Oneshot



Fred se levantou da cadeira em que estivera sentado nas últimas cinco horas e se espreguiçou, lentamente. Procurou o relógio dentro do bolso e se assustou ao ver que já eram onze da noite. Tinha prometido a George que iria para a Toca lá pelas nove. Mas, para falar a verdade, ele não estava exatamente a fim de passar o réveillon com a família. Na real, Fred não queria ficar muito tempo perto de Molly. Por isso, desde o Natal, ele vinha se trancando dentro do escritório da Gemialidades Weasley para colocar os papéis das novas filiais em ordem. Era um jeito que ele arrumara de fugir do mundo.


A verdade era que Fred tinha medo de ver Molly. Até agora, ele tinha conseguido ficar longe dela com sucesso. Durante o resto da noite de Natal, fizera um grande esforço para se manter perto de James e Louis, mostrando aos dois as mais novas invenções da loja. Nos dias que se seguiram, Molly provavelmente estava ocupada com o estágio – todos os dias, no jantar, Angelina reclamava da quantidade de serviço que havia no Ministério nos últimos tempos, principalmente porque vários funcionários tinham tirado férias.


Mas como evitar Molly no réveillon? Fingindo estar trabalhando?


Fred não queria vê-la porque temia levar um fora. Depois que quase beijou a prima, deu-se conta de que era ela a garota que ele queria que fosse sua namorada. A Mollynha era a garota que ele amava. Mas, apesar disso, namorar Molly parecia algo simplesmente fora de cogitação. Por Merlin, eles eram primos! Quase uma espécie de irmãos! E ele tinha certeza de que Percy não gostaria da ideia nem um pouquinho. O tio podia ser meio almofadinha, mas virava um bicho se perturbassem Molly, Lucy ou Audrey. Ele realmente se esforçava para defendê-las.


E o que mais o tinha incomodado tinham sido os olhares que ele sentia que Molly lançava em sua direção, durante todo o resto da noite... pela primeira vez, Molly lhe lançava um olhar que ele não sabia bem o que significava. Nunca o tinha visto. Não era de tristeza nem de alegria nem de mágoa nem de decepção nem de curiosidade. Tampouco era o olhar que estampava o rosto de Molly quando ela descobria que tinha acertado uma questão de prova dificílima. Fred nunca tinha visto aquele olhar antes.


O celular dele, em cima da escrivaninha, tocou, assustando-o. Tinha sido o presente que Arthur dera para todos os netos no Natal, depois que Hermione lhe dera um de aniversário. E Arthur se divertia tanto com o aparelhinho que qualquer coisa virava motivo para ligar para os netos.


Fred se aproximou e pegou o celular. Na tela, havia a foto do avô. O rapaz suspirou e o levou o aparelho ao ouvido.


- Fala, vô. – disse, resignado.


- Fred! – disse Arthur, do outro lado, parecendo feliz. Fred ouviu um “Isso mesmo, Sr. Weasley” de Hermione ao fundo, o que indicava que, pela primeira vez, Arthur conseguira discar um número sozinho. – Onde você está? Não vai vir para cá? George disse que você tinha dito que viria lá pelas nove, mas já passou das onze!


- Eu já tô saindo daqui, vô, não precisa se preocupar. – respondeu, sem saber o que falar.


- Então avisa a pequena Molly. Ela disse que ia te procurar. Até mais, Fred! – e desligou.


Fred fitava o celular, confuso. Molly tinha ido atrás dele? Por quê? Como ele iria evitá-la agora? E com que cara ele ligaria para ela?


Duas batidas na porta. Fred ficou imóvel. Não atenderia. Simples assim.


Bateram de novo.


- Fred, sou eu. – por Merlin, era Molly. – Eu sei que você está aí, então faça o favor de abrir essa porta se não quiser que eu a arrombe.


Silêncio.


- Fred, eu estou falando sério. – disse a menina, parecendo um pouco irritada. – Você tem cinco segundos para resolver abrir a porta. Cinco... quatro... três.... dois.... um... BOMBARDA...


Assustado, Fred correu e abriu a porta. Encontrou Molly com a varinha nas mãos, apontando para a porta. Ao vê-lo, ela abriu um sorriso estonteante e guardou a varinha dentro das vestes, como se nada tivesse acontecido.


- Fred! Finalmente consigo ver você!


- Olá, Mollynha. Está realmente aprendendo a ser uma marota, não é? – comentou, com um sorriso nos lábios.


- E você está realmente aprendendo a ser um covarde, não é? – comentou a ruiva, despretensiosamente, entrando no escritório mal iluminado.


Fred não fez comentários, porque não sabia exatamente a que ela se referia.


- Você não vai para a Toca, Fred? Pensei ter ouvido tio George dizendo que iria. – contou Molly, sentando-se, sem rodeios, em cima da escrivaninha.


- Bom. Eu realmente disse ao papai que iria. Mas estava mudando de ideia. – comentou, devagar.


- E para onde você iria? Quero dizer, réveillon é o tipo de data que deve ser comemorada em família. – acrescentou a ruiva, rapidamente. Fred sorriu, divertido.


- Tentando esconder a curiosidade, não é, Mollynha? – ela corou em resposta. – Não precisa ficar com vergonha. Sou só eu. O Fred.


- Jura, Fred? Não sabia. Pensei que fosse o Al. – retrucou, ironicamente. – Agora é sério: para onde você iria?


- Sei lá. Talvez procurar algum bar trouxa que esteja aberto. E eu não iria, eu vou. – acrescentou ele, tomando uma decisão.


- Eu vou com você. – disse Molly, em tom definitivo.


- Ah, não vai, não. Você vai passar o réveillon com a família.


Molly ergueu uma sobrancelha, em tom de desafio.


- Primeiro: eu não te perguntei nada, só avisei que vou com você. Segundo: réveillon não é data de ninguém ficar sozinho. Terceiro: eu sou sua família também. Se eu ficar na Toca ou ficar com você, estarei em família do mesmo jeito. – disse ela.


Fred sentiu o coração despencar. Ele amava a companhia de Molly. Não havia dúvidas. Mas ficar perto dela, lembrando-se de que ela era “família”, só o fazia se sentir cada vez pior. Não havia como terminar um beijo daqueles em alguém da família, havia?


- Mas não reclame, Mollynha, se o bar for muito ruim. – comentou ele, dando-se por vencido. Ela desceu da escrivaninha imediatamente.


- Eu não tenho as frescuras da tia Fleur, Fred. E olha que a tia Gina e a tia Hermione já disseram que ela melhorou 100%. – comentou, enquanto Fred pegava a chave para trancar o escritório.


Fred nada disse. Vestiu um sobretudo, saíram do escritório e ele o trancou. Desceram as escadas que ficavam na lateral da loja e andaram até a saída do Beco Diagonal em silêncio. Só quando chegaram na Londres trouxa, escorregando ocasionalmente na fina camada de neve que cobria as ruas, foi que Molly se arriscou a começar uma conversa:


- Fred? Por que você está tão calado? – quis saber, sem se preocupar em esconder a curiosidade.


- Estou cansado. Muito serviço. – respondeu, simplesmente, observando a felicidade dos transeuntes, os rostos cheios de esperança de um novo ano melhor.


- Tio George disse que o serviço que você estava fazendo não era nada urgente e que podia ser deixado para o próximo ano. – comentou a ruiva, olhando-o de esguelha.


- Mas eu preferi fazer tudo agora, Mollynha. Para não ter nada acumulado para o próximo ano. – disse, olhando para os próprios pés.


- Certo. – falou Molly, seguindo-o para dentro de um dos pubs que havia perto do rio Tâmisa, onde só se vendia cerveja quente.


Molly e Fred pegaram uma caneca de cerveja cada um e voltaram para fora. Apoiaram os braços por cima da proteção que havia na ponte do Tâmisa e o observaram, em silêncio, bebericando a cerveja vez ou outra.


- Melhor e mais forte que cerveja amanteigada. – comentou Molly. Fred sentia o olhar dela sobre si, mas não se importou em falar nada. Doía-lhe ter que ignorar a prima, mas era necessário. Era a forma que ele encontrara de se “proteger” de uma aproximação ainda maior com ela. Para que ela não tivesse espaço para fazer perguntas ou comentários sobre o quase beijo.


Aos poucos, flocos de neve começaram a cair. Mesmo assim, várias pessoas começaram a sair de dentro dos pubs que circundavam o Tâmisa, ansiosos pela queima de fogos que anunciaria o início de um novo ano.


- O que você espera do Ano Novo, Fred? – questionou Molly, curiosa.


Fred fixou o olhar no Big Ben. Respondeu, lentamente:


- Bem... espero que seja um ano melhor do este.


Molly revirou os olhos, exasperada:


- Ah, não me diga! Como se onze em cada dez pessoas não quisessem o mesmo.


- Qual é, Molly? É verdade! – defendeu-se ele, arriscando olhar para a prima, que tinha uma expressão entre confusa e irritada. Ela abriu a boca para responder, mas, naquele instante, Girl on fire começou a tocar de dentro do bolso do sobretudo dela. Com um olhar irritado para Fred, ela pegou o celular e o atendeu:


- Alô? – Fred voltou a olhar para o Big Ben. – Não, vovô, está tudo bem. – pausa. – É, eu estou com ele. – pausa. – Não precisa ficar preocupado, o Fred vai cuidar de mim. – pausa. – Perto do Tâmisa. Vamos ver a queima de fogos. – pausa. – Não, não, estamos bebendo cerveja. Não a amanteigada, mas... – pausa. – Depois a gente se desculpa com a vovó. – pausa. – É que já estava tarde, e... ok, eu passo para ele. – Molly tirou o celular da orelha e o estendeu para Fred. – O vovô quer falar com você.


Fred pegou o aparelho e o levou à orelha.


- Alô?


- Fred, eu espero que cuide da sua prima direito! – disse Arthur, parecendo irritado. Isso surpreendeu Fred. Poucas vezes ele escutara o avô dando bronca em alguém. Geralmente, todas as poucas vezes que vira o avô ficar realmente irritado envolviam algum “zé-ruela” perturbar as netas ou fazê-las sofrer.


- Eu estou fazendo o melhor que posso. – limitou-se a dizer.


- Não, não está. – falou Arthur, veementemente. – A pequena Molly saiu daqui bastante alegre, sorrindo. Agora eu ligo para ela e escuto uma voz desconsolada. O que você está fazendo com ela, rapaz? E não me interrompa, se eu estivesse aí veria que você está começando a abrir a boca para se explicar. E eu não quero explicações, estamos entendidos? – Fred surpreendeu-se. O velho Arthur realmente os conhecia muito bem. – Escuta, Fred, eu não me importo que você e a Molly estejam na Londres trouxa. Mas, por favor, não faça o Ano-Novo que poderia ser alegre ser triste. Não sei o que está acontecendo aí, mas seja com a sua prima como você sempre foi. Ela sempre ficava tão bem perto de você, desde criança. Pode ser?


- Claro que sim. – concordou Fred, sentindo-se estúpido. Independentemente de qualquer coisa, era apenas a Molly. Ele poderia falar sobre o que quisesse com ela. E eles sempre arranjavam um jeito de arrumar tudo. Toda vida fora daquele jeito.


- Ótimo. – disse Arthur. – Mais tarde, eu ligo de novo para saber se você cumpriu o combinado. Tchau, filho.


- Tchau, vô. – e desligou o celular.


- O que o vovô tanto disse a você? – perguntou Molly, pegando o celular e guardando-o no bolso novamente.


- Ele disse que não era para eu deixar seu Ano Novo triste, porque você estava alegre quando saiu da Toca para me procurar. – respondeu, sem olhar para Molly.


- Ah. – fez ela, parecendo espantada. – O vovô sabe reconhecer como a gente está só pela voz?


Fred se virou na direção dela.


- Você realmente está triste? – questionou, interessado. Molly não se mexeu. – Molly?


- Não sei se você percebeu, Fred, mas já são umas duas vezes que você me chama de “Molly”, não de “Mollynha”. – comentou, bebendo um gole de cerveja.


- Mas...?


- Você tá distante, Fred! – desabafou ela, voltando o olhar castanho para ele. – Eu não aguento isso! Eu achava que podia confiar em você, mas você nem tem prestado atenção nas coisas que eu falo, me responde de qualquer jeito! Que droga, eu ODEIO isso, tá bom? Eu não vim atrás de você em pleno réveillon para isso!


Fred sustentou o olhar de Molly com determinação. Olhar que começava a se encher de lágrimas. Lágrimas que ela não deixou escorrer.


- Me desculpe, Mollynha, eu não... eu não queria fazer você se sentir assim. – disse ele, por fim, envolvendo-a em um abraço apertado, que fez os dois corações dispararem. – Foi estupidez minha agir assim.


- Por que você está assim, Fred? – perguntou ela, soltando-se do abraço. – Eu só queria entender isso.


- Porque... – ele suspirou, derrotado. – A verdade é que eu estou com vergonha.


- Fred Weasley II com vergonha? Espera, isso tem que ser gravado... – comentou Molly, sorrindo lindamente. Involuntariamente, Fred sorriu também.


- Ei, Mollynha, eu também sou uma pessoa, tá? Também tenho direito a ficar com vergonha.


- É por causa do que aconteceu no Natal? – perguntou a ruiva, sem rodeios, ignorando a última fala do primo. – Você quase me beijou. – sussurrou ela.


Fred sentiu as bochechas esquentarem.


- Bem... hm... é, é sim. – respondeu, chutando um pouco da neve que havia no chão, consciente de que toda a atenção de Molly estava voltada para ele.


- Fred... foi o melhor quase beijo de toda a minha vida.


Fred ergueu a cabeça imediatamente, espantado. Ele realmente tinha ouvido aquilo?


- Como é? – perguntou, olhando para Molly.


- Foi o melhor quase beijo de toda a minha vida. – repetiu, sem desviar o olhar dos olhos de Fred. E Fred sabia que ela estava sendo sincera.


Ficaram alguns segundos apenas se encarando.


- Nunca pensei que eu, a Molly nerd-irritante, seria a garota que deixaria Fred maroto-sonho-de-consumo-das-meninas-de-Hogwarts com vergonha. – comentou Molly, sorrindo de lado.


Fred sorriu também, as bochechas corando. E não era por causa do frio.


- A vida é engraçada. – comentou o rapaz. – Mas nós somos primos, Mollynha, eu não...


Fred foi calado na mesma hora. Molly se jogou no pescoço dele e o beijou. Ele não esperava por aquilo, mas retribuiu, buscando a língua dela. Fred deixou a caneca de cerveja cair na rua e usou as mãos para puxar Molly pela cintura, aproximando-a dele, ao mesmo tempo em que ela segurava o pescoço dele com força.


Era como se eles já tivessem se beijado várias vezes antes.


Fred arrancou o gorro da cabeça de Molly, para que pudesse passar a mão por entre os cabelos ruivos dela. E as roupas todas que eles usavam começaram a incomodar. Porque eram desnecessárias.


Mas, por Merlin, eles estavam no meio de uma rua, cheia de um monte de gente. Até o segundo seguinte.


Fred usou todo o autocontrole que lhe restava para aparatar de volta no escritório dele. Molly se afastou dele por breves segundos, apenas o tempo suficiente para ver que não estavam mais na rua, e voltou a beijá-lo.


Em questão de segundos, as pesadas roupas que eles vestiam estavam no chão, e eles, em uma cama de casal que havia em um pequeno quartinho ao lado do escritório.


Fred queria que Molly se sentisse amada. Desejada. O que ele não sabia era que Molly ainda era virgem. E só se deu conta disso quando percebeu a pequena barreira que impedia a entrada dele.


- Mollynha, eu não... – começou, fazendo menção de se afastar dela.


- Fred. Eu amo você. – disse ela, com determinação, fitando-o profundamente.


Fred sentiu o coração se encher de alegria, porque ele também a amava. Mas estava tudo errado. Era a primeira vez dela, e deveria ser especial. E eles estavam em um quartinho chinfrim, em cima de uma loja de logros.


- Eu amo você, Mollynha. – disse ele, admirando-a, afastando alguns fios dos cabelos ruivos longos dela. – Mas...


- Fred, eu já disse que amo você. – disse ela, novamente. – É mais do que suficiente. – acrescentou, determinada.


Fred não precisou de outra chacoalhada para fazer de Molly a mulher dele.


Quando, por fim, deitou-se na cama, igualmente exausto e contente como nunca se sentira antes, puxou Molly para se deitar no peito dele e os cobriu com um cobertor.


- Nunca me senti tão bem. – comentou Molly.


- E eu nunca estive com mulher nenhuma que me desse tanto trabalho, mas tivesse, no fim, o melhor resultado de todos. – comentou ele, acariciando os longos cabelos ruivos.


- Não entendi nada, mas vou entender isso como um elogio. – disse Molly, despretensiosamente.


Fred sorriu.


Molly estava quase cochilando quando ouviu vários barulhos vindos do lado de fora. Ergueu a cabeça e, pela minúscula janela que havia ao lado da cama, viu os fogos de artificio explodirem no céu. O Ano Novo tinha chegado, e aqueles deviam ser os fogos que todas aquelas pessoas estavam esperando em volta do rio Tâmisa. Mas, para ela, assistir à queima de fogos não era mais uma tradição tão importante.


- O que foi, Mollynha? – perguntou Fred, virando a cabeça para fitá-la.


- O Ano Novo chegou. – respondeu, animada, jogando-se por cima dele e o beijando com carinho. – Feliz Ano Novo, Fred. – sussurrou.


Fred não tinha dúvidas disso.


Qualquer outra preocupação era insignificante.

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