Act Naturally



(he is) the biggest fool that ever hit the big time
And all I gotta do is act naturally


Rose estava analisando seus horários para o ano letivo, à mesa da Grifinória, no Salão Principal, quando foi interrompida por um sussurrado próximo ao seu ouvido.


-- Achei que você não iria mais voltar pra mim...


-- Lorcan! Merlin, queria me matar de saudades, é? Por que você não veio no Expresso Hogwarts, com a gente?


Rose se pendurou no pescoço do melhor amigo. Eram tecnicamente primos, pois ele e seu irmão gêmeo Lysander são filhos de sua "tia" Luna Scamander. Os garotos também estão no 7º ano, mas são da Corvinal. Lorcan também pretende ser medibruxo, o que significa que cursam juntos todas as matérias, desde sempre.


Rose e Lorcan sempre tiveram muitas afinidades, mesmo antes de vir para Hogwarts. As excentricidades do garoto sempre a fascinaram, e ela adorava tentar acompanhar a mente aguda e fora do comum do amigo. Ambos sempre se encantaram com o saber, e um completava o outro, de certa forma.


Quando entraram na escola, Lorcan sofreu. Demorou um pouco para que ele percebesse que o seu jeito não era compreendido e muito menos aprovado por todos. Garotos de séries mais avançadas implicavam com ele pelos corredores, e Lysander, acabava "sofrendo as consequências" pelo irmão, por serem idênticos.


Lorcan resolveu ficar na sua, dedicando-se exclusivamente aos estudos, sublimando a sua personalidade dentro da escola. Suas únicas amigas eram Rose e Lily, também as únicas para quem ele havia contado que era gay.


As garotas tentavam convencê-lo de que se resguardar desta forma talvez o fizesse perder experiências boas. Ele respondia que também o poupava de viver experiências ruins e que preferia aproveitar o momento para estudar, e que o mundo não pararia de girar enquanto ele trocava este pneu.


Lorcan explicou que a mãe havia se desorganizado com a volta para a Grã-Bretanha, e que tinham ido direto para Hosmead, aquela manhã. Rose o puxou para se sentar ao lado dela, na mesa da Grifinória, genuinamente feliz por ter seu amigo de volta.


-- E como foram as férias na Grécia?


-- Ruiva, você precisa conhecer! Que lugar lindo! As pessoas são muito solícitas, as festas são muito animadas... -- ele incluiu, com um sorriso cheio de significados, mas que ela sabia que não poderia pedir detalhes naquele momento. -- E como foram as suas férias?


-- N‘A Toca, como sempre... Mas desta vez, Dominique veio passar o verão conosco!


-- E ela e o Al finalmente ficaram?


-- Lorcan! Você estava com uma câmera escondida na casa da minha avó?


-- Ah, Rosie, tudo isso é meio óbvio, assim como o ciúme de uma certa pessoa sempre que nós conversamos!


-- Lá vem você com essa teoria maluca!


-- Rose, não é teoria! Agora mesmo, se você olhar, Malfoy está construindo mentalmente um bonequinho vudu com a minha cara e espetando com agulhas quentes! -- afirmou, sem precisar se virar para a mesa da Sonserina.


Rose respondeu que o que o amigo dizia era uma grande bobagem, mas ela não resistiu e olhou na direção do loiro. Pela primeira vez desde que haviam chegado, ela o flagrou olhando para si.


-- Eu não disse? -- ele nem precisava que ela confirmasse, seu rosto ruborizado já havia dito tudo. -- Como ele se comportou nas férias?


Se possível, ela ficou ainda mais vermelha. Lorcan riu, ajudou-a a pegar as suas coisas e foram juntos para a sua classe de NIEM em Herbologia. Havia muito papo para colocar em dia.


* * * * * * * * *


-- Neville, que honra ter a sua visita! -- cumprimentou efusiva e pomposamente o Professor de Defesa Contra Artes das Trevas. O professor de Herbologia havia acompanhado os alunos até próxima classe.


-- Trouxe estes alunos para a sua aula, Justino. Diante da oportunidade incrível que este Torneio Tribruxo será, pensei que podíamos aproveitar o momento para contar aos alunos como foi o Torneio na época em que estudávamos aqui...


-- Excelente ideia! -- respondeu e pediu para que os alunos se sentassem. -- Como é do conhecimento de vocês, Professor Longbottom e eu fomos colegas de turma aqui em Hogwarts. No nosso quarto ano, ocorreu uma edição do Torneio Tribruxo, que foi marcada por acontecimentos bastante peculiares, se posso dizer assim.


-- A primeira peculiaridade foi o fato de que Hogwarts contou com dois campeões: Cedrico Diggory, da Lufa-Lufa, e seu pai, Albus, Harry Potter, da Grifinória, que foi inscrito criminosamente, aos 14 anos. -- completou o professor de Herbologia. -- Como vocês sabem, a inscrição no Torneio é um ato contratual mágico que não pode ser revogado, isto é, uma vez inscrito, o campeão não podia desistir de participar do Torneio. As provas todas aconteceram em Hogwarts, feitas para testar o arrojo dos concorrentes frente às mais diversas situações.


-- Os campeões tiveram que enfrentar dragões, mergulhar no lago para resgatar pessoas dos sereianos e, ao final, vivenciaram a prova mais tradicional do Torneio, o Labirinto. -- continuou Justino. -- Foi nesta prova que os campeões de Hogwarts decidiram levantar a taça juntos, pela escola, mas foram levados por uma chave de portal.


-- Nunca pudemos precisar quanto tempo esperamos naquela arena. Após muitos minutos, Harry e Cedrico voltaram, claramente machucados. Foi com terror que percebemos que o campeão da Lufa-Lufa estava morto. Naquela noite, Voldemort havia retornado à forma humana. -- finalizou Neville.


Os alunos se entreolharam um pouco assustados. Estudaram a última grande guerra bruxa, mas não haviam associado o Torneio Tribruxo a ela.


-- Foi preciso uma negociação muito bem amarrada para que as escolas cogitassem reeditar o Torneio. -- explicou o professor de DCAT. -- Hoje, quase 30 anos após a última edição, podemos ter uma nova chance de estreitar os nossos laços com as maiores escolas de bruxaria da Europa. Também visando a participação mais efetiva de todos, muito acertadamente decidiu-se que ocorrerá uma prova em cada escola! No último Torneio, foram muitas as reclamações das comitivas, pois diziam que as provas tinham sido pensadas para privilegiar os campeões da escola sede.


-- Foi por conta das mudanças na dinâmica do Torneio, que fiz questão de vir até aqui conversar com vocês: acho que os campeões de Hogwarts terão uma experiência única em poder não apenas disputar as provas em Beauxbatons e em Durmstrang, mas também terão a oportunidade de fazer um intercâmbio interessantíssimo, que poderá marcar as suas vidas para sempre. Sem contar com os 1500 galeões de prémio. -- afirmou Neville. -- Sem nenhum receio de ofender aos que não estão nesta turma, tenho certeza de que os representantes de Hogwarts estão sentados nesta sala. Pensem bem no que esta oportunidade representa, e decidam-se.


O burburinho se instaurou na sala, enquanto alguns alunos se entreolharam, medindo-se como eventuais competidores. Scorpius encarou Rose, curioso, mas ela cortou o contato visual.


* * * * * * * * *


O primeiro mês de aula durou no mínimo uns 200 dias, pelo menos era como Rose sentia. O nível das aulas no sétimo ano havia atingido um patamar que até ela tinha dificuldade de acompanhar. Os semblantes de cansaço dos setimanistas pareciam de final de ano letivo, e eles tentavam apenas sobreviver até junho.


Rose conversou com a Diretora e abriu mão da chefia de monitoria. Ela não tinha condições de assumir obrigações além de estudar. Mas o esforço para se dedicar exclusivamente aos estudos começou a render frutos. A garota foi a única que conseguiu transfigurar uma aranha em um gato na classe, sob o olhar de inveja de alguns colegas, que, no máximo, tinham feito brotar um rabo nas suas aranhas.


Mas nenhuma evolução foi tão perceptível quanto nas aulas de Defesa Contra Artes das Trevas. Rose conseguiu conjurar um patrono corpóreo, para espanto da turma, enquanto Scorpius e Albus, as habituais estrelas da matéria, apenas produziram fiapos enevoados e pouco consistentes.


Professor Fintch-Fletchey se derramou em elogios à dedicação da aluna durante o restante da aula, e foi a única a não receber exercícios extra.


-- Rose, será que você poderia me dar umas aulas extras de DCAT? -- Al brincou com a prima, também impressionado com a evolução dela.


-- Deixa pra lá, Al! Rose é competitiva demais para querer te ensinar os segredos dela! -- Scorpius falou, se aproximando do amigo.


-- Desde quando esforço e dedicação precisam ser motivados por competição? -- Rose argumentou, na defensiva.


-- Todo mundo sabe que você odeia perder, Weasley... E que nunca te desceu não ser a melhor em alguma coisa...


-- Se eu fosse, de fato, esta pessoa, por que eu esperaria tanto tempo para, como insinuado, "ganhar de você"?


-- Uma reviravolta no final do jogo sempre torna a vitória ainda mais bonita... -- alfinetou. -- Não precisava de tudo isso pra ganhar de mim, se você tivesse pedido, eu teria te deixado brilhar nessa aula também...


Rose não acreditava no que estava ouvindo. A muito custo conseguiu reprimir o riso que vinha do absurdo do que Malfoy havia lhe dito, sob os olhares atentos de Lorcan e Albus, as testemunhas que sobraram neste embate.


-- Acho que te devo desculpas, Scorpius! -- disse, segurando o o braço do loiro, que quase quebrou o pescoço para encará-la, espantado. -- Desculpa por ter que te dizer isso, mas o mundo não gira ao seu redor. -- virou-se e deixou os três garotos embasbacados.


* * * * * * * * *


-- Que babaca! Ai, que ódio! E que audácia da parte dele achar que eu estou estudando DCAT para "ganhar dele"! BABACA! -- resmungou alto o suficiente para assustar um primeiranista da Lufa-Lufa que passava perto da mesa da biblioteca onde Rose e Lorcan estavam revisando seus apontamentos, antes de seguirem para o almoço.


-- Rose, você precisa se acalmar! -- sussurrou Lorcan, assustado com o olhar severo que haviam recebido de Madame Pince. A garota tentou se recompor, pedindo silenciosas desculpas à bibliotecária. -- Se eu não te conhecesse, imaginaria que Malfoy tem alguma razão na acusação que ele te fez!


-- Você não se atreva a ficar do lado dele! -- sibilou, a raiva voltando.


-- Eu não estou do lado dele! -- se defendeu, levantando os braços, em sinal de rendição. -- Mas meu avô costumava dizer que "só a verdade ofende"... Não tem nada a mais nessa história, ruiva?


-- Ótimo! Vá para o fã clube do Malfoy você também! -- irritou-se, fechando um compêndio de Ervas Mágicas com força. Juntou as suas coisas e saiu da biblioteca num raio, deixando o amigo pasmo, pela segunda vez naquele dia.


Malfoy, que estava atrás de uma estante, observando a cena, acompanhou com o olhar a ruiva sair intempestivamente da biblioteca e reprimiu a vontade de dar um tapa com força na cabeça de Lorcan Scamander, que estava sentado olhando idiotamente para a direção em que Rose tinha seguido. Revirou os olhos com impaciência e resolveu aproveitar a rara oportunidade de falar com o garoto a sós.


-- Hoje ela está um pouco mais louca que o normal... Será que está com TPM? -- Malfoy comentou, em tom pretensamente casual, enquanto se sentava em frente ao mais uma vez boquiaberto Lorcan.


Os dois se mediram com o olhar. Não havia assunto entre eles, e o desprezo de Malfoy por Lorcan era claro, o que deixava o amigo de Rose familiar e naturalmente arredio.


-- A Weasley vai se inscrever para o Torneio Tribruxo? -- perguntou diretamente.


-- Eu não faço a menor ideia. -- Lorcan respondeu sinceramente, espantado com o assunto. Malfoy arqueou as sobrancelhas em descrença e bufou, impaciente.


-- Eu acho que você deveria cuidar um pouco melhor dela e tentar tirar da cabeça daquela teimosa de se expor desnecessariamente. Mesmo com toda a proteção das escolas, ainda é algo muito perigoso. Como namorado dela, é o mínimo que você deveria fazer!


* * * * * * * * *


Rose estava empertigada em frente à sala de Transfiguração, primeira aula da tarde, aguardando a porta ser aberta, ainda irritada com as discussões que ocorreram pela manhã. Os alunos começaram a chegar, e ela tentava ignorar a presença de Malfoy e de Lorcan.


-- Ei! -- Lorcan chamou, perto dela. -- Vamos ficar assim, brigados?


Rose o ignorou. Lorcan pegou um cacho do cabelo dela e começou a passar pelo rosto da ruiva, fazendo cócegas. Ela lutava para manter o rosto carrancudo, mas era muito difícil ficar com raiva de Lorcan.


Ele a abraçou possessivamente e sussurrou ao seu ouvido: "Adivinha quem veio falar comigo enquanto eu estava na biblioteca e que está me olhando agora como se quisesse me matar!"


Rose fez cara de paisagem durante o restante das aulas, mas mal se aguentava de curiosidade para saber o que Malfoy poderia ter conversado com Lorcan.


Após as aulas, Rose e Lorcan foram para a área externa do castelo, ansiosos para pegar um pouco de sol, depois de um dia particularmente pesado, enfurnados em aulas complexas.


-- Ruiva, seu admirador é um cara muito estranho...


-- Lorcan, você vai continuar com isso? Acho que a discussão que tivemos mais cedo prova que isso não existe!


-- Correção: essa discussão prova que existe uma tensão inegável entre vocês, que eu estou começando a achar que é recíproca, por conta da sua reação!


-- Poupe-me dos seus devaneios românticos! Não há nada entre nós, NADA! A pessoa que ele mostrou ser na última noite das férias claramente não existe! E eu não suporto esta persona arrogante e sarcástica que ele assume na escola! Agora você pode me fazer o favor de me contar o que o nojento do Malfoy, que NUNCA trocou duas palavras com você, te disse hoje cedo?


O amigo contou o que havia acontecido na biblioteca após a saída dela e Rose o encarava durante o relato, incrédula.


-- Péra! Ele acha que você é meu namorado e ainda quer se meter na minha vida? Esse garoto se droga?


-- Posso dizer sinceramente o que eu acho, sem correr o risco de ser azarado por você e nunca mais me recuperar? -- Rose deu de ombros, incentivando Lorcan a falar. – Concordo que a personalidade dele aqui é ultra sarcástica e cínica, mas talvez isso seja uma forma de defesa... Além disso, tá na cara que ele sente algo por você e que ele não consegue lidar, muito menos falar com você sobre isso.


-- Lorcan, pelo amor de Merlin!


-- Rose, ele estava genuinamente preocupado com você e --


-- Malfoy só se preocupa com ele mesmo! É provável que ache que, se eu me inscrever, talvez não sobre uma das outras vagas de Campeão para ele...


Lorcan rolou os olhos e bufou, em desistência.


-- Não vou discutir com você, ruiva... Já deixei muito claro o que eu acho, você não --


-- E eu já ouvi a sua opinião, Lorcan. -- cortou a amiga. -- Agora respeite o fato de eu não concordar com ela, tampouco querer esticar este assunto.


* * * * * * * * *


Outubro milagrosamente chegou até o final, e a escola estava em polvorosa, com a perspectiva do que ocorreria naquela noite, véspera de halloween, onde seriam abertas as inscrições para os Campeões de Hogwarts.


Diretora McGonagall se levantou meio ao burburinho que beirava um tumulto, durante o jantar. Pediu alguns minutos da atenção dos alunos e solicitou ao Prof. Longbottom que trouxesse uma arca de madeira, incrustada de pedras preciosas.


-- Como acredito que todos devam se lembrar, amanhã à noite serão escolhidos os Campeões que representarão Hogwarts nesta edição do Torneio. Informo que haverá três tarefas, espaçadas durante o ano letivo, que servirão para testar os Campeões de diferentes maneiras... Sua perícia em magia, sua coragem, seus poderes de dedução e, naturalmente, sua capacidade de enfrentar o perigo. -- a esta última palavra da Diretora, o salão mergulhou num silêncio tão absoluto que ninguém parecia estar respirando. -- Cada escola receberá notas por seu desempenho em cada uma das tarefas do torneio e, aquela que tiver obtido o maior resultado no final da terceira tarefa, ganhará a Taça Tribruxo. Os campeões serão escolhidos por um juiz imparcial: o Cálice de Fogo.


McGonagall puxou então sua varinha e deu três pancadas leves na tampa do escrínio. A tampa se abriu lentamente com um rangido. A bruxa enfiou a mão nele e tirou um grande cálice de madeira toscamente talhado. Teria sido considerado totalmente comum, se não estivesse cheio até a borda com chamas branco-azuladas, que davam a impressão de dançar. A diretora fechou o escrínio e pousou cuidadosamente o cálice sobre a tampa, onde seria visível a todos no salão.


-- Quem quiser se candidatar a campeão deve escrever seu nome claramente em um pedaço de pergaminho e depositá-lo no Cálice. -- disse McGonagall -- Os candidatos terão vinte e quatro horas para apresentar seus nomes. Amanhã à noite, Festa das Bruxas, o Cálice devolverá o nome dos três que ele julgou mais dignos de representar Hogwarts. O cálice será colocado no saguão de entrada hoje à noite, onde estará perfeitamente acessível a todos que queiram competir.


As confabulações voltaram a ser audíveis enquanto os alunos começavam a sair do Salão. Todos pareciam ter uma aposta sobre os que seriam escolhidos no banquete que ocorreria na noite seguinte.


Rose ria, ouvindo as reiteradas reclamações de Lily e Hugo, que queriam ter a chance de competir, enquanto se encaminhavam para os corredores. Vinha tão distraída que não percebeu que Malfoy estava no corredor, sozinho.


-- Posso falar com você, Weasley?


Como ela não negou, ele a conduziu na direção contrária para onde os alunos se encaminhava, de volta ao Salão Principal.


-- O que você quer falar comigo, Malfoy?


-- Eu não sei o que o seu namorado falou com você sobre isso... -- começou a falar, constrangido. Ela cruzou os braços, encarando-o em silêncio. -- Você vai se inscrever no Torneio?


-- Isso não é da sua conta! E se era só isso o que você tinha para me dizer, com licença. -- virou-se para sair.


-- Rose, é sério. -- ele a segurou, virando-a de frente para ele. -- É muito perigoso, por favor, não se inscreva! Você pode se machucar, eu --


Rose se desvencilhou da mão dele no seu braço, virou-se em direção ao saguão de entrada, com Malfoy em seus calcanhares. Tirou um pedaço de pergaminho do bolso, escreveu seu nome com fúria e o depositou no Cálice de Fogo.


-- Vamos deixar que o juiz decida se eu tenho condições de participar do Torneio ou não! Agora me deixe em paz!


* * * * * * * * *


Hogwarts acordou particularmente bonita, naquele dia das bruxas. A escola formigava de excitação: alunos faziam apostas entre as aulas, alguns tentaram se inscrever no Cálice de Fogo sem cumprir os requisitos e estavam na ala hospitalar, Hagrid trazia, orgulhoso, suas imensas abóboras para o Salão Principal, e todos foram liberados um turno mais cedo, para se prepararem para o banquete de Halloween.


Alguns alunos do primeiro ano não conseguiam parar de olhar para a decoração, desde que entraram no Salão Principal. Boquiabertos, era seu primeiro Halloween em Hogwarts, e seria, definitivamente, inesquecível. As gigantescas abóboras estavam recortadas e penduradas por quase todo o teto, brilhando fantasmagoricamente com velas acesas em seu interior.


-- Ei, ali não são o tio Percy e o tio Harry? -- Perguntou Hugo a Rose e Lily, após se sentarem à mesa da Grifinória.


Diretora McGonagall cessou todas as conversas ao se levantar. Deu boa noite aos alunos e boas-vindas aos representantes do Ministério da Magia convidados para aquela noite, em nome da escola: Olívio Wood, Chefe do Departamento de Jogos e Esportes Mágicos, Percy Weasley, Chefe do Departamento de Cooperação Internacional de Magia, e Harry Potter, Chefe do Departamento de Aurores e Campeão do Torneio Tribruxo, e pediu que fosse iniciado o banquete.


Rose sentiu o seu estômago revirar, de ansiedade. Havia se inscrito no Torneio por um impulso, e agora tinha receio de ser chamada. Não que não se achasse capaz de representar a escola, mas porque o desconhecido a deixava alerta e ansiosa.


As pessoas no salão, a julgar pelas constantes espichadas de pescoços, as expressões impacientes nos rostos, ocasionalmente se levantavam para ver se a Diretora já acabara de comer. Rose já estava num estado de nervos tal que simplesmente queria que os pratos fossem retirados e os nomes dos campeões anunciados.


Depois de muito tempo, os pratos voltaram ao estado de limpeza inicial; houve um aumento acentuado no volume dos ruídos no Salão, que caiu quase instantaneamente quando McGonagall se ergueu e pediu que os representantes do Ministério da Magia tomassem a palavra.


Percy Weasley informou, no seu jeito pomposo, que, naquele mesmo dia, havia sido sorteada a ordem onde aconteceriam as tarefas: a primeira ocorrerá em Durmstrang, a segunda em Beauxbatons e a última em Hogwarts.


Olívio Wood ressaltou que os Departamentos de Esportes Mágicos dos países envolvidos estavam empenhados em fazer com que essa edição fosse um sucesso, para que os Torneios pudessem voltar a ser realizados em sua periodicidade original, de 5 em 5 anos.


Quando Harry Potter se levantou para falar, o Salão ficou em quase absoluto silêncio, cortado apenas pelo ocasional crepitar do Cálice de Fogo.


-- É uma honra para mim voltar à Hogwarts, especialmente por um motivo tão instigante como uma nova edição do Torneio Tribruxo. Fui um dos Campeões de Hogwarts no último Torneio realizado, há quase 30 anos -- Merlin, como estou ficando velho! -- as risadas ecoaram, especialmente pela expressão de Harry, de genuíno assombro. -- Como Chefe do Departamento de Aurores, vim lhes garantir que estamos nos empenhando para promover a segurança dos Campeões, o que não significa que as provas que ocorrerão não serão perigosas... Como ex aluno de Hogwarts, espero que vocês todos aproveitem este intercâmbio da melhor maneira, pois é uma experiência única e, como eu acabei de constatar, o tempo passa bem depressa... Aproveitem a escola, as oportunidades, a vida!


Harry ergueu o seu cálice para um brinde, correndo o olhar pelas mesas e sorrindo para seus próprios filhos e sobrinhos.


-- Bom, o Cálice de Fogo está quase pronto para decidir. -- disse McGonagall, após o brinde. -- Estimo que só precise de mais um minuto. Agora, quando os nomes dos Campeões forem chamados, eu pediria que eles viessem até este lado do salão, passassem diante da mesa dos professores e entrassem na câmara ao lado -- ela indicou a porta atrás da mesa --, onde receberão as primeiras instruções.


Ela puxou, então, a varinha e fez um gesto amplo; na mesma hora todas as velas, exceto as que estavam dentro das abóboras recortadas, se apagaram, mergulhando o salão na penumbra. O Cálice de Fogo agora brilhava com mais intensidade do que qualquer outra coisa ali, a brancura azulada das chamas que faiscavam vivamente quase fazia os olhos doerem.


As chamas dentro do Cálice de repente tornaram a se avermelhar. Começaram a soltar faíscas. No momento seguinte, uma língua de fogo se ergueu no ar, e expeliu um pedaço de pergaminho chamuscado -- o salão inteiro prendeu a respiração. McGonagall apanhou o pergaminho e segurou-o à distância do braço, de modo a poder lê-lo à luz das chamas, que voltaram a ficar branco-azuladas.


-- O primeiro Campeão de Hogwarts é da Sonserina: Albus Severus Potter!


A mesa da Sonserina estourou em aplausos, enquanto Al se levantava, atordoado, mas sorridente. Rose olhava para Harry, divertindo-se com o sorriso de orgulho que o tio tentava esconder, afinal, não poderia demonstrar torcida.


Al passou diante da mesa dos professores e desapareceu pela porta que levava à câmara vizinha, em meio à comemoração. Os aplausos e comentários morreram. Agora todas as atenções tornaram a se concentrar no Cálice de Fogo, que, segundos depois, tornou a se avermelhar. Um segundo pedaço de pergaminho voou de dentro dele, lançado pelas chamas.


-- O segundo Campeão de Hogwarts também é da Sonserina: Scorpius Hyperion Malfoy!


Rose não quis olhar na direção dele, para não se irritar com o sorriso sardônico que ela tinha certeza de que ele devia ter no rosto. Tornou a olhar na direção do tio, que desta vez não conseguia disfarçar o choque e até revolta. Intrigada, voltou o olhar para Scorpius, que fazia o mesmo caminho que Al tinha acabado de fazer, cabisbaixo e sem encarar a ninguém.


E o Cálice de Fogo ficou mais uma vez vermelho; jorraram faíscas dele; a língua de fogo ergueu-se muito alto no ar e de sua ponta McGonagall tirou o terceiro pedaço de pergaminho.


Rose ainda estava tão absorta e curiosa para entender a expressão do tio e a reação de Scorpius que não ouviu o anúncio da Diretora. A mesa da Grifinória prorrompeu em aplausos e vivas, e Rose olhava para os lados, confusa, tentando entender o que estava acontecendo. Lily sorria bobamente pra ela, instando-a a se levantar.


-- Rose Nymphadora Weasley, você poderia fazer o favor de seguir os demais Campeões de Hogwarts? -- pediu McGonagall, divertida.

* * * * * * * * *

Sejam muito bem vindos a esta nova história e comentem! :) 

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