A segunda tarefa
– A segunda tarefa.
– Pelo menos Harry desvendou a pista do ovo. – Remo suspirou – Não vai chegar na tarefa completamente desinformado.
– Só espero que ele encontre o feitiço certo para a prova. – Lily disse preocupada.
— Você disse que já tinha decifrado a pista daquele ovo! — exclamou Hermione indignada.
– E você realmente acreditou nele? – Sirius perguntou risonho – Achei que você fosse mais esperta!
– Eu devia ter imaginado que se ele já tivesse mesmo decifrado a pista, teria nos contado o que seria a tarefa... – Hermione admitiu – Mas não tenho culpa por acreditar que ele não mentiria para mim!
– Só não queria que você ficasse me pressionando. – Harry deu de ombros – Não foi minha intenção te enganar.
— Fala baixo! — disse Harry aborrecido. — Só preciso... Dar uns retoques, tá bem?
Ele, Rony e Hermione estavam no fundo da classe de Feitiços dividindo uma mesa. Deviam estar praticando o oposto do Feitiço Convocatório — o Feitiço Expulsório.
Em vista do elevado potencial de acidentes graves, pois os objetos não paravam de voar pela sala, o Professor Flitwick entregara a cada aluno uma pilha de almofadas com as quais praticarem, baseado na teoria de que não machucariam ninguém se errassem o alvo. Era uma boa teoria, mas não estava funcionando muito bem. A mira de Neville era tão ruim, que a toda hora ele atirava acidentalmente pela sala objetos bem mais pesados — o Professor Flitwick, por exemplo.
– Isso foi um acidente! – Neville disse quando todos os presentes começaram a rir – Ele não devia ter entrado no caminho na hora em que eu estava realizando o feitiço!
– Ele não entrou no seu caminho. – Hermione disse com uma meia risada – Ele tentou fugir da cadeira que você enfeitiçou momentos antes.
— Esqueçam o ovo um minuto, está bem? — sibilou Harry, quando o professor passou voando resignadamente e foi aterrissar no alto de um grande armário.
— Estou tentando contar a vocês sobre o Snape e o Moody...
Essa aula era ideal para disfarçar uma conversa particular, porque todos se divertiam demais para dar atenção ao que eles faziam. Harry passou a última meia hora narrando suas aventuras aos cochichos e em prestações.
– Flitwick nunca teve a capacidade de controlar completamente uma turma. – Lily disse deixando uma risadinha escapar – Mas ele é um professor incrível.
— Snape disse que Moody tinha revistado a sala dele também? — sussurrou Rony, seus olhos brilhando de interesse enquanto usava a varinha para expulsar uma almofada (ela subiu no ar e derrubou o chapéu de Parvati). — Quê?... Então você acha que o Moody está aqui para ficar de olho no Snape e no Karkaroff?
— Bem, não sei se foi isso que Dumbledore pediu a ele para fazer, mas não tenho dúvida de que é isso que ele está fazendo — disse Harry agitando a varinha sem prestar muita atenção, ao que sua almofada executou uma estranha cambalhota antes de se erguer da mesa. — Moody falou que Dumbledore só deixa o Snape continuar aqui porque está dando a ele uma segunda chance ou uma coisa assim...
— Quê? — exclamou Rony, arregalando os olhos, e sua almofada seguinte rodopiou bem alto no ar, ricocheteou no lustre e caiu pesadamente sobre a escrivaninha de Flitwick. — Harry... Vai ver Moody acha que foi Snape quem pôs o seu nome no Cálice de Fogo!
— Ah, Rony, — disse Hermione, sacudindo a cabeça ceticamente — já achamos que Snape estava tentando matar o Harry e acabou que estava tentando salvar a vida dele, lembra?
– Hermione tem razão… – Remo disse hesitante – Não vejo porque Snape tentaria matar Harry poucos anos depois de se esforçar para salvar a vida dele.
– Quando Harry estava no primeiro ano, Snape não sabia que Voldemort estava tentando voltar, – Sirius considerou – agora talvez ele saiba e queira voltar às boas graças do autodenominado lorde.
– Para mim Snape desconfiava que Quirrell estava trabalhando para Voldemort. – Tiago murmurou resignado – O que tira todo o sentido da sua teoria… Além disso, você está se esquecendo de que o plano de Voldemort não envolve simplesmente matar Harry… Como Snape disse, Pedro falou que eles poderiam usar outro bruxo para o que quer que seja…
Hermione expulsou uma almofada que saiu voando pela sala e aterrissou dentro da caixa para a qual todos deviam estar mirando. Harry olhou para a amiga, pensando... Era verdade que Snape uma vez salvara sua vida, mas o estranho era que Snape decididamente o detestava, da mesma forma que detestara o pai de Harry quando freqüentaram a escola juntos. Snape adorava descontar pontos de Harry e certamente jamais perdera uma oportunidade de castigá-lo ou até de sugerir que ele fosse suspenso da escola.
– Eu diria que existe uma boa distancia entre castigar você e querer te matar. – Frank deu de ombros – Nós sabemos que ele só te trata mal por Tiago ser seu pai… Mas não acho que isso é motivo o bastante para querer te matar.
— Não importa o que Moody diz, — continuou Hermione — Dumbledore não é burro. Teve razão em confiar no Hagrid e no Professor Lupin, mesmo que um monte de gente não quisesse dar emprego aos dois, então por que não estaria certo a respeito de Snape, mesmo que Snape seja um pouco…
– Porque Remo e Hagrid não tiveram escolha. – Sirius disse categórico – Hagrid não escolheu nascer meio gigante, e Remo não escolheu ser mordido por um lobisomem! Snape escolheu se tornar um comensal da morte!
– Mas mesmo assim Dumbledore deve ter motivos para confiar nele. – Alice disse pensativa – Dumbledore não resolveria confiar em um comensal da morte de um dia para o outro.
– Isso pode até ser verdade. – Sirius rebateu – Mas a partir do momento em que eu nunca fui um comensal da morte e Dumbledore acreditou que eu tinha entregado meus amigos a Voldemort… Não consigo mais acreditar na capacidade dele de julgar o caráter de alguém!
– O pior é que consigo ver a razão nos dois argumentos. – Lily suspirou encarando Severo com decepção nos olhos – Nenhuma pessoa boa de coração escolhe ser comensal da morte e matar trouxas inocentes… Mas apesar da falha que Dumbledore teve com o Sirius, confio no julgamento dele… – completou fazendo Snape levantar os olhos para ela esperançoso, apenas para vê-la deitar a cabeça no ombro de Tiago.
– Por enquanto. – Sirius murmurou soturno.
—... Maligno — completou Rony prontamente. — Ora vamos, Hermione, então por que todos esses captores de bruxos das trevas estão revistando a sala dele?
— Por que o Sr. Crouch está fingindo que ficou doente? — perguntou Hermione, não dando atenção a Rony. — É meio estranho, não é, que ele não consiga comparecer ao Baile de Inverno, mas possa vir aqui no meio da noite quando dá na telha?
— Você não gosta do Crouch por causa daquele elfo doméstico, Winky — disse Rony, fazendo a almofada voar pela janela.
— Você quer pensar que Snape está armando alguma coisa — disse Hermione, mandando a almofada bem no fundo da caixa.
— Eu só queria saber o que foi que Snape fez com a primeira chance, se agora está na segunda — disse Harry sério, e, para sua grande surpresa, a almofada saiu voando pela sala e aterrissou bem em cima da de Hermione.
– Se você tivesse prestado um pouco mais de atenção no que Moody te disse, saberia. – Tiago disse encolhendo os ombros para Harry – Ele foi bem claro quando disse que odiava comensais da morte que ficaram em liberdade…
– E quando ele esfregou o braço que tem a marca negra. – Sirius disse olhando para Severo de soslaio.
– Tenho quase certeza de que Harry não sabe que Voldemort marca seus seguidores como os trouxas marcam o gado. – Remo disse enojado.
Harry, obedecendo ao desejo de Sirius de saber de qualquer coisa anormal que acontecesse em Hogwarts, lhe mandou, naquela noite, por uma coruja marrom, uma carta explicando toda a história da invasão da sala de Snape pelo Sr. Crouch, e a conversa entre Moody e Snape.
– Muito bem! – Sirius exclamou satisfeito – Pelo menos vamos saber a minha opinião sobre tudo isso.
Depois, com seriedade, voltou sua atenção para o problema mais urgente que tinha diante de si, como sobreviver uma hora debaixo d’água no dia vinte e quatro de fevereiro.
– E você poderia ter perguntado isso a Sirius na carta também. – Remo afirmou – Ele não deve demorar muito para te responder…
Rony gostou da idéia de usar outra vez um Feitiço Convocatório — Harry lhe falara dos aqualungs, e Rony não via razão para o amigo não convocar um equipamento desses da cidade trouxa mais próxima.
– Eu consigo ver pelo menos uma dúzia de problemas com esse plano. – Tiago afirmou coçando a cabeça – Para começar convocar o aparelho de uma loja trouxa seria roubo…
– E se algum trouxa percebesse o aparelho voando em direção a Hogwarts seria uma séria violação ao estatuto de sigilo. – Remo concordou com Tiago enfático.
– Além da distancia… – Sirius completou.
– Já entendi. – Rony disse sem esconder uma risada – É uma péssima ideia.
Hermione arrasou o plano mostrando que, no caso improvável de Harry conseguir aprender como operar um aqualung dentro da hora concedida, ele certamente seria desqualificado por violar o Código Internacional de Segredo em Magia — era demais esperar que nenhum trouxa visse o aqualung sobrevoando os campos a caminho de Hogwarts.
— Claro, a solução ideal seria você se transfigurar em submarino ou outra coisa assim — disse ela. — Se ao menos já tivéssemos dado Transformação Humana! Mas acho que só vamos ter essa matéria no sexto ano, e o resultado pode ser catastrófico se a pessoa não souber o que está fazendo...
– Acho que se transfigurar em um submarino também não seria muito inteligente… – Sirius disse risonho – Harry teria muita dificuldade de usar a varinha e pegar de volta o que quer que os sereianos tenham tomado. Se for se transfigurar em alguma coisa, faça uma transfiguração parcial em algum animal aquático, assim você ainda poderia usar os braços.
– E como você sabe, isso é ainda mais complexo do que uma transfiguração completa. – Tiago afirmou – Passamos boa parte do terceiro ano treinando transfiguração parcial, – explicou para os outros – precisávamos de um pouco mais de prática antes de chegar à animagia.
– Vocês são incríveis! – Alice disse admirada.
– Tínhamos que melhorar em transfigurações antes de alcançar nosso objetivo. – Sirius deu de ombros – Para vocês terem noção do trabalho que dá virar animagos, tivemos que carregar uma folha de mandrágora na boca por um mês!
– Perdemos muitos meses por causa disso. – Tiago afirmou – Sempre acabávamos engolindo a folha de mandrágora, ou ela caia durante a noite… E tínhamos que roubar folhas novas das estufas.
– Isso até eu sugerir que eles usassem um feitiço adesivo. – Remo disse com um meio sorriso.
– Depois o nosso maior problema foi tirar a folha da boca para continuar o processo. – Sirius disse rindo.
— É, acho que não vou gostar de andar por aí com um periscópio saindo da cabeça — disse Harry. — Imagino que sempre é possível atacar alguém na frente de Moody, e, quem sabe, ele fizesse isso por mim...
— Mas acho que Moody não iria deixar você escolher a coisa em que quer ser transformado — comentou Hermione séria. — Não, acho que a sua melhor chance é usar algum feitiço.
– As pessoas nunca se lembram das poções… – Snape murmurou rabugento.
Então, Harry, achando que logo, logo iria tomar um cansaço tão grande de biblioteca que ia durar para o resto da vida, enterrou-se mais uma vez entre os livros empoeirados, à procura de um feitiço que permitisse a um ser humano sobreviver sem oxigênio. Mas, embora ele, Rony e Hermione procurassem nas horas de almoço, noites e fins de semana inteiros, — embora Harry pedisse a Professora McGonagall uma permissão escrita para usar a Seção Reservada, e chegasse até a pedir ajuda à irritável Madame Pince, a bibliotecária que lembrava um urubu — os garotos não encontraram nadinha que permitisse a Harry passar uma hora embaixo d’água e sobreviver para contar a história.
– E eu achando que você era boa de pesquisa… – Sirius implicou com Hermione – Vocês não encontraram feitiços pro Harry enfrentar o dragão, e agora não encontram nada para ele ficar debaixo d’água…
Episódios já familiares de pânico estavam começando a perturbar o garoto agora e, mais uma vez, ele sentia dificuldade de se concentrar nas aulas. O lago, que Harry sempre encarara como mais um elemento na paisagem dos jardins, atraía seu olhar sempre que ele se aproximava da janela de uma sala de aula, uma grande massa cinza-grafite de água friissima, cujas profundezas sombrias e enregelantes começavam a parecer distantes como a lua.
Do mesmo jeito que acontecera antes, quando ele precisara enfrentar o Rabo-Córneo, o tempo estava correndo como se alguém tivesse enfeitiçado os relógios para andarem em alta velocidade. Faltava somente uma semana para o dia vinte e quatro de fevereiro (ainda havia tempo)... Faltavam cinco dias (logo ele ia achar alguma coisa)... Faltavam três dias (por favor, tomara que eu ache alguma coisa... Por favor...).
Faltando apenas dois dias, Harry começou a perder o apetite. A única coisa boa do café da manhã de segunda-feira foi o regresso da coruja marrom que ele enviara a Sirius. Harry soltou o pergaminho, desenrolou-o e viu a menor carta que o padrinho já lhe escrevera.
“Mande dizer a data do próximo fim de semana em Hogsmeade pela mesma coruja”.
Harry virou e revirou o pergaminho, e olhou o verso na esperança de ver mais alguma coisa, mas estava em branco.
– Você não pediu ajuda para a tarefa. – Remo disse encolhendo os ombros para Harry – Estava tão ocupado pensando em Snape e Moody que nem pensou que poderia ter dificuldade em encontrar uma maneira de ficar uma hora debaixo d’água…
– Mas vamos pensar pelo lado bom. – Sirius disse com um grande sorriso – Parece que você vai me ver em breve!
– Pelo menos vamos saber como você está de verdade. – Tiago concordou com um meio sorriso.
— Sem ser este, o próximo fim de semana — cochichou Hermione, que lera a carta por cima do ombro de Harry. — Toma aqui a minha pena e manda logo essa coruja de volta.
O garoto rabiscou a data no verso da carta de Sirius, amarrou-a na perna da ave e observou-a levantar vôo. Que é que ele tinha esperado? Conselhos para sobreviver debaixo d’água? Estivera tão preocupado em contar a Sirius o que havia acontecido entre Snape e Moody, que se esquecera completamente de mencionar a pista do ovo.
— Para que é que ele quer saber a data do próximo fim de semana de Hogsmeade? — perguntou Rony.
– Não é óbvio? – Tiago perguntou a Rony, franzindo a testa – Ele vai encontrar vocês em Hogsmead.
– Suspeito que eu esteja vivendo em Hogsmead de qualquer forma. – Sirius disse pensativo – Deve ser bem mais simples de me manter atualizado sobre o mundo bruxo, roubando jornais e entreouvindo conversas. E também é perto o bastante de Hogwarts.
— Não sei — respondeu Harry sem emoção. A felicidade momentânea que lampejara em seu peito ao ver a coruja se apagara. — Vamos... Trato das Criaturas Mágicas.
Fosse porque Hagrid estava tentando compensar o fiasco dos explosivins ou porque agora só restavam dois bichos, ou ainda porque ele estava tentando provar que era capaz de fazer tudo que a Professora Grubbly-Plank fazia, o fato é que ele deu continuidade às aulas dela sobre unicórnios, desde sua volta ao trabalho.
Os alunos ficaram sabendo que Hagrid conhecia tanto a respeito de unicórnios quanto de monstros, embora ficasse evidente que parecia desapontado que os bichos não tivessem presas envenenadas.
Para hoje, ele conseguira capturar dois filhotes de unicórnio. Ao contrário dos animais adultos, estes eram absolutamente dourados. Parvati e Lilá tiveram arroubos de prazer ao vê-los, e até Pansy Parkinson teve que se esforçar para esconder o quanto gostava dos filhotes.
— Mais fáceis de localizar que os adultos — disse Hagrid à turma. — Eles ficam prateados aí pelos dois anos de idade e ganham chifres por volta dos quatro. Só ficam branco-puro quando atingem a idade adulta, aí pelos sete anos. São um pouco mais confiantes quando filhotes... Não se incomodam tanto com os garotos... Vamos, cheguem mais perto para poderem fazer carinho neles se quiserem... Dêem a eles alguns torrões de açúcar...
– Eu disse que ele era completamente capaz de dar aulas “normais”. – Sirius disse fazendo aspas com os dedos – Ele só precisava saber que era isso o que vocês queriam!
— Você está bem, Harry? — murmurou Hagrid, afastando-se um pouco para o lado, enquanto a maioria dos alunos se aglomerava em torno dos bebês unicórnios.
— Tô.
— Só nervoso, não é?
— Um pouco.
— Harry, — disse Hagrid, fechando a mão maciça no ombro do garoto, fazendo seus joelhos cederam sob aquele peso — estive preocupado antes de ver você enfrentar aquele Rabo-Córneo, mas agora sei que está à altura. Você vai se dar bem. Já decifrou a nova pista, não?
Harry confirmou com a cabeça mas, ao fazer isso, se apoderou dele uma vontade louca de confessar que não tinha a menor idéia como iria sobreviver no fundo do lago durante uma hora. Ele ergueu os olhos para Hagrid — quem sabe o amigo precisava entrar no lago algumas vezes para cuidar das criaturas que viviam lá? Afinal, ele cuidava de todo o resto na propriedade...
— Você vai vencer — rosnou Hagrid, dando mais algumas palmadinhas no ombro de Harry que chegou a sentir que afundara alguns centímetros no chão lamacento. — Sei disso. Posso até sentir. Você vai vencer, Harry.
Harry simplesmente não teve coragem de apagar o sorriso feliz e confiante do rosto de Hagrid.
– Você devia ter perguntado para ele. – Tiago disse categórico – Ele ficaria muito feliz em te ajudar, se sentiria importante por você pedir conselhos a ele.
Fingindo que estava interessado nos filhotes de unicórnio, forçou um sorriso para o amigo e se adiantou para acariciar os animais com os colegas.
Na noite que antecedeu a segunda tarefa, Harry já se sentia como se estivesse paralisado por um pesadelo. Tinha plena consciência que se conseguisse, mesmo por milagre, encontrar um feitiço que servisse, seria um trabalho de Hércules aprendê-lo da noite para o dia. Como podia ter deixado isto acontecer? Por que não começara a trabalhar na pista do ovo mais cedo? Por que deixara seus pensamentos vagarem durante as aulas — e se um professor tivesse mencionado como respirar debaixo d’água?
– Se algum professor tivesse mencionado eu saberia, – Hermione afirmou taxativa – eu não deixo meus pensamentos vagarem durante as aulas.
– Achei que com Rony e Hermione te ajudando você conseguiria encontrar o feitiço certo. – Lily suspirou decepcionada.
– Claro, – Gina revirou os olhos – porque só Rony e Hermione são amigos dele o bastante para ajudar, não é? – bufou.
– Ele poderia pedir ajuda para a Grifinória inteira… Ou pelo menos para as pessoas mais próximas. – Neville deu de ombros – Eu poderia ter te informado sobre guelricho no mesmo minuto, estava lendo um livro que falava nele na época.
– E aposto que Fred e Jorge seriam perfeitamente capazes de te dar ideias criativas. – Gina disse ligeiramente chateada.
– O livro que falava do guelricho estava no nosso dormitório o tempo todo. – Neville encolheu os ombros – Mas você não perguntou.
– Eu sei. – Harry bufou – Eu já disse uma dúzia de vezes enquanto liamos esse livro, eu fui um idiota!
– Todos nós fomos meio idiotas durante aquele ano. – Rony afirmou em tom de pretexto.
– Eu, Gina e Neville não fomos nem um pouco idiotas durante aquele ano. – Hermione disse cruzando os braços sobre o peito – Não use outras pessoas para justificar os seus erros.
Ele, Rony e Hermione estavam sentados na biblioteca quando o sol se pôs lá fora, virando febrilmente páginas e mais páginas de feitiços, escondidos um do outro por pilhas maciças de livros em cima das mesas de cada um. O coração de Harry dava um enorme salto cada vez que ele via a palavra "água" em uma página, mas um número bem maior de vezes era apenas “Meça um litro de água, duzentos e cinqüenta gramas de folhas de mandrágora picadas e pegue um tritão...”
— Acho que não é possível — disse a voz de Rony do lado oposto da mesa. — Não tem nada. Nadinha. O mais próximo que chegamos foi aquela coisa para secar poças e poços, aquele Feitiço Secante, mas nem de longe teria potência para secar o lago.
— Tem que haver alguma coisa — murmurou Hermione, trazendo uma vela para mais perto. Seus olhos estavam tão cansados que ela estava lendo as letrinhas miúdas de Encantamentos e Feitiços Antigos e Esquecidos com o nariz a dois centímetros da página. — Nunca teriam proposto uma tarefa que fosse inviável.
— Pois propuseram — disse Rony. — Harry, amanhã, vá até o lago, meta a cabeça dentro dele e grite para os sereianos devolverem o que afanaram, e vê se eles mandam a coisa de volta. É o melhor que você tem a fazer, companheiro.
— Existe uma maneira de fazer! — disse Hermione zangada. — Simplesmente tem que existir!
– Existem várias maneiras. – Remo revirou os olhos – Vocês é que não encontraram… Mas se Harry tivesse se esforçado para decifrar o ovo antes, ou se tivesse pedido ajuda para as pessoas…
– Ele vai conseguir. – Sirius afirmou batento os pés no chão ansioso – Sei que vai…
Ela parecia estar tomando como ofensa pessoal o fato de a biblioteca não ter informações úteis sobre o assunto, a biblioteca jamais lhe falhara antes.
— Eu sei o que deveria ter feito — disse Harry, descansando a cabeça sobre o livro Truques Marotos Para Marotos de Astutos. — Eu devia ter aprendido a virar um animago como Sirius.
– Não deixa de ser uma boa ideia! – Sirius afirmou com sua risada canina – Mas você não poderia virar um animago do dia para a noite… Leva anos para conseguir de verdade.
– E para conseguir se tornar um animago você precisa ser ótimo em transfiguração. – Tiago disse dando a Harry um meio sorriso – E se você fosse ótimo em transfiguração saberia fazer uma transfiguração parcial, o que seria o bastante para essa prova.
— É, você poderia se transformar num peixinho dourado sempre que quisesse! — exclamou Rony.
— Ou num sapo — bocejou Harry. Estava exausto.
— Leva anos para alguém virar um animago, depois ele tem que se registrar e tudo o mais — disse Hermione vagamente, agora espremendo os olhos para ler o índice de Estranhos Dilemas da Magia e Suas Soluções.
– Como você bem sabe Hermione, – Tiago disse dando uma piscadela para a garota – existem diversos animagos ilegais por ai… Tenho certeza de que Sirius, eu e Pedro não fomos os únicos a conseguir sem a ajuda do ministério da magia!
– Ser um animago ilegal é bem mais útil… – Sirius deu de ombros – Eu nunca poderia ter fugido da prisão se eles soubessem que eu sou um animago. Eles teriam me posto em uma cela adaptada para impedir a transformação.
— A Professora McGonagall falou para a gente, lembram... A pessoa tem que se registrar na Seção de Prevenção do Uso Indevido da Magia... Dizer em que animal se transforma, quais as marcas características, por isso não pode abusar...
— Mione, eu estava brincando — disse Harry exausto. — Eu sei que não tenho a menor chance de me transformar em sapo até amanhã de manhã...
— Ah, isto aqui não adianta nada — exclamou Hermione, fechando o livro com violência. — Quem é que vai querer que os pêlos do nariz cresçam em cachinhos?
— Eu não me importaria — disse a voz de Fred Weasley. — Seria um grande tópico para estimular conversas, não acham não?
Harry, Rony e Hermione levantaram a cabeça. Fred e Jorge tinham acabado de sair de trás de umas estantes.
– Seria o momento ideal para perguntar se ele sabiam algum feitiço. – Gina disse irritada – E eles provavelmente sabiam… Pelo menos o cabeça de bolha… Afinal, já estavam no sexto ano.
— Que é que vocês dois estão fazendo aqui? — perguntou Rony.
— Procurando vocês — disse Jorge. — McGonagall quer ver você, Rony. E você Mione.
— Por quê? — perguntou a garota, parecendo surpresa.
— Sei lá... Mas estava com a cara meio fechada — informou Fred.
— Disse que era para levarmos vocês à sala dela — disse Jorge.
Rony e Hermione olharam para Harry, que sentiu o estômago despencar.
Será que a Professora McGonagall ia brigar com Mione e Rony? Talvez ela tivesse notado que os dois o estavam ajudando à beça, quando ele devia estar procurando sozinho uma solução para realizar a tarefa?
– É claro que McGonagall não brigaria com eles por estarem te ajudando. – Tiago afirmou com uma gargalhada – Não há nada de errado em pedir ajuda nas tarefas, e McGonagall não veria nada de ruim nisso.
– Então o que McGonagall pode querer com Rony e Hermione na véspera da prova? – Lily perguntou curiosa.
– Só lendo para saber. – Remo disse ansioso fazendo sinal para Hermione retomar a leitura.
— Encontramos você na sala comunal — disse Hermione a Harry, ao se levantar para acompanhar Rony, os dois pareciam muito ansiosos. — Leva o maior número de livros que puder, OK?
— OK. — disse Harry inquieto.
Lá pelas oito horas, Madame Pince apagara as luzes e apareceu para expulsar Harry da biblioteca. Cambaleando sob o peso do maior número de livros que pôde carregar, Harry voltou à sala comunal da Grifinória, puxou uma mesa para um canto e continuou a busca. Não havia nada em Mágicas Malucas Para Bruxos Doidões... Nada em Um Guia Para a Feitiçaria Medieval, para não mencionar as Proezas Submarinas na Antologia de Feitiços do Século XVIII, ou em Habitantes Medonhos das Profundezas ou Poderes que Você Desconhecia Possuir e o Que Fazer Com Eles Agora Que os Descobriu.
Bichento subiu ao colo de Harry e se enroscou ronronando profundamente.
A sala comunal foi se esvaziando aos poucos a volta de Harry. As pessoas não paravam de lhe desejar boa sorte para a manhã seguinte, com vozes animadas e confiantes como a de Hagrid, todos aparentemente convencidos de que ele estava prestes a fazer outra fantástica demonstração como a da primeira tarefa. Harry não conseguia responder aos colegas, simplesmente acenava com a cabeça, com a sensação de que havia uma bola de golfe entalada em sua garganta.
– Talvez você pudesse ter perguntado a eles. – Gina disse revirando os olhos – Várias pessoas do sexto e sétimo anos passaram por você desejando boa sorte. E alguns até te perguntaram se precisava de alguma coisa! Mas acho que você nem ouviu.
– Gina tem razão. – Tiago disse balançando as pernas ansioso – A essa altura qualquer ajuda seria bem vinda… Eu perguntaria até para pessoas de outras casas se não soubesse a resposta poucas horas antes da prova!
– Harry nunca foi tão extrovertido quanto você. – Remo justificou encolhendo os ombros – Mas achei que pelo menos para os gêmeos ele iria perguntar...
Por volta da meia-noite, ele ficou sozinho na sala com Bichento. Procurara em todos os livros restantes e Rony e Hermione não tinham voltado.
– Rony e Hermione não tinham voltado até meia-noite? – Lily perguntou surpresa – McGonagall não manteria vocês na sala dela até tão tarde!
– É claro! – Tiago disse dando um tapa na própria testa – Os sereianos roubaram de Harry algo que faria muita falta… O que faria mais falta a Harry do que os amigos?
– Você quer dizer que eles levaram Rony e Hermione para o fundo do lago e Harry vai ter uma hora para resgatar os dois? – Alice perguntou impressionada.
– Faria muito sentido. – Sirius disse pensativo – Hermione e Rony não teriam abandonado Harry em um momento tão crítico!
– Mas a música também dizia que se Harry não resgatasse o que foi roubado, os sereianos ficariam com o que quer que fosse para sempre. – Alice disse preocupada.
– E você acredita nisso? – Remo revirou os olhos – Dumbledore não permitiria que acontecesse nada de mal a eles… E além disso, isso é apenas uma prova em uma competição entre bruxos, eles só colocaram algo roubado dos participantes para dar um pouco mais de emoção! Se eles mandassem os campeões entrarem no lago para pegar uma pedra específica no fundo, eles entrariam!
Terminou tudo, disse ele a si mesmo. Você não vai dar conta. Simplesmente terá que ir até o lago de manhã e dizer aos juizes... Imaginou-se explicando que não seria capaz de executar a tarefa.
Visualizou os olhos de Bagman arregalados de surpresa, o sorriso cheio de dentes amarelos de Karkaroff expressando sua satisfação. Conseguiu até ouvir Fleur Delacour comentar:
— Eu sabia... ele é jóvan demais, é apenes uma crriança.
Ele viu Malfoy fazendo o distintivo “POTTER FEDE” lampejar sentado bem na frente dos espectadores, viu o rosto incrédulo e cabisbaixo de Hagrid...
– Você é realmente dramático. – Tiago disse balançando as pernas ansioso – E você não deveria desistir…
– Ou poderia ter simplesmente subido as escadas para o nosso dormitório e perguntado. – Neville deu de ombros.
Esquecido de que Bichento estava em seu colo, Harry se levantou muito de repente, o gato bufou zangado ao aterrissar no chão, lançou ao garoto um olhar de desagrado e se retirou com o rabo de escova de garrafa no ar, mas Harry já ia correndo escada acima para o dormitório... Apanharia a Capa da Invisibilidade e voltaria à biblioteca, ficaria lá a noite inteira se fosse preciso...
— Lumus — sussurrou ele quinze minutos depois, ao abrir a porta da biblioteca. A ponta da varinha acesa, ele andou ao longo das estantes, apanhando mais livros — livros de azarações e feitiços, livros sobre sereianos e monstros aquáticos, livros sobre bruxas e bruxos famosos, sobre invenções mágicas, sobre qualquer coisa que pudesse incluir uma referência passageira à sobrevivência debaixo d’água.
Carregou-os para uma mesa, então pôs mãos à obra, examinando-os com o feixe de luz fino de sua varinha, ocasionalmente consultando seu relógio...
Uma hora da manhã... Duas horas... A única maneira de continuar era dizer a si mesmo, repetidamente: Próximo livro... No próximo... No próximo...
A sereia no quadro do banheiro dos monitores-chefe estava dando risadas.
Harry flutuava como uma rolha na água borbulhante próximo ao rochedo do quadro, enquanto ela agitava a Firebolt dele na mão.
– Você sempre tem sonhos muito interessantes. – Gina disse sem conseguir resistir a dar uma risada.
– Você dormiu sem encontrar o feitiço! – Remo exclamou preocupado – A prova vai começar em poucas horas e você não tem ideia de como respirar debaixo d’água!
– Isso não é possível. – Tiago disse desolado – Ele não pode não cumprir a prova!
– Não é tão ruim. – Lily suspirou apertando o ombro de Tiago com carinho – Nós nem queríamos que Harry participasse desse torneio de qualquer jeito.
– Vendo por esse lado, – Frank deu de ombros – Lily tem razão, não faria mal nenhum Harry não conseguir cumprir a tarefa.
– Só faria mal à reputação dele! – Sirius disse nervoso – Imaginem a humilhação! Draco se divertiria muito!
— Venha buscá-la! — riu a sereia maliciosamente. — Anda, salta!
— Não posso — ofegou Harry, tentando arrebatar a Firebolt ao mesmo tempo em que lutava para não afundar. — Me dá a vassoura!
Mas a sereia apenas o cutucava dolorosamente do lado do corpo com o cabo da vassoura, caçoando dele.
— Isso dói, sai para lá, ai...
— Harry Potter precisa acordar, meu senhor!
— Pára de me cutucar...
— Dobby tem que cutucar Harry Potter, meu senhor, ele tem que acordar!
Harry abriu um olho. Ainda estava na biblioteca, a Capa da Invisibilidade escorregara de sua cabeça e ele adormecera, e um lado do seu rosto estava colado na página de Onde Há Uma Varinha, Há Uma Saída.
– Você teve sorte da capa te descobrir durante a noite. – Sirius disse – As pessoas demorariam horas para te encontrar se você tivesse ficado sob a capa… Já aconteceu com Tiago algumas vezes.
– Não foi culpa minha. – Tiago justificou – Nas duas vezes em que isso aconteceu, estávamos nos revezando para ficar com Remo na ala hospitalar durante a noite depois de uma lua cheia ruim… Quando voltei para a sala comunal e fui dormir esqueci que estava sob a capa…
– Nós ficamos loucos procurando Tiago pela escola inteira, – Sirius disse com uma meia risada – ele só acordou depois do almoço sem saber o que estava acontecendo nem que perdeu a manhã inteira de aulas.
Ele se sentou, ajeitou os óculos, piscando para a intensa claridade do dia.
— Harry Potter precisa se apressar! — guinchou Dobby. — A segunda tarefa vai começar dentro de dez minutos e Harry Potter...
– Acabou! – Remo suspirou desolado – Harry não vai cumprir a prova, e a escola inteira vai rir da cara dele… Tudo porque você se recusa a pedir ajuda!
— Dez minutos? — grasnou Harry. — Dez... Dez minutos?
Ele olhou para o relógio de pulso. Dobby tinha razão. Eram nove e vinte.
Um enorme peso morto pareceu escorregar do peito de Harry para o seu estômago.
— Depressa, Harry Potter! — guinchou Dobby, puxando a manga do garoto. — O senhor devia estar lá embaixo no lago como os outros campeões, meu senhor!
— Tarde demais, Dobby — disse Harry sem esperanças. — Não vou fazer a tarefa, não sei como...
— Harry Potter vai fazer a tarefa! Dobby soube que Harry não encontrou o livro certo, então Dobby encontrou para ele!
— Quê? — exclamou Harry. — Mas você não sabe qual é a segunda tarefa...
— Dobby sabe, meu senhor! Harry Potter tem que entrar no lago e procurar o Wheezy dele...
– Wheezy? – Alice perguntou confusa – E o que é um Wheezy?
– Tenho a impressão de que Dobby quis dizer Weasley. – Sirius disse apontando para Rony – Mas mesmo se Dobby encontrou o livro certo para o Harry, não dá tempo de aprender feitiço nenhum em menos de 10 minutos!
– Talvez o elfo tenha sido mais esperto que todo mundo e tenha ido atrás de uma poção. – Severo disse contundente.
— Procurar o meu o quê?
—... E recuperar o Wheezy dele que está com os sereianos!
— O que é um Wheezy?
— O seu Wheezy, meu senhor, o seu Wheezy, Wheezy que dá a Dobby o suéter!
Dobby deu uns puxões no suéter marrom, que fora encolhido, e que ele estava usando por cima dos calções.
— Quê!— ofegou Harry. — Eles estão... Eles estão com o Rony?
— A coisa que mais fará falta a Harry Potter, meu senhor! — guinchou Dobby.
– Isso é muito comovente. – Lily disse olhando de Harry para Rony com carinho – Saber que seu melhor amigo é o que mais lhe faria falta.
– E nós já tivemos a prova disso, – Sirius disse – quando Rony deixou Harry antes da primeira tarefa, vimos como ele fazia falta.
– Acho que nunca disse isso, – Rony disse a Harry ligeiramente emocionado – mas fico muito honrado em ser o que mais lhe faria falta…
– Mas se Rony é o que os sereianos roubaram de Harry, onde está Hermione? – Alice perguntou confusa.
– É uma ótima pergunta! – Remo disse virando-se para Hermione, que apenas continuou lendo.
— Mas passada a hora... Adeus esperança de achar — recitou Harry, arregalando os olhos para o elfo, horrorizado. — Tarde demais, foi-se, jamais voltara... Dobby, o que é que eu tenho que fazer?
— O senhor tem que comer isto, meu senhor! — guinchou o elfo, e levando a mão ao bolso dos calções retirou uma bola que parecia feita de rabos de rato, viscosos e verde-acinzentados. — Na hora em que for entrar no lago, meu senhor... Guelricho!
— Que é que isso faz? — perguntou Harry olhando para a erva.
— Vai fazer Harry Potter respirar embaixo d’água, meu senhor!
— Dobby — disse Harry histérico — escuta aqui, você tem certeza?
O garoto não esquecera de todo que a última vez que Dobby tentara "ajudá-lo", ele acabara sem ossos no braço direito.
– E você tinha pedido para ele nunca mais tentar te ajudar. – Tiago disse com um meio sorriso – Ainda bem que Dobby é um elfo-doméstico teimoso!
—... Absoluta certeza, meu senhor! — disse o elfo sério. — Dobby escuta coisas, meu senhor, ele é um elfo doméstico, anda por todo o castelo quando acende as lareiras e limpa os pisos. Dobby ouviu a Professora McGonagall e o Professor Moody na sala de professores, conversando sobre a próxima tarefa... Dobby não pode deixar Harry Potter perder o Wheezy dele!
As dúvidas de Harry desapareceram. Pondo-se em pé de um salto, ele despiu a Capa da Invisibilidade, guardou-a na mochila, agarrou o guelricho, enfiou-o no bolso e saiu correndo da biblioteca com Dobby nos calcanhares.
— Dobby devia estar na cozinha, meu senhor! — guinchou o elfo quando desembestavam pelo corredor. — Vão dar falta de Dobby, boa sorte, Harry Potter, meu senhor, boa sorte!
— Vejo você depois, Dobby! — gritou Harry, e saiu desembalado pelo corredor, descendo as escadas três degraus de cada vez.
No saguão de entrada havia uns poucos retardatários, todos saindo do Salão Principal depois do café em direção às portas duplas de carvalho da entrada, para ir assistir à segunda tarefa. Ficaram olhando Harry passar correndo e mandar Colin e Denis Creevey pelo ar ao saltar os degraus de acesso aos jardins ensolarados e frios.
Enquanto corria pelos gramados, viu que as arquibancadas que tinham rodeado o picadeiro dos dragões em novembro agora estavam dispostas ao longo da margem oposta do lago, quase explodindo de tão lotadas, e que se refletiam nas águas embaixo; a algazarra excitada dos espectadores ecoava estranhamente pela superfície das águas enquanto Harry corria pela outra margem do lago em direção aos juizes, sentados a uma mesa coberta com tecido dourado. Cedrico, Fleur e Krum estavam parados ao lado da mesa, observando Harry se aproximar correndo.
– As pessoas já estavam começando a comentar que você havia desistido. – Gina contou – Malfoy chegou a dizer que tinha certeza de que você tinha fugido da escola durante a noite.
– Dino, Simas e eu ficamos muito preocupados com vocês, – Neville disse virando-se de Rony para Harry – vimos você rodeado de livros até tarde, e quando acordamos nenhum dos dois estava no dormitório e as camas estavam arrumadas… Todo mundo da Grifinória comemorou muito quando você apareceu!
— Estou... Aqui... — ofegou Harry, derrapando na lama ao parar e, acidentalmente, sujando as vestes de Fleur.
— Onde é que você esteve? — disse uma voz autoritária censurando-o. — A tarefa vai começar. — Harry olhou para os lados. Percy Weasley estava sentado à mesa dos juizes — o Sr. Crouch mais uma vez não comparecera.
– Poucas semanas antes Crouch estava bem o bastante para vasculhar a sala de Snape. – Sirius disse desconfiado – Mas na hora de cumprir as obrigações dele como jurado ele some? Isso é definitivamente suspeito.
– E completamente sem sentido! – Tiago concordou enfático.
— Ora, vamos, Percy! — disse Ludo Bagman, que parecia extremamente aliviado de ver Harry. — Deixe-o recuperar o fôlego!
Dumbledore sorriu para Harry, mas Karkaroff e Madame Maxime não pareceram nem um pouco satisfeitos de vê-lo... Era óbvio, pela expressão dos seus rostos, que tinham pensado que o campeão não ia aparecer.
Harry dobrou o corpo, as mãos nos joelhos, procurando respirar; sentia uma pontada do lado do corpo que lhe dava a sensação de ter uma faca enfiada nas costelas, mas não havia tempo para se livrar dela, Ludo Bagman agora andava entre os campeões, espaçando-os pela margem a intervalos de três metros. Harry ficou bem no fim da fila, ao lado de Krum, que estava de calções de banho e segurava a varinha em posição.
– Para ser sincera, você parecia um tanto ridículo completamente vestido enquanto os outros campeões estavam preparados com roupas de banho e varinha em punho. – Gina confessou com uma risada – Algumas pessoas chegaram a dizer que você só descobriu qual seria a prova quando nós descobrimos!
– Você definitivamente parecia totalmente despreparado. – Neville concordou com Gina enfático.
– E agora vocês sabem que isso é quase verdade. – Sirius disse rindo – Ele até sabia qual era a tarefa, mas só descobriu como cumprí-la dez minutos antes.
— Tudo bem, Harry? — sussurrou Bagman, afastando Harry um pouco mais de Krum. — Sabe o que é que tem de fazer?
— Sei — ofegou o garoto, massageando as costelas.
– Isso me dá ainda mais certeza de que ele apostou em você. – Tiago suspirou ligeiramente decepcionado – Ele tenta te ajudar demais…
Bagman lhe deu um breve aperto no ombro e voltou à mesa dos juizes, depois apontou a varinha para a própria garganta como fizera na Copa Mundial, disse "Sonorus!" e sua voz reboou sobre as águas escuras até as arquibancadas.
— Bem, os nossos campeões estão prontos para a segunda tarefa, que começará quando eu apitar. Eles têm exatamente uma hora para recuperar o que foi tirado deles. Então, quando eu contar três. Um... Dois... Três!
O apito produziu um som agudo no ar frio e parado, as arquibancadas explodiram em vivas e palmas, sem se virar para ver o que os outros campeões estavam fazendo, Harry descalçou os sapatos e as meias, tirou um punhado de guelricho do bolso, meteu-o na boca e entrou no lago.
– Estava aqui pensando. – Sirius disse de repente – O que exatamente vocês fizeram por uma hora enquanto os campeões estavam dentro do lago?
– Olhamos para a superfície do lago. – Gina disse com uma gargalhada – Conversamos uns com os outros, joguei cartas com Fred, Jorge e Lino…
– Imagino que essa prova tenha sido um bocado entediante. – Tiago disse sem conseguir segurar as risadas.
– Nada demais! – Gina deu de ombros – Tínhamos aulas com Snape toda semana! – completou aumentando as gargalhadas na sala.
– Mas a prova foi realmente mal planejada! – Lily comentou quando as risadas diminuíram – Poderiam ter arrumado um jeito de vocês saberem o que estava acontecendo debaixo d’água…
O lago estava tão frio que ele sentiu a pele das pernas arder como se estivesse no fogo e não na água, à medida que ele foi se aprofundando no lago, agora a água lhe batia pelos joelhos, e seus pés, que rapidamente perdiam a sensibilidade, escorregavam pelo lodo e as pedras chatas e limosas. Harry mastigou o guelricho com mais força e pressa que pôde, era borrachudo e viscoso como tentáculos de polvo.
Com a água gélida pela cintura ele parou, engoliu a erva e esperou que alguma coisa acontecesse. Ouviu os espectadores rirem e concluiu que devia estar com cara de idiota, entrando no lago sem dar sinal algum de poder mágico.
– As pessoas que estavam rindo eram da Sonserina. – Neville contou – O resto da escola estava te observando com bastante paciência e curiosidade… Afinal na primeira prova você surpreendeu todo mundo.
A parte do seu corpo ainda seca se encheu de arrepios, semi-imerso na água gelada, uma brisa impiedosa levantando seus cabelos, Harry Potter começou a tremer violentamente.
Evitou olhar para as arquibancadas; as risadas estavam mais altas e ele ouvia assovios e vaias de alunos da Sonserina...
Então, inesperadamente, Harry teve a sensação de que uma almofada invisível estava cobrindo sua boca e seu nariz. Ele tentou respirar, mas isto fez sua cabeça girar; seus pulmões se esvaziaram e ele sentiu uma dor súbita e lancinante dos dois lados do pescoço...
Harry levou as mãos à garganta e sentiu duas grandes aberturas abaixo das orelhas abanando no ar frio... Ganhara guelras. Sem parar para pensar, ele fez a única coisa que lhe pareceu ajuizada — se atirou no lago.
– Quando as guelras surgiram no seu pescoço, várias garotas que estavam mais perto de você deram gritos de pavor… – Gina disse revirando os olhos – Tínhamos acabado de ver Cedrico fazendo o feitiço cabeça de bolha, esperávamos algo parecido de você…
O primeiro gole de água gelada do lago lhe pareceu um sopro de vida. Sua cabeça parou de girar, ele tomou mais um gole e sentiu-o passar suavemente pelas guelras e bombear oxigênio para o seu cérebro. Ele estendeu as mãos para frente e olhou-as. Pareciam verdes e fantasmagóricas debaixo d’água e haviam nascido membranas entre os dedos. Ele se contorceu para ver os pés descalços — tinham se alongado e igualmente ganho membranas, parecia também que saíam nadadeiras do seu corpo.
A água não parecia mais gelada, tampouco... Pelo contrário, se tornara agradavelmente fresca e muito leve... Harry recomeçou a bracejar, admirando-se como seus pés com nadadeiras o impeliam pela água e registrando que estava enxergando com muita clareza e não sentia mais necessidade de piscar.
Logo nadara uma distância tão grande em direção ao meio do lago que deixara de ver seu leito. Deu uma cambalhota e mergulhou em suas profundezas.
– Vocês finalmente vão saber tudo o que aconteceu no lago durante a prova. – Tiago disse dando uma piscadela para Gina e Neville.
O silêncio pesou em seus ouvidos ao nadar por uma paisagem estranha, escura e enevoada. Só conseguia ver três metros ao redor, por isso à medida que se deslocava novos cenários pareciam surgir repentinamente da escuridão à sua frente, florestas ondulantes de plantas emaranhadas e escuras, extensões de lodo coalhadas de pedras lisas e brilhantes. Ele nadava cada vez mais para o fundo e para o centro do lago, os olhos abertos, espiando, através da misteriosa claridade cinzenta que iluminava as águas, rumando para as sombras além, em que as águas se tornavam opacas.
Pequenos peixes passavam velozes por ele como flechas prateadas. Uma ou duas vezes ele viu um vulto maior nadando mais adiante, mas quando se aproximou, descobriu que era apenas um grande tronco enegrecido ou uma moita densa de plantas. Não viu sinal algum dos outros campeões, nem dos sereianos, nem de Rony — nem, graças a Deus, da lula gigante.
– Você não tem motivos para ter medo da lula gigante! – Remo disse rindo – Ela é praticamente domesticada! Nunca fez mal a ninguém… E até jogou o Dennis Creevey de volta no barco quando ele caiu.
– E Lily sempre teve uma quedinha pela lulga gigante! – Sirius disse gargalhando – Você não acha que Lily sairia com a lula se ela oferecesse qualquer risco para a sociedade, não é?
– Tem uma lenda que diz que a lula gigante na verdade é Godric Gryffindor, e que ele é o maior animago do mundo… – Tiago disse entre risadas – Dizem que ele se transforma em bruxo às 11 horas toda noite, anda pelos terrenos de Hogwarts e volta para o lago antes de amanhecer… Mas é claro que isso não passa de uma lenda! Estivemos fora do castelo de madrugada inúmeras vezes e nunca o encontramos.
– E quem te contou essa lenda? – Lily perguntou curiosa.
– Meu pai. – Tiago deu de ombros – Disse que a história era muito popular na época dele em Hogwarts.
Plantas verde-claras se estendiam à sua frente até onde sua vista podia alcançar, como um prado coberto de relva muito crescida. Harry olhava para frente sem piscar, tentando discernir as formas na obscuridade... E então, sem aviso, alguma coisa agarrou seu tornozelo.
Harry se virou e viu um grindylow, um pequeno demônio aquático de chifres, que saía do meio das plantas, seus dedos compridos apertando a perna de Harry, as presas pontiagudas à mostra — o garoto enfiou a mão palmada depressa dentro das vestes e procurou a varinha, até conseguir apanhá-la, mais dois grindylows tinham emergido das plantas, agarrado as vestes de Harry e tentavam arrastá-lo para o fundo.
— Relaxo! — disse ele, só que não produziu som algum... Uma grande bolha saiu de sua boca, e sua varinha, em vez de atirar faíscas contra os grindylows, golpeou-os com algo que pareceu um jato de água fervendo, pois onde os atingiu surgiram manchas muito vermelhas em sua pele verde.
Harry livrou o tornozelo do aperto dos demônios e nadou o mais rápido que pôde, ocasionalmente disparando, a esmo, mais jatos de água quente por cima do ombro, de vez em quando ele sentia um grindylow prender novamente seu pé e o chutava com força, por fim, seu pé fez contato com um crânio chifrudo e, olhando para trás, ele viu um grindylow se afastar boiando, vesgo, enquanto seus companheiros sacudiam os punhos para Harry e tornavam a submergir entre as plantas.
– Que bom que nas aulas de DCAT você não ficava viajando! – Remo disse com um meio sorriso orgulhoso – Pelo menos você aprendeu alguma coisa comigo… Mesmo que sempre esqueça que eu existo e sou um dos melhores amigos do seu pai…
– Não culpe ele. – Lily disse ligeiramente defensiva – Seu eu-futuro não fez muito esforço para se relacionar com Harry além da relação professor-aluno!
Harry diminuiu um pouco a velocidade, guardou a varinha nas vestes e olhou ao redor, apurando os ouvidos. Fez uma volta completa na água, o silêncio pesava mais que nunca em seus tímpanos. Sabia que devia estar bem mais fundo, mas nada se mexia exceto as plantas ondulantes.
— Como é que você está indo?
Harry achou que estava tendo um ataque cardíaco. Virou-se depressa e viu a Murta Que Geme flutuando difusamente diante dele, fitando-o através dos grossos óculos perolados.
— Murta! — Harry tentou gritar, porém, mais uma vez, não saiu nenhum som de sua boca, apenas uma grande bolha. A Murta Que Geme chegou a dar risadinhas abafadas.
— Você vai precisar experimentar para aquele lado lá! — disse ela apontando. — Não vou acompanhar você... Não gosto muito deles, sempre me perseguem quando me aproximo demais...
– E mais uma vez, a Murta salva o dia! – Sirius disse gargalhando – Sei que ela é apaixonadinha por você e tudo mais… Mas você bem que podia ser mais legal com ela e visitar de vez em quando…
Harry levantou o polegar à guisa de agradecimento, e recomeçou a nadar, tendo o cuidado de se colocar um pouco acima das plantas para evitar mais grindylows que por acaso estivessem escondidos ali.
Ele continuou a nadar por uns vinte minutos ou assim lhe pareceu.
Atravessava agora grandes extensões de lodo escuro, que redemoinhavam sujando a água agitada por ele. Então, finalmente, ouviu um trecho da música misteriosa dos sereianos.
“Uma hora inteira você deverá buscar,
Para recuperar o que lhe tiramos...”
Harry nadou mais rápido e não tardou a ver um grande penhasco emergindo na água lodosa à frente. Nele havia pinturas de sereiano, carregavam lanças e caçavam algo que parecia ser a lula gigante.
– Pobre lula gigante. – Lily suspirou tentando esconder uma risada – Tão amorosa, tão doce, não merecia ser caçada assim!
– Não mesmo. – Tiago disse sorrindo para Lily – Você devia lembrar de consolar ela no próximo encontro de vocês…
– Acho que não vou ter mais encontros com a lula gigante. – Lily encolheu os ombros e piscou para Tiago inocentemente.
Harry deixou o penhasco para trás seguindo a música dos sereianos.
“Já se passou meia hora,
Por isso não tarde
Ou o que você busca apodrecerá aqui...”
– Um bocado dramáticos os sereianos, não? – Alice perguntou franzindo a testa.
– Eles queriam incentivar os campeões a ir mais rápido e cumprir o tempo da prova. – Remo deu de ombros – E dar uma emoção extra, é claro… Não duvido nada que no meio do lago, com criaturas estranhas, os campeões tenham levado a música a sério.
Um punhado de casas toscas de pedra, manchadas de algas, tomou forma de repente no lusco-fusco que rodeava o garoto. Aqui e ali, às janelas escuras, Harry viu rostos... Rostos que não tinham qualquer semelhança com o quadro da sereia no banheiro dos monitores...
Os sereianos tinham peles cinzentas e longos cabelos desgrenhados e verdes. Seus olhos eram amarelos, como seus dentes quebrados, e eles usavam grossas cordas de seixos no pescoço. Lançaram olhares desconfiados quando Harry passou. Um ou dois saíram das tocas para examiná-lo melhor, seus fortes rabos de peixe prateados golpeando a água, as lanças nas mãos.
Harry continuou a nadar veloz, olhando para os lados, e logo as casas se tornaram mais numerosas: havia jardins de folhagens ao redor de algumas, e ele chegou a ver um grindylow amarrado a uma estaca do lado de fora de uma porta.
Os sereianos apareciam por todos os lados agora, observando-o ansiosos, apontando para suas mãos palmadas e guelras, falando entre si, com a mão encobrindo a boca.
Harry virou um canto e deparou com uma cena estranha.
Um grande número de sereianos flutuava diante de casas enfileiradas que pareciam uma versão local de uma praça de povoado. Um coro cantava no centro, chamando os campeões e, por trás, erguia-se uma estátua tosca, um gigantesco sereiano esculpido em um pedregulho. Quatro pessoas estavam firmemente amarradas à cauda da estátua.
– Você encontrou os reféns antes dos outros campeões! – Tiago disse orgulhoso – Você tem que agradecer mesmo à Murta! – acrescentou com uma risada – Demoraria muito mais para encontrar o lugar certo sem a ajuda dela!
Rony estava amarrado entre Hermione e Cho Chang. Havia ainda uma garota que não aparentava ter mais de oito anos e cujas nuvens de cabelos prateados deu a Harry a certeza de que era irmã de Fleur Delacour.
– Então você era a refém do Krum? – Sirius perguntou levantando as sobrancelhas para Hermione insinuante – O que vocês dois andaram fazendo para em poucos semanas você se tornar o que ele mais sentiria falta?
– Nada demais. – Hermione disse corando furiosamente enquanto Rony trincava os dentes irritado.
– Tenho a impressão de que os reféns são as pessoas com quem os campeões passaram mais tempo no baile. – Tiago disse pensativo – E é óbvio que Fleur não se importava nem um pouco com Rogério Davies! Então tiveram que importar a irmã dela…
– Até que faz sentido. – Lily disse com uma risadinha – Harry passou muito mais tempo com Rony do que com o próprio par.
Os quatro pareciam profundamente adormecidos. Suas cabeças balançavam molemente sobre os ombros e um fluxo contínuo de pequenas bolhas saía de suas bocas.
Harry correu em direção aos reféns, meio que esperando os sereianos baixarem as lanças para o atacarem, mas eles nada fizeram. As cordas que atavam os reféns à estátua eram grossas, viscosas e muito fortes. Por um instante fugaz ele pensou no canivete que Sirius lhe presenteara no Natal — guardado em seu malão no castelo a uns quatrocentos metros de distância, não tinha a menor utilidade.
– E é por esse tipo de coisa que ando com meu canivete o tempo todo. – Sirius disse retirando o canivete do bolso e girando entre os dedos.
Harry olhou ao redor. Muitos sereianos que cercavam os reféns seguravam lanças. O garoto nadou rápido para um deles, com uns dois metros de altura, uma longa barba verde e uma gargantilha de dentes de tubarão, e tentou, por meio de mímica, pedir a lança emprestada. O sereiano riu e sacudiu a cabeça.
— Não ajudamos — disse ele numa voz áspera e rouca.
— Ora vamos! — disse Harry com ferocidade (mas apenas bolhas saíram de sua boca), e ele tentou tirar a lança do sereiano, que a puxou para si, ainda sacudindo a cabeça e rindo.
Harry deu uma volta completa no corpo, olhando. Alguma coisa afiada, qualquer coisa...
Havia muitas pedras no leito do lago. Ele mergulhou e apanhou uma de aspecto afiado e voltou à estátua. Começou, então, a golpear a corda que prendia Rony e, depois de alguns minutos de esforço, elas se romperam. Rony flutuou, inconsciente a alguns centímetros do leito do lago, acompanhando o movimento da água.
Harry correu o olhar à volta. Não viu sinal dos outros campeões. De que é que estavam brincando? Por que não se apressavam? Ele se virou para Hermione, ergueu a pedra afiada e começou a golpear as cordas dela também...
– Você realmente acreditou na música. – Sirius disse preocupado.
– E é claro que tendo acreditado na música ele não deixaria Hermione para trás… – Lily suspirou – É sempre bom ver como você é um bom amigo…
– Bom amigo e um tanto obtuso. – Sirius bufou – É claro que eles não deixariam os reféns no lago para sempre! O que você achou que os pais de Hermione pensariam se ela simplesmente nunca mais voltasse?
Na mesma hora, vários pares de fortes mãos cinzentas o seguraram. Meia dúzia de sereianos começaram a afastá-lo de Hermione, balançando as cabeças de cabelos verdes e dando risadas.
— Você leva o seu refém — disse um deles. — Deixe os outros...
— Nem pensar! — respondeu Harry indignado, mas apenas duas bolhas saíram de sua boca.
— Sua tarefa é resgatar o seu amigo... Deixe os outros...
— Ela é minha amiga, também! — berrou Harry, gesticulando em direção a Hermione, uma enorme bolha prateada desprendendo-se silenciosamente dos seus lábios.
— E tampouco quero que os outros morram!
– Obrigada. – Hermione disse dando a Harry um grande sorriso – Você é um ótimo amigo por não se importar com a prova e se preocupar comigo…
– Não só com você. – Gina bufou – Com a Cho-rona também…
– E com a irmãzinha da Fleur. – Hermione disse rindo de Gina.
A cabeça de Cho descansava no ombro de Hermione, a garotinha de cabelos prateados parecia pálida e fantasmagoricamente esverdeada. Harry lutou para afastar os sereianos, mas eles riam com mais vontade que nunca, empurrando-o para trás. O garoto olhou alucinado para os lados. Onde estavam os outros campeões? Será que ele teria tempo de levar Rony até a superfície e voltar para buscar Hermione e as outras?
Será que ele conseguiria encontrá-las de novo? Consultou o relógio para ver quanto tempo lhe sobrava — o relógio parara de trabalhar.
Mas, então, os sereianos que o rodeavam começaram a apontar excitados para alguma coisa acima da cabeça dele. Harry ergueu os olhos e viu Cedrico nadando em direção ao grupo. Havia uma enorme bolha em torno de sua cabeça, que fazia suas feições parecerem estranhamente largas e esticadas.
— Me perdi! — disse ele silenciosamente, com uma expressão de pânico. — Fleur e Krum estão vindo agora!
Sentindo-se imensamente aliviado, Harry viu Cedrico puxar uma faca do bolso e libertar Cho. Ele a puxou para cima e desapareceu de vista.
– E agora você perdeu a chance de ser o primeiro a concluir a prova por se preocupar demais! – Remo bufou balançando as pernas ansioso.
– Eu acho que é uma bela atitude. – Alice disse dando a Harry um meio sorriso confiante – Ele está preocupado com as outras pessoas… Não só com Rony…
– E está se esquecendo de que o guelricho vai perder o efeito em pouco tempo… – Tiago coçou a cabeça preocupado – Quanto tempo dura o guelricho afinal?
– Há algumas controvérsias entre herbologistas, – Neville respondeu prontamente – mas a maioria concorda que em água doce o efeito é de aproximadamente uma hora, podendo aumentar de acordo com a salinidade da água.
– Você é realmente bom em herbologia. – Frank disse orgulhoso.
Harry olhou para os lados, aguardando. Onde estavam Fleur e Krum? O tempo ia se esgotando e, segundo a música, os reféns jamais voltariam...
Os sereianos começaram a guinchar excitados. Os que seguravam Harry afrouxaram o aperto, olhando para trás. Harry se virou e viu algo monstruoso cortando as águas em direção a eles: um corpo humano de calções de banho com uma cabeça de tubarão... Era Krum. Parecia ter se transformado — mas de maneira incompleta.
– Muito esperto. – Sirius disse admirado – É uma transfiguração bem complexa…
– Surpreendente. – Remo concordou enfático.
O homem-tubarão nadou direto para Hermione e começou a puxar e a morder as cordas que a prendiam, o problema é que os novos dentes de Krum estavam posicionados de forma imprópria para morder qualquer coisa menor do que um golfinho, e Harry tinha quase certeza de que se Krum não tivesse cuidado, ia cortar Hermione ao meio. Correndo para ele, Harry bateu com força em seu ombro e estendeu a pedra afiada. Krum agarrou-a e começou a libertar Hermione.
– Acho que preciso te agradecer por salvar minha vida… – Hermione disse sorrindo para Harry com carinho.
Em segundos, ele terminou: agarrou Hermione pela cintura e, sem ao menos olhar para trás, começou a subir rapidamente com a garota para a superfície.
— E agora? — pensou Harry desesperado. Se ele pudesse ter certeza de que Fleur estava a caminho... Mas não havia nem sinal. Não havia jeito...
Ele agarrou a pedra que Krum largara, mas os sereianos voltaram a se aproximar de Rony e da garotinha, balançando a cabeça para Harry.
O garoto puxou a varinha.
— Saiam da frente!
Somente bolhas voaram de sua boca, mas ele teve a nítida impressão de que os sereianos o haviam entendido, porque subitamente pararam de rir. Seus olhos amarelos se fixaram na varinha de Harry e eles revelaram medo. Eram muitos e Harry era apenas um, mas o garoto percebeu, pela expressão dos seus rostos, que os sereianos conheciam tanta magia quanto a lula gigante.
– Os sereianos não gostam nada de magia, especialmente quando usada contra eles. – Remo contou – Eles tiveram alguns confrontos com bruxos quando Elfrida Clagg se recusou a considerá-los seres cientes pois eles só eram capazes de falar sob a água… Anos depois o ministro Grogam Stump revisou a definição de seres cientes e ofereceu a eles essa classificação, mas eles recusaram porque não queriam ser enquadrados na mesma classificação que vampiros…
— Vocês têm até três! — gritou Harry; um grande jorro de bolhas saiu de sua boca, e ele ergueu três dedos para ter certeza de que os sereianos tinham entendido a mensagem. — Um... — ele ergueu um dedo — Dois... — ergueu o segundo...
Eles se dispersaram. Harry se adiantou depressa e começou a golpear as cordas que prendiam a garotinha à estátua e finalmente libertou-a. Ele a agarrou pela cintura, agarrou a gola das vestes de Rony e deu impulso para a superfície.
Foi uma subida muito lenta. Ele já não podia usar as mãos palmadas para se impulsionar, bateu as nadadeiras furiosamente, mas Rony e a irmã de Fleur eram verdadeiros sacos de batatas que o arrastavam para o fundo... Harry firmou a vista em direção ao céu, embora soubesse que ainda devia estar muito fundo, as águas acima estavam tão escuras...
Os sereianos o seguiram na subida. Harry os via rodando à sua volta sem esforço, vendo-o lutar para vencer a força das águas... Será que o puxariam de volta às profundezas quando seu tempo se esgotasse? Será que comiam seres humanos? As pernas de Harry se moviam lentamente com o esforço de nadar, seus ombros doíam horrivelmente com o esforço de arrastar Rony e a garota...
– Você poderia ter estudado um pouco sobre sereianos antes de entrar na água… – Remo disse revirando os olhos para Harry – Sereianos não comem seres humanos, isso é outra invenção dos trouxas…
Ele inspirava com extrema dificuldade. Voltou a sentir a dor dos lados do pescoço... Aos poucos foi se tornando consciente da umidade da água em sua boca... Mas decididamente a obscuridade estava raleando agora... Já conseguia ver a luz do dia no alto...
Bateu as nadadeiras com força e descobriu que já não havia nada além de pés... A água entrava aos borbotões em sua boca e invadia seus pulmões... Ele estava começando a sentir tontura, mas sabia que a luz e o ar estavam a apenas três metros acima... Tinha que chegar lá... Tinha que...
Harry sacudiu as pernas com tanta força e rapidez que teve a sensação de que seus músculos gritavam em protesto, o próprio cérebro parecia encharcado de água, ele não conseguia respirar, precisava de oxigênio, tinha que continuar, não podia parar...
Então sentiu sua cabeça varar a superfície do lago, um ar maravilhoso, frio, claro, fez seu rosto molhado arder, ele o engoliu, tendo a sensação de que jamais o respirara antes como devia e, ofegante, puxou Rony e a menininha com ele. A toda volta, cabeças com cabelos verdes emergiram da água, mas sorriam para ele.
– Talvez eles tenham achado a sua atitude bonita, como Alice achou. – Frank deu de ombros.
Os espectadores nas arquibancadas faziam um estardalhaço, gritavam, berravam, todos pareciam estar de pé, Harry teve a impressão de que pensavam que Rony e a menininha poderiam estar mortos, mas tinham se enganado…
– Eu realmente me assustei quando vi meu irmão sair da água desacordado… – Gina confessou envergonhada.
– Estava pensando, – Lily disse claramente aliviada – para ir a Hogsmead eles precisam da autorização dos pais, mas para servir de reféns no fundo do lago, não mandaram nem uma cartinha?
– Quando chego em casa e conto para os meus pais o que aconteceu em Hogwarts eles acham tudo muito divertido. – Hermione disse rindo – Mas Dumbledore enviou uma carta para eles quando fui petrificada, e eles pensaram que era uma coisa normal, pelo tom da carta… E no terceiro ano enviaram outra, avisando que dementadores ficariam de guarda nas entradas da escola, e eles ficaram muito contentes por que pensaram que eram algum tipo de segurança… Não acho que eles se importariam de terem me feito de refém. Ou pelo menos não achariam que seria uma coisa perigosa.
Os dois tinham aberto os olhos, a menina parecia apavorada e confusa, mas Rony meramente expeliu um grande jato de água, piscou para a claridade, virou-se para Harry e comentou:
— Um bocado molhado, não? — Depois viu a irmã de Fleur. — Para que foi que você trouxe a garota?
— Fleur não apareceu. Eu não podia largar ela lá — ofegou Harry.
— Harry, seu débil — disse Rony. — Você não levou aquela música a sério, levou? Dumbledore não teria deixado nenhum de nós morrer afogado!
– E mais uma vez, surpreendentemente, – Gina disse risonha – Rony é a voz da razão!
– Está começando a se tornar um hábito! – Sirius riu irônico.
— Mas a música dizia...
— Só para garantir que você voltasse dentro do prazo dado! Espero que você não tenha perdido tempo lá embaixo bancando o herói!
– Tenho a impressão de que você tem essa mania terrível de sempre querer ser o herói. – Remo disse pensativo.
– Não tenho culpa se os problemas simplesmente caem no meu colo. – Harry bufou incomodado, odiava ser lembrado de sua “mania de bancar o herói”.
Harry se sentiu no mesmo instante idiota e chateado. Estava tudo muito bem para Rony, ele estivera adormecido, não sentira como era fantasmagórico lá no lago, cercado por sereianos armados de lanças com cara de que eram bem capazes de matar.
— Vamos — disse Harry com rispidez — me ajude com a garota, acho que ela não sabe nadar muito bem.
Os dois puxaram a irmã de Fleur pela água, até a margem, onde os juizes aguardavam de pé observando-os, vinte sereianos acompanhavam os garotos como uma guarda de honra, cantando aquelas horríveis músicas agudas.
Harry viu Madame Pomfrey cuidando de Hermione, Krum, Cedrico e Cho, todos enrolados em grossos cobertores. Dumbledore e Ludo Bagman estavam parados na margem, e sorriram para Harry e Rony quando eles se aproximaram, mas Percy, que parecia muito pálido e, por alguma razão, mais jovem do que era, saiu espalhando água ao encontro deles.
– Na verdade, Percy ficou muito nervoso quando descobriu que seu refém era o Rony. – Gina contou – Bagman anunciou quem eram os reféns alguns minutos depois que vocês entraram na água. Fred e Jorge também não ficaram nada felizes em saber…
Entrementes, Madame Maxime tentava conter Fleur Delacour, que estava muito nervosa, lutando com unhas e dentes para voltar à água.
— Gabrielle! Gabrielle! Ela está viva? Ela está machucada?
— Ela está ótima! — Harry tentou lhe dizer, mas se sentia tão exausto que mal conseguia falar, quanto menos gritar.
Percy agarrou Rony e saiu arrastando-o para a margem ("Sai pra lá, Percy, eu estou bem!"), Dumbledore e Bagman ergueram Harry, Fleur se desvencilhara de Madame Maxime e abraçava a irmã.
— Forram os g-rrindylows... Eles me atacarron... Ah, Gabrrielle, pensei... Pensei...
– Parece que Fleur também acreditou na música dos sereianos… – Sirius disse risonho – Mas ela tem uma boa desculpa, inglês não é a primeira língua dela, deve ter sido complicado interpretar o ovo.
— Venha aqui, você — ouviu-se a voz de Madame Pomfrey, ela agarrou Harry e levou-o até Hermione e os outros, embrulhou-o num cobertor tão apertado que ele se sentiu preso numa camisa de força, e empurrou uma dose de uma poção muito quente pela garganta do garoto. Saiu vapor por suas orelhas.
— Muito bem, Harry! — exclamou Hermione. — Você conseguiu, você descobriu como conseguir, sozinho!
— Bem... — disse Harry. Ele teria contado a ela sobre Dobby, mas acabara de notar que Karkaroff o observava. Era o único juiz que não abandonara a mesa, o único juiz que não dava sinais de satisfação nem alívio que Harry, Rony e a irmã de Fleur tivessem voltado sãos e salvos. — É, é verdade — disse Harry, levantando ligeiramente a voz para Karkaroff poder ouvi-lo.
– Esse é um bom motivo para mentir pra mim. – Hermione afirmou categórica.
– Apesar de Karkaroff não ficar feliz com sua sobrevivência, acho que ele não é o homem infiltrado… – Tiago disse pensativo – Ele está com mais medo de Voldemort do que qualquer um de nós.
— Você tem um besourro-d’água prreso nos cabelos, Hermi-ônini — disse Krum.
Harry teve a impressão de que Krum estava tentando fazer a garota voltar sua atenção para ele, talvez para lembrá-la que ele acabara de resgatá-la do lago, mas Hermione sacudiu o besouro para longe com impaciência.
– Mas hoje sabemos que sem Harry, Krum teria apenas te partido ao meio. – Rony disse com uma satisfação perversa.
— Mas você ultrapassou muito o tempo dado, Harry... Você levou muito tempo para nos encontrar?
— Não... Encontrei vocês logo...
A sensação de burrice de Harry foi crescendo. Agora que estava fora da água, pareceu-lhe perfeitamente claro que as precauções de segurança tomadas por Dumbledore não teriam permitido a morte de um refém porque o campeão não aparecera. Por que ele simplesmente não apanhara Rony e viera embora? Teria sido o primeiro a voltar...
– Tarde demais para pensar nisso. – Sirius bufou desolado.
Cedrico e Krum não tinham perdido tempo se preocupando com mais ninguém, não tinham levado a música dos sereianos a sério...
– Isso pode ser simplesmente porque eles não se importam com os outros. – Alice deu de ombros – Ainda acho que sua atitude foi muito digna!
Dumbledore se encontrava agachado à beira da água, absorto em conversa com alguém que parecia ser o chefe dos sereianos, uma fêmea particularmente selvagem, de aspecto feroz. Emitia o mesmo tipo de guinchos que o de seus companheiros quando estavam embaixo da água, era óbvio que Dumbledore sabia falar serêiaco. Finalmente ele se ergueu, virou-se para os demais juizes e disse:
— Acho que precisamos conversar antes de dar as notas.
Os juizes se agruparam. Madame Pomfrey tinha ido salvar Rony dos abraços de Percy; ela o levou para onde estavam os outros garotos, deu-lhe um cobertor e um pouco de Poção Estimulante, depois foi buscar Fleur e a irmã. Fleur tinha muitos cortes no rosto e nos braços, e suas vestes estavam rasgadas, mas ela não parecia se importar, nem queria deixar Madame Pomfrey tratá-la.
— Cuide da Gabrrielle — disse a garota virando-se para Harry. — Você salvou minha irrmá — disse ofegante. — Mesmo ela não sendo sua rrefém.
— Foi — disse Harry, que agora desejava de todo o coração ter deixado as garotas amarradas à estátua. Fleur se abaixou, beijou Harry nas duas bochechas (ele sentiu o rosto queimando e não ficaria surpreso se estivesse pondo vapor pelas orelhas outra vez), em seguida disse a Rony:
— E você, também... Você ajudou...
— Foi, — disse ele parecendo extremamente esperançoso — foi, um pouquinho...
– Ajudou? – Gina perguntou rindo pelo nariz – Você estava desacordado!
– Eu ajudei Harry a levar a menina para a margem quando acordei! – Rony se justificou corando.
Fleur se curvou para ele, também, e o beijou. Hermione pareceu simplesmente furiosa,
– Talvez Rony não seja o único que tem uma paixonite secreta. – Alice disse empolgada.
Hermione baixou os olhos ligeiramente constrangida enquanto Rony não conseguia esconder um sorriso bobo.
mas naquele instante, a voz magicamente ampliada de Ludo Bagman reboou ao lado deles, pregando-lhes um susto e fazendo os espectadores nas arquibancadas mergulharem num grande silêncio.
— Senhoras e senhores, já chegamos a uma decisão. A chefe dos sereianos, Murcus, nos contou exatamente o que aconteceu no fundo do lago e, portanto, em um máximo de cinqüenta, decidimos atribuir a cada campeão, as seguintes notas... A Srta. Fleur Delacour, embora tenha feito uma excelente demonstração do Feitiço Cabeça-de-bolha, foi atacada por grindylows ao se aproximar do alvo e não conseguiu resgatar sua refém. Recebeu vinte e cinco pontos.
– Até que eles foram bem generosos. – Tiago afirmou impressionado – Achei que ela receberia muito menos.
Aplausos das arquibancadas.
— Eu merrecia zerro — disse Fleur com uma voz gutural, sacudindo a magnífica cabeça.
— O Sr. Cedrico Diggory, que também usou o Feitiço Cabeça-de-bolha, foi o primeiro a voltar com a refém, embora tenha chegado um minuto depois da hora marcada. — Ouviram-se grandes aplausos dos alunos da Lufa-lufa entre os espectadores, Harry viu Cho lançar um olhar feio a Cedrico.
– Olhar feio? – Lily perguntou franzindo a testa com aversão – O garoto se atrasou um minuto! E ainda assim salvou ela! Que garota mais fútil!
– Com certeza! – Gina concordou satisfeita.
— Portanto, recebeu quarenta e sete pontos.
O ânimo de Harry despencou. Se Cedrico ultrapassara o limite de tempo, com certeza ele fizera o mesmo.
— O Sr. Vítor Krum usou uma forma de transformação incompleta, mas ainda assim eficiente, e foi o segundo a voltar com a refém. Recebeu quarenta pontos.
– Harry vai receber pouquíssimos pontos. – Sirius disse desolado.
Karkaroff bateu palmas com especial entusiasmo, fazendo ar de superioridade.
— O Sr. Harry Potter usou guelricho com grande eficácia — continuou Bagman. — Ele voltou por último e ultrapassou em muito o prazo de uma hora. Contudo, a chefe dos sereianos nos informou que o Sr. Potter foi o primeiro a chegar aos reféns, e o atraso na volta se deveu à sua determinação de trazer todos os reféns à segurança e não apenas o seu.
Rony e Hermione lançaram a Harry olhares meio exasperados, meio penalizados.
— A maioria dos juízes — e aqui Bagman olhou com muita indignação para Karkaroff — acha que tal atitude revela fibra moral e merece o número máximo de pontos. Mas... O Sr. Potter recebeu quarenta e cinco pontos.
– O que? – Sirius gritou impressionado – Inacreditável!
– Pelo visto a maioria dos jurados concorda com Alice. – Frank disse com um grande sorriso – Harry revelou muita fibra moral!
– Nós já devíamos saber! – Remo disse aliviado – Apesar de ser um imã para perigos, ele sempre se dá bem!
O estômago de Harry deu um solavanco — agora ia disputar o primeiro lugar com Cedrico. Rony e Hermione, apanhados de surpresa, olharam para Harry, começaram a rir e a aplaudir com entusiasmo com o resto dos espectadores.
— Lá vai você, Harry! — gritou Rony sobrepondo-se ao tumulto. — Afinal você não agiu como débil, revelou fibra moral!
Fleur também o aplaudia freneticamente, mas Krum não pareceu nada feliz.
Tentou puxar conversa com Hermione outra vez, mas ela estava ocupada demais aplaudindo Harry para lhe dar ouvidos.
– Eu acho que Krum ficou mais chateado por Hermione ficar empolgada com a nota de Harry do que por Harry ter ultrapassado ele… – Alice disse com uma piscadela para Mione.
– Agora faz ainda mais sentido Hermione ter sido a refém dele. – Lily disse sem esconder uma risadinha.
— A terceira e última tarefa será realizada ao anoitecer do dia vinte e quatro de junho — continuou Bagman. — Os campeões serão informados do que os espera exatamente um mês antes. Agradecemos a todos o apoio dado aos campeões.
Terminou, pensou Harry atordoado, quando Madame Pomfrey começou a arrebanhar os campeões e reféns em direção ao castelo para trocarem roupas secas... Terminara, ele conseguira... Não precisava se preocupar com coisa alguma agora até o dia vinte e quatro de junho...
Da próxima vez que estivesse em Hogsmeade, resolveu ele, ao subir os degraus de pedra do castelo, ia comprar para Dobby um par de meias para cada dia do ano.
– Pelo menos você se lembrou de agradecer a Dobby… – Sirius revirou os olhos risonho – Mas para a pobre Murta, que se enfiou em um cano de descarga para te ajudar dentro do lago, nada!
– Pelo menos agora teremos um bom tempo antes da terceira tarefa. – Lily disse aliviada.
– Não muito tempo. – Tiago disse observando o livro que Hermione passava para Severo – Não falta muito para o livro acabar… Acho que conseguimos finalizá-lo ainda hoje. – Acrescentou trocando um olhar com Remo.
Severo tossiu antes de abrir o livro no próximo capítulo:
– Capítulo XXVII – A volta de Almofadinhas.
Hey leitores mais queridos do FeB! Ando com a vida muito corrida ultimamente, mas sempre arrumo um tempinho para vocês! Espero que tenham gostado do capítulo!
- MionGinnyLuna: Acho que o Tiago e a Lily já perceberam que o Harry é um verdadeiro imã para problemas! E falam mal do Harry porque ás vezes ele consegue ser bem tapado e não vê o que está bem na frente dele! Mas todo mundo o ama!
- Luiza Snape: Você chegou a ver que a JK falou sobre o nome do filho do Harry essa semana? Postei lá no grupo. E acho que o Severo está começando a perceber muitas coisas que o eu-futuro dele não percebeu até a morte da Lily, talvez os livros façam muito bem a ele.
- Elizane Black Weasley: Fico muito honrada que tenha feito conta no FeB por causa da minha fic! Ás vezes o site fica meio complicado mesmo, mas fico muito feliz que não tenha desistido por causa disso! Eu sempre achei a briga do Harry com o Remo muito interessante, e imagino que o Tiago e o Sirius vão concordar com o Harry em tudo o que ele falou... Mas ainda não sei, não cheguei lá. Eu sei que vocês ficam ansiosos para ler os capítulos, mas eu realmente posto sempre que posso. Se eu tivesse mais tempo e estivesse escrevendo em um ritmo melhor, eu postaria toda semana, mas por hora, não da! E eu nunca engoli o quanto o Harry perdoou o Snape, eu até aceito ele ter perdoado e tudo mais, porque o Harry tem bom coração, mas chegar ao ponto de colocar o nome no filho dele e dizer que ele foi "o homem mais corajoso que conheci" é um absurdo! Quanto a Dumbledore, ele sempre teve a tendencia de achar que ele é mais inteligente que todo mundo e por isso acho que ele usa as pessoas sem explicar tudo para elas. Por exemplo, se ele tivesse contado a verdade para o Harry sobre ele ser uma horcrux, o Harry não teria feito nada diferente! Era só Dumbledore explicar as coisas para ele, em vez de deixar ele no escuro! Enfim, o Dumbledore usa muito as pessoas, e acho que ele deixou o Sirius na prisão porque o Sirius não teria muita utilidade para ele fora, como o Snape tinha.
- Javoski: Que bom que acha a ansiedade boa! Eu realmente me esforço para postar o máximo possível, mas ás vezes é complicado. Eu sempre procuro me manter o mais fiel à JK o possível, é claro que ás vezes isso é difícil, mas dou o meu melhor para manter a fic dentro de tudo o que ela falou sobre eles antes de eu escrever... Eu adoro escrever a Alice, gosto de pensar nela como a bruxa comum, que acredita em tudo, como nós vemos tantas vezes nos livros, pessoas que de um dia para o outro acham que o Harry é mentiroso só porque o jornal disse... E gosto de pensar que a Alice foi evoluindo com o tempo, e vendo a verdade, se não lendo os livros, ela teria visto a verdade depois, quando saísse de Hogwarts e visse o mundo real. O Tiago está mesmo desconfiado do Moody, mas ele está pensando mais que o Moody mudou demais do que qualquer outra coisa, ele nem imagina a verdade! Até porque a verdade é absurda demais para ele desconfiar... Até Dumbledore acreditou no falso Moody afinal. Por causa de Bond eu me apaixonei por Drarrys e quase fiz o Draco chegar no meio da leitura dos livros e tomar o Harry da Gina...
- Raposa do Alasca: A morte do Cedrico foi bem dura para o Harry, mas sinceramente, acho que a parte mais difícil de escrever desse livro foi quando o Harry descobre sobre os pais do Neville, eu fiquei bem abalada escrevendo, tive até que dar um tempinho depois. O Tiago não podia deixar o Remo ficar falando de criaturas enquanto ninguém deixa ele falar de quadribol, não é? Ele não acha isso nada justo! Pode fazer quantas perguntas quiser, sempre que quiser, mas se quiser respostas mais rápidas eu te aconselho a me fazer perguntas lá no grupo da fic no facebook, eu sempre respondo lá. 1- Minha opinião sobre o Snape: Ele não é um herói, mas também não é um vilão. A única razão para ele fazer tudo o que fez para ajudar o lado certo foi porque ele se sentia culpado pela morte da Lily. Mas se apenas o Tiago e o Harry tivessem morrido naquela noite (veja bem, um bebê de um ano), ele não se sentiria culpado e não teria feito nada do que fez para ajudar Dumbledore a derrotar Voldemort. Então, para mim, ele não pode ser considerado um herói de jeito nenhum. E é claro que ele no final ajudou muito, mas ainda assim, ele tratava o Harry e os amigos do Harry como lixo, ele era um adulto, professor, e tratava crianças de 11 anos daquele jeito, ele definitivamente não merece ser considerado um herói. Tem muita gente por ai que compara ele com o Tiago e culpa o Tiago dizendo que ele implicava com o Snape quando eles estavam na escola, mas o Tiago cresceu, fez as escolhas certas, e parou de implicar com o Snape no sétimo ano. Já o Snape continuava descontando as raivas infantis dele no filho da mulher que ele diz que amava vários anos depois. Enfim, esse assunto é complicado para mim, se deixar eu falo disso por horas... 2 - O mapa do maroto para mim poderia ser divido entre o Teddy e os filhos do Harry, afinal, o Teddy já estava no último ano quando o Tiago Sirius entrou na escola, eles poderiam passar o mapa um para o outro ao longo dos anos, para todos os decendentes dos marotos terem acesso à genialidade deles.
- Carlos Mashiant: Quando você descobrir esse "mistério" do último capítulo você me conta o que estava suspeitando? Eu acho que o Crouch conseguiu mesmo enganar até Dumbledore, eu suspeito que o Crouch Jr seja um bom oclumente, ou Dumbledore teria descoberto a verdade muito antes. E é por esses motivos que ele manteve Moody vivo dentro do malão, não só para arrancar os cabelos dele, mas para poder interrogar ele sempre que possível, para manter os maneirismos e etc, no fim acho que o Crouch Jr (assim como muitos outros comensais da morte) era muito inteligente, mas só usou a inteligencia dele para o mal... Pode perguntar sempre que quiser, sempre que a pergunta é ok eu respondo, e suas perguntas foram bem normais. Eu fui criada em duas religiões, a católica e a espírita, e eu acredito em algumas coisas das duas, por isso acabei criando minha própria crença que mistura um pouco as duas, mas ultimamente estou mais para o espiritismo. Torço para o flamengo! Sou carioca afinal de contas! Mas meu marido torce para o Fluminense, nem me pergunte como isso funciona! Que bom que a Joyce está lendo, fico tão feliz de ver mais uma pessoa entrando no nosso mundo! E sabe que não importa o que aconteça, PdA sempre foi meu favorito... Afinal é nele que descobrimos mais sobre os marotos, e eles sempre serão meus personagens favoritos.
- In_Black: Fico feliz que tenha gostado tanto do capítulo, significa muito para mim! E todos amamos o Sirius, não tem como não amar!
- Amanda Ferreira: Acho que o Tiago vai odiar a Umbridge muito mais do que ele odeia o Voldemort... Afinal, não é só o Harry que ela machuca, ela é a pessoa que prejudica o Remo e impede que ele arrume outros empregos com a tal da lei em que os lobisomens tem que se registrar e etc... E eu acho que a reação do Remo ao saber que tem um filho com a Tonks é bem previsível, afinal já vimos essa reação nos livros, não é? Já a morte do Sirius, eu já escrevi, e mesmo assim, to super nervosa para a hora em que for acontecer... Quanto a postar mais capítulos, é como eu sempre digo, eu faço o meu melhor para postar o máximo possível, mas eu também tenho a minha vida e outros projetos, não é tão simples assim. Eu pretendo de verdade acabar todos os livros, mas saiba que isso vai demorar muito, já estou com esse projeto há anos...
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Comentários (8)
Os pais de Hermione são meio maluquinhos rsrsrs
2018-09-17Olá Juh! Acho q se continuar lendo dois por dia, eu te alcanço.Mas não me preocupo muito pq vc sabe pq não to lendo tanto e acho q essa é a última semana mais "tranquila" antes do grande dia.Mas vou continuar tentando ler dois por dia pra te alcançar. Apesa q foi bom poder ler vários capitulos seguidos sem ter que esperar, só acho ruim pq fico sem resposta dos meus comentários. hahahahahahaSó consigo ficar imaginando o prof. Flitwick voando pela sala e não paro de rir. hahahaahhahahahahaaahaahhahahahahaahahhaahhaahahaahahhahaahahahah É realmente muito complicado Dumbledore não ter confiado no Sirius, mas o julgamento dele raramente esteve errado, mas entendo o Sirius ter essa desconfiança agora. A Alice expressa o que eu sinto "os marotos são incriveis". Harry sempre poderia ter pedido ajuda pros outros Wesleys mesmo. Achei q os marotos suspeitariam que os meninos eram a coisa q o Harry teria q resgatar na hora q a Minerva mandou chamar eles. É realmente muito comovente o Rony ser oq mais faria falta a Harry. Nem tinha parado pra pensar que os alunos ficaram olhando pro lago por uma hora sem ver nd. hahahaahahaha Faz sentido essa teoria do par no baile de inverno, pq não vejo a Hermione sendo tão essencial ao Krum assim não. Eu acho que o Harry apesar de inocente foi nobre também.Muito bom Juh, adorei a parte que os marotos ficaram todos apreensivos achando q o Harry não ia conseguir, mas já sabemos q ele sempre consegue! haahhaahahahaUm abraço Juh!
2016-03-01Hey! Demorei? Não sei. (Tudo até agora rimou)Bom, olá, não comentei no último capítulo, perdão. Enfim, essa fanfic está me deixando cada vez mais animada com Harry Potter. Eu mal falava de HP antes, porque li a saga já faz um tempo, mas agora, não consigo parar de pensar nisso! Anyway, vou começar a fazer minhas preces. Que finalmente Severus Snape perceba as merdas que ele fez. Coitado. Mesmo ele tendo sido apaixonado pela Lily, nunca vi isso como desculpa. Ele é um chato de galocha. Ando com muita dó do Harry, pobre Harry, não pensa direito as vezes, mas a cabeça dele é sobrecarregada com Voldemort e tudo mais.Até o próximo capítulo, estou muito ansiosa :*
2015-12-11Hey! Chegay... Essa história tá me obrigando a olhar a saga toda com outros olhos ;-; Só assim pra eu perceber que o Trio é mto burro de não pedir pros outros personagens.NEM PRO SIRIUS ELES PEDIRAM!! E o Lupin ou o Hagrid dariam um milhão de ideia em minutos, e não teria todo esse desespero. Mesmo sabendo o que vai acontecer, eu quase morro de agonia, fico gritando com o livro pra eles pedirem ajuda. Sinceramente, acho que lá no fundo isso tem uma pontinha de orgulho, mas td bm. Aham, outra coisa: ‘‘ Não podemos falar sobre o que ainda não aconteceu nos livros‘‘ Eu sugeriria melhorar a atuação, pq tá foda esconder os sentimentos desse jeito kkk Bjos :*
2015-12-02Mais uma vez, eu amei o novo capítulo Julia! Mais ao mesmo tempo, eu fico triste, todo mundo julga muito o Harry, reclamando disso ou daquilo, mas ninguém entendo pelo que ele passa. Tipo, a vida dele não é fácil, ele sabe que Voldemort pode voltar a qualquer momento sem ele saber como, é claro que ele acaba se esquecendo de certas coisas. Acho que esquecem que ele foi criado orfão e sem amor, e que é díficil ter confiança nos outros e pedir ajuda quando nunca se teve. Enfin, adoro muito ler sua fic!
2015-11-30Liy e CIA vão matar o Harry até o fim desses ivros, to te tizendo isso.Eu ate entendo gente que gosta do Snape, mas agora vir na cara de pau e me dizer que ele foi um "ótimo professor". Ainda bem que foi onine pq se fosse cara-a-cara eu tinha matado a criatura. Eu ja estive no lugar do Harry/Hermione com Snapes da vida, e vou te dizer, quero mais é que ele se expl(f)oda. Espero que ele mude nessa fic ou eu entro ai e esgano ele.Amei e até o próximo.
2015-11-30Pode deixar que no comentário do último capítulo eu lhe conto minhas suspeitas. O Crouch Jr. é realmente muito inteligente, prova disse é que ele não enganou somente a Dumbledore, mas, também, a Minerva, o Snape e outros vários. Eu sempre me questionei qual critério eles teriam escolhido para definir aquilo que os competidores mais sentiriam falta e essa sua teoria (que foi com quem eles passaram mais tempo durante o baile), é bastante plausível. Eu acho muito engraçado a parte do Krum tentando chamar a atenção de Mione, creio que nós homens sabemos mais como é isso... Enfim, o capítulo, nem preciso dizer, está muito bom. Já estou ansioso para ler a volta do almofadinhas.
2015-11-29Em suma o Snape só se fudeu, com o perdão da expressão feia. Mas ainda acho que tem muita coisa pra ser conversada já que na sua fic ele está tendo a chance de ver as cagadas que fez.
2015-11-29