As peripécias do Conde Capis




O domingo nascera quase imperceptível. Pouca da luz matinal atravessava as dezenas de metros de água gelada e cálida do lago negro. Alvo sentia que estava acordando cedo demais para quem havia dormindo tarde. Mas simplesmente não conseguia manter os olhos fechados. Algo crescia dentro de seu peito. Algum tipo de desejo indefinível.


Nelson ainda babava no travesseiro, Conde Capis estava aninhado em sua cama... então jogar Xadrez de Bruxo não era uma opção. Teria que enfrentar o tédio até todos os alunos despertarem.


Quando o garoto desceu a escadaria até o centro do salão comunal, encontrou uma única pessoa sentada na poltrona de couro negro próxima a grande lareira de pedra ônix. Desmond Padalecki lia um livreto vermelho com os dizeres “Estratégias para o Quadribol”, mas acompanhou com o olhar cinza-azulado Alvo se distanciar até uma cadeira mais próxima à janela e lá isolar-se.


Padalecki riu de repente.


— O que foi? — Alvo virou-se para encarar o loiro.


— Cala a boca — o rapaz deu uma rápida espiadela no quadro de avisos, riu de novo e depois voltou a ler.


Alvo olhou para o quadro de avisos. Um dos recados tinha os seguintes dizeres:


“Testes para novos membros do time de Quadribol da Sonserina: segundo sábado de Setembro, 16 horas, sala dos brasões próximo ao Campo de treino. Somente para alunos a partir do Segundo ano.


Ass: Capitão Padalecki”


O garoto fitou Desmond... Procurando coragem dentro de si. Decidiu que isso só poderia ser dito da maneira mais topetuda que tivesse:


— Quero entrar no time de Quadribol da Sonserina como Artilheiro. — Alvo disse isso frente a frente com Desmond, que agora tirava os olhos do livro e fitava os olhos esverdeados do Potter. Desmond fechou o livro e se levantou, deixando claro a diferença de idade: Desmond era muito alto e forte. Ficou fitando Alvo, até o garoto se sentir constrangido e completar: — Hã, por favor, er, Senhor Desmond, quer dizer, Capitão Padalecki...


Desmond riu novamente.


— Você é bom, Potter. Tenho que admitir isso. Tem um talento especial para fazer manobras... Apesar de ser meio magro... Compensa.


Alvo ficou aturdido. Estava sendo elogiado por Desmond Padalecki?


— Mas... — o garoto deu aquele sorriso canalha — não significa que você pode entrar no meu time. Ninguém sabe se você é confiável, pode observar os treinos e acabar falando tudo pro seu irmão mais velho ou sua prima...


— Eu não faria-!


— Não sei, não te conheço, você tem parentes demais no time da Grifinória e ouvi falar que fica se lamentando por aí, dizendo que não queria ser da Sonserina...


— Eu não fico me-


— Prova — Padalecki o interrompeu, se abaixando um pouco para ficar olho a olho com o menino. — Prova que é dos nossos, e não deles.


“Se você me der um sinal, eu peço para o professor Slugorn e deixo você fazer o teste. Se for selecionado, eu dou um jeito na sua magreza e te treino até você se tornar uma lenda... Mas pra isso te que me provar.”


Alvo hesitou um pouco...


— Como... Me diz como.


— É bem simples. — o capitão sorriu maldoso — Pede pro Tiago te treinar e me diz o estilo dele de apanhador.


Alvo entendeu a mensagem... Ele estava pedindo para que Alvo seja um espião traíra.


— Não, eu não posso fazer isso, ele é meu irmão, ele é...


— Um babaca. Meu primo Mathew me contou que ele nunca deixava você jogar, por pura inveja. Eu posso ser um pouco chato, mas pelo menos eu estou te dando uma chance de jogar Quadribol. E de vencer o Tiago.


— Eu não sei — Alvo estava aflito — Eu não posso, ele, ele...


Desmond deu dois tapinhas na cara de Alvo, deixando a bochecha do menino rosada.


— Não é nada demais. Só precisa me falar o estilo dele. Vou te dar esse livro — Pdalecki deu o livro na mão de Alvo — Lê o capítulo dos Artilheiros para você treinar com o Tiago, mas lê o dos Apanhadores pra você notar como seu irmão joga.


— Mas eu não posso...


De repente Nelson, Mathew e Patrichio desceram as escadas, bem como Karoena e Phandora. Desmond imediatamente se afastou de Alvo, porém, antes dizendo, com uma piscadela:


— Quero uma resposta até sexta. Eu vou falar agora pro professor Slugorn.


Alvo adentrou no grande salão acompanhado dos Notórios, sua cabeça estava distante. Nelson precisou gritar para Alvo perceber que estavam falando com ele. Queria saber o que aconteceu com Alvo na detenção e o que Desmond conversava com ele, mas o garoto conseguira evadir-se, citando que estava ansioso para a aula de Feitiços de amanhã.


Quando chegou na longa mesa da Sonserina, ela já estava cheia de Wafles, bacon, pãezinhos, torradas, sucos dos sabores mais variados... Alvo comeu tudo muito rapido e olhou ao redor, caçando as primas na mesa da Grifinória. Encontrou Rosa comendo e conversando com Elliot, o gordinho. Alvo pensou se queria ser visto, mas logo decidiu-se. Precisava falar com a prima.


— Eu vou ali, um segundo... — Alvo disse para Mathew, que garfava um pedaço de bacon.


— Vai com as priminhas? — adivinhou uma Dedâmia particularmente ácida. Mas Alvo a ignorou a provocação e se retirou.


Aproximar-se da mesa da Grifinória, vestindo verde, era um perigo ocupacional. Mas Alvo não se importava. Falou com Rosa e explicou o porquê de fazer ela e Dominique esperar e não aparecer. Rosa compreendeu, mas revelou que Dominique estava um pouco ressentida. A loira estava falando com Regie e Lionel, fingindo que não tinha visto Alvo.


— Ela está mais chateada com a derrota na bandeirinha do que com qualquer outra coisa — explicou Rosinha — Mas logo logo ela nota que está sendo tapada.


Alvo olhou ao redor e o que ele viu o fez Rosa perguntar:


— O que foi?


O garoto estava vendo Tiago e os amigos chegando do grande salão. Na sua cabeça, lembrou-se da visão de Rosa. Tiago iria cair da vassoura em um jogo de Quadribol... Se ele pudesse evitar... uniria o útil ao agradável.


Tiago arqueou as sobrancelhas quando viu o irmão.


— E aí, sumido — Tiago bagunçou o cabelo cuinha de Alvo — que está fazendo aqui com os Grifinórios?


— Quero falar com você, Tiago... — agora não tinha mais volta.


Tiago fez que sim, parecendo intrigado. Rosa olhou Alvo com uma expressão de desespero urgente. Alvo tentou dizer mudamente que era outra coisa, enquanto saia do grande salão.


Os dois foram até a passarela de pedra na área exterior de Hogwarts. O céu estava pálido e o clima frio, como se tivesse chovido a noite passada inteira. Tiago se sentou no parapeito da passarela, já Alvo decidiu que bastava se apoiar e ficar observando o horizonte, onde uma revoada de corujas vinha com o correio da manhã...


— Queria te pedir uma coisa — começou um Alvo cauteloso.


— O que? Pode dizer — Tiago deitou-se no parapeito com as mãos atrás da cabeça.


— O assunto Quadribol...


Tiago voltou a sentar-se.


— Imaginei que isso ia acontecer um dia desses. Ouvi falar que você foi ótimo na aula do Ruffeil. Nunca imaginava, você sempre foi um zero-à-esquerda, “Senhor prudente”. Mal sabia montar numa vassoura, que dirá ganhar o jogo, vencendo até a Dominique, que recebeu aulas direto do Ted...


Tiago deu uma risada brincalhona, mas Alvo estava entre o sério e o amuado.


— Sério, Ti... Quero que você me treine pro teste de sábado...


— Eita — o garoto fez uma cara séria — Você só me chama de "Ti" quando quer parecer o irmão mais novo fofinho, fazendo essa carinha aí de cachorro pidão... Mas, olha, Al... Primeiranistas são proibidos. A única exceção foi o Papai e, bem... — Tiago deu um sorriso amarelado — O papai é o papai. É uma lenda.


— O capitão Padalecki disse...


— Ai, para. — Tiago fez uma careta, como se tivesse acabado de degustar lentamente um feijãozinho sabor de mofo — Para, pelo amor de deus, de se referir a esse imbecil de forma respeitosa. Não quero ter que dar um soco no meu próprio irmão... Chama ele de “Reizinho imbecil”.


— O Desmond... — tentou continuar Alvo, mas Tiago cruzou os braços — O.K, o Reizinho imbecil disse que... — Alvo hesitou — se eu mostrar que jogo bem, ele fala com o Slugorn e...


— E você espera que eu treine você para que depois nós joguemos um contra o outro?


— Não é bem assim... Eu...


— Fechado.


Alvo arregalou os olhos. Tiago tinha um sorriso radiante e oferecia a mão para Alvo apertar.


— Fechado! — Tiago arqueou a sobrancelha, balançando a mão, com a mão ainda estendida. Alvo a apertou molenga, ainda assustado.


— Pensei que você tivesse dito que nós...


— Ah, mas eu vou adorar vendo meu maninho jogar contra mim... Finalmente... Está virando macho. Sinceramente, estou orgulhoso. — Tiago sorriu e segurou no ombro de Alvo.


— Então... vai me treinar?


— Eu vou falar com a Molly e você fala com o Lorcan, a gente consegue a permissão para sair de noite. Oito horas, todo dia, me encontra na sala dos brasões. Se você tem mesmo talento, a gente vai descobrir.


— Obrigado, Ti...


— Espera. — o irmão pegou o livro da mão de Alvo — Tá levando a sério isso, né? — disse ao dar uma folheada no livro de estratégias do quadribol. — Esse livro não tem na biblioteca. Onde conseguiu? Está escrito D.P na contra-capa...


— Derwent Píramo — mentiu Alvo, ficando corado. —É o nome que ele ia ter, o Nelson.


— Nelson Derwent? Da ABB?


— ABB? — quis saber Alvo intrigado.


— Assembleia Britânica dos Bruxos. — Tiago desceu do parapeito e devolveu o livro para o irmão — Ele joga como artilheiro lá. Pirralho tagarela e nariz empinado. Vocês são amigos? Ele joga até bem, mas... Urgh... Credo...


— A gente... Mais ou menos... —O garoto queria desconversar. Não podia falar que era um espião. Tiago com certeza não entenderia. De repente lembrou-se de Nelson e Mathew citando um clube da elite dos bruxos. — Mas como você sabe? Papai não é sócio de lá.


— Mas o tio Jorge e o tio Neville são, então eu tenho permissão especial. O Caerulleu, Fred e eu jogamos lá quando estamos de férias.


— Por que nunca me chamaram para jogar? Eu poderia ter me tornado bom! — protestou um Alvo irritado.


— Por que você é chato e mimizento. Além disso, foi uma vida pra convencer a mamãe a me deixar frequentar o Clube. Ela acha ridícula e desnecessária a quantia para se associar. Tem muita gente que se acha ali, mas tudo vale a pena... Se você olhar o campo de Quadribol particular que a ABB tem... Mega maneiro. Enorme e completão. Tem até uniforme e vassouras Nimbus 2001 alugadas para cada jogador...


Alvo ficou calado, tentando se livrar do sentimento de rancor pelo irmão... Tiago talvez tenha notado, pois completou:


— Mas você não ia se dar bem. Se apanhava dos trouxas do colégio Hopkins, imagina na ABB? Eu não ia poder te proteger sempre.


— Não preciso de proteção.


— Vamos ver isso hoje às oito. — Tiago sapecou um chute no traseiro de Alvo e foi-se embora.


Sozinho, Alvo pensou no pedido do Capitão Padalecki. Era o seu irmão mais velho. Alvo não iria traí-lo. Ao mesmo tempo, queria muito ser do time de Quadribol. Além disso, Tiago, segundo a visão de Rosa, ia cair da vassoura em um jogo da Grifinória contra a Sonserina. Se Alvo estivesse lá no momento, podia ajudar o irmão. Tudo se resumia a trair Tiago, salvando sua vida, ou ser fiel ao irmão, deixando ele a mercê de um acontecimento sombrio previsto pela sua prima vidente...


Música Tema: Rotina de Hogwarts


O clima foi se tornando, pouco a pouco, mais apático e úmido. O frio não era invernal, mas a chuvas sempre caiam pela noite se estendiam pela manhã, impregnando o céu de um cinza borrado, com nuvens frondosas e um sol pálido e sem forças. O arco-íris matinal era visto por quem acordava bem cedinho, para quem gostava se ficar olhando o horizonte além-lago da passarela externa do castelo, como Alvo, em seu momento de grata solidão.


Hogwarts pouco a pouco foi sendo decifrada pelo garoto. Com a rotina das aulas, o garoto foi aprendendo como chegar no corredor de transfiguração, atravessar a ponte suspensa do segundo andar para chegar ao prédio secundário, onde ficava a sala de feitiços, até descer pelos corredores precedentes ao campo de treino para chegar a estufa número um. Numa quarta-feira, Alvo se surpreendeu ao conseguir encontrar o caminho para a torre de astronomia.


Entrementes, o menino cada vez mais tinha que dividir-se em dois mundos. Pelas tardes, sentava-se próximo ao carvalho da beira do lago negro para estudar e papear com o grupinho dos “Notórios” (como eles próprios se intitulavam). Espionar os sobrinhos de Integra Waldorf estava se tornando cada vez menos “espionagem” e mais “terapia de amizade”. Juliana Licaster estava se tornando um pouco menos ácida. Chegava até dizer-lhe “com licença” e “por favor”. Nos dias de melhor humor, ria de alguma palavra de Alvo. Mas logo notava-se e mantinha a cara “tenho mais o que fazer” ao Potter junior.


Pelas seis, contudo, ele sentava-se com Rosa na biblioteca e estudava Defesa contra as artes das trevas como um louco. Isso por dois motivos: os Notórios faziam uma pequena brincadeira de perguntas e respostas sobre as matérias do dia e Alvo era o “filho do auror”, por isso tinha a obrigação desesperada de saber tudo sobre Ghouls, Fadas mordentes, bruxedos e técnicas de corpo-fechado. O outro motivo era um pouco mais urgente.


Vogelweide e sua técnica de tirar pontos de quem erra tinham uma espécie de triangulo amoroso com Alvo. Quando Escórpio resolvia que não iria levantar a mão, Alvo sempre findava escolhido para responder tudo. Por isso, sentia-se obrigado o dobro que os demais.


Mas, dentre todas as tragédias, algo bom: a influência do Rei Desmond Padalecki e do Monarca Tiago Potter, Alvo conseguira permissão para treinar. As oito da noite, todo santo dia, Tiago e Alvo treinavam arremessos de goles, táticas evasivas, dançando no ar com as vassouras alugadas de Hogwarts. Tiago deixava a Firebolt de lado, pois seria injusto jogar contra Comets. A vontade do garotinho ficava no sonho mesmoo... Alvo sempre quis voar um pouquinho na maravilha de madeira lustrosa mais ágil que ele já conheceu, a vassoura que foi de seu pai.


— Al, acho que você vai gostar do treino de hoje — disse o Tiago numa quinta-feira, enquanto os dois cruzavam o campo de Quadribol banhado pelo clima noctívago das meias-luzes oriundas do alto das arquibancadas — Pega a Firebolt. Vou te ensinar umas manobras de contra-ataque. To com a Silvershot do Fred.


Alvo sorriu radiante, abrindo a boca, incrédulo.


— Você vai mesmo me deixar... montar?


Tiago deu aquele sorriso sapeca de sempre. Ambos se despiram das capas e montaram as vassouras.


— No Já... — sorriu-se Tiago à expressão abobada do irmão — Três, dois, um...


JÁ!


Bastou a sombra de um impulso, um mero capricho de voar para a vassoura disparar para o céu enegrecido, salpicado daquelas luzinhas...


Música tema: A Firebolt de Tiago Potter


Alvo amava voar e amava a noite. No céu estrelado, esquecia-se de quem era. O vento gelado banhando seu rosto, balançando seus cabelos, o sereno invadindo-o por todas as direções... era uma sensação incrível de liberdade.


Podia ver à distância o castelo de Hogwarts, com as luzinhas amareladas escapando das centenas de janelinhas... E mais a frente, a floresta negra. Misteriosa, imponente e majestosa. E logo acima das copas das árvores, no horizonte, uma nuvem única e solitária a subir pelos ares. E, de repente, um clarão, como um raio.


— EI, Al! — gritou a voz de Tiago, se aproximando do irmão, que estava parado, olhando para a floresta negra, com a cara intrigada.


— Acabei de ver um raio caindo na floresta negra.


— Onde que eu não vi nem ouvi? — o irmão olhou em volta, circulando com a vassoura de braços cruzados para mostrar a maestria que tinha em voar, sem precisar segurar nem no cabo.


Alvo continuou olhando. A nuvem tinha sumido. Será que era algum tipo de fumaça?


— Vamos se ligar no treino. Daqui a pouco a gente tem que voltar para o castelo.
 


Música Tema: Luzes misteriosas


Os irmãos prepararam-se para continuar a jogada, mas algo chamou a atenção de ambos. Da floresta proibida, um enxame de luzinhas despontou dentre as copas das árvores. Sons de sinos ecoaram no ar e as luzes se aglomeraram em uma esfera, como centenas de vagalumes. Depois disso, elas se dissiparam no horizonte.


— O que foi aquilo? — quis saber Alvo.


— Acho que eram fadas. Tem uma colônia delas na Floresta proibida. Hagrid já deu uma aula sobre elas. É estranho elas agirem assim. Nunca aparecem para humanos... Enfim, quem se importa? Vamos continuar.
E com essa nota de mistério os garotos seguiram o treino. Alvo esqueceu o que tinha acabado de ver assim que aprendeu uma manobra chamada "Giro da Preguiça"
— Fique sabendo que quando eu e o Fred eramos batedores, não tinhas piedade alguma dos Sonserinos, e isso não vai mudar só por que estamos jogando contra um parente.
A tal manobra evitava os balaços enviados pelos times inimigos, que tinham uma predileção perigosa por machucar seriamente artilheiros com menos de cinquenta quilos. O garoto girava para baixo, preso na vassoura, feito uma preguiça, isso enquanto voava velocidades exorbitantes. Comportamento bastante imprudente e mortal, na opinião de Alvo. Obrigado, de nada.


O garoto já estava começando a ficar um pouco receoso com essa história de ser um astro do Quadribol...


O treino seguia nos dias seguintes e não havia nada mais cansativo do que os treinos de Quadribol com Tiago. E, ao mesmo tempo, nada melhor. Alvo rivalizava corridas com Tiago, o irmão montava a Nimbus 2001 de Fred, enquanto Alvo ficava com a Firebolt. O garoto foi se tornando cada vez melhor no ar, mas ainda assim não tinha tanta habilidade quanto Tiago. O irmão mais velho era de fato um gênio.


Tiago havia enfeitiçado uma bolinha de madeira para voar pela noite, simulando o pomo, enquanto ele e Alvo iam atrás dela. Tiago sempre conseguia pegá-la. As manobras aéreas que o irmão fazia eram impressionantes.


O estilo de jogo dele era distrativo. Ele procurava movimentar-se ao máximo possível para distrair o irmão, isso quando este conseguia distinguir a bolinha lustrosa de madeira entre o céu estrelado, dezenas de metros acima do campo de Quadribol.


Tiago ziguezagueava, olhando para todas as direções. Era difícil de adivinhar para onde e quando o garoto iria disparar atrás do pomo de madeira perdido. E quando Alvo conseguia encontrar antes de Tiago, o irmão o marcava, esforçando-se o máximo para deixar o garoto sem visão o mais rápido possível.


Obviamente Alvo já tinha lido sobre técnicas parecidas no livro que havia ganhado do Capitão Padalecki. Tiago era adepto do estilo “Rapina”, como o livro informava. Silencioso, inquieto, rápido e fatal, como um falcão.


Tiago o ajudava muito no treino para artilheiro. Ele tinha uma experiência ímpar, pois além de jogar na ABB, sua mãe, Gina, nas férias, sempre ensinava algumas coisas para o irmão. Na época, tudo o que Alvo podia fazer era observar, invejoso.


Alvo era leve. Uma desvantagem para artilheiros. Mas o irmão contornava a situação ensinando as mesmas manobras que um apanhador usava para não ser acertado por balaços (“apanhadores concentrados atrás de pomos são alvos fáceis, maninho”). E o garoto estava se tornando bom, o irmão orgulhava-se em dizer que era o melhor treinador que existia, podendo fazer o milagre de transformar um pereba em um jogador razoável.


No fundo, Alvo se sentia deveras culpado por estar “espionando” o irmão. Mas era necessário. Era pra ficar próximo de Tiago quando a visão de Rosa se realizasse. E isso aconteceria em um jogo da Sonserina contra a Grifinória. Alvo podia salvar o irmão mais velho e para isso, deveria ser do time da Sonserina. “Custe o que custar”.


Por todas essas coisas, Alvo tinha relativamente se afastado de Rosa. E é por isso que na manhã de Sábado na segunda semana do garoto na escola, quando saiu da mesa dos Sonserinos e rumou para a passarela e olhar Hagrid alimentar a lula gigante, Rosa o interceptou na porta do Grande salão.


— Ei — a garota pegou no cotovelo de Alvo — tá chateado comigo?


Alvo arqueou as sobrancelhas.


— Não — respondeu sinceramente — por que?


— Nunca mais foi na biblioteca... Tem dois dias.


— Ah! — Alvo deu um tapa na própria cabeça — esqueci de avisar. Tava treinando mais duro pra conseguir entrar no time com o Tiago. Amanhã é o dia de seleção da Sonserina e da Grifinória. Estou um pouco nervoso...


Rosa sussurrou:


— Então vai ajudar ele no momento, não é?


— Sim.


— Também pedi para o Tio Neville aparecer no jogo. Ele disse que tinha que cuidar da estufa oito que você contou, mas vai, por que é o Tiago.


— Você contou pra ele da visã-


Rosa de repente cobriu a boca de Alvo. Nesse exato momento, Escórpio passava ao lado deles, saindo do Grande Salão ladeado por uma Isobel Waldorf que reclamava alguma coisa sobre um menino babaca da Lufa-lufa. O loiro lançou um olhar desconfiado para a ruiva, depois sorriu para Alvo e seguiu para o lado de fora de Hogwarts.


— Claro que eu não falei pra ele. — Rosa sibilou. Depois ela puxou Alvo pelo braço e foi andando com o garoto até o pátio pavimentado, na base da torre das escadarias — mas ele vai estar lá, eu vou estar com um binoculo de repetição para acompanhar o Tiago e pedir ajuda do tio, caso você não consiga salvar ele de uma queda de mais de dez metros


— HMMMMMMMMMMMM, guardando segredinhos, os aluninhos? — uma voz forçadamente infantilizada ecoou atrás dos garotos. — HMMM, fazendo coisas erradinhas, planejando travessurinhas, tsc tsc tsc... Que feinhos...


— Não estamos planejando nada, Pirraça — Rosa encrespou-se.


— Ohhh, não? Que pena! Vamos resolver isso jajá!


— Não, Pirraça! — Alvo gritou ao ver o Pirraça se dirigir a um quadro para, com toda a certeza, jogá-lo no chão. A pintura do homem gordo de bigode curvo gritava “ACUDAAAAM” quando Alvo e Rosa já corriam para longe da cena do crime.


O último treino de Alvo e Tiago foi carregado das energias dos dois irmãos. Quando pousaram, Alvo felicitava:


— Você já é o apanhador, Tiago. Já ganhou... Já eu...


— Ai, Al, para de ser mimizento, pelo amor de Deus, mano. — Tiago sorriu e bagunçou os cabelos cuinhas do garoto — você foi treinado por mim e é um Potter. Vencer está no seu sangue. Além do mais, se eles não te escolherem, são mais idiotas do que todo mundo acha.


Alvo deu um sorrisinho amuado.


Alvo acabara de entrar no salão comunal da Sonserina. Era por volta de nove horas da noite. Ele já imaginava que poucas pessoas estariam ali.


Deborah Waldorf acariciava Conde Capis (o gato estava incrivelmente quieto); ali estava o garoto musculoso de cabelo curto e brinco, que Alvo agora conhecia como Ephel, um dos artilheiros da Sonserina (fechava a cara sempre que via Alvo). O Capitão Desmond Padalecki lia um enorme livro de Astrologia. Quando ao avistar Alvo, fechou o livro e falou algo no ouvido de Deborah. Ephel tencionou as sobrancelhas.


Desmond se levantou e encaminhou Alvo até uma poltrona de estofamento roxo próxima à janela. O loiro sentou-se em frente a Alvo e ficou observando o fundo do lago com aquela cor verde fantasmagórica entre as algas bruxuleantes...


— Sabe, eu adoro esse salão comunal. — De repente Desmond disse — lembro da primeira vez que entrei aqui, eu fiquei assustado. — o garoto riu — pensei que a água ia invadir tudo e eu ia morrer afogado enquanto dormia. Mas agora aqui é a minha segunda casa. Você se sente assim também, Potter?


Alvo concordou lentamente com a cabeça, tentando entender onde o veterano queria chegar.


— Se você realmente é um Sonserino — Desmond olhou para os lados — hoje você me conta o estilo de jogo do Tiago Potter.


Alvo engoliu a seco.


— Fala logo... Eu não tenho a noite toda. A seleção vai ser amanhã de manhã e, de acordo com a sua resposta, vou ter que ir lá no corredor de transfiguração fazer um pedido especial ao Vice-diretor Ravus...


Alvo olhou para baixo e depois voltou para sustentar um olhar decidido para o Reizinho loiro da Sonserina.


— O.K. Eu vou contar tudo o que sei.


Desmond deu um sorriso aberto, Alvo poderia até dizer que era o primeiro sorriso verdadeiro dele para o garoto. O quartanista pegou no ombro de Alvo e deu duas batidinhas.


— Fez a decisão certa. Pode começar. Eu quero saber tudo...


Na manhã de sábado, Alvo acordou sobressaltado. Conde Capis estava sentado no peito dele. Mas Al não pulou da cama, pois já estava acostumado com o gato estranho, sem pelos, parecendo um frango cru.


O bichano olhou para o lado. Alvo acompanhou o olhar e viu trajes verdes. O coração do garoto disparou. Capis, estranhamente sábio, saiu de cima de Al sem ele precisar pedir.


Havia luvas de couro, braçadeiras, cotoveleiras, joelheiras, sapatos com solas espinhosas. Alvo desdobrou uma peça do traje e descobriu um sobretudo verde. Nele estava bordado em fio de prata uma Serpente rodeada de louros verde-canários. Um sorrisinho incrédulo escapou do canto esquerdo da boca de Alvo Potter: havia uma vassoura de cabo negro no chão. Era uma Nimbus ônix.


— EU NÃO ACREDITO — de repente alguém da cama ao lado exclamou. Era Patrichio, que pulara de sua cama e sentara-se ao lado de Alvo — É O TRAJE DE-


— SHHH — Alvo tentou silenciar Patrichio, mas era tarde demais. Mathew, Nelson, Dorian e Endy tinham acabado de acordar e viram os trajes na cabeceira de Alvo, este segurava o sobretudo esplendoroso.


— Espera. Esse aí é o traje de Quadribol da Sonserina! — Mathew levantou-se e pegou uma ombreira, analisando-a.


— Como você conseguiu isso? — Patrichio perguntou excitado, segurando a magnífica vassoura negra.


Alvo fez uma cara abobada e antes de gaguejar alguma coisa, foi interrompido por um Nelson perspicaz.


— Só pode ter sido o seu primo, Mathew. Mas isso significa que você vai fazer o teste hoje, certo?


— Er... — Alvo tentou falar, mas novamente foi interrompido.


— Mas você é do primeiro ano! Como pode? — disse Mathew indignado.


— Isso cheira peixada... — Endy disse sabiamente do fundo.


Alvo mal abriu a boca e Nelson o interrompeu.


— Deixa de ser panaca, Winchester! Se fosse peixada, Desmond teria colocado Mathew, que é o primo dele. Deve ter sido por causa do jogo de bandeirinha. Desmond viu Alvo voar e resolveu dar uma chance pra ele. Não é, Alvo? — Nelson disse tudo isso muito sério.


O garoto concordou, envergonhadíssimo.


Mas de repente o garoto sorriu.


— Meus parabéns! — ele ofereceu a mão branquela para Alvo, lançando um olhar penetrante. Alvo segurou e o menino a balançou com entusiasmo. Mathew estava simplesmente paralisado de incredulidade — Agora vamos pro café da manhã. O meu amigo Alvo precisa se alimentar com muito carboidratos pra botar pra quebrar no teste de hoje!


A verdade é que Al precisou de muita insistência de Dedâmia para garfar um pedaço de pudim. O garoto estava nervosíssimo, ainda por cima intimidado pelos olhares de todos os outros estudantes. Isso por que Desmond havia mandado o garoto vestir os trajes no salão comunal. Ser um estudante do primeiro ano fazia um combo com seu nome famoso para todos ficarem secando o garoto.


Isso piorava muito com a sensação de culpa que emergia do fundo do peito, querendo escapar pela boca, toda vez que o garoto olhava para a mesa da Grifinória. Mesmo se tudo desse certo, o garoto seria adversário de seu irmão mais velho.


— Come mais um pedaço, Al — Dedâmia disse dengosa, empurrando uma colher na boca do garotinho, que se assustou e fez a garota dar uma colherada de pudim na orelha de Al.


— Dedâmia, para de bancar a mamãe, senão eu é que vou perder a fome. Saco... — Tabatha disse do outro lado da mesa. Dedâmia apenas deu de ombros para a garota, pegando mais um pedaço de pudim para Alvo.


Isobel imitava Dedâmia, dando comidinha na boca de Escórpio, enquanto esse fazia um teatrinho de que ia desmaiar. Ambos gargalhavam alto junto com outros Sonserinos. Alvo gostaria, por favor, que eles parassem com isso.


Chegada a hora do teste, Alvo saiu de sua mesa e ganhou a companhia dos demais jogadores da Sonserina. Eles atravessaram o segundo prédio e chegaram na sala dos brasões.


Definitivamente o garoto era o mais baixinho entre todos. Havia muito mais que sete jogadores ali. Pelo menos uns 20 aspirantes à membros do glorioso time de Desmond se amontoavam. Nem todos tinham o mesmo traje que Alvo, o que o fazia imaginar se a peixada não estaria na cara demais. As pessoas o olhavam meio irritadas. Alvo só reconheceu Lorcan e Deborah dentre eles. Ah, Ephel, o brutamonte, também estava ali.


— Vamos lá, vamos lá — Desmond bateu palmas. Tinha um papel na mão e começou a ler:


“Para apanhadores, somente Deborah Waldorf se inscreveu. Batedores, Felicio Macmillian, Gordon Ducat, Rico Moore...


O garoto leu todos os candidatos. Alvo estava disputando com seis. Três deles eram oficiais do time, um deles era Ephel, que cruzava os braços, mostrando que eles tinham quase a grossura da cabeça de Alvo. O garotinho engoliu a seco.


Após Desmond explicar as regras da disputa e todos os mínimos detalhes, todos saíram da sala dos brasões e se dirigiram para as arquibancadas, menos Deborah Waldorf, pois ela seria a primeira a fazer o teste.


As arquibancadas, Alvo notou nervosamente, estavam mais cheias do que ele imaginava. Vários Sonserinos amontoavam-se para ver os futuros jogadores do time naquela temporada. Mas não foi isso que deixou Alvo nervoso.


Tiago Potter papeava com Leticia Reznor, enquanto Fred Weasley mostrava alguma coisa para Caerulleu Longbotton. Os marotos e mais alguns fãs estavam ali, fazendo um montinho vermelho, sentados numa distância segura do monte de gente de verde. Quando Desmond apareceu na companhia de Deborah Waldorf, houveram uma confusão de vaias e aplausos.


A tarefa dada à Deborah Waldorf era bem simples. Pegar o pomo de ouro. Desmond foi até o centro do campo e abriu um caixote de madeira vermelha da realeza, toda talhada de detalhes e símbolos. Ele pegou o pomo e manteve-o seguro, olhando para cima, para constatar a posição de Deborah.


A garota estava a uns dez metros do chão, montada em uma vassoura de madeira cinzenta e de cerdas prateadas. Era a Raiden. Deborah era tão magra e esguia que quando ela começou a dar voltinhas com a vassoura, ele não pode afirmar com certeza se ela montava a vassoura ou a vassoura montava nela.


Desmond levantou a mão do pomo e Deborah aquietou-se, concentrada. Quando ele largou, a menina disparou atrás do pomo.


Alvo não conseguia entender muito bem. Parecia que ela estava simplesmente passeando pelo campo. Após um tempo não muito curto, mas nem um pouco longo, Deborah parou e levantou as mãos, mostrando o pomo de ouro.


Os Sonserinos bateram palmas entusiasmadas. Os grifinórios bateram palminhas propositadamente fracas e fora de compasso.


Desmond apontou a varinha para o próprio pescoço e sua voz ecoou magicamente aumentada do centro do campo.


— Deborah Waldorf foi selecionada como apanhadora da Sonserina!


Mais palmas distinguíveis.


Depois disso Desmond chamou os seis que disputariam as três vagas de artilheiro. Alvo foi para o centro do campo, sua mente não parava de se perguntar “Que que eu tô fazendo aqui?”


Todos olhavam para Alvo. Desde as pessoas da arquibancada até os jogadores que esperavam sua vez. O garoto tentou olhar para baixo, até ser obrigado a olhar para Desmond, que começava a falar:


— Vou dividir vocês em dois times. Vocês três pra cá são de um time. E Ephel, fica com os outros dois.


“Vou jogar a gole e vocês vão precisar marcar um gol. Serão obrigados a tocarem pelo menos três vezes pra poder fazerem algum gol, sacaram? E não vale tocar pro ultimo que pegou na bola. Acaba assim que alguém fizer um gol. Eu vou julgar os três melhores. Certo, agora VAMOS LÁ”


Alvo, um ruivo mais velho e uma garota sardenta voaram a uns sete metros, enquanto Ephel e mais dois garotos que mais pareciam armários foram para o outro lado. Os três se encaravam na exata metade do campo.


Desmond separou os times em linhas e mostrou a gole.


— No “Já” vocês começam.


“1...”


Alvo precisava ganhar essa vaga. Precisava muito!


“..2..”


Ele tinha uma vantagem. Precisava acreditar nisso. Mas, meu Deus, por que eles pareciam ser tão grandes?


“..3..”


Desmond deu um sorrisinho para Alvo. Tiago observava tudo e gritava “VAI MANINHO!”


“JÁ!”


Desmond jogou a gole pro ar. E antes mesmo dela dar sinais de que iria cair, Alvo já a tinha segura entre os braços.


O garoto já tinha dois em seu encalço. Um deles era Ephel. Ele parecia estar furioso. Com certeza iria derrubar o garoto da vassoura na primeira oportunidade. Alvo tentou lembrar dos conselhos de Tiago. A Adrenalina estava tomando conta de todo seu corpo.


Quando Ephel emparelhou ao lado de Alvo, o garoto fez menção de que ia passar a gole para o ruivo. Ephel olhou rápido para o ruivo e nisso Alvo deu uma freiada brusca e tocou para a garota.


Ela começou a ziguezaguear pelo campo como a gole de baixo dos braços. Alvo aproximou-se do ruivo para preparar a jogada. Eles já estavam na metade do campo inimigo quando um dos armários deu um encontrão poderoso que a fez largar a gole. Ephel pegou.


Eles deram meia volta e dirigiram-se a metade do campo, já adentrando a área de Alvo. O ruivo começou a rodear o artilheiro inimigo, esperando uma brecha. Mas este fintou que ia jogar a bola para Ephel. Alvo sabia que Ephel não era opção, pois havia acabado de pegar na gole, por isso disparou em cima do outro grandão. Alvo estava certo.


O armário jogou a bola para o outro, mas no caminho Alvo a interceptou. Ele imediatamente tocou para o ruivo, que disparou para o campo oposto, jogando a bola para a garota antes que o time de Ephel pudesse reagir. A garota começou a ser emparelhada por dois jogadores inimigos, pareciam que eles queriam espremê-la. Ela deixou a bola cair e Alvo se meteu na frente do campo de visão de Ephel, conseguindo distrai-lo, até Alvo pegar a gole.


O garoto já estava na metade do campo e viajou com a maior velocidade que pode. Ephel estava irado. Os três simplesmente ignoraram os outros jogadores e partiram em cima de Al com toda a violência. Alvo estava quase chegando aos aros, mas os três também iam colidir com o garotinho a qualquer momento. Nessa hora Alvo fez algo inesperado.


Ele freiou e desviou dos três com movimentos ágeis. O fato de ser pequeno facilitou muito, sem contar na idiotice do grandão. Alvo nem pensou. Estava de frente com os três aros. Lançou a gole. Ephel pulou em cima do aro central para tentar rebater. Mas cometera um erro.


Alvo tinha lançado a gole para trás, a menina a tinha em mãos. Eles foram atrás dela, mas a garota já havia lançado com força a bola para o lado totalmente oposto, onde o ruivo estava. Ele estava perto do terceiro aro, que era um pouco mais baixo.


Foi fácil fazer o ponto, já que os três adversários estavam preocupados demais em marcar o garotinho franzina.


Alvo estava eufórico. Isso tinha sido demais. A sensação de jogar, de disputar, de vencer, enquanto seu irmão mais velho e uma multidão olhava, era incrível... Tiago assoviava alto, já Fred fazia luzezinhas com a varinha. Letícia gritava “AEEE ALVOO!”. O garoto percebeu assustado que Victoire e Dominique batiam palmas. A loira não parecia irritada, afinal.


Os jogadores desceram até o solo do campo, ao encontro de Desmond. Ele, porém, tinha uma expressão incógnita, portando uma cadernetinha na mão e uma caneta de bico de pena. Mas ele fechou a caderneta e apenas disse:


— No fim de todos os testes eu vou mostrar o resultado.


— Mas você deu o resultado da Deborah na hora! — reclamou o ruivo.


— Claro, Calliu, ela era a única apanhadora e foi ótima, ô espertinho.


Alvo não pôde negar que estava decepcionado. Ele sentou-se na arquibancada junto com os demais pretendentes.


O teste dos batedores foi muito violento. Lorcan, inclusive, encaixou um balaço na cara de um rapaz baixinho entroncado. Uma menina confundiu a cabeça de outro com um balaço e deu uma bordoada que ecoou terrivelmente pelo campo. Ele saiu do campo direto para a enfermaria.


No fim, Desmond tinha acabado de fazer anotações. Todos aguardaram mais alguns minutos, até o Capitão Padalecki ir para a beira da arquibancada onde estavam os pretendentes e colocar a varinha no pescoço. Alvo não aguentava de tanta ansiedade.


— Aí, já to com os resultados aqui — disse a voz magicamente aumentada do capitão.


“Apanhadora: Deborah Waldorf; Goleiro: Desmond Padalecki (Eu, no caso); Artilheiros: Kellion Kingsley, Yurick Rutherdan e Ephel Walker; Batedores: Lorcan Scamander, Royster Carter. Obrigado a todos os outros participantes, mais sorte na próxima...”


Alvo ficou paralisado. Só podia haver algum engano.


— COMO ASSIM? — gritou Calliu da arquibancada. — nós jogamos melhor!


— Não ao meu ver. Agora vaza daqui. — respondeu Desmond frio.


Calliu pulou a arquibancada baixa e parou cara a cara com o loiro. Estavam tão próximos que se alguém empurrasse, os dois iam acabar se beijando.


— Quero provas. — disse Calliu entre os dentes.


— Não, Calliu, para com isso! — gritou a garota sardenta, pulando a arquibancada também, para puxar o garoto pelo braço. Calliu se desvencilhou, gritando para ela:


— Frida, você viu! Até o pirralho Potter foi melhor que o Ephel. — Calliu voltou para gritar em cima da cara de Desmond: — ELE PÔS NO TIME SÓ QUEM É AMIGUINHO DELE! ESSE SANGUE RUIM NOJEN..


POW.


O loiro tinha dado um soco tão forte em Calliu que este agora estava caído no chão.


— NUNCA MAIS ME CHAMA DISSO! — gritou Desmond.


Calliu se levantou e pegou o louro pela barriga, como um touro, carregando-o até de encontro com o pano da arquibancada. Os dois furaram o tecido e começaram a rolar em pancadaria debaixo da estrutura de madeira.


— PAREM — gritou Frida. Lorcan e Royster pularam para o campo e entraram no buraco, tentando conter os dois garotos. As pessoas das arquibancadas desceram para o campo e começaram a gritar “BRIGA, BRIGA, BRIGA, BRIGA!”. Alvo pôde ouvir entre os gritos Leticia dizendo para Tiago: “Aposto vinte nuques no Calliu”.


Foi preciso que Kellion ajudasse Lorcan para que eles conseguirem conter Desmond, que gargalhava, um filete de sangue saindo da boca do loiro, enquanto ele gritava: “FRACASSADO! LIXOSO!” e soltava mais uma gargalhada.


Por sua vez, Calliu era contido por Ephel, que o fazia com muita facilidade, enquanto o outro gritava “ME LARGA, ME LARGA, BABACA!”.


— Quietinho aí — dizia um Ephel calmo, enquanto segurava o menino em uma gravata.


— PAREM OS DOIS — gritou Lorcan — OU VOU ESTUPORAR VOCÊS. OU PIOR: CHAMAR A PROFESSORA MCGONAGALL!


Ao ouvirem esse nome, os garotos ficaram quietos, apenas se movendo para se desvencilhar da prisão de Lorcan, Kellion e Ephel.


— TÁ BOM, TÁ BOM, AGORA ME LARGA — Calliu gritou. Ephel jogou o garoto no chão. Calliu levantou-se e, antes de sair bufando, disse: — Você me paga, Padalecki. Vem, Frida.


Lorcan esperou um pouco para fazer sinal ao Kellion e permitir-se largar Desmond, que gritou para as costas de Calliu:


— VAI, COVARDE, FRACASSADO, LIXO! VAI COM ESSA SUA NAMORADINHA ABORTADA!


Desmond riu e cuspiu sangue no chão. Alvo estava paralisado com toda aquela situação. Se assustou quando Tiago segurou no ombro dele.


— Calma, Al, sou eu — o irmão disse.


— ALGUÉM MAIS ACHOU RUIM O TIME? — gritou Desmond desvairado, com o sorriso vermelho.


Todos ficaram em silêncio.


— Certo, galera, já tiveram o showzinho de vocês por hoje — disse Lorcan, dissipando os expectadores. Os curiosos foram se afastando, até sobrar somente os quatro marotos, Alvo, Lorcan, Royster, Deborah e Desmond, que ainda arfava.


— Vem, Al — disse Tiago.


— Espera. Eu preciso falar uma coisa com o Desmond. — disse o garoto.


— Quer que eu fique pra te dar “apoio”? — Tiago massageou os punhos.


— Não. Preciso falar com ele a sós.


Lorcan, Royster e Deborah estavam ao lado de Desmond.


— Que ridículo, Desmond. Foi se rebaixar pro Calliu? — Deborah debochou. — Ele faz teatro!


— Por que vocês me seguraram? — Desmond fechou a cara para Lorcan — Eu ia quebrar a cara dele todinha.


— Eu deveria chamar a Mcgonagall — ameaçou Lorcan, passando um pano na cara manchada de sangue do amigo.


— Você não faria — Desmond sorriu, mas parou, por que a maxila estava machucada — Você é meu ami-


— Sou Monitor e faria sim. Onde já se viu? Você é o capitão do time. Só não falo nada pra diretora porque você é um ótimo goleiro. Se for expulso, a gente com certeza vai perder. Além do que a diretora sempre torceu pra Grifinória, no fundo quer que eles ganhem. Sem contar que eles são parentes, Calliu e a diretora, o que ia piorar e muito as coisas pra...


— Tá, tá bom. — Desmond desconversou. — agora me deixa falar com esse pirralho.


De repente todos se deram conta que Alvo estava ali.


— Que que você tá esperando? — disse uma Deborah ríspida. — quer reclamar do resultado também?


— Deixa ele. Vão na frente. — disse Desmond.


— Tem certe- — Deborah começou, mas foi interrompida pelo loiro.


— Vai. Quero explicar uma coisa.


Os outros foram embora desconfiados. Desmond e Alvo estavam a sós.


Alvo quem falou primeiro:


— Isso foi injusto. Calliu e eu jogamos melhor.


— Sinceramente. Você ainda é muito burro. — Desmond riu. — Acha mesmo que eu ia colocar vocês dois no time? Calliu é parente da Leticia. Ambos são Reznor. Ela é da Grifinória e eles são muito próximos. E você, nem se fala... Não tem como confiar cem por cento em vocês dois.


— Mas eu falei as coisas do Tiago para você! Eu fiz o que você pe-


— Exatamente — Desmond piscou — você traiu o seu irmão. Quem vai me garantir que não vai me trair? Se você tivesse negado, talvez eu tivesse deixado você entrar no time. Quando eu quis saber se você era um Sonserino de verdade, queria saber se você sabe o que é ser fiel ao seu nome. Salazar Sonserina poderia ser o que for, mas ele agiu para proteger a família dos bruxos naquela época. Mas você é só um moleque falso. E o Calliu fica negando o parentesco dele, chamando os outros de... — Desmond trancou as maxilas... — Não. Os dois não vão entrar no meu time.


— Mas... Mas! — Alvo estava muito indignado — Você prometeu que se eu contasse...


— Eu disse que se você contasse, eu deixaria você fazer o teste. Não disse que você estaria dentro. Eu fiz o teste ontem a noite. Você não passou. Agora vaza.


Alvo não quis saber de ir almoçar. Nem quis saber de ver o teste de Tiago. Ficou a tarde inteira se excluindo dentro das engrenagens da torre do relógio, olhando para o pátio da torre, depois além da ponte de madeira, o círculo de pedras... A cabana de Hagrid na beira da floresta proibida... Sim. Alvo se levantou e seguiu o seu coração. Precisava falar com o tio, falar sobre a derrota, sem alguém contar as vitórias de Tiago. Precisava perguntar se Rúbeo achava que ele era falso... De repente ele viu algo intrigante. Conde Capis, o gato de Isobel, estava caminhando até uma enorme árvore, distante da floresta negra. Ele pulou para um buraco entre as raízes e desapareceu. Para onde será que ele teria ido?


O garoto desceu as escadas de madeira até achar o pátio do relógio, a rezar para que ninguém o encontrasse. Atravessou a ponte com o olhar perdido no cume do rio entre os paredões de rochas que a ponte interligava.


Distraído, assustou-se quando deu de frente com Isobel, que gritou:


— OLHA POR ONDE ANDA! — bufou impaciente, que vinha da direção oposta a Al.


— Desculpe... — Alvo disse, tristonho.


— Que seja. — a menina fechou a cara, preparando-se para seguir seu rumo. Mas parou de repente, virou e disse: — Por acaso você viu aquele gato dos infernos, o Conde Capis? Eu vi ele cruzando a ponte ainda agora, mas não achei em lugar nenhum. Se ele foi pra floresta proibida, a Deborah me mata.


— Err, vi sim! — Alvo deu um meio sorriso — Ele foi pras raízes de uma árvore ali.


— Que árvore?


— Uma grande, toda retorcida, quase sem folhas.


— Ah, eu acho que já vi uma vez.


A menina virou as costas e correu pela ponte, para fora do castelo.


— De nada hein... — Alvo resmungou para si mesmo.


Alvo seguiu seu rumo até a cabana de Hagrid. Mas no caminho, encontrou as últimas pessoas que queria ver naquele momento.


Tiago, Leticia, Fred, Caerulleu estavam voltando da cabana. Estavam com vassouras nas mãos e com as vestes vermelhas de Quadribol da Grifinória. Eles riam, pulavam, falavam besteiras altas e davam tapinhas nas costas de Tiago. Alvo tentou dar meia volta, mas fora visto.


— AL — gritou Tiago, correndo em direção do irmão — Cara, eu tava começando a ficar preocupado com você. Onde cê tava, maninho?


— Eu...


— Não vai dizer que tava chorando por que não foi selecionado. Ah, cara. Supera. É o Desmond, aquele babaca é o Rei das babaquices...


— Não, eu não estava chorando! — exclamou um Alvo irritado, ao ver Fred, Leticia e Caerulleu alcançando os dois. — Eu estava... — o garoto pensou numa mentira — ajudando a Isobel a achar o gato dela.


— Sério? Achei que ela te odiava. — disse Fred.


— Não, eles têm uma paixonite — piscou Tiago.


— Ohoho, entendi. Entre tapas e beijos... — riu-se Leticia.


— Não é nada disso! — Alvo estava ficando cada vez mais irritado.


— A Waldorf veio até a cabana do Hagrid para nos acusar de roubar o gato dela. Ela até ameaçou contar pro vice-diretor.


— Aí eu mandei ela ir pra... — Mas Leticia foi interrompida por Caerulleu.


— Então, vocês acharam? Ela parecia estar bastante preocupada.


— Achei ainda a pouco — disse Alvo, querendo se livrar — o gato foi pra de baixo das raízes de uma árvore enorme ali.


— ESPERAI — Tiago exclamou assustadíssimo. — Como era essa árvore?


— Grande, nodosa, meio seca e quase sem folhas. — descreveu Alvo, sem entender a cara de morte dos quatro.


— Ai caramba... — Caerulleu colocou a mão na boca.


— VAMO LÁ, ANTES QUE ACONTEÇA UMA TRAGÉDIA! — gritou Fred. Os quatro correram. Alvo os seguiu sem entender. Na corrida, o garoto gritou:


— O que foi? Que tem essa árvore?


— É o Salgueiro-Lutador! — gritou Leticia, descendo a grama íngreme, ladeada pelos amigos.


Mas Alvo só entendeu o que aquilo significava quando ouviu os gritos de Isobel.


Música tema: Izzie em perigo


Uma árvore enorme balançava seus galhos nodosos violentamente, choacoalhando Isobel, que gritava, agarrada em um dos galhos.


— IZZIE! — Alvo gritou desesperado.


— Aguenta firme, Isobel! — gritou Caerulleu. Os quatro marotos puxaram as varinhas. — Tiago, monta a vassoura e bate na janela da torre do Ravus. Fred e Leticia, tentem pegar ela no ar. Eu vou tentar enfeitiçar o salgueiro com alguma coisa. Al, se afasta!


Fred e Leticia montaram em suas vassouras e começaram a tentar se aproximar da árvore. Mas ela era intrépida. Balançava os galhos como chicotes na direção dos garotos. Ambos conseguiam fugir das açoitadas graças as suas manobras das vassouras, mas eram muitos galhos, todos concentrados em atingir com brutalidade qualquer coisa que se aproximasse deles. Isobel tinha os olhos fechados e gritava com vontade, enquanto seu galho tentava chicotear Fred, que desviou por um triz.


Entrementes, Caerulleu pentava posicionar um feitiço de uma distancia segura, mas era difícil acertar o galho sem acertar Isobel, pois ambos se moviam demais, assanhados pelo vôo de Leticia e Fred. E Alvo estava ali, aflito, sentindo-se culpado e mais inútil do que nunca.


— Eu poderia tentar um “Aresto momentum”, ou “Petrificus totallus”, mas tenho medo de acabar acertando Isobel e ela ser arremessada naquela velocidade do galho. Acho que ela não sobrevive a uma queda assim.


— Mas o Tiago pode pegar ela no ar! — exclamou Alvo.


— Se ele tentar pegar ela enquanto é arremessada, o Tiago cai da vassoura junto! — exclamou Caerulleu — O máximo que podemos fazer é deixar os galhos longe do chão e rezar para que Isobel se segure bem forte até Ravus chegar! Droga, o que o Tiago ta fazendo que não trás logo o Vice-diretor?


Alvo simplesmente não conseguia ficar parado. Ele fez a coisa que lhe parecia sensata, mas ao mesmo tempo louca. Era a única forma.


Para o susto de Caerulleu, o garoto correu para a área de ação do Salgueiro.


— EI, EI, AQUI! — gritava o menino, balançando os braços.


— ALVO SAI DAI — gritava Caerulleu, de mãos atadas.


Isso por que o Salgueiro-lutador entendera a mensagem de Alvo bem até demais. Ele voltou os seus esforços para não apenas chicotear Alvo, mas jogar o corpo nodoso por completo em cima dele. Alvo desviara do golpe de um tronco desenovelado por um tris e também saltara para escapar de uma chicotada baixa.


Quando o salgueiro resolveu usar o galho com Isobel e tudo para esmagar Alvo, o garoto gritou para Isobel. “LARGA!”


Sem pensar duas vezes, o garoto pulou em cima de Isobel, empurrando a menina na direção oposta da chicotada, abraçando-a e rolando junto com ela para a beira das raízes da árvore.


Ambos se levantaram um pouco tontos. Alvo deu um sorriso, mas Isobel o empurrou para o chão, se jogando em cima dele, ambos batendo de testa, desviando de uma chicotada particularmente violenta.


— PRESTA ATENÇÃO, PALERMA! — gritou Izzie.


— O TRONCO! — Alvo apontou. Ambos rolaram para o lado, desviando por pouquíssimo e se safando de serem amassados feito massa de macarrão por um rolo gigante. Porém, a perna de Isobel tinha sido acertada. A menina urrou de dor, incapaz de se mover.


Só que o outro tronco já começava a se preparar para uma bordoada pior ainda.


— CAERULLEU! — Alvo chamou. O garoto apontou a varinha para o tronco que pegava distância para o golpe e gritou: “Aresto momentum!”.


A árvore parou por um milésimo, mas continuou. Fred e Leticia voaram em direção a Alvo e Isobel, mas, distraídos, foram acertados por um galho particularmente robusto, voando ambos em cima de Caerulleu. Os três jaziam desacordados metros dali.


E o tronco já ia descendo em direção à Isobel e Alvo. Era o fim. Alvo se jogou na frente de Isobel, para protege-la com as costas. Até que...


Uma luz emanou da árvore e uma quentura distinta. Alvo olhou para trás e o que ele viu o fez ficar de cabelo em pé.


A árvore pegava fogo. Assava em chamas fortes, se balançando, esquecendo dos garotos. Contorcia-se de dor. As chamas se espalhavam em cada galho, em cada folhinha.


Quando Alvo olhou para a garota, percebeu que ela apontava a varinha para a árvore. Parecia admirada com o que acabara de fazer. Alvo arrastou a garota para longe das fuligens, que caiam do salgueiro que se desfazia em chamas.


Ele a arrastou até uma distância segura e jogou-se na grama, ofegante, com o coração tamborilando a mil por hora.


Isobel parecia estar em estado de choque. Só olhava para a árvore crepitando e contorcendo-se, agonizando.


Ignis exumai!”


De repente as chamas apagaram. E uma fumaceira insuportável subiu incontrolável aos céus. Alvo olhou para o lado e viu acompanhando Tiago, além de Ravus, uma velha alta, com cabelos brancos apertados num coque, óculos quadrados, chapéu de ponta com uma pena de falcão e as vestes de túnica esmeralda. As mãos engelhadas apontavam a varinha para a árvore. A feição da velha parecia chocada.


O salgueiro lutador estava preto. Antes hiperativo, agora parado e seco, suas cinzas voando com o vento e os galhos se despedaçando, igualmente negros. A fumaça não parava de sair, fazendo Alvo e Isobel tocirem. Ravus ordenou: “Nebula evanesco” e ela também findou-se. O vice-diretor foi em direção a Leticia, Caerulleu e Fred, que estavam arranhados, mas já despertavam meio tontos.


— O que devo fazer, Minerva? — O baixinho ruivo disse, acudindo os garotos.


— Hã...— a senhora balançou a cabeça para sair do transe de choque ao ver o Salgueiro lutador feito churrasco. E continuou: — Leve os três para a enfermaria. Hípimus cuidará deles.


Ravus concordou e conjurou cadeiras de rodas de madeira para Letícia, Fred e Caerulleu, que cambalearam e caíram em cima delas, as quais começaram a caminhar sozinhas.


Das raízes da árvore, de repente, saiu Conde Capis. Ele virou-se para Minerva e rosnou feroz, indo embora, não antes de lançar um olhar penetrante para uma Isobel ainda paralisada.


— Potter. — Minerva parou de observar o gato e fitou Tiago. Alvo suspirou aliviado. — irei chamar o professor Longbotton. Quero encontrar a senhorita Waldorf e seu irmão no meu escritório, você está cansado de saber o caminho. A senha da estátua é “Justiça”. 


O treino seguia nos dias seguintes e não havia nada mais cansativo do que os treinos de Quadribol com Tiago. E, ao mesmo tempo, nada melhor. Alvo rivalizava corridas com Tiago, o irmão montava a Nimbus 2001 de Fred, enquanto Alvo ficava com a Firebolt. O garoto foi se tornando cada vez melhor no ar, mas ainda assim não tinha tanta habilidade quanto Tiago. O irmão mais velho era de fato um gênio.


Tiago havia enfeitiçado uma bolinha de madeira para voar pela noite, simulando o pomo, enquanto ele e Alvo iam atrás dela. Tiago sempre conseguia pegá-la. As manobras aéreas que o irmão fazia eram impressionantes.


O estilo de jogo dele era distrativo. Ele procurava movimentar-se ao máximo possível para distrair o irmão, isso quando este conseguia distinguir a bolinha lustrosa de madeira entre o céu estrelado, dezenas de metros acima do campo de Quadribol.


Tiago ziguezagueava, olhando para todas as direções. Era difícil de adivinhar para onde e quando o garoto iria disparar atrás do pomo de madeira perdido. E quando Alvo conseguia encontrar antes de Tiago, o irmão o marcava, esforçando-se o máximo para deixar o garoto sem visão o mais rápido possível.


Obviamente Alvo já tinha lido sobre técnicas parecidas no livro que havia ganhado do Capitão Padalecki. Tiago era adepto do estilo “Rapina”, como o livro informava. Silencioso, inquieto, rápido e fatal, como um falcão.


Tiago o ajudava muito no treino para artilheiro. Ele tinha uma experiência ímpar, pois além de jogar na ABB, sua mãe, Gina, nas férias, sempre ensinava algumas coisas para o irmão. Na época, tudo o que Alvo podia fazer era observar, invejoso.


Alvo era leve. Uma desvantagem para artilheiros. Mas o irmão contornava a situação ensinando as mesmas manobras que um apanhador usava para não ser acertado por balaços (“apanhadores concentrados atrás de pomos são alvos fáceis, maninho”). E o garoto estava se tornando bom, o irmão orgulhava-se em dizer que era o melhor treinador que existia, podendo fazer o milagre de transformar um pereba em um jogador razoável.


No fundo, Alvo se sentia deveras culpado por estar “espionando” o irmão. Mas era necessário. Era pra ficar próximo de Tiago quando a visão de Rosa se realizasse. E isso aconteceria em um jogo da Sonserina contra a Grifinória. Alvo podia salvar o irmão mais velho e para isso, deveria ser do time da Sonserina. “Custe o que custar”.


Por todas essas coisas, Alvo tinha relativamente se afastado de Rosa. E é por isso que na manhã de Sábado na segunda semana do garoto na escola, quando saiu da mesa dos Sonserinos e rumou para a passarela e olhar Hagrid alimentar a lula gigante, Rosa o interceptou na porta do Grande salão.


— Ei — a garota pegou no cotovelo de Alvo — tá chateado comigo?


Alvo arqueou as sobrancelhas.


— Não — respondeu sinceramente — por que?


— Nunca mais foi na biblioteca... Tem dois dias.


— Ah! — Alvo deu um tapa na própria cabeça — esqueci de avisar. Tava treinando mais duro pra conseguir entrar no time com o Tiago. Amanhã é o dia de seleção da Sonserina e da Grifinória. Estou um pouco nervoso...


Rosa sussurrou:


— Então vai ajudar ele no momento, não é?


— Sim.


— Também pedi para o Tio Neville aparecer no jogo. Ele disse que tinha que cuidar da estufa oito que você contou, mas vai, por que é o Tiago.


— Você contou pra ele da visã-


Rosa de repente cobriu a boca de Alvo. Nesse exato momento, Escórpio passava ao lado deles, saindo do Grande Salão ladeado por uma Isobel Waldorf que reclamava alguma coisa sobre um menino babaca da Lufa-lufa. O loiro lançou um olhar desconfiado para a ruiva, depois sorriu para Alvo e seguiu para o lado de fora de Hogwarts.


— Claro que eu não falei pra ele. — Rosa sibilou. Depois ela puxou Alvo pelo braço e foi andando com o garoto até o pátio pavimentado, na base da torre das escadarias — mas ele vai estar lá, eu vou estar com um binoculo de repetição para acompanhar o Tiago e pedir ajuda do tio, caso você não consiga salvar ele de uma queda de mais de dez metros


— HMMMMMMMMMMMM, guardando segredinhos, os aluninhos? — uma voz forçadamente infantilizada ecoou atrás dos garotos. — HMMM, fazendo coisas erradinhas, planejando travessurinhas, tsc tsc tsc... Que feinhos...


— Não estamos planejando nada, Pirraça — Rosa encrespou-se.


— Ohhh, não? Que pena! Vamos resolver isso jajá!


— Não, Pirraça! — Alvo gritou ao ver o Pirraça se dirigir a um quadro para, com toda a certeza, jogá-lo no chão. A pintura do homem gordo de bigode curvo gritava “ACUDAAAAM” quando Alvo e Rosa já corriam para longe da cena do crime.


O último treino de Alvo e Tiago foi carregado das energias dos dois irmãos. Quando pousaram, Alvo felicitava:


— Você já é o apanhador, Tiago. Já ganhou... Já eu...


— Ai, Al, para de ser mimizento, pelo amor de Deus, mano. — Tiago sorriu e bagunçou os cabelos cuinhas do garoto — você foi treinado por mim e é um Potter. Vencer está no seu sangue. Além do mais, se eles não te escolherem, são mais idiotas do que todo mundo acha.


Alvo deu um sorrisinho amuado.


Alvo acabara de entrar no salão comunal da Sonserina. Era por volta de nove horas da noite. Ele já imaginava que poucas pessoas estariam ali.


Deborah Waldorf acariciava Conde Capis (o gato estava incrivelmente quieto); ali estava o garoto musculoso de cabelo curto e brinco, que Alvo agora conhecia como Ephel, um dos artilheiros da Sonserina (fechava a cara sempre que via Alvo). O Capitão Desmond Padalecki lia um enorme livro de Astrologia. Quando ao avistar Alvo, fechou o livro e falou algo no ouvido de Deborah. Ephel tencionou as sobrancelhas.


Desmond se levantou e encaminhou Alvo até uma poltrona de estofamento roxo próxima à janela. O loiro sentou-se em frente a Alvo e ficou observando o fundo do lago com aquela cor verde fantasmagórica entre as algas bruxuleantes...


— Sabe, eu adoro esse salão comunal. — De repente Desmond disse — lembro da primeira vez que entrei aqui, eu fiquei assustado. — o garoto riu — pensei que a água ia invadir tudo e eu ia morrer afogado enquanto dormia. Mas agora aqui é a minha segunda casa. Você se sente assim também, Potter?


Alvo concordou lentamente com a cabeça, tentando entender onde o veterano queria chegar.


— Se você realmente é um Sonserino — Desmond olhou para os lados — hoje você me conta o estilo de jogo do Tiago Potter.


Alvo engoliu a seco.


— Fala logo... Eu não tenho a noite toda. A seleção vai ser amanhã de manhã e, de acordo com a sua resposta, vou ter que ir lá no corredor de transfiguração fazer um pedido especial ao Vice-diretor Ravus...


Alvo olhou para baixo e depois voltou para sustentar um olhar decidido para o Reizinho loiro da Sonserina.


— O.K. Eu vou contar tudo o que sei.


Desmond deu um sorriso aberto, Alvo poderia até dizer que era o primeiro sorriso verdadeiro dele para o garoto. O quartanista pegou no ombro de Alvo e deu duas batidinhas.


— Fez a decisão certa. Pode começar. Eu quero saber tudo...


Na manhã de sábado, Alvo acordou sobressaltado. Conde Capis estava sentado no peito dele. Mas Al não pulou da cama, pois já estava acostumado com o gato estranho, sem pelos, parecendo um frango cru.


O bichano olhou para o lado. Alvo acompanhou o olhar e viu trajes verdes. O coração do garoto disparou. Capis, estranhamente sábio, saiu de cima de Al sem ele precisar pedir.


Havia luvas de couro, braçadeiras, cotoveleiras, joelheiras, sapatos com solas espinhosas. Alvo desdobrou uma peça do traje e descobriu um sobretudo verde. Nele estava bordado em fio de prata uma Serpente rodeada de louros verde-canários. Um sorrisinho incrédulo escapou do canto esquerdo da boca de Alvo Potter: havia uma vassoura de cabo negro no chão. Era uma Nimbus ônix.


— EU NÃO ACREDITO — de repente alguém da cama ao lado exclamou. Era Patrichio, que pulara de sua cama e sentara-se ao lado de Alvo — É O TRAJE DE-


— SHHH — Alvo tentou silenciar Patrichio, mas era tarde demais. Mathew, Nelson, Dorian e Endy tinham acabado de acordar e viram os trajes na cabeceira de Alvo, este segurava o sobretudo esplendoroso.


— Espera. Esse aí é o traje de Quadribol da Sonserina! — Mathew levantou-se e pegou uma ombreira, analisando-a.


— Como você conseguiu isso? — Patrichio perguntou excitado, segurando a magnífica vassoura negra.


Alvo fez uma cara abobada e antes de gaguejar alguma coisa, foi interrompido por um Nelson perspicaz.


— Só pode ter sido o seu primo, Mathew. Mas isso significa que você vai fazer o teste hoje, certo?


— Er... — Alvo tentou falar, mas novamente foi interrompido.


— Mas você é do primeiro ano! Como pode? — disse Mathew indignado.


— Isso cheira peixada... — Endy disse sabiamente do fundo.


Alvo mal abriu a boca e Nelson o interrompeu.


— Deixa de ser panaca, Winchester! Se fosse peixada, Desmond teria colocado Mathew, que é o primo dele. Deve ter sido por causa do jogo de bandeirinha. Desmond viu Alvo voar e resolveu dar uma chance pra ele. Não é, Alvo? — Nelson disse tudo isso muito sério.


O garoto concordou, envergonhadíssimo.


Mas de repente o garoto sorriu.


— Meus parabéns! — ele ofereceu a mão branquela para Alvo, lançando um olhar penetrante. Alvo segurou e o menino a balançou com entusiasmo. Mathew estava simplesmente paralisado de incredulidade — Agora vamos pro café da manhã. O meu amigo Alvo precisa se alimentar com muito carboidratos pra botar pra quebrar no teste de hoje!


A verdade é que Al precisou de muita insistência de Dedâmia para garfar um pedaço de pudim. O garoto estava nervosíssimo, ainda por cima intimidado pelos olhares de todos os outros estudantes. Isso por que Desmond havia mandado o garoto vestir os trajes no salão comunal. Ser um estudante do primeiro ano fazia um combo com seu nome famoso para todos ficarem secando o garoto.


Isso piorava muito com a sensação de culpa que emergia do fundo do peito, querendo escapar pela boca, toda vez que o garoto olhava para a mesa da Grifinória. Mesmo se tudo desse certo, o garoto seria adversário de seu irmão mais velho.


— Come mais um pedaço, Al — Dedâmia disse dengosa, empurrando uma colher na boca do garotinho, que se assustou e fez a garota dar uma colherada de pudim na orelha de Al.


— Dedâmia, para de bancar a mamãe, senão eu é que vou perder a fome. Saco... — Tabatha disse do outro lado da mesa. Dedâmia apenas deu de ombros para a garota, pegando mais um pedaço de pudim para Alvo.


Isobel imitava Dedâmia, dando comidinha na boca de Escórpio, enquanto esse fazia um teatrinho de que ia desmaiar. Ambos gargalhavam alto junto com outros Sonserinos. Alvo gostaria, por favor, que eles parassem com isso.


Chegada a hora do teste, Alvo saiu de sua mesa e ganhou a companhia dos demais jogadores da Sonserina. Eles atravessaram o segundo prédio e chegaram na sala dos brasões.


Definitivamente o garoto era o mais baixinho entre todos. Havia muito mais que sete jogadores ali. Pelo menos uns 20 aspirantes à membros do glorioso time de Desmond se amontoavam. Nem todos tinham o mesmo traje que Alvo, o que o fazia imaginar se a peixada não estaria na cara demais. As pessoas o olhavam meio irritadas. Alvo só reconheceu Lorcan e Deborah dentre eles. Ah, Ephel, o brutamonte, também estava ali.


— Vamos lá, vamos lá — Desmond bateu palmas. Tinha um papel na mão e começou a ler:


“Para apanhadores, somente Deborah Waldorf se inscreveu. Batedores, Felicio Macmillian, Gordon Ducat, Rico Moore...


O garoto leu todos os candidatos. Alvo estava disputando com seis. Três deles eram oficiais do time, um deles era Ephel, que cruzava os braços, mostrando que eles tinham quase a grossura da cabeça de Alvo. O garotinho engoliu a seco.


Após Desmond explicar as regras da disputa e todos os mínimos detalhes, todos saíram da sala dos brasões e se dirigiram para as arquibancadas, menos Deborah Waldorf, pois ela seria a primeira a fazer o teste.


As arquibancadas, Alvo notou nervosamente, estavam mais cheias do que ele imaginava. Vários Sonserinos amontoavam-se para ver os futuros jogadores do time naquela temporada. Mas não foi isso que deixou Alvo nervoso.


Tiago Potter papeava com Leticia Reznor, enquanto Fred Weasley mostrava alguma coisa para Caerulleu Longbotton. Os marotos e mais alguns fãs estavam ali, fazendo um montinho vermelho, sentados numa distância segura do monte de gente de verde. Quando Desmond apareceu na companhia de Deborah Waldorf, houveram uma confusão de vaias e aplausos.


A tarefa dada à Deborah Waldorf era bem simples. Pegar o pomo de ouro. Desmond foi até o centro do campo e abriu um caixote de madeira vermelha da realeza, toda talhada de detalhes e símbolos. Ele pegou o pomo e manteve-o seguro, olhando para cima, para constatar a posição de Deborah.


A garota estava a uns dez metros do chão, montada em uma vassoura de madeira cinzenta e de cerdas prateadas. Era a Raiden. Deborah era tão magra e esguia que quando ela começou a dar voltinhas com a vassoura, ele não pode afirmar com certeza se ela montava a vassoura ou a vassoura montava nela.


Desmond levantou a mão do pomo e Deborah aquietou-se, concentrada. Quando ele largou, a menina disparou atrás do pomo.


Alvo não conseguia entender muito bem. Parecia que ela estava simplesmente passeando pelo campo. Após um tempo não muito curto, mas nem um pouco longo, Deborah parou e levantou as mãos, mostrando o pomo de ouro.


Os Sonserinos bateram palmas entusiasmadas. Os grifinórios bateram palminhas propositadamente fracas e fora de compasso.


Desmond apontou a varinha para o próprio pescoço e sua voz ecoou magicamente aumentada do centro do campo.


— Deborah Waldorf foi selecionada como apanhadora da Sonserina!


Mais palmas distinguíveis.


Depois disso Desmond chamou os seis que disputariam as três vagas de artilheiro. Alvo foi para o centro do campo, sua mente não parava de se perguntar “Que que eu tô fazendo aqui?”


Todos olhavam para Alvo. Desde as pessoas da arquibancada até os jogadores que esperavam sua vez. O garoto tentou olhar para baixo, até ser obrigado a olhar para Desmond, que começava a falar:


— Vou dividir vocês em dois times. Vocês três pra cá são de um time. E Ephel, fica com os outros dois.


“Vou jogar a gole e vocês vão precisar marcar um gol. Serão obrigados a tocarem pelo menos três vezes pra poder fazerem algum gol, sacaram? E não vale tocar pro ultimo que pegou na bola. Acaba assim que alguém fizer um gol. Eu vou julgar os três melhores. Certo, agora VAMOS LÁ”


Alvo, um ruivo mais velho e uma garota sardenta voaram a uns sete metros, enquanto Ephel e mais dois garotos que mais pareciam armários foram para o outro lado. Os três se encaravam na exata metade do campo.


Desmond separou os times em linhas e mostrou a gole.


— No “Já” vocês começam.


“1...”


Alvo precisava ganhar essa vaga. Precisava muito!


“..2..”


Ele tinha uma vantagem. Precisava acreditar nisso. Mas, meu Deus, por que eles pareciam ser tão grandes?


“..3..”


Desmond deu um sorrisinho para Alvo. Tiago observava tudo e gritava “VAI MANINHO!”


“JÁ!”


Desmond jogou a gole pro ar. E antes mesmo dela dar sinais de que iria cair, Alvo já a tinha segura entre os braços.


O garoto já tinha dois em seu encalço. Um deles era Ephel. Ele parecia estar furioso. Com certeza iria derrubar o garoto da vassoura na primeira oportunidade. Alvo tentou lembrar dos conselhos de Tiago. A Adrenalina estava tomando conta de todo seu corpo.


Quando Ephel emparelhou ao lado de Alvo, o garoto fez menção de que ia passar a gole para o ruivo. Ephel olhou rápido para o ruivo e nisso Alvo deu uma freiada brusca e tocou para a garota.


Ela começou a ziguezaguear pelo campo como a gole de baixo dos braços. Alvo aproximou-se do ruivo para preparar a jogada. Eles já estavam na metade do campo inimigo quando um dos armários deu um encontrão poderoso que a fez largar a gole. Ephel pegou.


Eles deram meia volta e dirigiram-se a metade do campo, já adentrando a área de Alvo. O ruivo começou a rodear o artilheiro inimigo, esperando uma brecha. Mas este fintou que ia jogar a bola para Ephel. Alvo sabia que Ephel não era opção, pois havia acabado de pegar na gole, por isso disparou em cima do outro grandão. Alvo estava certo.


O armário jogou a bola para o outro, mas no caminho Alvo a interceptou. Ele imediatamente tocou para o ruivo, que disparou para o campo oposto, jogando a bola para a garota antes que o time de Ephel pudesse reagir. A garota começou a ser emparelhada por dois jogadores inimigos, pareciam que eles queriam espremê-la. Ela deixou a bola cair e Alvo se meteu na frente do campo de visão de Ephel, conseguindo distrai-lo, até Alvo pegar a gole.


O garoto já estava na metade do campo e viajou com a maior velocidade que pode. Ephel estava irado. Os três simplesmente ignoraram os outros jogadores e partiram em cima de Al com toda a violência. Alvo estava quase chegando aos aros, mas os três também iam colidir com o garotinho a qualquer momento. Nessa hora Alvo fez algo inesperado.


Ele freiou e desviou dos três com movimentos ágeis. O fato de ser pequeno facilitou muito, sem contar na idiotice do grandão. Alvo nem pensou. Estava de frente com os três aros. Lançou a gole. Ephel pulou em cima do aro central para tentar rebater. Mas cometera um erro.


Alvo tinha lançado a gole para trás, a menina a tinha em mãos. Eles foram atrás dela, mas a garota já havia lançado com força a bola para o lado totalmente oposto, onde o ruivo estava. Ele estava perto do terceiro aro, que era um pouco mais baixo.


Foi fácil fazer o ponto, já que os três adversários estavam preocupados demais em marcar o garotinho franzina.


Alvo estava eufórico. Isso tinha sido demais. A sensação de jogar, de disputar, de vencer, enquanto seu irmão mais velho e uma multidão olhava, era incrível... Tiago assoviava alto, já Fred fazia luzezinhas com a varinha. Letícia gritava “AEEE ALVOO!”. O garoto percebeu assustado que Victoire e Dominique batiam palmas. A loira não parecia irritada, afinal.


Os jogadores desceram até o solo do campo, ao encontro de Desmond. Ele, porém, tinha uma expressão incógnita, portando uma cadernetinha na mão e uma caneta de bico de pena. Mas ele fechou a caderneta e apenas disse:


— No fim de todos os testes eu vou mostrar o resultado.


— Mas você deu o resultado da Deborah na hora! — reclamou o ruivo.


— Claro, Calliu, ela era a única apanhadora e foi ótima, ô espertinho.


Alvo não pôde negar que estava decepcionado. Ele sentou-se na arquibancada junto com os demais pretendentes.


O teste dos batedores foi muito violento. Lorcan, inclusive, encaixou um balaço na cara de um rapaz baixinho entroncado. Uma menina confundiu a cabeça de outro com um balaço e deu uma bordoada que ecoou terrivelmente pelo campo. Ele saiu do campo direto para a enfermaria.


No fim, Desmond tinha acabado de fazer anotações. Todos aguardaram mais alguns minutos, até o Capitão Padalecki ir para a beira da arquibancada onde estavam os pretendentes e colocar a varinha no pescoço. Alvo não aguentava de tanta ansiedade.


— Aí, já to com os resultados aqui — disse a voz magicamente aumentada do capitão.


“Apanhadora: Deborah Waldorf; Goleiro: Desmond Padalecki (Eu, no caso); Artilheiros: Kellion Kingsley, Yurick Rutherdan e Ephel Walker; Batedores: Lorcan Scamander, Royster Carter. Obrigado a todos os outros participantes, mais sorte na próxima...”


Alvo ficou paralisado. Só podia haver algum engano.


— COMO ASSIM? — gritou Calliu da arquibancada. — nós jogamos melhor!


— Não ao meu ver. Agora vaza daqui. — respondeu Desmond frio.


Calliu pulou a arquibancada baixa e parou cara a cara com o loiro. Estavam tão próximos que se alguém empurrasse, os dois iam acabar se beijando.


— Quero provas. — disse Calliu entre os dentes.


— Não, Calliu, para com isso! — gritou a garota sardenta, pulando a arquibancada também, para puxar o garoto pelo braço. Calliu se desvencilhou, gritando para ela:


— Frida, você viu! Até o pirralho Potter foi melhor que o Ephel. — Calliu voltou para gritar em cima da cara de Desmond: — ELE PÔS NO TIME SÓ QUEM É AMIGUINHO DELE! ESSE SANGUE RUIM NOJEN..


POW.


O loiro tinha dado um soco tão forte em Calliu que este agora estava caído no chão.


— NUNCA MAIS ME CHAMA DISSO! — gritou Desmond.


Calliu se levantou e pegou o louro pela barriga, como um touro, carregando-o até de encontro com o pano da arquibancada. Os dois furaram o tecido e começaram a rolar em pancadaria debaixo da estrutura de madeira.


— PAREM — gritou Frida. Lorcan e Royster pularam para o campo e entraram no buraco, tentando conter os dois garotos. As pessoas das arquibancadas desceram para o campo e começaram a gritar “BRIGA, BRIGA, BRIGA, BRIGA!”. Alvo pôde ouvir entre os gritos Leticia dizendo para Tiago: “Aposto vinte nuques no Calliu”.


Foi preciso que Kellion ajudasse Lorcan para que eles conseguirem conter Desmond, que gargalhava, um filete de sangue saindo da boca do loiro, enquanto ele gritava: “FRACASSADO! LIXOSO!” e soltava mais uma gargalhada.


Por sua vez, Calliu era contido por Ephel, que o fazia com muita facilidade, enquanto o outro gritava “ME LARGA, ME LARGA, BABACA!”.


— Quietinho aí — dizia um Ephel calmo, enquanto segurava o menino em uma gravata.


— PAREM OS DOIS — gritou Lorcan — OU VOU ESTUPORAR VOCÊS. OU PIOR: CHAMAR A PROFESSORA MCGONAGALL!


Ao ouvirem esse nome, os garotos ficaram quietos, apenas se movendo para se desvencilhar da prisão de Lorcan, Kellion e Ephel.


— TÁ BOM, TÁ BOM, AGORA ME LARGA — Calliu gritou. Ephel jogou o garoto no chão. Calliu levantou-se e, antes de sair bufando, disse: — Você me paga, Padalecki. Vem, Frida.


Lorcan esperou um pouco para fazer sinal ao Kellion e permitir-se largar Desmond, que gritou para as costas de Calliu:


— VAI, COVARDE, FRACASSADO, LIXO! VAI COM ESSA SUA NAMORADINHA ABORTADA!


Desmond riu e cuspiu sangue no chão. Alvo estava paralisado com toda aquela situação. Se assustou quando Tiago segurou no ombro dele.


— Calma, Al, sou eu — o irmão disse.


— ALGUÉM MAIS ACHOU RUIM O TIME? — gritou Desmond desvairado, com o sorriso vermelho.


Todos ficaram em silêncio.


— Certo, galera, já tiveram o showzinho de vocês por hoje — disse Lorcan, dissipando os expectadores. Os curiosos foram se afastando, até sobrar somente os quatro marotos, Alvo, Lorcan, Royster, Deborah e Desmond, que ainda arfava.


— Vem, Al — disse Tiago.


— Espera. Eu preciso falar uma coisa com o Desmond. — disse o garoto.


— Quer que eu fique pra te dar “apoio”? — Tiago massageou os punhos.


— Não. Preciso falar com ele a sós.


Lorcan, Royster e Deborah estavam ao lado de Desmond.


— Que ridículo, Desmond. Foi se rebaixar pro Calliu? — Deborah debochou. — Ele faz teatro!


— Por que vocês me seguraram? — Desmond fechou a cara para Lorcan — Eu ia quebrar a cara dele todinha.


— Eu deveria chamar a Mcgonagall — ameaçou Lorcan, passando um pano na cara manchada de sangue do amigo.


— Você não faria — Desmond sorriu, mas parou, por que a maxila estava machucada — Você é meu ami-


— Sou Monitor e faria sim. Onde já se viu? Você é o capitão do time. Só não falo nada pra diretora porque você é um ótimo goleiro. Se for expulso, a gente com certeza vai perder. Além do que a diretora sempre torceu pra Grifinória, no fundo quer que eles ganhem. Sem contar que eles são parentes, Calliu e a diretora, o que ia piorar e muito as coisas pra...


— Tá, tá bom. — Desmond desconversou. — agora me deixa falar com esse pirralho.


De repente todos se deram conta que Alvo estava ali.


— Que que você tá esperando? — disse uma Deborah ríspida. — quer reclamar do resultado também?


— Deixa ele. Vão na frente. — disse Desmond.


— Tem certe- — Deborah começou, mas foi interrompida pelo loiro.


— Vai. Quero explicar uma coisa.


Os outros foram embora desconfiados. Desmond e Alvo estavam a sós.


Alvo quem falou primeiro:


— Isso foi injusto. Calliu e eu jogamos melhor.


— Sinceramente. Você ainda é muito burro. — Desmond riu. — Acha mesmo que eu ia colocar vocês dois no time? Calliu é parente da Leticia. Ambos são Reznor. Ela é da Grifinória e eles são muito próximos. E você, nem se fala... Não tem como confiar cem por cento em vocês dois.


— Mas eu falei as coisas do Tiago para você! Eu fiz o que você pe-


— Exatamente — Desmond piscou — você traiu o seu irmão. Quem vai me garantir que não vai me trair? Se você tivesse negado, talvez eu tivesse deixado você entrar no time. Quando eu quis saber se você era um Sonserino de verdade, queria saber se você sabe o que é ser fiel ao seu nome. Salazar Sonserina poderia ser o que for, mas ele agiu para proteger a família dos bruxos naquela época. Mas você é só um moleque falso. E o Calliu fica negando o parentesco dele, chamando os outros de... — Desmond trancou as maxilas... — Não. Os dois não vão entrar no meu time.


— Mas... Mas! — Alvo estava muito indignado — Você prometeu que se eu contasse...


— Eu disse que se você contasse, eu deixaria você fazer o teste. Não disse que você estaria dentro. Eu fiz o teste ontem a noite. Você não passou. Agora vaza.


Alvo não quis saber de ir almoçar. Nem quis saber de ver o teste de Tiago. Ficou a tarde inteira se excluindo dentro das engrenagens da torre do relógio, olhando para o pátio da torre, depois além da ponte de madeira, o círculo de pedras... A cabana de Hagrid na beira da floresta proibida... Sim. Alvo se levantou e seguiu o seu coração. Precisava falar com o tio, falar sobre a derrota, sem alguém contar as vitórias de Tiago. Precisava perguntar se Rúbeo achava que ele era falso... De repente ele viu algo intrigante. Conde Capis, o gato de Isobel, estava caminhando até uma enorme árvore, distante da floresta negra. Ele pulou para um buraco entre as raízes e desapareceu. Para onde será que ele teria ido?


O garoto desceu as escadas de madeira até achar o pátio do relógio, a rezar para que ninguém o encontrasse. Atravessou a ponte com o olhar perdido no cume do rio entre os paredões de rochas que a ponte interligava.


Distraído, assustou-se quando deu de frente com Isobel, que gritou:


— OLHA POR ONDE ANDA! — bufou impaciente, que vinha da direção oposta a Al.


— Desculpe... — Alvo disse, tristonho.


— Que seja. — a menina fechou a cara, preparando-se para seguir seu rumo. Mas parou de repente, virou e disse: — Por acaso você viu aquele gato dos infernos, o Conde Capis? Eu vi ele cruzando a ponte ainda agora, mas não achei em lugar nenhum. Se ele foi pra floresta proibida, a Deborah me mata.


— Err, vi sim! — Alvo deu um meio sorriso — Ele foi pras raízes de uma árvore ali.


— Que árvore?


— Uma grande, toda retorcida, quase sem folhas.


— Ah, eu acho que já vi uma vez.


A menina virou as costas e correu pela ponte, para fora do castelo.


— De nada hein... — Alvo resmungou para si mesmo.


Alvo seguiu seu rumo até a cabana de Hagrid. Mas no caminho, encontrou as últimas pessoas que queria ver naquele momento.


Tiago, Leticia, Fred, Caerulleu estavam voltando da cabana. Estavam com vassouras nas mãos e com as vestes vermelhas de Quadribol da Grifinória. Eles riam, pulavam, falavam besteiras altas e davam tapinhas nas costas de Tiago. Alvo tentou dar meia volta, mas fora visto.


— AL — gritou Tiago, correndo em direção do irmão — Cara, eu tava começando a ficar preocupado com você. Onde cê tava, maninho?


— Eu...


— Não vai dizer que tava chorando por que não foi selecionado. Ah, cara. Supera. É o Desmond, aquele babaca é o Rei das babaquices...


— Não, eu não estava chorando! — exclamou um Alvo irritado, ao ver Fred, Leticia e Caerulleu alcançando os dois. — Eu estava... — o garoto pensou numa mentira — ajudando a Isobel a achar o gato dela.


— Sério? Achei que ela te odiava. — disse Fred.


— Não, eles têm uma paixonite — piscou Tiago.


— Ohoho, entendi. Entre tapas e beijos... — riu-se Leticia.


— Não é nada disso! — Alvo estava ficando cada vez mais irritado.


— A Waldorf veio até a cabana do Hagrid para nos acusar de roubar o gato dela. Ela até ameaçou contar pro vice-diretor.


— Aí eu mandei ela ir pra... — Mas Leticia foi interrompida por Caerulleu.


— Então, vocês acharam? Ela parecia estar bastante preocupada.


— Achei ainda a pouco — disse Alvo, querendo se livrar — o gato foi pra de baixo das raízes de uma árvore enorme ali.


— ESPERAI — Tiago exclamou assustadíssimo. — Como era essa árvore?


— Grande, nodosa, meio seca e quase sem folhas. — descreveu Alvo, sem entender a cara de morte dos quatro.


— Ai caramba... — Caerulleu colocou a mão na boca.


— VAMO LÁ, ANTES QUE ACONTEÇA UMA TRAGÉDIA! — gritou Fred. Os quatro correram. Alvo os seguiu sem entender. Na corrida, o garoto gritou:


— O que foi? Que tem essa árvore?


— É o Salgueiro-Lutador! — gritou Leticia, descendo a grama íngreme, ladeada pelos amigos.


Mas Alvo só entendeu o que aquilo significava quando ouviu os gritos de Isobel.


Música tema: Izzie em perigo


Uma árvore enorme balançava seus galhos nodosos violentamente, choacoalhando Isobel, que gritava, agarrada em um dos galhos.


— IZZIE! — Alvo gritou desesperado.


— Aguenta firme, Isobel! — gritou Caerulleu. Os quatro marotos puxaram as varinhas. — Tiago, monta a vassoura e bate na janela da torre do Ravus. Fred e Leticia, tentem pegar ela no ar. Eu vou tentar enfeitiçar o salgueiro com alguma coisa. Al, se afasta!


Fred e Leticia montaram em suas vassouras e começaram a tentar se aproximar da árvore. Mas ela era intrépida. Balançava os galhos como chicotes na direção dos garotos. Ambos conseguiam fugir das açoitadas graças as suas manobras das vassouras, mas eram muitos galhos, todos concentrados em atingir com brutalidade qualquer coisa que se aproximasse deles. Isobel tinha os olhos fechados e gritava com vontade, enquanto seu galho tentava chicotear Fred, que desviou por um triz.


Entrementes, Caerulleu pentava posicionar um feitiço de uma distancia segura, mas era difícil acertar o galho sem acertar Isobel, pois ambos se moviam demais, assanhados pelo vôo de Leticia e Fred. E Alvo estava ali, aflito, sentindo-se culpado e mais inútil do que nunca.


— Eu poderia tentar um “Aresto momentum”, ou “Petrificus totallus”, mas tenho medo de acabar acertando Isobel e ela ser arremessada naquela velocidade do galho. Acho que ela não sobrevive a uma queda assim.


— Mas o Tiago pode pegar ela no ar! — exclamou Alvo.


— Se ele tentar pegar ela enquanto é arremessada, o Tiago cai da vassoura junto! — exclamou Caerulleu — O máximo que podemos fazer é deixar os galhos longe do chão e rezar para que Isobel se segure bem forte até Ravus chegar! Droga, o que o Tiago ta fazendo que não trás logo o Vice-diretor?


Alvo simplesmente não conseguia ficar parado. Ele fez a coisa que lhe parecia sensata, mas ao mesmo tempo louca. Era a única forma.


Para o susto de Caerulleu, o garoto correu para a área de ação do Salgueiro.


— EI, EI, AQUI! — gritava o menino, balançando os braços.


— ALVO SAI DAI — gritava Caerulleu, de mãos atadas.


Isso por que o Salgueiro-lutador entendera a mensagem de Alvo bem até demais. Ele voltou os seus esforços para não apenas chicotear Alvo, mas jogar o corpo nodoso por completo em cima dele. Alvo desviara do golpe de um tronco desenovelado por um tris e também saltara para escapar de uma chicotada baixa.


Quando o salgueiro resolveu usar o galho com Isobel e tudo para esmagar Alvo, o garoto gritou para Isobel. “LARGA!”


Sem pensar duas vezes, o garoto pulou em cima de Isobel, empurrando a menina na direção oposta da chicotada, abraçando-a e rolando junto com ela para a beira das raízes da árvore.


Ambos se levantaram um pouco tontos. Alvo deu um sorriso, mas Isobel o empurrou para o chão, se jogando em cima dele, ambos batendo de testa, desviando de uma chicotada particularmente violenta.


— PRESTA ATENÇÃO, PALERMA! — gritou Izzie.


— O TRONCO! — Alvo apontou. Ambos rolaram para o lado, desviando por pouquíssimo e se safando de serem amassados feito massa de macarrão por um rolo gigante. Porém, a perna de Isobel tinha sido acertada. A menina urrou de dor, incapaz de se mover.


Só que o outro tronco já começava a se preparar para uma bordoada pior ainda.


— CAERULLEU! — Alvo chamou. O garoto apontou a varinha para o tronco que pegava distância para o golpe e gritou: “Aresto momentum!”.


A árvore parou por um milésimo, mas continuou. Fred e Leticia voaram em direção a Alvo e Isobel, mas, distraídos, foram acertados por um galho particularmente robusto, voando ambos em cima de Caerulleu. Os três jaziam desacordados metros dali.


E o tronco já ia descendo em direção à Isobel e Alvo. Era o fim. Alvo se jogou na frente de Isobel, para protege-la com as costas. Até que...


Uma luz emanou da árvore e uma quentura distinta. Alvo olhou para trás e o que ele viu o fez ficar de cabelo em pé.


A árvore pegava fogo. Assava em chamas fortes, se balançando, esquecendo dos garotos. Contorcia-se de dor. As chamas se espalhavam em cada galho, em cada folhinha.


Quando Alvo olhou para a garota, percebeu que ela apontava a varinha para a árvore. Parecia admirada com o que acabara de fazer. Alvo arrastou a garota para longe das fuligens, que caiam do salgueiro que se desfazia em chamas.


Ele a arrastou até uma distância segura e jogou-se na grama, ofegante, com o coração tamborilando a mil por hora.


Isobel parecia estar em estado de choque. Só olhava para a árvore crepitando e contorcendo-se, agonizando.


Ignis exumai!”


De repente as chamas apagaram. E uma fumaceira insuportável subiu incontrolável aos céus. Alvo olhou para o lado e viu acompanhando Tiago, além de Ravus, uma velha alta, com cabelos brancos apertados num coque, óculos quadrados, chapéu de ponta com uma pena de falcão e as vestes de túnica esmeralda. As mãos engelhadas apontavam a varinha para a árvore. A feição da velha parecia chocada.


O salgueiro lutador estava preto. Antes hiperativo, agora parado e seco, suas cinzas voando com o vento e os galhos se despedaçando, igualmente negros. A fumaça não parava de sair, fazendo Alvo e Isobel tocirem. Ravus ordenou: “Nebula evanesco” e ela também findou-se. O vice-diretor foi em direção a Leticia, Caerulleu e Fred, que estavam arranhados, mas já despertavam meio tontos.


— O que devo fazer, Minerva? — O baixinho ruivo disse, acudindo os garotos.


— Hã...— a senhora balançou a cabeça para sair do transe de choque ao ver o Salgueiro lutador feito churrasco. E continuou: — Leve os três para a enfermaria. Hípimus cuidará deles.


Ravus concordou e conjurou cadeiras de rodas de madeira para Letícia, Fred e Caerulleu, que cambalearam e caíram em cima delas, as quais começaram a caminhar sozinhas.


Das raízes da árvore, de repente, saiu Conde Capis. Ele virou-se para Minerva e rosnou feroz, indo embora, não antes de lançar um olhar penetrante para uma Isobel ainda paralisada.


— Potter. — Minerva parou de observar o gato e fitou Tiago. Alvo suspirou aliviado. — irei chamar o professor Longbotton. Quero encontrar a senhorita Waldorf e seu irmão no meu escritório, você está cansado de saber o caminho. A senha da estátua é “Justiça”.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.