Keep On Walking



Something’s happening you can’t see
We are rolling on stormy seas
You don’t like when I disagree
The lies you’re spinning,
you’re changing me


All that glitters is not gold
From the bruises flowers grow


Alguma coisa está acontecendo que você não pode ver
Estamos rolando em mares tempestuosos
Você não gosta quando eu discordo
As mentiras que você está fiando, você está me mudando


Mas nem tudo que reluz é ouro
Dos hematomas flores crescem

(Keep On Walking - Gabrielle Aplin)  



- Você é mesmo uma garora estranha Astória - a voz de seu pai saía rude - Dentre todos os candidatos o unico que a fez sair de seu estado de cubo de gelo foi logo o Malfoy.

Ela nunca entendera bem o porque, mas o desgosto que ele demonstrava sempre que falava com ela nos ultimos meses só piorava. Seu coração se magoava cada vez mais ao perceber que aquilo não parava, a cada dia as coisas só pioravam. Ele podia estar lhe culpando por não agir de forma tão fria com relação a Draco, mas se tivesse mantindo a compostura, estaria provavelmente ouvindo o mesmo escarnio, mesmo que por motivo diferente.

- Acreditei que fosse o que desejasse papai - respondeu ironica - Que tratasse seus convidados de forma cortês.
Não era natural de si dar estes tipos de respostas. Mas o que mais era natural em sua vida? Seu pai percebeu sua intenção, mas a ignorou como fazia com tudo que lhe desagradava.

- Não esperava que ele viesse me visitar, há muito tempo resolvemos nossas questões através de cartas e intermediários - ele a fitou como se não pudesse realmente acreditar que ela pudesse ser a causa da presença do Malfoy em sua casa.

- Talvez ele tenha a intenção de estreitar laços - palpitou a jovem irritada. Queria atingir seu pai de algum modo. Estava cansada de ser aquela que sempre saia abatida e humilhada de suas curtas e cada vez mais raras conversas.

Seu pai a fitou de forma intensa e ela não soube se estava mais satisfeita ou amedrontada por isso.

- Não seja petulante menina! Vá se deitar. Não sei porque ainda está aqui.

- Talvez porque seja aqui que você esta decidindo meu futuro - pesou ela enquanto se levantava da poltrona onde estivera sentada, se curvava em despedida e saia do comodo de forma silenciosa.



Eles apareceram no dia seguinte, desta vez seu pai não os esperava. Estava tão surpreso quanto ela. Por mais que tentasse deixar sua curiosidade de lado enquanto servia o chá, não conseguia parar de se questionar porque estavam alí.

- Foram tão gentis conosco em nossa ultima visita que não resistimos a fazer um nova - dizia o senhor, enquanto Draco lançava um meio sorriso.

Ela imaginou que era o mesmo sorriso que devia usar ao realizar seus negocios, cordial, mas totalmente falso, não que fosse alguma coisa rara naquele meio, já conhecera muitos negociantes e, na maioria da vezes, as relações só lhes interessavam quando podiam obter algum lucro delas. Sorrisos falsos, mentiras doces e traições veladas eram na verdade bastante comuns.

Seu pai não falara nada desde a chegada das visitas, como se os homens houvessem levado consigo o poder de cala-lo. Ela não conseguia evitar se sentir feliz com aquilo. Aquele que falava como se fosse detentor de uma razão superior emudecido apenas pela presença daqueles homens.

- Gostaria de açucar senhor Aleph? - ela aproveitou para falar, mas se direcionou ao unico que lhe despertava algo bom naquele momento.

- Sim, minha jovem. Um cubo é o bastante. Dois para me companheiro. Ele gosta de coisas doces.

Ela não foi capaz de ver o senhor piscar para o jovem, assim como seu pai que sentado de frente para as visitas tinha parte de sua visão coberta pela silhueta da filha que mexia na bandeija apoiada na mesinha de centro. Eles também não viram a careta de desagrado com a qual Draco respondera. Ele não estava gostando daquele joguete de Aleph, normalmente tais brincadeiras o divertiam, mesmo quando ele tentava demonstrar o contrário, mas aquele caso era sério demais para que pudesse tirar alguma graça da situação.

Na verdade não entendia bem como fora parar ali. Quando Aleph lhe fez o convite, surpreendeu a si mesmo ao concordar com a visita. Quando chegara em casa no dia anterior, tinha certeza de que aquela ideia não passava de loucura. Assumiu que aquela menina jamais seria uma esposa adequada para ele, e depois, quando foi mais sincero consigo mesmo, que jamais seria um marido adequado a ela. Astoria certamente fora criada da mesma forma superficial que a maioria das jovens bruxas de familias convencionais. Sempre focadas naquilo que brilhasse mais. E o nome de Draco não possuia brilho algum. Por mais dificil que fosse a situação dos Greengrass, Astoria ainda devia estar esperando por um bruxo nobre que não tivesse o sobrenome na lama.

Desde que sua situação atual se acentara, Draco sequer cogitara a ideia de se relacionar com alguém, depois de tudo que passara aquilo não lhe parecera como um objetivo necessário. Já havia problemas demais em sua vida para ir atrás de mais. Ele sabia que para estar com ele, uma mulher precisaria de muita coragem ou desespero e ele acreditava que a jovem que falava amenidades com seu acompanhante não possuia o bastante de nenhum dos dois. Era o que tinha repetido para si, mesmo quando sua memoria o fazia lembrar do que vira no olhar da jovem, que por trás de todo aquele gelo, havia fogo.  

Quando o Sr. Greengrass finalmente se recuperou da surpresa da visita, a conversa passou a fluir pelos terrenos do comercio de novo e Astória se recolheu a mesma poltrona que usara no encontro anterior se esforçando em fazer parte do cenário. Estava surpresa consigo mesma por ao inves de se sentir frustrada, como acontecia comumente nas visitas que recebia, ter se sentido efusiva. Era bom conversar com alguém que parecia ouvi-la de verdade, Aleph parecia avalia-la, como todos os outros homens que conhecia, mas havia nele uma docura e graça que faziam parecer que a cada pergunta só confirmava suposições positivas acerca dela. Era bom ser sinceramente estimada. Quando chegou a tal conclusão sua alegria murchou. ‘Estou ficando tola‘, pensou, ‘passo meus dias ouvindo as queixas de papai e sendo analisada como um besouro por diferentes homens, agora uma simples conversa e já estou assim. Em que ponto cheguei?‘.

- O que pensa disso minha jovem? 

Ela se sobresaltou, estava tão concentrada em seus pensamentos que sequer percebeu que o senhor lhe questionava algo. Se irritou com ele por estar sempre forçando-a a participar e mais ainda pelos sentimentos que isso lhe causava.

- Me desclpe, não estava atenta - pretendia que eles a deixassem em paz e voltasse a se focar em seus galeões.
Porém Aleph não deixou a atenção se desviar dela.

- Dizia a seu pai que estou receoso de que o jovem Draco invista no produtos do Sr. Alphonsus. Ele busca comerciantes de nome sólido para exportar sua produção de Abutua. Imagino que estando nesta casa tenha noção do que se trata e tenha alguma opinião sobre a segurança do negócio.

Os tres homens estavam agora lhe encarando. Sua mente correu para o rosto conhecido do Sr. Alphonus. Ele era conhecido por se envolver em difentes ramos do comercio, vendia e comprava de tudo. Já ouvira diversas pessoas falarem que se metia em negocios excusos e de consequencias negativas para aqueles que se envolviam. Seu pai já fizera negocios com ele, mas nunca saira prejudicado, sabia muito bem o porquê. Quando Alphonsus estava envolvido em algo alguém sempre acabava prejudicado, e se não era seu pai, era por que eles deixaram as consequencias nas mãos de outros. Odiara cada encontro que tivera com ela, o modo como a olhava era repugnante.

Pensou em calar, fingir que não entendia. Mas aqueles três rostos lhe fitando a fizeram decidir por outra coisa.

- Eu jamais me envolveria em negocios do Sr. Alphonsus. O considero desagradável e não merecedor de confiança.

Draco podia perceber que ela hesitara de inicio, mas depois mudara de ideia. Ela parecia irritada, se com ele ou outra pessoa, não sabia. Ficara mais focado em fitar seus olhos que novamente reluziam a chama que vira no dia anterior. 

Astoria percebeu que seu pai estava chocado, se apenas por ela emitir uma opinião sobre sua profissão, ou por ter repudiado um de seus parceiros comerciais, não sabia e, do fundo do seu coração, não se importava. Draco a fitava de forma intensa e, diferente do que faria talvez horas atrás, ela correspondeu. Fez com seus olhos enfrentassem o azul acinzentado do dele firmemente. Não sabia exatamente o que a levara aquilo, ou qual era seu objetivo. Só sabia de uma coisa: estava cansada de se esconder. 




Aleph acompanhara Draco até sua casa após o encontro com os Greengrass, parecia extremamente satisfeito com o resultado da visita.

- E então meu rapaz, o que me dizes? Não te pareces uma ótima ideia?

Draco lhe revirou os olhos e bufou, sabia que estava se deixando levar pelo velhote e que agia de modo infantil, mas era bom poder se-lo com alguém. Não respondeu de imediato ao senhor, pesado a situação. Aleph sempre lhe fora leal e útil, mais até do que esperava quando passou a seguir seus conselhos. Não era a toa que se sentisse a vontade com ele para agir de tal forma, coisa que jamais faria com qualquer outra pessoa. Apesar de toda sua mania de acreditar desacreditando, seus instintos o levavam a crer que lhe desejava o melhor ao insistir naquilo. Mas exatamente por que podia ele pensar que aquele enlance seria positivo para si?

- Me diga então, Aleph. Porque acreditas tão firmemente que devo levar isso a cabo?

Aleph o olhou e Draco não pode deixar de sentir a estima e carinho do velho, o que o deixou relaxado e tenso ao mesmo tempo.

- Sabe Draco, normalmente dividimos as pessoas em dois grupos, aqueles que não se destacam e aqueles que brilham. Podem até dizer por aí que o Grengrass foi capaz de gerar a uma filha de cada tipo. Já vi a Sra. Rudolph, antes conhecida com Srt. Greengrass, e em verdade jamais poderia dizer que ela passaria desapercebida em qualquer ambiente que entrar. Já a senhorita Astoria, bom, ela provavelmente poderia sumir em meio ao ambiente, como se fosse uma pintura na parede, ou um vaso sobre uma mesinha. Mas a verdade é que, em todos esses anos de vida que tive, descobri que há ainda um tipo a mais, há aqueles que vibram. Não é algo que se pode perceber quando se está desatento, mas se você olhar ao menos uma vez com verdadeira vontade de enxergar, você perceberá...

- Que há algo mais - finalizou Malfoy e Aleph sorriu.

- Exato. 

Draco silenciou enquanto pensava no assunto, por mais que quisesse discordar de Aleph, lhe dizer que só falara tolices e que jamais levaria adiante aquele plano sem cabimento, não conseguia, porque, de alguma forma, naqueles dois pequenos encontros, sentira aquilo. Havia algo mais em Astoria.



N/A: Bom, talvez eu tenha voltado. 

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