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– É a sua chance.
– Eu não sei do que você está falando.
– Sei. – murmurou Denis, debochado.
Astoria Greengrass suspirou. Estava arrumando suas coisas para fazer umas fotos para a seção esportiva do jornal em que trabalhava, o Profeta Diário, e isso significava trabalhar com a nova funcionária, Gina Weasley, pela primeira vez.
Normalmente Tori não teria problema algum em iniciar uma nova relação profissional ou até mesmo em descontrair o ambiente, mas daquela vez era diferente. Gina era muito diferente.
– Cala a boca, Creevey!
– Você está esperando essa oportunidade há dias!
– Eu não estou esperando nada. – bronqueou finalmente fechando zíper da bolsa e jogando–a nos ombros.
– Lembre–se de não gaguejar.
– Eu não gaguejo, Creevey... – ele deu um outro sorrisinho debochado. – ... na maioria das vezes.
Não que Tori realmente achasse que algo fosse acontecer ou que ela estivesse vendo a tarde com Gina como uma chance para qualquer coisa. Ou até mesmo que ela tivesse qualquer chance com aquela mulher maravilhosa... não mesmo... Mas ela certamente não queria gaguejar ou fazer qualquer coisa embaraçosa na frente da colega. Especialmente se ela, por algum milagre, tivesse alguma mísera chance. O estranho era que pensar nessa hipótese era precisamente a única coisa que poderia fazê–la escorregar.
Durante a produção da matéria, Gina e Tori mal trocaram meia dúzia de palavras que não se resumissem exclusivamente ao trabalho, e isso, para a gratidão eterna da segunda, ao menos ajudou–a a manter o profissionalismo, a seriedade e competência por todo o tempo.
À noite, na redação semi–escura e deserta, no entanto, foi difícil não prestar atenção no cheiro de flores que vinha da outra, e ainda mais difícil não sentir–se boba por isso.
– Precisamos de um intervalo.
– Apoio. – disse Tori. – Quer um café?
– Seria ótimo.
A redação possuía uma cozinha própria. Não era muito completa ou coisa do tipo, mas tampouco servia apenas para lanches e cafezinho. Ser repórter muitas vezes significava abandonar tudo e ir atrás da notícia porque, literalmente, da noite pro dia o mundo poderia mudar. Por isso, a redação de um jornal importante como o Profeta Diário possuía uma cozinha capaz de servir qualquer refeição necessária.
– Fome? – perguntou Gina observando a outra fervendo a água com um feitiço. – Eu estou um pouco...
– Não olhe pra mim, – sorriu erguendo o pó de café – Não sei fazer nada além disso aqui.
– Posso fazer uns sanduíches, talvez.
– Do que você precisa?
– Hm, tem pão, maionese, azeite e atum por aqui?
– Pão na primeira parte do armário. Azeite embaixo da pia. Atum e maionese na prateleira ali em cima.
– Você decorou o posicionamento dos alimentos, Greengrass?
– Eu estou aqui há anos... e eles realmente não mudam as coisas de lugar.
Terminando de encher o coador com água fervente, Tori sentou–se à frente de uma Gina concentrada em separar fatias de pão de forma.
– O que você fazia antes de ser fotógrafa? – perguntou.
– Eu...
– Você nunca fez nada antes de ser fotógrafa. – sorriu. – Digno, Greengrass.
– É.
– Animada para a Copa?
– Hm... não curto Quadribol, o que, obviamente, é uma péssima coisa a se dizer para uma ex–jogadora.
– Haha... não me importo. Conheço muita gente que não entende a magia de uma partida.
– Sou mais a magia das minhas cores. – disse Tori sem perder o tom de brincadeira.
– Digno. – sorriu.
Gina cortou os sanduíches ao meio e empurrou o prato para o centro da mesa, enquanto Tori servia duas grandes canecas com café.
– Uau, está gostoso.
– É a companhia.
– Café? – ofereceu para desviar a atenção de suas bochechas que acabavam de ficar rosadas.
– Por favor.
– E aí, gostou?
– Você pode não saber fazer mais nada numa cozinha, mas seu café vale à pena.
– Que bom.
– E você? Gostou?
– Você não pergunta a um viciado se ele gosta de drogas. – disse Tori tomando um longo gole. – Ok, essa foi péssima.
– Definitivamente.
Sorriram juntas.
– Gostou do sanduíche, eu quis dizer.
– Ah, sim. Na verdade, eu estava morrendo de fome. – mordeu mais um grande pedaço para ilustrar. – Não tinha comido nada hoje.
– Com o que você gastou seu horário de almoço?
– Tirei umas fotos...
– Você realmente curte seu trabalho, então.
– Algo assim. – sorriu.
– Posso ver? As fotos?
– Ahn... pode.
Com um leve balançar de varinha a câmera voou suavemente até a mão da dona. Mexendo nela habilmente, Tori fez a primeira imagem aparecer na tela. As imagens eram simples e incrivelmente vivas. Cada uma parecia vir diretamente dos olhos azuis da fotógrafa em vez de uma fria lente de câmera.
– Devo reconhecer seu talento. – disse Gina.
E foi aí que Tori despertou.
– Obrigada. E é isso. – disse, nervosa.
– Mas tem mais...
– Não tem não! – retrucou quase rispidamente desligando a câmera.
– O que foi? São fotos da sua namorada?
É preciso citar que Tori corou?
– E–eu não tenho uma... er... na–namorada.
– Deveria, com olhos tão lindos.
– Meus olhos? Você acha?
– Acho. Dá pra ver neles a beleza com que você enxerga as coisas, e isso é admirável.
– Isso é bom... suponho.
– É sim. Mas e aí, vai me deixar ver as outras fotos?
– Não foi bom o suficiente, sinto muito.
– É uma garota.
– Já disse que não tenho namorada.
– Você não precisa namorar alguém para tirar fotos.
– É, mas...
– Ela é bonita?
Tori suspirou.
– Ela é linda. E ainda assim você não pode ver.
– Ok. Eu sei ser paciente. De volta ao trabalho?
– Claro.
– Eu só vou ao banheiro e já retomamos, ok?
– Sim, tudo bem.
Tori respirou aliviada por Gina ter “deixado para lá” e assim que a colega deixou o cômodo, a máquina foi ligada novamente fazendo um sorriso nervoso brotar no canto do lábio da fotógrafa enquanto sedosos fios ruivos preencheram a tela antes fria e incolor.
Pés pequenos seguiram os fios. E aí íris castanhas. E depois suaves sardas sob os olhos.
E então o sorriso de Gina Weasley.
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