Veritaserum
– Veritaserum.
– A poção da verdade. – Severo murmurou, franzindo a testa pensativo.
– Será que vão usar a poção da verdade em Harry? – Lily perguntou, levantando a cabeça do ombro de Tiago confusa – Será que alguém vai desconfiar de Harry, achar que ele está mentindo…
– É provável. – Sirius bufou decepcionado – Sabemos muito bem que Fudge prefere permanecer na ignorância…
– E além disso, – Remo suspirou – Skeeter insinuou que Harry era mentiroso na última matéria dela.. E sabemos muito bem que algumas pessoas simplesmente acreditam no que os jornais dizem…
– Pelo menos, dessa vez, tenho certeza de que Rony e Hermione vão permanecer ao seu lado. – Tiago disse virando-se de Harry para Rony e Hermione – E se não ficarem, eu não vou mais acreditar na amizade de vocês…
– Acredite. – Harry murmurou apenas para Tiago e Lily – Eles são os melhores amigos que eu poderia ter na minha vida.
Tiago deu um sorriso abalado antes de fazer sinal para Frank começar o capítulo.
Harry sentiu que caía chapado no chão, seu rosto comprimiu a grama, cujo cheiro invadiu suas narinas. Ele fechara os olhos enquanto a Chave do Portal o transportava, e os mantinha fechados até aquele momento. Não se mexeu.
Todo o ar parecia ter sido expulso dos seus pulmões, sua cabeça rodava tanto que ele sentia o chão balançar sob seu corpo como se fosse o convés de um navio.
Para se firmar, apertou com mais força as duas coisas que continuava a segurar, a asa lisa e fria da Taça Tribruxo e o corpo de Cedrico. Tinha a sensação de que ia deslizar para a escuridão que se formava na periferia do seu cérebro se largasse qualquer das duas.
O choque e a exaustão o mantiveram no chão, inspirando o cheiro de grama, esperando... Esperando que alguém fizesse alguma coisa... Que alguma coisa acontecesse... E, todo o tempo, sua cicatriz ardia surdamente em sua testa...
Uma enxurrada de sons o ensurdeceu e confundiu, havia vozes por toda parte, passos, gritos... Ele continuou onde estava, o rosto contraído contra o barulho, como se aquilo fosse um pesadelo que ia passar...
– O que? – Alice perguntou confusa – Ele não devia ter voltado para o centro do labirinto? Como pode estar ouvindo vozes, passos e gritos?
– Acho que o deslocamento da taça no cemitério pode ter causado isso. – Remo disse pensativo – As chaves de portal são feitas a partir das coordenadas exatas dos lugares de onde elas devem ir para onde vão, a distancia exata dos lugares faz toda a diferença… Então, quando Harry deslocou a taça convocando ela, ele deve ter alterado as coordenadas… Ou a taça já era uma chave de portal para fora do labirinto mesmo… Não tem como sabermos ao certo.
Então duas mãos o agarraram com uma certa violência e o viraram de barriga para cima.
— Harry! Harry!
O garoto abriu os olhos.
Estava olhando para o céu estrelado e Alvo Dumbledore se debruçava sobre ele. As sombras escuras das pessoas que se aglomeravam ao seu redor se aproximavam, Harry sentiu o chão sob sua cabeça vibrar com a aproximação dos seus passos.
Ele voltara ao exterior do labirinto. Via as arquibancadas no alto, os vultos das pessoas que se movimentavam nelas, as estrelas no céu. Harry largou a Taça, mas segurou Cedrico mais junto dele e com mais força. Ergueu a mão livre e agarrou o pulso de Dumbledore, enquanto o rosto do bruxo saía de foco e tornava a entrar.
— Ele voltou — sussurrou Harry — Ele voltou. Voldemort.
— Que está acontecendo? Que está acontecendo?
O rosto de Cornélio Fudge apareceu invertido sobre Harry; parecia pálido e perplexo.
– Esse idiota não vai reagir nada bem. – Alice bufou – Ele não vai acreditar em Harry… É como vocês disseram, ele prefere permanecer na ignorância…
– Dumbledore vai acreditar em Harry, isso é o bastante. – Remo disse confiante – A confiança de Dumbledore foi o bastante para manter Snape fora de Azkaban…
– O problema, – Sirius disse desconfortável – é que se Fudge não acreditar em Harry… Nada será feito.
– Mas ele tem que acreditar! – Lily disse exaltada – Mesmo que tenham que dar veritaserum para Harry, Fudge tem que acreditar e fazer o possível para proteger nosso mundo…
– Eu não duvido nada que Fudge não acredite. – Frank suspirou – Ele é um babaca.
— Meu Deus, Diggory! — murmurou. — Dumbledore, ele está morto!
Essas palavras foram repetidas, as sombras que se comprimiam ao redor deles as exclamaram para as mais próximas... Depois outras as gritaram, guincharam — para a noite "Ele está morto!" "Ele está morto!" "Cedrico Diggory! Morto!”
— Harry, solte-o — ele ouviu Fudge dizer, e sentiu dedos que tentavam forçar os seus a se abrirem para soltar o corpo inerte de Cedrico, mas Harry resistiu.
Então o rosto de Dumbledore, que continuava borrado e difuso, se aproximou.
— Harry, você não pode mais ajudá-lo. Terminou. Solte-o.
— Ele queria que eu o trouxesse de volta — murmurou Harry, pareceu-lhe importante explicar isso. — Ele queria que eu o trouxesse de volta para os pais...
– Isso não é importante. – Tiago murmurou consigo mesmo – Não agora… Agora você tem que informar a Dumbledore sobre o infiltrado…
– Dumbledore já deve pelo menos desconfiar que há um infiltrado em Hogwarts… – Sirius disse apreensivo – Quem mais colocaria o nome de Harry no cálice…
– Mas se ele já sabia que tinha um infiltrado, porque não tomou mais providências para cuidar de Harry? – Lily perguntou aflita.
– Ás vezes eu acho que Dumbledore é pretensioso demais… – Tiago disse pensativo – Talvez ele acreditasse que nada aconteceria com Harry enquanto ele estivesse por perto…
— Certo, Harry... Agora solte-o...
Dumbledore se curvou e, com uma força extraordinária para um homem tão velho e magro, ergueu Harry do chão e o pôs de pé. Harry oscilou. Sua cabeça latejava com força. Sua perna machucada não queria mais sustentar o seu peso.
As pessoas aglomeradas ao redor se acotovelavam, tentando chegar mais próximo, empurrando sombriamente.
– Ficamos apavorados. – Hermione confessou com um suspiro profundo – Vimos você e Cedrico caídos no chão de longe… E as pessoas começaram a dizer que alguém tinha morrido…
– Por um minuto nós realmente acreditamos que você tinha morrido. – Gina contou com um tremor – Fred, Jorge, Gui e eu nos esforçamos para segurar mamãe… Ela queria atravessar a multidão para te ver, mas tivemos medo do que ela encontraria…
– Não tive nem a capacidade de pensar na minha mãe. – Rony murmurou engolindo em seco, desconfortável – Tudo o que eu queria era saber se você estava bem…
– Nós atravessamos a multidão correndo… – Hermione disse, mas parou de repente – Acho melhor continuar lendo. – completou fazendo sinal para Frank.
— Que foi que houve?
— Que aconteceu com ele?
— Diggory está morto!
— Ele precisa ir para a ala hospitalar! — dizia Fudge em voz alta. — Ele está mal, está ferido, Dumbledore, os pais de Diggory estão aqui, estão nas arquibancadas...
— Eu levo Harry, Dumbledore, eu o levo...
— Não, eu prefiro... Que deve lhe contar... Antes que ele veja...?
— Dumbledore, Amos Diggory está correndo... Está vindo para cá.
— Harry, fique aqui...
Garotas gritavam, soluçavam, histéricas... A cena lampejava estranhamente diante dos olhos de Harry...
— Está tudo bem, filho, estou com você... Vamos... Ala hospitalar...— Dumbledore disse para eu ficar — disse Harry com a fala pastosa, a palpitação na cicatriz fazendo-o sentir vontade de vomitar, sua visão mais borrada que nunca.
— Você precisa se deitar... Vamos, agora...
– Quem estava falando? – Tiago perguntou confuso – Não da para sabermos quem estava falando…
– O livro está assim. – Frank disse levantando os olhos do livro e encarando Tiago.
– Harry estava confuso. – Hermione explicou – Ele não estava consciente o bastante para distinguir exatamente o que estava acontecendo…
– Mas Dumbledore mandou ele ficar. – Tiago disse categórico – E alguém está levando ele embora…
– Isso não é bom. – Remo disse apreensivo – Essa pessoa está contrariando Dumbledore…
– Só pode ser o infiltrado! – Sirius completou o pensamento dos outros dois – E ninguém desconfia dele!
– E ainda não sabemos quem é. – Tiago bufou incomodado.
Alguém maior e mais forte do que ele, meio que o puxou, meio que o carregou entre os espectadores assustados, Harry ouvia as pessoas exclamarem, gritarem e berrarem à medida que o homem que o segurava abria caminho por elas, levando o garoto para o castelo. Atravessaram o gramado, passaram o lago e o navio de Durmstrang, Harry não ouvia nada, exceto a respiração ruidosa do homem que o ajudava a caminhar.
— Que aconteceu, Harry? — perguntou o homem finalmente, erguendo-o para galgar os degraus de pedra da entrada. Toque. Toque. Toque. Era Olho-Tonto Moody.
– Não! – Tiago exclamou abismado – Não pode ser Moody! Simplesmente não pode ser! Ele não contrariaria Dumbledore desse jeito… Harry está confuso… Não pode ser Moody!
– Calma. – Lily sussurrou no ouvido de Tiago apertando sua mão com carinho – Eles sempre dizem para não julgar antes do fim, talvez seja um engano…
– Tem que ser um engano! – Tiago afirmou categórico.
Remo e Sirius se entreolharam preocupados, seria possível que mais uma das pessoas em quem confiavam era um traidor?
— A Taça era uma Chave de Portal — disse Harry ao atravessarem o saguão de entrada. — Nos levou para um cemitério... E Voldemort estava lá... Lord Voldemort...
Toque. Toque. Toque. Escadaria de mármore acima...
— O Lord das Trevas estava lá? Que aconteceu depois?
– Lord das Trevas? – Tiago perguntou franzindo a testa enojado – Moody nunca chamou Voldemort de Lord das Trevas! Apenas comensais da morte o chamam assim!
– Mas se ele é o infiltrado… – Alice disse cuidadosa.
– Não é! – Tiago afirmou entredentes – Qualquer outra pessoa pode ser um comensal da morte, mas não Moody! Moody passou a vida toda perseguindo comensais!
– Talvez tenha alguma coisa errada. – Lily disse esforçando-se para acalmar Tiago – Tenho certeza de que há uma boa explicação para tudo isso…
— Matou Cedrico... Mataram Cedrico...
— E então?
Toque. Toque. Toque. Pelo corredor...
— Preparou uma poção... Recuperou o corpo dele...
— O Lord das Trevas recuperou o corpo? Ele voltou?
— E os Comensais da Morte vieram... Depois nós duelamos...
— Você duelou com o Lord das Trevas?
— Escapei... Minha varinha... Fez uma coisa engraçada... Vi meu pai e minha mãe... Eles saíram da varinha dele...
— Aqui dentro, Harry... Aqui dentro, e sente-se... Você vai ficar bom agora... Beba isso...
– Não beba… – Sirius disse apreensivo – Ele não devia ter tirado você de perto de Dumbledore… Está tudo errado… Ele não é confiável.
– Não é possível! – Tiago murmurou aflito – Nada disso faz sentido, Moody não pode ser um comensal, ele simplesmente não pode…
– Ele pode estar apenas tentando ajudar Harry. – Alice cogitou hesitante – Talvez esteja apenas preocupado…
– Não! – Tiago respondeu nervoso – Nada disso combina com Moody!
– As pessoas mudam. – Lily apertou sua mão, cuidadosa.
– Não tanto assim! – Tiago exclamou exaltado puxando a mão do aperto de Lily – O Moody que eu conheço nunca seria um comensal da morte!
Harry ouviu uma chave girar na fechadura e sentiu que empurravam um copo em suas mãos.
— Beba isso... Você vai se sentir melhor... Vamos Harry, preciso saber exatamente o que aconteceu...
Moody ajudou a virar a poção na boca de Harry; o garoto tossiu, um gosto apimentado queimou sua garganta. A sala de Moody entrou em foco, bem como o próprio Moody...
– Na sala dele? – Lily perguntou assustada – Ele não deveria ter levado Harry para a ala hospitalar…
– Ele não devia ter levado Harry a lugar nenhum. – Tiago bufou, socando o apoio de braço do sofá, frustrado – Moody sempre respeitou muito Dumbledore… Isso não faz sentido algum!
Ele parecia tão pálido quanto Fudge, e seus dois olhos estavam fixos, sem piscar, no rosto de Harry.
— Voldemort voltou Harry? Você tem certeza de que voltou? Como foi que ele fez isso?
— Ele apanhou uma coisa no túmulo do pai dele, depois do Rabicho e de mim. — Sua cabeça estava clareando, sua cicatriz já não doía tanto, agora conseguia ver o rosto de Moody nitidamente, embora a sala estivesse escura.
Ainda se ouviam berros e gritos vindos do distante campo de Quadribol.
– Mamãe deve ter sido responsável por vários dos berros que você ouviu. – Gina suspirou – Ela ficou apavorada quando conseguiu chegar ao labirinto, viu Cedrico morto, e não achou você…
– Ela gritou com todo mundo que encontrou… – Hermione contou.
– Você estava gritando também. – Rony disse a Hermione com carinho – Você e mamãe gritavam juntas exigindo saber onde Harry estava e se ele estava bem…
Lily encarou Hermione com afeto, Harry realmente tinha muita sorte em ter encontrado uma amiga tão boa.
— Que foi que o Lord das Trevas tirou de você? — perguntou Moody.
— Sangue — respondeu Harry erguendo o braço. A manga estava rasgada no lugar em que o punhal de Rabicho a cortara. Moody deixou escapar um assobio longo e baixo.
— E os Comensais da Morte? Voltaram?
— Voltaram. Montes deles...
— Como foi que ele os tratou? — perguntou Moody baixinho. — Ele lhes perdoou?
Mas Harry de repente se lembrou. Devia ter contado a Dumbledore, devia ter dito logo de saída...
— Tem um Comensal da Morte em Hogwarts! Tem um Comensal da Morte aqui, ele pôs o meu nome no Cálice de Fogo, certificou-se de que eu chegasse até o fim...
Harry tentou se levantar, mas Moody o obrigou a sentar-se outra vez.
— Eu sei quem é o Comensal da Morte — disse ele em voz baixa.
– Isso não está soando nada bem… – Lily disse apreensiva – Sinto muito… – completou virando-se para Tiago cuidadosa.
– Não! – Tiago disse irritado se desvencilhando de Lily – Isso não pode estar acontecendo! Moody não é um comensal da morte! Moody nunca seguiria Voldemort!
Lily suspirou resignada e fez sinal para Frank voltar a ler.
— Karkaroff? — disse Harry agitado. — Onde é que ele está? O senhor o pegou? Ele está preso?
— Karkaroff? — disse Moody com uma risada estranha. — Karkaroff fugiu esta noite, quando sentiu a Marca Negra arder no braço. Ele traiu um número grande demais de seguidores fiéis do Lord das Trevas para querer reencontrá-los... Mas duvido que chegue muito longe. O Lord das Trevas tem maneiras de seguir seus Inimigos.
— Karkaroff foi embora? Fugiu? Mas então... Ele não pôs o meu nome no Cálice de Fogo?
— Não — disse Moody lentamente. — Não, não pôs. Fui eu quem pôs.
Harry ouviu, mas não acreditou.
— Não, o senhor não pôs. O senhor não fez isso... Não pode ter feito...
— Garanto a você que fiz — disse Moody e seu olho mágico deu uma volta completa e se fixou na porta, e Harry percebeu que ele estava se certificando de que não havia ninguém do lado de fora. Ao mesmo tempo, Moody puxou a varinha e apontou-a para o garoto.
– Não! – Tiago exclamou exaltado – Isso não faz sentido! Não pode ser isso!
– Faz sentido sim. – Sirius disse paciente – Eu sei que é difícil para você enxergar, mas isso se encaixa perfeitamente com tudo o que vimos nesse livro!
– Mas não combina com o Moody que conheci minha vida inteira! – Tiago disse entredentes.
– Passamos anos dividindo o dormitório com Pedro, e ainda assim ele entregou sua família nas mãos de Voldemort! – Sirius rebateu – Não podemos confiar em ninguém!
– Se eu não posso confiar em Moody, que conheci minha vida inteira, então eu não poderia confiar em vocês também! – Tiago respondeu exaltado – E isso eu não aguentaria! Tem que ter algo errado nisso tudo!
– Talvez tenha algo de errado nisso. – Remo disse tentando acalmar Tiago – Mas você tem que ver que tudo o que o livro mostrou indica Moody… Nós só não percebemos porque sempre confiamos nele.
– Ele teve oportunidade de colocar o nome de Harry no cálice. – Alice disse com um suspiro triste.
– Foi ele quem ajudou Harry a passar pela primeira prova. – Frank completou encolhendo os ombros, resignado.
– E ele pegou nosso mapa com Harry, e não entregou a Dumbledore… – Sirius disse hesitante – Você tinha razão quando disse que não fazia sentido Snape ter dito a ele onde encontrar Dumbledore… Ele deve ter visto no mapa, ele deve ter matado Crouch…
– Mas isso não é possível! – Tiago baixou os olhos decepcionado – Tudo isso encaixa, mas não faz sentido! Moody não mata quando pode evitar… Moody não é ovelha de ninguém…
– Você passou o livro inteiro dizendo que havia alguma coisa estranha no modo como Moody estava agindo, que ele não era exatamente o Moody que você conhece... – Lily disse afagando o ombro de Tiago com cuidado – Talvez você esteja certo, tem algo de errado com Moody… – completou acenando para Frank continuar lendo.
— E ele lhes perdoou, então? Os Comensais da Morte continuaram livres? Os que escaparam de Azkaban?
— Quê? — exclamou Harry.
Ele olhou a varinha que Moody apontava para ele. Aquilo era uma piada de mau gosto, tinha que ser.
— Eu lhe perguntei — disse Moody calmamente — se ele perdoou a ralé que jamais foi procurá-lo. Aqueles traidores covardes que sequer arriscaram ser mandados para Azkaban por ele. Os porcos desleais e imprestáveis que tiveram coragem suficiente para desfilar de máscaras na Copa Mundial de Quadribol, mas fugiram ao ver a Marca Negra quando eu a projetei no céu.
– Mas isso realmente não faz sentido. – Sirius disse encarando o livro confuso – Voldemort também disse que foi o infiltrado dele que conjurou a marca negra na copa mundial… Mas Moody não estava na copa mundial… Estava?
– Pelo menos não que Harry tenha visto… – Remo disse franzindo a testa – Harry teria que vê-lo para ele ter roubado a varinha de Harry…
– E a varinha de Harry estava com Winky. – Tiago disse pensativo – Winky teria que ter visto quem conjurou a marca… Não é?
– A não ser que a pessoa estivesse invisível. – Sirius respondeu – Então Winky não veria a pessoa, nem os funcionários do ministério…
– Mas isso continua não fazendo sentido algum! – Tiago bufou frustrado.
– Então é melhor continuar lendo… – Alice disse cuidadosa – Talvez alguém tenha uma boa explicação para tudo isso.
— O senhor projetou... Do que é que o senhor está falando...?
— Eu já lhe disse, Harry.. Eu já lhe disse. Se tem uma coisa que eu detesto mais no mundo é um Comensal da Morte que foi absolvido. Viraram as costas ao meu amo quando ele mais precisava deles. Eu esperei que ele os castigasse. Esperei que ele os torturasse. Me diga que ele os machucou, Harry... — O rosto de Moody se iluminou de repente com um sorriso demente. — Me diga que ele disse a todos que eu, somente eu, permaneci fiel... Preparado para arriscar tudo para entregar em suas mãos o que ele mais queria... Você.
– Não… – Tiago balbuciou – Esse não é Moody. – completou decidido – Simplesmente não é Moody! Moody nunca chamaria alguém de amo!
– Mas se ele não é Moody, – Lily disse ansiosa – quem poderia ser?
– Não tenho ideia! – Tiago respondeu abatido – Mas não pode ser Moody… Moody não entregaria Harry a Voldemort, Moody nunca chamaria alguém de amo, nunca se submeteria às vontades de alguém!
— O senhor não fez... Isso, não pode ser o senhor...
— Quem pôs o seu nome no Cálice de Fogo com o nome de uma escola diferente? Fui eu, sim. Quem afugentou cada pessoa que julguei que poderia machucá-lo ou impedir que você ganhasse o torneio? Fui eu, sim. Quem encorajou Hagrid a lhe mostrar os dragões? Fui eu, sim. Quem fez você ver a única maneira de vencer o dragão? Fui eu, sim.
– Ele fez ainda mais coisas que imaginávamos… – Remo disse perturbado – Hagrid não resolveu levar Harry para ver os dragões sozinho…
– E é claro que Hagrid não desconfiaria! – Sirius bufou – Hagrid sempre confia no julgamento de Dumbledore…
O olho mágico de Moody se desviou então da porta. Fixou-se em Harry. Sua boca torta ria mais desdenhosa e abertamente que nunca.
— Não foi fácil, Harry, orientá-lo durante aquelas tarefas sem despertar suspeitas. Tive de usar cada grama de astúcia que possuo para não deixar transparecer o meu dedo no seu sucesso. Dumbledore teria ficado desconfiadíssimo se você conseguisse tudo com muita facilidade. Desde que você entrasse no labirinto, de preferência com uma boa dianteira, então, eu sabia que teria uma chance de me livrar dos outros campeões e deixar o seu caminho desimpedido. Mas tive também de lutar contra a sua burrice. A segunda tarefa... Foi a que tive mais medo que você fracassasse. Eu fiquei vigiando-o, Potter. Eu sabia que você não tinha decifrado a pista do ovo, por isso tive que lhe dar mais uma sugestão...
— O senhor não deu — disse Harry rouco. — Cedrico me deu a pista...
— Quem disse a Cedrico para abrir o ovo dentro da água? Fui eu. Confiei que ele passaria a informação a você. Gente decente é tão fácil de manipular, Potter. Eu tinha certeza de que Cedrico iria querer retribuir o favor de tê-lo informado sobre os dragões, e foi o que ele fez. Mas, mesmo assim, Potter, parecia que você ia fracassar. Fiquei vigiando-o o tempo todo... Todas àquelas horas na biblioteca.
– Ele disse para Cedrico abrir o ovo sob a água. – Remo suspirou – E é claro que Cedrico não desconfiaria de nada, assim como Harry, acreditaria que o professor estava apenas tentando ajudar…
— Você não percebeu que o livro de que precisava estava no seu dormitório o tempo todo? Eu o coloquei lá mais cedo, dei-o ao garoto Longbottom, não se lembra? Plantas Mediterrâneas e Suas Propriedades Mágicas. Ele teria lhe informado tudo que você precisava saber sobre o guelricho. Eu esperava que você pedisse ajuda a qualquer um e a todos. Longbottom teria lhe dito na mesma hora. Mas você não pediu... Você não pediu... Você tem um traço de orgulho e independência que poderia ter estragado tudo.
Neville trincou os dentes, audivelmente, chamando a atenção de Tiago.
— Então o que é que eu podia fazer? Mandar-lhe a informação por intermédio de outra fonte inocente. Você me contou no Baile de Inverno que um elfo doméstico, chamado Dobby, lhe dera um presente de Natal. Eu chamei o elfo à sala dos professores para apanhar umas vestes para lavar. Encenei uma conversa em voz alta com a Professora McGonagall sobre os reféns que seriam usados na tarefa e se Potter pensaria em comer guelricho. E o seu amiguinho elfo correu direto para o armário de Snape e foi depressa procurar você...
A varinha de Moody continuava apontada diretamente para o coração de Harry. Por cima do ombro do professor, sombras indistintas se moviam no Espelho-de-Inimigos pendurado na parede.
— Você ficou tanto tempo no lago, Potter, que eu pensei que tinha se afogado. Mas, por sorte, Dumbledore tomou a sua burrice por nobreza e lhe deu uma nota alta. Eu respirei mais uma vez aliviado. Esta noite, você teve uma tarefa mais fácil no labirinto do que deveria, é claro, — disse Moody. — Isto foi porque eu estava patrulhando do lado de fora, e podia ver as sebes mais externas, e pude destruir muitos obstáculos no seu caminho. Eu estuporei Fleur Delacour quando ela passou. Lancei a Maldição Imperius em Krum para ele acabar com Diggory e deixar o seu caminho livre até a Taça.
– Eu sabia, – Tiago suspirou sem nenhum tom de vitória em sua voz – não combinava em nada com o que vimos de Krum torturar Cedrico…
– E ele estava com os olhos desfocados… – Sirius concordou desanimado – E fugiu quando viu Harry se aproximar…
– Pelo menos agora sabemos que Krum nunca foi uma pessoa ruim. – Lily disse trocando um sorriso triste com Hermione.
Harry encarava Moody. Não conseguia entender como podia ser aquilo... O amigo de Dumbledore, o famoso auror... Aquele que capturara tantos Comensais da Morte... Não fazia sentido... Nem um pingo...
– Ao menos Harry vê que nada disso faz sentido! – Tiago bufou ansioso – Nada disso combina com Moody!
As sombras no Espelho-de-Inimigos se acentuavam, se tornando mais nítidas. Harry via, por cima do ombro de Moody, o contorno de três pessoas, que se aproximavam cada vez mais. Mas o professor não as vigiava. Seu olho mágico estava fixo em Harry.
– Inimigos estão por perto. – Tiago disse relembrando cada segundo que passou no escritório de Moody no departamento de aurores – E se essa pessoa está contra Harry, quem quer que apareça vai estar ajudando Harry.
– Alguém está indo salvar Harry. – Lily disse esperançosa.
— O Lord das Trevas não conseguiu matá-lo, Potter, e ele queria tanto! — sussurrou Moody. — Imagine a recompensa que me dará, quando descobrir que fiz isso por ele. Entreguei-o a ele, a coisa de que ele mais precisava para se regenerar, e depois matei-o para ele. Vou receber mais honrarias do que todos os outros Comensais da Morte. Serei seu seguidor mais querido, mais chegado... Mais próximo do que um filho...
– Mais próximo que um filho… – Tiago repetiu pensativo – Moody nunca falaria qualquer uma dessas coisas. Nada disso combina com a personalidade dele, com a história da vida dele!
O olho normal de Moody estava esbugalhado, o olho mágico fixo em Harry.
A porta continuava trancada e Harry sabia que jamais pegaria a própria varinha a tempo...
— O Lord das Trevas e eu — disse Moody, e agora parecia completamente enlouquecido, agigantando-se sobre Harry, olhando-o com desdém — temos muito em comum. Nós dois, por exemplo, tivemos pais que nos desapontaram muito... Muito mesmo. Nós dois sofremos a indignidade, Harry, de receber o nome desses pais. E nós dois tivemos o prazer... O imenso prazer... De matar nossos pais para garantir a ascensão contínua da Ordem das Trevas!
– O pai de Moody não se chamava Alastor! – Tiago afirmou triunfante – Agora tudo faz sentido! – completou abrindo a boca em espanto – Harry viu Crouch na sala de Snape... – Tiago murmurou consigo mesmo – Snape reclamou que sumiram ingredientes da poção polissuco… A indignidade de receber o nome desses pais… Matar nossos pais…
– Você já descobriu, não é? – Lily, que era a única capaz de ouvir o que Tiago dizia, perguntou – Já sabe o que há de errado.
– Acho que sei. – Tiago respondeu pensativo – Mas não faz sentido! A pessoa em quem estou pensando está morta!
– Nós pensávamos que Pedro estava morto. – Lily disse apertando a mão de Tiago com carinho – Talvez você esteja certo…
– Não vou dizer nada. – Tiago murmurou resoluto – Apenas continue lendo, Frank. – completou em voz alta.
— O senhor enlouqueceu — disse Harry, o garoto não conseguiu se conter — o senhor enlouqueceu!
— Enlouqueci, eu? — a voz de Moody se alteou descontrolada. — Veremos! Veremos quem enlouqueceu, agora que o Lord das Trevas voltou, comigo ao seu lado! Ele voltou Harry Potter, você não o derrotou, e agora, eu derroto você!
Moody ergueu a varinha, abriu a boca, Harry mergulhou a mão nas vestes...
— Estupefaça! — Houve um lampejo ofuscante de luz vermelha, e, com grande fragor de madeira estilhaçada, a porta da sala de Moody rachou ao meio...
Moody foi atirado de costas ao chão. Harry, ainda fitando o lugar em que estivera o rosto de Moody, viu Alvo Dumbledore, o Professor Snape e a Professora McGonagall mirando-o do Espelho-de-Inimigos.
– Se Snape é inimigo de um comensal da morte fiel… – Remo disse encarando Severo hesitante.
– Isso significa que há grandes chances de Dumbledore estar certo em confiar nele. – Sirius bufou resignado.
– Isso não é importante! – Lily disse ansiosa – Pelo menos não agora!
O garoto virou-se para os lados e viu os três parados à porta, o diretor à frente, a varinha em punho. Naquele momento, Harry compreendeu totalmente, pela primeira vez, por que as pessoas diziam que Dumbledore era o único bruxo que Voldemort temia. A expressão no rosto dele quando olhou para a forma inconsciente de Olho-Tonto Moody era mais terrível do que Harry poderia jamais imaginar.
Não havia sorriso bondoso no rosto do diretor, não havia cintilação nos olhos atrás dos óculos. Havia uma fúria gelada em cada ruga daquele rosto velho, ele irradiava uma aura de poder como se Dumbledore desprendesse um calor de brasas vivas.
– Sempre soube que Dumbledore é considerado brilhante, – Frank disse admirado – mas nunca vi ele desse jeito…
O diretor entrou na sala, enfiou um pé sobre o corpo inconsciente de Moody e virou-o de barriga para cima, de modo que seu rosto ficasse visível. Snape entrou em seguida, olhando o Espelho-de-Inimigos, no qual seu próprio rosto ainda era visível, examinando a sala. A Professora McGonagall dirigiu-se imediatamente a Harry.
— Vamos, Potter — sussurrou ela. A linha fina de seus lábios tremia como se ela estivesse à beira das lágrimas. — Vamos... Ala hospitalar...
– Acho que as prioridades de cada um deles ficou muito clara nessa parte. – Remo disse pensativo – McGonagall é a única que estava mais preocupada com o estado de Harry do que com qualquer outra coisa.
– McGonagall tem um certo instinto maternal com os alunos. – Tiago disse com um meio sorriso triste – Sempre percebi isso… Especialmente no nosso primeiro ano quando ela levava Sirius para a sala dela para comer biscoitos sempre que ele recebia uma carta de casa…
— Não — disse Dumbledore energicamente.
— Dumbledore, ele precisa, olhe só para ele, já sofreu bastante esta noite...
— Ele fica Minerva, porque precisa compreender — respondeu o diretor secamente. — Compreender é o primeiro passo para aceitar, e somente aceitando ele pode se recuperar. Precisa saber o que o fez passar pela provação desta noite e o porquê.
— Moody — disse Harry. Ele continuava num estado da mais completa descrença. — Como pode ter sido Moody?
— Este não é Alastor Moody — disse Dumbledore em voz baixa.
– Eu sabia que havia algo de errado! – Tiago exclamou aliviado – Não é Moody! É claro que não é Moody! Moody nunca agiria assim!
Lily deu um meio sorriso ao ver Tiago tão aliviado e apertou seu ombro com carinho. Tiago sorriu de volta para ela, passou o braço ao seu redor e fez sinal para Frank continuar lendo.
— Você jamais conheceu Alastor Moody. O verdadeiro Moody não teria retirado você das minhas vistas depois do que aconteceu hoje à noite. No instante em que ele o levou, eu compreendi, e o segui.
Dumbledore se curvou para a forma inerte de Moody e meteu a mão nas vestes do bruxo. Tirou o frasco de bolso de Moody e uma penca de chaves numa argola. Depois se voltou para a Professora McGonagall e Snape.
— Severo, por favor, vá buscar a Poção da Verdade mais forte que você tiver, depois vá à cozinha e me traga aqui o elfo doméstico chamado Winky. Minerva, por favor, desça à casa de Hagrid, onde você encontrará um enorme cão preto sentado no canteiro de abóboras. Leve o cão ao meu escritório, diga-lhe que irei vê-lo daqui a pouco, depois volte aqui.
– Então eu realmente estava na escola para a última tarefa. – Sirius disse trocando um sorriso com Harry – Sabia que eu não ficaria longe em um momento como esse…
– Para que Dumbledore quer ver Winky? – Alice perguntou completamente confusa – Não estou entendendo nada.
– Eu tenho uma teoria. – Tiago confessou – Mas minha teoria não faz sentido algum!
– Compartilhe conosco. – Lily disse apertando a mão de Tiago, confiante – Talvez faça sentido para algum de nós.
– Eu acho que alguém esteve tomando poção polissuco durante o ano inteiro para fingir ser o Moody. – Tiago deu de ombros – Foi essa pessoa que roubou o estoque de Snape…
– Até o momento isso faz todo o sentido. – Sirius disse pensativo.
– O problema é que a pessoa que acredito ter feito isso, está morta. – Tiago afirmou preocupado – Seu eu-futuro mesmo disse isso… E ainda disse que viu a pessoa ser enterrada em Azkaban…
– Então você está dizendo que acha que Crouch Jr. fez isso? – Frank perguntou confuso.
– É o que faz mais sentido… – Tiago disse encolhendo os ombros – Ele disse a Harry que tem o mesmo nome que o pai. Sabemos que o infiltrado matou Crouch, e o falso Moody disse a Harry que matou o próprio pai…
– Mas como ele poderia ser o infiltrado? – Remo perguntou desnorteado – Ele teria que ter fugido de Azkaban… Mas Sirius disse que ele morreu muitos anos antes… E Sirius foi a primeira pessoa a fugir de Azkaban...
– Não sei! – Tiago admitiu frustrado – Eu disse que não fazia sentido!
– Vamos saber se você está certo ou não logo. – Lily disse convicta, fazendo sinal para Frank prosseguir.
Se Snape ou Minerva acharam essas instruções estranhas, eles ocultaram sua confusão. Os dois se viraram na mesma hora e saíram da sala.
– É claro que McGonagall percebeu que o cão preto devia ser um animago! – Tiago disse categórico – Ela mesma sendo uma animaga, sabe muito bem reconhecer outros…
– Pelo menos ela respeita Dumbledore o bastante para não forçar Sirius a sair da forma animaga. – Remo disse apreensivo.
Dumbledore aproximou-se do malão com as sete fechaduras, enfiou a primeira chave na fechadura e abriu-o. O malão continha uma profusão de livros de feitiços. Em seguida o diretor fechou-o, enfiou a segunda chave na segunda fechadura e tornou a abrir o malão.
– Já vi esse malão na sala de Moody no ministério… Ele nunca me deixou olhar dentro… – Tiago disse encarando o livro interessado.
Os livros de feitiços haviam desaparecido, desta vez o malão continha uma variedade de bisbilhoscópios, algumas folhas de pergaminho e penas, e algo que lembrava uma Capa da Invisibilidade.
Harry observou, espantado, Dumbledore enfiar a terceira, quarta, quinta e sexta chaves nas fechaduras e reabrir o malão que, a cada vez, revelava conteúdos diferentes. Por fim, enfiou a sétima chave na fechadura, escancarou a tampa e Harry deixou escapar um grito de assombro.
O garoto deparou com uma espécie de poço, uma sala subterrânea e, deitado no chão, bem um metro abaixo, aparentemente em sono profundo, magro e de aparência faminta, encontrava-se o verdadeiro Olho-Tonto Moody. Faltava-lhe a perna de pau, e a órbita em que deveria estar o olho mágico parecia vazia sob a pálpebra e lhe faltavam chumaços de cabelos grisalhos. Harry correu os olhos arregalados e perplexos do Moody que dormia no malão para o Moody inconsciente caído no chão da sala.
– Pelo menos o mantiveram vivo. – Tiago disse aliviado – O impostor deve ter arrancado cabelos dele durante o ano inteiro…
– Pobre Moody. – Alice suspirou – Preso em um malão, passando fome e frio, e tendo seus cabelos arrancados por todo esse tempo…
Dumbledore entrou no malão, desceu o corpo e caiu de leve no chão ao lado do Moody adormecido. Curvou-se para ele.
— Estuporado, controlado pela Maldição Imperius, muito fraco. — disse. — Naturalmente, precisariam mantê-lo vivo. Harry me atire a capa do impostor, Alastor está congelando. Madame Pomfrey precisará examiná-lo, mas ele não parece correr perigo imediato.
Harry fez o que o diretor lhe pediu, Dumbledore cobriu Moody com a capa, prendeu-a em volta do corpo do bruxo e tornou a sair do malão. Em seguida apanhou o frasco de bolso que estava sobre a escrivaninha, tirou a tampa e virou-o.
Um líquido espesso e viscoso se espalhou pelo chão da sala.
— Poção Polissuco, Harry. Vê a simplicidade e a genialidade da coisa. Porque Moody jamais bebe nada a não ser do frasco de bolso, todo mundo sabe disso. O impostor precisou, é claro, manter o verdadeiro Moody por perto para poder continuar a preparar a poção. Está vendo os cabelos dele... — Dumbledore olhou para o Moody no malão. — O impostor andou cortando-os o ano inteiro, está vendo as falhas? Mas acho que, na excitação de hoje à noite, o falso Moody talvez tenha esquecido de tomar a poção com a necessária freqüência... Na hora certa... A cada hora... Veremos.
– É simplesmente genial! – Tiago concordou com Dumbledore – Não consigo acreditar que não pensei nisso… Algumas atitudes de Moody ao longo do ano não condiziam em nada com o Moody que conheci…
– Você realmente disse que várias coisas não combinavam com Moody. – Lily murmurou dando apoio a Tiago – Chegou a pensar que ele realmente tinha enlouquecido…
– Mas o impostor deve ter estudado muito bem o verdadeiro Moody. – Sirius disse pensativo – Em vários momentos as atitudes dele condiziam com o que você conhecia do verdadeiro...
– E ele conseguiu enganar Dumbledore. – Remo completou – Que conhece ele há muito mais tempo do que qualquer um de nós…
– Não há nada de errado em você não ter percebido. – Lily murmurou no ouvido de Tiago – Dumbledore também não percebeu…
– Dumbledore não tinha as informações que nós tínhamos. – Tiago bufou incomodado.
Dumbledore puxou a cadeira atrás da escrivaninha e se sentou, os olhos fixos no Moody inconsciente no chão. Harry também ficou olhando. Os minutos se passaram em silêncio...
Então, diante dos olhos de Harry, o rosto do homem no chão começou a mudar. As cicatrizes foram desaparecendo, a pele foi se tornando lisa, o nariz mutilado ficou inteiro e começou a diminuir de tamanho. A longa juba de cabelos grisalhos foi se retraindo para o couro cabeludo e se alourando. De repente, com um forte baque, a perna de pau caiu e uma perna normal apareceu em seu lugar; no momento seguinte, o olho mágico saltou do rosto do homem e um olho verdadeiro o substituiu, o olho mágico saiu rolando pelo chão e continuou a girar em todas as direções.
Harry viu caído à sua frente um homem de pele muito clara, ligeiramente sardento, com cabelos bastos e louros. O garoto sabia quem era. Vira-o na Penseira de Dumbledore, assistira a ele ser retirado do tribunal pelos dementadores, tentando convencer o Sr. Crouch de que era inocente... Mas agora tinha rugas em torno dos olhos, e parecia bem mais velho...
– É o Crouch Jr.! – Remo constatou espantado – Você estava certo! – completou virando-se para Tiago impressionado.
– Mas como isso é possível? – Tiago perguntou frustrado – Sirius disse que viu ele ser enterrado pelos dementadores!
– Não tenho ideia de como isso é possível! – Sirius deu de ombros espantado, fazendo sinal para Frank continuar lendo, mas Frank não continuou, estava olhando aturdido para Neville.
– Se Crouch Jr. é mesmo um comensal fiel… – Frank disse lentamente – Então ele realmente é culpado… Pelos crimes de que foi acusado…
– Sim. – Neville respondeu sério.
– Então você passou o ano inteiro convivendo com… – Alice balbuciou nervosa – Com quem fez… Com quem nos… Com ele?
– E ele torturou você! – Frank disse irritado – Ele sabia quem você era, e ele torturou aquela aranha na sua frente… De propósito!
– E ainda fingiu que queria te ajudar! – Alice murmurou descrente – Te levou para a sala dele, te deu um livro… Ele é doente! – completou apertando o ombro de Neville com carinho.
– Ele é exatamente como eu pensei que ele era. – Sirius suspirou – E meu irmão deve ter se tornado o mesmo que ele…
– Não sabemos. – Tiago disse em tom de consolo – Não apareceu nada sobre seu irmão nos livros!
– Ainda temos 3 livros pela frente, tenho certeza de que vai aparecer. – Sirius murmurou soturno.
Ouviram-se passos apressados no corredor. Snape retornava com Winky em seus calcanhares. A Professora McGonagall vinha logo atrás.
— Crouch! — exclamou Snape, parando de chofre à porta. — Bartô Crouch!
— Nossa! — exclamou a Professora McGonagall, parando de chofre ao ver o homem no chão. Imunda, descabelada, Winky espiou por entre as pernas de Snape. Ela abriu uma boca enorme e deixou escapar um grito esganiçado.
— Menino Bartô, menino Bartô, que é que o senhor está fazendo aqui?
Ela se atirou ao peito do rapaz.
— Vocês mataram ele! Vocês mataram ele! Vocês mataram o filho do meu amo!
– Pelo visto Winky sabia muito bem que Crouch Jr. estava vivo… – Tiago disse pensativo – Só me pergunto como Dumbledore descobriu que o impostor era na verdade Crouch Jr…
– É uma ótima pergunta. – Sirius disse franzindo a testa – Ele tinha que saber, mesmo antes dele voltar ao normal, ou não teria mandado Snape buscar Winky…
– Nós tínhamos como saber. – Tiago disse balançando as pernas ansioso – Harry viu Crouch Jr. no mapa, na sala de Snape, e achou que era Crouch… E como nós pensávamos que ele estava morto… Mas é óbvio que ele estava roubando o estoque naquela noite!
– Mas como Dumbledore poderia saber? – Remo perguntou confuso.
– Dumbledore é um legilimens muito hábil. – Severo disse categórico – Provavelmente assim que percebeu algo de errado usou essa habilidade.
– Mas ele não deveria ter percebido antes? – Lily perguntou interessada.
– Talvez Crouch Jr. saiba um pouco de oclumência… – Remo deu de ombros – E como Moody não parecia fora do normal, ele não investigou mais a fundo… E Dumbledore sabe que Moody é desconfiado o bastante para manter a mente oculta…
– Ou ele apenas juntou todas as pistas assim que o falso Moody levou Harry para longe. – Tiago cogitou – Não temos realmente como saber.
— Ele está apenas estuporado, Winky — disse Dumbledore. — Afaste-se, por favor. Severo, trouxe a poção?
Snape entregou a Dumbledore um pequeno frasco com um líquido muito transparente, o Veritaserum que o professor ameaçara fazer Harry beber na sala dele. Dumbledore se levantou, se debruçou sobre o homem e o aprumou contra a parede sob o Espelho-de-Inimigos, no qual as imagens de Dumbledore, Snape e McGonagall continuavam a observar tudo. Winky permaneceu de joelhos, tremendo, as mãos cobrindo o rosto. Dumbledore abriu a boca do homem à força e despejou nela três gotas da poção. Depois, apontou a varinha para o peito do homem e disse:
— Enervate!
O filho de Crouch abriu os olhos. Seu rosto estava flácido, seu olhar desfocado. Dumbledore se ajoelhou diante dele, de modo que seus rostos ficassem no mesmo plano.
– Acho que agora vamos descobrir tudo. – Alice suspirou apreensiva.
— Você está me ouvindo? — perguntou o diretor em voz baixa.
Os olhos do homem piscaram.
— Estou — murmurou.
— Gostaria que nos dissesse — pediu Dumbledore — como veio parar aqui. Como fugiu de Azkaban?
Crouch inspirou profundamente, estremecendo, e em seguida começou a falar numa voz sem inflexões nem emoção.
— Minha mãe me salvou. Ela sabia que estava morrendo. Convenceu meu pai a me tirar de lá como um último favor. Ele a amava como nunca me amara. E concordou. Os dois foram me visitar. Me deram uma dose da Poção Polissuco, contendo um fio de cabelo de minha mãe. Ela tomou uma dose da poção, contendo um fio de cabelo meu. Assumimos a forma um do outro.
– É claro! – Tiago disse dando um tapa na própria testa – Um plano tão simples! Crouch como funcionário do departamento de execução das leis da magia é um dos poucos que teria autorização de entrar em Azkaban!
– E meu eu-futuro viu ele entrando com a esposa e saindo com a esposa… – Sirius disse pensativo – É claro que eu acreditaria que ele estava morto mesmo!
Winky balançava a cabeça, tremendo.
— Não diga mais nada Menino Bartô, não diga mais nada, você está metendo seu pai em confusão!
Mas Crouch inspirou mais uma vez profundamente e continuou com a mesma voz sem emoção.
— Os dementadores são cegos. Eles perceberam uma pessoa saudável e uma pessoa doente entrando em Azkaban. Depois, perceberam uma pessoa saudável e uma pessoa doente deixando a prisão. Meu pai me contrabandeou para fora, disfarçado de minha mãe, para o caso de algum prisioneiro estar observando da cela.
– E agora nós sabemos que eu estava observando. – Sirius suspirou.
— Minha mãe morreu pouco depois em Azkaban. Teve o cuidado de beber a Poção Polissuco até o fim. Foi enterrada com o meu nome e a minha aparência. Todos acreditaram que ela era eu.
As pálpebras do homem piscaram.
— E o que foi que seu pai fez com você, quando chegaram em casa? — perguntou Dumbledore.
— Encenou a morte de minha mãe. Um enterro discreto e íntimo. Aquele túmulo está vazio. O elfo doméstico cuidou de mim até eu ficar bom. Depois tive que ser escondido. Tive que ser controlado. Meu pai teve que usar vários feitiços para me dominar. Quando recuperei a saúde, só pensei em encontrar o meu amo... Em voltar para o seu serviço.
— Como foi que seu pai o dominou? — perguntou Dumbledore.
— A Maldição Imperius. Fiquei sob o domínio do meu pai. Fui forçado a usar uma Capa da Invisibilidade dia e noite. Sempre em companhia do elfo doméstico. Era ela quem me cuidava e guardava. Tinha pena de mim. Convenceu meu pai a me dar regalias ocasionais. Prêmios pelo meu bom comportamento.
– E provavelmente foi por isso que Winky foi dispensada. – Tiago disse pensativo – De alguma forma Crouch Jr. conseguiu roubar a varinha de Harry e conjurar a marca negra… Enquanto Winky deveria estar cuidando dele…
– Faz muito mais sentido do que ser demitida apenas por sair da barraca quando Crouch mandou ficar. – Lily deu de ombros.
— Menino Bartô, Menino Bartô — soluçou Winky entre os dedos. — Você não devia contar a eles, está nos metendo em apuros...
— Alguém descobriu que você continuava vivo? — perguntou Dumbledore brandamente. — Alguém sabia disso, além do seu pai e do elfo doméstico?
— Sabia. — Suas pálpebras tornaram a piscar. — Uma bruxa do escritório do meu pai, Berta Jorkins. Ela veio um dia em casa trazer papéis para o meu pai assinar. Ele não estava. Winky mandou-a entrar e voltou para a cozinha, para mim. Mas Berta Jorkins ouviu o elfo conversando comigo. Foi investigar. Ouviu o suficiente para adivinhar que eu estava escondido sob uma Capa da Invisibilidade. Meu pai chegou em casa. Ela o confrontou. Ele lançou nela um Feitiço da Memória fortíssimo para fazê-la esquecer o que descobrira. Forte demais. Ele disse que danificou permanentemente a memória dela.
– Então é por isso que Bagman insistia em dizer que Berta é desmemoriada… – Sirius disse pensativo – E foi assim que Voldemort descobriu que Crouch Jr. estava vivo e livre…
– Mas se Voldemort tirou Crouch Jr. de casa, o Crouch pai deve ter percebido, não é? – Lily perguntou confusa.
– Sim… – Tiago disse – Então quando o Crouch pai estava em Hogwarts, desde o inicio do ano… Ele devia estar sob a maldição império… – Tiago constatou – Por isso Harry sempre achava ele distante quando o via de perto…
— Por que ela foi bisbilhotar os negócios particulares do meu amo? — soluçou Winky. — Por que não deixou a gente em paz?
— Fale-me sobre a Copa Mundial de Quadribol — ordenou Dumbledore.
— Winky convenceu meu pai — disse Crouch, ainda com a mesma voz monótona. — Passou meses persuadindo-o. Eu não saía de casa havia anos. Eu adorava Quadribol. "Deixe o rapaz ir", dizia ela. "Ele vai usar a Capa da Invisibilidade." "Ele pode assistir. Deixe ele tomar um pouco de ar fresco uma vez.” Ela disse que minha mãe teria gostado disso. Disse ao meu pai que minha mãe morrera para me devolver a liberdade. Não me salvara para viver preso. No fim ele concordou.
— Foi tudo cuidadosamente planejado. Meu pai subiu comigo e Winky ao camarote de honra mais cedo no dia do jogo. Winky devia dizer que estava guardando o lugar para o meu pai. Eu devia ficar sentado ali, invisível. Quando todos tivessem deixado o camarote, nós sairíamos. Winky iria parecer que estava sozinha. Ninguém jamais saberia.
– A pobrezinha deve gostar mesmo dele… – Lily suspirou pesarosa – Mesmo morrendo de medo de altura, ela quis ficar no camarote por ele…
– Elfos domésticos se afeiçoam muito aos mais jovens. – Tiago suspirou – É como já conversamos, eles tem um instinto maternal esquisito…
– Pelo menos isso explica porque ela estava sozinha no camarote. – Sirius bufou – E porque Crouch ficou desesperado quando ela foi encontrada perto da varinha que conjurou a marca… É claro que ele devia saber que foi o filho que conjurou a marca!
– Winky estava se arrastando pela floresta. – Tiago lembrou de repente – Como se estivesse arrastando uma pessoa invisível… Ela estava arrastando ele sob a capa! Elfos domésticos tem uma magia própria… Ela deve ter prendido ele de alguma forma.
— Mas Winky não sabia que eu estava bem mais forte. Estava começando a resistir à Maldição Imperius lançada por meu pai. Havia horas em que eu quase voltava a ser eu mesmo. Havia breves lapsos em que eu parecia me libertar do controle dele. Isto aconteceu lá, no camarote de honra. Foi como se eu estivesse saindo de um longo sono. Eu me vi em público, no meio de um jogo, e vi uma varinha saindo do bolso de um garoto na minha frente. Eu não tinha licença de usar uma varinha desde antes de Azkaban. Eu a roubei. Winky não viu. Ela tem medo de alturas. Ficou com o rosto tampado.
– Então meu eu-futuro estava certo. – Sirius lembrou – Sua varinha realmente foi roubada dentro do camarote…
— Menino Bartô, que menino danado! — sussurrou Winky, as lágrimas escorrendo entre seus dedos.
— Então você se apoderou da varinha — disse Dumbledore — e o que foi que fez com ela?
— Voltamos à barraca. Então ouvimos os gritos. Ouvimos os Comensais da Morte. Os que nunca tinham ido para Azkaban. Os que nunca tinham sofrido pelo meu amo. Os que tinham lhe virado as costas. Não estavam presos como eu. Estavam livres para ir procurá-lo, mas não fizeram isso. Estavam simplesmente se divertindo com os trouxas. As vozes deles me acordaram. Minha mente estava mais clara do que estivera em anos. Senti raiva. Tinha a varinha. Queria atacá-los pela deslealdade que fizeram ao meu amo. Meu pai saíra da barraca, tinha ido libertar os trouxas. Winky teve medo quando me viu tão furioso. Usou seu próprio tipo de mágica para me prender a ela. Me tirou da barraca, me levou para a floresta, para longe dos Comensais da Morte. Eu tentei impedi-la. Queria voltar para o acampamento. Queria mostrar àqueles Comensais da Morte o que significava lealdade ao Lord das Trevas, e puni-los por não a terem. Usei a varinha roubada para projetar a Marca Negra no céu. Os bruxos do Ministério chegaram. Lançaram Feitiços Estuporantes para todo lado. Um dos feitiços atravessou as árvores até onde eu e Winky estávamos. O vínculo que nos unia se partiu. Nós dois caímos estuporados.
– E quando encontraram Winky não viram ele, porque ele estava sob a capa. – Tiago constatou – Por isso Crouch foi desesperado para o lugar onde acharam Winky, deve ter achado o filho lá…
— Quando descobriram Winky, meu pai entendeu que eu devia estar por perto. Me procurou no mato em que ela fora encontrada e me descobriu caído no chão. Ele esperou até os outros funcionários do Ministério deixarem a floresta. Tornou a me sujeitar com a Maldição Imperius, e me levou para casa. Despediu Winky. Traíra a confiança dele. Me deixara arranjar uma varinha. Quase me deixara fugir.
Winky deixou escapar um grito de desespero.
– Ainda assim ela se sente péssima por ter sido mandada embora. – Remo suspirou pesaroso.
— Agora havia apenas meu pai e eu, sozinhos em casa. E, então... — a cabeça de Crouch girou molemente e um sorriso demente se espalhou por seu rosto. — Meu amo veio me buscar. Apareceu lá em casa tarde da noite, nos braços do servo dele, Rabicho. Meu amo descobrira que eu continuava vivo. Tinha capturado Berta Jorkins na Albânia. Torturou-a. Ela lhe contou muita coisa. Contou sobre o Torneio Tribruxo. Contou que o antigo auror Moody ia ensinar em Hogwarts. Ele a torturou até conseguir romper o Feitiço da Memória que meu pai lançara nela. Berta contou que eu fugira de Azkaban. Contou que meu pai me mantinha prisioneiro para me impedir de procurar meu amo. Então meu amo soube que eu continuava a ser um servo fiel, talvez o mais fiel de todos. Meu amo concebeu um plano baseado nas informações que Berta lhe dera. Precisava de mim. Chegou a nossa casa por volta da meia-noite. Meu pai atendeu a porta.
O sorriso no rosto de Crouch se alargou, como se ele recordasse o momento mais doce de sua vida. Os olhos castanhos e vidrados de Winky eram visíveis entre seus dedos. Ela parecia assombrada demais para falar.
— Foi muito rápido. Meu amo colocou meu pai sob a Maldição Imperius. Agora meu pai era o prisioneiro, o controlado. Meu amo o forçou a continuar a vida como sempre, a agir como se não houvesse nada errado. E eu fui libertado. Acordei. Voltei a ser eu mesmo, vivo, como não me sentia havia anos.
– Ele é demente! – Alice disse assustada – Um louco!
– Qualquer um que siga Voldemort é. – Lily disse com um suspiro triste – São sádicos, que gostam de matar e torturar…
Severo baixou os olhos constrangido, sentia cada uma daquelas palavras ser atirada nele, como facas afiadas.
— E o que foi que Lord Voldemort lhe pediu para fazer? — perguntou Dumbledore.
— Ele me perguntou se eu estava disposto a arriscar tudo por ele. Eu estava. Era o meu sonho, minha maior ambição, servi-lo, me pôr à prova. Ele me disse que precisava colocar um servo fiel em Hogwarts. Um servo que orientasse Harry Potter durante o Torneio Tribruxo sem parecer que estava fazendo isso. Um servo que vigiasse Harry Potter. Que garantisse que o garoto chegasse à Taça Tribruxo. Que transformasse a Taça em uma Chave de Portal, que levasse a primeira pessoa a tocá-la ao meu amo. Mas primeiro...
— Você precisava de Alastor Moody — disse Dumbledore. Seus olhos azuis faiscando, embora sua voz permanecesse calma.
— Rabicho e eu fizemos isso. Preparamos antes uma Poção Polissuco. Viajamos até a casa do auror. Moody resistiu. Houve uma grande confusão. Conseguimos dominá-lo a tempo. Nós o enfiamos à força no malão mágico. Tiramos alguns fios de cabelo e acrescentamos à poção. Eu a bebi e me transformei no duplo de Moody. Apanhei sua perna e seu olho. Estava pronto para enfrentar Arthur Weasley quando ele viesse resolver o caso com os trouxas que ouviram o estardalhaço. Espalhei as latas de lixo pelo quintal. Contei a Arthur Weasley que tinha ouvido intrusos em volta da casa, e que pusera as latas de lixo em movimento. Então reuni as roupas e os detectores das trevas de Moody, guardei tudo no malão e parti para Hogwarts.
– O verdadeiro Moody realmente ouviu intrusos. – Tiago bufou – O verdadeiro Moody não está nada louco!
– Crouch Jr. usou a fama de desequilibrado de Moody para justificar tudo. – Sirius suspirou – E é claro que ninguém investigou melhor…
– Acreditaram que era Moody mesmo. – Tiago deu de ombros – E por que não acreditariam, não é? Ninguém tinha motivos para desconfiar!
— Conservei-o vivo, dominado pela Maldição Imperius. Queria poder interrogá-lo. Descobrir o passado dele, aprender seus hábitos, de modo a enganar Dumbledore. Precisava também do cabelo dele para a Poção Polissuco. Os outros ingredientes foram fáceis de encontrar. Roubei pele de ararambóia das masmorras. Quando o Professor de Poções me encontrou na sala dele, eu disse que tinha ordens para revistá-la.
— E o que aconteceu com Rabicho depois que vocês atacaram Moody?
— Rabicho voltou para cuidar do meu amo, lá em casa, e para vigiar meu pai.
— Mas o seu pai fugiu — disse Dumbledore.
— Fugiu. Depois de algum tempo ele começou a resistir à Maldição Imperius, exatamente como eu tinha feito. Havia períodos em que ele sabia o que estava acontecendo. Meu amo achou que não era mais seguro o meu pai sair de casa. Forçou-o, então, a mandar cartas para o Ministério. Fez meu pai escrever dizendo que estava doente. Mas Rabicho não cumpriu seus deveres direito. Não o vigiou o bastante. Meu pai fugiu. Meu amo adivinhou que ele estaria vindo para Hogwarts. Ia admitir que me contrabandeara para fora de Azkaban.
– Por isso ele insistia em falar que Berta era culpa dele, e que o retorno de Voldemort era culpa dele. – Remo disse pensativo – E é claro que ele também se culpava pelo filho, mas não no sentido que pensamos…
— Meu amo mandou me avisar da fuga do meu pai. Mandou que eu o detivesse a qualquer custo. Então esperei e fiquei vigiando. Usei o mapa que pedira emprestado a Harry Potter. O mapa que quase pusera tudo a perder.
– E além de tudo, ele ainda vai contar sobre o nosso mapa para Dumbledore, Snape e McGonagall! – Sirius exclamou revoltado.
– E é claro que Dumbledore vai perceber. – Tiago bufou.
– Só espero que Harry tenha como recuperar o mapa depois disso. – Remo suspirou desolado – Foi trabalho demais para ser jogado fora!
— Mapa? — perguntou Dumbledore imediatamente. — Que mapa é esse?
— O mapa que Potter tem de Hogwarts. Potter me viu nele. Potter me viu roubando ingredientes para a Poção Polissuco da sala de Snape certa noite. Achou que eu era meu pai porque temos o mesmo nome. Apanhei o mapa de Potter naquela mesma noite. Disse a ele que meu pai odiava bruxos das trevas. Potter acreditou que eu estava atrás de Snape.
– Pelo menos ele não falou todas as funções do mapa. – Tiago suspirou pesaroso – Pelo que ele disse. Dumbledore não tem como saber que o mapa mostra as passagens para fora da escola e revela algumas senhas…
— Durante uma semana esperei meu pai aparecer em Hogwarts. Finalmente, uma noite, o mapa me indicou que ele estava entrando na propriedade. Vesti a minha Capa da Invisibilidade e desci ao encontro dele. Ele estava andando pela orla da Floresta. Então chegaram Potter e Krum. Esperei. Não podia machucar Potter, meu amo precisava dele. Potter foi correndo buscar Dumbledore. Eu estuporei Krum. Matei meu pai.
— Nããão!— gritou Winky. — Menino Bartô, menino Bartô, o que é que você está dizendo?
— Você matou seu pai — repetiu Dumbledore, no mesmo tom brando. — Que foi que você fez com o corpo?
— Levei-o para a Floresta. Cobri-o com a Capa da Invisibilidade. Tinha o mapa comigo. Acompanhei Potter entrar correndo no castelo. Ele encontrou Snape. Dumbledore se juntou aos dois. Acompanhei Potter deixar o castelo com Dumbledore. Saí da Floresta, dei a volta por trás deles e fui reencontrá-los. Disse a Dumbledore que Snape me informara aonde vir.
– Eu disse, – Tiago suspirou – Snape não diria a Moody onde Dumbledore foi…
– Quando o falso Moody disse que tinha um passado com Snape e Karkaroff, – Sirius disse pensativo – devia estar se referindo à época em que eles lutaram juntos pelo partido das trevas… E não o fato de Moody ter perseguido eles...
— Dumbledore me mandou ir procurar meu pai. Voltei para onde deixara o corpo dele. Fiquei observando o mapa. Quando todos tinham ido embora, transformei o corpo do meu pai. Transformei-o em osso... E, sempre vestindo a Capa da Invisibilidade, eu o enterrei na terra fofa diante da cabana de Hagrid.
Fez-se um silêncio profundo, exceto pelos soluços contínuos de Winky. Então Dumbledore falou:
— E hoje à noite...
— Eu me ofereci para levar a Taça Tribruxo para o labirinto antes do jantar — sussurrou Bartô Crouch. — Transformei-a em uma Chave de Portal. O plano do meu amo deu resultado. Ele voltou ao poder e eu vou receber honrarias que ultrapassam os sonhos de qualquer bruxo.
O sorriso demente iluminou mais uma vez suas feições e sua cabeça pendeu para o ombro, enquanto Winky continuava a se lamentar e a soluçar ao seu lado.
– Inacreditável. – Lily murmurou quando Frank fechou o livro – Que história inacreditável!
– Dessa vez nenhum de nós descobriu o que estava acontecendo. – Tiago suspirou decepcionado consigo mesmo.
– Não tinha como descobrir! – Sirius afirmou – Esse foi o plano mais mirabolante que eu já ouvi! E por algum motivo, tudo isso deu certo…
– E agora Voldemort está de volta. – Lily suspirou – E está sedento para se vingar de Harry…
– Por hora Harry está seguro em Hogwarts… Apesar de tudo, enquanto Dumbledore estiver por perto, Harry vai estar seguro. – Tiago disse afagando as costas de Lily com carinho.
– Vamos ler logo o próximo capítulo… – Remo disse preocupado – Ainda não sabemos exatamente o que aconteceu naquele cemitério, e talvez Dumbledore tenha uma boa explicação para Harry.
Rony pegou o livro que Frank lhe estendeu e abriu no capítulo seguinte:
– Capítulo XXXVI – Os caminhos se separam.
Hey leitores mais queridos do FeB! Eu tenho que confessar que não escrevi o bastante nessas duas últimas semanas. Para ser extremamente sincera não escrevi nem uma linha de MLHP durante esse mês, me peguei apaixonada por alguns outros projetos, mas eu prometo que vou me dedicar a essa fic nas próximas semanas. Ou vamos chegar àquele momento depressivo em que não vou ter capítulos a frente e vocês vão ter que me esperar escrever... E não queremos isso, definitivamente não queremos isso, porque eu não consigo escrever nada decente sob pressão. Enfim, vou ver se escrevo enquanto ainda tenho uma boa reserva, torçam por mim.
- Flaa: Obrigada você por sempre deixar uma palavra de incentivo e carinho nos comentários!
- Mariano Silva: Muito obrigada mesmo! Fico feliz que goste tanto da fic, eu realmente me esforço para retratar os personagens da melhor maneira possível.
- Carolina Black: Acho que justamente por sofrer muito por nunca ter tido a oportunidade de estar com os pais que Harry resolveu voltar no tempo com os livros... Além de poder mudar tudo, ele está vendo como os pais realmente eram. Eu duvido muito que qualquer uma das pessoas que estão na sala tenham ouvido qualquer coisa sobre as horcrux antes de ler o livro, ou no caso do Harry antes de tudo acontecer com ele. Não é uma informação muito fácil de encontrar, Slughorn sabia, mas ele já estava em Hogwarts antes de Dumbledore ser diretor. Quando Dumbledore se tornou diretor ele retirou os livros sobre horcrux da biblioteca. E não acho que seja o tipo de livro simples de encontrar. Talvez nas bibliotecas das famílias mais antigas (Malfoy, Black), na biblioteca de Hogwarts e talvez o ministério tenha uma boa biblioteca também... Enfim, não acho provavel que os marotos ou o Snape tenham se deparado com esse tipo de coisa. Até porque temos que lembrar que Dumbledore se esforçou bastante para manter tudo em segredo, ele não queria outros fazendo o mesmo que Voldemort por ai. Quanto à angustia por saber que Harry é uma horcrux, é complicado, porque Harry só descobre isso no final, então nem tem muito tempo para as pessoas ficarem angustiadas antes de Harry resolver morrer para salvar todo mundo.
- Julia Angelini: Fico feliz de verdade que o capítulo tenha te dado ânimo, é sempre muito bom saber que o que eu escrevo deixa as pessoas mais felizes de alguma maneira. A batalha no departamento de mistérios é realmente confusa, mas de alguma maneira eu acho que foi proposital a confusão, era para mostrar que muitas coisas estavam acontecendo ao mesmo tempo e o perigo vinha de todos os lados... E eu te entendo, também adoro os marotos (nunca incluo o Pettigrew quando falo marotos).
- Priscila Tonks Lupin: Ahh, já sei quem você é no grupo da fic, você devia aparecer e falar um oi, eu gosto de conhecer meus leitores! Fico feliz que esteja gostando tanto da fic, eu realmente me dedico muito a ela, me esforço ao máximo para desenvolver os personagens... E obrigada pela propaganda da fic por ai!
- Izabella Bella Black: Eu acho que Pedro realmente pensou que estava fazendo o melhor "negócio" quando se tornou um comensal da morte, ele pensou que estava se unindo ao lado vencedor... E quando Voldemort foi derrotado por Harry quando Harry tinha só um ano de idade ele percebeu a besteira que fez, mas não podia mais voltar atrás, Tiago estava morto e Sirius sabia que o traidor era o Pedro, então ele ficou escondido no mundo bruxo até Voldemort voltar, porque ele sabia que Voldemort voltaria de alguma forma, e nesse ponto, a única opção dele era ser fiel a Voldemort. Ou isso, ou ele era um traidor desgraçado mesmo. A maldição da morte não pode ser bloqueada, mesmo a proteção que Lily deixou em Harry não bloqueou a maldição, tanto que Harry recebeu a cicatriz e um pedaço da alma de Voldemort, e as varinhas se ligando não bloqueou a maldição, a varinha apenas se recusou a lutar contra a própria irmã, e na floresta, o feitiço também não foi bloqueado, Harry morreu e com ele parte da alma de Voldemort morreu, mas Harry voltou porque estava ancorado à vida pelo próprio Voldemort. E no final Voldemort provavelmente devia ter aprendido com os próprios erros e não ter usado a maldição da morte, mas ele usou e ela reverteu e foi isso que matou ele. Eles não gostam do Snape (em partes, Lily está até começando a perdoar ele), mas eles não são burros, eles sabem que quando o assunto é poções ou Artes das Trevas Snape é o especialista, e eles respeitam isso. Onde Pedro teria encontrado a varinha de Voldemort depois do terceiro livro? O terceiro livro aconteceu 12 anos depois da queda de Voldemort, a varinha dele certamente não estaria em algum lugar fácil de encontrar. Eu diria que quem quer que tenha entrado na casa depois que Hagrid retirou Harry dos esconbros supos que a pessoa que levou Harry levou a varinha junto. E com tudo o que estava acontecendo, duvido muito que o sumiço de uma varinha tenha gerado qualquer investigação. Ou as pessoas podem não ter encontrado nenhuma varinha, sempre achei estranho que Sirius tivesse uma varinha com ele quando ele fugiu de Azkaban, ele pode ter escondido as varinhas de Tiago e Lily quando foi à casa deles e os encontrou mortos quando Hagrid estava levando Harry, antes dele ser preso, quando a varinha dele com certeza foi confiscada pelo ministério. Já na fuga em massa de Azkaban em OdF eu suponho que os prisioneiros tenham invadido o lugar onde as varinhas são guardadas e por isso todos eles tinham as próprias varinhas... Na verdade JK nunca explicou muito bem como pessoas que supostamente estavam mortas e pessoas que estavam presas estavam com as próprias varinhas no final, então só posso fazer suposições. Como eu respondi em algum lugar ai pra cima, eu acho que livros sobre horcuxes são livros raros, pouquissímas pessoas parecem saber sobre elas nos livros, não acho que Snape os encontraria, pelo menos não com 17 anos e ainda estudando em Hogwarts, mesmo que alguém que ele conheça tenha acesso a esse tipo de livro, nesse momento ele não é realmente um comensal da morte. Remo não está sendo lerdo ao assumir que foi o Bagman, eles analisaram todas as pistas que eles tem até o momento, e a pessoa mais provável é o Bagman (Bagman sabia do torneio com antecedência, tinha como colocar o nome de Harry na taça, estava tentando ajudar Harry a vencer, e colocar a mão na taça primeiro, abertamente e tinha autoridade o bastante para ser a pessoa que colocou a taça no labirinto, além de ter sido julgado por se associar a comensais da morte no passado). Bagman é realmente um bom suspeito, não é lerdeza do Remo acreditar que é ele, Bagman é definitivamente o suspeito mais provável, tanto que o único argumento de Tiago é "não acho que seja ele". Suponho que alguém realmente tenha que gostar de estudar processo ou o sistema estaria comprometido... Mas eu detesto processo, é tudo muito chato. Gosto de civil porque é real. E sempre gostei de penal também.
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Comentários (12)
Oi Juh! ^^Não tenho muito o que comentar sobre o capítulo, mas estou por aqui firme e forte. E comentando quando o FeB permite (Tô na dúvida se o site é muito bugado ou se algum engraçadinho me lançou um belo Confundus). Thiago poderia substituir Sibila se vivesse muito tempo. muahaha =P Bem, deixei duas gotinhas de veneno de basilisco pelo meio do texto, não se importe muito... As palavras vc conhece. E no final, só dizer mal-feito feito! ;) Reta final, garota! Eu já estou ansiosa pelo próximo título. Quero saber o que o pessoal pensará do Harry com modo berrador humano ativado. hahaha AAAh, achei meio engraçado os marotos preocupados com Dumbledore e cia descobrindo o mapa, mas falando isso com o Severo do passado bem ao lado. hahaha Enfim, muito obrigada por levar esse projeto adiante e divertir essa nação potterhead incorrigível. Bjsss
2016-04-18oii..excelente cap.. posto logo toda a sérieeeeee ;))))))))))))))))))))))))))))))))))))0
2016-04-18