Mico em nome da amizade
Mais tarde Ron esperava o amigo perto da sorveteria. Teve que se segurar para não explodir em risadas quando ele apareceu. Harry ampliara as vestes mais compridas e largas de Gina e colocara um chapéu ameixa que lhe cobria quase até os olhos, sem óculos. Alongara bastante os cabelos e jogara metade por cima do rosto. Carregava uma bolsa e olhava para o chão com ar furioso.
— Você é a mulher mais feia que eu já vi, Harry – Ron murmurou, baixinho, tapando a boca com a mão.
— Cale a boca, engraçadinho – rosnou Harry. Ele parecia uma tábua comprida coberta. – Me ajude aqui, eu não estou enxergando nada. – Ron pegou o braço dele, mas como Harry rosnou: – Não toca em mim! – começou a puxá-lo pela manga.
Eles tomaram um sorvete e depois foram jantar por ali mesmo. A mesa era na calçada e Harry ficava de cabeça baixa, morrendo de medo de ser reconhecido. Ron foi quem pediu tudo, o amigo se recusava a afinar a voz. Ronald estava tenso, olhando em volta o tempo todo, tentando avistar o garoto que o ameaçava, mas sem resultado. Eles andaram um pouco e pararam do lado de fora do Caldeirão Furado. Harry abriu a bolsa e pegou os óculos.
— Está com a varinha agora? – perguntou Ron.
— Dã! – respondeu Harry, ainda irritado. – Você viu o cara?
— Não. Mas eu sei que ele está pó aí. Sinto isso. Ele está me seguindo – afirmou Ron, totalmente convencido disso. – Se cuida.
— Tá. Tchau – Harry colocou os óculos e se afastou para um lado. Ronald olhou por um momento, na esperança de descobrir o cara, mas ele não estava ali. Então Ron foi andando calmamente para o outro lado, procurando uma rua mais escura para aparatar. Estava pensativo e distraído.
— Não foi muito honesto da sua parte tentar me enganar – ele ouviu, quando estava em uma rua silenciosa e iluminada apenas por um lampião. Virou-se. O pequeno rapaz estava parado de braços cruzados, apoiado no poste do lampião com ar insolente.
— Você! – exclamou Ron, surpreso. Esperava que ele estivesse seguindo Harry agora. Ficou tão estático que não se lembrou de puxar a varinha.
— Eu conheço uma mulher, e aquilo não era uma. Por que você não acreditou em mim antes? É meu porte modesto? Mas agora acredita, não é? – zombou o rapazote. – Você é um tanto inconstante... Qual das três é a eleita; a loira, a ruiva ou a de óculos? Ou nenhuma delas? Não se preocupe, eu vou descobrir. Chutei em todas porque não queria me arriscar a perder a certa. Você muda tanto que acho que o melhor castigo para a sua garota seria continuar com você. Mas quem tem que ser punido é você, e não ela... – o menino continuou dizendo, calma e friamente.
— Qual é a tua? Você é maluco? – questionou Ron, estupefato. Ele continuava sem pensar em atacar o rapaz, tão forte era o domínio deste.
— Eu já te expliquei tudo; você devia ter prestado atenção, porque não gosto de repetir. Faço isso pela Vitória. E agora porque tentou me enganar – respondeu o outro. – Me senti pessoalmente provocado. Adeus. Te vejo em um velório; vou dar uma aparecida lá – e desaparatou.
Como se tivesse despertado, Ron avançou para o lugar onde ele estivera, mas o doidinho já desaparecera. O Weasley foi para casa perturbado e desanimado. Aquele homem era mais temível do que ele pensara a princípio. E Hermione ia sofrer por isso.
Harry veio dar-lhe relatório no trabalho.
— Boas notícias, Ron. Fui pra casa sem nenhum incômodo. Ainda fiquei enrolando no caminho para ver se o cara aparecia e nada. A única coisa ruim é a minha vontade de te matar por me fazer usar aquela roupa – Harry falou. – Vá buscar a Hermione amanhã e conte para ela o perigo de que ela escapou – ironizou Harry. Notando o semblante abatido do amigo, estranhou. – Que foi?
— Não escapou – disse Ron, simplesmente.
— Como assim?
— O cara foi atrás de mim, Harry. Ele é esperto, sabia do nosso plano. Não me pergunte como, eu não sei. Agora estou com a impressão de que ele me segue até no banheiro, que tem uma capa de invisibilidade ou coisa parecida. Vou ter que me afastar – Ron não disse o resto da frase porque não sabia onde aquele rapaz estava agora; podia estar escutando. Mas Harry entendeu.
— E como pretende? – perguntou, com pena.
— Simplesmente não dar as caras.
— É bastante ofensivo.
— Sei, é a intenção. Assim decide ficar longe também. Vou me afastar de todas as garotas, pelo bem delas – Ron disse, em tom monótono.
Harry olhou-o, sem saber o que dizer. Não podia ajudar. Prender o cara? Mas ele, em termos estritamente legais, não cometera nenhum crime – e de qualquer forma, quanto aos atentados, não podiam provar que fora ele, porque nem sabiam quem era o rapaz.
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