem que há muito não notava que havia se transformado em mulher – De qualquer forma, eu direi alguma coisa: obrigada por existir, sabe que sou grata a você de diversas formas, minha existência não seria nada se você nunca tivesse posto a sua em risco, mas acima de tudo, sua amizade e seu companheirismo são o que fazer ser quem sou, Harry Potter.
E uma explosão de risos e aplausos inundou o ambiente, enquanto um presente era entregue a Harry, seguido de um abraço caloroso e um beijo no rosto. Ronald parecia impaciente em sua poltrona, talvez incomodado com a demonstração de afeto extremamente exagerada entre a namorada e o melhor amigo. Ou talvez, ainda, ele tivesse desejado muito que Hermione o tivesse escolhido no sorteio, e estivesse desapontado agora.
No momento em que Hermione terminou a entrega, Harry fez menção de ir para o centro, obviamente sendo sua vez na rodada, mas foi atingido bruscamente por um empurrão vindo de Ronald em seu ombro, forçando-o a voltar para seu lugar. Estava nervoso, e não tirava os olhos de Hermione, que foi surpreendida quando ele a puxou pelo braço, trazendo-a para o centro da sala. Severo notou a intensidade com o qual ele praticara o ato, e teve ímpetos de levantar-se também, mas não saberia como reagir. Como o bom espectador que sempre fora, ficou atento aos sinais.
- Hermione, eu tirei você... – disse Ronald, imediatamente após o olhar inquisidor dela sobre ele.
Todos explodiram em gargalhadas assim que se deram conta do nervosismo aparente do ruivo, enquanto segurava um embrulho de tamanho pequeno apontado na direção dela. Livrando-se do aperto em seu braço, afastou-se o suficiente para compreender o que estava acontecendo. Nunca vira seu namorado agindo daquela forma, mas aceitou o presente assim mesmo.
- Obrigada, Rony... – disse, incerta se deveria abri-lo logo ou aguardar que ele dissesse algo.
Vendo que ele não diria, abriu. Seu coração saltou de seu peito no instante em que se deu conta de que estava segurando uma pequena caixinha nas mãos, e que, ao abri-la, se deparou com nada mais que um anel brilhante, incrivelmente reluzente. Era lindo. Era caro, tinha certeza. Era de noivado, e não entendia o motivo daquilo.
Desviando seu olhar dele para o anel inúmeras vezes, indagou com sua própria expressão de desentendimento, mas não ouviu nada além de um baixo, quase inaudível, “Deseja se casar comigo?”
A essa altura, estavam todos em silêncio, como se uma simples exclamação pudesse estragar o momento. Snape já não estava tão disciplincente em sua poltrona, na verdade agora estava inclinado para frente. Sentia o cheiro de trapaça, era evidente. Tinha certeza, na verdade. Mas o pedido de casamento parecia sincero, ao menos.
- O quê? – perguntou Hermione, mudando o peso de uma perna para outra – Está me pedindo em casamento, Ronald? – disse, no que ele balancou a cabeça afirmativamente. – Não me diga... Então quando eu disse que não deveriamos pensar em casamento até que tivessemos nossa estabilidade financeira e, no minimo, um lugar só nosso para morar, ou um bom seguro de saúde... Você simplesmente não me ouviu, foi?
- Eu realmente acho que já é hora de pensarmos em camento, Hermione. – respondeu, parecendo um pouco nervoso – Já temos uma boa conta bancária, e sempre podemos expandir um comodo ou outro desta casa para aumentar nosso quarto, e também...
- RONALD WEASLEY, EU DISSE QUE NÃO QUERIA PENSAR EM CASAMENTO, NÃO ENQUANTO NÃO TIVESSE CERTEZA DE QUE ESTARIA PRONTA.
- Você não me disse que não estava pronta, Hermione. – puxou-a pelo braço mais uma vez, visivelmente alterado. – Você nunca me disse que estava em dúvida. Eu apenas pensei...
- Você pensou errado, Ronald.
Dito isto, arremessou o anel contra ele e saiu em direção aos jardins, tão rapido quanto pode, antes que começasse a chorar na frente de todas aquelas pessoas. Não suportaria a vergonha. Mesmo irritado, Rony se viu em dúvida se iria atrás dela ou não, até se decidir que deveria. No momento em que seguiu em direção à porta, Severo sentiu vontade de impedi-lo, e dizer que era bom para ela que ficasse sozinha um pouco. Mas isso pareceria estranho demais, e ainda ousado.
Algum tempo depois, tudo parecia estar calmo, e pediram que continuassem as entregas. Harry fez a sua, no que Arthur seguiu a ordem. Um a um, até que só restasse uma pessoa.
- Bom, eu tirei o babaca do meu irmão, o Ronald. – dizia Gina, no centro da sala, tirando alguns risos de poucos – E como ele não está aqui, não tenho vontade alguma de falar nada a respeito dele. Nem sei se ele merece esse presente. – e fez menção de que destruiria o presente com sua varinha – Mas agora não entendo por que o Snape ficou sem presente e por que ele não tirou ninguém...
De repente os olhares estavam todos sobre ele. Com um gesto calmo, Snape ergueu-se de sua poltrona e caminhou até o centro da sala. Seu embrulho parecia saído debaixo da saia de um trasgo, tamanho a quantidade de amassados.
Pigarreou uma vez, não para chamar atenção, mas para criar coragem.
- Acredito que tivemos uma farça neste jogo. – disse, sem fitar ninguem em especifico, ouvindo um som de espanto dos demais – É provavel que o senhor Weasley tenha tirado a mim no sorteio, mais cedo. Por constrangimento de ter de me presentear, o que admito não ser uma ideia agradável, de fato, ele optou por pedir sua namorada em casamento, no que tivemos a honra de assistir ao espetáculo. Obviamente ela não o quis, por seus motivos, é claro. Evidente que eu tenha ficado sem presente, e não espero recebê-lo depois disso, de qualquer forma. – todos pareciam divididos entre sentir pena ou divertir-se com a trapaça de Ronald - O fato é que minha sorteada não está em condições de ser presenteada nesse momento, levando em conta que ela está tentando lidar com um pedido de casamento fora de hora. No entanto, faço questão de entregá-lo a ela, assim que possível.
Como se tivesse acabado de contar um segredo, conseguiu fazer com que todos permanecessem calados, enquanto absorviam os fatos e buscavam compreensão para os atos de Rony. Parecia terrivel, visto que Snape houvera sido convidado a participar do jogo tanto quanto qualquer um deles, e não merecia tamanha discriminação. Mas apesar de tudo, sabiam que Snape não se importaria tanto com aquela tragédia, talvez até tivesse preferido que terminasse daquele modo.
Percebendo que ninguém talvez faria qualquer pronunciamento a respeito, e não desejando mesmo esperar que fizessem, Snape retirou-se da sala em direção às portas do fundo, lado oposto para onde Hermione correra anteriormente, e para onde Rony havia seguido atrás dela. Não estava triste ou irritado, mas algum sentimento diferente habitava seu íntimo, algo nunca sentido antes, não que se lembrasse. Sabia apenas que não tinha relação alguma com a sua falta de presentes ou falta de sorte de não poder presentear sua ex-aluna brilhante, como tinha pensando mais cedo. Guardaria seu presente até o momento mais oportuno. Não sabia quando, talvez tudo dependesse de como as coisas entre ela e o namorado se resolveriam.
- Meu caro Severo... Não vá. – ouvia-se a voz de Dumbledore em um quadro distante, chamando por Snape e atraindo a atenção de algumas pessoas mais atentas.
Snape interrompeu sua caminhada antes mesmo de deixar o ambiente, permanecendo na posição em que estava, de costas para todos, inclusive para Alvo.
- Permita-me participar deste jogo, enquanto ainda tenho esta imagem a preservar. – disse o ex-diretor, com um leve sorriso em seus lábios, sua voz tão doce e melodiosa quanto se lembravam que fossem. – Talvez eu possa presenteá-lo.
Snape suspirou, sabendo que teria que ouvi-lo, seja o que quer que fosse dito.
- Sei que não tenho muito a oferecer, visto a minha condição... – disse o senhor, referindo-se a não estar mais em vida – Nem tão pouco poderia presenteá-lo com algumas das deliciosas uvas pintadas nos quadros da cozinha... Oh, Severo, perdão, uva não é bem sua fruta preferida, não é mesmo... – no que terminou retirando alguns risos das pessoas na sala, até mesmo um esboço livre de raiva nos lábios de Snape – Então deixe-me presenteá-lo com algumas palavras. Conselhos, talvez, entenda como achar que deve. Lembra-se da última vez em que se permitiu, Severo?
Era uma pergunta, ele sabia, e mesmo não tendo entendido, virou-se de frente para o quadro em um movimento ligeiro, notando um brilho extremamente reluzente por trás dos óculos meia lua do homem. Talvez entendesse, mas só talvez.
- Velho idiota... – foi o que disse, recusando-se a acreditar que aquele assunto podia ser sobre sentimentos.
- Sim, sim... Então você se lembra da última vez em que se permitiu, não é mesmo? – disse novamente, sorrindo ao ver que fizera Snape chegar a conclusão, pois se referia à ultima vez em que Snape se permitira amar, verdadeiramente.
- E por acaso você se lembra dos resultados dessa permissão, Alvo? – Snape devolveu-lhe a indagação, sobre olhares atentos de não entendimento dos demais.
- Oh, lembro bem, Severo. Mais do que desejaria. Mas escute, meu jovem... – e dizendo isso fez com que algumas pessoas se aproximassem ainda mais, motivadas pelo tom cuidadoso com que ele escolhia suas palavras, mesmo que para usá-las com o homem que muitos ainda consideravam como traidor – Permita-se novamente, Severo. Nunca esqueça que um vilão já foi derrotado, acha mesmo que outro poderia detê-lo? Ah, e não esqueça de entregar seu presente, Severo.
Snape não estava verdadeiramente certo se havia entendido, mas seu corpo inteiro estava disposto a lhe mostrar a verdade. Sentia desejos até então não sentidos, e todos apontavam para uma única mulher, a de mente mais brilhante que já conhecera, depois de Lilian. Detestava ter que concordar com Dumbledore, mas desse vez ele havia acertado em cheio. Mesmo que não quisesse, seu corpo e sua mente ansiavam por permitir-se. Nem que fosse uma vez mais, antes de uma nova decepção.
Sorriu amigavelmente para o bruxo no quadro, e voltou seu caminho agora para a direção oposta, seguindo para seu quarto. Pensaria mais a respeito, de qualquer forma.
Continua...
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!