Dias infelizes



Naquela noite, Lily dormiu tarde. Passava da meia-noite quando voltou à seu quarto. Marlene e Catherine dormiam em sono profundo. Os olhos da ruiva estavam inchados... Despiu a capa negra no escuro, pegou dentro de seu malão uma camisola branca de mangas longas, estampada de laçinhos, vestiu-a e sentou-se no colchão para pentear suas madeixas. Escovava seu cabelo sem pressa, já estava tarde, que mal fariam mais algumas horas acordada? Quando não encontrou mais desculpas para evitar o descanso, deitou-se e cobriu-se com a manta de lã. Nevava do lado de fora e a brisa gelada invadia o dormitório.


- Por quê? Por que assim? Não é justo comigo! – Falou baixinho para si e fechou os olhos, sentindo as bochechas umedecerem por um líquido quente e salgado vindo de seus olhos.


 A quarta-feira veio triste. Lene acordou primeiro, mas demorou a processar tudo que acontecera há menos de 12 horas. Sentiu um aperto no peito, sabendo que não teria a amiga tão cedo consigo e rumou para o banheiro, afastando os maus pensamentos. Lily despertou logo depois, exausta! Nada dormira nas poucas horas que teve. Queria ficar na cama. Contudo, exerceu o máximo de força de vontade que tinha e levantou-se. Organizou seu leito e buscou no malão um uniforme limpo. Após separar um jeans escuro, a blusa social branca, a gravata vermelha, as luvas e meias, o paletó negro e a capa de inverno, ouviu a porta do banheiro ser destravada. Levantou a cabeça instintivamente e seu olhar cruzou com o da amiga, ou ex-amiga.


Um sentimento estranho pairou em si, seria remorsos? Não, não fizera nada errado. Talvez saudade ou arrependimento. Lily não sabia realmente o que era, apenas que era ruim. Marlene não sabia o que dizer, se dizia um mero “bom-dia”, ou, quem sabe, chamasse a amiga pelo nome. Perguntou-se se Lily ainda iria querer que Lene a chamasse de “Lily” ou mandaria ser chamada de ‘Evans’, como fizera com Cath. Eram tantas as dúvidas que acabou por não dizer nada. Quando ia alcançando sua cama, ouviu Lily dizer de dentro do banheiro.


- Bom dia para você também, Mckinon!


- Bom dia, Evans. – Comentou inaudivelmente do seu canto do quarto.


Eram quase 7h quando Lene deixou o dormitório, Lily ainda escrevia no diário e Catherine tomava banho. A ruiva fora seca com Cath do mesmo modo, Lene maneou a cabeça melancolicamente quando cruzou com a ruiva no quarto. Alcançou o salão comunal e encontrou Sirius sentado olhando um espelho.


- Será mesmo que eu tenho um namorado tão narcisista? – Brincou abraçando-o pelas costas.


- Talvez, mas esse narcisista reconhece que existe alguém mais lindo que ele.


- Ah é? Pois quem? – Quis saber a morena, fingindo ciúmes.


- Uma morena linda...Olhos cor de mel, goleira de quadribol... Conhece? – Devolveu ele, fazendo cócegas nela.


- Umm... Acho que já a vi sim... Vou bater um papinho com essa aí. Colocar ela no devido lugar! Ora essa provocando namorado alheio!!!!


Sirius riu gostosamente. Ela assentou-se ao lado dele e ele pode ver a preocupação e tristeza nos olhos da menina.


- Ei... Que houve?


- Nada... Nada demais.  – e sorriu falsamente para ele. – Está tudo bem!


- Lene... Não mente! O que aconteceu? – Pediu ele.


- Lily... Não fala com ninguém! Chamou-me de ‘Mckinon’. Nunca, desde que nos conhecemos, ela nunca me chamou assim. De brincadeira talvez, mas de verdade... Sinto-me culpada!


- Você também? – Indagou uma voz atrás deles. Lene se virou e encarou duas cabeleiras loiras. – Não dormi direito essa noite, não acredito que brigamos com a Lils!


- Cath... Vem cá amiga! – Disse Lene triste. Puxou-a para um abraço acolhedor. Remo sorriu e assentou-se ao lado das garotas.


Aluado também estava triste, por Lily e, principalmente, por Pontas. Desde o encontro no corredor, Tiago não trocara uma palavra com os amigos, nem um ‘boa noite’, ‘bom dia’ ou sequer um ‘oi’. O moreno estava na chamada “Fase de melancolia”, costumava ocorrer após uma briga ou discussão com a ruivinha. Convidou os demais para o café da manhã, morria de fome. Foi zoado pelos demais que o compararam a Rabicho.


- Não vamos esperar o Tiago?


- Sei lá, Lene. O veado vai demorar a descer. Melhor irmos logo. – Aconselhou Remo.


Lily vinha descendo as escadas com a mochila sobre os ombros. Olhou os amigos deixando vazio um sofá e quis chorar. Antes, ela estaria ali no meio, rindo. Rumou para o salão, sentou-se próximo aos colegas, que notaram sua presença.


- Bom dia! Importam-se se eu me sentar aqui? – Indagou tímida


- Não, esteja à vontade, Evans. – Respondeu Sirius, o menos incrédulo.


- Obrigada! – Serviu-se e comeu em silêncio, o clima era absurdamente desagradável. Lily, após se alimentar, folheou seu volume de “Prática de Magia Defensiva Avançada – 7ª série”


Pouco depois, Tiago apareceu, correndo e meio mal vestido. Sua gravata estava pendurada no pescoço, mas não amarrada, os cabelos espetados e a mochila desarrumada.


- Bom dia, Pontas! – Cumprimentou Aluado e Almofadas, em coro. Zoando o amigo.


- Bom dia!!! Bem, Parece que tudo realmente está bem quando termina bem, não? – Falou sorrindo. – Bom dia, Lils. – Cumprimentou, inclinando-se para dar um beijo na bochecha da amiga. Os demais faziam gestos negativos para o amigo.


- Bom dia, Potter. Com licença, eu tenho aula e você precisa tomar café. – Levantou-se rápido e correu salão a fora.


- Nada se resolveu, não é? – Quis saber, triste. Os amigos negaram, ele suspirou, pegou uma torrada com manteiga que estava no prato de Remo, serviu-se de suco e ingeriu de uma vez seu minguado café da manhã. Fechou sua gravata e sua capa de frio, organizou a mochila e então convidou. – Vamos?


A aula era dois tempos de DCAT com a sonserina, qualquer aula na companhia dos colegas ‘verdes’ não era motivo de entusiasmo por parte dos grifinos. A ruiva pediu para fazer a atividade sozinha, mas não pode. A aula seria prática, nova tentativa de produção do patrono, dessa vez não foi chamada, mas Lene, Remo e Malfoy.


- Expecto Patronum! – Nada, nada irrompeu da varinha do loiro sonserino. Tentou mais vezes, nada surgiu. Foi substituído pela morena.


- Expecto Patronum!!! – A voz dela foi confiante, um singelo unicórnio correu pela sala, pairando gracioso no ar.


- Parabéns!! Excelente, Srta. Mckinon! 10 pontos para a casa vermelha! Próximo! – Lupin dirigiu-se ao centro da sala.


No que pensaria o loiro? Sua vida era tão complexa... Tinha dificuldades tão grandes que nem se podia imaginar, o medo de ser discriminado, a responsabilidade que pesava em seus ombros... Era diferente e excluído tantas vezes... Queria ser normal... Mas ainda assim era feliz, tinha os marotos, que eram o melhor exemplo de amizade que se podia querer. Concentrou-se forte na 1ª noite na casa dos gritos com os marotos animagos.


- Expecto Patronum! – A varinha tremelicou e eis que surge um animal imponente, forte, um lobo claro que brilhava pelos cantos da sala, transmitindo luz e paz ao breu do ambiente.


- Maravilha! Parece-me que a grifinória tem um grande potencial para feitiços avançados, hum? Que tal... 20 pontos?


- O senhor é quem decide... – Disse um tímido e corado Aluado.


- Bem meu jovem... Eu creio que 20 pontos é o merecido pelo senhor. Agora, se puder se sentar...


- Claro, claro! – Falou o loiro e rapidamente dirigiu-se a seu assento.


- Certo, depois de todos esses colegas nos mostrarem sua incrível capacidade de produzir patronos, quero que todos escrevam e me entreguem, em uma semana, um pergaminho de 50cm sobre o Feitiço do Patrono, contendo o que é, como produzi-lo e qual sua importância na pratica de magia defensiva atualmente e ao longo da história bruxa. Vou liberá-los mais cedo. Dispensados e até próxima aula! – Despediu-se o professor, anotando tudo sobre o trabalho no quadro negro, com um simples aceno de varinha. 


Lily saiu da sala em silêncio calma, viu Marlene cruzar-la e seguir abraçada a Sirius, Cath parou e pareceu que ia dizer algo à ruiva, mas depois continuou, balançando a cabeça negativamente e parecendo desolada.


 Assim passou o resto dos dias da semana, tristes. Já era sexta-feira e nenhum dos amigos trocara uma palavra com Lily, por covardia e receio de desencadear uma nova briga. Mas ela já sentia tanta saudade deles, a falta era tão grande! Não havia companhia no castelo, exceto Emmeline, que era de outra casa. Saíra da aula de Trato das Criaturas Mágicas e sentira falta de voltar ao castelo, para Transfiguração, abraçada ao amigo Tiago ou Remo, talvez até Sirius... Andava pelos corredores desertos e ouviu passos atrás de si, virou-se.


- Lily!!Ei... Espera! É verdade que... Que você e Potter discutiram? Digo, pararam de se falar? – Perguntou um garoto de cabelos negros e nariz adunco.


- Sim, Snape! É verdade, por que o interesse em meus assuntos? – Perguntou, a voz estava cortante como uma lâmina, embora controlasse o emocional para evitar as lágrimas.


- Hey, Lils... Tudo bem? – Questionou Snape, tentando demonstrar afabilidade ao pôr as mãos no rosto magro da menina.


- Não! Não está tudo bem!!! Odeio minha vida, eu... Eu não tenho amigos!!!


- Não! Não é assim, você sempre soube que o Potter não prestava, mas...


-SNAPE! Está virando de lado? Andando com a Evans? A sangue-ruim? Não é quem pensávamos! Mestre ficará decepcionado. – Falou uma voz arrastada.


- Malfoy! Ah, bem... Não é isso, eu apenas...


- Desencoste de mim e saia de perto com esses projetos de comensais, de preferência saiam da escola para eu não olhar nunca mais na cara de vocês, insuportáveis. – Disse a ruiva, irritadiça, andando opostamente aos demais.


- Nojentinha! IMPEDIMENTA! – E Lily caiu de cara no chão, com as pernas imóveis. – Agora acabe com ela, Snape. – O outro olhou para o loiro com uma mescla de dúvida e covardia. – Ande logo, estou começando a duvidar da sua posição em relação ao Lorde!


Mas quando Severo ia atacar a amiga, ou ex-amiga, sentiu tanto remorso que demorou a sequer sacar sua varinha. Sua mão tremeu e quando ia tentar um feitiço, ouviram passos e uma voz, que lembrava a da professora Mcgonagoll, ao longe no corredor.


- Se salvou, Snape! A velhota vem ai. Vamos embora, antes que desconfiem de nós. Sua lealdade é duvidosa por enquanto. – E saiu arrastando Severo pelas vestes até o fim do corredor.  


Mas a voz, não era de Mcgonagoll, nem os passos tampouco. Eram de Marlene e Catherine, que iam em direção à sala de Transfiguração. Conversavam, imitando vozes de alunos e professores de colégio, vinham animadas e quase não perceberam a ruiva caída.


- LILS!!! Lily, que fizeram com você? – Indagou Lene, apavorada. Vendo que a outra não podia responder, tentou um feitiço. – Finite!


A ruiva libertou-se do encantamento e se sentou no chão de pedra, braços enrolados em torno dos joelhos, que estavam dobrados, rentes ao corpo da menina, a cabeça descansava sobre os braços e a mochila jazia semi-aberta ao seu lado. Em um murmúrio quase inaudível agradeceu a ajuda que recebera de Marlene.


- Não foi nada, Lily. Quer dizer... Monitora Evans. Olha... Eu sei que a sua raiva de nós não deve ter diminuído nada e nem tiro o seu direito de estar totalmente chateada conosco... Mas, por favor... Escuta o que eu tenho que te falar, Evans! – Pediu a morena, ajoelhando-se ao lado da amiga.


- Pode falar. Eu te escuto, Marlene. – Respondeu Lily com a voz abafada.


- Eu sinto muito! Sinto mesmo!!! Juro que é a mais pura verdade. Eu não queria trair sua confiança, mas é que, assim como os outros, eu sempre achei que você era muito dura com o Tiag... Potter. Então, quando começaram a falar sobre vocês estarem demorando a se entender, eu achei que seria legal tentar algo para juntar você e ele. Não me entenda mal, eu te adoro amiga... Sinto sua falta!! Se pudesse voltar no tempo juro que faria diferente! Perdoa-me?


A outra levantou a cabeça e lágrimas finas escorriam pelo rosto dela, secou-as e sem nada dizer, abraçou Lene com força.


- A qual é, vai ficar só olhando mesmo, Morrison? - Provocou a ruiva. Cath juntou-se as amigas em uma mistura de braços, mas era bom estar naquela companhia feliz. – Mas deixo bem avisado... Montem outro plano para me juntar com o Potter e vão ver uma ruiva raivosa. Ai ai ia!!! CHATAS!!! Mas fazer o que? Eu adoro vocês do mesmo jeito, minha loirinha doidinha e minha morena gorduchinha. – Levantou-se em um pulo. – Agora, corre para transfiguração!! A última a chegar é prisioneira de Azkaban!!! – Correu, já se via somente uma moita ruiva com preto pelos corredores.


- A Lily esquece a mochila no chão e a doida sou eu!! É cada amigo estranho que eu arrumo!! – Gemeu Cath, pegando a outra bolsa do chão e jogando-a nos ombros, saindo correndo com Marlene, não tinha pretensões de ir para Azkaban.
*******************
N/A: Capítulo novo!!
Eu avisei que postaria mais, se tivesse comentários. Promessa cumprida!
E me perdoe TalismAN. Não cometerei o erro de novo.
O que estão achando da fanfic? Estamos chegando nos meus capítulos favoritos!!!
Em breve mais marotices!
De uma autora feliz,
Morgana Pontas Potter. 

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Comentários (1)

  • Talisman José da Silva Moraes

    Não gostei muito desse capítulo. Acho que faltou você deixar a dor da lily e do tiago mais palpável. Algo que transmitisse o sofrimento de cada um. Foi muito breve isso. Também considero desnecessária a parte do duelo, uma fez que a marlene e a cath não a salvaram, apenas encontraram-na. Enfim, na minha opinião esse capítulo está um pouco abaixo dos anteriores, mas mesmo assim aguardo ansiosamente pelo próximo!

    2014-03-20
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