Coincidências






No outro dia, ele conversava com Harry e outros aurores no corredor do QG quando viram, surpresos, Tess Finger entrar com a cabeça enfaixada.


— O que houve? – perguntou Harry.


— Algum engraçadinho deve ter enfeitiçado o vaso de flores do meu quarto, porque no meio da noite, do nada, ele simplesmente voou e quebrou na minha cabeça – exclamou a moça, indignada, e cerrando os olhos por causa da dor de cabeça que lhe dava falar.


— Nossa! – exclamou Ron, espantado.


— Se eu descubro quem foi o miserável, eu... – e a garota, que era do tipo agressivo, fez mímica de estrangulamento. – Ainda por cima estou morrendo de sono por causa de ontem – lamentou.


— Sinto muito – lamentou Harry. – Deve doer pra caramba – ele entendia de dor.


— Bah! – e Tess passou adiante, irritada.


Na hora do almoço, Ron encontrou Ammya no Caldeirão Furado.


— Ué, cadê o George? – perguntou, de cara.


— Continua trabalhando naquela Gemialidade, como um obcecado – queixou-se Ammy, um pouco aborrecida. – Nem come direito quando está assim. O bom é que só acontece de vez em quando. E o Harry, cadê?


— Seguraram ele no escritório pra confirmar o inventário de ontem. Só vai poder almoçar mais tarde. Parece que hoje somos só nós, mesmo – Ron sentou-se, pedindo um prato. – Você viu o que aconteceu com a Tess? Coitada, depois do que ela trabalhou ontem, ninguém merece.


— Sim, eu vi. Que mal – disse a garota. – Mas se ela está podendo trabalhar, é sinal que não foi tão grave assim, ainda bem.


— Ah, sim. Que coisa mais maluca. Parece vingancinha de rival. Acha que ela andou roubando o namorado de alguém? – ele brincou.


— Não creio que tenha sido o caso – riu Ammy. – Mas que é estranho é.


— Alguma notícia da Hermione? – perguntou Ron.


— Ela mandou uma coruja ontem. Está bem. Morrendo de saudades. Mandou um beijo pra você – respondeu Ammy, sorrindo.


— Vou responder. Não aceito beijo por coruja, ela que venha dar pessoalmente – brincou Ronald, sorrindo também. – E vou cobrar juros.


— Nossa, que sacanagem! – Ammy cruzou os braços, rindo. – Jura que a Hermione vai pagar, né? Nesse caso, ela vai te dar um calote – brincou.


— Tenho meus meios para cobrar dívidas. Serei impiedoso nesse caso – Ron falou, terminando a comida. – Tá a fim de um sorvete antes de voltar ao trabalho?


— Claro. Ótima ideia, Ron – concordou Ammy, com um sorriso. Eles foram para a Florean Fortescue e, depois, caminhando e conversando calmamente, saíram do Beco Diagonal e aparataram no Ministério da Magia.


O dia seguinte foi a folga de Ammya. Ela foi visitar George, mas ao chegar ao Ministério mancando no dia posterior, não tinha o que contar da visita. Não chegara lá. Caíra em um buraco e quebrara a perna.


— Mas eu juro que um momento antes não havia aquele buraco lá! – contava Ammya aos amigos. Tomara Esquelece mas como ela não estava comendo direito não fizera efeito completo ainda, e Ammy estava com a perna engessada. – Parece que foi feito de propósito! Foi muito estranho. E acabou que nem vi George. Quer dizer, ver eu vi, né? Ele teve que me levar para o hospital – Ammy deu um muxoxo.


— Caramba, parece que alguém quer acabar com as mulheres do departamento – comentou um auror. – Primeiro a Tess, agora você... Que horror.


— É muita coincidência, não? – brincou Ron. Mas interceptou o olhar de Harry para ele. Era muita coincidência mesmo.


— É. Mas é meio impossível terem feito um buraco em pleno Beco Diagonal assim do nada. Eu é que devia estar distraída. Se bem que George disse que não lembrava de nada ali também... – Ammy murmurou. – Ah, deixa. Só quero me sentar agora.


Os aurores voltaram para seus cubículos. No fim da tarde, Ron percebeu que faltava enviar um memorando. Ficou bastante contrariado; já queria ir para casa, ele e Harry iam a um jogo do Chudley mais tarde, não podia chegar atrasado. Pegou o papel e dirigiu-se ao canto do QG onde ficavam as secretárias.


— Gladys, faz um favor pra mim, envia esse memorando? – Ron pediu, gentilmente, estendendo o papel para a moça que parecia comandar as secretárias.


— Vai sair comigo esta noite? – ela brincou, com um sorriso lânguido, acariciando a mão de Ron. Ele deu um sorriso torto e recolheu a mão.


— Não – respondeu. – Mas você vai fazer mesmo assim, não vai? – ele pediu, olhando-a de lado com ar simpático.


— Eu não resisto a essa carinha – respondeu a moça, pegando o papel. Ron foi para seu jogo, que por sinal, foi muito divertido – apesar do Chudley ter sido novamente derrotado. Ele e Harry chegaram no Ministério comentando os melhores lances da partida, quando um colega aproximou-se deles com cara de enterro.


— Souberam do que houve com a Gladys? – ele perguntou.


— Não! – disse Harry, espantado.


— Ela foi internada esta manhã. Está entre a vida e a morte. Alguém jogou Pó Sufocante do Zimbábue no beco em que ela desaparata para vir pra cá. Só foi encontrada depois de uns dez minutos por um trouxa que, por sorte, sabia onde ela morava e a levou para casa – contou o homem. – Está bem mal.


— Credo, tá acontecendo desgraça com todo o mundo – arrepiou-se Harry.


— Que estranho, não é? Já é a terceira essa semana – disse o rapaz.


— Muito estranho... – murmurou Ron, com os olhos parados.


— Será que não tem alguma coisa aí, cara? – Harry perguntou a Ron, quando o colega deles se afastou. Ron acordou do transe e puxou Harry rapidamente para seu cubículo.


— Harry, pode ser coincidência, mas eu falei com as três antes de elas sofrerem os acidentes – Ron falou, pressuroso. – Levei Tess em casa e lhe jogam um vaso na cabeça. Ammy almoça comigo e quebra a perna. Ontem pedi um favor a Gladys e agora isso – contou Ron.


— É, mas... que relação teria uma coisa com a outra? – perguntou Harry, incerto.


— Ah... – Ron, hesitou, olhando para a parede. A ideia que lhe surgira era provável, mas um tanto ridícula. Ele contou – Lembra que um carinha apareceu lá, no dia em que prendemos os traficantes de dragões?


— Sim. Você comentou, mas disse que era aquelas ameaças de sempre, não falou exatamente o que ele tinha dito.


— Pois é. Parece que a loirona era namorada dele. Até isso era difícil de acreditar, se você visse o cara – contou Ron. – Ele ficou furioso porque eu a prendi, e começou a dizer que eu ia me ferrar, que ele ia fazer alguma coisa com a garota que eu gosto, matar ela, eu acho... – Ron estava confuso. – Não ouvi direito. Eu não levei a sério, ninguém levaria, Harry! Precisava ver o carinha. Devia ser do tamanho da Ammy, traços de menina, totalmente maluco. Mas agora não sei...


— Mas isso é sério, Ron. Alguém quase morreu por isso... – Harry disse.


— Eu sei. Só queria ter certeza, porque a decisão que isso me levaria a tomar não é uma coisa que pode ser feita a toa – Ron respondeu, em voz baixa.


— Lamento... – murmurou Harry, penalizado de verdade.


Ron ficou quieto um instante, soturno. Então, seu rosto se iluminou.


— Você me ajudaria a fazer o teste? – ele pediu, esperançoso.


— Claro – disse Harry. Então pensou um pouco. – Como?


— Bom... Se você saísse comigo, assim... fingindo ser uma garota... – Ron sugeriu, olhando timidamente para o amigo, com a voz murchando.


— Não! – ele respondeu. – De jeito nenhum.


— Por favor! Preciso fazer o teste e não posso arriscar outra garota – Ron pediu.


— Ah, e eu posso me arriscar?


— Você sabe do que se trata, pode se defender. Ah, Harry, você tirou sempre a melhor nota em DCAT... Você enfrentou Voldemort, não pode estar com medo de um frangote... – Ron insistiu.


— Não estou com medo, só não quero me vestir de mulher, droga! – gritou Harry, irritado. Algumas cabeças apareceram por cima das divisórias do cubículo de Ron, olhando-os estranhamente. Ron fez cara feia e eles voltaram a seus lugares.


— Harry, caramba... Pô, eu e Hermione demoramos séculos pra ficar juntos e agora porque você não quer me ajudar vou ter que terminar com ela de qualquer jeito pra não arriscar... – Ron choramingou. – Por mim, Harry... Pela Hermione... Não somos seus amigos? Puxa... – implorou.


— Tá! Tá! – cortou Harry. – Mas que a Gina nunca saiba disso.


— Ninguém vai saber! – assegurou Ron. – Até parece que eu vou sair contando por aí que saí com meu melhor amigo – Ron ficou quieto um segundo. – Tem que ser hoje. Hermione volta depois de amanhã.


— Tá – repetiu Harry. – Droga, ainda tem que arrumar disfarce... Eu te encontro na Florean Fortescue.


— Obrigado, cara – agradeceu Ron. – Eu realmente...


Harry o deixou falando sozinho e saiu de cara amarrada.

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