O Jardim das Masmorras (AVISO)
NOTAS: Leitores, eu sinto muito, mas notei que tinha pulado um capítulo. Esse capítulo é muito importante. Leiam ele antes de continuar para o 13 (Peripecias do conde capis) e o 14 (Duplo azar e mau agouro). Peço desculpas pela confusão.
Alvo não conseguia acreditar que estava sendo ovacionado, carregado como campeão pelos alunos da Sonserina. Estava radiante. Todos falavam seu nome. Ele não era o irmão de Tiago. Ele era O Potter.
Mas Alvo não pôde deixar de se sentir um pouco incomodado. Havia competido diretamente contra Rosa e Dominique, suas primas e melhores amigas, além de ter ajudado Escórpio a humilhá-las. E a sensação piorou quando ele finalmente foi permitido a tocar no chão e nesse segundo viu de longe as primas no meio do grupo dos Grifinórios.
Sentiu uma vontade de ir atrás delas. Pedir desculpas e contar como tudo fazia parte do plano. Ele desviou do grupo dos Sonserinos e preparou-se para ir atrás dela. Mas alguém deu tapinhas em seu ombro.
— Ei, Alvo — era Nelson Derwent. — você foi fantástico! — o garoto sorria aquele velho sorriso automático. Mas Alvo notou que gostava de ser elogiado e pensou que ele poderia ser um cara legal, tirando a camada grossa de autoconfiança. Os Sonserinos não eram todo aquele terror que ele achava que eram, no fim.
— CEEERTO, garotada! Parabéns, meus parabéns aos Sonserinos! Quarenta pontos para a Sonserina — disse o professor Ruffeil. Os Sonserinos aplaudiram-se gloriosamente e comemoraram. Isso era ótimo! Alvo tinha recuperado os pontos que tinha perdido ao errar as perguntas do Vogelweide — Mas os Grifinórios também jogaram com garra. Palmas para vocês também.
Uma ou duas palmas surgiram e logo cessaram.
— Legal — continuou o professor, meio constrangido. — agora vazem, vazem! Vocês ainda tem aulas!
Os Sonserinos se agruparam e entraram novamente no túnel, dando para a sala dos brasões.
Alvo pensou em ir falar com as primas, mas dessa vez, Mathew é que veio falar com Alvo.
— Sério, aquela jogada sua e do Escórpio foi perfeita. Enganamos direitinho aqueles leonzinhos.
Alvo concordou timidamente.
— Olha, eu tava falando com o Nel, a Juju, a Dedâmia e o Trick... A gente vai pro salão comunal para nos limpar desse suor e depois vamos nos reunir em uma árvore perto do lago negro. Você pode ir lá com a gente.
— O.k....
Era uma chance que o garoto não poderia desperdiçar.
Então os garotos da Sonserina atravessaram todos juntos o campo de treino, chegaram ao prédio das estufas, caminharam pelos corredores dos tapetes e vasos, subiram as escadarias do segundo andar até encontrarem a escada em caracol que dava para as masmorras.
Alvo limpou-se e trocou-se, pensando como as coisas estavam começando a dar certo. Os Sonserinos (alguns) estavam começando a confiar nele. Além disso, passar a tarde com o grupo de Nelson poderia dar exatamente o que Rosa tinha pedido para Alvo: informações sobre a inimiga de seu pai. Afinal, Nelson e Juliana eram sobrinhos de Integra Waldorf.
Alvo limpou-se e trocou-se. Os garotos não colocaram suas capas pretas, pois o período de chuvas parecia que estava começando a amenizar na metade de setembro. Alvo resolveu seguir esse conselho mudo. Ficou apenas com a camisa social branca e a gravata verde com listras prateadas.
Mathew, Juliana, Nelson, Dedâmia e Patrichio saíram das masmorras e atravessaram todo o prédio, chegando ao pátio da torre do relógio. Atravessaram a ponte de madeira e chegaram ao campo do círculo de pedras, descendo o monte, passando pela cabana de Hagrid, até acharem a beira do grande lago negro que ficava na encosta do penhasco de Hogwarts.
— Que horas vai ser a aula de Artes Bruxas? — perguntou Patrichio.
— Daqui a uma hora — respondeu Juliana.
— Olha ali a árvore que eu tinha falado para vocês! — apontou Dedâmia.
Os garotos sentaram-se num gramado um pouco distante da beira do lago. Lá tinha um carvalho grande e frondoso para fazer sombra. Era um lugar confortável. Os garotos se acomodaram nas raízes fortes e nodosas da árvore. Alvo se apoiou nela. O engraçado é que tinha em seu tronco riscado as iniciais “L & T” delimitadas por um coração. Ficou pensando quem era aquele casal que tinha feito aquilo...
— Hoje foi um dia legal — disse Nelson, deitando no gramado fofo com as mãos atrás da cabeça.
— O dia ainda não acabou, Nel — informou uma Juliana perspicaz.
— Eu sei — o garoto fez uma careta. — quero dizer que foi legal aquela tal de ‘bandeirinha’...
Alvo notou que aquela era uma deixa para ele se inserir na conversa.
— Você voa muito bem...
— Você acha? — disse Nelson, sorrindo, satisfeito com o elogio. — Eu e o Mathew somos de um clube, a ABB, “Assembleia dos Bruxos Britânicos”. Papai é sócio de lá. Faço parte do time de quadribol. Eu e o Mathew. Foi uma pena eu não poder ter trazido a minha Firebolt...
Percebendo que a conversa ia ficar centrada em Alvo, Juliana tirou um livro intitulado “Drama e Peripécias: a arte bruxa de atuar” e começou a ler, encostada no carvalho. Patrichio, porém, estava muito mais interessado na conversa:
— Eu também sou do clube! — informou alegre.
— É, mas você não joga Quadribol — Mathew cortou. — Alvo, por que você não é do clube? Acho que aceitariam seu pai numa boa... O Harry Potter... Não sei como seu pai ainda não é sócio.
— Não sei... — meditou o garoto. — Papai nunca falou disso.
— Nas férias de Natal, fala pra ele se associar. Temos uma vaga para artilheiro para ano que vem. Você não disse que o Derick vai sair do time, Nelson?
— É, ele vai tentar entrar no campeonato juvenil, então vai ficar com outro time. — disse Nelson — Quer tentar entrar nos Falmoth Falcons. Aí você poderia substituir ele, Alvo.
— Não sei... Eu não jogo tão bem...
— Mas você pegou a bandeirinha hoje! — argumentou Dedâmia. — claro que você é bom!
Alvo ficou vermelho, mas continuou a negar.
— Não, aquilo só foi um plano do Escórpio que deu certo. Eu sou péssimo.
— Quem disse que você é péssimo? — quis saber Dedâmia.
— Eu jogava com os meus primos e o meu irmão. Tiago sempre falou que eu, a vassoura e o chão fazíamos um lindo triangulo amoroso... Vocês devem ter visto hoje.
— Ei, ei, ei — Mathew começou, aproximando-se e passando o braço atrás de Alvo, num abraço amigável. — Nada a ver. Eu e o Nelson vimos você voando. Incrível. Não é, Nelson?
— Fantástico. — sorriu Nelson. — você não notou que fez manobras profissionais no ar? Aquela hora que você e o Escórpio invadiram a área das balizas, aquilo foi um movimento chamado “Formação de ataque cabeça de Falcão”.
— Não, eu...
— E aquela hora que ele ziguezagueou com a Weasley loira no encalço? — acrescentou Mathew — Shimmy de Woollongong. Pena que ele não conseguiu terminar o movimento...
Alvo estava tonto. Não sabia nenhum desses nomes. Mas, ao mesmo tempo, estava orgulhoso de si mesmo. Nunca imaginara que tinha jogado tão bem. Na verdade, deveria ser só puxa-saquismo deles.
— Não, acho que vocês estão enganados... — tentou se justificar um Alvo vermelho. — O Tiago disse...
— Que Tiago que nada! — aborreceu-se Mathew. — Sabe o que eu acho? Acho que esse teu irmão nunca quis admitir que você jogava bem. Ele nunca quis ensinar você, porque sabia que você ia se tornar melhor que ele e poderia roubar vaga dele no time de Hogwarts. Mas ele não esperava que você fosse tão bom que nem ia ficar naquele timinho dos... Como é que o Padalecki chamou eles?
— Grifiotários — riu-se Nelson. — Eu curti muito esse apelido.
— Isso mesmo. Você veio pra Sonserina. Ano que vem nós três vamos fazer o teste juntos e vamos entrar no time como artilheiros. Talvez o Escórpio também queira entrar como goleiro. Se bem que ele nem está mais falando com a gente...
— Ele só fala com aquela sangue-ruim lá — disse Dedâmia. — a Isobel. Odeio aquela menina.
— Ei, manera a língua, Dedâmia — ralhou Nelson, levantando-se da grama — Ela é nossa prima!
— Ah, Nel, por favor! — Juliana baixou o livro — ela é adotada! Nem tem laços de sangue com a gente! Ganhou o sobrenome Waldorf de graça!
Alvo começou a ouvir mais atento. A conversa tinha chegado onde ele queria.
— É, Juju, mas ainda assim, acho que não tem nada a ver esse papo de ficar chamando ela de “sangue ruim”. A gente não sabe quem era os pais dela. Poderiam ser bruxos poderosos!
— Duvi-d-o-do! — disse uma Dedâmia irritadiça.
— Simplesmente não entendo vocês — Nelson voltou a se deitar.
— O Escórpio nunca mais falou com a gente desde o trem. — ponderou Mathew — É estranho, pois ele é do time da ABB. Era o nosso goleiro. Sempre foi muito bom. Seu pai se dá muito bem com o pai dele, Nel.
— Verdade. Sempre vejo o papai falando com o senhor Malfoy. Mas isso é normal. Draco Malfoy é um Curandeiro de respeito.
— Respeito, Respeito... Acho que não. — ponderou Dedâmia. — sabe a história sórdida que os Malfoy tem né. O papo de comensais da morte e tudo mais...
Alvo estava prestando atenção em cada palavra.
— Que falta de tato! — protestou Nelson. — Está insinuando que meu pai anda lidando com velhos seguidores de Você-sabe-quem? O senhor Malfoy se redimiu. Ele é sim o homem de respeito, assim como o meu pai é!
— Calma, Nelsinho, não precisa se irritar — riu-se Dedâmia.
— Odeio que falem mal da minha família. — Nelson levantou-se e foi sentar próximo a Juliana, dando uma olhada no livro que ela lia. Estava nitidamente emburrado.
— Todos nós sabemos que os Derwent sempre foram ótimos curandeiros, Nel — disse Juliana — Dedâmia não falou por mal. Ela sabe também que os Licaster são uma família antiga e de respeito. — a garota disse tudo isso sem tirar o olho do livro.
Alvo tentou fazer uma abordagem ariscada.
— Os Licaster são os pais da Integra Waldorf? — perguntou.
Fez-se um silêncio meio incomodo.
— Meu pai se chamava Píramo Licaster. — disse uma Juliana dura — Ele era um Auror. Morreu em serviço, como um herói.
— Minha mãe era Elysia Licaster, morreu há três anos atrás, num acidente do laboratório da tia Integra. — disse um Nelson estranhamente frio. Notando o clima, o garoto imediatamente sorriu — Juju, você sabia que o meu nome era para ser Píramo Derwent?
— Não. Sério? Sua mãe ia colocar em homenagem ao meu pai, não é?
— Era, mas o papai quis colocar o nome do filho da Dillys Derwent, a diretora de Hogwarts, minha antepassada — o menino informou orgulhoso. — ele se chamava Nelson, foi um Curandeiro genial.
— Poxa, mas Píramo é um nome lindo... — disse Dedâmia, tentando se redimir.
— É um nome legal — disse Patrichio.
— Desculpa Juju, mas eu prefiro Nelson mesmo.
Todos riram. Alvo novamente tentou fazer uma investida inadvertida:
— Sua tia, a Integra Waldorf, trabalha com o que no Laboratório dela?
— Ela pesquisa sobre a...
— Nelson. — cortou Juliana, fitando Alvo com uma expressão desconfiada — Falta meia hora para a aula, melhor a gente ir logo, já que a sala de Artes Bruxas fica no sétimo andar do primeiro bloco.
Alvo ficou imediatamente constrangido. Sabia. Agora tinha certeza. Juliana tinha noção do porquê de Alvo de repente se aproximar deles. Ele fora um burro fazendo perguntas tão óbvias no mesmo dia. Devia esperar um pouco mais. Agora Juliana estava desconfiada o triplo. Seria difícil arrancar a informação dos sobrinhos de Integra Waldorf. E perguntar para Isobel nem era uma opção.
Os garotos atravessaram todo o prédio, seguindo Juliana, que tinha uma ótima noção de direção e mapas. Haviam atingido o andar da biblioteca. Subiram mais andares até encontrarem o corredor do quadro da bruxa de um olho só, o qual Alvo tinha encontrado a sala dos troféus.
Mas eles seguiram pela escadaria de mármore até alcançarem um antro largo. Em seguida passaram por um corredor com tapeçarias e vasos com pós estranhos. Atravessando mais uma porta, deram no antro da escadaria semi-circular com a estátua do frade.
— Estamos longe? — quis saber um Trick nervoso.
— Quase chegando. Só passarmos por mais esse corredor....
E encontraram a grande escadaria. Estavam no segundo nível.
Eles galgaram as escadas, desviando de algumas que se moviam, tendo que refazer o caminho quando eram enganados por ela. Mas finalmente chegaram ao sétimo andar.
Aquilo era um verdadeiro labirinto. Os corredores tinham o teto muito mais alto e as paredes tinham colunas com gárgulas penduras. Cada corredor encontrava-se em uma encruzilhada. Até Juliana parecia estar um pouco confusa.
— Calma — ela falava para si mesma. — É próximo a uma tapeçaria do Barrabás, o amalucado.
— Do que ela está falando? — desesperou-se Trick.
Todos respiraram aliviados quando dobraram o corredor e encontraram uns grupo de primeiranistas da Corvinal.
— Vocês estão indo para a aula de Artes Bruxas? — perguntou Dedâmia.
— Sim! Isso mesmo — sorriu a menina que Alvo conhecia como Marcella Noite.
Os grupos se uniram e em uma única entidade dirigiram ao corredor da esquerda. Nele havia uma tapeçaria com a imagem de um homem tentando ensinar balé aos trasgos. Deveria ser aquilo que Juliana havia citado.
A sala de Artes bruxas era ampla e redonda. Provavelmente era alguma torre anexa do sétimo andar. Tinha o piso de madeira com padrões marfins e marrons, cheias de tecidos pendurados nas paredes apinhadas de objetos como galões de tintas, estantes de livros, cadeiras, mesas, tudo lateralizado para deixar o centro da sala limpo e espaçoso. Nos fundos da sala havia uma elevação em forma de uma espécie de palco em meia lua. As cortinas vermelhas estavam totalmente abertas. No fundo do palco havia um grande painel com o desenho de uma noite especialmente macabra. Não mais macabra do que a música que soava...
Música tema: Double Trouble - Piano
Uma menina morena de cabelos encaracoladíssimos amarrados estava sentada, tocando magnificamente naquele piano de cauda enorme. Ela tinha mais ou menos a idade da prima Vick. Ao mesmo tempo que tocava, cantava:
“Ferve e assa na caldeira
Carne de cobra brejeira,
Do lobo a presa, do dragão o couro...
Bruxas, múmias, tripa e golfo...”
Quando ela notou que os garotos haviam chegado, parou a música e foi até a beira do palco, falando para o grupo de Sonserinos e Corvinos.
— Olá, olá, vocês — sorriu simpaticamente a veterana. Alvo notou que ela era da Luffa-Luffa pela gravata amarela e preta. — Primeiranistas, não é? O professor já vai chegar. Eu estava treinando para a apresentação do Halloween...
A menina pegou uns papeis que estavam em cima do piano e mostrou para os estudantes.
— Esse papel tem o nome de todos os estudantes da Corvinal — pegou o outro papel — e esse os da Sonserina. Quando a aula acabar, vocês poderão se inscrever para os testes para a peça que apresentaremos no Halloween.
— Você vai participar da peça? — perguntou Marcela, a garota da Corvinal branquela de cabelos perfeitamente ondulados.
— Nossa, como eu sou mal-educada. Meu Nome é Leticya Miziara. Mas todo mundo me chama de Mizzy. Sou do quinto ano, Luffa-Luffa de coração! — a menina deu aquele sorriso simpaticíssimo novamente. — Eu sou monitora de Artes bruxas. Geralmente vocês conhecem seus outros monitores no segundo ano, mas como é uma matéria nova, não faria sentido ensinar o avançado para os secundanistas, já que eles nem viram o básico...
Nesse momento Mallone Hirase chegou correndo, balançando aquele cabelinho cuia ruivo.
— Acabei dormindo um pouco... — informou o garoto, coçando os olhinhos puxados.
— Novidade... — disse a garota de cabelo curtinho liso preto com os óculos quadrados enormes: Beatriz Bathory, a qual transmitia uma nítida atmosfera alienígena. Ela já estava ali desde muito tempo, sentada em uma das cadeiras do canto, com os braços cruzados, lendo um livrinho de bolso.
— Boa tarde, boa tarde! Olá senhor Walfran... Desculpem o atraso...
O Professor Garfield usava hoje uma boina cor de vinho e um terno roxo, com um cachecol xadrez vermelho-verde. Veio andando com aquele gingado conhecido. Subiu no palco pela escadinha lateral e falou baixinho para Miziara:
— Conseguiu fazer o arranjo?
— Ficou em Mi menor. — respondeu a garota.
— Maravilhoso — dessa vez o professor disse alto, do seu modo pomposo. — Todos já chegaram? Eu vou ler a frequência...
“Corvinos... Anatrice, Archimenes, Beatriz, Cougar, Dimian, Eleanor...”
O professor foi lendo e os alunos da corvinal levantavam a mão.
— Ótimo... Mallone, Marcela, Nix, Raphael, Raphaela, Rhanna...”
Quando o professor acabou de ler, continuou com os Sonserinos:
“Alvo, Bart, Carl, Dedâmia, Derdil, Dorian, Endy, Escórpio, Gapriel, Hachian, Isobel, Juliana, Karoena, Lexie, Mathew, Nelson, Octavius, Phandora...”
Todos os Sonserinos estavam presentes. Alvo descobriu o nome de alguns que não conhecia e confirmou o nome de outros.
— Maaaravilhoso!
O professou afinou a voz até as alturas quando disse isso, o que causou várias entortadas de sobrancelhas por parte dos alunos.
“Meu nome é Buchanan Garfield. Sou formado na Academia Bruxa de Artes Dramáticas. Alguns me chamam de Professor Bucky, ou Professor Garfield. Eu não me importo. Estou aqui para mostrar para vocês o mundo do teatro! A disciplina Artes Bruxas foi ressuscitada por um desejo muito conveniente da diretora Mcgonagall. Há muitos anos que Hogwarts não vê uma peça, desde o diretor Dippet, na época em que Alvo Dumbledore era ainda um jovem professor de Transfiguração, vejam só, penso que faz quase um século! Mcgonagall me mandou uma coruja e eu prontamente aceitei o desafio... Agora estou aqui, vendo esses rostinhos tão animados para a maravilhosa arte de encenar!”
O professor talvez não tenha notado que ninguém parecia nem um pouco animado. Nem ouviu Mathew comentar baixinho com Dorian:
— Esse cara tem alguma coisa estranha.
O professor pediu para todos se espalharem pela enorme sala.
— Primeiramente vamos testar a coordenação motora de vocês. Senhorita Miziara, a música, por favor.
A garota assentiu e tocou maravilhosamente uma valsa.
Música tema: Neville‘s Waltz - Piano
O professou então fe sua voz sobrepor-se:
“Deem mais espaços entre si. Agora quero que vocês girem. Isso mesmo. Girem sem encostar um nos outros. Vamos, girem!”
Alvo começou a girar no compasso da música. Estava se sentindo meio ridículo.
“E quando eu disser “Muda”, vocês mudam o sentido do giro. Hm?”
Assim os alunos fizeram. Assim que o professor disse a primeira vez “MUDA”, obviamente houveram encontrões. Phandora fez Marcela noite voar e dar de cara no chão. Miziara parou de tocar o piano para constatar se Marcela ainda estava viva.
Phandora nem pediu desculpas. Marcela levantou-se meio zonza, sendo assistida por um Mathew cavalheiro. Nelson deixou uma gargalhada escapar, mas escondeu-a rapidamente. Não antes da menina lançar um olhar feio de indignação para ele. Leu-se um “Me desculpe” labial do garoto.
— Tenha mais cuidado, Phandora! — exclamou o professor Garfield — Esse exercício é justamente sobre leveza e delicadeza.
— A garota aí foi leve demais — comentou Phandora, rindo-se.
— E você tão delicada quanto uma pedra despencando do barranco! — comentou baixinho uma Marcela irritadiça.
Os alunos continuaram no exercício até o professor sentir que os encontrões estavam menos frequentes.
Logo em seguida ele pediu para os alunos se separarem em três grupos com mais ou menos treze alunos cada. Alvo ficou no grupo com alguns Corvinos e, infelizmente, junto a Escórpio.
O professor ficou com os outros dois grupos, fazendo uma espécie de sorteio com Dedâmia e Walfran, enquanto o de Alvo foi assistido por Miziara.
— Amigos, vamos agora fazer uma pequena encenação.
O professor chegou com o grupo de Alvo, dizendo:
— Sobrou para eles “O Conto dos Três irmãos”. Eles serão os primeiros a se apresentar.
— Obrigada, professor.
Garfield foi se afastando para dar assistência às outras duas equipes enquanto Miziara pedia para os treze acompanharem ela até próximo ao palco. Lá eles fizeram um círculo. Lá estavam: Escórpio, Alvo, Marcela, Raphaela, Mallone, Beatriz, Patrichio, Mathew, Rhana, Carl, Lexie, Anatrice e Dimian.
— Acredito que vocês já ouviram essa história do Beedle (a maioria dos alunos fizeram que sim, salvo alguns nascidos trouxas, como Isobel, que manteve-se com os braços cruzados). Bem, esse ano nós vamos apresentar todas os cinco contos. Agora, o professor quer que vocês encenem um trecho do conto dos três irmãos. Para fazer vocês se empenharem mais na atuação, o Garfield vai dar vinte pontos para a casa do aluno que ele achar que atuou melhor. Vou dividir o grupo em dois e vocês vão repetir a peça, pra dar a chance de todos se apresentarem. Agora, os papéis...
Miziara conversou um pouco com os garotos, descobrindo suas personalidades, até decidir quem seria quem na peça. Disse o que cada um tinha que fazer (a cena era um trecho pequeno: não precisava decorar) e encaminhou a maioria para atrás do painel com o desenho de uma floresta escura.
As cortinas foram fechadas e os “atores” se posicionaram para começar o ato.
— Nervoso? — perguntou Mathew.
— Mais ou menos. — respondeu um Alvo nitidamente apavorado. Ele teria que atuar! O garoto odiava ser espiado por um grupo tão grande de pessoas, bem como ter que fazer papel de ridículo na frente de todos. As pessoas não sabiam que ele era tímido?
Tarde demais. As cortinas se abriram. Todo mundo olhava para ele, sufocando o Riso.
Marcela estava no canto do palco. Tinha uma marca vermelha de baque na testa. Segurando uma folha, ela começou a narrar, excepcionalmente bem.
“Era uma vez três irmãos que estavam viajando por uma estrada deserta e tortuosa ao anoitecer.”
Nesse momento, Mathew, Alvo e Escórpio saíram de traz do painel e atravessaram o palco. Alvo estava andando duro, como se as pernas tivessem perdido a dobradura.
“Depois de algum tempo, os irmãos chegaram a um rio fundo demais para vadear e perigoso demais para atravessar a nado.”
Os três atores pararam no meio do caminho, fingindo terem sido empatados por um rio.
“Os irmãos, porém, eram versados em magia, então simplesmente agitaram as mãos e fizeram aparecer uma ponte sobre as águas traiçoeiras.”
E então, do fundo do palco apareceu Raphaela, a garota mais tímida da Corvinal, vestindo um capuz longo e preto, que lhe cobria a face e todo o corpo. Fazia o papel de morte, o que combinava bastante, pois na maioria das vezes ela quase não falava. A menina impediu que os três garotos passassem.
— É uma grande honra conhecer... Err.. Bruxos, hã, Bruxos, tão poderosos. Cada um vai ganhar uma coisa por ter escapado de mim — disse a garota, fazendo a voz mais fantasmagórica que pôde, gaguejando um pouco, mas, no todo, atuando bem.
Mathew tomou a frente.
— Certo, er, como é mesmo... Ah sim...Certo, quero a MELHOR e MAIS PODEROSA varinha que existir, certo — a voz dele era exageradamente alta e estava gesticulando demais.
Rapha lhe deu um toco de madeira vagabundo. Mathew pegou o toco e levou consigo. Alvo estava nervoso. Era quase a sua vez de entrar. Suava demais com a capa preta de Hogwarts, então resolveu jogá-la no chão e afrouxou a gravata.
Agora era a vez de Escórpio. Mas quando o garoto preparou-se para andar, sem querer tropeçou na capa de Alvo. Ele caiu de uma forma impressionante, rebolando e findando no chão, nos pés da morte.
Mathew soltou uma gargalhada tremendamente escandalosa, bem como a platéia. Então Raphaela largou a capa de morte e foi socorrer o garoto.
— Meu deus, você está...
POW.
Escórpio levantou-se completamente irado e sem querer deu com a cabeça no nariz de Rapha. Mas ele nem ligou para socorrer a menina que segurava o nariz sangrando, enquanto dizia, chocada:
— Ele quebrou o meu nariz!
Para completar o pandemônio, Escórpio correu para dar uma surra em Alvo ali mesmo. Este se assustou e fugindo pelo palco, a gritar:
— ME DÁ A CAPA DA INVISIBILIDADE! ME DÁ AGORA!
Enquanto Escórpio o perseguia irado. A turma inteira riu com a última colocação e bateu palmas, enquanto as cortinas se fechavam. Até mesmo o professor riu alto com as palavras de Alvo, antes de ajudar Miziara a segurar um Escórpio que babava de ira, gritando:
— ... ME PAGA, POTTER! VOCÊ ME PAGA!
Após o primeiríssimo desastre da aula de Artes Bruxas, o professor Garfield resolveu organizar as demais equipes pessoalmente. Algumas apresentações foram bem engraçadas, como a de Beatriz (estressada com toda aquela frescura de teatro). Ela deu um soco em Walfran Archimenes porque ele tinha pisado no pé dela nos bastidores. O garoto apareceu como o bruxo do coração peludo e um olho roxo (o humor de Beatriz parecia muito melhor depois disso e ela voltou a costumeiramente fitar o nada, talvez em busca de seres extraterrestres e semelhantes).
Mas nenhuma apresentação arrancou mais gargalhadas do que a de Alvo pedindo a capa da invisibilidade para fugir de Escórpio. Obviamente o professor precisou ameaçar tirar pontos da Sonserina se o garoto não parasse de tentar assassinar o senhor Potter. Alvo estava realmente muito assustado e amuado.
No fim da aula, poucas pessoas assinaram seus nomes para participar da primeira apresentação, que seria no Dia das Bruxas: a peça “O Coração Peludo do Bruxo”. Da Corvinal, Raphael, Marcela, Rhana, e Raphaela (que fizera questão de voltar da Ala hospitalar, depois da enfermeira curar o nariz quebrado, para se inscrever). Os Sonserinos inscritos foram Juliana, Nelson, Karoena e Dorian. Escórpio e Isobel recusaram-se a participar.
No entanto, pegando o espirito da coisa de vigiar os sobrinhos da inimiga de seu pai, Alvo resolveu se inscrever também. Foi uma decisão muito difícil, mas o elogio do professor Garlfield contribuiu muito (“Você nasceu para brilhar como ator, meu caro Alvinho!”). Alvo duvidava muito disso, posto sua total inabilidade para mentir, atuar ou ficar em público... Mas o sacrifício era realmente necessário.
Eram por volta das seis horas da tarde quando Alvo cruzava a passarela de pedra, que ligava externamente os dois maiores prédios de Hogwarts. Ele estava tão distraído com seus pensamentos que só percebeu que Hagrid estava em sua frante quando deu um encontrão com ele e quicou para trás, ganhando o chão.
— Está distraído, Al? — perguntou o tio. — Não anda planejando alguma marotice, hem? — o gigante disse essa última frase juntando as sobrancelhas, numa clara face de repreensão.
— Não, eu só ia para a Biblioteca procurar a Rosa e a Domi... Você viu elas, Rúbeo?
— Não. Estive cuidando das corujas, sabe? Algumas andam realmente machucadas... Ah — de repente o gigante lembrou-se de algo, que, pelo que parecia, era animador — Lude voltou para o Corujal hoje de tarde. Eu não disse que ele estava bem?
— Que bom... — suspirou Alvo — Ele tinha alguma carta com ele?
— Por acaso tinha. — Rúbeo tirou uma carta deveras maltratada do colete de pele de lontra e entregou para Alvo.
O garoto agradeceu, mas não ia abrir ali. Pôs no bolso da calça, para ler mais tarde. Agora ele precisava encontrar as primas...
Alvo atravessou a porta de mogno do segundo prédio e subiu a escadaria larga do brasão, atravessando os corredores dos quadros, subindo até o quarto andar, correndo pelo corredor entapetado...
A biblioteca estava praticamente vazia, já que era sábado. Poucas pessoas faziam companhia ao bibliotecário, o velho mudo Hibram. Dentre elas: Mallone (obviamente dormindo em cima dos livros), Beatriz ao lado do garoto, com o seu livro grande e grosso intitulado “Magia e Gemas: os alicerces do mundo mágico”. Molly (a prima do quinto ano, com os cabelos cacheados ruivos) e Roxanne (pele morena e cabelos negros num rabo de cavalo) conversavam baixinho, até perceberem Alvo se aproximar.
— E aí, priminho! — exclamou Molly, a prima mais doce e carinhosa de toda a família. Roxanne disse o seu famoso:
— E aí?
— Estou procurando Rosa e Domi. Vocês viram elas?
— Elas estavam aqui ainda a pouco, Al. — explicou Molly — Procuraram por você, depois foram embora. Ficaram mais de três horas esperando.
— Sacanagem, né, Alvo? Se bem que, ouvi falar que você estava se desfazendo dos primos, que agora é um “Sonserino até o dedinho do pé” — Roxanne riu brincalhona.
— Foi a Victoire que disse isso para vocês, não foi? — disse um Alvo um tanto exaltado.
— Calma, priminho — disse Molly, tentando apaziguar o garoto — Roxanne estava brincando. Sabemos que você tem orgulho de ser um Weasley. — e ela sorriu.
— Mas eu sou Weasley — disse um Alvo irritado — e sou da Sonserina também! Quer queiram ou não!
O garoto saiu da biblioteca. Alvo já estava farto dessas ironias! Por que todo mundo implicava com ele? Por que ele não podia ser só mais um estudante normal? Por que as primas tinham que ficar falando toda hora em Sonserina?
Alvo desceu a escada em caracol que dava acessos às masmorras. Alvo descobriu que sabia exatamente para que lado deveria virar, quantas escadas de pedra rústica deveria descer, e, quando se deparou com o desenho da serpente em alto relevo, sabia qual a senha:
“Ecdise”.
A sala da Sonserina, em um sábado, depois das seis horas, estava muito movimentada. Ao que parecia, os Sonserinos encontravam no local uma espécie de petit comitê, onde poderiam conversar sem serem atrapalhados pelos seres inferiores das outras casas. O engraçado, pensava alvo, é que eles estavam justamente no subsolo.
“Mas nós vemos sereianos” uma voz de dentro de si disse.
Alvo Potter desceu as escadas de pisos de lajotas negras reluzentes.
O grupo do Quadribol estava próximo à lareira, naturalmente rodeando Deborah Waldorf, conversava animadamente. Lorcan ria de alguma coisa e, quando notou Alvo, disse de longe:
— Soube que você destruiu os Grifinórios hoje, Al!
O garoto deu um meio sorriso e tratou de continuar a andar entre os outros grupos.
Inclusive os grupinhos imperavam ali, mas eles falavam entre si. Como um arquipélago cheio de pontes que uniam inexplicavelmente todas as castas da casa da Serpente. Tabatha e Dorian, Escórpio e Isobel, O grupo dos primos Licaster... Todos no salão comunal, rindo, se divertindo... Mesmo estando dezenas de metros do nivel do lago, Alvo teve uma estranha sensação de segurança, coisa que nunca teve antes. Então lembrou-se do papel que tinha no bolso. Deveria lê-la agora.
Alvo subiu para os dormitórios dos alunos do primeiro ano. Estava praticamente vazio, a não ser por Endy, que dormia profundamente.
Alvo deitou-se na cama coberta por um tecido verde-nobre e tirou a carta. O remetente era seu pai. O garoto descascou o lacre vermelho e retirou o conteúdo da carta, lendo-o.
Querido Al,
Lude ficou aqui durante um tempo. Estava machucado, cuidei dele, agora estou o enviando de volta com alguns feitiços de proteção. Temo que alguém tenha tentado interceptar a sua carta e lê-la; o lacre integro nos diz que nossa conversa ainda é secreta.
Al, há pessoas que me querem mal e usarão muitas armas para tentar me incriminar, até mesmo as minhas conversas com o meu filho do meio. Use as corujas da escola, pois Lude é albino. Isso é raro, ele chama muita atenção.
Sobre ser da Sonserina, não peça desculpas nunca. O chapéu seletor sabe o que faz. Eu e sua mãe temos orgulho de você, não importa em qual casa de Hogwarts você tenha ficado. Sabemos que você é um menino bom e de caráter.
E isso também diz respeito à sua pergunta. Severo Snape foi um professor de Hogwarts, diretor da Sonserina e, por um tempo, foi Diretor. Em vida, nós nunca nos compreendemos, mas ele mostrou-se alguém muito mais fiel, inteligente e corajoso do que eu poderia imaginar. Ele espionou Lord Voldemort durante muito tempo e só conseguimos vencer Tom Riddle com a ajuda dele.
Quando você nasceu, pensei: “gostaria que o meu filho tivesse a metade da coragem que ele guardava.”, então resolvi colocar Severo no seu nome. Talvez o fato de você ter entrado para a Sonserina tenha sido o seu destino. Não fique mal com isso.
Severo nos ensinou uma lição: nunca julgue as pessoas pela aparência. Al, você deve se lembrar disso. Alvo Dumbledore, o outro diretor de Hogwarts, meu mentor e amigo, certa vez me disse que são as nossas escolhas que fazem o que nós somos. Suas escolhas, Al, não as aparências.
Tudo de bom,
Pai.
Quando o garoto terminou de ler a carta, sentiu algo estranho a crescer em seu peito. Alvo Severo Potter. O nome de dois heroicos e poderosos diretores da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. E um deles era Sonserino. Ninguém poderia tirar isso dele.
Alvo desceu para o salão comunal e se acomunou com os primos Licaster. Conversaram por muito tempo, depois resolveram jogar Dadinhos quentes. Era até divertido. Mathew era realmente muito bom, Alvo, nem tanto, mas ao menos conseguia ser melhor que Patrichio.
O tempo passou voando. As pessoas pouco a pouco foram deixando o salão comunal e foram subindo para seus quartos. Alvo ainda disputava pessoalmente com Nelson o xadrez de bruxo. Ele era tão bom quanto Rosa. Eram quase dez horas quando Escórpio apareceu ao lado de Alvo, dizendo:
— Vamos, Potter.
— Pra onde? — quis saber um Alvo desconfiado.
— A detenção. O professor Longbotton disse para a gente aguardar ele na porta da sala de Poções.
Era verdade. Ele tinha esquecido completamente...
Nelson começou a agarrar as peças do xadrez e guardar na caixa. Ele deu aquele sorriso automático para Alvo e disse:
— Você tava no papo! Outro dia a gente continua.
Alvo deu o meio sorriso, incapaz de se mostrar brincalhão diante a perspectiva de passar com Malfoy uma noite em um lugar fechado, depois de ter derrubado o garoto na frente de todo mundo, na aula de teatro. Temia pela sua vida.
Quando ambos garotos cruzaram os corredores à meia-luz dos archotes na masmorra. Os passos vazios ecoavam. O garotinho loiro era apático: como se nem tivesse ao seu lado ninguém. Isso deixava Alvo muito desconfortável. Até Isobel, que o odiava, falava com ele. Escórpio era uma criança gélida.
Foi por isso que Alvo se assustou quando o garoto de repente disse:
— Dobramos aqui, e estamos em Poções.
Alvo fez que sim, nervoso.
Eles chegaram na sala de poções e o Professor Longbotton estava ali, bochechas rosadas, com aquela toalha no ombro, luvas grossas e um robe verde.
— Al! — exclamou o professor, mexendo no cabelo cuinha do garoto. Ele notou Escórpio e deu um sorriso profissional — Senhor Malfoy.
O professor deixou ser seguido pelas masmorras. Neville falava bastante.
— Vocês se empurraram no lago, por isso estão aqui — disse, tentando parecer rígido. — É tão estranho — deu um sorriso infantil — vocês dois, justamente vocês dois...
“Sabe, os pais de vocês protagonizaram brigas épicas em Hogwarts. Eram opostos, rivais por completo. Agora os filhos deles também estreiam a primeira detenção do ano. Isso é hilário.”
Escórpio nem olhava o professor. Já Alvo parecia estar muito revoltado. Fora tudo culpa do Malfoy! Alvo era vítima, não um adversário épico!
Os três andaram um pouco mais, descendo muito mais as masmorras do que poderiam imaginar. As paredes eram compostas por rochas irregulares, entremeadas por barros negros. Haviam muitos morcegos, Alvo odiava aqueles bichos. Odiava aquele lugar frio, asqueroso, escuro e amedrontador...
De repente o professor parou em frente a um buraco na parede. Era um buraco largo o bastante para se passar os três com folga. Neville disse, apresentando, animado:
— Bem vindos à Estufa nº 8!
Nas paredes havia raízes perfurando o barro, e o chão era totalmente composto por terra batida e úmida. Talvez eles estivessem no mesmo nível do fundo do lago negro de Hogwarts. Isso causava uma sensação de claustrofobia à Alvo.
Quando eles atravessaram a parede, os garotos notaram que o lugar era bem mais amplo do que eles imaginavam.
Era um local alto, em forma de cúpula. Deveria ser do tamanho da torre de teatro. Era tudo iluminado por uma luz azulada e fantasmagórica, que vinha de flores pálidas no teto. As paredes eram raspadas, como se alguém tivesse perfurado aquilo para transformar num grande depósito de plantas. E era isso que era.
Vasos se espalhavam pelo local, mesas e armários encostados em uma parede na lateral, além de uma espécie de horta no quadrante do fundo. Mas não eram apenas plantas...
Cogumelos enormes, do tamanho de cadeiras, povoavam um canto da estufa. Seus chapéus eram multicoloridos, e moviam-se preguiçosamente, como que ebalados durante um sonho bom. Raízes negras tomavam uma vidraria que às isolava das outras plantas. Flores enormes, com os botões do tamanho de tampas de latas de lixo: eram roxas, azuis, vinhos, com pingos púrpuras esbranquiçados nas pétalas...
— Lindo, não é? — disse Neville, quando notou os olhos de Alvo perdidos na captação de todas aquelas plantas incríveis. — São espécies raríssimas, que crescem em condições especiais. Não gostam de sol, preferem a umidade e crescem muito bem isoladas de plantas comuns. — o professor falava como se estivesse se referindo a pessoas, como se as plantas fossem providas de preferencias e sentimentos.
“E tem mais: o especial mesmo nesse lugar é o solo. Estamos no nível do fundo do lago. Quase as mesmas propriedades minerais e mágicas influem nesse barro. Lembram que ensinei a enfeitiçar o solo com uma canção druídica? Esse solo já é naturalmente enfeitiçado, e é por uma magia poderosa que nem eu entendo muito bem! Espécies como Licastrum Regias, essas flores roxas grandes, crescem muito bem aqui, muito mais do que no norte da China, onde de ano em ano nascem duas ou três. Aqui eu tenho uma plantação de vinte! Entendem a maravilha que é esse lugar? Encontrei esse canto escavando as masmorras em busca de Visgos do Diabo Silvestres, que nascem nos solos de Hogwarts e acabei achando essa Câmara. A entrada era bloqueada por um deslizamento de rochas, mas depois de um árduo trabalho com Geómagos, consegui limpar tudo e deixar o solo intacto, perfeito para plantio!”
Neville buscou nos olhos de Alvo e Escórpio algum tipo de brilho. Mas ambos os garotos estavam piscando, morrendo de sono. O professor pareceu decepcionado e manteve-se menos animado daí em diante.
Quando eles chegaram no quadrante cheio de vasos, Neville parou e disse:
— Aqui que está o trabalho de vocês.
Alvo e Escórpio olharam para os vasos.
— Vamos plantar alguma coisa? — quis saber Escórpio.
— Exatamente.
Escórpio deu aquele olhar enigmático para o professor e em seguida sorriu para Alvo. Isso não estava cheirando bem...
Neville foi no canto dos armários e pegou três saquinhos cheios de sementes brancas, também catou três regadores grandes. Cada um ficou com um saco e um regador.
— Nós iremos plantar sementes de Chénmò shèngmǔ, conhecida como Planta Muta ou Seladora aqui no ocidente. São plantas chinesas com uma propriedade muito especial. Sabem as ceras vermelhas que nós usamos para selar as cartas? — os garotos balançaram consentiram com a cabeça e Neville sorriu animado — Elas são feitas de cera imbuída com a tinta das folhagens das Mutas.
“Um selo integro diz que uma carta não foi lida. Aí vocês perguntam “Professor Neville, alguém não poderia abrir a carta e reconstituir por magia?”. Não, não pode. Elas conseguem absorver magia e mudam de cor, para um róseo claro, na presença de feitiços. Além disso, se alguém tentar ler a carta com feitiços de vidência, sem abrir, aí que vem a coisa mais legal sobre essas plantas. Elas são capazes de fazer um tipo de campo imune aos feitiços de detecção, ou seja, elas fazem falhar qualquer magia que tentem penetrar o campo de atuação delas! Elas são muito úteis para guardar segredos e impedir que eles sejam revelados sem que saibamos da invasão.
“Seladoras demoram para crescer, odeiam a luz, devem ser regadas em horas específicas e devem ser mantidas em condições ótimas para crescerem bem, isso significa: frio e umidade. Elas têm uma alimentação muito peculiar. Devem ser regadas com sangue de Dragão na hora do plantio. Esse regador que vocês seguram tem sangue o suficiente para plantar todas elas. E é nisso que vocês irão me ajudar.”
— Professor — começou Escórpio, dando uma olhada em volta — são mais de cinquenta vasos.
— Justamente. Se eu fosse plantar só, iria levar o serviço até o amanhecer, e elas não devem ser plantadas nos horários da manhã. Agora, nós três, juntos, conseguimos fazer. É só enfiar três sementes profundamente na terra, depois fazer uma pocinha com o sangue de Dragão. Esperem a terra ficar rubra, se não ficar, coloquem um pouco mais e passem para o próximo vaso.
— E em qual dos vasos devemos colocá-las? — Escórpio quis saber, ainda com aquele olhar seco. Alvo olhou para os Vasos e percebeu o porquê da pergunta do garoto.
— AH! — exclamou Neville — ótimo você ter perguntado isso. Pelo amor de deus, não toquem nos vasos vermelhos. Lá tem mudas de Visgo-do-diabo. Apesar de serem jovenzinhas ainda, elas podem machucar bastante. Enterrem as sementes de Seladoras nos vasos amarelos. Vou repetir. Alvo e Malfoy, NÃO MEXAM NOS VASOS VERMELHOS. Certo?
— Certo.
— Sim — concordou Alvo.
— Agora coloquem as luvas de couro de dragão.
Alvo foi para o lado da parede da Estufa oito, enquanto Escórpio caminhava entre os espaços dos Vasos. Neville cobria o quadrante da frente.
O garoto enfiava três sementinhas brancas e fazia a poça com o sangue de dragão (tinha um cheiro argentino forte), esperando alguns segundos para ver a terra marrom ganhar o tom vermelho rubro. Ele procurava não olhar ao seu redor... Aquele lugar...
Aquele lugar era muito tenebroso. O ambiente era fracamente iluminado pela luz das orquídeas luminescentes que penduravam-se como trepadeiras no teto cheio de Estalactites. Uma pálida luz azulada que deixava muitas sobras em todo canto...
A Estufa Número Oito era, de fato, um Jardim nas masmorras. E um baita de um jardim. Era enorme, deveria ter a metade do tamanho do campo de Quadribol. Alvo demorou bastante para cobrir toda a lateral do quadrante posterior de vasos. Escórpio plantava em uma ordem zigue-zague que só ele podia entender. De vez em quando estava no fundo, próximo dos vasos vermelhos, em seguida voltava para o meio... e já estava plantando num vaso mais à esquerda, próximo a Alvo, para depois voltar à sua posição central, passeando entre os espaços dos Vasos.
O garoto estava já no fundo da caverna. Enfiava as sementes da terra e pensava um pouco na vida...
Será que Rosa e Dominique estavam realmente chateadas por Alvo deixa-las esperando por tanto tempo? Deviam ter ouvido as fofocas das primas Molly e Roxanne. Agora a fama de Alvo ter traído as primas, ao vencer delas, devia estar espalhada por todos os cantos. Será que seu pai descobriria isso?
Não, não. Seu pai, Harry Potter, entendia Alvo. Qual era o mal de passar um pouco de tempo com as pessoas da casa de Al? Ele era um Sonserino. No início, ficou meio mal por isso... Mas agora entendia perfeitamente. Alvo Severo Potter... As primas tinham que engolir isso, aceitar se realmente gostavam dele... Ele não tinha culpa se elas não haviam perguntado se a aula ia demorar um pouco mais. E Rosa mesmo tinha mandado ele se aproximar de Nelson e Juliana. Agora dava para trás?
O garoto pensava em tudo isso, enquanto se aproximava de uma área mais escura no fundo da caverna. Estava muito escuro, ficando difícil de ver os vasos... Então o garoto resolveu ascender a luz da varinha... Qual era mesmo o nome do feitiço...
— Lumus.
Alvo soltou um grito e caiu para trás, tentando se afastar daquilo o mais rápido possível.
— O QUE FOI, ALVO? — disse Neville, aproximando-se de Alvo e examinando seu braço, olhando ao redor.
Alvo de repente ficou vermlho. Não se mexia! Aquilo era só uma...
— Nada — disse o garoto — eu, eu me... assustei.
Neville então identificou a fonte do susto.
— Ah, você encontrou o monstro do jardim. — riu Neville, suspirando de alivio — Ele não se meche, está vendo?
Música Tema: A Estátua da Masmorra
Neville se aproximou de um humanoide de pedra, encostado numa escavação em forma de arco na parede rústica. Deveria ter, no mínimo, quatro metros de altura. Era largo, robusto, monstruoso, as feições grossas lembravam um ieti, símbolos estranhos no corpo, um círculo em forma de serpente na testa. Uma estátua medonha.... Mas apenas isso: uma estátua. O coração de Alvo batia disparado.
Mafoy riu de longe.
— Pare com isso, senhor Malfoy! — repreendeu Neville, ajudando Alvo a se levantar — Qualquer um que ascender uma luz por aqui e dar de cara com essa coisa tem o direito de se assustar.
Alvo continuou a enterrar as sementes, gora se sentindo ridículo e bobo. Ele tinha gritado por causa de uma estátua! Malfoy tinha todo o direito de rir. Aliás, ele estava fazendo isso. Dava para ver de longe a boca do menino comprimindo o riso.
O garoto já tinha coberto uma grande parte dos vasos amarelos. Agora, no quadrante do fundo, aproximava-se dos vasos vermelhos. Estava no limite entre as duas fileiras: uma de vasos amarelos e a outra com os vermelhos. O garoto deu uma espiadinha nos proibidos. Pareciam normais. Só terra. Nada diferente dos vasos amarelos.
Então Alvo enfiou a mão com vontade num vaso amarelo, colocando a semente pálida de seladora. Quando ia tirar a mão, notou algo estranho.
Sua mão não queria sair da terra.
O garoto forçou, forçou, forçou mais ainda, mas a mão estava presa na terra. Olhou para o vaso: era amarelo. Quando a mão começou a ser apertada, pensou em gritar por Neville...
Não. Aí que Escórpio ia rir mais.
O garoto manteve o pé bem firme no chão e começou a puxar com vontade a mão presa. Mas ela não saia!
Alvo olhou para trás e notou que Escórpio agora se aproximava.
— Algum problema? — perguntou, com uma cara inocente.
— Tem alguma coisa prendendo-a-minha-mão!
— Será que você não enfiou o braço num vaso com muda de Vigo-do-diabo? — perguntou um Escórpio divertidamente curioso com aquela perspectiva. — se for, é só parar de se mexer e iluminar a coisa.
— Não! Esse-vaso — Alvo tentou puxar a mão, mas nada — é amarelo!
— Hm. Se quiser, eu chamo o professor, quem sabe ele não conhece um feitiço para quem borrou as calças?
— Não — disse Alvo, tentando puxar ridiculamente — eu me viro!
— Certo. — e Escórpio virou-se e foi para o centro do quadrante, continuando a plantar, com aquele sorriso no rosto.
Alvo tentou chutar o vaso para ele virar, mas não saiu do lugar. Começou a tentar cavar com a outra mão, para tirar a areia pesada de cima. Alguma coisa agarrou a sua outra mão com muita força, fazendo uma espécie de algema poderosa. O aperto foi mais forte ainda.
A coisa subia em seu braço agora. Era uma espécie de raiz em chicote, se expandindo pelo braço até o antebraço. Num aperto esmagador, alcançou o pescoço do garoto.
E deu um laço na garganta de Alvo. “Socorro” mudamente disse, mas o som não saia. Estava sufocando. A garganta ia ser esmagada pela planta. Ele olhou novamente para o vaso:
ESTAVA VERMELHO!
Neville estava distraído, plantando do outro lado do jardim...
De repente Escórpio apareceu ao lado de Alvo e disse:
— Para de se mexer!
Mas Alvo continuava a se debater silenciosamente.
— Vou ter que te desacordar? PARA DE SE MEXER, seu imbecil.
Alvo não ia seguir aquele conselho ilógico. O garoto queria que ele morresse!
— Tudo bem. Eu jogo a luz e você tenta ficar parado. — Escórpio enfiou a varinha na areia e exclamou: — Lumus maxima!
Uma luz forte aparece escapou da terra em frestas. Alvo sentiu a raiz estranha enfraquecer. Agora puxou com mais vontade ainda! O aperto era fraco, mas ela não largava!
— Ela não gosta nem de luz ou calor. Só com luz não vai largar o seu braço. Agora, ou você para de se mexer, ou eu vou ter que tocar fogo no seu braço.
Alvo nem pensou: tentou o máximo possível ficar paralisado.
O mais incrível é que funcionou!
A raiz começou a afrouxar, afrouxa, se afastar da luz de Escórpio... Então Alvo conseguiu tirar a mão lentamente da terra e cair no chão, ofegante.
— Isso... Era... Visgo... Do... Diabo... — concluiu o garoto, examinando o braço: as mangas rasgadas. Palpou o pescoço: tinha grossos calombos quentes, causados pelo aperto da planta.
— Era mesmo — sorriu Escórpio.
— Mas... O vaso... Era amarelo, eu não entendo.
— Quer que eu chame o professor? Borrou as calças?
— Não. — disse um Alvo categórico.
— Ótimo. — então o garoto se agachou, cara a cara com Alvo — Você mereceu esse sustinho.
Alvo fitou um Malfoy que sorria convencido.
— Você fez isso? Como fez isso?
— Feitiço de transfiguração. Eu aprendi com o Ravus. Já você... Aposto que nunca conseguiu fazer em sala de aula.
Alvo o encarou incrédulo.
— Queria me... matar?
— Claro que não! — exclamou Escórpio. — a muda não teria força pra te sufocar até a morte. No máximo ia te desmaiar. Mas se isso acontecesse, eu ia ter que ficar plantando no seu lugar. Uns arranhões no pescoço já bastam. — Escórpio ofereceu a mão para Alvo se levantar.
— Por que você fez isso? — quis saber Alvo, recusando a mão e levantando-se debilmente.
— Você me fez cair na aula de teatro, na frente de todo mundo.
— Foi sem querer!
— Me fez cair no lago...
— Você me EMPURROU! — Alvo estava muitíssimo indignado.
— Mereceu. Seu irmão jogou um feitiço para inchar lábios! Tive que pedir ajuda ao maquinista.
— Mas foi o Tiago! Que culpa eu tenho nisso?
— Ele fez isso para te defender, só por que eu falei em voz alta umas verdades.
— Do que você está falando? — Alvo olhou para o loiro com uma expressão desconfiada. — o que você disse?
— Que você era um mediocrezinho que vive usando o nome do “Potter” para pagar de “bonzão”.
— Eu não faço isso! — exclamou Alvo, tentando limpar a terra que tinha invadido por baixo das mangas.
— Claro que faz! E o pior é que nem admite! Potter, não sabe o quanto eu detesto pessoas que ganham as coisas facilmente e nem se esforçam para isso. Meu pai teve que lutar muito para se tornar Curandeiro. Agora o seu nem terminou o sétimo ano e já virou auror. E uns anos depois já era chefe de todo mundo!
— Você tem inveja de mim e da minha família! — cuspiu Alvo. — Os Potter-Weasley são talentosos!
— Coisa que você não é! E ainda por cima todo mundo fica puxando o teu saco! Isso é ridículo! Sendo que você só está falando com o Nelson por que ele é sobrinho da Integra Waldorf!
Alvo gelou. Como ele poderia saber disso?
— Eu n-não sei do que você está...
— Ah, vai catar coquinho, seu moleque falso e mentiroso! Se você é mau-caráter, pelo menos mostra isso! Não fica pagando de “bonzinho” e “coitadinho”. Ninguém tem dúvida que eu não vou com a sua cara. Agora você é amigo justamente das pessoas que mais odeia!
— Eu não odeio o Nelson e a Juliana! — ponderou Alvo.
— Claro que sim! Só fica com eles por que eles puxam teu saco. Mas odeia sim. Pelo menos fala a verdade uma vez na vida. É um moleque interesseiro e mentiroso!
— E você, que fica me ferrando toda hora? Você faz isso por que é mau!
— Não entendeu nada mesmo... — Escórpio botou a mão na cabeça.
— Só fica longe de mim e me deixa em paz! Acho que na sua cabeça, estamos quites!
— Não estamos não — o menino deu uma risadinha.
— Garotos! — Neville disse de longe — vamos trabalhar, vamos logo que está quase acabando! Aí então poderei falar pra vocês sobre essa flor roxa gigante que eu achei nas florestas da Jamaica...
Escórpio e Alvo terminaram a detenção por volta da uma hora da madrugada. Ambos foram deixados na porta da sala de Poções e de lá os garotos seguiram ao salão comunal da Sonserina. Vazio, silencioso... Escórpio subiu ao dormitório sem nada dizer, mas Alvo ainda ficou sentado em uma das poltronas. Conde Capis dormia tranquilamente, próximo a lareira.
Olhava distraidamente para o fundo do lago, pela janela subaquática... As ondas de algas esverdeadas indo e vindo... Um Grindlow caçando um peixe...
E a murta saindo de um cano e atravessando a parede do salão comunal.
— Está triste? Por que você está triste?
— Não estou triste — respondeu Alvo, fungando.
— Então por que essa cara de cachorro abandonado?
— Murta, você acha que eu sou falso?
— Você finge ser uma coisa que não é?
— Acho que não...
— Então não é falso — a menina deu um sorriso meio biruta, balançando as marias-chiquinhas. Alvo ficou pensativo.
— Mas as vezes eu acho que as pessoas querem que eu seja falso. — disse de repente. — Querem que eu seja amigo de muita gente que se odeia.
— Diz que você não quer, oras. — a murta examinava as unhas.
— Imagina como é viver com todo mundo esperando muitas coisas de você... E você tem que escolher lados, ao mesmo tempo sem sair definitivamente de um... Imagina como é viver assim...
A murta respirou fundo e soltou um berro ensurdecedor. E continuou com um choro estridente.
— PARA MURTA, PARA! — Alvo cobria as orelhas.
— Claro que eu não sei como é viver. CLARO QUE EU NÃO SEI COMO É VIVER. EU MORRI!
— Eu, eu... eu não quis...
Mas o fantasma deu mais um berro incrível e atravessou a parede. Seu choro ainda podiam ser ouvidos no entalar de uma tubulação submersa no lago...
— Dá pra ir dormir? — Escórpio disse do patamar dos quartos. E voltou para o seu quarto.
Seu pai, Integra Waldorf, Severo Snape, o ladrão, os amigos verdadeiros, os inimigos silenciosos, falsidade, Destino... É. Quem sabe uma boa noite de sono... Taria alguma resposta.
Música Tema: O verdadeiro Amigo
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