The Fool on the Hill
♪ Nobody seems to like him, they can tell what he wants to do
and he never shows his feelings ♫
-- Seu nome do meio é Nymphadora? Isso foi uma técnica que seu pai usou pra tentar impedir que você tivesse namorados? -- Scorpius gracejou, quando Rose chegou até onde eles estavam, próximos da lareira.
-- Se foi esse objetivo, ouso dizer que fracassou terrivelmente. E qual a intenção do seu pai, ao te dar o nome do meio de estrelinha? -- devolveu e Al não segurou o riso, recebendo um olhar de reprovação de Scorpius.
-- Na realidade, Hyperion é uma lua de Saturno. Imaginei que alguém tão inteligente soubesse a diferença entre uma lua e uma estrela... -- retrucou, irônico.
-- Perdão por ter sido lisonjeira e não ter dito diretamente que você é um astro sem luz própria!
-- Bom, eu acho que nós podíamos canalizar um pouco dessa agressividade para a competição, o que acham? -- Al tentou acalmar os ânimos e os dois se calaram, a contragosto.
Completamente alheios à animosidade da sala, Diretora McGonagall, Professores Longbottom e Fintch-Fletcher e os representantes do Ministério da Magia entraram na sala reservada, pouco depois.
Rose não pôde deixar de observar o semblante taciturno de seu tio. Harry Potter encarava Scorpius, que evitava olhar em sua direção. Diretora McGonagall cumprimentou mais uma vez os presentes e solicitou que fossem feitos os comunicados dos representantes do Ministério.
-- A primeira tarefa se destina a testar o arrojo dos campeões -- disse Percy Weasley. -- Por isso, não vamos lhes dizer qual é. A coragem diante do desconhecido é uma qualidade importante em um bruxo... muito importante... A primeira tarefa ocorrerá em Durmstrang, em vinte e quatro de novembro, perante os demais estudantes e a banca de juízes.
-- Para favorecer o intercâmbio, vocês irão até a escola uma semana antes da tarefa, conhecerão um pouco dos arredores e farão algumas aulas junto dos alunos de Durmstrang. -- completou Olívio Wood.
-- Ressalto que é proibido aos campeões pedirem aos seus professores, ou aceitarem deles, ajuda de qualquer tipo para realizar as tarefas do torneio. Os campeões enfrentarão o primeiro desafio armados apenas de varinhas. Receberão informações sobre a segunda tarefa quando a primeira estiver concluída. Por força da natureza árdua e demorada do torneio, os campeões estão dispensados dos exames do fim do ano letivo -- complementou Percy.
A Diretora agradeceu a presença de todos e, enquanto ela conversava com Percy e Olívio, Harry se aproximou dos três.
-- Obviamente, vou precisar me afastar da organização do Torneio. Não posso ter acesso a informações privilegiadas, tendo um filho e uma sobrinha competindo. Isso poderia até prejudicá-los... -- aproximou-se ainda mais e continuou, sussurrando. -- Mas não se enganem: Durmstrang e Beauxbatons vão usar todas as armas que tiverem para ganhar esta competição! Vocês precisarão ser cuidadosos e manterem-se sempre alertas!
Rose e Scorpius se entreolharam discretamente, diante das palavras do Chefe da Divisão de Aurores. Algo lhes dizia que provavelmente a maior dificuldade que ambos teriam que enfrentar seria conviver pacificamente, para conseguir dar conta do Torneio.
-- Fico muito feliz que você tenha sido escolhida como campeã! – Harry falou, diretamente para Rose. -- Coragem e Inteligência nunca são demais, em uma equipe... Especialmente se os demais campeões forem um pouco afobados! -- a garota ficou vermelha e sorriu diante da cara de ofensa de Al e Scorpius. -- Procurem, em cada escola que forem, os pontos que elas tiverem de único. Acredito que as diferenças naturais de Durmstrang e Beauxbatons serão cruciais para eles definirem as tarefas; tentarão escolher coisas que seus campeões terão muito menor dificuldade de enfrentar, enquanto que as outras escolas mal terão tempo de se adaptarem...
-- Mas tio, isso é muito vago... Eles podem escolher qualquer coisa!
-- Por isso é também necessário que vocês conheçam e se entrosem com os demais campeões! -- completou. Harry deu um abraço apertado no filho, disse-lhe que estava muito orgulhoso e satisfeito, por saber que ele estaria muito bem acompanhado nesta jornada. Então, virou-se para Scorpius e pediu para conversar com ele em particular.
Rose e Al se encararam, bastante curiosos. Percy Weasley veio parabenizar os sobrinhos, mas Rose estava absolutamente alheia, observando seu tio claramente brigando com Scorpius. O bruxo gesticulava, impaciente, e o loiro se mantinha calado e de cabeça baixa. Naquele momento, ninguém diria que Scorpius era mais alto que Harry Potter mais de vinte centímetros, tão grande o adulto estava, na sua exasperação.
Então Scorpius finalmente falou, e Harry Potter foi se desarmando. O loiro apontou na direção onde os outros campeões estavam, mas Rose sentiu que o tio lançou um olhar aflito na direção dela. Harry então voltou a chamar a atenção de Scorpius, mas seu semblante havia mudado... Era como se estivesse ainda chateado, mas resignado.
* * * * * * * * *
-- Tô te dizendo, Lorcan, isso tudo é muito estranho! -- Rose sussurrou para o amigo na biblioteca, enquanto observavam, ao longe, Scorpius debruçado sobre um número considerável de livros, sozinho, numa ensolarada manhã de sábado.
-- Pra quem não suporta o cara, é no mínimo suspeito ele não ter saído da nossa pauta na última semana...
Rose ignorou a provocação do amigo, completamente obcecada por Scorpius Malfoy.
-- Não foi normal esse insuportável não ter comemorado como deveria por ter sido escolhido como um dos campeões de Hogwarts! Também não foi normal tio Harry ter escolhido aquele que não era da família para ter uma conversa reservada.... Tampouco foi normal meu tio perder a cabeça e discutir com alguém na presença de outras pessoas!
Lorcan apenas revirou os olhos, cansado. Era a enésima vez naquela semana que a ruiva tentava entabular suas teorias da conspiração sobre Scorpius Malfoy, mas já não havia mais nada a ser dito. Ele também achava tudo muito estranho, mas não fazia ideia do que poderia ter ocorrido para justificar o comportamento do sonserino ou de Harry Potter.
Madame Pince se aproximou da mesa onde estavam, avisando que Rose estava sendo aguardada na sala contígua ao Salão Principal. Lorcan se prontificou a cuidar dos livros da garota, e ela seguiu com Scorpius para fora da biblioteca.
-- Imagino que tenhamos sido chamados para a pesagem das varinhas. -- comentou o loiro, para quebrar o silêncio pesado entre eles.
-- Pesagem das varinhas? -- ela inquiriu, intrigada.
-- Nessa altura eu achei que você já teria pesquisado tudo o que estivesse ao seu alcance sobre o Torneio Tribruxo, Weasley!
-- Tenho coisas mais úteis a fazer, Malfoy... -- retrucou, vermelha.
-- Realmente, ficar namorando na biblioteca é algo muito mais útil do que tentar entender o que vamos passar nos próximos meses!
Para completa surpresa de Scorpius, Rose caiu na gargalhada. Ela não conseguia nem andar, de tanto rir, e o garoto a encarava, tentando entender o que poderia ser tão engraçado.
-- Por um momento -- ela falou, com a voz ainda entrecortada de rir. --, fiquei pensando quem te deu o direito de se meter na minha vida, ou mesmo de dizer o que devo ou não devo fazer... -- completou, enxugando as lágrimas do riso. -- Você é patético, Malfoy!
Seguiram até a sala onde eram esperados, o silêncio eventualmente quebrado pelos risinhos debochados de Rose. Scorpius andava muito rápido, empertigado e bastante constrangido; suas orelhas violentamente vermelhas sinalizavam isso. Quando o garoto abriu a porta, não conseguiu reprimir um gemido.
-- O que foi? -- Rose perguntou, preocupada.
Scorpius abriu espaço para que ela passasse, e a garota viu que os pais dos campeões estavam lá, distantes de duas pessoas que ela não conhecia e que conversavam animadamente entre si.
Rose correu para onde a sua família estava, e foi sufocada com o abraço apertado de seu pai. Hermione quase precisou enfeitiçar o marido para que ele soltasse a filha e a deixasse respirar.
A garota se virou para abraçar os tios e percebeu, de canto de olho, que Draco Malfoy estava discutindo com Scorpius, tão acaloradamente quanto conseguia, sem perder a pompa e a circunstância, enquanto a mãe do garoto tentava contemporizar.
Como que sentindo que estava sendo observado, olhou na direção de Rose, que não conseguiu evitar o olhar e tampouco evitar que um nó se formasse na sua garganta, por conta da diferença de tratamento dos campeões pelas suas famílias. A entrada de Al na sala chamou a atenção dos demais, e quebrou o contato visual.
-- Albus Severus Potter! Como você me aparece imundo desse jeito para a pesagem das varinhas e para a foto dos campeões? -- Gina Potter estava fora de si com o desleixo do seu filho.
-- Mas mãe, eu não sabia que ia ter esse negócio hoje! Eu estava treinando Quadribol com os novos artilheiros! Pai, socorro! O senhor sabe das obrigações que um capitão de time tem!
-- Não me venha apelar para o seu pai! Pelo que me consta, ainda há chuveiros nos vestiários da escola, você poderia ter se dignado a ter tomado um banho rápido antes de vir... Já chegou atrasado, mesmo! -- Gina tirou um lenço da bolsa e começou a passar no rosto do filho, que tentava se desvencilhar.
Mais uma vez a porta se abriu, e por ela passaram a Diretora McGonagall e o fabricante de varinhas do Beco Diagonal, Dino Thomas. Automaticamente Harry Potter se aproximou de sua esposa, que havia namorado o Dino na época em que estudavam em Hogwarts. Ainda que isso tivesse acontecido há mais de 20 anos, Harry não ficava muito confortável perto do ex-colega de casa, sentimento compartilhado por Ron Weasley, que largou um pouco a filha e se aproximou dos Potter.
-- Rose, posso falar com você um instante? -- Scorpius sussurrou para ela, no meio de toda essa movimentação. -- Minha mãe quer muito te conhecer.
Rose ficou intrigada, mas seguiu Scorpius até onde os pais do garoto estavam, que apresentou a garota formalmente aos mais velhos. Draco Malfoy foi polido, mas se manteve distante. Já Astoria Malfoy abriu um sorriso caloroso para Rose, abraçou a garota e sussurrou algumas palavras no seu ouvido.
Rose ficou muito vermelha, retribuiu o abraço de Astoria e respondeu à mulher, que agradeceu efusivamente. Scorpius não compreendia o que as duas poderiam ter conversado, mas tinha a desconfortável sensação de que só poderia ser a seu respeito. Afinal, não conseguia imaginar nada mais que tivessem em comum que não ele.
-- Os campeões, por gentileza, aproximem-se da bancada para a pesagem das varinhas! -- chamou a Diretora McGonagall.
Al saiu do jugo da mãe aliviado e Scorpius seguiu com Rose para onde a diretora os havia convocado, sob o olhar curioso dos Malfoy e dos Weasley. Quando chegaram até o púlpito preparado para que fosse realizada a pesagem das varinhas, repararam melhor nas duas outras pessoas que já estavam na sala: um fotógrafo e uma mulher loira, com os cabelos cuidadosamente arrumados e longas unhas, ambos com identificação do Profeta Diário.
-- Stanley, por favor, não perca nenhum momento destes jovens maravilhosos! -- ela falou, de forma afetada, mas seus olhos estavam ora pousados em Al, ora pousados em Harry Potter. O fotógrafo tirou algumas fotos dos campeões juntos, e depois se dedicou a alguns retratos individuais.
Encerrada a sessão, Dino Thomas analisou cada varinha com apuro, fazendo comentários espirituosos e lembrando-se de quando as havia vendido aos garotos. Aparentemente, a memória acurada foi outra herança que Sr. Olivaras deixou ao seu pupilo, além da loja no Beco Diagonal.
Após terem suas varinhas analisadas e devolvidas, cada um dos campeões conversava um pouco com a repórter. Scorpius foi o primeiro, mas foi tão lacônico que a loira perdeu rapidamente o interesse. Al foi em seguida. Falou tão pouco quanto Scorpius, mas a pena de repetição rápida verde-ácido dançava freneticamente no pergaminho ao lado da loira. Foi necessário que a diretora interviesse para que a entrevista (quase um interrogatório) com o garoto fosse encerrada, pois ainda havia Rose e o horário já estava adiantado.
Quando a garota se aproximou da repórter, Hermione foi junto. Rose sabia que sua mãe estava irritada com a situação, e resolveu deixar que ela extravasasse logo.
-- Como vai a sua tia, Bridget? Continua sendo um desserviço para o jornalismo bruxo, ou você herdou esse dom?
-- A senhora não tem o direito de falar assim da Tia Rita! Quem a senhora pensa que é?
-- Realmente, logo vi que você não nega a sua família! Se tivesse feito o mínimo de pesquisa, teria sabido que Rose é filha da Chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia! Quero lhe avisar, assim como avisei à sua tia, para tomar cuidado com o que vai escrever! Eu estou de olho em vocês!
Bridget Skeeter posou de ofendida, chamou o fotógrafo e saiu intempestivamente da sala, sem nem ao menos trocar uma palavra com Rose.
* * * * * * * * *
Dali a dois dias embarcariam para Durmstrang e Rose estava dividida entre o nervosismo e a adrenalina. Como resultado, estava anormalmente desatenta. No meio do café da manhã daquela quinta-feira de novembro, a garota foi surpreendida com um considerável número de corujas, voando em sua direção.
Lilian e Hugo se aproximaram de onde Rose estava, curiosos com o que estava acontecendo. A mais velha dos Weasley pegou uma carta do meio das mais de vinte que estavam largadas na sua mesa, além do exemplar do Profeta Diário e a leu, em voz alta.
“Torço muito para que Hogwarts ganhe o Torneio Tribruxo, mas fiquei muito triste ao ver que uma garota bem-nascida e bem-criada como você vai ter que conviver com o filho de um seguidor d’Aquele Que Não Deve Ser Nomeado! Tome muito cuidado e não se afaste do seu primo! Esse tal de Scorpius...”
Rose interrompeu a leitura, estupefata. Lilly pegou uma outra carta e o conteúdo era semelhante à da primeira. As corujas continuavam aparecendo, e Rose puxou o Profeta Diário de baixo daquela pilha de pergaminhos e, ao abri-lo, viu uma foto dela, de Al e de Scorpius na capa do Jornal. Na realidade, a foto era quase na totalidade de Al, com os rostos dos outros dois cortados, na lateral.
Exasperada, encontrou a matéria e a leu, para que os demais ouvissem:
“Após quase trinta anos de hiato e com algumas alterações para tornar o evento mais competitivo, como a escolha de três campeões por escola, em dez dias ocorrerá a primeira prova da nova edição do Torneio Tribruxo. Desta vez, as tarefas ocorrerão uma em cada escola concorrente, e a primeira terá sede em Durmstrang.
A escola escandinava, conhecida por ser partidária das artes das trevas, mantém a sua localização em sigilo absoluto, o que nos faz temer duplamente pela segurança dos representantes da Grã-Bretanha, enquanto estiverem lá confinados.
Mas os perigos a que os campeões estarão sujeitos não estão localizados apenas fora de Hogwarts. Por ironia do destino (ou talvez inépcia na escolha de um juiz que atentasse para as circunstâncias), entre os campeões foram escolhidos o filho de Harry Potter, Albus Potter, e o filho do confesso Comensal da Morte Draco Malfoy, Scorpius Malfoy.
Hogwarts teve, nos últimos 50 anos, diretores com a visão extremamente liberal e permissiva. Parcela significativa da sociedade acredita que, por conta desta permissividade, tenha ocorrido a terrível batalha que matou inúmeros alunos dentro da escola, há mais de 20 anos.
Era de se esperar que a direção da escola tivesse aprendido com os erros e tornado a seleção para Hogwarts mais rígida, para impedir que filhos de Comensais da Morte convivessem livremente com alunos inocentes, como Rose Weasley, terceira campeã da escola, e prima de Albus Potter.
No próximo sábado a delegação de Hogwarts seguirá para...”
Rose interrompeu a leitura ao ouvir gritos, perto da mesa da Sonserina. Scorpius urrava de dor e Albus abria, tremendo, um envelope vermelho. A voz fantasmagórica que fluiu do berrador tomou conta do salão principal:
“VOCÊ DEVERIA SE ENVERGONHAR DE FORÇAR CONVIVÊNCIA COM PESSOAS DE BEM! É POR CONTA DE PESSOAS HORRÍVEIS COMO O SEU PAI QUE PERDI PARENTES E AMIGOS! TENHA A DECÊNCIA DE SAIR DO CONVÍVIO DE PESSOAS INOCENTES E VÁ PARA ONDE A ESCÓRIA NUNCA DEVERIA TER SAÍDO: PARA AZKABAN! ESPERO QUE O MINISTÉRIO DA MAGIA VOLTE A CONTRATAR DEMENTADORES, PARA QUE VOCÊ E SUA FAMÍLIA COMPREENDAM O SOFRIMENTO QUE CAUSARAM! E ESPERO QUE VOCÊ SE --“
Albus puxou Scorpius pelo braço e o arrastou para fora do salão principal O loiro estava com as mãos cheias de feridas, inchadas. O berrador os seguiu pelo castelo, enquanto Rose assistia ao espetáculo, em choque.
-- Essa nojenta dessa Skeeter! Ela não tinha o direito de escrever estas barbaridades! -- Rose desabafou, revoltada.
-- O problema, Rosie, é que parece que muita gente concorda com ela! -- Lilly falou, triste.
-- Quão imbecil precisa ser uma pessoa para culpar alguém pelas coisas erradas que os pais fizeram? Scorpius não tem nenhuma responsabilidade em relação a isso, assim como os filhos de outros simpatizantes de Voldemort! -- argumentou Hugo, e os olhos de Rose se encheram de lágrimas.
-- Isso tudo é muito injusto e absurdo! -- falou a garota, antes de pegar as cartas todas que havia recebido, jogá-las no lixo, e ir para a próxima aula.
* * * * * * * * *
Rose estava muito preocupada com Scorpius. Albus apareceu no meio da aula de Transfiguração, desacompanhado. Rose perguntou ao primo onde Malfoy estava, e ele lhe disse que tinha ficado na ala hospitalar; um dos envelopes estava cheio de pus de bubotúberas, e ele estava em observação.
Rose seguiu para a aula de Runas, mas mal conseguiu se concentrar. Scorpius também não apareceu no almoço, mas ela nutria a esperança de que pudesse falar com ele na aula dupla de Defesa Contra Arte das Trevas, à tarde.
A aula começou e nem sinal de Scorpius. Rose não conseguia se concentrar e, terminado o primeiro tempo de Defesa Contra Artes das Trevas, ela não aguentou mais aquela tensão e pediu para ir até a ala hospitalar, alegando dor de cabeça.
A enfermeira ficou preocupada com a aparição da garota naquele horário, mas Rose explicou que estava bem.
-- Eu... Eu só precisava falar com Scorpius. Posso?
-- Querida, Scorpius Malfoy veio aqui hoje pela manhã, mas o mediquei e ele foi embora em 15 minutos... Pedi que ele tomasse mais cuidado e que não abrisse mais essas odiosas cartas! Onde já se viu, uma coisa dessas?
Rose agradeceu à enfermeira e voltou para a sala de Defesa Contra Artes das Trevas, pisando duro. Embarafustou pela sala na direção de seu primo e lhe deu o recado que a Diretora os aguardava no corredor.
-- Porque você mentiu pra mim de manhã, dizendo que Scorpius estava na ala hospitalar? E onde ele está, Al? -- inquiriu, diretamente, quando ficaram a sós.
-- Ele me pediu para não dizer pra ninguém... -- justificou.
-- Eu preciso falar com ele! Onde ele está?
-- Rose, por Merlin, será que você pode dar um tempo, ter o mínimo de sensibilidade e não brigar com ele hoje? Só hoje?
-- Eu não vou brigar com ele! Mas se você não me disser onde ele está AGORA, não me importarei em brigar com você! -- e sacou a varinha.
Al entendeu a nada sutil ameaça, ergueu a sobrancelha ironicamente em surpresa e lhe disse que, naquela hora, Scorpius deveria estar no topo da torre de astronomia.
-- Só me prometa que não vai contar pra ele que eu te contei! -- gritou, enquanto ela desembestava pelo corredor.
* * * * * * * * *
Quando Rose empurrou a porta que dava para a área externa da torre de astronomia, se arrependeu por não ter tido a ação de ir buscar um casaco. Apesar do contraste com o clima ameno dentro do castelo, ela sabia que não podia recuar, sob pena de Scorpius se esconder em outro lugar.
Puxou a gola das vestes para cima, tentando se proteger, e fechou a porta atrás de si. Scorpius não estava à vista. A garota começou a circundar a amurada da torre, até vê-lo, recostado em uma das ameias que dão para o oeste, ao lado da sua Vulcano Maxi, a vassoura mais cara e veloz da atualidade.
-- Vou matar o Al! O que você está fazendo aqui? -- falou, sem ao menos se virar na direção dela.
-- Preciso falar com você...
-- Eu não quero conversar, não quero discutir... Tô cansado, Rose!
-- Ótimo! Assim, você pode se concentrar em apenas ouvir! -- ele deu um bufo de descrença e fez menção de pegar a sua vassoura e deixar a garota sozinha. -- Scorpius, por favor, eu preciso mesmo falar com você! -- Rose suplicou e ele desistiu de ir embora e meneou com a cabeça, incentivando que ela prosseguisse, curioso e desconfiado. -- Vim até aqui para te pedir desculpa.
-- Você veio me pedir desculpa? -- repetiu, abobado. -- Por quê?
Rose baixou o olhar e estremeceu um pouco. Scorpius aguardava que ela falasse, sem entender o que estava havendo.
-- Porque, quando nos conhecemos, eu fui uma completa imbecil com você... Eu te condenei desde a primeira vez que te vi, não te dei chance para mostrar que você não era responsável pelas ações da sua família...
-- Rose, isso faz tanto tempo, deixa pra lá...
-- Não, Scorpius, não vou deixar pra lá! Isso não está certo! Só hoje, ao ver a reação das pessoas àquela matéria cretina, foi que percebi que não fui melhor que nenhum deles! Não interessa se minha família foi caçada ou se minha mãe foi torturada dentro da sua casa! Você não tem culpa de nada disso!
Os dois ficaram em silêncio, cada um com os seus pensamentos, a mil. Rose se aproximou da ameia e enxugou discretamente as lágrimas que ela esperava que Scorpius não tivesse visto. Contemplou a vista da escola, as montanhas ao longe e o sol pálido de outono se encaminhando rapidamente para elas, e entendeu porque Scorpius gostava daquele lugar.
A pedra da amurada estava gelada, e Rose não conseguia reprimir os espasmos de frio. Scorpius tirou seu casaco, colocou nos ombros da ruiva e se postou ao lado dela.
-- Eu não esperava ouvir isso hoje... Obrigado, Rose. -- disse, simplesmente.
Contemplaram o sol se escondendo rapidamente atrás das montanhas, pintando o céu de amarelo, vermelho e roxo, até que Rose quebrou o silêncio.
-- Se você, durante a vida inteira, foi julgado por causa da sua família, por que se inscreveu no Torneio Tribruxo, sabendo que os campeões seriam expostos?
-- Eu não podia prever que as pessoas reagiriam desta forma insana!
-- Scorpius, foi por causa desta história toda que tio Harry e o teu pai te passaram sermão, quando te viram?
-- Em parte, sim. -- admitiu, depois de um tempo.
-- E qual a outra parte, a que te levou a se inscrever?
-- Desculpa, Rose, mas isso é pessoal...
A garota arqueou as sobrancelhas em resposta à negativa dele, mas não insistiu. Ele não havia sido estúpido e ainda tinha tido um dia péssimo. Ela não falou mais nada e ele começou a ficar nervoso, entendendo o raro silêncio dela como sinal de que havia ficado chateada. Desesperou-se para achar um assunto que os tirassem daquele mutismo, agarrou-se à primeira coisa que passou na sua cabeça.
-- Faz tempo que eu queria te perguntar isso: o que a minha mãe disse no teu ouvido, no dia da pesagem das varinhas?
Rose ficou muito vermelha com a pergunta, mas logo se refez.
-- Desculpa, Scorpius, mas isso é pessoal... -- devolveu, num tom pretensamente doce.
O ronco alto do estômago de Scorpius interrompeu qualquer assunto que ainda pudessem ter, e ambos voltaram para o castelo.
* * * * * * * * *
Rose voltou para a sala de Defesa Contra Artes das Trevas, para pegar seu material, e os alunos estranharam ela ter voltado trajando um enorme agasalho da Sonserina. Al tentou disfarçar, mas recebeu olhares inquisidores de seus colegas de sala; eles sabiam que o sobretudo preto com detalhes esmeraldinos pertencia a Scorpius. Assim que a turma foi dispensada, Lorcan seguiu a amiga, divertindo-se com a situação.
-- Então, vocês já assumiram que se amam?
-- Não seja ridículo, Lorcan! -- retrucou, sem esconder um sorriso. -- Eu precisava conversar com ele sobre os absurdos que as pessoas estavam falando da matéria d’O Profeta Diário, e também precisava pedir desculpas por ter agido com ele desta mesma forma, quando nos conhecemos....
-- E em qual parte desta conversa você começou a vestir as roupas dele?
-- Ai, eu nem me lembrava que estava vestindo isso!
Rose tirou o sobretudo, viu que não ia conseguir se livrar de Lorcan com evasivas e contou tudo o que havia acontecido na torre de astronomia.
-- Ruiva, por mais que você queira negar, vocês foram um casal muito fofo!
-- Quer parar com isso? -- brigou, com receio de alguém passar e ouvir a conversa. -- Já te expliquei que não temos nada um com o outro! E você pode parar com essa sanha alcoviteira e me passar seus apontamentos da aula de hoje?
Ficaram quase uma hora na biblioteca, enquanto Rose copiava as anotações de Lorcan e o garoto escrevia um longo pergaminho sobre antídotos potentes para a aula de Poções, na manhã seguinte.
Saíram da biblioteca guiados pela fome, e foram direto jantar. Para encurtar caminho, pegaram um corredor mais estreito, que desembocava quase na entrada no Salão Principal. Quando já estavam quase chegando, ouviram risos altos e se entreolharam, tentando entender o que estava havendo.
-- E aí, Malfoy, não vai nos falar o que fez com a ruiva por quase duas horas, pra ela voltar embrulhada na sua capa, com um sorriso satisfeito no rosto? -- alfinetou Aaron Zabini, para deleite dos colegas que presenciavam a cena.
-- Tá louco, Zabini? De onde você tirou essa ideia?
-- Para de negar, cara! Todo mundo sabe que você sempre teve um olho comprido pra cima da prima do Al, mas nunca imaginei que você fosse maluco nesse nível! A tua família te mataria! Depois, o pai dela te ressuscitaria, para te matar de novo, várias vezes!
Nova rodada de gargalhadas. Rose e Lorcan andaram lentamente até conseguirem ver os quatro setimanistas da Sonserina. Scorpius estava de costas para o corredor, mas dava para ver, pela vermelhidão que subia pelo seu pescoço, que estava ou constrangido ou irritado.
-- Não que eu deva a vocês alguma explicação, mas já disse e vou repetir: não tenho e nunca terei nada com Rose Weasley! Ela é uma irritante sabe-tudo e a única razão de eu ter oferecido meu casaco pra ela foi para que não ficasse doente! Afinal, neste sábado nós vamos para Durmstrang, para nos prepararmos para a primeira prova do Torneio Tribruxo, e não podemos ter uma baixa!
-- Vou fingir que acredito em você, Scorpius! -- debochou Zabini.
-- Acho que você deveria acreditar nele, pois tudo o que disse é verdade! -- falou Rose, aproximando-se deles, e Scorpius ficou na defensiva. -- A única parte que faltou ser esclarecida é que eu não tenho e nunca terei nada com um imbecil como o Malfoy!
Rose pegou o casaco do loiro, empurrou-o bruscamente no peito de Scorpius, agradeceu secamente e marchou para o Salão Principal, seguida por um estupefato Lorcan.
* * * * * * * * *
Perdão pela demora, mas eu sou uma louca que resolveu escrever essa história sem tempo algum... Mas, como eu preciso extraí-la de dentro de mim, ela vai ser postada (mesmo que eu não consiga garantir as postagens com tanta frequência).
Já era para eles terem chegado em Durmstrang, mas resolvi fazer um capítulo mais curto agora, para não deixá-los tanto tempo sem a fic.
Agradeço pelas reviews de Ana Carol Murta, lufana, Luiza Snape, Nina Delacourt Black!
Beijo grande, comentem e até o próximo capítulo!
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Comentários (1)
Entre tapas e beijos é. A música delxs.
2015-06-19