Uma Difícil Decisão
5 - Uma Difícil Decisão
Havia passado alguns dias desde aquele terrível incidente no lago. A verdade é que nada demais havia acontecido, mas Draco se sentia vulnerável diante daquelas duas criaturas e o que eventualmente poderia acontecer. Pansy era vingativa, maldosa e não poupava nada quando tentava se dar bem em algo, enquanto Astoria parecia tão doce e ao mesmo tempo decidida. Forte. Queria ter tido a oportunidade de conhece-la melhor, mas tinha certeza que o fato do lago havia derribado qualquer mínimo grão de possibilidade que ele poderia ter tido de se aproximar e se tornar amigo da garota. E o mais estranho era que sentia a sua falta, mesmo só tendo estado com ela uma única vez.
Depois de muito pensar e pensar, viu que realmente não tinha com quem conversar, muito menos desabafar. Pensou em falar com sua mãe, lhe mandar uma coruja para se encontrarem no próximo mês em Hogsmeade, mas não queria atrapalha-la, não queria lhe causar mais dor de cabeça do que ela já tinha. Pensou e repensou e uma única solução lhe surgiu à mente e vinha libertando suas aflições já a algum tempo.
- Ah, Draquinho… Eu posso imaginar muito bem como você tem se sentido.
Ele detestava ser chamado de Draquinho, mas diante da situação, não poderia reclamar demais. Se existia alguém capaz de lhe entender em Hogwarts, de não lhe julgar e de lhe ouvir tanto quanto ele achasse necessário sem fazer perguntas ou apedrejá-lo, era ela, a Murta que Geme.
Aprendeu a valorizar aquela alma confinada no banheiro desde o sexto ano quando se viu diante da situação mais complicada que vivera em toda a sua vida dois anos atrás e, mesmo assim, tudo ainda parecia tão próximo, tão recente… Ainda estava tão dolorido.
- Eu sei muito bem o que é estar sozinho. Posso dizer que você foi a primeira pessoa que me visitou este ano. Na verdade, você é o único que não vem aqui com o intuito de me insultar.
- Eu sinto muito que sua morte seja assim, Murta.
- É… Eu também… - ela falou sonhadora - Mas vamos voltar ao seu assunto, Draquinho.
Draquinho? Astoria estancou na porta lateral do banheiro da Murta ao ouvir aquele nome. Estava voltando do banheiro em uso das meninas e não conseguiu deixar de ouvir a conversa se escondendo o máximo possível e se pressionando encolhida contra a parede do lugar.
- Me arrependo muito do que eu fiz…
- Foi obrigado. Não é sua culpa, na verdade.
- Talvez… Mas eu não consigo me livrar dessa sensação de que tudo foi, sim, minha culpa, entende?
- Sim, eu entendo. E isso acontece porque você tem consciência de que estava agindo errado.
- Pode ser…
- É isso. Agora me diga, como vai com seus amigos?
Astoria franziu o cenho. A Murta tratava Draco como se fossem verdadeiramente amigos de longas datas e ela achou aquilo peculiar. Como se ele estivesse constantemente conversando come ela, lhe contando seus problemas, seus medos e suas frustrações. Estava a cada minuto mais atenta esperando que ele respondesse e a conversa continuasse.
- Não são meus amigos de verdade - falou de uma vez, azedo - Tudo gira em torno do que interessa para eles. Não se interessam de fato comigo, como estou ou se preciso de algo, mas só no que estão perdendo por estarem tão distantes de mim. Apenas interesse, nada de amizade verdadeira.
- E como se sente em relação a isso?
- Só. Me sinto só como nunca imaginei que me sentiria.
- E por que quer ficar só se não gosta, se está mal por isso? Se não é realmente o que quer?
- Porque eu preciso. Eu já te falei. Eu preciso aprender a tomas as minhas próprias decisões sem que me forcem ou me estimulem do contrário. Quero poder superar as consequências do que vivi… do que escolhi.
- Eu te entendo, mas ainda não acho que precise ficar só… - a Murta falou se aproximando mais dele, ficando quase ao seu lado.
- Eu preciso… Preciso ter consciência do que faço, dos erros que posso cometer e saber que posso e preciso pedir perdão.
- Ainda se sente triste com o que aconteceu na Sala Precisa?
- Claro que sim, Murta. Eu nunca teria ajudado o Potter ou qualquer um deles se a situação fosse inversa. Você consegue entender o que significa pra mim saber que eu não me ajudaria se fosse eles? Que tudo o que fiz contra eles seria o suficiente para detestá-los e deixá-los morrer a míngua, lá, queimados naquele fogo maldito?
- Não… Mas posso imaginar.
- Não sei o que vai ser de mim, de verdade. Eu não vejo muita solução pra minha vida e por isso quero me afastar mais das pessoas. Estou aqui só por minha mãe, senão, estaria com ela. É um momento difícil.
- Como está seu pai? Recebeu alguma notícia?
- Sim. Minha mãe mandou uma coruja. Ele está bem. Não está nas celas dos dementadores. Ficamos sabendo que o novo Ministro quer abolir os dementadores de lá, o que vai ser muito bom.
- Detesto aquelas criaturas. Mesmo para mim, que não estou mais entre os vivos, é bastante perturbador.
- Imagino, Murta - Draco falou sem muita certeza.
- Ele vem para sua formatura? Irá me apresentar para ele?
- Ele te conhece, Murta.
- Mas… Não vai me apresentar…?
- Murta, não somos nada - Draco falou se afastando ao perceber a garota morta se aproximando com segundas intenções.
- Eu pensei… pensei… - ela fungou.
- Você me ajuda demais, e eu não poderia nunca recompensar, mas você… está…
- Morta? Sim, eu estou. Eu sei que estou. - ela falou alto e mergulhou com estrépido na privada fazendo um grande barulho e enxarcando o lugar.
- Murta - ele se aproximou da privada - Me desculpe. Não queria te insultar.
Me desculpe? Ela realmente ouviu o que achou que ouviu? Astoria estava estagnada. Draco Malfoy, o filhinho rico do papai, o grosso e irritante, o sem escrúpulos e que se interessa apenas por seu bem estar pedindo desculpas a uma alma, uma morta. Isso era muito mais do que ela poderia imaginar. Se lhe contassem, certamente não acreditaria.
- Eu sei… - a Murta reapareceu com sua cabeça chorosa para fora da privada - Mas essas coisas ainda me magoam muito, sabe?
- Sim, eu sei. Me desculpe, de verdade. Mas você precisa entender que…
- Você está vivo e eu estou morta. Eu sei. - fungou fazendo um barulho alto e saindo definitivamente no objeto.
- Desculpe.
- Não peça desculpas a mim, Draquinho - ela ainda falava com a voz chorosa, pastosa e entristecida - Mas vamos falar mais de você. O que pretende fazer?
- Não sei. Continuar assim? Não tenho solução, escapatória ou nada do tipo. Ninguém quer ser meu amigo, ninguém me quer por perto. Sou uma pessoa sem escrúpulos, sem sentimentos. Não vê? Olhe o que acabei de lhe fazer. Te tratei mal quando tudo o que queria era me ajudar.
- Não fique assim tão triste, Draco. Eu gosto de você, entendo os seus problemas, de verdade.
- Eu queria ser diferente, às vezes, sabe? Me pergunto constantemente o que seria de minha vida se tivesse sido amigo do Potter, do Weasley e da Granger.
- Estaria indo de contra a sua natureza.
- Pode ser, mas talvez hoje eu fosse uma pessoa melhor.
- Você é uma pessoa melhor, Draco. Você me pediu desculpas, você se arrepende de coisas que nem mesmo fez.
- Eu deixei que o Crabbe morresse. Por minha culpa tentaram matar o hipogrifo do Hagrid. Eu tentei matar o professor Dumbledore. Deixei que os comensais entrassem aqui. Vi matarem minha professora na sala da minha casa, torturarem a Granger e eu não fiz nada. Nada. Você não imagina como a dor dela e os gritos do namorado me afetaram aquele dia…
- Por que? - ela pareceu curiosa com a melancolia dele.
- O sentimento, Murta… Um sentimento que eu nunca tinha visto. Eles estavam juntos mesmo que separados. Era uma coisa tão forte que... me atingiu.
A Murta fungou alto e se aproximou novamente. Parecia recuperada, mais manhosa e delicada que o convencional, parecendo realmente consternada com a tristeza do garoto.
- É o amor, Draco. O amor verdadeiro que une as pessoas mesmo estando separadas.
- Ele sofria a cada sofrimento dela. Eu ouvia seus gritos. Era assustador e tão intenso. Eu nunca… não sei se seria capaz de amar assim…
- Claro que é, Draco. Todos são. Mas como você vai conseguir amar alguém se não permite que as pessoas se aproximem de você?
- Não sei se quero isso, Murta.
- Claro que quer. Todos querem. Você não ama a Pansy?
- Não. Claro que não - ele falou de supetão.
- Mas…
- Nem sei como posso intitular a Pansy na minha vida, mas definitivamente, não a amo.
- Mas você disse que ela o beijou… - a Murta parecia confusa.
- Sim, faz algumas semanas, mas eu não quis. Não quero mais.
- Draco, acho que você tem que parar de sentir tanta pena de si mesmo. Precisa enfrentar as coisas, enfrentar seus problemas, seus medos e não ficar fugindo de tudo. Se você continuar fugindo, como você vai melhorar, como vai se superar? Como vai mudar se não quer enfrentar?
- Eu… - ele pareceu perturbado - Eu… Ah, quer saber? Vou embora.
E saiu tão rapidamente que a Murta ficou parada. Ele passou como uma flecha pelas pias do lugar, cego com o pensamento de que a Murta tinha razão. Astoria quase não teve tempo de se colar a parede tentando se esconder, pedindo a Merlin com todas as forças que ele não virasse enquanto seguia pelo corredor comprido. O coração batia forte, o cérebro pensava desesperadamente. Não conseguia acreditar em tudo o que ouvira. Viu quando o garoto dobrou a esquerda no final do corredor e finalmente respirou. Sorriu, ela estava enganada, afinal, e a felicidade que sentiu ao descobrir isso foi reconfortante. Ele queria mudar, e ela o ajudaria.
Comentários (3)
tadinho do dracolino. D:
2016-05-29Jesus me chicoteia, estou AMANDO Draco e seu caminho para melhorar! E esse capítulo mostrou que o loirinho mudou bastante (ou será que só está colocando pra fora quem ele sempre foi? Acho que sim hein!) e que agor de forma diferente. E Astoria só na fofoca, acabou descobrindo um lado do Draco que ela não acreditava, um lado humano e bom. Fiquei feliz em saber que ela realmente está disposta a ajudá-lo na fase de mudança, ela já ta caidinha por ele e ele por ela... Só precisam de um empurrão do destino (que se Mérlin permitir, será na Pansy em um precipício... Assim ela não atrapalha o casal LINDO).Estou adorando esse ponto de vista dos personagens Andye. Estou amando a história e já estou no aguardo dos próximos!!;****
2014-02-10#continua!
2014-02-10