(412)
– (412) –
– Tori!
– Hey! Hoje não podia ser pior, ver você é um alívio.
Era verdade. Astoria estava saindo da redação do Profeta Diário naquele exato momento e tudo havia dado errado. Uma chuva torrencial caía sobre ela, que, naturalmente, estava sem guarda–chuva; O editor de "Cidades" havia feito uma crítica realmente pesada sobre um de seus trabalhos do dia; E hoje fazia cinco anos que sua avó – única pessoa de família com a qual se dava inteiramente bem – havia falecido.
Era um alívio ver o sorriso de Gina.
– Vem aqui debaixo. – falou referindo–se a seu guarda–chuva. – E... aceitei!
– O quê?
– O emprego em Glasgow. Provavelmente eu vou ser a técnica mais nova da história, mas –
– Não, espera. – balançou a cabeça, confusa. – Quando você sequer recebeu uma proposta de emprego?
– Algumas semanas atrás... e eu não contei porque não tinha realmente importância. Era só uma possibilidade remota... mas deu certo!
– Mas e –
– O Profeta? Tá tudo arranjado. Trabalharei mesmo à distância e algumas vezes virei pra reuniões e etc.
– Bom, é... perfeito.
– Sim, é! Eu vou conciliar tudo o que eu gosto! É a oportunidade dos sonhos!
– Mas Gina, e quanto... a nós?
O sorriso de Gina não murchou tanto quanto Astoria teria gostado.
– O que tem?
– O que vai acontecer com a gente?
– Eu vou sentir sua falta. Vou. Mas eu e minhas antigas colegas do Harpias ainda nos falamos frequentemente. É possível manter uma amizade mesmo à –
– Amizade?! – Astoria deu um passo atrás, saindo debaixo do guarda–chuva da amiga.
– É, amizade.
– Não, Gina! Estou falando sobre “nós”. Como “nós” fica?
– Tori – Gina encarou os próprios pés. – Não existe “nós”.
– Quê? – Tori encarou Gina sem realmente entender o que ela estava dizendo.
– Eu nunca disse que haveria algo além da nossa amizade...
– Nós dormimos juntas! Várias vezes!
– O que eu posso dizer?
– Que está brincando! Você não pode aparecer pra mim no fim do dia e dizer que não existe nada entre a gente... que foi uma amizade... que você vai morar em outra cidade!
– Eu nunca menti pra você.
– Pra mim você é minha namorada!
– Eu nunca disse isso...
– E precisava?
– Pensei que ser honesta era suficiente pra deixar as coisas claras. Eu sinto muito... de verdade. Nós não temos que parar de nos ver, Tori. A escolha é–
– Vá se foder.
Tori não esperou para ouvir se Gina a xingaria de volta ou seja lá o que ela fosse dizer, apenas correu contra a chuva forte e fria, sem nem se lembrar que poderia somente ter aparatado.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!